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A problemática dos valores / natureza dos juízos morais

Juízos de facto são juízos sobre o modo como as coisas são. Descrevem um estado de coisas ou uma situação
podendo essa descrição corresponder ou não à realidade. São juízos descritivos que podem ser verdadeiros ou
falsos. A sua verdade ou falsidade depende de como a realidade é e não da opinião ou ponto de vista de cada
pessoa: são portanto, objectivos.
Juízos de valor são juízos sobre que coisas são boas ou más, agradáveis ou desagradáveis, belas ou feias e sobre
como devemos agir. Os juízos de valor atribuem um valor a um certo estado de coisas.
Critérios valorativos: são justificações em que nos apoiamos para determinar que coisas – acções, pessoas, locais,
objectos – têm valor ou importância. Um juízo de valor é um acto mediante o qual formulamos uma proposição
que avalia certos aspectos da realidade, não se limitando a descrever como as coisas são. Quando avaliamos algo
utilizamos critérios ou razões que se baseiam em valores. Ex: a pena de morte é injusta.
A questão dos critérios valorativos coloca-se assim: «será que existem valores objectivamente verdadeiros? Ou
será que a sua verdade depende daquilo que um indivíduo ou uma sociedade consideram verdadeiro?» Há 3
respostas ao problema: Subjectivismo moral; Objectivismo moral; Relativismo cultural (moral).

O subjectivismo moral é a teoria segundo a qual o valor de verdade dos juízos de valor depende das crenças,
sentimentos e opiniões dos sujeitos que os emitem. Os juízos de valor exprimem sentimentos de aprovação e de
desaprovação e dependem desses sentimentos. Não há verdades morais objectivas e universais. Todas as
opiniões acerca de assuntos morais e estilos de vida devem ser consideradas igualmente boas. A tolerância parece
ser um traço essencial deste subjectivismo: ninguém pode dar lições de moral a ninguém. Nenhum de nós está
objectivamente certo ou errado no que respeita aos juízos mediante os quais avaliamos actos, pessoas e objectos.
O subjectivismo ético reduz os juízos de valor a opiniões e sentimentos Ex. Se o João defende que matar
animais para os comer não é incorrecto e o Miguel considera esse acto moralmente reprovável, segundo o
subjectivismo ambas as posições são verdadeiras porque transmitem a verdade de cada um, cada um deles
emite juízos de valor que estão de acordo com os princípios em que cada um acredita.

Para os subjectivistas, cada pessoa está em condições de distinguir o que é bom ou mau – em assuntos de
natureza moral, não se pode impor uma perspectiva. Não há verdades morais absolutas e objectivas.

O objectivismo moral – os objectivistas acreditam que os juízos de valor podem ser verdadeiros ou falsos – têm
valor de verdade – e que essa verdade ou falsidade não depende de pontos de vista, de sentimentos os gostos,
sejam estes individuais ou colectivos. Esse valor de verdade é independente da opinião ou ponto de vista de
cada pessoa ou de cada cultura. Assim se considerarmos o juízo a pena de morte é injusta e outro juízo contrário a
pena de morte é uma solução legítima e justa somos obrigados a reconhecer que um dos juízos tem de ser falso.
Para os objectivistas há coisas objectivamente erradas. O objectivismo defende que os valores são propriedades,
qualidades das próprias coisas, pessoas, objectos, situações e instituições embora sejam propriedades difíceis
de conhecer por não serem físicas. Nesta perspectiva, os juízos de valor são uma espécie de juízos de facto com a
diferença de ser impossível saber alguma coisa acerca do seu conteúdo com certeza, o que não impede que haja
verdades morais universais e absolutas. Ex: Matar, roubar, mentir são actos maus e condenáveis, seja em que
circunstância for.

O relativismo cultural (contém um relativismo moral) – Culturas diferentes têm valores diferentes. Centenas de
situações podem documentar esta afirmação. O que está aqui em causa? A defesa da diversidade cultural
conduziu muitos pensadores a afirmarem que, dada a diversidade das culturas e das sociedades, não existiriam

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valores morais universais ou normas de comportamento válidos independentemente do tempo e do espaço. A
esta perspectiva deu-se o nome de relativismo cultural.

Para os relativistas culturais, a verdade dos juízos morais depende do que cada sociedade acredita ser
moralmente correcto; assim, moralmente verdadeiro é o que cada sociedade – a maioria dos seus membros -
acredita ser verdadeiro. Moralmente verdadeiro torna-se então o que é socialmente aprovado e aceite. Assim: o
juízo «as mulheres não devem conduzir porque isso implicaria o assumir de um papel social que não lhes pertence»
tornar-se-ia verdadeiro para um relativista se confirmasse que tal asserção é socialmente apoiada numa dada
comunidade. As convicções da maioria dos membros de uma sociedade são a autoridade suprema em questões
morais. O juízo «as corridas com touros de morte são legítimas» pode então ser moralmente justificado ao
afirmar-se que são próprias das tradições e hábitos culturais de dada comunidade ou região e que é um juízo
verdadeiro para a maioria das pessoas que fazem parte dessa comunidade o partilham.

O relativismo cultural acerca de assuntos morais afirma que o código moral de cada indivíduo se deve subordinar
ao código moral da sociedade em que vive e foi educado. – Devemos julgar as acções dos membros de uma
sociedade pelas normas morais estabelecidas no interior dessa sociedade e não mediante as crenças morais de
outras sociedades.

Críticas ao relativismo cultural: Ideias

a) Há uma diferença significativa entre o que uma sociedade acredita ser moralmente correcto e algo ser
moralmente correcto

b) Não podemos ser tolerantes face ao que é intolerável e desumano

c) A verdade moral não tem de ser necessariamente o que a maioria julga ser verdadeiro

d) A tolerância torna-se permissividade e conformismo

e) Torna incompreensível o progresso moral

Fonte: Manual; Luís Rodrigues

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