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Nossa recente historiografia orienta sua discordância com relação ao modelo patriarcal a partir
de dois eixos, nem sempre excludentes. Em primeiro lugar, com base em pesquisas sobre a
estrutura populacional, familiar e domiciliária no passado brasileiro: alguns autores tém
apontado, com razão, a existência de numerosos tipos de fan11ha ou domicílio, em nada
parecidos com a família patriarcal e escravocrata descrita pelos clássicos. (VAINFAS, p 116-
117, 2010)
Assim como na Europa, no Brasil também haviam casamentos arranjados, era comum
até o matrimônio entre membros da mesma família para que houvesse a “conservação da
limpeza do sangue”. Os pais, maridos e senhores comandavam suas filhas, esposas e
escravizadas. Raramente havia casamento por amor; a paixão era cruelmente condenada pela
igreja católica. Algumas mulheres foram submetidas à prisão em conventos seja para
manterem suas virgindades ou para que nunca pudessem se casar e assim preservar o
patrimônio de sua família.
Os casamentos arranjados não eram, contudo, urna prática exclusiva das elites. Talvez em
proporções mais reduzidas, mas nem por isso com menor frequência, homens humildes
procuravam casar suas filhas no mesmo estilo, acertando o matrimonio das meninas sem ao
menos consultá-las. (VAINFAS, p. 131, 2010)
As mulheres, por mais misóginas que fossem as condições, sempre reagiram às pressões
masculinas delatando as agressões à Inquisição, se rebelando, traindo e usando até a magia,
mesmo que pudessem ser julgadas até a morte.
Manietadas por pais e maridos, reificadas pelos homens, excluídas de várias esferas do
cotidiano social, as mulheres acabariam por construir urna sociabilidade e urna linguagem
próprias, em que muitas vezes transparecia o rancor e a insubmissão contra a ordem patriarcal
que as oprimia. Pareciam viver um cotidiano a parte, estabelecendo cumplicidades, alianças.
hierarquias que não raro submetiam ou amenizavam as barreiras sociais do colonialismo.
inclusive os preconceitos raciais, conforme nos mostra fartamente a documentação inquisitorial
do século XVI. (VAINFAS, p. 141, 2010)