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Universidade Estadual do Centro Oeste – Unicentro – Campus Irati

Atividade para complementação de carga horária – História do Brasil Colonia


Docente: Ana Paula Wagner
Acadêmico: Marcel Candido de Oliveira Fonseca

BEZERRA, Nielson Rosa; PEIXOTO, Moisés. Gracia Maria da Conceição e Rosa Maria da Silva:
os testamentos como documentos autobiográficos de africanos na diáspora. In: DEMETRIO, Denise
Vieira; SANTIROCCHI, Ítalo; GUEDES, Roberto (Orgs.). Doze capítulos sobre escravizar gente e
governar escravos: Brasil e Angola, séculos XVII-XIX. Rio de Janeiro: Mauad X, 2017, p. 125-143. 

Questão problematizadora:
Em que medida os testamentos podem constituir uma fonte oportuna para o conhecimento
sobre a história de homens e mulheres africanos que viveram e morreram no Rio de Janeiro entre o
final do século XVIII e as primeiras décadas do século XIX? Indicar as principais ideias
apresentadas pelos autores para o desenvolvimento das suas argumentações.

Resposta:
O uso de fontes para a produção historiográfica já passou por diversas mudanças, até o atual
momento, seja pelo enfoque dado a documentos oficiais pelos positivistas, ou de forma mais
contemporânea com o uso cada vez mais frequente das fontes orais para contar as histórias que não
se encontram no papel. Fazendo parte também dos documentos escritos, se encontram os
testamentos do povo africano que viveu em solo brasileiro durante o século XVIII e XIX, uma
riquíssima fonte de pesquisa para compreender a economia, os costumes e a desigualdade presente
em um período, nesse caso não são somente testamentos, mas registros essenciais para entender a
vida dos poucos que conseguiram se livrar do sistema e ter sua liberdade.
Inspirados por estudos anglo-saxônicos dos autores Paul Lovejoy e Robin Law, os autores
conseguem enxergar um nicho de pesquisa que pode facilitar o entendimento da forma de vida dos
africanos da diáspora no Brasil, os testamentos. Esses que permitiriam uma visão mais realista da
vida de cada um, ao invés das autobiografias que carregavam uma grande peso de idealização e
nostalgia por aquele que a escreve. Porém, mesmo existindo diversos testamentos de africanos, os
mesmos não foram produzidos no intuito de descrever as histórias de vida dos mesmos, porém
permite que comparações sejam realizadas, para que um trajeto seja traçado em paralelo aos
europeus, analisando as diferenças entre ambos os estilos de vida.
Durante o texto, são analisados dois testamentos, o de Gracia e o de Rosa, ambos
semelhantes mas com diferenças que também se destacam, como por exemplo, Gracia dá seus bens
para a Igreja da qual fazia parte, mesmo que não fosse muito, era uma retribuição pela aceitação que
ela recebeu naquele ambiente, dessa forma abordando o papel religioso do testamento, já que o
mesmo era produzido pela própria Igreja.
Em conclusão, com os dois exemplos fornecidos pelo texto, é possível notar um padrão entre
as duas mulheres, como a falta de acesso aos luxos que os brancos tinham acesso, e uma forte
presença da igreja como órgão produtor e organizador dos registros, inclusive em um deles como
herdeira, onde devido a devoção religiosa de Gracia, ela decidiu por deixar seus bens para a Igreja,
mais uma vez reforçando a influência da Igreja. Esse instrumento de pesquisa que tem como base
principal o poder aquisitivo daquele que deixou a herança, também pode ser utilizado para construir
paralelos que ajudam a compreender a função de certos grupos na sociedade, e a diferença de poder
aquisitivo de um pobre branco e um pobre africano forro.

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