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Tema: Descrença no pensamento positivista e


12º Ano Módulo 7
AS TRANSFORMAÇÕES DAS PRIMEIRAS DÉCADAS DO SÉCULO XX as novas concepções científicas

Século XIX
 A partir do século XIX, a ciência conheceu um desenvolvimento sem precedentes;
O prestígio da  Desenvolve-se a investigação laboratorial apoiada pelas grandes empresas e pelo Estado;
ciência e a  Os resultados da investigação criaram um clima de confiança e uma crença inabalável na ciência;
crença no  Acreditava-se na possibilidade de desvendar todos os segredos da Natureza e de irradicar todas as
progresso doenças que flagelavam a humanidade.
civilizacional

A crença no progresso civilizacional encontra raízes no pensamento filosófico de séculos anteriores:


 Os filósofos iluministas acreditam no progresso da civilização apoiado na razão que conduziria os
homens à felicidade;
 O idealismo valoriza com Hegel a marcha da Humanidade para a Razão. Do mesmo modo o marxismo
defende a evolução da humanidade para a sociedade comunista que assegurará a harmonia e a
felicidade dos homens;
 O positivismo acentua a crença no progresso civilizacional fundamentado na lei dos três estados
pelos quais passou a Humanidade: o teológico, o metafísico e o positivo ou científico. No primeiro a
explicação de todos os fenómenos depende das forças sobrenaturais, no segundo de forças
abstractas. O terceiro estado é, segundo Comte, o único científico, pois o Homem procura a
explicação dos fenómenos por leis naturais;
 O pensamento filosófico passa a revelar uma tendência marcadamente racionalista: Considera a
Natureza homogénea e harmoniosa, dependente de leis universais. Ou seja, o conhecimento das leis
que regem o Universo podem assegurar ao Homem o domínio da Natureza;
A mentalidade
 O positivismo exerceu uma influência marcante no pensamento filosófico e na evolução científica e
racionalista e o
contribuiu para a definição de regras fundamentais na investigação científica e reforçou a confiança
positivismo
na ciência e no progresso da Humanidade;
 O positivismo induzia à convicção de que todo o fenómeno seria explicado por outro fenómeno,
através de leis positivas pelas quais a Natureza se regia;
 O positivismo valorizou a experiência e a observação como fonte do conhecimento, negando a
metafísica e tudo o que não pode ser demonstrado experimentalmente;
 Pretendia fundamentar todo o conhecimento científico através da aplicação da metodologia das
ciências experimentais a toda a espécie de problemas;
 Entendia que a História, a Literatura e a Arte poderiam explicar-se em termos científicos objectivos,
testando-se as hipóteses em referência aos factos.
 Nos inícios do século XX, os valores tradicionais inspirados nos princípios do racionalismo clássico,
fortemente consolidados pelo triunfo das certezas científicas aliadas aos novos avanços
tecnológicos, pareciam solidamente implantados na cultura e na mentalidade da população, nos
países da Europa Ocidental. As posições positivistas de Augusto Comte sobre o conhecimento da
realidade continuavam a fazer escola e a confiança na razão parecia inabalável, tão inabaláveis
pareciam ser as conquistas na investigação científica.
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Tema: Descrença no pensamento positivista e


12º Ano Módulo 7
AS TRANSFORMAÇÕES DAS PRIMEIRAS DÉCADAS DO SÉCULO XX as novas concepções científicas

 Por meados do século XIX, o positivismo estabelecera uma confiança absoluta no poder do raciocínio
e da ciência, capazes de desvendar todos os mistérios do Universo. Acreditava-se então num mundo
perfeitamente ordenado, regido por leis claras e objectivas.
 No início do século XX, o pensamento ocidental rebela-se contra este quadro de estreita
racionalidade, valorizando outras dimensões do conhecimento:
 Na Filosofia, Henri Bergson (1859-1941), defende haver realidades (como a actividade
psíquica) que não podem ser reduzidas às leis físicas ou matemáticas e escapam, por isso, às
concepções mecanicistas da Natureza. Para o conhecimento profundo, Bergson defende, a par
do raciocínio, uma outra via, a que chama intuição (de natureza muito diferente da inteligência,
algo comparável ao instinto e ao sentimento artístico). O intuicionismo de Bergson teve grande
impacto na comunidade intelectual, que viu nele uma libertação das normas rígidas do
racionalismo.
 Benedetto Croce (1866-1952) – principal representante do idealismo italiano, entende a
História como manifestação do espírito e cuja interpretação depende da capacidade de
recriação do pensamento dos agentes históricos. Nega, deste modo, à História e a todas a
ciências humanas e sociais o carácter de ciência objectiva e realça a relatividade e
subjectividade de todo o seu conhecimento.

Paradoxalmente, foi a própria ciência, com as suas descobertas, que mais contribuiu para a ruína do
A DESCRENÇA pensamento positivista. Assim:
NO PENSAMENTO  No campo da Física, Albert Einstein, em 1905, esboça a teoria da relatividade e demonstra as
POSITIVISTA E contradições das teorias de Newton:
AS NOVAS o Segundo a teoria da relatividade espaço, tempo e movimento não são absolutos, mas
CONCEPÇÕES relativos; ninguém poderia imaginar que o tempo fosse uma variável e decorresse
CIENTÍFICAS mais depressa ou mais devagar consoante a velocidade dos corpos.
o Esta teoria é desenvolvida chegando à relatividade generalizada segundo a qual o
movimento dos corpos se faz através da curvatura de um espaço de quatro
dimensões;
o Ao derrubar as certezas da Física Newtoniana, a teoria da relatividade vinha
demonstrar que a verdade científica era menos universal do que se supunha.
 Max Planck:
o Conclui que no campo da microfísica não se consegue atingir um conhecimento exacto,
mas apenas probabilístico;
o Demonstra-se que a observação de um fenómeno “modifica o próprio fenómeno de
forma imprevisível”;
o A teoria quântica veio a ter profundas repercussões no avanço da microfísica pois
permitiu explicar o comportamento dos átomos e das suas partes constituintes.

 As teorias de Max Planck e Einstein provocaram um profundo choque na comunidade científica, ao


demonstrar que o Universo era mais instável do que até aí se pensava e a verdade científica menos
universal do que se tinha acreditado.
 Abriu-se assim uma nova concepção da ciência – o relativismo – que aceita o mistério, a
desordem, a probabilidade como partes integrantes do conhecimento, rejeitando o determinismo
racionalista fundado na clareza, na ordem, na previsibilidade de todos os fenómenos.
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 A Psicanálise, fundada por Sigmund Freud (1856 – 1939), surgiu inicialmente como um método de
determinação das causas das neuroses e como uma terapêutica para o seu tratamento;
 Ao debruçar-se sobre as perturbações nervosas, concluiu que o campo das nossas acções,
comandado pela consciência, e portanto ao alcance da razão, é muito limitado; os impulsos
inconscientes são responsáveis por grande parte do nosso comportamento;
 Segundo a psicanálise, o psiquismo humano estrutura-se em três níveis distintos: o consciente,
o pré-consciente (ou subconsciente) e o inconsciente.
 O consciente representa apenas uma pequena parte da mente, semelhante à «extremidade visível
As concepções
de um iceberg», por oposição ao inconsciente, camada profunda, rica e significativa mas
psicanalíticas
dificilmente penetrável. Entre estas duas zonas situa-se o subconsciente, constituído por uma
constelação de elementos psíquicos que, com alguma facilidade, podem passar ao consciente.
 Por influência de normas morais, o indivíduo tem tendência para bloquear desejos ou factos
Freud e a
indecorosos e culpabilizantes remetendo-os para o inconsciente, num aparente esquecimento (a
Psicanálise
psicanálise defende que muitos recalcamentos têm a sua origem na infância e são de origem sexual).
No entanto, os impulsos e sentimentos recalcados persistem em afluir à consciência, através de
lapsos (troca de palavras), esquecimentos súbitos ou, de forma mais grave, em distúrbios psíquicos
a que Freud chama neuroses.
 Para além de uma teoria revolucionária, a Psicanálise torna-se um método de tratamento de
neuroses que, basicamente, consiste em fazer emergir o recalcamento através da «livre
associação» em que, sob a orientação do médico, o paciente deixa fluir, livremente, as ideias que lhe
vêm à mente e na análise dos sonhos, considerados por Freud «a via régia de acesso ao
inconsciente».
Freud legou à posteridade uma teoria que alterou o conhecimento e que em última análise, constituiu a
base de uma nova forma de compreender a humanidade;
 A Teologia, a Antropologia e a Sociologia revelam até certo ponto a marca das teorias de Freud;
 Além disso, escritores e artistas do séc. XX encontraram na Psicanálise Freudiana uma
inspiração frutuosa e uma influência libertadora: muitas das personagens centrais de obras
literárias do séc. XX eram personagens freudianas, nas quais as neuroses e as reflexões
profundas caminham “de mãos dadas”;
As concepções
 Artistas como os surrealistas, os expressionistas e, de um modo geral, os abstraccionistas
psicanalíticas e
tentaram nas suas criações artísticas penetrar para além do nível consciente da percepção;
o seu impacto na
cultura e nos  A Psicologia contemporânea preocupa-se não só com a explicação mas sobretudo com a
comportamentos compreensão: compreensão do homem em relação ao mundo, em relação a si próprio e em
relação aos outros e compreensão das atitudes e dos comportamentos resultantes da
intervenção e oposição de forças somático-psíquicas e de tensões psicossociais;
 Ao nível do homem comum tornou-se possível encarar e discutir mais abertamente as questões
sexuais e o abandono de certos preconceitos morais e sociais;
 As concepções psicanalíticas, para além de causarem um impacto na cultura, também
causaram um impacto nos comportamentos, possibilitando uma maior libertação nos
constrangimentos sociais.

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