Você está na página 1de 4

TEXTO DE APOIO Filosofia 10

3
Inferir por Oposição
1
Relações lógicas entre proposições categóricas
É possível, a partir de proposições dadas, inferir logicamente outras proposições, com base em relações lógicas.
Vejamos a partir dos 4 tipos de proposições categóricas. Cada uma das proposições de cada tipo (AEIO) pode ser
convertida noutra.
Isto significa que a partir de uma proposição categórica dada (de tipo AEIO) podemos inferir logicamente outra.
Como sabemos qual a proposição que resulta logicamente de outra?
Uma ferramenta útil para obtermos as diferentes relações entre as proposições é o Quadrado Lógico.

2
O Quadrado Lógico
O Quadrado Lógico permite-nos determinar quais são as diversas relações lógicas entre as proposições categóricas de
tipo AEIO.
As relações podem assumir 4 formas distintas:
Contradição – proposições contraditórias
Contrariedade – proposições contrárias
Subcontrariedade – proposições subcontrárias
Subalternidade – proposições subalternas

Segundo nos mostra o Quadrado Lógico, inferir, neste caso, consiste em tirar de uma proposição outra proposição,
alterando a quantidade e a qualidade:

Proposições Relação lógica Explicação


AO Contraditórias Da proposição Todo S é P é possível inferir a proposição Algum
S não é P por contradição. Alterou-se a quantidade (passou de
Universal a Particular) e a qualidade (passou de afirmativa a
negativa). E vice-versa.
IE Contraditórias Da proposição Algum S é P é possível inferir a proposição
Nenhum S é P por contradição. Alterou-se a quantidade (passou
de Particular a Universal) e a qualidade (passou de afirmativa a
negativa). E vice-versa.

Edição [2020/2021] - Revisão [N.º0]


IMP.DUE.001-00 [24 setembro 2020]
TEXTO DE APOIO Filosofia 10

AE Contrárias Da proposição Todo S é P é possível inferir a proposição


Nenhum S é P por contrariedade. Manteve-se a quantidade,
mas alterou-se a qualidade (de afirmativa, passa a negativa). E
vice-versa.
IO Subcontrárias Da proposição Algum S é P infere-se a proposição Algum S não
é P por contrariedade. Mantem-se a quantidade (particular),
mas altera-se a qualidade (de afirmativa, passa a negativa). E
vice-versa.
AI Subalternas Da proposição Todo S é P infere-se a proposição Algum S é P,
por subalternidade. Altera-se a quantidade (de universal passa a
particular), mantêm-se a qualidade (afirmativa). E vice-versa.
EO Subalternas Da proposição Nenhum S é P infere-se a proposição Algum S
não é P por subalternidade. Altera-se a quantidade (de universal
passa a particular), mantém-se a qualidade (negativa). E vice-
versa.

3
As relações lógicas entre proposições e o valor de verdade

Um argumento válido é aquele em que a forma do raciocínio está correcta.


Ora, a validade de um argumento tem uma consequência para o valor de verdade das proposições: se as premissas
forem todas verdadeiras, e se o raciocínio for válido, então a conclusão será sempre verdadeira.

Se M é P Se a caixa está na sala V


Se S é M Se a bola está na caixa V
Logo S é P Então, a bola está na sala V

4
Regras das relações lógicas de oposição entre as proposições categóricas:

Relações lógicas Enunciação da regra Comentário Exemplo


Regra das Duas proposições São a negação uma da outra. Se (A)Todas as mulheres pintam as
contraditórias contraditórias não quisermos negar uma delas, basta unhas /(O)Algumas mulheres
A/O podem ser afirmar a outra. A verdade de uma não pintam as unhas;
E/I verdadeiras nem implica a falsidade da outra porque
falsas ao mesmo diferem em qualidade e quantidade. (E)Nenhuma mulher pinta as
tempo. unhas/(I)Algumas mulheres
Não é necessário que sejam todos pintam as unhas
os indivíduos para negar A e E.
Basta que seja apenas um, para
as negar.

Para negar a proposição Todas as


mulheres pintam unhas, a solução não é
afirmar que Nenhuma pinta as unhas,
mas sim Algumas mulheres não pintam
as unhas. Nesta situação, ambas as
proposições não podem ser
simultaneamente verdadeiras. Se uma
for verdadeira, a outra é falsa. A
negação de uma proposição de tipo A é
a sua contraditória. O mesmo vale para
a de tipo E. A sua negação é dada pela
de tipo I.

Edição [2020/2021] - Revisão [N.º0]


IMP.DUE.001-00 [24 setembro 2020]
TEXTO DE APOIO Filosofia 10

Regra das Duas proposições Se uma é verdadeira, a outra é falsa. Se é verdadeiro que Todas as
contrárias contrárias não Porém, podem ser ambas falsas. mulheres pintam as unhas, então
A/E podem ser Não se negam uma à outra. Porque é falso que Nenhuma mulher
simultaneamente da falsidade de uma, não se pode pinta as unhas. Mas Todas as
verdadeiras, mas concluir nem a veracidade nem a mulheres pintam unhas pode ser
podem ser ambas falsidade da outra. Não é por uma falso e ao mesmo tempo ser
falsas. tese ser falsa que podemos concluir falso Nenhuma mulher pinta as
que a sua contrária é verdadeira, ou unhas. Isso significa que é
mesmo falsa. Se apenas muda a verdade que Algumas pintam e
qualidade, as proposições são algumas não pintam as unhas.
contrárias, mas não contraditórias.
Regra das Duas proposições Se I é verdadeira, então O pode ser Se for verdade que Algumas
subcontrárias subcontrárias não verdadeira ou falsa. Mas se I for mulheres pintam as unhas, pode
I/O podem ser falsa, então O é verdadeira. ser verdade ao mesmo tempo
simultaneamente que Algumas mulheres não
falsas, mas podem ser pintam as unhas. Mas pode ao
simultaneamente mesmo tempo ser falso que
verdadeiras. Algumas mulheres não pintam
as unhas. Isso significa que é
verdade que Todas as mulheres
pintam as unhas. Mas se for
falso que Algumas mulheres
pintam as unhas, então será
sempre verdade que Algumas
não pintam.
Regra das - Duas proposições Como diferem apenas na a)- Se Todas as mulheres
subalternas subalternas serão quantidade, e não na qualidade, não pintam as unhas for verdadeira
A/I ambas verdadeiras se são contrárias, nem contraditórias. então Algumas mulheres pintam
E/O a proposição as unhas é verdadeira;
universal for
verdadeira e ambas b)- Se Algumas mulheres
falsas se a proposição pintam as unhas for falsa, então
particular for falsa. Todas as mulheres pintam as
unhas também é falsa.
a)- Da verdade da
universal, infere-se a c)- Se Algumas mulheres
verdade da particular. pintam as unhas for verdadeira,
nada se pode concluir sobre a
b)- Da falsidade da universal, porque podem ser ou
particular infere-se a não ser todas. Não sabemos.
falsidade da universal.
d)- Se Todas as mulheres
c)- Da verdade da pintam as unhas for falso, nada
particular nada se pode se pode concluir sobre a
concluir quanto à particular porque o que pode ser
universal. falso é o facto de serem todas.
Serem Algumas mulheres a
d)- Da falsidade da pintar as unhas pode ser
universal nada se pode verdadeiro.
concluir quanto à
verdade ou falsidade
da particular.

Edição [2020/2021] - Revisão [N.º0]


IMP.DUE.001-00 [24 setembro 2020]
TEXTO DE APOIO Filosofia 10

Relações lógicas entre proposições categóricas e valores de


verdade
Se A é verdade E é falso I é verdade O é falso
Se E é verdade A é falso I é falso O é verdade
Se I é verdade E é falso A e O são indeterminados
Se O é verdade A é falso I e E são indeterminados
Se A é falsa O é verdade E e I são indeterminados
Se E é falsa I é verdadeira A e O são indeterminados
Se I é falsa A é falsa E é verdadeira O é verdadeira
Se O é falsa A é verdadeira E é falso I é verdade

5
As relações de oposição/negação

Na relação lógica de contradição, quando uma proposição é verdadeira, a sua oposta é falsa. A negação de uma
proposição inverte o valor de verdade da sua contraditória, que é a sua oposta.
Por isso, se soubermos o valor de verdade de uma proposição, poderemos inferir o valor de verdade da sua oposta.
Assim:
Inferir por oposição consiste em tirar de uma proposição outra proposição, alterando o seu valor de verdade.
As proposições opostas negam-se umas às outras – quando uma é verdadeira, a outra é falsa. A inferência por
oposição inverte o valor de verdade.

Quadro das proposições opostas:


Tipo Exemplo Negação Explicação
A negação de uma universal afirmativa é uma
A universal Todos os homens são O Alguns homens não particular negativa. Em A, o predicado aplica-se
afirmativa mortais são mortais à totalidade do sujeito. Basta haver um caso em
que não aconteça, para ser falsa.
A negação de uma universal negativa é uma
E universal Nenhum homem tem particular afirmativa. O predicado não se aplica
I Alguns homens têm asas
negativa asas a nenhum sujeito, basta haver um caso para ser
falsa.
A negação de uma particular afirmativa é uma
I particular Alguns portugueses são E Nenhum português é
universal negativa. O predicado aplica-se a
afirmativa portuenses portuense
alguns. É falsa se não se aplicar a nenhum.
A negação de uma particular negativa é uma
O particular Alguns portugueses A Todos os portugueses
universal afirmativa. O predicado não se aplica a
negativa não são algarvios são algarvios
alguns. É falsa se se aplicar a todos.
A negação de uma proposição singular
Singular afirmativa é a singular negativa. Uma diz que o
Platão é filósofo Platão não é filósofo
afirmativa predicado se aplica ao sujeito. A outra diz que
não.
A negação de uma proposição singular negativa
Singular é a singular afirmativa. Dizer que é falso que o
O céu não é verde O céu é verde
negativa predicado não se aplica ao sujeito, é dizer que se
aplica.
A negação de uma condicional corresponde à
Condicional Se chove, uso guarda- chove, não usei guarda- afirmação da antecedente e a negação da
chuva chuva consequente – só assim se afirma que a primeira
não é condição suficiente da segunda.
- Platão é homem, mas Para negar uma Bicondicional é preciso mostrar
Platão é homem se, e não é racional que as proposições não são condições
Bicondicional
só se, for um animal necessárias e suficientes umas das outras. É
racional - Platão é animal racional, preciso mostrar que uma se verifique sem que a
mas não é homem outra tenha de se verificar.
As relações de oposição são úteis para contra-argumentar. Perante uma tese, é possível rebatê-la com uma oposta.
Edição [2020/2021] - Revisão [N.º0]
IMP.DUE.001-00 [24 setembro 2020]

Você também pode gostar