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A MULHER CATÓLICA

As palestras do meio-dia, intercaladas entre as instruções dos retiros de Santo


Inácio, são conferências formativas. Tratam-se de temas importantes sobre os
quais não pensamos habitualmente, pois ficamos ocupados demais, presos com
as obrigações de cada dia. Hoje vamos considerar a mulher católica...
É importante tratar desses temas no retiro. Hoje mais do que nunca, porque o
mundo em que vivemos, os meios de comunicação, a televisão, as revistas, os
jornais, e até nossas amizades e, quem sabe, parentes, nos colocam na cabeça
idéias, princípios falsos ou distorcidos sobre eles.
Em uma sociedade que fez da “dignidade da mulher” uma bandeira, um cavalo
de batalha, devemos parar e pensar: o que o mundo entende por mulher
católica? O que entendo eu sobre o que é uma mulher católica? O que é
verdadeiramente a mulher católica segundo o Magistério da Igreja, segundo o
que ensinam os santos?
Seguindo esse método, descobriremos muitos erros, muitas mentiras, muitas
falsas ilusões...
Se Deus nos ensina algo diferente do que pensamos, ou Ele ou nós estamos
errados... Mas Deus é Deus, a verdade, a sabedoria infinita e não é Ele quem
1
erra. Ergo...
Vemos assim que devemos retificar nossos pensamentos, ajustá-los aos de
Deus e, conseqüentemente, os nossos comportamentos também, ajustar nossa
vida, aquilo que se opõe ao plano de Deus para toda mulher católica.
O tema é amplo e impossível de esgotar nestas conferências em que trataremos
somente do essencial. POR ISSO, FICA UM COMPROMISSO, UMA
INQUIETUDE A SER SATISFEITA DEPOIS DO RETIRO POR UMA
ADEQUADA DIREÇÃO ESPIRITUAL, POR UMA CONTÍNUA
FORMAÇÃO ATRAVÉS DO ESTUDO, LEITURAS, ORAÇÃO, VIDA
SACRAMENTAL, E/OU CORREÇÃO DO PRÓPRIO CARÁTER.

A MULHER CATÓLICA

Começando então a considerar o tema da “mulher católica”, a primeira questão


que nos ocorre é: quem é ela?
Esta pergunta “quem sois?” foi a que os enviados pelos judeus fizeram a João
Batista quando pregava e batizava no Jordão... Quem sois? E ele respondeu:
“Sou a voz que clama no deserto” (Jo. I, 23).
A mulher católica pode dizer o mesmo hoje em dia...
São João Batista veio ao mundo para dar testemunho do Messias, de Nosso
Senhor... Deus traz ao mundo a mulher, a jovem católica para que dê
testemunho neste mundo deserto, deserto de vida cristã, de virtudes teologais e
morais, de modéstia, de temperança, de oração, de paz...
Penetremos mais na pergunta... Se um estranho viesse nos indagar hoje não o
nosso nome, não o que fazemos cada dia, habitualmente, mas tentasse
descobrir nossa identidade essencial, o que responderíamos à questão “quem
sois”?
A resposta teria de ser imediata, segura e em alta voz: SOU UMA MULHER
CRISTÃ, CATÓLICA. E com isso, tudo estaria dito.
Se pudéssemos compreender o que significa essa resposta, o que significam
essas duas palavras: MULHER e CATÓLICA!
A força que esses dois atributos têm para produzir o bem nas senhoras e nos
demais, no próximo imediato (esposo, irmão, familiares), no próximo mediato
(amigos, companheiros de estudo, de trabalho), no próximo longínquo (a
sociedade inteira)... Sou mulher e sou católica.
É o que veremos nessas palestras.

SER MULHER...
2
Por serem mulheres, têm um poder imenso...

O que é a mulher?
São Tomás diz: “Deus tomou do coração do homem a substância para
formar a mulher. Não a tomou da cabeça, porque a mulher não foi feita
para dominar, nem dos pés, porque tampouco deve estar ela sujeita à
escravidão ou ao desprezo. Foi criada para amar o homem e por ele ser
amada” (S.T. I, q.92, a.2 e 3).
De onde então tirou Deus a mulher? Do peito de Adão, de seu coração...
porque, assim como do coração transpassado de Cristo brotou uma torrente de
amor aos homens, que são os sacramentos, a mulher, saindo da costela de
Adão, nasce para amar e ser amada.
Este pensamento de São Tomás nos ensina o que a fé, o que a Igreja vê em
cada uma das senhoras: “um ser feito para amar e ser amado”, para colaborar
com o homem na própria obra de Deus, a criação.
O gênero humano chegou a um tal grau de decadência que embaralha tudo,
confunde tudo, se deixa degradar por tudo. O homem moderno (e ao dizer
homem refiro-me tanto ao sexo masculino quanto ao feminino) já não conhece
sua grandeza, pisoteia suas prerrogativas.
A criação do homem e da mulher é a jóia de Deus, a obra prima das mãos
divinas, tanto o primeiro homem e a primeira mulher, como cada homem, cada
mulher.
Homem e mulher formam uma natureza humana: a natureza humana total.
Há algo comum entre o homem e a mulher e algo distinto entre eles??
Duas opiniões extremas – e ambas falsas – resumem todas as idéias a que se
chegaram sobre esse assunto tão distorcido pelas paixões.
A primeira opinião é mantida pela maioria das pessoas comuns , e é
expressa mais através de fatos do que de palavras. Essa opinião representa
mais uma atitude de vida do que algo reflexivo: o homem é tido propriamente
como um “animal racional”, enquanto a mulher passa a ser um animalzinho
vistoso, agradável aos olhos. E o mais assombroso é que não são somente os
homens que professam tal opinião, mas também as mulheres, quando se
comportam não como o que são, mas como animaizinhos que só buscam
satisfazer suas paixões, fazendo-se agradáveis aos homens...
A outra é a do feminismo, que ensina que não há diferença alguma entre o
homem e a mulher.
Ambas posturas são falsas, fruto de interesses ou ressentimentos e não de uma
sincera busca da verdade.A verdade encontra-se no justo equilíbrio, e isso quer
dizer que entre o homem e a mulher há algo em comum e há algo distinto.
3
O comum: a mulher, antes de mais nada, é uma criatura racional tanto quanto
como o homem. Ela é sobretudo pessoa humana e não a concupiscência do
homem. Tem a mesma origem, foi igualmente redimida por Cristo o tem o
mesmo fim último que o homem.
O distinto: os dotes, as condutas (os princípios) e as aptidões exclusivas da
mulher (físicas e espirituais), cujo conjunto constitui a feminilidade.
E estas diferenças não são algo acidental na mulher.
Ambos, homem e mulher, pertencem como falamos, ao mesmo gênero
humano que é duplo: masculino e feminino. Há uma criatura racional-
masculina e uma criatura racional-feminina. Conseqüentemente, igualdades e
diferenças são encontradas nas próprias raízes de nosso ser, em nossa essência.
“A natureza da mulher tende mais a ser querida, amada – diz um autor. Na
guerra, ela, a mulher, só luta diretamente para defender seus filhos; o homem
luta para sobreviver, para buscar alimento para o lar... A mulher é mais
paciente que o homem, pois mesmo que ele tenha mais força para enfrentar as
crises agudas da vida, ela resiste melhor, e enfrenta com fortaleza diária e
perene as irritações, as intermináveis dificuldades pequenas ou grandes da
vida quotidiana. Enquanto que o homem, não habituado às doenças, inquieta-
se diante das moléstias da enfermidade e conta a todo mundo suas dores...; a
mulher as sobreleva, as suporta com mais fortaleza, como se encontrasse ali
gozos secretos, restos de sua interminável tarefa maternal (não que a
maternidade seja uma enfermidade!). A mulher consegue seus triunfos não por
meio da ousadia ou da luta, mas com persistência e tenacidade”.
Um sábio francês que ganhou o prêmio Nobel e converteu-se em Lurdes –
Aléxis Carrel – em um livro já velho mas de valor permanente, “A Incógnita
do homem”, falando só no plano físico ou fisiológico, ensina o seguinte:
“As diferenças que existem entre o homem e a mulher não provêm da forma
particular de seus órgãos, da presença do útero, da gestação ou do modo da
educação. São de natureza mais fundamental, determinadas pela própria
estrutura dos tecidos e pela impregnação de todo o organismo pelas
substâncias químicas específicas segregadas pelos ovários. A ignorância
desses fatos fundamentais levaram as promotoras do feminismo a crer que
ambos os sexos deviam ter a mesma educação, os mesmos direitos e as
mesmas responsabilidades. Na realidade, a mulher difere profundamente do
homem. Cada uma das células de seu corpo leva a marca de seu sexo. O
mesmo ocorre com seus órgãos e, sobretudo, com seu sistema nervoso. As leis
fisiológicas são tão inexoráveis como as do mundo sideral. Não podem ser
substituídas pelos desejos humanos. Estamos obrigados a aceita-las como são.
As mulheres deveriam desenvolver sua aptidões de acordo com sua própria
natureza, sem pretender imitar os homens. Seu papel no progresso da
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civilização é muito maior que o do homem. Não deveriam abandonar suas
funções específicas”.
Mas nós acrescentamos algo mais: a diferença não está somente no plano
físico, fisiológico, mas também no psíquico, e ainda no espiritual. O feminino
é uma modalidade que afeta toda a essência e portanto todas as potências que
brotam dessa essência. A mulher terá uma inteligência com uma modalidade
própria, feminina, e assim todas as outras faculdades próprias da natureza
humana.
Há portanto diferenças essenciais, mas se encontram frente a frente com as
características do homem, do ser racional-masculino. Há uma oposição, mas é
uma oposição de relação.
Melhor dizendo, o masculino e o feminino, o homem e a mulher, comportam
uma das relações mais íntimas que podem ocorrer. E essa relação íntima é a
complementação mútua, em toda a amplitude da natureza.
É por isso que dizíamos que a mulher foi criada para amar e ser amada.
E a expressão final desse amor mútuo, recíproco, entre o homem e a mulher
são os filhos...
É essa a razão de ser da mulher, segundo a própria natureza, segundo o próprio
plano de Deus: a procriação, a maternidade, o trazer novos homens ao mundo,
junto com o homem, colaborar imediata e diretamente com Deus na função
criadora ..., e formá-los, educar os filhos para Deus, para o céu, para que
alcancem o fim último que é a visão beatífica.
“Foi preciso a criação da mulher – diz São Tomás – para ajudar o homem
na geração” (S. T. I, q.92, a.1).
O poder, a força do verdadeiro amor 1, é de uma grandeza sublime,
eternamente vencedora, porque é a participação do próprio amor de Deus, mas
também por isso mesmo encerra uma imensa responsabilidade.
O Magistério da Igreja ensina também explicitamente essa realidade que se
descobre na natureza.
O Papa Pio XII diz a respeito: “... o papel da mulher aparece nitidamente
traçado pelas feições, pelas aptidões, pelas faculdades particulares de seu
sexo. Ela colabora com o homem, mas do modo que lhe é próprio, segundo
sua tendência natural. Então: o trabalho da mulher, sua maneira, sua inclinação
inata, é a maternidade. Toda mulher está destinada a ser mãe: mãe no sentido
físico da palavra, ou num sentido mais espiritual e elevado, mas não menos
real. Para esse fim o Criador ordenou todo o ser próprio da mulher, seu
organismo, mas também seu espírito e sobretudo sua delicada sensibilidade.
De modo que a mulher, no sentido verdadeiro, não pode ver nem compreender
a fundo todos os problemas da vida humana sem ter sob os olhos o aspecto da
família...”1, e em outro lugar acrescenta: “Não há dúvidas de que a função
5
primária, a missão sublime da mulher é a maternidade que, por altíssimo fim
proposto pelo Criador na ordem por Ele escolhida, predomina extensa e
intensamente na vida da mulher. Sua própria estrutura física, suas qualidades
espirituais, a riqueza de seus sentimentos, convergem para fazer da mulher
uma mãe, de tal modo que a maternidade representa a via ordinária pela qual a
mulher alcança sua própria perfeição, inclusive moral e ao mesmo tempo seu
duplo destino: temporal e celeste...” 2.
Falávamos então de uma complementaridade, de uma complementaridade do
masculino e do feminino, mas isso não esgota a relação entre homem e
mulher: a inteligência do homem deve complementar a da mulher e vice-
versa; cada uma no aspecto para o qual tem a aptidão que falta de alguma
maneira à outra; e assim sucede com todas as outras faculdades: vontade,
afetos, sentimentos,etc.
Não se trata de uma missão particular de um e de outro. Há uma missão
cósmica, quer dizer, abarcadora de toda a criação, e dada por Deus a ambos,
homem e mulher.
1
Discurso às mulheres italianas, 21 de outubro de 1945.
2
Discurso ao centro feminino italiano durante uma peregrinação a Loreto, 14 de
outubro de 1952.
De uma maneira geral podemos dizer que a missão do homem é conquistar a
ordem do céu para a terra, e a da mulher, por possuir uma razão das coisas
particulares muito mais forte do que a do homem, é infundir essa ordem nas
coisas concretas, é colocar essa ordem universal nas almas, nessas almas
encarnadas das crianças que, junto com o homem,a mulher traz ao mundo
para dar glória a Deus. Sua missão é introduzir essa ordem em algo tão íntimo
como é a vida, a atividade quotidiana da casa familiar. Esta é outra razão da
indissolubilidade do matrimônio.
Para essa missão completa e aperfeiçoadora que homem e mulher têm, Deus
dotou cada qual de qualidades particulares. Ambos estão chamados a uma
mesma vocação, a ser uma só coisa, não por confusão ou mistura, não por
sentimento, nem por domínio despótico de um sobre o outro; tampouco por
complementação unicamente na região das glândulas sexuais, nem por
inexplicáveis urgências fisiológicas e sim por complementação pela qual
ambos se nutrem reciprocamente com a aptidão que o outro não tem, visando
um fim comum.
Mais uma vez é Pio XII que tem palavras admiráveis sobre isso: igualdade
absoluta dos valores pessoais e fundamentais; mas funções diversas,
complementares e admiravelmente equivalentes, das quais derivam os
diferentes direitos e deveres de um e outro” 3,... “Deus não somente deu à
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mulher a existência, mas também a personalidade feminina em sua estrutura
física e psíquica, que respondem a um desígnio particular do Criador. O
homem e a mulher são as imagens de Deus e, segundo seu próprio modo,
pessoas iguais em dignidade e que possuem os mesmo direitos, sem que possa
sustentar-se de maneira alguma que a mulher seja inferior. Ela está, de fato,
chamada a colaborar com o homem na propagação e no desenvolvimento da
raça humana e assume nisto o papel delicado e sublime da maternidade; esta
comporta gozos e penas de uma intensidade pouco comum, porque implica a
imensa responsabilidade de trazer a criança ao mundo, protegê-la, alimentá-la,
velar por seu crescimento e educação, segui-la com solicitude durante o
período difícil da adolescência e prepará-la também para suas
responsabilidades de adulto. Assim, pois, Deus deu à mulher dons inestimáveis
que lhe permitem transmitir não somente a vida do corpo, mas também as
disposições mais íntimas da alma e as qualidades de ordem espiritual e moral
que determinam o caráter. Os estudos modernos de psicologia põem muito em
evidência a complexidade e a originalidade da natureza feminina, de modo que
não é necessário nos determos nesse assunto. Destaquemos, entretanto, que
estas mesmas qualidades se desenvolvem também com grande êxito em todos
3
Idem
os outros campos da vida social e cultural. Constituem também uma
contribuição indispensável, e as civilizações que as desconhecem ou as
descartam, sofrem inelutáveis deformações mais ou menos graves que
entorpecem seu desenvolvimento e as condenam cedo ou tarde à esterilidade e
à decadência”.4
Por causa disso, o poder da mulher é imenso.
Foi por uma mulher, Eva, que a humanidade se perdeu. Por outra mulher foi
salva: Maria. O supremo bem, o supremo mal: tudo se encerra na mulher.
A mulher é uma espada de dois gumes: é instrumento de vida, mas também
pode ser instrumento de morte. O melhor ou o pior.
É como a chama do fogo: se é virtuosa, dá claridade, calor, alegria; se é
perversa, deslumbra, queima.
A mulher que é filha, deve ser o anjo e o sol da família, a alegria da casa.
A mulher esposa, tem um poder assombroso sobre o homem que escolheu; se
ela lhe quer bem e o ama, ele será sempre fiel, será como um irmão e mais que
um amigo.
A mulher que é mãe, é rainha do lar, e os filhos terão por ela uma veneração
que durará até o fim de suas vidas.
Essa é a razão por que, se o homem é força, a mulher é amor. Esta delicada e
misteriosa influência da mulher brota de sua própria natureza, de seu caráter,
7
das qualidades que Deus pôs em toda mulher...
A Igreja ensina que : “...Para a felicidade de um lar, a mulher pode mais do
que o homem... a ela correspondem aqueles mil, mas atentos detalhes, aquelas
imponderáveis atenções e cuidados diários, que são os elementos da atmosfera
interior de uma família. Se esses detalhes aparecem corretamente, em seus
devidos lugares, a atmosfera da casa torna-se sadia, fresca e confortável; se
eles faltam ou se alteram, ela se torna pesada ou viciada e irrespirável... Para a
mulher, ordinariamente, o lar será sempre o refúgio e o ninho de seu labor
principal... a alma de tudo será a mão e a arte feminina , e assim a esposa
tornará atraente todos os cantos da casa, se não for com outra coisa, pelo
menos com o cuidado, com a ordem e a limpeza, com o fato de ter preparado
ou preparar todo o necessário no momento oportuno; o manjar para repor suas
forças, o leito para o descanso. À mulher mais que ao homem, Deus concedeu
o dom, com o sentido da graça e do agrado, de tornar lindas as coisas simples,
precisamente porque ela, feita semelhante ao homem para ajudar a formar
com ele a família, nasceu feita para derramar a amabilidade e a doçura em

4
Aloc. à União Mundial das Organizações femininas Católicas, 29 de setembro de
1957.
torno do lar de seu marido, e fazer com que a vida dos dois se harmonize, se
torne fecunda e floresça em seu real desenvolvimento”.5
A distribuição que Ele fez é admirável.
A inteligência do homem é abstrata, olha os princípios que regulam o ser e o
fazer; a da mulher, intuitiva, aplica as conseqüências desses princípios às
circunstâncias concretas, e isto de maneira natural. Por isso o homem é o
patriarca religioso – o homem religioso, não o beato – e a mulher é quem a
passa a religião aos filhos. O homem discute os problemas de fé, a mulher
ensina melhor o catecismo.
Ela tem uma compreensão pronta e imediata da realidade concreta, tem uma
intuição muito mais aguda que o homem das pessoas e situações que a
rodeiam. E elas influem de maneira tal que suas experiências podem converter-
se em princípios de juízo e de ação.
É receptiva em sumo grau. Suas prontas percepções invadem de imediato sua
sensibilidade e seu espírito. Pode-se dizer que é o espírito mais próximo à
sensibilidade, não porque seja sensual por natureza, mas porque toda ela se
enraíza profundamente no mistério de comunicar vida à carne: sua psique
encontre ali sua explicação última.
Por isso mesmo se torna em geral mais difícil para ela pesar o grau de
importância ou a gravidade do percebido, e não alcança por si própria os
8
princípios imutáveis onde, com certeza, descansa o juízo humano.
Entretanto, esta mesma proximidade do espírito à sensibilidade, faz com que
chegue mais rápido ao belo, ao poético e à música.
E o que dissemos da inteligência, também podemos dizer da vontade e da
sensibilidade.
Em tudo se vê o plano de complementaridade que Deus quis estabelecer entre
o homem e a mulher: compensações, harmonias que se fundem em delicada
união, a mais íntima que se pode dar à ordem da natureza.
E ainda podemos ressaltar outras relações...
Monsenhor Dupanloup, escrevendo sobre a educação da mulher, dizia: “a
mulher tem menos força física que o homem, mas é nessa debilidade que
encontra seu maior poderio... Compreende melhor as coisas do coração; ...
Sente mais vivamente e com maior pureza que o homem, o nobre desejo de
amar, está mais disposta ao sacrifício e à abnegação...”
Por natureza, a mulher é generosa em seu amor; permanece sem desfalecer
diante do cansaço, com profunda ternura, constância invencível, capaz de
imolar-se em silêncio, sorrindo através das lágrimas; sabe conjurar as

5
“Discurso de Pio XII aos recém casados” de 25 de fevereiro de 1942, em “Pio XII e a
Família Cristã”, editorial Poblet, Bs. As., ano de 1945, pág. 249.
tormentas, valendo-se de sua própria timidez. Com seu olhar tranqüilo, domina
o homem e apazigua sua cólera.
Todos estes dons de espírito, de coração, de caráter, essa força de sua
debilidade, essa energia moral da natureza, colocadas pelo próprio Deus em
toda mulher, nos falam dessa missão particular, santa e bendita da qual já
falamos, que a mulher deve cumprir no mundo.

SER CRISTÃ

Por ser cristã, católica, tem também um imenso poder.

Se o poder e a influência que possui pelo fato de ser mulher é grande, sendo
católica, tudo deveria ficar transformado em luz sobrenatural por sua ação.
A mulher com fé não é uma flor artificial, mas uma flor viva.
Que diferença há entre uma flor artificial e uma flor viva?
A flor artificial só agrada à vista, mas não tem perfume, não tem vida, está
morta... A flor viva exala perfume, um rico perfume que envolve tudo e torna
agradável o que a envolve.
A mulher católica deve exalar o suave perfume de Jesus Cristo, e isto é fácil,
9
quando se possui a fé e se compreendem as obrigações que essa fé nos impõe.
O levar o nome de mulher “católica” é, para uma jovem, para toda mulher, o
que a luz do sol é para uma flor.
Se não leva Deus em sua alma, sua Graça, talvez tenha a beleza física, mas
será uma beleza exterior, profana, vazia, sem nenhum brilho, sem nada para
poder desarmar o vício e a impiedade. Em vez de conduzir para o bem, será
causa de muitos males... para si e para os outros.
Para compreender o que significou para a mulher a chegada da Igreja, o
catolicismo e portanto, os deveres que o fato de ser católica impõe, convém
ver o que a religião fez por ela:
Que era a mulher antes da vinda de Cristo?
É verdade que encontramos, na literatura da Grécia, berço da filosofia,
mulheres virtuosas como Penélope que rejeita mil e um pretendentes por
fidelidade a Ulisses. Mas a realidade quotidiana nos ensina que a mulher vivia
confinada como as orientais, era considerada com indiferença e até com
menosprezo, ensina um autor. A literatura grega nos mostra que quando um
homem tinha convidados, a mulher não aparecia...; as únicas mulheres
presentes eram aquelas cuja reputação não tinha nada a perder..., eram
mulheres da vida; e assim, no processo contra Neera, o fato comprovado de
que uma das mulheres comia e bebia com o convidados de seu marido era
empregado como prova de que ela era uma prostituta 6. A educação da mulher
em Atenas não existia..., careciam de direitos e não podiam ocupar cargo
algum...
No Império Romano, a situação não era melhor...
É claro que houve, no começo, grandes e virtuosas mulheres patrícias, nobres e
respeitadíssimas mães de família, austeras esposas dedicadas a servir seu
marido e criar os filhos, até o ponto que as próprias leis lhes proibiam de
ascender a cargos públicos...
Mas, nos séculos posteriores, caído em desuso todo o direito natural dos
antigos, aquela férrea disciplina desapareceu e as mulheres ficaram na pior das
situações...
Conta-se em sua história que a filha de um imperador, levada pela luxúria,
pôs-se voluntariamente e vivia entre as prostitutas...
A mulher era menos que uma escrava, porque o escravo podia comprar sua
liberdade..., enquanto que a mulher estava sob o tutela perpétua de seus
parentes masculinos, não possuía nada, de nada podia dispor por si a não ser
sob a autoridade daquele que era seu tutor, não intervinha em nada no governo
da família, e muito menos nos negócios industriais e comerciais. Não podia
sequer informar-se das leis que eram tratadas no Senado, e se tivesse uma má
conduta, um tribunal formado por seus conhecidos podia condena-la até com a
10
morte...
Que fazia então para ocupar seu tempo? Luxo, festas, prazeres, ficavam
rodeadas de seus escravos e escravas, dos cabeleireiros, perfumistas, doceiros,
de tudo o que significa vida degradada, concubinatos, divórcios, adultérios...,
para cair, tempos mais tarde, no outro extremo de obter uma equiparação
absoluta com o homem.
Uma mãe, conta Cícero, provoca o divórcio de seu genro, e depois, sem
vergonha alguma, casa-se com ele depois que o casamento de sua filha já está
arruinado.
A menor razão era causa suficiente para o divórcio: em uma sátira, faz-se
alusão a isso dizendo: “Parti, vosso aspecto nos desgosta. Assoai-vos com
tanta freqüência! Parti imediatamente. Queremos alguém com um nariz menos
úmido que o vosso”.
E Sêneca dizia que a castidade era uma prova de fealdade. As mulheres
contam sua idade não pelo número de anos mas pelo números de maridos...:
“porventura há ainda alguma mulher que se envergonhe de romper o
matrimônio depois que tantas ilustres e nobres damas contavam seus anos não

6
“Os Gregos”, H.D.F. Kitto, editora Eudeba, pág. 303.
pelo número dos Cônsules mas pelo de maridos, e se divorciavam para casar e
se casavam para divorciar”7.
Um autor descreve assim a situação da mulher romana: “O vazio daquela
existência à qual se viam condenadas as mulheres romanas, lhes forçava, em
geral, a buscar um alimento de sua atividade no luxo, na excessiva
compostura, nos festins e nos prazeres..., surdos complôs contra o pudor e a
paz pública, divórcios indecentes, adultérios audazes, aparecimento de maus
costumes sobre os quais escreveram os filósofos, os historiadores e os
satíricos”8.
“É verdade, diz Pio XII, que continuaram dando nobres exemplos de mulheres
e mães excelentes, imitadoras das antigas matronas, como aquela Ostoria, de
família ilustre, da qual pode-se ler, na inscrição de um sarcófago recentemente
descoberto nas Grutas Vaticanas - já mencionado por nós em outra ocasião –
provavelmente do século três depois de Cristo, este elogio: Imcomparabilis
(sic!) castitatis et amoris erga maritum exempli feminae (mulher de
incomparável castidade e modelo de amor conjugal). Documento que
sobrevive para demonstrar que semelhantes virtudes de castidade e fidelidade
conjugal, mesmo sendo tão raras, não deixavam de merecer a estima dos
romanos. Mas a tais caracteres irrepreensíveis se opunha e se contrastava o
número sempre crescente de mulheres, especialmente da alta sociedade,
11
relutantes e esquivas aos deveres da maternidade, ansiosas por ocupações e
aptidões até então próprias somente aos homens”9.
Assim, o próprio Papa termina afirmando a respeito: “Nem Atenas nem Roma,
faróis da civilização, que inclusive derramaram tanta luz natural sobre os
vínculos familiares, conseguiram, nem com as altas especulações da filosofia,
nem com a sabedoria da legislação, nem com a severidade da censura, elevar a
mulher à altura a que sua natureza corresponde na família”10.
O próprio Pontífice ensina então a mudança operada com Cristo e os grandes
bens dos quais a mulher é devedora do cristianismo: “Quando este, o
cristianismo, apareceu na terra, a cultura pagã freqüentemente só exaltava a
mulher pelo conjunto de dotes externos e efêmeros... e entretanto, [também]
tudo isso era vazio e superficial11”....
7
Cit. Por Pio XII, Aloc. aos recém-casados, 10 de setembro de 1941.
8
“A influência do Cristianismo no Direito Civil romano”, M. Troplong, ed. Desclée,
1947, p. 166.
9
Discurso aos recém casados em 1o. de setembro de 1941.
10
“Discurso de 10 de setembro de 1941”, em “Pio XII e a família cristã”, Ed. Poblet,
p. 216.
11
Discurso ao “Congresso Mundial de Organizações femininas” de 24 de abril de
1952.
“Restabelecer na família a hierarquia indispensável à sua unidade e à sua
felicidade e restituir ao mesmo tempo o amor conjugal à sua primitiva e
verdadeira grandeza, foi uma das maiores obras do cristianismo, desde o dia
em que Cristo afirmou face aos fariseus e ao mundo: Quod ergo Deus
conjunxit, homo non separet, o que Deus uniu, não separe o homem. Esta é a
hierarquia essencial da natureza, confirmada na unidade do matrimônio, que a
Divina Providência criadora assinalou com suas qualidades distintas,
reciprocamente complementaria, das quais quis dotar o homem e a mulher:
“Nem o homem sem a mulher, nem a mulher sem o homem, segundo o
Senhor”, exclamava São Paulo. Ao homem a supremacia na unidade, o vigor
do corpo, os dons necessários para o trabalho com que há de prover e
assegurar o sustento da família; a ele foi dito, de fato: “Ganharás o pão com o
suor do teu rosto”. À mulher reservou Deus as dores do parto e os trabalhos da
primeira educação dos filhos na infância, para quem as afetuosas solicitudes do
amor maternal não podem ser substituídas nem pelos melhores cuidados de
pessoas estranhas.Ao manter firme a dependência da mulher em relação ao
marido, sancionada nas primeiras páginas da Revelação, o Apóstolo dos
Gentios faz lembrar que Cristo, todo misericordioso para conosco e para com
as mulheres, adocicou (adoçou) este pouco de amargura que ainda restava no
fundo da lei antiga, e mostrou, em sua divina união com a Igreja, como a
12
autoridade do chefe e a sujeição da esposa, sem que se diminuam em nada,
podem ser transfiguradas pela força do amor., de um amor que imite aquele
com que Ele se une à Igreja. Nos lembra também de que maneira a constância
do comando e a docilidade respeitosa da obediência podem encontrar, em um
amor ativo e mútuo, o esquecimento de si próprio e o generoso dom recíproco.
Sentimentos que, também eles, contribuem para o nascimento e a consolidação
da paz doméstica, que, sendo fruto tanto da ordem quanto do afeto, foi definida
por Santo Agustinho como a ordenada concordância de mandar e obedecer
entre aqueles que vivem juntos: ordinata imperandi concordia cohabitantium.
Este há de ser o modelo de vossas famílias cristãs12”.
E assim, com a vinda de Cristo, menos de dois séculos depois de sua morte, a
verdadeira religião já impregna na sociedade pagã, porque contém e propaga
as mais puras máximas de sabedoria divina...
A mulher faz-se cristã.
Que diferença entre a mulher pagã e a mulher cristã!
Todos os testemunhos, amigos e inimigos, demonstram que a religião cristã
serviu-se sobretudo da influência das mulheres para penetrar no mundo pagão
e transforma-lo...

12
Discurso aos recém-casados de 1o. de setembro de 1941.
Apesar das perseguições, do repúdio da sociedade na qual até então haviam
vivido, elas são a ponta de lança do cristianismo...
É à sua mãe que Cristo aparece recém-ressuscitado e é a outra mulher, Maria
Madalena, a quem igualmente aparece primeiro, antes mesmo dos discípulos,
com seu corpo glorioso. É a uma mulher, a samaritana, que pela primeira vez
revelará o que é mais importante da vida nova: adorar a Deus em espírito e em
verdade. Negou-se a condenar a mulher adúltera a quem disse simplesmente:
“vai, e não peques mais”...
Uma mulher da aristocracia romana, Plautila, foi quem emprestou seu véu para
cobrir o rosto de São Paulo quando ia ser decapitado em Roma e logo depois,
recolheu seus restos...
Um dicionário conhecido, o Petit Larousse, ao mencionar nomes conhecidos
na História dos séculos I e II, encontra muito mais nomes de mulheres do que
de homens: e em vinte e uma mulheres mencionadas, dezenove são santas,
quase todas jovens que morreram por afirmar a fé: Ágata, Inês, Cecília, Luzia,
Catarina, Margarida, Eulália e tantas outras...
A transcrição de um parágrafo de Tertuliano, autor cristão dos primeiros
séculos, nos ensina o papel da mulher em seu tempo:
“Esta mulher vai visitar os irmãos nos lugares mais pobres; levanta-se durante
a noite para rezar e assistir às solenidades da Igreja; se aproxima da sagrada
13
mesa ou penetra nas prisões para be
ijar a corrente dos mártires, para lavar os pés dos santos... Nas festas, estão
muito longe dela os hinos profanos e os cantos voluptuosos. Diferentemente
das pagãs que, cheias de comida e de vinho, não podem digerir e vomitam para
começar a comer de novo, invoca Jesus Cristo e se prepara à para a
temperança pela saudação divina. Ninguém a vê nos espetáculos nem nas
festas dos gentios. Permanece em sua casa e só se encontra fora dela por
graves motivos: para visitar os irmãos enfermos, para assistir ao santo
sacrifício, para escutar a palavra de Deus. Nada de jóias nas mãos que têm de
suportar o peso das correntes. Nada de pérolas nem de esmeraldas para adornar
uma cabeça ameaçada pela espada da perseguição”.
Assim era a mulher cristã na primeira era do cristianismo; assim se preparava a
mulher católica tanto para a morte valorosa no martírio como para uma vida
santa.
Recordemo-nos do martírio de Santa Sinforosa e seus sete filhos no século II
d.C., que havia precedido o de seu marido Getulio, tribuno romano; o de Santa
Felicidade e também seus sete filhos no mesmo século: seu martírio, diz a
respectiva ata, teve lugar porque “os pontífices judeus, vendo que era por sua
causa que os elogios do nome cristão iam muito alto, a denunciam diante do
governador e juiz pagão. Assim, para não renegar a fé, evitando o mesmo para
seus filhos, pronuncia aquelas palavras exemplares de uma verdadeira mãe
cristã, encorajando-os a perseverar firmes nos tormentos: “Olhai para o céu,
filhos meus, e levantai os olhos para o alto: ali vos espera Cristo com seus
santos. Combatei por vossas almas e mostrai-vos fiéis ao amor de Cristo”. E as
respostas breves dos filhos que se animam mutuamente na confissão da fé...,
morrendo todos nas mãos de diversos verdugos com diferentes tormentos e a
última, a mãe, que foi decapitada... E quantas outras não houve!
Assim eram as mulheres católicas dos primeiros séculos: grandes e generosas,
fortes e exemplares, fiéis a Deus e a seus deveres de mãe... e de apostolado
católico...!
“Restabelecer na família a hierarquia indispensável à sua unidade e à sua
felicidade e restituir ao mesmo tempo o amor conjugal à sua primitiva e
verdadeira grandeza, foi uma das maiores obras do cristianismo”, afirma o
Papa Pio XII13, e nesta tarefa as mulheres tiveram papel essencial:
“Nem o homem sem a mulher, nem a mulher sem o homem, segundo o
Senhor”, exclamava São Paulo (I. Cor. 11,11). Elas sacudiram as bases do
mundo pagão; sua atitude defendendo a verdadeira fé foi radical, inovadora
até o ponto de negar a autoridade do pai de família, até então o único cidadão
verdadeiro, proprietário, chefe militar e grande sacerdote, quando pretendia
passar por cima dos direitos de Deus, sem reconhecer os limites de seu lugar...
14
“Dou-vos como companheira e não como serva; amai-a como Cristo amou a
sua Igreja” diz São Paulo em outra ocasião. Cristo havia restabelecido,
sobrenaturalizado de uma nova maneira e elevado à maior altura, a de
sacramento da Igreja, o lugar primitivo que Deus havia dado à mulher no
começo da humanidade, na união com o homem...
Menina ou jovem, virgem ou mãe, viúva ou, quem sabe, religiosa, em todas as
situações em que possa encontrar-se, tem deveres novos a cumprir...
Desse modo, podemos mencionar Fabíola, cujo nome evoca um relato famoso
que a Igreja das catacumbas tinha como marco. Entretanto, a história real
supera a lenda: Fabíola era uma dama da aristocracia romana, discípula de São
Jerônimo que, impressionada ao ver a grande quantidade de peregrinos que
chegavam sem recursos a Roma, fundou para eles uma “Casa dos doentes”, um
sanatório, nosokomion. Dito de outra forma, Fabíola é a fundadora do primeiro
hospital... E mais tarde, em Ostia, o porto onde desembarcavam os peregrinos,
cria o primeiro centro de hospedagem, xenodochion ...
Lembremo-nos também das duas Melânias, contemporâneas de Fabíola, a
anciã e sua neta: esta, herdeira das imensas posses de sua avó na África (nessa
época, o território da África romana pertencia somente a seis proprietários),

13
“Discurso de 10 de setembro de 1941”, em o.c., pág. 218.
distribuiu todas suas terras entre mais de mil escravos e retirou-se para a Terra
Santa a fim de juntar-se a uma comunidade de monjas fundada em Jerusalém
por sua avó...; há também Paula, dedicada a fundar uma casa de instrução de
jovens que se reuniam a sua volta, na Terra Santa...14
É com razão que um autor diz: “Parece que nessa época [fins do Império
Romano] a mulher havia precedido o homem na via do ideal cristão. Por sua
natureza, ela estava melhor preparada para compreender as virtudes de
humildade e modéstia... Desde então [o homem] fará homenagem à
companheira que quer conquistar como a um ser que estima e honra” 15.
Assim, a França tornou-se católica com a conversão de Clovis em 496, mas
sua adesão à verdadeira fé é obra de sua esposa Clotilde, uma mulher de
família real a quem custou muito conseguir o batismo do esposo...
A conversão da Itália do norte é devida a Teodolinda que, apesar de ser casada
com um rei ariano, consegue batizar o filho Adaloald no rito católico...
Berta de Kent na Inglaterra conseguirá que o rei Etelberto se faça batizar.
Na Espanha, Leovigildo, duque de Toledo, restaura a autoridade real e se casa
em 573 com a católica Teodósia, que o converte ao catolicismo... Esta grande
mulher tinha três irmãos bispos: S. Isidoro de Sevilla, Leandro e Fulgêncio...
Na Rússia, a primeira batizada foi Olga, princesa de Kiev; os países Bálticos
devem sua fé a Edviges da Polônia...
15
As precursoras do catolicismo na Europa foram mulheres...
Assim deve ser quem é mulher e católica no mundo de hoje...: guias,
precursoras que preparem a restauração do catolicismo, do Reinado social de
Cristo...
Hoje, nós mesmos podemos dizer que somos católicos, toda a hispanoamérica
foi e é católica, graças a uma outra grande mulher, exemplo de virtude e
santidade, que durante toda sua vida e até o momento de sua morte, teve como
primeira e principal preocupação a glória de Deus, a extensão de seu reino. Em
seu testamento impunha a seus herdeiros a seguinte incumbência: “...nossa
principal intenção foi... a de procurar, induzir e atrair os povos e converte-los à
Santa Fé católica... Por isso suplico ao Rei meu Senhor, muito afetuosamente e
encarrego e mando à dita Princesa, minha filha, e ao dito Príncipe, seu marido,
que assim o façam e cumpram e que este seja seu principal fim e que nele
ponham muita diligência e não consintam nem deixem acontecer que os
moradores e índios vizinhos... recebam desagravo algum nem em suas pessoas
nem bens...”
14
Cfr. “A mulher no tempo das Catedrais”, de Regine Pernoud, coleção Plural-
Historia, ed. Juan Granica, Espanha, p. 29 ss.
15
Gustav Schnürer, ‘L’Eglise et la Civilization au Moyen Age’, citado por Calderón
Bouchét em “Formação da cidade cristã”, ed. Dictio, pág. 81, 1978.
Não é preciso dizer que falamos da grande Isabel a Católica, mulher santíssima
cuja vida totalmente exemplar a torna digna de ser venerada nos altares, mas
que interesses “ecumênicos” preferem ocultar. Como precisamos hoje de
mulheres como ela!
Sua grande fé, sua firmeza em conserva-la íntegra naquela pátria que era de
sua responsabilidade, é a causa de seu decreto de expulsão dos judeus, razão
também porque pedira a Roma o estabelecimento da Santa Inquisição...
Diante de uma sociedade que nega os direitos de Deus, diante de um mundo
apóstata, corresponde à mulher empunhar novamente a coragem destas
patrícias cristãs, imitá-las. Somente ela, a mulher verdadeiramente católica,
pode fazer com eficácia desde a torre inexpugnável do lar, no pequeno âmbito
onde ela é rainha..., onde ela é filha ou irmã...
Sob o império de Trajano, Santo Inácio de Antioquia, escrevia um pensamento
capaz de fascinar ainda hoje, se corre algo de fé pelas nossas veias: “O
cristianismo – diz -, quando é objeto de ódio do mundo, não é questão de
palavras persuasivas e sim de grandeza”...
E hoje, essa grandeza de um cristianismo vivido em sua plenitude, com
constância perseverante, particularmente pela mulher se faz necessária...
Porque inclusive em seu catolicismo a mulher é diferente do homem:
1) Tem naturalmente mais piedade do que o homem:
16
Reza mais; há normalmente mais mulheres rezando nas Igrejas do que homens
(desde os primeiros tempos: ao pé da Cruz, só havia S. João e o resto eram
mulheres... a Verônica.
2) Tem naturalmente mais fé do que o homem
A mulher crê e precisa crer.
O homem discute as verdades. Para as mulheres, essas verdades formam um
edifício com cada coisa em seu lugar...
3) A mulher tem naturalmente mais coração do que o homem
Nela dominam a sensibilidade e a delicadeza. Seu coração é o teatro da dor,
sobretudo quando é mãe...
Todas estas armas Deus deu à mulher para que cumpra sua missão enquanto
vive nesta terra:
Tem fé para converter.
Tem esperança para consolar.
Tem caridade para salvar almas.
Ela se transforma assim no sol do lar, na “mulher forte” da qual nos fala a
Sagrada Escritura, porque é o plano de Deus: “O lar tem seu próprio sol -
ensina Pio XII -: a esposa. Ela é a que há de iluminar e fazer agradável a
atmosfera do lar, que depende mais dela que do homem. Se a mulher se fasta
da casa, este se esfria e morre. O homem jamais poderá substituir a mulher em
casa. Que a esposa tenha cuidado especial em fazer com que a casa seja
amável. Fazendo assim, a mulher se beneficia não somente aqui na terra, mas
também no céu, pois é seu exercício de virtude cristã. A mulher deve ser
especialmente o sustendo do lar. É muito duvidoso que seja o ideal que a
mulher casada exerça uma profissão fora de casa. Quando tem de sair para
trabalhar fora, tem de conseguir que não se destrua a vida da família...”

A MULHER CATÓLICA NA REALIDADE QUE TEM DE VIVER

Tudo isso é muito lindo, o ideal para tempos cristãos e pátrias cristãs, mas
pareceria impossível de ser vivido e praticado pela mulher católica na vida real
de nossos tempos, neste terceiro milênio que acaba de começar...
“É um fato inegável – assinala Pio XII em um dos discursos já mencionados –
que desde muito tempo os acontecimentos públicos vêm se desenvolvendo de
maneira desfavorável para a família e a mulher...”
Com o movimento e a direção da vida e da civilização moderna, a mulher se
afasta de casa tanto por causa da necessidade do pão quotidiano quanto por
esse espírito do mundo moderno, de emancipação, de uma maior liberdade que 17
impregnou-se em todos lares. Querendo ou não, a atividade da mulher se
estende praticamente a todos os campos da atividade humana: a vida social e a
vida pública, a política e os tribunais, a economia e o jornalismo, as profissões
em todas suas variedades, o mundo do trabalho e do divertimento, as artes...
Com o novo aspecto da vida, houve também mudanças no comportamento da
mulher: o contato permanente e contínuo com o mundo deram-lhe um aspecto
mais inteligente, mais desenvolvido, mais decidido. Há uma maior consciência
de seus deveres e responsabilidades, o que ao mesmo tempo lhe confere maior
franqueza e segurança... e esta nova fisionomia da mulher não é má em si;
dependerá de como ela é compreendida e utilizada. “Mantida em seus justos
limites, bem orientada, pode chegar a ser arma de defesa contra os perigos
reais desse novo mundo, arma de conquista para os perigos que os demais
correm”.1616
Este estado das coisas é como é. Seria em vão perder tempo com lamentações
estéreis. Enquanto perdurarem estas condições, que não cabe a nós modificar
imediatamente, seria uma nescidade querer regressar à antiga vida familiar, na
qual as jovens permaneciam em suas casas ajudando sua mãe, aprendendo as
tarefas de mulher, o cuidado e os trabalhos de casa, ajudando no cuidado e

1616
Pio XII, às leitoras de “Alba”, no. 133, p.100
educação dos irmãos e irmãs menores, esperando o tempo adequado para seu
casamento...
Tais condições de vida constituíam noutra época o primeiro alimento e a
defesa do caráter e do modo de ser cultural de nossas mães e avós. Hoje, essa
figura feminina mudou vertiginosamente e, saindo de seu retiro, encontramos a
mulher em quase todas as profissões, em campos outrora reservados
exclusivamente aos homens.
Essa é a realidade em que hoje se encontra a mulher católica, e acrescentamos,
“tradicionalista”. Nota particular necessária de ser assinalada muito
especialmente, ainda que bastassem os dois primeiros termos, se
compreendemos bem o que foi dito até agora.
Isto nos sugere uma primeira advertência: as circunstâncias exteriores
mudaram; mas a natureza, o caráter, o temperamento nunca poderão mudar
substancialmente e se vem a sofrer algumas modificações, seu fundo
permanece sempre imutável e invariável.
O maior desenvolvimento e franqueza, o fato de decidir-se com mais firmeza
e possuir melhor consciência de suas responsabilidades, não faz da mulher um
homem, nem que perca sua sensibilidade, sua impressionabilidade, aquelas
características próprias que lhe correspondem por natureza...
Será sempre necessário conservar bem claras estas idéias, os princípios firmes
18
e não ceder à tentação de pensar que a vida atual que conduz a mulher a
afastar-se do lar, seja uma necessidade natural, como um progresso natural que
a aperfeiçoa como mulher...
Aquelas épocas de nossas avós e bisavós não são as nossas. São realidades
bem diferentes, mas que devem ser enfrentadas com as mesmas armas que
todos os católicos enfrentaram as diferentes circunstâncias da vida. Os mesmos
meios naturais e sobrenaturais..., as mesmas virtudes teologais e cardeais, os
mesmos princípios morais de ontem são os que valem e devem ser praticados
hoje. Cristo e sua doutrina são perenes. É o mesmo ontem, hoje e sempre...
A mulher já está introduzida nas profissões, na vida social e pública das
nações. Trata-se pois, de conhecer e por em prática estes princípios, estas
virtudes, de protege-la, para que sua atuação nestas novas modalidades não lhe
faça perder sua condição de mulher e de mulher católica. Ainda mais: para
que neste novo posto de combate, sua atividade seja realmente apostólica,
defenda e difunda a verdade de Cristo e sua doutrina assim como seus
princípios de vida cristã, seu valor, a dignidade da mulher na obra da obtenção
do bem comum da pátria, da sociedade, dos homens...
“Vossa entrada nessa vida [fora do lar] produziu-se repentinamente, assinala
Pio XII, por efeito dos transtornos da guerra. Não importa: estais chamadas a
tomar parte nela. Deixareis isso por acaso a outras, àquelas que constituem as
promotoras ou cúmplices da ruína do lar doméstico, o monopólio da
organização social, da qual a família é o elemento principal em sua unidade
econômica, jurídica, espiritual e moral? Estão em jogo a sorte da família e da
convivência humana. Ambas se encontram em vossas mãos. Toda mulher,
portanto, sem exceção, tem o dever, o estrito dever, de entrar em ação nas
formas e maneiras possíveis, de acordo com a condição de cada uma, para
conter as correntes que ameaçam o lar, para combater as doutrinas que
enfraquecem a base, para preparar, organizar e levar a cabo sua
restauração”1717.
Deve-se ter em conta, entretanto, que esta nova situação afeta necessariamente
o bem comum e os próprios costumes das pátrias, pelo menos quanto ao perigo
que representa por ser antinatural, como já advertia Pio XII: “A estrutura
moderna da sociedade, que tem como fundamento a quase absoluta igualdade
entre homem e mulher, apóia-se em um princípio falaz. É verdade que o
homem e a mulher são, no que se refere à personalidade, de igual dignidade e
honra, consideração e estima. Mas não são iguais em tudo. Determinados dons,
inclinações e disposições naturais são exclusivamente próprias do homem ou
da mulher, ou lhe estão atribuídas em grau e valor distintos: umas mais ao
homem, outras mais à mulher, segundo aquela peculiar maneira com que a
própria natureza lhes conferiu os diversos campos de atividade e ofícios. Não
19
se trata aqui da capacidade ou das disposições naturais secundárias, como são
a habilidade ou aptidão para as letras, artes ou ciências. Tratam-se dos dotes de
eficácia essenciais na vida de família e da população. E, quem não sabe que a
natureza, ainda que seja violentamente esquecida, sempre voltará, tamen usque
recuret? Fica pois, por ver e esperar se ela própria [a natureza] não chegará a
impor, seja quando for, uma correção à atual estrutura social” 1818.
Assim sendo, é importantíssimo reconhecer essas exigências que a própria
natureza impõe. Se a atividade da mulher na vida de trabalho pode ser algo
querido pela Providência (como insinua o mesmo Pontífice) não excluindo
campo algum, e lhes é lícito entrar no terreno político, jurídico, econômico,
educacional, cultural, social, médico, etc., mesmo no plano de organizações
internacionais, é preciso sempre que se respeitem as exigências de ordem
intelectual e sentimental, de ordem física e psíquica, moral e natural. Há uma
necessária discriminação a se realizar, tendo em vista tais diferenças tanto na
qualidade de trabalho como na quantidade, tanto no lugar como na companhia
de pessoas... Há atividade inclusive que estão vedadas às mulheres e outras nas
quais, por suas próprias qualidades e caracteres, aparecem como sendo as que
obtêm melhores resultados com mãos femininas: “associada ao homem no
1717
Aloc. às organizações femininas católicas da Itália, 21 de outubro de 1945.
1818
Pio XII, às jovens da A. C., 24 de abril de 1943.
campo das instituições civis, aplicar-se-á principalmente àqueles assuntos que
exigem mais tato, delicadeza e instinto materno do que rigidez administrativa.
Quem melhor do que ela pode compreender o que requer a dignidade da
mulher, a integridade e a honra da jovem, a proteção e a educação da
criança...”1919
Há também um princípio que é ordem natural e que nuca pode nem deve ser
esquecido pela mulher, qualquer que seja o lugar onde as circunstâncias da
vida de hoje a levem: seu verdadeiro lugar, o lugar onde ela reina, é a sua casa,
o lar de que deve sentir falta e onde sempre permanecem suas principais
obrigações. Todos os últimos Papas, desde Bento XV, marcaram bem este
dever e o expuseram com muito vigor, advertindo a respeito destas novas
exigências do mundo moderno...
Hoje busca-se por todos os meios tirar a mulher do lar, porque afirmam que lá
permanecer é decadente. Muitas mulheres vêem o trabalho de casa como uma
escravidão da qual têm que livrar-se. Assim, não sabem cozinhar (e não
querem aprender (ou o fazem de má vontade)), e muitas vezes solucionam este
problema com comidas de restaurante...; tampouco sabem coser nem têm idéia
de higiene, de decoração, etc..Mas sabem sociologia, antropologia, modas e
tantas outras coisas vãs.
Sem dar-se conta, quase imperceptivelmente, vão perdendo algo essencial: seu
20
coração materno, sua sensibilidade feminina para todas as coisas. Poderão
fazer grandes coisas, estudar, trabalhar, escrever..., e até divertir-se e passear,
mas sempre com um espírito que não é o seu, com um coração
“desfeminilizado”, oposto ao que a natureza, o próprio Deus, lhe deu para que
alcançasse sua perfeição, no seu âmbito próprio, a família, o lar. Se agirem
desse modo, isto as levará necessariamente, cedo ou tarde, a sentimentos
frustrantes, depressões, crises, “stress” (como gostam de dizer para denominar
uma conseqüência óbvia de toda esta “revolução” contra a natureza das
coisas)...
“Qual é pois vosso dever nessas circunstâncias? Perguntava-se Pio XII
respondendo em seguida: nadar contra a corrente para permanecer fiéis ao
dever cristão... Fazei mais do que nunca com que a família seja o santuário de
vossa vida. Dentre vós, as que não estão casadas, permaneçam na intimidade
da casa paterna; dediquem com gosto suas vontades e tempo livre
primeiramente aos seus, pais, irmãos, irmãs, mesmo que isto exija a renúncia a
uma vida mais independente e com mais prazeres, tal qual a que levam tantas
companheiras suas despreocupadamente. As que já são esposas e mães, vos
digo: bem sabemos o quão difícil é cumprir ao mesmo tempo os deveres de
1919
Aloc. à União Mundial de Organizações Femininas Católicas, 29 de setembro de
1957
trabalho e os de mãe de família permanecendo fiéis à lei de Deus [fala às
operárias de uma empresa pública]. E não ignoramos que muitas não resistem
à tensão causada por este duplo dever e acabam cedendo... Mas se vocês têm
que ganhar o pão de cada dia, aproveitem as horas que estão em casa e dai a
vossos maridos e a vossos filhos, com um fervor redobrado, o consolo do bom
exemplo, dos cuidado afetuoso, do amor constante. Fazei com que vossa casa
seja um lugar de vida quieta e pacífica, com toda piedade e honestidade...” 2020,
reforçando laços de família, apoiadas na vida interior, na frequente recepção
dos sacramentos e na assistência à missa dominical...
O lar será para a mulher o lugar adequado para o crescimento e perfeição de
sua própria personalidade. A atenção prestada à família será sempre,
insubstituivelmente, a maior dignidade a que pode e deve aspirar. Sua missão
natural e essencial está ali e ali também sua própria santificação, sua missão
nesta terra. Por isso deve sempre aspirar a regressar ao lar, mesmo que as
exigências da vida imponham-lhe o dever de trabalhar...
Este desejo, estas aspirações de regressar ao lar devem ter também a mulher
solteira. É em sua própria casa, nesse lugar apropriado, exclusivo e acolhedor,
personalíssimo, no qual deixa impressa a intimidade de seus gostos nos
detalhes das coisas, no ar que se respira, na ordem que impera, que a alma
recupera o pleno domínio de si, desafoga as tensões e encontra um lugar
21
reservado para si. É ali o lugar a que precisa recorrer para alcançar a
maturidade da perfeição humana, espiritual, religiosa, a que tem direito e deve
aspirar.
E se tais exigências se impõem em termos individuais para perseverar na
integridade da fé e da vida cristã como mulher católica, há também exigências
de vida apostólica no ambiente externo em que ela realiza suas tarefas: seja
onde estiver, continua sendo mulher católica e deve comportar-se como tal...
“Apostolado efetivo” chamava Pio XII a essa responsabilidade de assumir “em
cada um dos setores em que trabalha, na família, como esposa e mãe, na
educação, na vida social, nas organizações legislativas, judiciais e nas relações
internacionais, um papel de acordo com as normas religiosas e morais
particulares sobre as quais a Igreja, e muito especialmente os Papas,
forneceram úteis esclarecimentos. ”2121
Vida exemplar, que desperte desejos de imitação pelas virtudes que
exterioriza, pelo espírito jovial e sério que demonstra ao mesmo tempo, pela
afabilidade e correção, pela valentia com que defende a verdade, a honestidade
de vida, a justiça, o cumprimento do dever de estado, acima do espírito
2020
Pio XII, às operárias católicas, 5 de agosto de 1945.
2121
Aloc. à União Mundial de Organizações Femininas Católicas, 29 de setembro de
1957.
“libertador” do mundo em que vive... A liberdade é um dom de Deus. O
mundo, o homem e a mulher moderna pedem, exigem que sejam “libertos”...
Liberar-se de que e para quê, nos perguntamos? Somente a Verdade nos dá a
verdadeira liberdade, nos ensina Nosso Senhor...
Fortaleza para que não se importe com o juízo dos homens, com o “que dirão”;
valentia para enfrentar os perigos decorridos dessa atitude generosa de
fidelidade à lei de Deus em todo momento, valentia de dizer sim a Deus e não
aos trabalhos impróprios à mulher; dizer não a conversações impróprias ou
amizades indecentes, a férias em que Cristo está ausente, a lugares que Nossa
Senhora não concorreria... Valentia para perseverar nesta luta quotidiana,
porque a vida dos homens sobre esta terra é milícia...
Mas para tudo isto se requer também uma formação adequada: “É claro que a
função da mulher nesse aspecto não se improvisa. O instinto materno é nela
um instinto humano não determinado pela natureza mesmo nos mínimos
detalhes de sua aplicação. É dirigido por uma vontade livre e esta, por sua vez,
é guiada pela inteligência. Daí seu valor moral e sua dignidade, e também sua
perfeição, que precisa ser compensada e resgatada com a educação. A
educação feminina da jovem, e não poucas vezes a da mulher, é pois, uma
condição necessária em sua preparação e formação para uma vida digna
dela”2222.
22
E particularmente em matéria de religião e moral. Hoje, para enfrentar as
tentações do mundo moderno não basta nos satisfazermos com o que
aprendemos em nossos catecismos ou com o sermão do sacerdote na missa de
domingo. Nem sequer os conselhos do confessor são suficientes para que nos
contentemos com eles como couraça suficiente para nos defendermos,
vencermos as exigências e dificuldades de uma vida que nos põe em contato
diário com um mundo injusto, sensual, livre e apóstata de seus deveres para
com seu Criador e Redentor...
A vida interior e de piedade, a oração e a freqüência aos sacramentos, a prática
firme e entusiasta de todas as virtudes, devem ir acompanhados do estudo da
doutrina católica tradicional, das verdades de sempre que ajudam a ter bem
claros e sólidos os princípios da vida moral. A mulher católica deve ser a
mulher completa, exemplar, que goste de ler livros bons, bonitos e úteis, que a
instruam, que ampliem seu conhecimento das coisas, das obras e dos critérios
de sua condição e de seu trabalho, que a informem com retidão sobre o curso
dos acontecimentos e a conservem firme e esclarecida na fé e na virtude.
Dá a impressão de que hoje em dia já não restam mais mulheres valentes,
como as que acompanharam Nosso Senhor ao Calvário... Já não restam

2222
Idem
Marias... Maria de Magdala, Maria Cleófas, Maria Salomé; mulheres valentes
que estavam unidas a Maria, Virgem Dolorosa; mulheres como Santa Cecília,
Santa Águeda, Anastácia, Luzia, Inês... que enfrentaram mil perigos
permanecendo fiéis a Nosso Senhor...
Faltam mulheres que não se dobram, que não passam o dia chorando ou
lamentando-se dos tempos presentes sem que façam nada para remedia-lo;
faltam mulheres que saibam resistir, que saibam defender o ideal de uma vida
integramente católica, que combatam com todas suas armas pela defesa de sua
honra, de sua fé, de sua Igreja, de seu Deus...
Estamos em tempo de guerra, de decisões firmes e perseverantes. É a hora de
ver renascer outra geração de mulheres valentes.
Nenhuma mulher pode recusar este combate porque está incluída sua própria
salvação, a da família, da Igreja, da Pátria...
Só dois grupos: ou com Cristo ou contra Ele. Não podemos cair no ridículo ou
escorregarmos nestas horas decisivas. Não fiquem em cima do muro como na
história da Primeira Guerra Mundial, em um certo lugar do front italiano... Um
tenente havia dado a ordem a seu batalhão para que saíssem das trincheiras e
avançassem contra o inimigo: Ao ataque!!!!, e os soldados, impassíveis,
olhando uns para os outros e sem mover-se de seu lugar, comentaram: “Bella
voce” (bonita voz)...
23
Não é hora de covardia nem de tristezas, nem de medos paralisantes...
Nas almas verdadeiramente católicas, tudo deve ser alegria, otimismo,
entusiasmo e certeza...
Estamos do lado certamente ganhador. Temos as verdadeiras e únicas armas
que dão a vitória e não estamos sozinhos neste formidável combate...
“Eu estarei convosco até a consumação dos séculos” prometeu Cristo... “Não
temais, Eu venci o mundo”, são suas palavras consoladoras...
Ele nos deu a Fé e a conservamos íntegra nesta Apostasia universal de hoje.
Pertencemos, somos membros do Corpo Místico de Cristo e Ele nos alimenta
como a videira aos sarmentos, pelos Sacramentos, pela doutrina, pela Missa de
sempre, a única Missa que pode dar e deu milhares e milhões de Santos à
Igreja...
A virgem Maria, Mãe de Deus e Nossa Mãe , nos ajuda com sua interseção
poderosíssima, junto com as cortes dos anjos do céu, nosso anjos da guarda, os
bem-aventurados, nossos entes queridos que gozam da visão beatífica, os
homens justos, santos desconhecidos que ainda vivem nesse mundo e obtêm
graças do céu, que nos são comunicadas pelo mistério do dogma da
“comunhão dos santos”...
E apesar dos poucos, pouquíssimos que somos, a Divina Providência nos
protege e não deixa de ajudar-nos, de nos assistir, e tem empenhado todas suas
forças...
Sobrevivemos, entretanto, e isso é um claro sinal que vem de Deus, como um
eco das palavras de Gamaliel, diante do desejo do concílio dos fariseus de
aniquilar os Apóstolos: “aconselho-vos a que não vos metais com estes
homens e que os deixeis; porque se este desígnio ou empresa é obra dos
homens, ela mesma se desvanecerá. Mas se é coisa de Deus, não podeis
destruí-la, e estaríeis vos expondo a ir contra Deus...”2323.
E os Apóstolos, libertados da prisão, diz o texto sagrado, “não cessavam de
anunciar e pregar Nosso Senhor Jesus Cristo todos os dias no templo e nas
ruas”...
Que seja essa a decisão da mulher que quer ser verdadeiramente mulher, por
seu testemunho de vida católica em qualquer lugar, em qualquer tempo,
qualquer ocasião, sem respeito humano, à imitação dos Apóstolos, de Nossa
Senhora, a Virgem Maria...

Pe. Ricardo Félix Olmedo

24

2323
Atos V, 37 e ss

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