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FILOSOFIA MEDIEVAL

SUMÁRIO

NOSSA HISTÓRIA ......................................................................................................... 2

Disciplina: Filosofia Medieval ......................................................................................... 3

Filosofia Cristã – Patricismo e Escolástica....................................................................... 3

Santo Agostinho x São Tomás de Aquino. ....................................................................... 3

Santo Agostinho (354-430). ............................................................................................. 3

Frases e Pensamentos de Santo Agostinho: ...................................................................... 5

São Tomás de Aquino ...................................................................................................... 5

Primeiros anos .................................................................................................................. 5

A tentação e a vitória ........................................................................................................ 6

O boi mudo ....................................................................................................................... 7

Seus famosos escritos ....................................................................................................... 7

Morte Imprevista .............................................................................................................. 8

Ensinamentos de Tomás de Aquino ................................................................................. 9

Os cinco caminhos ............................................................................................................ 9

As leis segundo Tomás ................................................................................................... 11

Tomás de Aquino e a Filosofia Grega ............................................................................ 12

Leão XIII e Tomás de Aquino ........................................................................................ 13

Tomás de Aquino hoje .................................................................................................... 14

João Paulo II e Tomás de Aquino................................................................................... 15

Tomás de Aquino e Francisco de Assis .......................................................................... 16

Uma aventura divina....................................................................................................... 18

Santo Agostinho e São Tomás de Aquino ...................................................................... 20

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS ........................................................................... 23

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NOSSA HISTÓRIA

A nossa história inicia com a realização do sonho de um grupo de


empresários, em atender à crescente demanda de alunos para cursos de
Graduação e Pós-Graduação. Com isso foi criado a nossa instituição, como
entidade oferecendo serviços educacionais em nível superior.

A instituição tem por objetivo formar diplomados nas diferentes áreas de


conhecimento, aptos para a inserção em setores profissionais e para a
participação no desenvolvimento da sociedade brasileira, e colaborar na sua
formação contínua. Além de promover a divulgação de conhecimentos culturais,
científicos e técnicos que constituem patrimônio da humanidade e comunicar o
saber através do ensino, de publicação ou outras normas de comunicação.

A nossa missão é oferecer qualidade em conhecimento e cultura de forma


confiável e eficiente para que o aluno tenha oportunidade de construir uma base
profissional e ética. Dessa forma, conquistando o espaço de uma das instituições
modelo no país na oferta de cursos, primando sempre pela inovação tecnológica,
excelência no atendimento e valor do serviço oferecido.

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Disciplina: Filosofia Medieval

Filosofia Cristã – Patricismo e Escolástica

Santo Agostinho x São Tomás de Aquino.

Santo Agostinho (354-430).

O cristianismo estava consolidado nessa época: embora tivesse apenas


quatrocentos anos, era considerado a verdade irrefutável. Apesar disso, Santo Agostinho,
que nasceu no norte da África, numa cidade chamada Tagaste, nem sempre foi cristão.
Fez os primeiros estudos na cidade natal e, com a ajuda de um amigo, foi para Cartago,
aos dezesseis anos, completar os estudos superiores. Não foi um bom aluno. Na
juventude, detestava estudar grego. Interessou-se por filosofia ao ler uma obra de Cícero.
Quando criança era cristão, mas depois passou por outras religiões, como a dos
maniqueus, que formavam uma seita e dividiam o mundo entre o bem e o mal, trevas e
luz, espírito e matéria. Acreditavam que com o seu espírito, o homem pode transcender a
matéria. O maniqueísmo contém uma visão dualista radical, bem e mal são tomados como
princípios absolutos. Posteriormente, Agostinho combateu essa doutrina, que foi criada
por Manes. De início ele recusava a ler a Bíblia, por considerá-la vulgar. Teve um caso
de amor, envolto em paixões mundanas, e nasceu um filho, que falecido ainda
adolescente. Com vinte anos, perdeu o pai e ficou sendo o responsável pelo sustento de
duas famílias. Foi professor de retórica em Cartago, mas depois mudou-se para Roma.
Sua mãe foi contra a mudança e Agostinho teve de enganá-la na hora da viagem. De Roma
foi para Milão, lecionar retórica. Muito influenciado pelos estóicos, por Platão e o
neoplatonismo, também estava entre os adeptos do ceticismo. Abandonou o
maniqueísmo, que critica.
Converteu-se então à fé cristã, depois de conhecer a palavra do apóstolo Paulo, e
batizou-se aos trinta e dois anos de idade. Desistiu do cargo de professor e voltou a
Tagaste, onde fundou uma comunidade monástica, disposto a fundamentar racionalmente
a fé, como foi comum na Idade Média. Mostrou que, sem a fé, a razão não é capaz de
levar à felicidade. A razão, para Agostinho serve de auxiliar a fé, esclarecendo e tornando
inteligível aquilo que intuímos. Ele tinha tomado contato com o pensamento neoplatônico

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onde a natureza humana contém parte da essência divina. Demonstrou que há limites para
a racionalidade. Receberemos um saber que está além do natural. Com o cristianismo,
uma luz inundou seu coração, sua alma encontrou a paz. Virou vigário aos trinta e seis
anos, praticando a vida ascética.
Santo Agostinho escreveu Contra os Acadêmicos, direcionado à filosofia cética e
expôs a teoria de que os sentidos dizem algo verdadeiro. O erro provém do juízo que
fazemos das sensações, e não delas próprias. A sensação não é falsa, o que é falso é querer
ver nelas uma verdade externa ao próprio sujeito. Virou Bispo de Hipona. Agostinho
ficou conhecido por “cristianizar” Platão, fazendo vários paralelos entre a parte
espiritualista dele (que diz existir um mundo transcendente) e as Sagradas Escrituras. Faz
a distinção entre o corpo, sujeito à sorte do mundo, e a alma, que é atemporal, e com a
qual se pode conhecer Deus. Antes de Deus ter criado o mundo a partir do nada as Ideias
eternas já existiam na sua mente. Deus é a bondade pura.
Ele já conhece o que uma pessoa vai viver antes dela viver. Assim, apesar da
humanidade ter sido amaldiçoada depois do pecado original, alguns alcançarão a verdade
divina, a salvação. Isso depende do uso que fazemos do livre arbítrio, a faculdade que o
indivíduo tem de determinar de acordo com a sua própria consciência a sua conduta, livre
da Divina Providência, enquanto está vivo. Seria o ato livre de decisão, de opção. Durante
um diálogo, Agostinho chega a conclusão que o mal não provém de Deus, mas sim do
mau uso do livre arbítrio. De fato, para ele não existe mal, apenas a ausência de Deus.
(com isso ele refuta de vez a doutrina dos maniqueus). Essa teoria encontra-se no livro O
livre arbítrio.
Com uma vida errada, a alma fica presa ao corpo, porém a relação correta é a
inversa. Os órgãos sensoriais sentem a ação dos elementos exteriores, a alma não. Deus
é a fonte dos conhecimentos perfeitos e não o homem. A experiência mística leva à
iluminação divina. Assim se chega às verdades eternas, e o intelecto então é capaz de
pensar corretamente a ordem natural divina. A unidade divina é plena e viva, e guarda a
multiplicidade. O amor de Deus é infinito. A graça e a liberdade complementam-se.
Na obra a Cidade de Deus, Agostinho faz oposição entre sensível e inteligível,
alma e corpo, espírito e matéria, bem e mal e ser e não ser. Acrescenta a história à
filosofia, interpretando a história da humanidade como o conflito entre a Cidade de Deus,
inspirada no amor à Deus e nos valores que Cristo pregou, presentes na Igreja, e a Cidade
humana, baseada nos valores imediatos e mundanos. Essas cidades estariam presentes na
alma humana, e no final a Cidade de Deus triunfaria.

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Outra obra importante são as Confissões, que é autobiográfica. Essa obra faz dele
um precursor de Descartes, Rousseau e o existencialismo. Acredita na verdade contida
nos números, que fazem parte da natureza.

Algumas obras de Santo Agostinho:


Da Doutrina Cristã (397-426)
Confissões (397-398)
A Cidade de Deus (413-426)
Da Trindade (400-416)
Retratações
De Magistro Conhecendo a si mesmo

Frases e Pensamentos de Santo Agostinho:

"Se dois amigos pedirem para você julgar uma disputa, não aceite, pois você irá
perder um amigo. Porém, se dois estranhos pedirem a mesma coisa, aceite, pois você irá
ganhar um amigo."
"Milagres não são contrários à natureza, mas apenas contrários ao que entendemos
sobre a natureza."
"Certamente estamos na mesma categoria das bestas; toda ação da vida animal diz
respeito a buscar o prazer e evitar a dor."
"Se você acredita no que lhe agrada nos evangelhos e rejeita o que não gosta, não
é nos evangelhos que você crê, mas em você."
"Ter fé é acreditar nas coisas que você não vê; a recompensa por essa fé é ver
aquilo em que você acredita."
"A pessoa que tem caridade no coração tem sempre qualquer coisa para dar."
"A confissão das más ações é o passo inicial para a prática de boas ações."
"A verdadeira medida do amor é não ter medida."
"Orgulho não é grandeza, mas inchaço. E o que está inchado parece grande, mas
não é sadio."

São Tomás de Aquino

Primeiros anos

Tomás de Aquino que foi chamado o mais sábio dos santos e o mais santo dos
sábios. Nasceu em março de 1225 no castelo de Roca-Sica, perto da cidade de Aquino,

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no reino de Nápoles, na Itália. Com apenas cinco anos seu pai, conde de Landulfo
d’Aquino, o internou no mosteiro de Monte Cassino. Aí iria ser educado pelos sábios
monges beneditinos, ordem religiosa fundada por Bento de Núrsia exatamente naquele
local.
Tomás fez com raro brilhantismo os primeiros estudos. Mais tarde frequentou a
Universidade de Nápoles. Conheceu então os frades dominicanos, seguidores de
Domingos de Gusmão, fundador da ordem dita dos pregadores. Tinha dezoito anos e
resolveu fazer-se dominicano. Seus pais e irmãos ficaram decepcionados, pois Tomás era
genial e tinha uma carreira fulgurante pela frente. Não queriam que ele fosse um frade de
uma ordem mendicante.
Como a família o importunasse no Convento de Nápoles, Tomás foi transferido
para Paris.
À força foi de lá retirado e trazido de volta ao castelo paterno. Tudo fizeram para
lhe tirar da cabeça a ideia de ser padre. Nada o convencia: nem rogos, nem promessas de
uma existência com tudo que uma família rica pode oferecer.

A tentação e a vitória

Seus irmãos imaginaram armar-lhe uma cilada. Foi um plano realmente diabólico.
Introduziram no seu quarto uma mulher bonita, charmosa, jovem, mas sem moral.
Pensaram eles que Tomás não resistiria. Entregar-se-ia a ela. Desistiria de sua
vocação eclesiástica. A provocação era de baixo nível. Grande a tentação. Ao entrar a
moça no quarto, Tomás compreendeu que deveria agir sem demora. O perigo era
iminente. Então ele que estava entregue a uma piedosa leitura, imediatamente se levantou.
Arrancou um tição da lareira. Com ele na mão, como uma espada de fogo, pôs a mulher
em fuga.
A moça gritou e sumiu. Deve ter pensado que estava a lidar com um louco furioso
agitando chamas, ameaçando, na aparência, deitar fogo à casa. Tomás, logo que ela saiu
foi correndo até à porta, a fechou e a trancou. Num impulso natural esmurrou o tição
incandescente na porta e traçou nela com o carvão um grande sinal da cruz. Jogou o que
sobrou do carvão no fogo. Sentou-se de novo na sua cadeira e voltou a estudar.
Após dois anos, sua mãe Teodora concordou em libertá-lo. Deixou-se seguir para
o convento de Nápoles em 1245. Acompanhado pelo Superior Geral, João o Teotônico,
Tomás partiu para Paris. Dali foi para Colônia na Alemanha. Foi discípulo de Santo

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Alberto Magno com o qual logo se afinou culturalmente. Os estudantes de Colônia eram
ávidos de discussões filosóficas. Nelas Tomás tomava parte ativamente.
Grande o proveito que tirou das sábias preleções de filosofia e teologia de Alberto
Magno, cujos conhecimentos eram enciclopédicos. Com ele Tomás aprendeu que a
verdadeira vida de um ser racional é fazer de sua inteligência uma ascensão contínua até
chegar aos mais altos conhecimentos inteligíveis, atingindo a ciência da alma e a ciência
de Deus. Ótimo discípulo, Tomás se distinguiu entre os colegas, obtendo fama pelo seu
talento indiscutível.

O boi mudo

Tomás fora dos momentos de debates acadêmicos e das conversações atinentes a


assuntos sérios, era calado, reservado. Além disto não apreciava perder tempo com
conversas inúteis. Por isto um de seus colegas o chamou de “o boi mudo”.
Este companheiro, certo dia, levou a Alberto Magno uns apontamentos de Tomás.
Foi nesta ocasião que Alberto proferiu a frase que se tornou célebre, pois era uma profecia
que se realizou: “Chamais Tomás de “o boi mudo”, mas vos asseguro que seus mugidos
ouvir-se-ão por toda a terra”. De fato, até hoje são inúmeros os seguidores de Tomás de
Aquino, chamados tomistas.
Muito provavelmente foi porque deram a ele o apelido de “o boi mudo” que um
dia os frades resolveram brincar com Tomás. Este estava, como sempre, andando no
claustro, ou seja, no pátio interior do convento, meditando sobre profundos assuntos
referentes a Deus.
Alguém o chamou, dizendo: “Vem ver um boi voando”! Tomás, imediatamente,
o acompanhou e se pôs a olhar para o alto ao som das gostosas gargalhadas de seus
confrades. Estes então lhe perguntaram como, sendo tão inteligente, ele podia pensar
que um boi estivesse voando. A resposta de Tomás foi uma lição maravilhosa: “Olhei
porque deve ser mais fácil um boi voar do que um frade mentir”. Nunca mais brincaram
com ele, respeitando seus instantes de funda reflexão.

Seus famosos escritos

Em 1252 Tomás em Paris ensinava como bacharel. Segundo o método da época,


deste modo poderia alcançar o título de mestre e doutor. Escreveu neste período
comentários ao livro de Sentenças de Pedro Lombardo, obra composta entre 1150 e 1152.
Comentou também o Profeta Isaías e o Evangelho de São Mateus.

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Passados quatro anos era doutor e escrevia a Suma contra os Gentios, na qual faz
uma exposição da crença cristã para uso dos missionários. São quatro livros dos quais os
três primeiros tratam de verdades acessíveis à razão e o quarto livro das verdades de fé
propriamente ditas.
Em 1268 iniciou a Suma Teológica, sua principal produção. Consta ela de três
partes, subdivididas em questões e artigos. As duas primeiras partes datam dos anos de
1266 a 1272. A terceira, iniciada em 1272, ficou incompleta. Foi complementada pelo
companheiro e amigo fiel de Tomás, Reginaldo de Piperno. Esta parte se chama
Suplemento.
Além destes trabalhos citados, Tomás escreveu inúmeras Questões como sobre a
Verdade, a Alma, o Mal, a Beatitude e vários Opúsculos Filosóficos sobre assuntos
diversos como O Ente a Essência, Sobre as Falácias. Deixou ainda comentários a respeito
das obras de Aristóteles e outros escritos filosófico-sociais.

Morte Imprevista

Quando Tomás de Aquino tinha cinquenta e três anos, a 7 de março de 1274, foi
surpreendido pela morte no mosteiro cisterciense de Fossanova. Estava a caminho de Lião
onde, por ordem do Papa Gregório X, iria participar do Concílio de Lião. Ainda no leito
de morte encontrou forças para falar aos monges sobre o livro da Bíblia
denominado Cântico dos Cânticos.
Após seu falecimento ele entrou para a História com o título de Doutor Angélico,
dada a culminância espiritual que atingiu e a perfeição de sua existência.
Conta-se que certa ocasião, diante de um Crucifixo, Tomás ouviu de Jesus estas
palavras: “Bem escrevestes sobre mim, Tomás, que prêmio quereis”? Respondeu ele:
“Nada senão a Ti mesmo, Senhor”. Prestes a morrer pronunciou estas palavras, após
receber a Eucaristia: “De ti, Senhor, me veio o preço da redenção da minha alma! Todos
os meus estudos, vigílias e trabalhos foram por teu amor”.
Conta-se que naquele dia 7 de março de 1274 Alberto Magno que se achava em
Colônia, na Alemanha, com lágrimas nos olhos comunicou aos frades: “O irmão Tomás
de Aquino, meu filho em Cristo, luz da Igreja, morreu. Deus acaba de me revelar isto”.
Teve, portanto, a longa distância a percepção do falecimento de seu discípulo exemplar.
O corpo de Tomás de Aquino repousa na Catedral de Tolosa, na França. Foi
declarado Santo pelo Papa João XXII que o canonizou em 1323. Paulo V em 1567 o
declarou Doutor da Igreja e Leão XIII o proclamou em 1879 padroeiro de todas as escolas

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católicas. Venera-se sua memória a 28 de janeiro, dia em que seu corpo foi transladado
para Tolosa, em 1369.

Ensinamentos de Tomás de Aquino

Tomás de Aquino acentuou a diferença entre a Filosofia, que estuda todas as


coisas pelas últimas causas através da luz da razão, e a Teologia, ciência de Deus à luz da
revelação.
Mostrou que o homem é o ponto de convergência de toda a criação e que nele se
encerram, de certo modo, todas as coisas. Ensinou que há uma união substancial entre a
alma e o corpo. Isto é o fundamento maior da dignidade da pessoa humana. Esta é um
corpo que está enformado por uma alma ou uma alma a enformar um corpo. Defendeu o
livre arbítrio, ou seja, a liberdade da vontade humana para aderir ao bem ou ao mal, donde
a responsabilidade moral do homem. Daí a sanção da lei: prêmio para as boas ações e
punição para os atos maus.
Para ele a morte determina para sempre a alma humana quer na desordem e na
infelicidade, quer na ordem e na felicidade, como está na Bíblia.O conhecimento,
ensinava Tomás, tem a primazia sobre a ação, pois nada pode ser amado se não for
conhecido primeiro.

Os cinco caminhos

Por cinco vias Tomás prova magistralmente a existência de Deus. Com notável
clareza expôs ele a prova tirada do movimento, partindo do pressuposto de que “tudo o
que se move é movido por outro”. Raciocina então: “se aquilo pelo qual é movido por sua
vez se move, é preciso que também ele seja movido por outra coisa e esta por outra. Mas
não é possível continuar ao infinito; do contrário, não haveria primeiro motor e nem
mesmo os outros motores moveriam como, por exemplo, o bastão não move se não é
movido pela mão.
Portanto, é preciso chegar a um primeiro motor que não seja movido por nenhum
outro, e por este todos entendem Deus”1.
A segunda via é a da causa primeira universal. Eis o texto de Tomás de Aquino
na Suma Teológica: “Constatamos no mundo sensível a existência de causas eficientes.
É, entretanto, impossível que uma coisa seja sua própria causa eficiente, porque, se assim
fosse, esta coisa existiria antes de existir, o que não tem nenhum sentido.

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Ora, não é possível proceder até o infinito na série de causas eficientes, porque,
em qualquer série de causas ordenadas, a primeira é causa intermediária e esta é causa da
última, quer haja uma ou várias causas intermediárias.
Com efeito, se suprimirdes a causa, fareis desaparecer o efeito: portanto, se não
há causa primeira, não haverá nem última, nem intermediária. Ora, se fosse regredir até
o infinito dentro da série de causas eficientes, não haveria causa primeira, e, assim, não
haveria também nem efeito, nem causas intermediárias, o que é evidentemente falso.
Portanto, é preciso, por necessidade, colocar uma causa primeira que todo o mundo chama
Deus”2.
Por este texto se percebe a clareza com que Tomás de Aquino expõe o seu
raciocínio. Com rara habilidade intelectual ele procura o motivo da existência da
causalidade no mundo. Assim se chega infalivelmente a uma causa que produz e não é
produzida, ou seja, a causa eficiente primeira que é Deus.
Em terceiro lugar vem a prova da contingência. Em sentido amplo, contingência
significa a possibilidade de um objeto qualquer de não ser, de não existir.
É tudo aquilo que pode ser como não ser. É contingente o fato de cada um de nós
existirmos. Poderíamos não ter existido. A contingência metafísica significa que
contingente é todo ente ao qual a existência não é essencialmente necessária.
Eis como Josef de Vries resume esta prova da existência de Deus proposta por
Tomás de Aquino: “a prova cosmológica, baseando-se no nascimento e desaparecimento
das coisas, conclui a contingência das mesmas, e partindo da mutabilidade própria
também dos elementos constitutivos fundamentais cuja origem não pode ser mostrada
experimentalmente, infere sua natureza também contingente, provando dessa maneira que
o mundo todo é causado por um Ser Supramundano”3.
Este é o Ser Necessário que existe por sua própria natureza e não pode nunca
deixar de existir. As criaturas nascem, crescem e morrem, são possíveis, não necessárias,
ou seja, existem, mas não necessariamente. Se em algum tempo não tivesse havido nada
de existente, teria sido impossível para qualquer coisa começar a existir, e, deste modo,
também neste caso nada existiria o que seria um absurdo. Existe, portanto, um Ser
Necessário que é Deus.
A quarta via para provar a existência do Ser Supremo é tirada dos graus dos seres.
Na Suma Teológica assim se expressa Tomás de Aquino:
“Verificamos que alguns seres são mais ou menos verdadeiros, mais ou menos
bons, etc. ora, diz-se o mais e o menos de coisas diversas segundo a sua aproximação

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diferente de um máximo. Existe, pois, alguma coisa que é o mais verdadeiro, o melhor,
por conseguinte, o mais ser. Ora, o que é o máximo num gênero é a causa de tudo que
pertence a este gênero. Existe, portanto, um ser que é para todos os outros causa de ser,
de bondade, de perfeição total, e este ser é Deus:”4.
Deus possui o ser de modo absoluto, ao passo que as criaturas têm um grau diverso
de ser. Isso significa que tal fato não lhes deriva em virtude de suas respectivas essências,
caso em que seriam sumamente perfeitos e não em determinados graus. Ora, se não deriva
de suas respectivas essências, isso, é lógico, significa que o receberam de um ser que
concede tudo sem receber, que permite a participação sem ser ao mesmo tempo partícipe.
Este ser é a fonte de tudo aquilo que existe de algum modo. Ele é a perfeição
infinita, absoluta. É um ser perfeito sob todos os aspectos que se possam imaginar. Nele
se realizam com perfeição suprema todas as possibilidades do ser.
O quinto caminho apontado por Tomás de Aquino como prova da existência de
Deus é o do finalismo, ou seja, do governo do mundo.
Jolivet resume esta quinta via deste modo: “No conjunto das coisas naturais
verificamos uma ordem regular e estável. Ora, toda ordem exige uma causa inteligente,
que adapta os meios aos fins e os elementos ao bem do todo. Portanto, a ordem do mundo
é obra de uma Inteligência ordenadora, transcendente a todo o universo”5. Esse Ordenador
é Deus.
De fato, quando se analisa o que ocorre no mundo se verifica que tudo age e opera
como se tendesse a um fim. Não se trata de uma ideia mecanicista do universo, como se
Deus interviesse juntando partes como acontece com o relojoeiro para constituir um
relógio. Trata-se de se perceber a finalidade inata em algumas coisas, coisas que mostram
em si mesmas um princípio de finalidade e total unidade. As exceções que se podem
atribuir ao acaso não invalidam este raciocínio. O que se busca é a causa da regularidade,
da ordem e da finalidade visíveis em alguns seres. Esta causa não pode ser identificada
com os próprios seres em si. É preciso, pois, remontar a um Ordenador que esteja em
condições de dar ser aos seres e, na verdade, daquele modo específico no qual de fato eles
operam.

As leis segundo Tomás

Segundo Tomás de Aquino, por ser racional, o homem conhece a lei natural, ou
seja, está plenamente capacitado para saber que “se deve fazer o bem e evitar o mal”.
Trata-se da participação da lei eterna pelo homem dotado de inteligência. A lei eterna

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outra coisa não é senão o plano racional de Deus, isto é, a ordem existente no universo
todo. Por esta lei dirige tudo para o seu fim específico.
Além desta lei eterna e da lei natural, Tomás fala da lei humana, ou seja, jurídica.
São normas feitas pelos homens para impedir que se pratique o mal. É a ordem
promulgada por quem tem a responsabilidade pela comunidade.
Seguindo Aristóteles, Tomás de Aquino considera o Estado como uma
necessidade natural. É que o homem é um ser social e precisa de orientações para viver
em sociedade. Entretanto, Tomás de Aquino deixa claro que as leis humanas não podem
contradizer a lei natural.
Aliás, no pensamento dele as normas do direito positivo existem para que os que
são propensos aos vícios e neles se obstinam sejam persuadidos, a bem da ordem pública,
a evitar tais desvios. Insiste Tomás na função pedagógica das leis humanas e nas sanções
que podem e devem incluir. O objetivo é a convivência pacífica entre os homens.

Tomás de Aquino e a Filosofia Grega

Tomás de Aquino repensou Aristóteles, o grande filósofo grego do século V antes


de Cristo. Deu diretrizes novas ao pensamento de Platão, outro grande filósofo daquele
século. Deus é para Tomás o Criador de tudo, noção não atingida pela filosofia grega. O
dualismo inexplicável entre o mundo ideal e o mundo fenomenal, entre Deus e a matéria
foi inteiramente superado por Tomás de Aquino. A ética de Aristóteles é sem obrigação
e sem sanção, mas não assim a moral exposta pelo Aquinate. Na lógica, parte da filosofia
que trata da lei do raciocínio correto, Tomás de Aquino expôs e comentou os
ensinamentos de Aristóteles, dado que a lógica aristotélica é perfeita. O filósofo grego foi
o pioneiro que investigou cientificamente as leis do pensamento e as formulou com
exatidão. Kant, filósofo alemão, afirmou que os filósofos posteriores nada acrescentaram
ao que Aristóteles ensinou neste aspecto da filosofia6.
Entretanto, a teodiceia de Aristóteles, ou seja, a parte que trata de Deus, é
incomparavelmente inferior à de Tomás de Aquino. Como Aristóteles, porém, Tomás de
Aquino na política, acertadamente, ensina que a bondade de um governo, sua eficiência,
não dependem de sua forma, mas da honestidade,
da competência com que se dedica ao bem comum, ao bem estar dos cidadãos. Seja
monarquia, república ou outra forma qualquer, melhor será, concretamente, a que mais
se ajustar às necessidades do povo.

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Leão XIII e Tomás de Aquino

Leão XIII que foi considerado o papa dos operários escreveu uma encíclica7, isto
é, uma carta circular, solene, sobre a filosofia, em 1879. Neste documento a figura de
Tomás de Aquino é objeto de especiais considerações.
Diz o texto que Tomás de Aquino foi quem com maior perfeição uniu a
inteligência, a razão, à fé. Fala na excelência e perfeição da doutrina tomista. A
confirmação desta importância é atestada pelo valor em si do que ele ensinou, pelos
aplausos das Academias e Escolas e até pelos que não são católicos.
Odilon Moura deste modo resumiu o plano da referida encíclica: “Há necessidade
de se instaurar uma Filosofia que harmonize a razão com a fé, para implantação da ordem
na sociedade (números 1-20); ora, a Filosofia de Tomás é a que melhor atende aos
requisitos para a harmonia entre a razão e a fé (números 21-27); logo, deve ser instaurada
a Filosofia de Santo Tomás (números 28-37)”8.
Um dos trechos mais expressivos da referida encíclica é este: “Entre todos os
doutores escolásticos, brilha como astro fulgurante, e como príncipe e mestre de todos
Tomás de Aquino, o qual, como observa o Cardeal Caetano, “por ter venerado
profundamente os santos doutores que o precederam, herdou, de certo modo, a
inteligência de todos”. O termo escolástica empregado acima significa filosofia ensinada
nas escolas medievais do Ocidente Europeu.
Diz ainda Leão XIII: “Tomás reuniu suas doutrinas, como membros dispersos de
um mesmo corpo; reuniu-as, classificou-as com admirável ordem, e de tal modo as
enriqueceu, que tem sido considerado, com razão, como o próprio defensor e a honra da
Igreja”.
Este trecho a seguir retrata admiravelmente quem foi Tomás de Aquino: “De
espírito dócil e penetrante, de fácil e segura memória, de perfeita pureza de costumes,
levado unicamente pelo amor da verdade, cheio de ciência divina e humana, justamente
comparado com o sol, aqueceu a terra com a irradiação de suas virtudes e encheu-a com
o resplendor de sua doutrina”.
Sobre seu espírito filosófico Leão XIII atesta: “Não há ponto da filosofia que não
tratasse com tanta penetração como solidez. As leis do raciocínio, Deus e as substâncias
incorpóreas, o homem e as outras criaturas sensíveis, os atos humanos e seus princípios,
são objeto das teses que defende, nas quais nada falta, nem a abundante colheita de
investigações nem a harmoniosa coordenação das partes, nem o excelente método de

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proceder, nem a solidez dos princípios”. Quem se interessa por obter outras análises de
Leão XIII sobre Tomás de Aquino encontra nesta encíclica inúmeras outras considerações
que mostram o valor deste filósofo extraordinário.

Tomás de Aquino hoje

Os discípulos, os seguidores de Tomás de Aquino neste final do século XX são


incontáveis. Filósofos talentosos das mais diversas nações encontram em Tomás de
Aquino elementos valiosos para suas pesquisas. Sertillanges, Maritain, Gilson, Garrigou-
Lagrange, De Finance, Caturelli são alguns entre muitos que manifestam a presença
vigorosa do tomismo em nossos dias.
No Brasil Fernando Arruda Câmara, notável filósofo brasileiro, lançou o livro
“Tomismo Hoje”, no qual mostra o grande número de tomistas em nossa pátria, entre os
quais, se destaquem Maurílio Teixeira Leite Penido, Leonardo Van Acker, Henrique
Cláudio de Lima Vaz, Alexandre Correia.
A reelaboração do tomismo efetuada pelos filósofos de nossos dias tem como
característica um estudo direto dos textos de Tomás de Aquino. Além disto se nota uma
fidelidade absoluta às teses fundamentais estabelecidas por ele. Percebe-se diálogo aberto
com as outras correntes filosóficas atuais. Há ainda uma preocupação dos tomistas de
hoje de investigar em profundidade a cultura moderna, contemporânea. Tais discípulos
de Tomás de Aquino são chamados neotomistas que tentam responder às profundas
perguntas que se colocam ao homem de hoje, cristãos ou não-cristãos. Há sobretudo um
apelo à Verdade e ao Amor Criador que precisam penetrar no íntimo da realidade humana.
À cultura moderna e contemporânea influenciada pela técnica e pela ciência,
endeusadas erroneamente, o tomismo traz uma contribuição admirável. Leva o ser
racional ao encontro de Deus e dos valores perenes, sem os quais é impossível a
verdadeira felicidade. Trata-se de libertar o homem da escravidão do materialismo com
todas as suas terríveis consequências.
Chesterton, pensador inglês afirmou: “Neste momento atual, tão pouco
esperançoso, não há homens tão esperançosos como aqueles que consideram agora Santo
Tomás como guia em uma centena de perguntas angustiosas respeitante às artes, à
propriedade e à ética econômica. Há inegavelmente um tomismo esperançoso e criador
em nossa época”9.
É também deste autor esta frase luminosa: “Que o tomismo seja a filosofia do bom
senso, o mesmo bom senso o proclama”10. O erro seria considerar o tomista como quem

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entende Tomás de Aquino de modo estático, medieval. Nada disto. Através de um estudo
maduro, de uma reflexão atenta, o tomista procura pinçar o que está latente nos escritos
de Tomás de Aquino.
Como observou Dino Staffa: “Nenhuma das maravilhosas conquistas da ciência
física são inconciliáveis com a doutrina tomista, senão que a integram e iluminam”11.
Há, de fato, uma perfeita harmonia entre os ensinamentos de Tomás de Aquino e as
descobertas científicas de hoje.
Jean Ladrière recentemente declarou: “A atualidade do pensamento de Santo
Tomás de Aquino é a presença contínua de uma força inspiradora capaz de assumir, em
suas figuras cambiantes, o destino da razão, a consciência que ela tomou de suas
conquistas como de seus limites, o pressentimento que ela traz consigo daquilo que lhe
pode dar absolutamente seu sentido”12.
Wolfgang Kluxen situou, com rara felicidade, a posição do tomismo ao escrever
que este “não é a última palavra da razão e isto segundo seus próprios princípios. Basta,
porém, que seja uma palavra real, séria, verdadeira; e, como tal, ele permanecerá sempre
atual, contemporâneo a todas as épocas”13.
O reencontro da juventude de hoje com Tomás de Aquino significa libertação e
renovação cultural forte. Tomás de Aquino é um convite ao afastamento de tudo que
degrada o ser humano. Ele inspira segurança para que se ande nos caminhos do bem e
dos verdadeiros valores. Enche de esperança o coração juvenil.

João Paulo II e Tomás de Aquino

Realizou-se em Roma em 1990 o nono Congresso Tomista Internacional. João


Paulo II, o atual papa, recebeu em audiência os participantes deste Congresso promovido
pela Pontifícia Academia de Santo Tomás. Na oportunidade falando aos tomistas ali
reunidos o papa recordou que em 1880 havia chamado Tomás de Aquino de “Doutor da
Humanidade”. Tal título era baseado no muito que Tomás de Aquino escreveu
dignificando a natureza humana com suas colocações filosóficas e teológicas. Lembrou
o papa os ensinamentos do Aquinate nas obras “Sobre Homem” e “Sobre Deus Criador”
nas quais ele ensina que “enquanto o homem é obra das mãos de Deus, traz em si a
imagem de Deus e tende, por natureza, a uma semelhança com Deus cada vez mais
plena”14.
Depois de outras profundas considerações João Paulo II assim se expressou:
“Deve-se, portanto, desejar e favorecer de todos os modos o estudo constante e

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aprofundado da doutrina filosófica, ética e política que Santo Tomás deixou em herança
às escolas católicas e que a Igreja não hesitou em fazer própria, de modo especial no que
diz respeito à capacidade, à perfectibilidade, à vocação, à responsabilidade do homem
quer na esfera pessoal quer na social…”
Quanto à atualidade da doutrina tomista assim se expressou o papa: “Santo Tomás
não podia certamente prever um mundo cultural e religioso tão vasto e complexo e
articulado como nós hoje conhecemos. Nem podia, portanto, ditar soluções concretas para
a grande quantidade de problemas específicos que nós hoje devemos enfrentar”.
Prossegue, porém, o papa: “Mas dado que seu maior cuidado foi colocar-se e
manter-se da parte da verdade universal, objetiva e transcendente [...] traçou um método
de trabalho missionário que é hoje substancialmente válido também no plano das relações
ecumênicas e inter-religiosas, assim como no confronto com todas as culturas antigas e
novas”. Portanto, a doutrina de Tomás de Aquino é apta para a aproximação dos cristãos
entre si e para o entendimento das culturas passadas e recentes.
De fato, o amor à verdade que fulgiu, brilhou, em Tomás de Aquino conduz à
sociabilidade é à solidariedade, à liberdade que, segundo João Paulo II, firmado no
Aquinate, não pode ser real se não está fundamentada nesta verdade. A crise moral do
mundo de hoje lembra no seu discurso o papa “depende do enfraquecimento do sentido
da verdade nas inteligências e nas consciências, que perderam a referência à fundação
última da verdade mesma”. É aí, precisamente, que se deve ver a importância capital do
contato com a doutrina de Tomás de Aquino.

Tomás de Aquino e Francisco de Assis

Dada a popularidade de Francisco de Assis, melhor se pode ter uma ideia de


Tomás de Aquino, fazendo-se uma comparação entre ambos.
Francisco de Assis era magro, de baixa estatura, vibrante, um corisco. Vivia atrás de seus
pobres. Era um andarilho de Deus. Caminhava pelas estradas para ajudar os necessitados.
Andava modestamente pelas ruas edificando a todos. Tomás de Aquino era corpulento,
pesado como um touro. Gordo, vagaroso. Tranquilo e quieto. Nada sociável, era tímido.
Vivia meditando, refletindo.
Francisco de Assis era irrequieto e para muitos um tanto quanto maluco em suas
privações. Tomás de Aquino era o homem da pontualidade, da regra, do método.
Francisco de Assis desprezou os estudos e nem queria que seus seguidores frequentassem
as universidades. Tomás de Aquino era o intelectual debruçado sobre os livros e sempre

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a escrever. Francisco de Assis era um poeta ambulante, imerso na beleza das flores, do
murmúrio dos rios, do cântico dos pássaros. Tomás de Aquino era um poeta-teólogo,
acadêmico, compondo hinos litúrgicos profundos. Francisco de Assis queria persuadir
pela simplicidade das ações vistas pelos homens para arrastá-los a Deus. Tomás de
Aquino desejava persuadir pelas palavras para levar milhares até o Criador.
Francisco de Assis pode ser comparado com um manso cordeirinho imerso na
natureza. Tomás de Aquino, como foi relatado, foi comparado a um boi, cujos mugidos
ecoaram pelos séculos afora. Francisco de Assis era filho de um comerciante da classe
média e não estava de acordo com a vida mercantil do pai, pois não amava a agitação do
comércio. Seu desapego total às coisas do mundo não se adequava à busca de um lucro
material. Tomás de Aquino era de família nobre e poderia ter todo o conforto que o mundo
oferece, mas desprezou as glórias mundanas para se entregar inteiramente a seu mundo
interior sem o apego a tudo que o luxo pode oferecer.
Ambos por caminhos diferentes e numa ótica diversa optaram pela pobreza
evangélica. Francisco de Assis o homem menos mundano que andou pelo mundo viveu
neste mundo como um pobre caminhante. Tomás de Aquino procurava a solidão como
alguém que não fosse deste mundo para andar pelos caminhos do espírito nas regiões de
profundas questões intelectuais. Francisco de Assis pode ser chamado o trovador de Deus,
mas, por certo, não admitiria o Deus dos trovadores. Tomás de Aquino não reconciliou
Cristo com Aristóteles, mas sim reconciliou Aristóteles com Cristo.
Francisco de Assis é o santo da ecologia. Tomás de Aquino é o santo da filosofia.
Francisco de Assis mortificava tanto o seu corpo que mereceu ter em si os estigmas, ou
seja, as chagas de Cristo. Tomás de Aquino preferia filosofar sobre o corpo, ensinando
que o homem não é um homem sem o corpo, tal como o não é sem a alma. Francisco de
Assis tornou-se um santo eminentemente popular. Tomás de Aquino um santo mais
venerado pelos intelectuais.
Quer Francisco de Assis, quer Tomás de Aquino deixam ambos uma mensagem
vibrante para este final de milênio: a felicidade não se encontra fora de cada um, mas lá
no íntimo do ser racional. Ambos convidam para esta viagem que muitos não gostam de
fazer: entrar no âmago da própria consciência. Lá se descobre Deus, para, em seguida,
como fizeram os citados personagens, se abrir para o próximo, para a natureza, para as
conquistas da inteligência.
Ambos mostram que há caminhos diversos para se atingir o objetivo último do
homem nesta busca, nem sempre bem direcionada, da tranquilidade, da ordem e da paz.

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Este reencontro com tão ilustres e sábias figuras por certo move a um repensar frutuoso
no sentido daquele autocontrole tão necessário seja a quem for. Como mostra Francisco
de Assis não é preciso se apartar do mundo e das maravilhas que Deus espalhou por toda
parte. Cumpre curtir a vida.
Como ensina a vida de Tomás de Aquino não se pode afastar das conquistas do
espírito, da inteligência. Tomás, certamente, se vivesse hoje, estaria enfronhado nos
progressos humanos. Nas suas reflexões procuraria o sentido, o significado da ciência e
da técnica tão avançadas de hoje. Deixou, porém, ele princípios valiosos para que os
homens do século atual façam tal análise com pertinência e sabedoria.

Uma aventura divina

A existência de Tomás de Aquino foi, sem dúvida, uma aventura divina. Quando
olhamos para o firmamento à noite, imenso veludo cravado de estrelas, percebemos que
umas brilham mais do que outras. Tomás de Aquino no firmamento dos grandes homens
é estrela de primeira grandeza. Entre os santos que o cristianismo apresenta, nenhum foi
mais sábio.
Ao lado de uma cultura invejável e de uma inteligência admirável Tomás de
Aquino deixou o exemplo de uma grande humildade. Honras e dignidades eclesiásticas
lhe foram oferecidas, mas ele as recusou. Quis sempre viver na solidão de seu convento
onde se refugiava quando não estava a dar aulas ou a pregar.
Tomás de Aquino revela que não basta um saber enciclopédico, mas este deve ser
sólido, profundo, alimentado na reflexão contínua. Na doutrina de Tomás de Aquino
encanta não apenas a universalidade dos temas que abordou, dos quais tratou, mas a
clareza de sua explanação é também digna de nota.
A obra monumental de Tomás de Aquino foi, sem dúvida, a Suma Teológica, a
qual se pode comparar às majestosas catedrais do estilo gótico de seu tempo, elevando-se
acima de todos os escritos deste gênero.
Tomás de Aquino ensina como uma vontade determinada, férrea, pode atingir os
mais nobres objetivos. A concentração da inteligência nos estudos leva a resultados
maravilhosos. Num mundo no qual tudo arrasta o homem para fora de si mesmo,
deixando-o entre as ondas revoltas da angústia e da agitação interior, Tomás de Aquino é
um convite vivo a instantes de uma salutar entrega ao silêncio em busca daquela
serenidade que felicita e engrandece.

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Tudo que foi relatado dizendo respeito ao tomismo, mostra que se trata de um
tomismo atual, perdurável e não um tomismo medieval. Isto mostra que há, de fato, em
tudo que Tomás de Aquino escreveu uma tendência universalista.
Oferece, realmente, o conjunto de ensinamentos do grande filósofo de Aquino
elementos valiosíssimos para pensar o mundo e o momento atual à luz das verdades
perenes. Surgem, realmente, novos pensadores que sob a conduta do Doutor Angélico se
consagram a estabelecer a ordem segundo a verdade.
É a verdade que sempre salva e liberta o ser racional, hoje, sobretudo necessitando
de um senso crítico apurado. A juventude precisa deste amor à verdade para não se deixar
levar pelas armadilhas do erro e da mentira.
O tomismo não quer em absoluto retornar à Idade Média. Trata-se, contudo, de
salvar e de assimilar todas as riquezas oferecidas por Tomás de Aquino para valorizar
tudo que há de positivo nos tempos modernos. É que o tomismo pretende usar da razão
para separar o verdadeiro do falso. Pode purificar certas tendências modernas e integrar
tudo que a verdadeira conquista do espírito humano conseguiu após Tomás de Aquino.
De fato, o tomismo é uma filosofia essencialmente sintética e assimiladora.
O tomismo é uma sabedoria que nasce de um sistema magnificamente arquitetado
por Tomás de Aquino, apta, portanto, para orientar as mentes, libertando-se do erro. No
momento em que se nota no mundo de hoje um surto religioso inegável, a presença de
Tomás de Aquino é de fundamental importância. Os cristãos, sobretudo, se empenham
em viver o que Jesus ensinou e procuram, sem falso moralismo, uma vida longe de lances
desonestos que maculam e escravizam. O exemplo magnífico de Tomás de Aquino que,
em plena juventude, venceu espetacularmente a tentação sexual, realmente, arrasta e
inspira gestos semelhantes.
Com justiça ele foi denominado o Doutor Angélico. Tal elevação de uma
existência singular se deveu à sua íntima união com Deus. Hoje grupos juvenis se formam
e sem nenhum respeito humano se põem a cantar os louvores divinos e buscam uma
perfeição de vida, motivo de fagueiras esperanças. Tudo que Tomás de Aquino realizou
ele o consegui indo à fonte suprema do Bem. Neste aspecto há uma sintonia muito grande
entre a mentalidade do Aquinate e esta onda religiosa hodierna.
A piedade de Tomás de Aquino era algo viril, pois o conduzia a ações
verdadeiramente heroicas. É este o ideal que toma conta de centenas de jovens que não
desejam se deixar levar pelas vagas dos vícios, mormente das drogas que matam e

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rematam tantas vezes a crueldade de espíritos perversos que se enriquecem com as
desgraças alheias.
Tomás de Aquino constitui-se deste modo num apelo vibrante a que prossigam
todos nesta caminhada vibrante da afirmação pessoal. Pode-se, portanto, dizer que Tomás
de Aquino se torna assim um notável concidadão dos tempos modernos.
Aos males da inteligência ele propõe o remédio do exercício da razão, capaz de
desmascarar as insídias das manipulações dos donos do poder. Aos desastres éticos e
morais ele aponta a retidão da vontade firmada na proteção de Deus a levar para longe
das servidões dos falsos prazeres.
Ao desânimo que, por vezes, se instaura em tantos corações ele propõe a
experiência de Deus, fonte de toda paz e energia interior. A uma ciência e a uma
tecnologia materialistas ele contrapõe o retorno incondicional a Deus, cuja existência ele
soube tão bem provar. A este herói da ordem intelectual se deve acorrer para se buscar
nas conquistas do espírito a força capaz de erguer um mundo que se deixou levar pelo
endeusamento de falsos ídolos.
Em nossos dias quando a filosofia voltou a ser novamente prestigiada nos currículos até
do segundo grau, o reencontro com Tomás de Aquino só poderá resultar numa maior
pujança intelectual e cultural.
Por tudo que aqui foi escrito sobre Tomás de Aquino se pode concluir que ele é,
de fato, o mais sábio dos santos e o mais santo dos sábios!

Santo Agostinho e São Tomás de Aquino

Santo Agostinho e São Tomás de Aquino Santo Agostinho foram dois


reconhecidos filósofos cristãos. Agostinho, viveu entre os séculos IV e V. Estudou na
África e inicialmente foi um intelectual que tinha orientação religiosa pagã, aderiu ao
maniqueísmo e posteriormente sob grande influência de sua mãe e de diversos autores
que lera converteu-se ao catolicismo sendo considerado como pertencente à patrística.
A patrística, em síntese, é o esforço para se criar uma filosofia cristã a qual
atribui às práticas tradicionais católicas um arcabouço teórico para que se apresentem
como “um conjunto de ideias produzidas e sistematizadas pela razão em um todo lógico”
(PESSANHA, 1980 p.XII). Porém as primeiras tentativas de se consolidar tal filosofia
cristã que tentava conciliar a fé e a revelação divina com a razão e o raciocínio lógico não
obtiveram grande êxito. Somente até Santo Agostinho, que conseguiu elaborar uma
verdadeira síntese sistematicamente organizada da filosofia cristã baseada num

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conhecimento de natureza neoplatônica que adequava o pensamento de Platão as
concepções Católicas.
São Tomás de Aquino, segundo Maria da Glória de Rosa, é considerado um dos
mais famosos filósofos da escolástica, viveu no século XIII e precocemente recebeu o
título de Mestre em Teologia devido à sua genialidade.
A escolástica é marcada pelas ideias de Santo Agostinho, além de também
procurar uma conciliação entre a fé e a razão, o catolicismo e a filosofia e ser bastante
influenciada pelo pensamento neoplatônico. Entretanto, aprofunda mais no método
dialético e sob São Tomás de Aquino ela receberá fortes influências aristotélicas a fim de
buscar respostas às novas questões que eram impostas a fé e a razão em meados do século
XIII e que o pensamento agostiniano não conseguia abarcar.
Os dois filósofos convergiram e divergiram em variados aspectos de seus
pensamentos. Ambos se preocuparam em pensar sobre as essências das “coisas” (Deus,
a natureza, o ser humano, a verdade, o conhecimento, etc.) essas ideias metafísicas
procuravam justificar através da razão a conduta e a moral da tradição cristã. Porém
Agostinho acreditava existir, como Platão, um mundo das ideias que era a perfeição, a
verdade e um mundo real que era a representação imprecisa deste mundo ideal apreendida
pelos sentidos sob diferentes formas. Santo Agostinho defendeu a ideia do mestre interior
em que todo o conhecimento é alcançado dentro do próprio ser e somente através da
iluminação divina pode-se chegar à verdade:
A teoria agostiniana estabelece, assim, que todo o conhecimento verdadeiro é o
resultado de um processo de iluminação divina, que possibilita ao homem contemplar as
ideias, arquétipos externos de toda a realidade. (PESSANHA, 1980 p.XVI).
Para Agostinho a filosofia era a busca da felicidade e essa, para ele, era uma
”indagação da condição humana em busca da beatitude” (PESSANHA, 1980
p.XIII).Porém Agostinho não encontrou na filosofia helênica esta beatitude e sim nas
Sagradas Escrituras de Paulo de Tarso, é daí que surge o seu esforço de unir a razão à fé.
A primazia entre fé e razão, uma sobre a outra não fica clara em Agostinho e existem
diversos debates sobre o assunto, porém convém deixar claro que seu objetivo era o de
conciliar os dois:
A razão relaciona-se, portanto, duplamente com a fé: precede-a e é sua
consequência. É necessário compreender para crer e crer para compreender.
(PESSANHA, 1980 p.XIV).

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Já Tomás de Aquino, não acreditava em um mundo das ideias e sob influência
do naturalismo aristotélico defenderá a existência de um mundo real, material. Esse
mundo seria a criação divina – esta é uma das questões que surge ao seu tempo, a criação.
Ele aponta a apreensão do divino através da verdade da razão que não pode ser negada
pela verdade revelada da fé, ambas precisam ser idênticas, do contrário a fé ou a razão
não foram adequadamente empreendidas. A teologia e a filosofia não se opõem. Fé e
razão estão unidas em um único sentido: a perfeição, ou seja, o conhecimento de Deus.
Para Tomás de Aquino a verdade e o conhecimento também são alcançados através de
um mestre interior, porém, não há a intervenção de uma luz divina para que se dê o
conhecimento, ele já existe como potencialidade no interior do ser e cabe a este descobri-
lo através do aprendizado, do estudo, da educação religiosa, da pedagogia.
Portanto concluímos que ambos, Santo Agostinho e São Tomás de
Aquino procuraram conformar razão e fé, filosofia e religião. Também defendiam que
a busca do conhecimento dado através de ambas citadas acima tinha um sentido comum:
a verdade divina, o conhecimento da perfeição, ou seja, o entendimento de Deus. Seus
pensamentos se distanciaram quanto ao processo que se dá esse conhecimento apesar de
concordarem em sua origem no ser interior. Tomas de Aquino sob influência aristotélica
defendia ideias mais “materialistas” enquanto Santo Agostinho sob influência
neoplatônica manteve seus pensamentos mais ligados ao mundo das ideias.

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REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

[1] ELWELL, Walter A. (org). Enciclopédia Histórico-Teológica da Igreja Cristã. São


Paulo: SREVN, 1993. (I, II e III Volume)

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