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PEREGRINOS DE ESPERANÇA COM SÃO

JOÃO DA CRUZ
Seguindo suas “estrelas da perfeição” em preparação à sua festa

“Doze estrelas para chegar à suma perfeição: amor de Deus, amor do


próximo, obediência, castidade, pobreza, assistência ao coro, penitência,
humildade, mortificação, oração, silêncio, paz.”
(S. João da Cruz, Ditos de luz e de amor, 154).
Em união com o Tempo litúrgico do Advento e o Jubileu de 2025, cujo tema é
“Peregrinos na esperança”, queremos viver estes dias de preparação à festa de S.
João da Cruz (14 de dezembro) à luz de suas “doze estrelas para chegar à suma
perfeição” (D 154). Proponho viver cada dia com uma “estrela”, a partir dos textos
do Santo. Boa festa! (fr. Alzinir, org.)

2 DE DEZEMBRO: AMOR DE DEUS

“....é este amor o fim para o qual fomos criados” (Cântico 29,3).

“Com efeito, buscar-se a si mesmo em Deus é procurar as mercês e consolações divinas; mas
buscar puramente a Deus consiste não só em querer privar-se de todos os regalos por ele,
como ainda em inclinar-se a escolher, por amor de Cristo, tudo quanto há de mais áspero,
seja no serviço divino, seja nas coisas do mundo: isto, sim, é amor de Deus.” (2 Subida 7,6).

3 DE DEZEMBRO: AMOR DO PRÓXIMO

“Realmente, se a alma a ninguém se apega em particular, em vista das qualidades


naturais e aparentes que são ilusórias, conserva-se livre e pura para amar racional
e espiritualmente todos os homens, como Deus quer que sejam amados. Criatura
alguma merece amor senão pela virtude que nela há. Amar desse modo é amar
segundo a vontade de Deus e, além disso, com grande liberdade; e se este amor
nos liga à criatura, mais fortemente ainda nos prende ao Criador. Porque, então,
quanto mais cresce a caridade para com o próximo, mais também se dilata o amor
de Deus; reciprocamente, quanta maior é o amor de Deus, mais aumenta o do
próximo. Assim acontece, porque tem esta caridade a mesma origem e a mesma
razão, que é Deus.” (3 Subida 23,2)

4 DE DEZEMBRO: OBEDIÊNCIA

“Tudo quanto suceder, exceto o pecado pessoal, receba-o como vindo do Senhor e nada será
capaz de entristecê-lo. Conduza-se nisso segundo o que lhe pede o Senhor e em tudo fará
aquilo que deve. Submeta-se à vontade do Senhor nas ocorrências e assim há de alegrar-
se. Dependa do Senhor em tudo e seja a obediência sua norma de vida; com isso
prosseguirá na caminhada para o céu com muita paz”. (Avisos, 22)

5 DE DEZEMBRO: CASTIDADE

“O cabelo que se penteia amiúde estará desembaraçado, não havendo dificuldade em


penteá-lo quantas vezes se pretender. A alma que amiúde examina seus pensamentos, palavras
e ações - que são os seus cabelos - fazendo todas as coisas por amor de Deus, terá o seu
cabelo bem alisado; e o Esposo - ao contemplar-lhe o colo - prender-se-á nele ferido em um
de seus olhos, que é a pureza de intenção com que opera todas as coisas. Principiamos a
pentear o cabelo no alto da cabeça, se o queremos desembaraçar; todas as nossas obras hão
de começar no mais alto do amor de Deus, se as quisermos puras e claras.” (Dito 123).

“Agora podemos compreender mais claramente como a disposição requerida para tal
união consiste em não compreender, gostar, sentir ou imaginar a Deus, nem está em qualquer
outra coisa, senão na pureza do amor, isto é, na desnudez e resignação perfeita de todas essas
coisas unicamente por Deus. Não poderá haver completa transformação se não houver
perfeita pureza. Proporcionada à limpidez da alma, será a iluminação, transformação e união
com Deus, em grau maior ou menor, e não chegará a ser inteiramente consumada enquanto
não houver total pureza”. (2 Subida 5,8)

6 DE DEZEMBRO: POBREZA

“Muitos destes principiantes têm às vezes também grande avareza espiritual. Mal se
contentam com o espírito que Deus lhes dá; andam muito desconsolados e queixosos por
não acharem, nas coisas espirituais, o consolo desejado. Muitos nunca se fartam de ouvir
conselhos e de aprender regras de vida e querem ter sempre grande cópia de livros
sobre este assunto. Vai-se-lhes o tempo na leitura mais que em se exercitarem na
mortificação e perfeição da pobreza interior do espírito, como deveriam. Além disto,
carregam-se de imagens e rosários bem curiosos; ora deixam uns ora tomam outros; vivem
a trocá-los e destrocá-los; querem-nos, já desta maneira, já daquela outra, afeiçoando-
se mais a esta cruz do que aquela, por lhes parecer mais interessante. Também vereis a
outros bem munidos de Agnus Dei, relíquias e santinhos, como as crianças com
brinquedos. Condeno, em tudo isto, a propriedade do coração e o apego ao modo,
número e curiosidades destas coisas; pois esta maneira de agir é muito contrária à
pobreza de espírito, que só põe os olhos na substância da devoção, e se aproveita
somente do que lhe serve para tal fim, cansando-se de tudo o mais. A verdadeira piedade
há de brotar do coração, firmando-se na verdade e solidez, significadas nestas coisas
espirituais; o resto é apego e propriedade de imperfeição, que é necessário cortar a
fim de atingir algo da perfeição”. (1 Noite, 3,1)

7 DE DEZEMBRO: ASSISTÊNCIA AO CORO

“Conservava (S. João da Cruz) uma constante perseverança na oração e no exercício da


presença de Deus, assim como nos atos e movimentos anagógicos e orações jaculatórias.”
(Ditames, 3).

“O quinto dano (ao se colocar o gozo nos bens morais) é não progredirem as
almas no caminho da perfeição. Com efeito, estando apegadas em suas ações ao
gosto e consolo, quando estes lhes faltam em suas obras e exercícios, desanimam
e perdem a perseverança por não achar neles sabor. Isto acontece ordinariamente
quando Deus, querendo levar essas almas adiante, lhes dá o pão duro dos fortes
e lhes tira o leite dos meninos, provando-lhes as forças e purificando-lhes o apetite
terno para que possam alimentar-se com o manjar dos adultos. A tais pessoas se
aplica espiritualmente a sentença do Sábio: "As moscas que morrem perdem a
suavidade do unguento" (Eclo 10,l); porque, em se lhes oferecendo alguma
mortificação, desfalecem em suas obras deixando de fazê-las, isto é, perdem a
perseverança na qual se encontra a suavidade do espírito e a colaboração interior”
(3 Subida 28,7).

8 DE DEZEMBRO: PENITÊNCIA

“Irei por estes montes e ribeiras

Pelos montes, que são altos, entende aqui as virtudes. Assim diz, em primeiro lugar,
por serem elas elevadas; e, em segundo, por causa da dificuldade e trabalho que temos para
alcançá-las. Quer, pois, a alma dizer como, pelas virtudes, ir-se-á exercitando na vida
contemplativa. Pelas ribeiras, que são baixas, compreende as mortificações, penitências, e
exercícios espirituais por meio dos quais se irá aplicando na vida ativa, juntamente com a
contemplativa a que já se referiu; porque uma e outra são necessárias para buscar a Deus, com
segurança, e adquirir as virtudes. É o mesmo que dizer: buscando meu Amado, irei pondo por
obra as virtudes mais excelsas, e humilhar-me-ei nas mortificações baixas e nos exercícios
humildes. Assim se exprime a fim de mostrar como o caminho para procurar a Deus
consiste em praticar o bem para com ele, e mortificar o mal em si mesma, pela maneira que
vai expondo nos versos seguintes...” (Cântico 3,4)

“Só Deus é quem move as potências dessas almas, como já expliquei, para aquelas obras
conforme à sua santa vontade e divinos decretos, sem que possam agir de outro
modo; e assim as obras e súplicas dessas almas são sempre eficazes. Tais foram as
da gloriosíssima Virgem Nossa Senhora, elevada desde o principio a este sublime
estado; jamais teve impressa na alma forma de alguma criatura, nem se moveu por
ela; mas sempre agiu sob a moção do Espírito Santo”. (3 Subida 2,10)

9 DE DEZEMBRO: HUMILDADE

“Deus nos livre de nós mesmos. Ele nos dê o que lhe agradar e nunca no-lo mostre até que
ele queira. Porque, enfim, aquele que entesoura por amor, para outrem o faz, e é bom que
Deus o guarde e o goze, pois tudo é para ele; e nós não devemos querer vê-lo com os olhos
nem gozar dele, para não defraudar a Deus do gosto que experimenta na humildade e
desnudez do nosso coração e desprezo das coisas do século por ele”. (Carta 41, a uma dirigida
do Santo)

10 DE DEZEMBRO: MORTIFICAÇÃO

“A sabedoria entra pelo amor, silêncio e mortificação. Grande sabedoria é saber calar e
não reparar no que dizem ou fazem, nem nas vidas alheias.” (Dito 107)

“Aprendam antes a cuidar de firmar sua vontade em amor humilde e generoso, na


prática sólida das boas obras e da mortificação, imitando a vida do Filho de Deus. É
por este caminho, e não pela multiplicidade dos discursos interiores, que se chega
a todo o bem espiritual.” (2 Subida 29,9)

11 DE DEZEMBRO: ORAÇÃO

“Deste modo, pois, as almas devem dirigir para Deus as forças e o gozo da vontade
nas suas orações, não se apoiando em invenções de cerimônias que a Igreja Católica
desaprova e das quais não usa. Deixem o sacerdote celebrar a santa missa do modo
e maneira conveniente, segundo a liturgia determinada pela Igreja. Não queiram
usar de novidades, como se tivessem mais luz do que o Espírito Santo e a sua Igreja.
Se não são atendidas por Deus numa forma simples de oração, creiam que muito
menos as ouvirá o Senhor por meio de todas as suas múltiplas invenções. De tal
modo é a condição de Deus, que, se o sabem levar bem e a seu modo, alcançarão
dele quanto quiserem; mas se as almas o invocam por interesse, de nada adianta
falar-lhe.

“Quanto às outras cerimônias de várias orações e devoções ou práticas de


piedade, não se deve aplicar a vontade em modos e ritos diferentes dos ensinados
por Cristo. Quando os discípulos suplicaram ao Senhor que lhes ensinasse a rezar,
ele que tão perfeitamente conhecia a vontade do Pai eterno sem a menor dúvida,
lhes indicou todo o necessário para o mesmo Pai nos ouvir. Para isto contentou-
se em ensinar-lhes as sete petições do Pater Noster, onde estão incluídas todas as
nossas necessidades espirituais e temporais. Não acrescentou a essa instrução
outras fórmulas ou cerimônias; longe disso, em outra circunstância, ensinou-lhes o
seguinte: “Quando orassem, não fizessem questão de muitas palavras, porque o Pai
celeste bem sabia tudo quanto convinha a seus filhos” (Mt 6,7-8). Só lhes
recomendou, com insistência, que perseverassem na oração, isto é, nessa mesma
oração do Pater Noster. (3 Subida 44,3-4)

12 DE DEZEMBRO: SILÊNCIO
“Uma palavra disse o Pai, que foi seu Filho; e di-la sempre no eterno silêncio e em silêncio ela
há de ser ouvida pela alma” (Dito 98).

“ A música calada

Naquele sossego e silêncio da referida noite, bem como naquela notícia da luz divina,
claramente vê a alma uma admirável conveniência e disposição da sabedoria de Deus na
diversidade de todas as criaturas e obras. Com efeito, todas e cada uma delas têm certa
correspondência a Deus, pois cada uma, a seu modo, dá sua voz testemunhando o que nela
é Deus. De sorte que parece à alma uma harmonia de música elevadíssima, sobrepujando todos
os concertos e melodias do mundo. Chama a essa música “calada”, porque é conhecimento
sossegado e tranquilo, sem ruído de vozes; e assim goza a alma, nele, a um tempo, a suavidade
da música e a quietude do silêncio. Por esta razão, diz que seu Amado é, para ela, esta
música calada pois nele se conhece e goza essa harmonia de música espiritual. Não somente
lhe é Isto o Amado, mas também é

A solidão sonora

Significa mais ou menos a mesma coisa que a música calada; porque esta música, embora
seja silenciosa para os sentidos e potências naturais, é solidão muito sonora para as potências
espirituais. Estas, na verdade, estando já solitárias e vazias de todas as formas e apreensões
naturais, podem perceber no espírito, mui sonoramente, o som espiritual da excelência de
Deus em si e nas suas criaturas.” (Cântico, 14-15, 25-26)

13 DE DEZEMBRO: PAZ

“De paz edificado

8. Põe aqui a quarta excelência deste leito, a qual se deriva imediatamente da terceira, que foi
descrita. Vimos como consistia no perfeito amor cuja propriedade é lançar fora todo temor,
segundo a palavra de São João (1Jo 4,18); dai procede consequentemente a perfeita paz da
alma, quarta excelência deste leito conforme estamos dizendo. Para melhor compreensão, torna-
se necessário saber que cada uma das virtudes é em si mesma pacifica, mansa e forte, logo, produz
na alma que a possui estes três efeitos, de paz, mansidão e fortaleza. Como este leito florido
estai composto de todas as flores de virtudes todas elas são pacificas, mansas e fortes, daí
procede estar edificado na paz, achando-se a alma pacifica, mansa e forte. São três propriedades
que impossibilitam toda guerra e combate, tanto da parte do mundo, como do demônio ou
da carne; tornam a alma tão tranquila e segura, que lhe parece, na verdade, estar toda edificada
na paz.” (Cântico 24,8)
DIA 14 – SOLENIDADE DE S. JOÃO DA CRUZ

Mais dois conselhos de são João da Cruz para nosso peregrinar:

“É só seguir pelo chão batido da lei de Deus e da Igreja, vivendo apenas em fé obscura e
verdadeira, em esperança certa e em caridade inquebrantável, andando por aqui como
peregrinos, pobres, desterrados, órfãos, em aridez, sem caminho e sem nada, esperando tudo
do céu!” (Carta 35, a Joana de Pedraza).

Atrás de amoroso lance,


Que não de esperança falto
Voei tão alto, tão alto,
Que, à caça, lhe dei alcance.

1. Para que eu alcance desse


Aquele lance divino,
Voar tanto foi preciso
Que de vista me perdesse;
E, contudo, neste transe
A meio do voo quedei falto;
Mas o amor foi tão alto,
Que lhe dei, à caça, alcance.

2. Quando mais alto subia


Deslumbrou-se-me a visão,
E a mais forte conquista
Se fazia em escuridão;
Mas por ser de amor o lance,
Dei um cego e escuro salto,
E fui tão alto, tão alto,
Que lhe dei, à caça, alcance.

3. Quanto mais alto chegava


Deste lance tão subido,
Tanto mais baixo e rendido
E abatido me encontrava;
Disse: Não haverá quem alcance!
E abati-me tanto, tanto,
Que fui tão alto, tão alto,
Que lhe dei, à caça, alcance.

4. Por uma estranha maneira


Mil voos passei de um só voo,
Porque a esperança do céu
Tanto alcança quanto espera;
Esperei só este lance
E em esperar não fui falto,
Pois fui tão alto, tão alto,
Que, à caça, lhe dei alcance. (Poesia 6).
ORAÇÃO DO JUBILEU

Pai que estás nos céus,


a fé que nos deste no
teu filho Jesus Cristo, nosso irmão,
e a chama de caridade
derramada nos nossos corações pelo Espírito Santo
despertem em nós a bem-aventurada esperança
para a vinda do teu Reino.

A tua graça nos transforme


em cultivadores diligentes das sementes do Evangelho
que fermentem a humanidade e o cosmos,
na espera confiante
dos novos céus e da nova terra,
quando, vencidas as potências do Mal,
se manifestar para sempre a tua glória.

A graça do Jubileu
reavive em nós, Peregrinos de Esperança,
o desejo dos bens celestes
e derrame sobre o mundo inteiro
a alegria e a paz
do nosso Redentor.
A ti, Deus bendito na eternidade,
louvor e glória pelos séculos dos séculos.
Amém (Papa Francisco)

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