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30/03/2023, 09:58 Introdução à Epístola aos Efésios - David Martyn Lloyd-Jones

Introdução à Epístola aos Efésios


por

Dr. David Martyn Lloyd-Jones

“Paulo, apóstolo de Jesus Cristo, pela vontade de Deus, aos


santos que estão em Éfeso, e fiéis em Cristo Jesus” – Efésios
1:1

Ao abordarmos esta Epístola, confesso francamente que o


faço com considerável arrojo. É muito difícil falar dela de
maneira comedida por causa da sua grandeza e da sua
sublimidade. Muitos tentaram descrevê-la. Um escritor a
descreveu como “a coroa e clímax da teologia paulina”.
Outro disse que ela é “a destilada essência da religião cristã,
o mais autorizado e o mais consumado compêndio da nossa
santa fé cristã”. Que linguagem! E de maneira nenhuma é
exagerada.

Longe de mim querer competir com os que assim tem


procurado descrever esta Epístola, mas me parece que
qualquer descrição geral que dela se faça deve observar de
modo especial certas palavras que lhe são características, e
que o apóstolo usa mais vezes nela, talvez, do que em
qualquer outra Epístola. O apóstolo fica maravilhado ante o
mistério, as glórias e as riquezas do método de redenção de
Deus em Cristo. Como eu mostrarei, estas são as palavras
que ele usa com muita freqüência – a glória disso, o mistério
e as riquezas do método de redenção de Deus em Cristo!

Outra maneira pela qual se pode expor a característica


peculiar desta grande Epístola é mostrar que esta é uma
carta na qual o após-tolo olha para a salvação cristã da
vantajosa posição dos “lugares celestiais”. Em todas as suas
Epístolas ele expõe e explica o caminho da salvação; ele
trata de doutrinas específicas, e de discussões ou
controvérsias que tinham surgido nas igrejas. Mas o
peculiar traço e característica da Epístola aos Efésios é que
aqui o apóstolo parece estar como ele mesmo diz, nos
“lugares celestiais”, e dessa posição especial ele está
contemplando o grandioso panorama d salvação e da
redenção. O resultado é que nesta Epístola há muita pouca
controvérsia; e isso porque o seu grande interesse foi dar
aos Efésios, e a outros aos quais a carta é dirigida, uma

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visão panorâmica desta maravilhosa e gloriosa obra de Deus


em Jesus Cristo, nosso Senhor.

Da Epístola aos Romanos Lutero diz: “ela é o documento


mais importante do Novo Testamento, o evangelho em sua
expressão mais pura”, e em muitos aspectos eu concordo
que não existe exposição mais pura e mais clara do
evangelho do que na Epístola aos Romanos. Aceitando isso
como certo, eu me aventuro a acrescentar que, se a Epístola
aos Romanos é a expressão mais pura do evangelho, a
Epístola aos Efésios é a expressão mais sublime e mais
majestosa dele. Aqui o ponto de vista é mais amplo e maior.
Há declarações e passagens nesta Epístola que realmente
frustram qualquer tentativa de descrição. O grande apóstolo
empilha epíteto sobre epíteto, adjetivo sobre adjetivo, e
ainda assim não consegue expressar-se adequadamente. Há
passagens no capítulo primeiro, e outras no capítulo 3,
especialmente mais para o fim dele, em que o apóstolo é
transportado acima e além de si próprio, e se perde e se
abandona numa explosão de adoração, louvor e ação de
graças. Reitero, pois, que em toda a extensão das Escrituras
não há nada que seja mais sublime do que esta Epístola aos
Efésios.

Comecemos procurando ter uma visão geral dela, pois só


poderemos captar e entender verdadeiramente as
particularidades se fizermos uma firme tomada do conjunto
todo e da exposição geral. Por outro lado aqueles que
imaginam que ao fazerem uma tosca divisão da mensagem
desta Epístola de acordo com os capítulos terão tratado dela
adequadamente, exibem a sua ignorância. É quando
passamos aos detalhes que descobrimos a riqueza; um
sumário da sua mensagem é muito útil como começo, porém
é quando chegamos às declarações particulares e às
palavras individuais que encontramos a glória real exposta à
nossa maravilhosa contemplação.

O tema geral da Epístola é proposto logo no seu primeiro


versículo. Isso é característico do apóstolo; ele não pôde
refrear-se, e parte imediatamente para o seu tema. “Paulo,
apóstolo Jesus Cristo, pela vontade de Deus” – aí está! O
tema da Epístola, primeiramente e acima de tudo, é Deus –
Deus o Pai. “A vós graça, e paz da parte de Deus nosso Pai e
da do Senhor Jesus Cristo. Bendito o Deus e Pai de nosso
Senhor Jesus Cristo.” O apóstolo Paulo sempre começa
dessa maneira, e é assim que todo cristão deve começar.
Esse é o tema que domina tudo o mais. Nunca houve perigo
de que Paulo se esquecesse disso, pois mais que ninguém
ele sabia que tudo é de Deus e por Deus, e que a Ele se deve
dar glória para todo o sempre.
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A Bíblia é o livro de Deus, é uma revelação de Deus, e o


nosso pensamento sempre deve começar com Deus. Grande
parte do problema da Igreja hoje deve-se ao fato de que
somos muito subjetivos, muito interessados em nós
mesmos, muito egocêntricos. Esse é o erro peculiar ao
presente século. Tendo-nos esquecido de Deus, e havendo –
nos tornado tão interessados em nós mesmos, tornamo-nos
miseráveis e infelizes, e passamos o tempo em “frivolidades e
misérias”. Do princípio ao fim, a mensagem da Bíblia tem o
propósito de levar-nos de volta a Deus, humilhar-nos diante
de Deus e habilitar-nos a ver a nossa verdadeira relação
com Ele. E esse é o grande tema desta Epístola; ela nos põe
face a face com Deus, com o que Deus é e com o que Deus
fez e faz; toda ela salienta a glória e a grandeza de Deus –
Deus, o Eterno, Deus sempiterno, Deus sobre todos – e a
indescritível glória de Deus. Este tema grandioso aparece
constantemente nas diversas frases que o apóstolo emprega.
Aqui vão exemplos – “E nos predestinou para filhos de
adoção por Jesus Cristo, para si mesmo, segundo o
beneplácito da sua vontade”; “descobrindo-nos o mistério da
sua vontade, segundo o seu beneplácito, que propusera em
si mesmo”; “em quem também fomos feitos herança (ou
“obtivemos uma herança” – VA inglesa), havendo sido
predestinados, conforme o propósito daquele que faz todas
as coisas, segundo o conselho da sua vontade”. Deus, o
eterno e sempiterno Deus, auto-suficiente em Si mesmo, de
eternidade a eternidade, que não necessita da ajuda de
ninguém, vivo, que habita em Sua glória duradoura,
absoluta e eterna, é o grande tema desta Epístola. Não
devemos começar examinando a nós mesmos e as nossas
necessidades microscopicamente; devemos começar com
Deus, e esquecer-nos de nós. Nesta Epístola somos como
que levados pela mão do apóstolo, e nos é dito que nos vai
ser dada a oportunidade de ver a glória e a majestade de
Deus. Ao aproximar-nos deste estudo, parece-me ouvir a voz
que na antiguidade veio a Moisés, provinda da sarça
ardente, dizendo: “Tira os teus sapatos de teus pés; porque
o lugar em que estás é terra santa”. Estamos na presença de
Deus e Sua glória; portanto, devemos caminhar com cautela
e com humildade.

Não somente isso, porém; estamos de imediato diante da


soberania de Deus. Pensem nos termos que constantemente
vemos perpassar pelas páginas das Escrituras, as grandes
palavras e expressões da verdadeira doutrina e teologia
cristã. Quão pouco nos falam acerca da glória, da grandeza,
da majestade e da soberania de Deus! Os nossos
antepassados deleitavam-se com essas expressões; estas
eram as expressões dos reformadores protestantes, dos

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puritanos e dos pactuários. Eles tinham prazer em passar o


tempo contemplando os atributos de Deus.

Notem como o apóstolo chega de imediato a este ponto.


“Paulo, apóstolo de Jesus Cristo, pela vontade de Deus” –
não por sua própria vontade! Paulo não se chamou a si
mesmo, e a Igreja não o chamou; foi Deus quem o chamou.
Ele é o apóstolo pela vontade de Deus. Ele expõe isso muito
explicitamente na Epístola aos Gálatas, onde diz: “... quando
aprouve a Deus, que desde o ventre de minha mãe me
separou”. Há sempre ênfase à soberania de Deus, e quando
estivermos avançando em nosso estudo desta Epístola, a
veremos sobressair em toda a sua glória em toda parte. Foi
Deus que escolheu em Cristo todo aquele que é cristão; foi
Deus que nos predestinou. Faz parte do propósito de Deus
que sejamos salvos. Jamais haveria salvação alguma, se
Deus não a planejasse e não a pusesse em execução. Foi
Deus que “amou ao mundo de tal maneira”; foi Deus que
“enviou seu Filho, nascido de mulher, nascido sob a lei”. É
tudo de Deus e de acordo com o Seu propósito. É “segundo
o conselho da sua vontade” que todas estas coisas
aconteceram.

Toda esta Epístola nos diz que sempre devemos contemplar


a salvação desta maneira. Não devemos partir de nós e
depois ascender a Deus; devemos partir da soberania de
Deus, Deus sobre todos, e depois descer a nós. Ao
caminharmos através da Epístola, veremos que não somente
a salvação é inteiramente de Deus em geral; também é de
Deus em particular. Vejam, por exemplo, o grande tema que
Paulo desenvolve no capítulo 3. A tarefa especial que lhe
fora confiada como apóstolo é: “demonstrar a todos qual
seja a dispensação do mistério, que desde os séculos esteve
oculto em Deus, que tudo criou” (“por Jesus Cristo”, VA). O
mistério é que os gentios sejam co-herdeiros com Jesus. Foi
esse o “mistério” que noutras eras não foi dado a conhecer
aos filhos dos homens, e agora é revelado aos Seus santos
apóstolos e profetas pelo Espírito.

Deus domina todas as coisas; o fator tempo em particular.


Quando vocês lêem o Velho Testamento, alguma vez
perguntaram por que foi que todos aqueles séculos tiveram
que passar antes que de fato o Filho de Deus viesse? Por
que foi que tão longo tempo somente os israelitas, os
judeus, tiveram os oráculos de Deus e o entendimento de
que há somente um Deus vivo e verdadeiro? A resposta é
que é Deus quem decide o tempo em que tudo deve
acontecer, e assim Ele revela esta verdade que até aqui
tinha sido secreta. Este fato é apenas outra ilustração da
soberania de Deus. Ele deter-mina o tempo para que as
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coisas todas aconteçam. Deus é sobre todos, dominando


sobre todos, e marcando o tempo de cada acontecimento,
em Sua infinita sabedoria. Numa época como esta, não sei
de nenhuma outra coisa que seja mais consoladora e que dê
mais segurança do que saber que o Senhor continua
reinando, que Ele continua sendo o soberano Senhor do
universo, e que, apesar de que “se amotinam as gentes, e os
povos imaginam coisas vãs”, Ele estabeleceu o seu Filho
sobre o Seu santo monte de Sião (Salmo 2). Virá o dia em
que todos os Seus inimigos lamberão o pó, virão a ser o
estrado dos Seus pés e serão humilhados diante dEle, e
Cristo será “tudo em todos”. Dessa maneira a soberania de
Deus é ressaltada na introdução desta Epístola e repetida
até o fim dela, porque é uma das doutrinas cardinais, sem a
qual realmente não entendemos a nossa fé cristã.

Depois, tendo dito isso, o apóstolo passa a tratar do mistério


de Deus, Sua grandeza e a majestade da Sua soberania. A
palavra “mistério” é utilizada seis vezes nesta Epístola aos
Efésios, mais vezes, portanto, do que em suas outras
Epístolas. Assim, estou justificado em dizer que este é um
dos mais importantes temas desta Epístola, o mistério dos
procedimentos de Deus com relação a nós, o mistério da
Sua vontade. Nós o vemos neste capítulo primeiro –
“Descobrindo-nos o mistério da sua vontade, segundo o seu
beneplácito, que propusera em si mesmo”. Pergunto se
sempre compreende-mos isso como deveríamos. É de temer-
se que, às vezes, os cristãos abordam estas grandes
verdades como se as compreendessem com o seu próprio
entendimento. Jamais pensemos assim. Se você começar a
imaginar que pode entender a mente e a vontade de Deus,
estará condenado ao fracasso, pois há mistérios aos quais
nenhuma mente humana pode fazer frente. “Grande é o
mistério da piedade”; ninguém o pode entender. E se você
tentar entender os procedimentos de Deus com respeito ao
homem e ao mundo, garanto-lhe que você se verá tão
confuso que sentirá acabrunhado e infeliz. Na verdade você
poderá acabar quase perdendo a fé e tendo um sentimento
de rancor contra Deus. “O mistério da sua vontade”! Ele é
infinito e eterno, e nós somos finitos e pecadores, e não
podemos ver nem entender.

Se você se sentir tentado a dizer que Deus não é justo,


aconselho-o a, com Jó, pôr a mão na boca, e tratar de
compreender de quem você está falando. Certamente, fazer
objeção ao mistério é quase negar que sequer somos
cristãos. Haverá algo mais maravilhoso, mais encantador,
mais glorioso para o cristão do que contemplar os mistérios
de Deus? Espero que ao aproximarmos destes grandes
temas, você já esteja cheio de um sentimento de divina
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expectação, e aspire a adentrá-los cada vez mais. Um dos


aspectos mais maravilhosos da vida cristã é que nela você
está sempre avançando. Você pensa que já o conhece todo, e
então dobra uma esquina e de repente vê algo que não
conhecia, e vai adiante, sempre adiante. É por isso que o
apóstolo escreve acerca das “riquezas da sua graça”; é o
glorioso mistério que a Ele aprouve revelar-nos por Seu
Santo Espírito. Mas não permita Deus que alguma vez
imaginemos que seremos capazes de entender isso tudo no
sentido de abarcá-lo totalmente. Meu interesse não é
somente aumentar o nosso conhecimento intelectual de
Deus, e sim desvendar “o mistério” dos Seus caminhos, a
fim de que possamos vê-la e adorar o Senhor, e confessar a
nossa ignorância, pequenez e fragilidade, e Lhe agradecer o
mistério da Sua santa vontade.

O próximo tema é a graça de Deus; e esta palavra é utilizada


treze vezes nesta Epístola. O apóstolo a fica sempre
repetindo. No versículo dois ele a coloca na frase inicial: “A
vós graça, e paz da parte de Deus nosso Pai e da do Senhor
Jesus Cristo”. Este é o tema que, acima de tudo mais, é
desenvolvido nesta Epístola – a estupenda graça de Deus
para com o homem pecador, providenciando para ele
salvação e redenção. “A graça de Deus”; sim, e abundante
em particular – “as riquezas da sua graça”. Essa idéia acha-
se aqui mais do que em qualquer outro lugar – “as riquezas
da sua graça”! “Bendito o Deus e Pai de nosso Senhor Jesus
Cristo, o qual nos abençoou com toda as benção espirituais
nos lugares celestiais em Cristo. “Nesta Epístola nos é dado
um vislumbre das riquezas, da abundância, da
superabundância da graça de Deus para conosco; e se não
estivermos ansiosos por um exame e investigação com a
mais ávida antecipação possível, é duvidoso se somos
cristãos. A maioria das pessoas se interessa por valores e
riquezas; gostamos de ir a museus e a outros lugares onde
se guardam e se armazenam coisas preciosas, gostamos de
ver jóias e pérolas; ficamos em filas e pagamos pelo direito
de ver tais valores e riquezas. Gabamo-nos disso como
indivíduos e como nações. Repito, pois, que o supremo
objetivo desta Epístola é fazer-nos entrar e olhar, e ter um
vislumbre das riquezas, das superabundantes riquezas da
graça de Deus. Tudo começa com Deus, Deus o Pai, que é
sobre todos.

Mas tendo dito isso, pasaremos para o que invariavelmente


vem em seguida em todas as Epístolas deste apóstolo, na
verdade o que sempre vem em segundo lugar em toda a
Bíblia – o Senhor Jesus Cristo. “A vós graça, e paz.da parte
de Deus nosso Pai e da do Senhor Jesus Cristo”. Vocês
notaram quantas vezes ocorre o nome, o nome que era tão
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caro e bendito para o apóstolo? “O apóstolo de Jesus


Cristo”, “A vós graça, e paz de nosso Senhor Jesus Cristo, o
qual nos abençoou com todas as bênçãos espirituais nos
lugares celestiais em Cristo”, e assim continua. No versículo
primeiro Paulo nos diz logo de início que ele é um “apóstolo
de Jesus Cristo”. Soa quase ridículo ter que dizê-lo, e,
todavia, é essencial salientar que não há evangelho nem
salvação fora de Jesus Cristo. É necessário porque há
pessoas que falam de cristianismo sem Cristo. Falam em
perdão, mas o nome de Cristo não é mencionado, pregam
sobre o amor de Deus, porém em sua opinião o Senhor
Jesus Cristo não é essencial. Não é assim com o apóstolo
Paulo; não há evangelho, não há salvação sem o Senhor
Jesus Cristo. O evangelho é especial-mente acerca dEle.
Todos os propósitos misericordiosos de Deus são levados a
efeito por Cristo, em Cristo, mediante Cristo, do princípio ao
fim. Tudo o que Deus, em Sua vontade soberana, por Sua
infinita graça, e segundo as riquezas da Sua misericórdia e
do mistério da Sua vontade – tudo o que Deus se propôs
realizar e realizou para a nossa salvação, Ele o fez em
Cristo. Em Cristo “habita corporalmente toda a plenitude da
divindade”; nEle Deus entesourou todas as riquezas da Sua
graça e sabedoria. Tudo, desde o início até o fim, é nosso
Senhor Jesus Cristo e por meio dEle. Somo chamados e
escolhidos “em Cristo” antes da fundação do mundo, somos
reconciliados com Deus pelo “sangue de Cristo”. “Em quem
temos a redenção pelo seu sangue, a remissão das ofensas,
segundo as riquezas da sua graça”. (VA: “...pelo seu sangue,
o perdão dos pecados...”).

Todos nós estamos interessados no perdão, mas como sou


perdoado? Será porque eu me arrependi ou tenho vivido
uma vida virtuosa que Deus me vê e me perdoa? Digo com
reverência que nem mesmo o Deus todo-poderoso poderia
perdoar o meu pecado simplesmente com base nesses
termos. Há unicamente um modo pelo qual Deus nos
perdoa; é porque Ele enviou Seu Filho unigênito do céu à
terra, e à agonia, à vergonha e à morte na cruz: “Em quem
temos a redenção pelo seu sangue”. Não há cristianismo
sem “o sangue de Cristo”. É central, absolutamente
essencial. Sem Ele não há nada. Não somente a Pessoa de
Cristo, todavia em particular a Sua morte, o Seu sangue
derramado, o Seu sacrifício expiatório e substitutivo! É
dessa maneira, e somente dessa maneira, que somos
redimidos. Nesta Epístola Cristo é exposto como
absolutamente essencial. Veremos isso quando entrarmos
em detalhes. Ele está em toda parte, tem que estar. Somos
escolhidos nEle, chamados por Ele, salvos pelo Seu sangue.
Ele é a Cabeça da Igreja, como nos lembra o capítulo
primeiro. Ele está “acima de todo o principado, e poder, e
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potestade, e domínio, e de todo o nome que se nomeia, não


só neste século, mas também no vindouro”. Ele é a “cabeça
da igreja, que é o seu corpo, a plenitude daquele que
cumpre tudo em todos”; e Ele está à mão direita de Deus,
com toda a autoridade e poder no céu e na terra. Jesus, o
nosso Senhor, é supremo; Ele é o Filho de Deus, o Salvador
do mundo. Esse vai ser o nosso tema. Você está começando
a ansiar por isso – por vê-lO, contemplá-lO em Sua Pessoa,
em Seus ofícios, em Sua obra, em tudo o que Ele é e pode
ser para nós?

Então, em particular, como já estive antecipando, o tema do


grande propósito de Deus em Cristo é o tema prático desta
Epístola. Vemo-lo no versículo 10: “De tornar a congregar
em Cristo todas as coisas, na dispensação da plenitude dos
tempos, tanto as que estão nos céus como as que estão na
terra” Vemos aí o propósito de Deus. O apóstolo prossegue e
nos diz que este propósito sempre foi necessário por causa
do pecado. No capítulo 2 veremos que ele nos fala acerca
dos problemas que importunam a mente e o coração do
homem, e de como sua causa é o fato de que “o príncipe das
mundo antigo estava na mesma situação. Não há nada de
novo nisso, é tudo resultado do pecado e do ódio do diabo a
Deus. É resultado do fato de que o homem perdeu sua
verdadeira relação com Deus. O homem se põe como Deus,
e com isso causa todo o transtorno e confusão no mundo.
Mas nos é exposto como, no princípio, ainda no Paraíso,
Deus anunciou o Seu plano e começou a pô-lo em prática.

O Velho Testamento é um relato de como Deus começou a


pô-lo em ação. Primeiramente Ele separou para Si um povo,
os hebreus, mais tarde conhecidos como judeus. Na história
deles vemos o início do Seu propósito de redenção. Do
burburinho da humanidade Deus formou um povo para Si.
Chamou um homem chamado Abraão e fez dele uma nação.
Aí temos o começo de algo novo. Mas depois houve grande
rivalidade entre os judeus e os gentios, e assim, um dos
importantes temas desta Epístola é mostrar como Deus
tratou dessa questão. O grande tema aqui é que Ele Se
revelou, não somente aos judeus, mas também aos gentios;
“a parede de separação que estava no meio” se foi; Deus
criou “dos dois um”. Há uma nova criação aí; algo novo foi
trazido à existência; a isto se chama Igreja; e esta obra de
Deus prossegue crescentemente, diz o apóstolo, até que,
quando chegar a plenitude dos tempos, Deus executará o
Seu plano completo, e tudo quanto se opõe a Ele será
destruído. Todas as coisas serão reunidas e feitas uma só
em Cristo. Este é um dos importantes temas desta Epístola.
A princípio somente os judeus, depois os judeus e os

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gentios, e depois todas as coisas. E tudo isso será feito “em


Cristo e por ele”. (cf. Ef. 2:13,18.)

Isso, por sua vez, leva a outro tema importante, a Igreja. O


propósito de Deus se vê muito clara e objetivamente na
Igreja e por meio dela, o Seu grande propósito de unir todas
as nações em Cristo. Nela se vêem indivíduos diferentes, de
nacionalidades diferentes, procedentes de diferentes partes
do mundo, com experiências diferentes, diferentes na
aparência, diferentes psicologicamente e em todos os
aspectos concebíveis; todavia, são todos um só “em Cristo
Jesus”. É isso que Deus está fazendo, até que finalmente
haja “novos céus e nova terra, em que habita a justiça” (2
Pedro 3:13), e Jesus reine “de costa a costa, até que as luas
não tenham mais crescente nem minguante”.

Não há nada mais enaltecedor e maravilhoso do que ver a


Igreja sob essa luz e, portanto, ver a importância, o
privilégio e a responsabilidade de ser membro dessa Igreja.
É por isso que devemos viver a vida cristã; e assim, no
capítulo 4 e até o fim da carta, Paulo dá ênfase ao
comportamento ético que se espera dos cristãos porque eles
são o que são, e porque esse é o plano de Deus, e eles devem
manifestar a Sua graça na sua vida diária e no seu modo de
viver.

Tivemos aí, pois, uma breve vista dos grandes temas desta
Epístola. Permita-me fazer um sumário deles, de maneira
simples e prática. Por que estou chamando a sua atenção
para tudo isso? É porque estou profundamente convencido
de que a nossa maior necessidade é conhecer estas
verdades. Todos nós precisamos rever esta gloriosa
revelação, e livrar-nos da nossa mórbida preocupação com
nós mesmos. Se apenas nos víssemos como somos
retratados nesta Epístola; se apenas nos apercebêssemos,
como o apóstolo o expressa em sua oração nos versículos
17-19, de que devemos saber “qual seja a esperança da
nossa vocação, e quais as riquezas da glória da sua herança
nos santos; e qual a sobreexcelente grandeza do seu poder
sobre nós, os que cremos, segundo a operação da força do
seu poder”, que diferença isso faria! Acaso você é um cristão
acabrunhado, infeliz, achando que a luta é demais para
você? Você está a ponto de ceder e desistir? O que você
necessita é conhecer o poder que está operando
vigorosamente por você, o mesmo poder que ressuscitou
Cristo dentre os mortos. Se tão--somente soubéssemos o
que significa sermos “cheios de toda a plenitude de Deus”,
deixaríamos de ser fracos e de afligir-nos, deixaríamos de
apresentar um quadro tão lamentável da vida cristã aos que
vivem conosco e ao redor de nós. O que necessitamos
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primordialmente não é uma experiência, é, sim,


compreender o que somos e quem somos, o que Deus em
Cristo fez e como Ele nos abençoou. Não nos apercebemos
dos nossos privilégios.

A nossa maior necessidade ainda é a necessidade de


entendimento. A nossa oração por nós mesmos deve ser a
oração que o apóstolo fez por aquelas pessoas, que “os olhos
do (nosso) entendimento” sejam “iluminados”. E disso que
precisamos. Nesta Epístola “as abundantes riquezas” da
graça de Deus são expostas diante de nós. Vejamo-las,
tornemos posse delas e desfrutemo-las. Acima de tudo, e
especialmente numa época como esta, quão vital é que
tenhamos um novo e robusto entendimento do grande plano
e propósito de Deus para o mundo. Com conferências
internacionais sendo realizadas quase na soleira da nossa
porta, com todo o mundo perguntando qual será o futuro e
quais serão as consequências dos nossos problemas atuais,
com os homens perplexos e desanimados, quão privilegiados
somos por podermos pôr-nos de pé e olhar esta revelação, e
ver o plano e o propósito de Deus por trás e além disso tudo.
Plano e propósito que não serão realizados por meio de
estadistas, mas por meio de pessoas como nós. O mundo
ignora isto e dá risada e zomba; no entanto, com o apóstolo,
nós sabemos com certeza que “todo o principado, e poder, e
potestade, e domínio, e ... todo o nome que se nomeia, não
só neste século, mas também no vindouro” foi posto debaixo
dos pés de Cristo. O Senhor Jesus Cristo foi rejeitado por
este mundo quando Ele veio, os homens O repudiaram
como a “um qualquer”, um “carpinteiro”; contudo Ele era o
Filho de Deus e o Salvador do mundo, o Rei dos reis, o
Senhor dos senhores, Aquele diante de quem se dobrará
“todo o joelho dos que estão nos céus, e na terra, e debaixo
da terra” (Filipenses 2:10). Graças sejam dadas a Deus pelo
glorioso evangelho de Jesus Cristo, e pelas “riquezas da sua
graça”!

Fonte: David Martyn Lloyd-Jones, O Supremo Propósito de


Deus, Editora PES.

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Felipe Sabino de Araújo Neto®
Proclamando o Evangelho Genuíno de CRISTO JESUS, que é o poder de DEUS para salvação de todo aquele que crê.

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