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PATRÍSTICA
FILOSOFIA
PROF. RONALD CARVALHO
INTRODUÇÃO
A Idade Média corresponde ao período que vai desde a queda do Império Romano ( séc. V) até a tomada
de Constantinopla pelos turcos ( fim do séc. XV).
“idade das trevas” por ter sido um período que sofreu com a
Chamados por muitos como a
Não podemos pensar que a única filosofia produzida durante a Idade Média seja a cristã. O
pensamento árabe ou judaico não é menos importante nem menos profundo que o pensamento cristão.
O pano de fundo que leva à compreensão do surgimento do cristianismo é o helenismo que permitiu
uma aproximação entre o judaísmo e a cultura grega preanunciando a filosofia cristã que surgiria algum
tempo depois.
O ponto mais importante para entendermos a Filosofia Cristã é essa tentativa de conciliação entre
fé e razão, ou seja, entre a filosofia clássica, Platão e Aristóteles principalmente, e as verdades
reveladas, crença fundadora do cristianismo.
Embora historicamente a Idade Média inicie no séc. V, o pensamento medieval deve ser entendido a partir do
início do cristianismo no séc. I. Podemos, assim, dividir o pensamento filosófico cristão em três momentos:
APOLOGÉTICA (Justino, Clemente e Orígenes), PATRÍSTICA (grega: Orígenes e
latina: Agostinho) e ESCOLÁSTICA (Tomás de Aquino).
A PATRISTICA
A Patrística foi o período da história ocidental marcado pela presença atuante dos chamados Padres da
Igreja, responsáveis pela estruturação teológica do cristianismo, uma teorização da fé.
OBJETIVOS: Evitar rupturas internas; construção de uma unidade doutrinária; munir o
cristianismode explicações lógicas que se fizessem compreender tanto pelos críticos da nova
religião quanto pelos intelectuais neoconvertidos, que diga-se de passagem eram muitos desde que
Constantino em 391 institucionaliza o cristianismo como religião oficial.
AGOSTINHO DE HIPONA
É preciso entender que a filosofia de Agostinho é fortemente marcada por suas experiência de vida,
daí a importância de se saber alguns fatos de sua vida.
Nasceu em 13 de novembro de 354, na pequena cidade de Tagaste, norte da África. Estudou literatura,
filosofia e retórica.
A fé entra na sua vida por influencia da mãe e a filosofia pela leitura de Cícero que
afirmava ser a filosofia o caminho para a felicidade.
Antes de se aproximar da cultura cristã Agostinho levou uma vida mundana, cometendo pequenos
delitos e envolvendo-se em uma relação amorosa proibida para a época que resultou na geração de um filho,
Adeodato.
Aproximou-se doutrinas filosóficas como o maniqueísmo, ceticismo
de e
neoplatonismo e depois converteu-se ao cristianismo.
MANIQUEÍSMO
Tinham como premissa o Dualismo do universo duas forças contrárias, o bem e mal, a luz e as
trevas, teriam gerado todas as coisas em uma luta na qual uma queria se sobressair à outra, tanto na
formação cósmica quanto em relação aos princípios morais que regem as pessoas e a sociedade.
Essas forças contrárias seriam inerentes ao ser humano, sendo representados pelos princípios do
bem e do mal. Assim, as pessoas seriam dotadas de substancias contrárias em constante luta, como se fossem
duas almas sendo o pecado não o fruto do livre arbítrio mas de uma inclinação
interna.
CETICISMO
Pregava que o indivíduo deve duvidar de tudo, que não existem verdades exatas
sobre nada, devendo a pessoa, portanto, contentar-se com as aparências das
coisas, acessível somente pela experiência dos sentidos.
NEOPLATONISMO
Plotino (205 -270 d.C) trazia uma versão mística do pensamento de Platão.
O neoplatonismo, interpretando
conceitos platônicos com um viés cristão, mostrou a
Agostinho um novo caminho para suas dúvidas, possibilitando que se aproximasse do
cristianismo, preanunciando sua conversão.
A leitura de Plotino fez com que Agostinho percebesse se possível compreender de forma
racional, a doutrina cristã.
A CONVERSÃO AO CRISTIANISMO
Agostinho argumenta que os sentidos, em si, não são os instrumentos do erro, uma vez
que, ao experimentar algo, essa experiência é real. O problema está em tomar tal experiência
como fonte da verdade.
Segundo Agostinho, seguindo as trilhas de Platão e antecedendo Descartes , a verdade só pode ser
atingida pelo processo do conhecimento de si mesmo, atividade puramente
intelectiva, que não se deixa confundir pela ação da matéria, da debilidade do corpo.
Desse modo, de acordo com Agostinho,
Deus, presente no interior do ser humano e a
própria verdade, ilumina a mente humana para que esta, sob a direção de
seu criador, possa encontrar o conhecimento verdadeiro. Perceba que tal verdade não
é fruto somente da ação humana em seu esforço pessoal, mas deste com o auxílio de Deus. Tal teoria é
conhecida como Teoria da Iluminação Divina.
O conhecimento verdadeiro não pode ser alcançado pelos sentidos, pois estes
estão no corpo e participam de sua corrupção. O que os sentidos apreendem da
realidade é provisório, tal como a realidade sensível é instável, mutável. Portanto, o conhecimento
proveniente dos sentidos não é confiável, pois os próprios sentidos, estando no corpo, não o são.
Para o hiponense, existem
dois tipos de conhecimento: o primeiro, proveniente dos sentidos,
refere-se à realidade externa e sensível, e, por sua natureza, é não necessário e mutável; e o
outro, eterno e imutável, é alcançado por meio da razão, devendo retornar para dentro do ser
humano, pois aí estão as verdades, aí está Deus.
Porém, não é possível ao ser humano, sozinho e por seu próprio esforço,
alcançar essas verdades eternas. Vimos que o ser humano é marcado pelo pecado e, como tal,
não consegue alcançar, por si mesmo, nada além do engano e da ilusão.
A Teoria da Iluminação Divina afirma que a origem de todo o conhecimento verdadeiro é
a mente iluminada por Deus. Agostinho reconhece o papel da razão humana no processo do
conhecimento, uma vez que é ela, iluminada por Deus, que atinge a verdade, as ideias e as origens eternas de
toda a realidade.
A ANTROPOLOGIA AGOSTINIANA
Segundo Agostinho, a salvação não é resultado do querer humano nem uma recompensa pelas boas
ações, mas sim uma graça superior concedida por Deus aos seus eleitos.
Aqui se encontra o ponto mais controverso da doutrina agostiniana, denominada de
Teoria da Predestinação Divina. Segundo esta, para que a pessoa alcance a salvação eterna, são
necessários dois requisitos: o esforço pessoal do sujeito, que busca viver de acordo com a
vontade divina, e a graça de Deus, concedida somente a alguns eleitos.
Pelagianismo
Calvinismo
“Cidade de Deus” e “cidade dos homens”
O TEMPO
Nesse ponto, compreendemos que a beatitude , a verdadeira felicidade, não pode estar nas
coisas criadas no tempo, pois este é passageiro e fragmentado, assim como as coisas que nele
existem. Como Deus não está no tempo, ele é o único Bem Supremo, criador de tudo a partir do nada e o
único capaz de proporcionar ao ser humano a beatitude.
Agostinho admite a existência somente do tempo presente, pois este é o agora, aquilo
que acontece no instante. O passado nada mais é do que a memória dos fatos já ocorridos e relembrados no
agora, no presente, por isso ele se refere ao passado como “o presente dos fatos passados”.
E o presente, o que é? O presente é o momento. Agora, neste instante, ele é, no instante seguinte, já não é
mais, tornou-se passado. É um tempo tão imediato que não pode sequer ser medido, o tempo presente não
tem nenhum espaço, é o presente das coisas presentes.
“Agora está claro e evidente para mim que o futuro e o passado não existem, e que
não é exato falar de três tempos – passado, presente e futuro. Seria talvez justo
dizer que o tempo são três, isto é, o presente dos fatos passados, o presente dos
fatos presentes, o presente dos fatos futuros. Esses três tempos estão na mente e
não os vejo em outro lugar. O presente do passado é a memória. O presente do
presente é a visão. O presente do futuro é a espera.”
AGOSTINHO. Confissões.