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A Idade Média é caracterizada, entre outros aspectos, pelo grande poder e influência da

Igreja Católica. Isso ocorreu porque, durante esse período, houve uma forte
descentralização do poder político da Europa, ou seja, não havia estados fortes, mas sim
a formação de feudos, onde cada feudo tinha suas próprias regras, dinheiro, jurisdição,
etc. Dentro dessa descentralização, a Igreja Católica conseguiu manter seu poder, sua
união e, consequentemente, sua relevância para os indivíduos que viveram naquela
época. Foi nesse período, na Idade Média, que a Igreja Católica começou a perceber a
importância da filosofia para manter sua relevância e seu poder. Os membros da Igreja
começaram a perceber que relacionar a razão com a fé poderia ser útil para converter as
pessoas ao Cristianismo e, assim, atrair mais fiéis para a Igreja, principalmente aqueles
mais céticos, já que os dogmas da Igreja seriam comprovados pelo uso de pensamentos
racionais e filosóficos. Foi então que a filosofia medieval foi iniciada, sob a forte
influência da Igreja Católica. Sua primeira fase foi denominada Patrística, tendo como
principal representante Santo Agostinho, também conhecido como Agostinho de
Hipona, que foi quem iniciou esse processo de tentar conciliar a razão e a fé.
Santo Agostinho nasceu em Tagaste, no norte da África, em 354 depois de Cristo, e
desde então, foi incentivado pelo conhecimento. Dessa forma, ele começou a estudar
filosofia, literatura e retórica. Mais tarde, tornou-se um professor de retórica, muito
conhecido. No entanto, quanto mais ele estudava, mais sentia que algo lhe faltava.
Diante disso, em um momento crucial de sua vida, ele foi em busca da verdade, ou seja,
conhecer a realidade do mundo, entender o porquê das coisas, descobrir a verdadeira
razão das coisas serem como são. Nessa busca, Agostinho acabou se envolvendo com o
maniqueísmo, uma filosofia que pregava que o mundo tinha sido originado e estava em
movimento por meio da luta de duas forças, o bem e o mal. A adolescência de Santo
Agostinho pode ser considerada pagã, pois ele não havia se convertido ao Cristianismo.
Ele via o Cristianismo como uma doutrina incompleta e achava a Bíblia muito
simplória. Mas, após conhecer Santo Ambrósio, já com mais de 30 anos, Santo
Agostinho se converte ao Cristianismo, pois estava convencido de que somente por
meio do Cristianismo a verdade poderia ser encontrada. Com base em seu conhecimento
de filosofia, e fortemente influenciado por Platão, Agostinho tentará relacionar razão e
fé, de modo a fornecer uma prova filosófica para os dogmas da Igreja e, assim, mostrar
aos pagãos o verdadeiro caminho para encontrar a verdade. Como exemplo disso, temos
a explicação lógica e racional que ele queria dar para o livre arbítrio e para a relação
entre o bem e o mal. Muitas pessoas estavam se afastando da igreja por causa da
seguinte pergunta: Se Deus criou tudo e ele é bom, por que ele criou o mal? Agostinho
dirá que Deus não criou o mal. O mal é simplesmente a ausência do bem. Onde há o
bem, damos o nome de maldade, mas a maldade não existe. Podemos relacionar isso
com a luz. Onde a luz não existe, damos o nome de escuridão. A escuridão não existe, é
simplesmente a ausência de luz. Portanto, onde o bem não está, o mal acaba se
proliferando. A partir dessa relação entre o bem e o mal, podemos entrar na explicação
para o livre arbítrio. Para Agostinho, Deus deu liberdade para as pessoas fazerem o que
entendessem, mas também deu as instruções sobre qual caminho deveriam seguir. Se o
indivíduo não seguir esse caminho, a escolha é dele. Há um caminho a ser seguido, mas
esse ato de seguir é a escolha de cada pessoa. Essa liberdade que Deus deu às pessoas
pode fazer com que certos indivíduos cometam atos ruins e, se os cometerem, a culpa é
deles e não de Deus. O livre arbítrio, de alguma forma, retira a responsabilidade de
Deus, da Igreja e da religião sobre os atos ruins cometidos pelas pessoas. Mas onde está
a influência de Platão na filosofia de Agostinho? Platão buscava entender a origem do
conhecimento, como o ser humano enxerga o mundo, como ele conhece a realidade.
Platão dizia que existiam dois mundos, o mundo sensível e o mundo inteligível. O
mundo sensível era aquele baseado nas sensações do indivíduo, e que não se baseia na
razão. O mundo inteligível é aquele que oferece o conhecimento baseado na razão. Com
base nisso, Agostinho cristianiza as ideias de Platão. Para Agostinho, o mundo sensível
é o Reino dos Homens, e o mundo inteligível é o Reino dos Céus. Se para Platão é
possível alcançar o mundo inteligível por meio da razão, para Agostinho é possível
alcançá-lo convertendo-se e entregando-se a Deus. Para Agostinho, para realmente
conhecer o mundo ao seu redor, não é suficiente usar os sentidos e a razão, que ele
chama de razão interior ou natural. É necessário que se tenha uma razão superior, e essa
razão superior está em Deus. Assim, uma pessoa sozinha só pode chegar à razão interior
ou natural. Para ir além disso, é preciso ter Deus. Deus é quem ilumina as pessoas para
que encontrem as verdades eternas. Essa teoria de Agostinho ficou conhecida como a
teoria da iluminação. Outro ponto importante na filosofia de Agostinho é sobre o amor.
Para ele, o amor que buscamos no Reino dos Homens é um amor imperfeito. O
verdadeiro e perfeito amor é encontrado em Deus. Por isso, antes de Agostinho se
converter ao Cristianismo, ele sentiu um vazio em sua existência. Ele disse que antes de
sua conversão, estava tentando preencher seu vazio com coisas, o que era algo em vão.
Era como se estivesse tentando matar a fome com água, o que só fazia sua fome crescer
ainda mais. Esse vazio que ele sentia, e que muitos sentem, é infinito, sendo preenchido
apenas por algo que seja igualmente infinito, que é Deus.

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