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SANTO AGOSTINHO

Santo Agostinho, também conhecido como Agostinho de Hipona, foi um dos mais importantes
filósofos e teólogos da antiguidade tardia. Nascido em 354 d.C., em Tagaste, na atual Argélia,
Agostinho viveu em uma época de transição entre o mundo antigo e o início da Idade Média. Sua
vida foi marcada por uma busca intensa pela verdade e pela reconciliação entre a fé cristã e a razão
filosófica.
Agostinho teve uma juventude tumultuada, envolvendo-se em uma vida de prazeres e
questionamentos filosóficos. No entanto, em sua busca pela verdade, ele encontrou refúgio na
filosofia platônica, que o ajudou a encontrar respostas para suas perguntas sobre o mundo e a
existência de Deus. Por fim, ele converteu-se ao cristianismo e tornou-se bispo de Hipona, na atual
Argélia.
Uma das principais concepções de Agostinho é a relação entre fé e razão. Para ele, a fé e a razão são
complementares e devem caminhar juntas em busca da verdade. Agostinho argumentava que a razão
humana é limitada e incapaz de compreender plenamente a natureza de Deus. No entanto, ele
afirmava que a fé poderia iluminar a razão, permitindo uma compreensão mais profunda da verdade
divina.
Agostinho escreveu extensivamente sobre a relação entre fé e razão, e um dos seus trabalhos mais
famosos é "Confissões", onde ele descreve sua jornada espiritual e intelectual. Nele, Agostinho
afirma: "Creio para poder compreender e compreendo para crer melhor" (Confissões, Livro 1,
Capítulo 1). Essa frase resume a visão de Agostinho de que a fé é o ponto de partida para a busca do
conhecimento, e que o entendimento racional pode fortalecer ainda mais essa fé.
Para Agostinho, a fé é necessária para compreender a verdade divina revelada por meio da Bíblia e da
tradição cristã. A razão, por sua vez, desempenha um papel importante ao investigar a ordem do
mundo natural e fornecer argumentos racionais para a existência de Deus. Agostinho acreditava que a
fé não deve ser cega, mas baseada em um entendimento racional.
No que diz respeito à concepção do tempo, Agostinho desenvolveu uma abordagem original. Ele
argumentava que o tempo é uma dimensão subjetiva da experiência humana, uma medida interna da
nossa percepção do mundo em constante mudança. Agostinho afirmava que o tempo existe apenas
como presente, passado e futuro, mas o passado e o futuro não têm uma realidade objetiva. Ele
escreveu: "Se não me perguntam o que é o tempo, eu sei; se me perguntam, eu não sei" (Confissões,
XI, 14).
Agostinho também afirmava que o tempo é uma criação de Deus e que, para Deus, o tempo não existe
da mesma forma que para os seres humanos. Para Deus, o tempo é eterno e imutável. Essa concepção
de tempo de Agostinho influenciou profundamente o pensamento ocidental e abriu caminho para
discussões sobre a natureza do tempo, a relação entre passado, presente e futuro, e a existência do
tempo em si. Sua influência pode ser encontrada em filósofos posteriores, como Immanuel Kant e
Martin Heidegger, que também exploraram questões sobre o tempo e a experiência temporal.
Apesar da relevância e influência de Santo Agostinho, suas ideias não estão isentas de críticas. Uma
das principais críticas é em relação à sua visão negativa do corpo e da sexualidade, que refletia
influências neoplatônicas e maniqueístas. Além disso, algumas pessoas questionam a validade da
relação entre fé e razão proposta por Agostinho, argumentando que a fé religiosa e a razão filosófica
são domínios separados e não podem ser reconciliados.
No entanto, a importância de Agostinho para o pensamento atual é inegável. Suas reflexões sobre a
relação entre fé e razão, a natureza do tempo e a busca da verdade continuam a influenciar filósofos,
teólogos e pensadores contemporâneos. Sua abordagem holística, que busca integrar a dimensão
espiritual e a dimensão intelectual da vida humana, oferece insights valiosos para a compreensão da
condição humana e o significado da existência.

O LIVRE ARBÍTRIO E O PROBLEMA DO MAL

Para Santo Agostinho, o livre arbítrio era um conceito central em sua visão da natureza humana e sua
relação com Deus. Ele acreditava que os seres humanos possuem a capacidade de tomar decisões e
agir de forma voluntária, fazendo escolhas morais que têm consequências para suas vidas e para o
mundo ao seu redor.
Agostinho via o livre arbítrio como um presente de Deus, uma característica distintiva da natureza
humana que reflete a imagem divina. Ele afirmava que, embora os seres humanos possuam uma
vontade livre, essa vontade foi afetada pelo pecado original. Segundo Agostinho, o pecado original
corrompeu a vontade humana, tornando-a inclinada para o mal e incapaz de alcançar a perfeição
moral por si mesma.
O problema do mal também era uma questão significativa para Agostinho. Ele se perguntava como
conciliar a existência de um Deus bom, onipotente e onisciente com a presença do mal e do
sofrimento no mundo. Agostinho argumentava que o mal não é uma substância ou uma entidade em
si, mas uma privação ou uma ausência do bem. Ele via o mal como uma consequência do livre
arbítrio humano e do afastamento de Deus.
Agostinho sustentava que Deus permite o mal como uma consequência necessária do livre arbítrio
humano. Ele acreditava que, através do sofrimento causado pelo mal, os seres humanos podem
reconhecer sua dependência de Deus e buscar a redenção e a reconciliação com ele. Agostinho
afirmava que Deus, em sua infinita sabedoria, usa até mesmo o mal para alcançar seus propósitos
maiores e para trazer bem ao mundo.
No entanto, as ideias de Agostinho sobre o livre arbítrio e o problema do mal enfrentaram críticas
significativas. Alguns questionaram a compatibilidade entre o livre arbítrio e a presciência divina,
argumentando que se Deus sabe antecipadamente as escolhas que os seres humanos farão, então o
livre arbítrio seria ilusório. Além disso, outros argumentam que a visão de Agostinho sobre o mal
como uma privação do bem não aborda adequadamente a existência de males naturais, como doenças
e desastres naturais.
Outras críticas se voltam para a ideia de que Deus permite o mal como uma consequência necessária
do livre arbítrio humano. Alguns argumentam que essa visão coloca a responsabilidade pelo mal
diretamente sobre os seres humanos, sem considerar outras possibilidades, como o papel de
influências externas ou sistemas sociais e culturais que contribuem para o mal.
Apesar das críticas, as ideias de Santo Agostinho sobre o livre arbítrio e o problema do mal
continuam a ser objeto de estudo e reflexão. Sua abordagem influenciou significativamente a teologia
e a filosofia cristãs, e suas respostas ao problema do mal têm sido uma base para o desenvolvimento
posterior de teodiceias e abordagens sobre a questão do mal na filosofia e na teologia
contemporâneas.

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