PANORAMA DOS GRANDES

MOVIMENTOS CRISTÃOS
AULA 1 - LIBERALISMO TEOLÓGICO
É
provável que você já tenha ouvido falar nos termos
Liberalismo Teológico e Neortodoxia. Esses
movimentos ocorreram no século XX e muitas vezes
são falados de forma que as pessoas não entendem suas
bases filosófico-teológicas. Algumas vezes chegam até a
tratá-los como sinônimos quando na verdade não são. Para
isso é preciso entender suas origens e seus pressupostos.
Primeiro de tudo, o Liberalismo Teológico veio antes
da Neortodoxia e suas bases derivam diretamente do
Iluminismo, um movimento filosófico do século XVIII
que visava ser uma resposta ao tradicionalismo religioso
da Idade Média e colocou o homem como o centro da
existência. Nessa época, a Razão humana foi elevada ao
ponto de se acreditar que o conhecimento de Deus poderia
ser alcançado através do uso dela.
O iluminismo deu origem ao que atualmente entendemos
como mentalidade moderna. A qual tem algumas
características:
• Início da história científica
• A Razão pode justificar qualquer verdade
• A natureza é a fonte primária da existência humana
• A liberdade é necessária para o progresso humano
• A herança histórica é legitimada pela crítica literária e
histórica, além da necessidade de uma crítica filosófica.
• A ética independe da religião.
• A autoridade da religião ou de uma tradição de postular
uma verdade é posta em dúvida através da razão
• A ciência é o meio pelo qual o homem pode encontrar a
verdade
Um nome bastante importante desse período foi Immanuel
Kant. Ele revolucionou a forma de pensar porque se opôs
tanto aos racionalistas – que diziam que o conhecimento
vinha da própria mente – quanto aos empiristas – que
diziam que o conhecimento vinha de fora, de experiências.
Kant postulou que o conhecimento surge da união entre
a informação que vem até nós através dos cinco sentidos
com categorias inatas da mente humana. Mais tarde, Kant
postulou que a realidade está dividida em duas categorias: a
2
fenomenal (aquilo que pode ser experimentado) e a numenal
(uma realidade espiritual/metafísica). O ser humano não
possui categorias inatas para adquirir informações do mundo
numenal. Dessa forma, tudo que podemos conhecer é o que
é experimentado, por mais que a realidade seja mais do que
isso.
Para Kant, Deus estava no mundo numenal, portanto era
impossível conhecê-lo através do uso da razão. Isso não o
caracteriza como ateu. Ele acreditava em Deus, mas dizia
que era impossível de conhecê-lo. Assim, Deus deve ser
conhecido por meios dos aspectos morais que podemos
experimentar e somente isso.
No século XIX, Georg Wihelm Friedrich Hegel postulou o que
é conhecido como dialética hegeliana. Para ele, a mente ou
o espírito se manifesta no processo histórico e a história
carrega um significado próprio. Dessa forma, existe um
processo contínuo de progresso cultural e racional. Esse
processo de evolução histórica dependia da solução do
problema entre uma tese e uma antítese que passavam a
gerar uma síntese. Por sua vez, a sintese se torna uma tese
que terá sua antítese e dará origem a uma nova sintese e
assim por diante.
Friedrich Daniel Ernst Schleiermacher é considerado o paid
a teologia liberal, ou moderna. Ele foi um grande teólogo
que nasceu em meio o fervor iluminista e kantiano. Ele foi
educado no pietismo dos morávios. [1] Por causa disso,
Schleiermacher teve suas primeiras experiências religiosas.
Quando estudava os morávios ele se deparou com a crítica
neologiana [2] sobre a ortodoxia protestante histórica. Ele
rejeitou o substituto racionalista e moralista e nessa época
foi apresentado ao movimento romântico, uma resposta ao
racionalista crítico e analítico do século XVIII.
Schleiermacher se baseava em três premissas: 1) a crítica
iluminista da ortodoxia dogmática protestante; 2) a filosofia
idealista romântica fundamenta a fé cristã melhor que o
racionalismo superficial do iluminismo; 3) o idealismo pode
interpretar a teologia cristã. A partir desses três pontos,
Schleiermacher revolucionou o método teológico tradicional.
Ele entendia que todo homem possui uma consciência de
Deus que faz o homem ser dependente de Deus. Assim,
a revelação passou a ser subjetiva onde a experiência
era a causa da doutrina. As afirmações teológicas não
descrevem a realidade objetiva, mas é o meio pelo qual nos
relacionamos com Deus e percebemos essa dependência.
A autoridade final passou a ser essa experiência de
dependência.
O ser humano precisa lembrar-se de Deus e ter uma
experiência com Cristo em comunidade para ser redimido.
3
Para ele, o sacríficio na cruz não foi expiatório, mas um
grande exemplo no qual o homem toma consciência e é
transformado.
Outro nome importante para o liberalismo é Albrecht Ritschl.
Ele, por sua vez, via a religião em termos de moralidade
e esforço pessoal para estabelecer o Reino de Deus.
Para Ritschl e seus seguidores, é impossível conhecer
a Deus como ele é em sua essência. Ritschl seguiu uma
epistemologia kantiana que entendia que tudo que o ser
humano pode compreender é aquilo que é experimentado.
Ele afirmava que ninguém poderia conhecer as coisas em si
mesmas, mas apenas a forma como elas são apresentadas
no fenômeno. Como Deus está fora do domínio teórico, o
ser humano não pode percebê-lo. O homem tem que estar
devoto a Jesus Cristo como aquele que revela Deus. Assim,
o empirismo ritschliano passou a investigar a vida de Cristo
na história. Quando alguém era confrontado com Jesus
Cristo havia uma comunicação de uma verdade religiosa que
não era teórica. Assim, a verdader religiosa não era mais
encontrada em proposições teológicas, mas em experiências
subjetivas. Com isso, a compreensão de Deus fica sujeita ao
homem. Ele não pode entender quem Deus é, mas pode ter
sua manifestação em Jesus. A experiência de Deus, seja ele
qual for, é o conhecimento religioso.
Para Ritschl, Deus era pessoal, mas não era capaz de ser
conhecido. O conhecimento dele era mediado por Cristo, o
qual pudesse ser encontrado na Bíblia, a pessoa não poderia
ter conhecimento de sua morte expiatória e segunda vinda. A
alma humana não pode conhecer Deus porque está limitada
aos fenômenos. Portanto, a comunhão com Cristo consiste
em imitá-lo num esforço moral em favor de seu Reino.
Um terceiro fator que contribuiu para o desenvolvimento
do liberalismo foi o estudo das religiões comparadas. A
filosofia romântica levou à busca por outras religiões e a sua
forma de expressão humana. A colonização pelo mundo e o
conhecimento de novos povos e culturas permitiu o contato
com diferentes expressões de religiosidade. Com isso, a
Bíblia foi estudada em seu contexto cultural. As religiões
comparadas entendem que todas as religiões expressam
a verdade de formas diferentes aplicadas a seu contexto
cultural. Isso não seria diferente na questão da Bíblia. Deus
havia se manifestado de determinada forma no período do
AT e do NT para seu povo localizado no entorno de Israel,
Egito, Mesopotâmia, mas isso não faria as religiões de outros
povos serem menos verdade, mas são expressões diferentes
do mesmo Deus.
Adolf von Harnack também é um importante nome na
teologia liberal. Ele foi historiador do cristianismo e
escreveu um livro chamado A História do dogma. Ele operou
totalmente na base do liberalismo chegando até mesmo a
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considerar que o NT fora deturpado. Na medida em que o
cristianismo saia do contexto judaico e entrava no contexto
helenista, essa deturpação aumentava e a religião se perdia.
Ele entendia que as influências helenísticas deveriam ser
removidas para que o puro cristianismo surgisse.
Harnarck entendia que Paulo modificou a doutrina a
pessoa de Cristo segundo suas próprias compreensões.
Paulo também seria o responsável por postular a morte
e ressurreição de Cristo como fatores fundamentais
para a salvação. Harnack defende em sua obra O que
é o cristianismo? a paternidade universal de Deus, a
fraternidade universal do homem e o valor infinito da alma
humana individual. Jesus Cristo é um exemplo supremo e
o homem está consciente o tempo todo de Deus, o qual é
perfeitamente imanente. Essas são as três características
básicas do liberalismo:
• Paternidade universal de Deus.“Todos são filhos amados
de Deus”. Deus está em comunhão com sua criação. Deus
é totalmente imanente e tudo passa a ser um milagre.
• Fraternidade universal do homem. O ser humano não é
visto como um pecador e não havia distinção qualitativa
entre Deus e o homem. Deus poderia ser conhecido pelo
homem e a eternidade era uma questão deimortalidade de
espírito, mas não de uma ressurreição corpórea
• Jesus Cristo é um exemplo.O liberalismo nega que
Jesus é Deus. Jesus teria se tornado o homem perfeito
porque tomou consciência de Deus. Assim, ele se torna
o exxemplo perfeito que o homem deve seguir para se
relacionar com Deus.
Essas doutrinas geram algumas consequências.
• A autoridade religiosa da Bíblia é desfeita. A autoridade
passa a habitar no indivíduo e não em uma fonte externa
de conhecimento. A bíblia é somente um registro dessas
experiências que pode conter imprecisões e erros.
• A salvação tem um aspecto meritório. O homem passa a
seguir os passos e vida de Jesus e entre em comunhão
com Deus.
• Deus trabalha no mundo de forma totalmente imanente
por meio de pessoas. Isso significa que ele não é um ser
transcendente, mas que passa a ser conhecidos por meio
de princípios morais.
Algumas coisas precisam ser analisadas em relação ao
5
liberalismo. Sua ênfase exacerbada na imanência divina seus critérios para dizer quais textos são genuínos ou não
remove a distinção Deus-criação.Dessa forma, a imanência para que possamos conhecer o Jesus histórico. Esse Jesus
levou à negação do sobrenatural para a ênfase só no natural. histórico não era divino, o ser divino é produto da experiência
Por causa disso, os milagres não foram mais cridos como religiosa pessoal do indivíduo, mas um homem que andou na
algo forma do ordinário. Tudo passava a ser milagre. Por terra e nos deixou um grande exemplo de como se relacionar
causa da perda do transcendente, houve uma perda da com Deus.
doutrina do pecado. Deus é distinto de sua criação por
essência, fundamentalmente, mas também porque o homem
e a criação estão sob o pecado. Uma vez que essa separação
é abolida para dar lugar a uma ênfase na imanência, o
conceito de pecado é perdido, não sendo mais tratado como
um mal que deturpou totalmente o homem, mas meros
equívocos.

Se não há pecado, não há necessidade de salvação. O

homem só precisa tomar consciência de Deus e de que já é
filho. A perda do aspecto sobrenatural levou a crítica bíblica
a considerar dificuldades interpretativas, ou limitações de
revelação como erros ou imprecisões. A Bíblia é apenas um
livro humano que relata as experiências religiosas de um
povo em determinada cultura durante certo tempo. Por fim, o
que restava é que a pessoa de Cristo fosse remodelada. Para
os liberais o Cristo da fé é diferente do Cristo da história. O
Cristo da fé é produto das experiências religiosas do povo
e que portanto varia de pessoa para pessoa. A crítica visa
buscar o Jesus histórico, o homem que existiu na terra e o
qual devemos seguir. Ela faz isso picotando a Bíblia segundo

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AULA 2 - NEO - ORTODOXIA
O
movimento da Neo-ortodoxia surgiu em 1920 como
uma resposta ao Liberalismo. Os teólogos neo-
ortodoxos visaram combater os principais pontos do
liberalismo devolvendo à teologia a noção de transcendência
de Deus, pecado do homem, aspecto sobrenatural da
salvação e as Escrituras como fonte e centro da teologia.
As implicações do liberalismo repercutiram no século
XIX e início do século XX conduzindo as pessoas a não
estarem restritas às ideias de busca de perfeição moral,
arrependimento, caindo em uma profunda imoralidade e
depravação. A Bíblia tornou-se um livro de profunda análise
crítica. Ela passou a ser tratada como um livro humano
passível de interpolações históricas e desprovida de seu
caráter sobrenatural. Estudos no Pentateuco levaram à
formulação da hipótese documentária a qual dizia que o
Pentateuco teve sua origem de 4 fontes diferentes e que
não foi Moisés que o escreveu. Isaías foi dividido em dois
autores e Daniel foi considerado como tendo escrito no
período intertestamentário. Já no NT, homens como F.C.
Baur aplicaram a dialética hegeliana para interpretar seus
textos levando a concluir que as epístolas de Paulo foram
na verdade escritas por seus seguidores. Isso para dizer
somente alguns ataques que a Bíblia sofreu.
Com o advento da 1ª Guerra mundial, a mentalidade do
progresso humano encontrou um entrave. A ideia de que o
homem estava progredindo em bondade se tornou vazia. Se
Deus é totalmente imanente na história como ele pode agir
de tal forma que aconteça tal catástrofe? Nesse contexto,
surgiram homens como Karl Barth, Emil Brunner, Reinhold
Niebuhr e Dietrich Bonhoeffer.
Karl Barth foi um grande teólogo do século XX.Filho de
pastor de uma igreja reformada suíça estudou a filosofia
kantiana, a teologia de Schleiermacher, também estudou com
Adolf von Harnack e com o teólogo bíblico e conservador
Adolf Schlatter. Barth foi exposto à teologia liberal, mas
nunca a achou satisfatória. Aos 23 anos foi ordenado para o
ministério o qual durou 10 anos (1911-1921). Durante esse
tempo, ele descobriu um Deus diferente do que aprendera no
seminário. Na Bíblia, ele viu Deus como transcendente. As
influências que Barth iam recebendo faziam com ele fosse se
distanciando da teologia liberal cada vez mais.
Em 1918, ele terminou a primeira edição de seu comentário
de Romanos. Ele foi influenciado por Soren Kierjegaard, do
qual obteve a metodologia teológica característica: dialética,
paradoxo, decisão e crise. Quando a segunda edição de seu
comentário foi publicado todo liberalismo de Barth havia
desaparecido. Em 1927, Barth publicou a Dogmática Cristã,
onde se opôs ao catolicismo e ao liberalismo. Ele entendia
7
a Palavra de três formas: a Palavra revelada (encarnada),
a Palavra escrita e a Palavra proclamada. A revelação vem
apenas por meio de Cristo, a Palavra de Deus revelada.
Porém, o ES é uma necessário para o apreendimento da
Palavra de Deus objetiva. Para Barth, a Trindade se opõe se
contrapõe a toda teologia natural e antropocêntrica. Barth
também foi influenciado por Anselmo da Cantuária quando
este diz que a fé progride em conhecimento de Deus. A fé
é o começo e o fim. O conhecimento de Deus do homem é
impulsionado pela fé e sempre será incompleto, sendo fruto
da graça divina.
Emil Brunner nasceu em 1889, passou pela Universidade
de Zurique e de Berlim, obtendo seu Ph.D em 1913. Ele
seguiu carreira pastoral e chegou a lecionar teologia na
Universidade de Zurique, onde estudou. Seu pensamento foi
independente de Barth, mas seguiu um caminhou similar.
Seu pensamento foi moldado por uma perspectiva socialista
cristocêntrica e pelo método dialético. Ele estava convencido
que a teologia dialética tinha origem no ES, diferentemente
de qualquer outro sistema filosófico ou teológico. Brunner
estudou Lutero, Calvino e sua teologia foi influenciada por
refomadores.
Ele também foi influenciado pelo filósofo Martin Buber, cujo
pensamento estava baseado em Kierkegaard. A filosofia
do “eu-tu” de Buber lançou base para Buber expressar a
sua antropologia. Assim, concluiu que o conceito bíblico
de verdade envolve um encontro necessário com Deus
para seu entendimento. Sem isso, é impossível conhecer
a verdade. Brunner divergiu de Barth porque admitiu uma
teologia natural. Ambos debateram. Brunner publicou a
obra Nature and Grace: A discussion with Karl Barth a qual
gerou a resposta de Barth: Nein! [Não!]. Brunner passou a
enfatizar o encontro com Cristo como central à fé cristã. Ou
seja, a verdade sobre Cristo não é descoberta em discussões
teológicas, mas a partir de um encontro com ele. Ele foi
responsável pela restauração das doutrinas do pecado,
encarnação, ressurreição. Ele também devolveu às Escrituras
o papel normativo na Igreja.
Reinhold Niebuhr também foi bastante influente na
primeira metade do século XX. Ele era filho de luteranos
e estudou no Seminário Teológico Éden, continuando
seus estudos na Escola de Divindade em Yale. Niebuhr
foi bastante influenciado pela teologia liberal, mas a
considerou insuficiente para responder às questões que
sua congregação demandava. Em 1928, deixou o ministério
pastoral para se dedicar como professor no Seminário União
em Nova York.
Ele foi influenciado por Kierkegaard e Barth, mas estava
insatisfeito no trato deles das questões éticas. Sua primeira
importante obra foi Moral man in Immoral Society, em 1932
8
e depois escreveu The nature and destiny of man, em 1939.
Niebuhr se opôs ao liberalismo e formulou o que é conhecido
como realismo cristão. Para ele, o homem deveria pensar a
si mesmo como pecador e santo, estando sujeito às forças
da História, mas sendo formador delas, era uma criatura de
Deus, mas era um criador de coisas. A cruz foi vista como
aquilo que venceu as forças pecaminosas do mundo.
Niebuhr entendia que o pecado era um problema para o
homem. O homem era depravado em sua raiz. Os melhores
esforços humanos eram infectados pelo pecado. Sua
doutrina era uma sintese entre o que a Renascença e a
Reforma ensinavam.
Outro nome importante da Neo-ortodoxia foi Dietrich
Bonhoeffer. Ele nasceu em 1906 e estudou filosofia e teologia
em Berlim e Tübingen. Foi educado na teologia liberal sendo
aluno de Harnack, Deissmann e Seeberb, mas rejeitou o
liberalismo e defendia pontos parecidos com Barth. Ele foi
ordenado como pastor luterano em Barcelona. Passou um
tempo estudando no Seminário União em Nova York e depois
voltou para ser professor de teologia em Berlim.
Ele tornou-se o líder da igreja confessante, a qual fazia parte
da igeja luterana estatal e se opunha ao programa nazista da
época (1934). Bonhoeffer ficou conhecido por sua oposição
ao nazismo e a Hitler. Essa oposição foi tão forte que ele
envolveu-se numa conspiração para assassinar Hitler, mas
foi descoberto e condenado à forca poucos dias antes da
queda do Terceiro Reich. Por causa disso, ele é considerado
um martir por muitos.
As características gerais do movimento neo-ortodoxo são as
seguintes:
1. Dialética como método teológico. Esse método pressupõe
que há uma diferença de qualidade entre Deus e a criação,
e que a verdade não pode ser afirmada de forma análoga. A
verdade é encontrada por meio da dialética (tese-antitese-
sintese) das declarações que são aparentemente paradoxais
nas Escrituras: Jesus como Deus e Homem; Transcendência
de Deus e sua autorevelação; seres humanos são pecadores
e livres etc.
2. Deus é totalmente outro. Isso é totalmente diferente do
liberalismo. Dizer que Deus é totalmente outro significa que
ele é um ser completamente distinto de toda a sua criação,
ou seja, totalmente transcendente. Essa resposta de ênfase
na transcendência foi dada devido o antropocentrismo
evidencidado pelo liberalismo.
3. A Bíblia contém a Palavra de Deus. Isso siginifica dizer que
9
neo-ortodoxos não criam que a Bíblia é a Palavra de Deus
em si mesma. Isto é, eles não defendiam a inspiração verbal
das Escrituras. Para eles, as Escrituras são um registro do
encontro de Deus com os escritores. Assim, Deus usa o texto
para ter um encontro com os leitores. É nesse momento,
desse encontro, que Deus se revela ao leitor, é nesse
momento que as Escrituras se tornam a Palavra de Deus.
Como livro humano, a Bíblia é falível, entretanto Deus usa
esse registro para proporcionar um encontro com os leitores.
4. Rejeição da teologia natural. A teologia natural – tanto a
vertente tomista da igreja católica, quanto a do liberalismo
– foi rejeitada pela tradição neo-ortodoxa. Uma vez que
neo-ortodoxos consideram Deus totalmente transcendente, é
impossivel que a revelação geral comunique algo redentivo a
seu respeito. Aquilo que Brunner admitia era o conhecimento
rudimentar de Deus, mas não era salvífico.
5. Cristologia. Jesus é visto como o Deus-homem, 100%
Deus, 100% homem. Barth afirma que a morte de Cristo é
expiatória e de fato reconcilia a humanidade com Deus.
Porém, a expiação na visão de Barth tem indícios de
universalismo. Ainda que ele tenha se recusado a afirmar
tal doutrina, ela parecia ser a conclusão lógica de suas
considerações.
6. Realismo bíblico. Esse era o conhecido ensino de
Reinhold Niebuhr. O ensino reafirmava a natureza totalmente
depravada do ser humano. A neo-ortodoxia reafirmou que o
homem se encontra num estado de rebelião contra Deus e
uma separação radical dele.
7. Teologia Bíblica. A neo-ortodoxia proporcionou o
surgimento de estudos na área de teologia bíblica. Com a
publicação de Der Römerbrief de Barth, várias obras foram
publicadas. Esse movimento enfatizava o estudo da Bíblia
em suas próprias categorias. Isso significa entender a
cosmovisão por detrás daquele período.
8. Revelação na história. O movimento neo-ortodoxo
entendia que a revelação não era proposicional, mas que era
o entendimento humano de como Deus se encontrava com
seu povo. Isso se opõe ao entendimento fundamentalista
que vê a Bíblia como um livro de proposições religiosas e
verdades eternas, e ao liberalismo, que vê a Bíblia como
somente uma expressão religiosa de determinado povo.
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​AULA 3 - LUTERANISMO
​Considerações teológicas
A
ntes de falarmos do Luteranismo e a Reforma
propriamente, é preciso falar do contexto histórico
que antecedeu esse evento e até mesmo favoreceu
condições para que ele tivesse surgido. No século XIV, 125
anos antes da Reforma, John Wycliffe, já fazia oposições à
ICAR quanto a sua autoridade temporal e espiritual. Durante
esse século, o papado estava fraco e corrupto, caindo
ainda mais em níveis espirituais. Wycliffe desafiou a ICAR
publicando dois tratados: Sobre o domínio divino e Sobre o
senhorio civil. Ele também atacou as cerimônias que eram
praticadas e que não tinham menções bíblicas. Ele negou a
transubstanciação, o poder sacramental dos sacerdotes e a
eficácia da missa. Ele sofreu influências agostinianas acerca
da salvação, se opondo à ideia que a salvação dependia do
esforço humano. Ele traduziu a Bíblia para o inglês, sendo
perseguido por causa disso. Porém, apesar da perseguição
e da prisão domiciliar que se encontrava, seu ensino foi bem
aceito na Inglaterra.
John Huss incorporou a mensagem de Wycliffe à sua
pregação. Ele dizia que Cristo, não o papa, era o cabeça da
igreja. Ele se tornou líder nacionalista e uma importante
figura de papel espiritual. No Concílio de Constança ele
foi considerado herege e foi queimado em fogueira. Suas
últimas palavras tiveram efeito quase profético quando
disse: “Vocês hoje estão queimando um ganso (Hus
significa “ganso” na língua boêmia), mas dentro de um
século, encontrarão-se com um cisne. E este cisne vocês
não poderão queimar”. Atribui-se que o cisne é Martinho
Lutero.Além disso, a ascensão do humanismo e o declínio do
escolasticismo contribuíram para a Reforma.
Humanismo
O humanismo surgiu no começo da Renascença e enfatizava
as humanidades (poesia, gramática e retórica) em contraste
com a lei canônica. Um de seus motes era “Ad fontes”,
que significa, “de volta às fontes”. Na Itália, isso envolvia
um retorno às origens clássicas gregas e romanas da
civilização. No norte europeu, o foco incidia sobre o retorno à
primazia das Escrituras nas línguas originais. O humanismo,
portanto, era uma metodologia que enfatizava a clareza de
pensamento e a eloquência de expressão sendo baseadas na
fonte original. O humanismo, então, influenciou que teólogos
estudassem as fontes originais das Escrituras e, dessa
forma, as doutrinas essenciais e fundamentais à fé fossem
resgatadas, e os erros da ICAR fossem identificados.
O humanismo não era um movimento monolítico. Na França,
11
foi produzida uma versão que visaa o retorno à lei romana.
Na Suiça, havia tendências moralistas. Na Inglaterra,
houve uma volta ao Renascentismo Italiano. Portanto, o
humanismo influenciou várias posicionamentos, inclusive a
Reforma.
Escolasticismo
O escolaticismo era o método teológico dominante no
período final da Idade Média. Ele buscava organizar todo
conhecimento em torno de uma ideia integrada e depois
preencher as lacunas com dedução lógica. Na mente popular,
o escolasticismo gerava uma teologia abstrata, sem relação
com a vida prática. Ele também era uma metodologia, como
o humanismo, não um sistema de fé. Ele era um método de
estudo teológico e avaliar os resultados.
No final da Idade Média, o realismo filosófico de Anselmo e o
realismo moderado de Tomás de Aquino, em grande medida,
estavam sendo substituídos pelo nominalismo, o qual serviu
de escola para Lutero. Assim, a conjunção da ascensão do
humanismo e a decadência do escolasticismo proporcionou
que a Reforma acontecesse.
REFORMA PROTESTANTE
Martinho Lutero
Martinho Lutero (1483-1546) nasceu numa família de
camponeses. Seus pais eram muito severos em sua
educação, mas eram religiosos. Lutero estudou na
Universidade de Erfurt onde alcançou a graduação do
bacharelado em 1502 e o mestrado em 1505. Nesse mesmo
ano, Lutero perdeu um grande amigo e duas semanas
depois ele quase foi atingindo por um raio durante uma
tempestade. Nessa ocasião, ele fez uma promessa a santa
Ana que se tornaria monge se sobrevivesse àquilo tudo.
Tendo sobrevivido à tempestade, ele cumpriu a promessa
ingressando no monastério agostiniano de Erfurt. Lá ele
cumpria seus deveres e seguia uma disciplina rígida,
estudos teológicos e exercícios de piedade. Devido ao rigor
que colocava sobre si mesmo, ele chegava até mesmo a se
autoflagelar e sempre vivia carregado de culpa. Ele via Deus
como um juiz implacável.
Lutero entrou para o sacerdócio em 1507. Em sua primeira
missa ele tentou fugir do altar porque não podia conceber
um pecador chegando diante do altar do Senhor. Ele vivia em
constante conflito com seus pecados e o entendimento de
Deus como juiz.Vendo o conflito de Lutero. Staupitz, o abade
12
de seu monastério, o enviou para o doutorado para que os
estudos ocupassem sua mente. Ele se formou doutor em
1511 e assumiu a cátedra da Universidade de Wittenberg.
Ele lecionou em Salmos, Romanos e Gálatas. Foi durante
esse período que ele lutou com a questão da justificação. Em
algum momento de seus estudos, Lutero chegou à conclusão
que a justificação advém somente pela fé. Ele compreendeu
a justiça de Deus como um dom e isso tranquilizou seu
coração.
Filipe Melancton
Outra figura importante da Reforma foi Filipe Melâncton
(1497-1560). Ele chegou a ser professor de NT em
Wittenberg com 20 anos e se tornou amigo de Lutero. Em
1521, Melâncton publicou Loci Communes, o primeiro
trabalho sistemático de teologia luterana. Ele também
escreveu a Confissão de Augsburgo e trabalhou com Lutero
em outras confissões luteranas. Enquanto Lutero era
conhecido como o reformador da Alemanha, Melancton era o
professor da Alemanha.
Princípios teológicos do luteranismo
Luteranismo confessional e os quatro solas
Quando indagados sobre sua fé, luteranos darão respostas
combase nas confissões de fé do adotadas pelo movimento
que estão reunidas no Livro de concórdia. Entre elas estão
o credo apostólico, o credo niceno, o credo atanasiano e a
Fórmula de concórdia.
O luteranismo sempre foi conservador como sistema
teológico e até hoje mantém a convicção que ensina apenas
o que a Bíblia ensina e aquilo que os cristãos ensinaram
ao longo dos séculos. A mentalidade luterana é universal
e busca um relacionamento pessoal com Jesus com o
evangelho no centro. Ele está firmado na tradição trinitária
e cristológica dos séculos IV e V e no conceito agostiniano
do pecado. Foi do luteranismo que surgiram os solas da
Reforma: Solus Christus, Sola Gratia, Sola Fide e Sola
Scriptura.
Teologia da cruz
Os teólogos escolásticos faziam uma teologia abstrata e
especulativa que era chamada de Teologia da Glória. Lutero
a considerava como puro sofisma. Em oposição a ela, Lutero
13
propôs a Teologia da cruz, a qual fazia afirmações acerca de
Deus quando mediadas pela cruz. Lutero propôs que há dois
tipos de conhecimento de Deus: o legal e o evangelical. O
conhecimento legal é aquele que dispon[ivel ao homem por
meio da razão e revelação geral. Esse é um conhecimento
filosófico. Esse tipo de conhecimento trata Deus como um
objeto de investigação. Para Lutero, isso ignora o ensino
bíblico que “ninguém poderá ver [Deus] e continuar vivo”. O
conhecimento verdadeiro de Deus vem por meio do paradoxo
do Deus absconditus, o Deus oculto. Para Lutero, tentar
conhecer a Deus à parte de sua ocultação é como tentar
subir aos céus sem a Palavra. Então, esse Deus oculto se
revela a através da sua Palavra e através a obra da cruz
realizada por Jesus. O uso da razão é visto dentro dos seus
limites. Lutero considerava que a mente foi corrompida pelo
pecado, ao contrário do tomismo.
Eclesiologia
Luteranos entendem a igreja como o Israel espiritual. O
luteranismo nunca se comprometeu com uma linha particular
de governo eclesiástico podendo assumir várias formas.
Na Alemanha e Escandinávia, ele tornou-se uma igreja
estatal, podendo ter sido um dos fatores que impediram
o luteranismo de exercer uma influência mais abrangente
na teologia reformada. Já no continente americano, o
luteranismo preferiu a autonomia local.
Sacramentos
Luteranos reconhecem que o termo sacramento não está
nas Escrituras, mas seu conceito sim. Para Lutero, há três
sacramentos: batismo, ceia e penitência. Ele afirma que os
sacramentos foram instituídos por Cristo; dependem de seu
mandamento; e são derivados da Palavra. O sacramento
é “uma demonstração visível da obra de Deus em ritos
especificamente ordenados, dos quais fiéis participam
pela fé somente, sem qualquer mérito humano” (SAWYER,
321). De acordo com o catecismo maior, eles devem ter três
características:
• É uma coisa e um sinal santo e divino, instituído por uma
palavra que promete a salvação, independentemente do
mérito humano.
• Seu propósito é salvar o homem do pecado, da morte e do
Diabo e estabelecer a comunhão eterna do homem com o
Cristo ressurreto.
• O poder salvífico do sacramento é mediado pela fé na
palavra e no sinal externos.
14
Batismo Cristo”.

O batismo é visto como um sacramento, mas não como no Outros elementos luteranos
catolicismo, nem como a teologia reformada – a qual o vê
como um rito semelhante à circuncisão. Para luteranos o • Eleição
batismo é algo regenerado ligado à fé. Inicialmente, Lutero
sustentava que a eficácia da regeneração no batismo
O luteranismo também afirma a doutrina da eleição/
dependia da fé dos pais do infante, dos padrinhos ou do
predestinação. Com o diferencial que não advoga a dupla
pastor. Posteriormente, ele mudou de opinião dizendo
predestinação, somente a predestinação para a salvação.
que o infante pode exercer fé e crerquando a Palavra era
proclamada sobre a água do batismo. Por causa isso, o
pedobatismo é um batismo de crente para os luteranos. O • Providência
batismo também é uma ordenação ao sacerdócio universal
de todos os crentes. Deus sustenta a sua criação. Ele dirige e orienta todas
as criaturas para que cumpram o propósito da própria
Eucaristia existência. Esse propósito tem o seu cerne na igreja.

Lutero rompeu com a ideia da ICAR da transubstanciação. • Antropologia

Ele e seus seguidores entendiam que Cristo está realmente
presente na Ceia. Essa doutrina recebe o nome de O homem é visto como tendo corpo e alma, ou seja,
consubstanciação. A diferença é que ao elementos da ceia dicotomia. E a alma tem sua origem a partir dos pais da
não passam a ser literalmente o corpo e sangue de Cristo, pessoa, isto é, traducionismo.
mas passa a contê-los. Zuinglio chegou a discordar de
Lutero. Para ele, a Ceia é uma lembrança do sacrifício de
Cristo. Lutero insistia na presença do Cristo ressurreto em
todo lugar com base, a chamada ubiquidade do corpo de

15
• Hamartiologia Essa vida traz uma progressão de santidade. Porém, o
cristão não chega a um nível de perfeição em vida, mas só na
Luteranos acreditam que todos os homens nascem ressurreição.
pecadores, ou seja, eles creem na depravação total.

• Expiação

A morte de Cristo foi penal, substitutiva e universal, e

aconteceu a favor de toda a humanidade objetivamente.

• Soteriologia

A base da Soteriologia luterana é a justificação pela fé. Ela

vem por intermédio da graça, por meio das Escrituras que
ensina os pecadores a se arrepender de seus pecados. A
graça divina é universal e é o causa a conversão, mas é
resistível.

• Santificação progressiva

Luteranos rejeitam qualquer forma de perfeccionismo.

Como diz a famosa máxima de Lutero simul justus et
pecator, simultaneamente justo e pecador. O cristão sempre
está vivendo diante de Deus, Coram Deo, portanto é esperado
que ele viva de acordo com aquilo que agrada o seu Senhor.

16
AULA 4 - ORTODOXIA ORIENTAL • O uso de pão sem fermento na eucaristia (Ocidente)

• O primado do papa (Ocidente)

Breve histórico

E
• A subordinação da Igreja ao Estado (Oriente)
nquanto o Ocidente foi muito influenciado por
Agostinho, o Oriente seguiu teólogos como Atanásio
• O celibato compulsório dos sacerdotes (Ocidente)
e os chamados Pais Capadócios (Basílio, o grande;
Gregório de Nazianzo e Gregório de Nissa). Enquanto
no Ocidente a mentalidade foi herança do sistema legal • A questão do uso de barba pelos sacerdotes (Oriente)
romano, no Oriente houve uma influência filosófica, mística
e personalista. Por causa disso as perspectivas são tão • Linguas diferentes (latim no Ocidente e grego no Oriente)
diferentes.​

• Ambientação política diferente (o Ocidente passa pela

O Cisma entre a Igreja Oriental e Ocidental aconteceu dissolução do Império Romano e ataques das tribos
em 1054. Esse evento separou a ICAR da Igreja Oriental. bárbaras. O Oriente passava por estabilidade política com
Entretanto, suas raízes remotam datas antigas. Dentre os o Império Bizantino).
motivos para o Grande Cisma, como é conhecido, podemos
citar os motivos teológicos:
• Posteriormente, a expansão muçulmana prejudicou muito
a Igreja Oriental.
• A questão Filioque: A adição de “e do Filho” ao credo
niceno para se referir à procedência do ES.
• Enquanto no Ocidente a Igreja exercia uma liderança
política, no Oriente, a Igreja era aliada ao Estado e
• Controvérsia sobre as estátuas (no Ocidente) e o uso de próxima a ele.
ícones na adoração (no Oriente)

17
• Havia uma ênfase pragmática e legal na doutrina no
lado ocidental enquanto o pensamento oriental era mais
místico e personalista.
• O Ocidente tinha uma tendência mais inovadora
quanto às circunstâncias, enquanto o Oriente era mais
conservador.
• A preocupação ocidental era mais voltada para o
indivíduo e seu destino no mundo vindouro. Já no Oriente
havia uma crença para a deificação da pessoa nesta vida
(ver adiante).
Dessas questões, certamente a mais séria foi a questão
Filioque porque refletia diretamente sobre o entendimento da
Trindade.
Também podemos citar motivos histórico-políticos que
contribuíram para o cisma como:
Há também motivos metodológicos como:
Diante de tantas diferenças, o cisma foi praticamente
inevitável. Depois do Grande Cisma, em 1453, a capital do
Império Bizantino, Constantinopla, caiu diante dos ataques
muçulmanos e a Igreja ortodoxa foi empurrada para o
norte, nos países eslavos, especialmente a Rússia. A Igreja
ocidental tomou rumos que levaram o catolicismo para um
ambiente de maior influência, enquanto isso não acontecia
na parte oriental. A igreja oriental influenciaram a Reforma
no norte da Europa. Luteranos, e especialmente anglicanos,
usaram-se das fontes patrísticas que constituíam o
fundamento da Igreja Oriental. Essa preservação de credos é
uma característica marcante no conservadorismo Oriental.
Teologia da Igreja Oriental
Teologia apofática
Uma das principais características da Igreja Oriental é
na transcendência de Deus e que ele é racionalmente
desconhecível. Deus somente pode ser descrito
apofáticamente, ou seja, por negação em vez de declarações
que afirmam o que ele é. Por exemplo, sabemos o que é algo
finito, mas não temos como conceber algo infinito. Imaginar
algo infinito é pensar algo absurdamente grande, mas até
nesse processo imaginativo o infinito tem “limites” dentro
da nossa mente. O infinito passa a ser algo simplesmente
“muito muito grande”. A teologia apofática declara que Deus
não é finito. Logo, pela declaração negativa conhecemos
Deus por aquilo que é contrário ao seu ser porque ele
transcende as definições que possamos dar ao fazer
18
declarações positivas. Toda declaração positiva acaba por
limitar Deus em algum nível. A teologia ortodoxa considera
que o caminho para compreender Deus deve ser feita
apofáticamente porque isso revela o fracasso humano em
compreender Deus, logo evidenciando sua transcendência.
As afirmações catafáticas (positivasa) acerca de Deus não
são totalmente descartadas pela teologia Oriental, mas são
consideradas verdadeiras num sentido relativo e não captam
a essência de Deus. Para teólogos ortodoxos a natureza do
que Deus é está além de nossa compreensão. Isso quer dizer
que os teólogos orientais não se negarão dizer que Deus é
santo, mas entenderão que o máximo que podemos imaginar
por santidade não é capaz de captar a essência divina. Deus
é santo em um nível que transcende nossa compreensão de
santidade.
Não obstante, eles não negam a imanência divina. Deus
existe em sua criação por meio de suas energias divinas. Isso
quer dizer que Deus trabalha de forma íntima na sua criação
enquanto em sua essência permanece separado da sua
criação. Isso não implica numa impessoalidade divina, mas
que ele é apreendido quando suas ações são apreendidas.
Trindade
Há uma profunda ênfase na Trindade. Ao passo que o
Ocidente tende a enfatizar a Unidade de Deus, o Oriente
enfatiza a Pluralidade. A teologia Oriental vê a Trindade como
uma verdade profunda para os relacionamentos humanos.
É claro que isso não quer dizer que o Ocidente não enfatize
a Trindade, mas que cada lado tomou caminhos diferentes
para a explicação da doutrina. A Teologia Oriental enfatiza
muito mais a comunidade intra-tinitária e a mútua habitação
das pessoas da Trindade uma na outra. É essa habituação
mútua, pericose, que marca a teologia trinitária oriental e
assim, sendo feitos à sua imagem e semelhança, devemos
manifestar essa vivência em comunidade.
Filioque e o Espírito Santo
Em 381, o Concílio de Constantinopla declarou que o ES
procede do Pai, porém, o Concílio de Toledo, em 589,
adicionou o termo “filioque” para dizer que ele também
procede do Filho. A ênfase trinitária da Ortodoxia vê o Pai
como fonte de tudo, é dessa forma que a Trindade opera em
seus papéis. Dizer que o Filho teria o mesmo papel do Pai
seria uma quebra na relação comunitária trinitariana. Por
causa disso, essa “pequena” adição causou o Grande Cisma.
19
Imagens
A igreja ortodoxa entende que Deus se revela no AT de forma
transcendente em relação a qualquer imagem que possa ser
feita dele, por isso o mandamento contrário à manufaturação
de imagens para adorá-lo. Porém, o uso de imagens pela
Igreja Oriental não é como a ICAR. A Igreja ortodoxa entende
que Cristo é distinto do Pai porque o Filho é a imagem do
Pai. Um dos teólogos ortodoxos, Gregório de Nissa, diz que:
“O Filho está para o Pai assim como a beleza arquetípica
permanece em sua imagem [...] e devemos pensar nessas
duas coisas simultaneamente”. Ou seja, embora seja divino,
o Filho é distinto do Pai – perceba o entendimento plural
aqui – e é a imagem dele. Essa imagem não manifesta a
pessoa do Pai, mas a sua natureza. A partir dessa teologia
da imagem de Cristo que se desenvolveu a teologia das
imagens. A encarnação tornou conhecida a natureza do
Pai no Filho. Dessa forma, as imagens da igreja ortodoxa
não possuem o intuito de veneração, mas de exaltação da
encarnação querevela quem Deus é.
Ícones
O termo philokalia é algo que existe na teologia oriental. O
termo significa amor pelo belo. Os ícones da Igreja Ortodoxa
são uma forma de expressar esse amor colocando a estética
a serviço do sagrado. Não é propriamente um culto, mas
uma expressão. A teologia oriental gosta de comunicar suas
ideias visualmente.
O uso de ícones foi um assunto controverso nos séculos
VIII e IX por conta de questões teológicas como a natureza
da humanidade de Cristo, o significado da redenção e o
entendimento cristão da criação material. O uso dos ícones
como auxílio à adoração foi mantido no sétimo e oitavo
concílio ecumênicos em Niceia (787).
O cristão ortodoxo afirma que não adora ao ídolo no qual se
prostra, mas o que ele representa. Eles também dizem que
não uma adoração, pois esta é devida somente à Deus, mas
os veneram. Os ícones são considerados como elementos
que nos lembram de Deus e usados para instrução. O uso
deles está enraizado na encarnação de Cristo como uma
representação física do Pai. Em Cristo, o Deus incorpóreo
viveu entre os homens, como diria João Damasceno. O
ícone seria uma forma de expressar esse evento e do
cristão ortodoxo dirigir sua adoração a Deus. A doutrina da
encarnação nos diz que, ao Deus assumir forma humana, a
matéria pode ser redimida.Ou seja, o uso de ícones expressa
um entendimento teológico que a criação pode ser redimida.
A Igreja ortodoxa também tem a prática da oração pelos
santos entendendo que não é um culto, como naICAR, mas
algo semelhante ao pedido que outros crentes intercedam
20
por eles. Eles entendem que a unidade da Igreja permite
que os santos que partiram e estão na presença de Jesus
intercedam por seus irmãos da mesma forma que nós que
estamos vivos oramos uns pelos outros.
Deificação (Theosis)
O entendimento soteriológico oriental é mais místico que
o ocidental. A deificação, ou theosis, é algo fundamental
para a teologia oriental. Atanásio afirma que Cristo se
tornou homem para que nós fôssemos feitos participantes
da natureza divina. Máximo, o Confessor, disse que “Tudo
que Deus é, exceto por uma identidade na natureza, é o que
alguém se torna quando é deificado pela graça”. Ou seja, o
conceito de deificação não é uma divinização do ser humano,
mas uma transformação dele para que se torne semelhante
ao Criador.
Os ortodoxos se baseiam na oração sacerdotal de Cristo em
favor dos crentes para extrair o conceito de deificação (Jo
17.21). Aqueles que são salvos são tornados um de forma
semelhante ao Filho e o Pai. A humanidade passa a ser
habitante da plenitude da Trindade. Os crente são aqueles
que expressam a santa Trindade em si mesmos (2 Pe 1.4).
O Espírito Santo é o meio para a deificação, porque ele
habita na de forma dinâmica na Igreja. Ele é quem realiza a
salvação. O Pai concebeu a salvação, o Filho a realizou na
cruz e o Espírito a finaliza e aperfeiçoa a vida do crente.
Essa união com Deus não deve ser vista como um
panteísmo. Deve-se lembrar que os ortodoxos também
entendem que Deus é transcendente ainda que deifique seu
povo. A união com Deus não implica uma união de essências,
não é uma fusão com Deus. Os seres humanos deificados
refletem a unidade na diversidade do Deus trino. Os crentes
não são transformados na Trindade, eles permanecem em
seu status de criatura.
A deificação, portanto, é uma exaltação daquele que é salvo
para à perfeição e para a vida eterna em semelhança a Deus.
Isso estabelece uma comunhão pessoa e íntima entre os
homens, agora deificados, e seu Criador. A deificação é um
processo que encontra sua plenitude na ressurreição onde
corpo e alma serão glorificados. Assim, ela tem semelhança
com o entendimento ocidental da santificação progressiva.
A deificação gera no crente a vontade de ir à igreja,
obediência aos mandamentos, oração em espírito e em
verdade. Ela também tem dimensões sociais que envolvem o
amor ao próximo, caridade e pressupõe que Igreja participa
da vida comunitária e dos sacramentos. As obras na
21
deificação são vistas como a exteriorização de uma realidade testemunho interno do Espírito Santo que mantém a Igreja na
espiritual interna. verdade.​

Escrituras, tradição e testemunho do Espírito

O Ocidente focaliza a autoridade na objetiva Palavra de Deus,

já o no Oriente a autoridade é mais interna, comunicada
pelo Espírito. É interessante que para os olhares ocidentais
isso pode soar como subjetivismo, mas o Oriente lutou
com hereges que partiram de dogmas e da Escritura para
estabelecer suas doutrinas. Os hereges demonstraram
que podiam manipular a Bíblia tão bem quanto os santos.
Isso levou a ortodoxia buscar uma autoridade fora do texto
bíblico.

Os ortodoxos reconhecem que nem toda tradição tem

o mesmo peso ou importância. Portanto, ela é vista de
forma hierárquica. Enquanto uma tradições são primárias,
outras são secundárias. A tradições primárias são aquelas
que advém dos sete primeiros concílios ecumênicos. Eles
consideram que as Escrituras não devem ser consideradas à
parte do testemunho dos pais.

A ortodoxia, por causa de seu viés conservador, vê novidades

como anátema. O uso de elementos como credos também
não é definitivo, porque podem ser manipulados. É o

22
​AULA 5 - AS TEOLOGIAS DA LIBERTAÇÃO
Contexto
N
a segunda metade do século XX, começaram a surgir
vertentes da teologia que se concentravam mais
numa prática correta que numa crença correta. Como
resposta à ênfase na transcendência dada por Karl Barth
na neo-ortodoxia e também em resposta ao problema da
opressão humana, essas teologias que ficaram conhecidas
como “teologias da libertação” foram aparecendo. Elas
focam sua atenção nesses males sociais e sua correção
mais do que no pecado humano. A teologia teria o papel
de acabar com essas estruturas de opressão, podendo até
mesmo recorrer à violência se for necessário.
Esses teólogos dizem ter ouvido a crítica dos ateus que o
cristianismo é abstração e simples argumentações irreais
e formulado uma teologia que está envolvida no processo
histórico respondendo especialmente às questões daqueles
que sofrem opressão.Eles alegam que as teologias da
libertação são uma busca profundamente cristológica
da prática correta, a qual resulta da justaposição de uma
reflexão crítica da atividade pastoral eclesiástica e sua
interpretação histórica à luz da revelação divina.
As teologias da libertação pressupõem que toda teologia
é histórica e socialmente condicionada. As teologias da
libertação submetem por meio de um pensamento dialético
as crenças e interesses à crítica.Uma segunda pressuposição
que é feita é que o pecado não é só pessoal, mas que existe
um aspecto estrutural e institucional no pecado, no mal e na
opressão que vitima o pobre para o benefício dos que estão
em posição de poder.
Teologia da esperança de Moltmann
Jürgen Moltmann com sua Teologia da Esperança serviu de
inspiração para muitas teologias políticas e de libertação. O
tema desenvolvido por ele veio depois de uma experiência
pessoal na qual foi feito prisioneiro de guerra alemão durante
a Segunda Guerra Mundial. Em linhas gerais, Moltmann
desenvolve uma teologia profundamente escatológica que
está baseada na esperança do Reino vindouro de Cristo
onde todas as promessas seriam cumpridas. Ele olhou para
os prisioneiros à sua volta e viu que eles tinham perdido a
esperança de vida e assim a tristeza dominava a sua alma.A
Teologia da Esperança olha para as promessas futuras como
um motivador para a vida presente.
Moltmann não se baseou somente na própria experiência.
Ele foi influenciado pelo cristocentrismo de Karl Barth
23
adicionando um caráter histórico-escatológico onde o
que foi conquistado por Cristo na cruz e ressurreição é a
fundamentação dessa esperança. O cristão, portanto, não
olha para o passado, mas para o futuro no Reino de Deus.
Outra influência dele foi o filósofo judeu, marxista e ateu
Ernest Bloch em seu O princípio da esperança. Bloch uniu a
escatologia judaica e a analise social marxista para explicar
como os homens estão predispostos a vencer o estado de
alienação para rumar uma utopia. Rejeitando o ateísmo de
Bloch, Moltmann adaptou sua tese dizendo que a esperança
cristã não é utópica, mas está fundamentada em Cristo.
Johannes Menz, colega de Moltmann, tomou o trabalho dele,
partindo de uma metodologia prática política para refletir
teologicamente e desenvolver um método teológico para a
teologia da libertação.
Teologia da libertação latino-americana
Contexto histórico
A teologia da libertação encontrou um ambiente muito
propício na América Latina. Na época das grandes
navegações e expansões para desbravar novas terras, a
ICAR liderou as empreitadas nas Américas Central e do
Sul. Os reinos de Portugal e da Espanha apoiados pela
ICAR desbravaram novas terras e estabeleceram um
regime de opressão através da escravidão e domínio dos
povos indígenas que eram nativos das terras. O ambiente
da América Latina era caracterizado por uma dominação
econômica e política por parte de uma minoria sobre uma
maioria que não podia oferecer tanta resistência.
Violência institucional
Não é preciso ter as lentes da teologia da libertação
para ver que existem algumas estruturas que dificultam
o desenvolvimento social, ou uma mudança política.
O diferencial da teologia da libertação é o enfoque no
rompimento dessas estruturas para solucionar questões
humanas. Os teólogos da libertação identificam dois tipos
grupos daqueles que são pobres: Os que são pobres por
motivos socioeconômicos e os que são pobres por causa do
evangelho. O primeiro grupo tem algumas subdivisões:
• Aqueles que são privados ou carentes de necessidades
básicas vitais;
• Aqueles que são pobres por causa de exploração
trabalhista;
24
• Os discriminados por causa de sua raça;
• Os discriminados por causa de seu gênero;
• Os discriminados por causa de sua cultura (povos
indígenas).
A resposta da Teologia da Libertação
O surgimento
Analisando tudo isso, alguns bispos e padres protestaram
contra essas injustiças. Seu surgimento é geralmente
atribuído a uma conferência que aconteceu em Medelin,
Colômbia, onde a liderança tradicional da igreja se reuniu
para combater essa violência institucional.
Gustavo Gutiérrez apresenta o texto padrão de teologia
da libertação dizendo que essa é uma “teologia de
transformação libertadora da história da (humanidade) e
também, portanto, daquela parte da (humanidade) – reunida
como ecclesia – que confessa abertamente Cristo. Essa
é uma teologia que não para na reflexão sobre o mundo,
mas tenta ser parte do processo pelo qual o mundo é
transformado. É uma teologia aberta – no protesto contra a
dignidade humana tripudiada, na luta contra o despojamento
da vasta maioria do povo, no amor libertador e na construção
de uma nova sociedade, justa e fraterna – à dádiva do Reino
de Deus.
A hermenêutica da teologia da libertação de forma geral
tenta questionar a interpretação tradicional levantando uma
suspeita da cultura e dos métodos exegéticos normalmente
empregados. Ela busca uma interpretação da Palavra de
Deus que liberte da opressão a comunidade em questão.
O teólogo se torna um agente de Deus na transformação
daquela situação. É uma hermenêutica que parte da práxis da
comunidade para encontrar textos que ofereçam respostas
às suas questões.
A justificativa teológica da teologia da libertação
Os seus proponentes reconhecem que romperam com os
paradigmas tradicionais para articular uma nova maneira
de fazer teologia. Eles entendem que Deus é o doador e
sustentador da vida que se vê impelido a ajudar os pobres
(Ex 3.7-9; Is 1.10-17; 58.6-7; Mc 7.6-13). Jesus ao vir
como pobre e fazer deles seus principais receptores, ele
se identifica com os pobres e até mesmo isso seria uma
forma de estabelecer um fator importante de decisão
sobre a salvação. Os cristãos genuínos são aqueles que
compartilham com os pobres e são esses que herdarão a
25
vida eterna.
O método da teologia da libertação
Teologia. A teologia passa a ser vista com maior ênfase na
ortopraxia. A teologia é um esforço para articular a ação
da fé em vez de uma tentativa de compreender Deus ou
suas ações de modo abstrato. Nessa nova metodologia, o
conhecimento surge a partir doencontro do ser humano com
a realidade.
Compromisso e Escrituras. Deus não passa a ser conhecido
por meio de doutrinas, mas a partir de um compromisso
obediente com o projeto dele mesmo na História, ou seja,
os pobres. Depois de engajar-se no projeto de Deus, entram
as Escrituras. Isso quer dizer que primeiro as pessoas se
engajam no processam de libertação e só depois leem as
Escrituras.
Bíblia e revelação. Ela é o relato da atividade libertadora de
Deus. A natureza da Bíblia não impediria revelação por outras
fontes. As normas finais de julgamento provêm de verdades
reveladas que são aceitas pela fé. O ‘depósito da fé” vive na
igreja e desperta compromissos de acordo com a vontade de
Deus. Apesar da revelação ser mais abrangente que a Bíblia,
ela é normativa e primária da ação libertadora de Deus a
favor de seu povo.
Marxismo. O marxismo foi adotadoem sua interpretação
histórica como instrumento de análise social com o objetivo
de solucionar os problemas encontrados. O capitalismo é
mau porque traz essa disparidade de classes e opressão.
O socialismo seria uma forma ideal de economia. Ainda
que nem todos os teólogos da libertação façam uma
identificação do socialismo com o Reino de Deus, alguns
fazem.
Escatologia. O alvo escatológico é uma mudança radical nas
estruturas da sociedade.Busca-se uma criação contínua,
uma revolução cultural permanente.
Pontos chave
• A fé viva e verdadeira inclui a prática da libertação
• O Deus vivo coloca-se do lado dos oprimidos e contra os
“faraós”;
• O Reino é o projeto de Deus na história e na eternidade;
• Jesus, o Filho de Deus, foi oprimido a fim de nos libertar;
26
• O Espírito Santo está presente na luta dos oprimidos;
• Maria é a mulher profética e libertadora do povo;
• A Igreja é um sinal e um instrumento de libertação;
• Os direitos dos pobres são os direitos de Deus;
• Potencial humano libertado torna-se libertador.
Teologia Negra
A teologia negra advem do sofrimento da escravidão. Uma
de suas principais lutas é contra o racismo para que a
comunidade negra supere a injustiça e frustração. O Jesus
da teologia negra é aquele e está ao lado do seu povo e sofre
com ele, podendo conduzí-lo assim à liberdade. Uma de
suas fontes foi Dietrich Boenhoeffer que buscava resolver os
problemas de uma cultura secular e envolvido nisso estava a
causa negra.
Origens
As origens da Teologia Negra podem ser traçadas até os
anos 60 com o movimento liderado por Martin Luther King
e o Movimento Black Power. Enquanto o movimento de
Luther King era mais pacífico, o Black Power empregava
meios mais violentos para alcançar seus objetivos. Em 1969,
foi publicado o Black Manifesto, o qual estabeleceu uma
teologia contextualizada para a comunidade negra.
A teologia negra é uma vertente da teologia da libertação,
embora seu desenvolvimento tenha sido feito sem o mesmo
que as teologias da libertação passaram. Enquanto a teologia
da libertação latino-americana era predominantemente
católica, a teologia negra eranorte americana e
majoritariamente protestante.
Radicalização
Com o fim dos anos 60 houve uma radicalização do
movimento. James Cone foi um dos mais proeminentes e
militantes dos teólogos negros. Em suas palavras “o Black
Power se concentra na condição política, social e econômica
do povo negro, a teologia negra põe a identidade negra num
contexto teológico, mostrando que o Black Power não é
apenas coerente com o evangelho de Jesus Cristo, mas é o
próprio evangelho de Jesus Cristo”.
Ele acaba elevando a etnicidade a uma categoria teológica.
Ser negro comunica mais que a cor de pele. Também
27
se refere a uma perspectiva de vida e uma cosmovisão
específica. Jesus é o libertador do povo negro. A teologia
negra encontrou sua autenticação na própria experiência de
sofrimento. Ela produziu uma religião focada na libertação e
o bem da humanidade.
A teologia negra está profundamente identificada com
a libertação da opressão de forma que a salvação só
encontrada quando e experimenta libertação dessa opressão.
Os teólogos negros chegam a considerar o evangelho branco
desumanizador.
Essa teologia encontrou solo fértil na África do Sul no
contexto do apartheid. Já nos EUA, foi através de Martin
Luther King que ela estava mais identificada.
Teologia feminista
A teologia feminista também surgiu nos anos 1960. Como
movimento, ele nasceu com a publicação do livro Mística
feminina de Betty Friedan em 1963. Essa teologia surge
de uma busca pelo papel feminino diante de um ambiente
dominado por homens. Seu objetivo é tomar o argumento
paulino em Gálatas 3.26-28 como uma uma realidade que
não existe distinção de gênero nem de etinicidade.
Há uma ampla abrangência da teologia feminista indo desde
vertentes que valorizam as Escrituras em algum nível até
aqueles que a descartame a substituem por uma promoção
de igualdade – e até mesmo superioridade – das mulheres.
Questões hermenêuticas
O ponto de partida é uma crítica ao androcentrismo e
misoginia da teóloga patriarcal. Essas expressões patriarcais
são vistas como culturalmente localizadas e até mesmo
acréscimos na Bíblia, como seria o texto de 1 Timóteo 2.12.
Algumas teólogas feministas defendem uma tradição
profética libertadora da fé bíblica que pode ser vista em
alguns textos bíblicos. São esses textos que funcionam
como norma para julgar outros textos. Isso acaba
estabelecendo um cânon dentro de outro cânon. A tradição
profética determina quais textos devem ser entendidos
como possuindo autoridade e quais devem ser vistos como
adicionados ou culturalmente localizada.
Outra metodologia hermenêutica é procurar recuperar
passagens que foram negligenciadas ou distorcidas pelo
patriarcalismo. Passagens serão reexaminadas procurando
pontos que foram definidos por uma ênfase masculina.
Também são procuradas passagens onde mulheres são
28
protagonistas sem considerar as pressuposições patriarcais. não necessária, é nas ações que Jesus fez que elas focam.
Seria a inclusão dos marginalizados através de sua vida
Uma terceira postura é bem mais radical porque considera e pregação. Uma área de entendimento diverso entre as
que a própria Bíblia é resultado de uma hermenêutica teólogas feministas é acerca das diferenças atribuídas aos
patriarcal e, por causa disso, está repleta de ideias ilegítimas sexos. Isso teria sido construído culturalmente e levou à
acerca de inferioridade e subordinação femininas. subjugação das mulheres. Por outro lado, algumas dirão
que homens e mulheres são “essencialmente diferentes
e destaca a importância do entendimento da existência
As teólogas feministas também procuram imagens femininas física como a corporificação e a capacidade de concepção e
de Deus, ainda que reconhecam as figuras masculinas. maternindade com tudo que isso implica”. (SAWYER, 511).
Essas figuras femininas são especialmente maternas.
Seria um erro conceber Deus como masculino em oposição
ao feminino. Isso projetaria um preconceito patriarcal. A A teologia feminista não é monolítica. Há vertentes
teologia feminista também sustenta que a forma dominante moderadas até vertentes mais redicais que invocam a Deusa.
de pecado é o orgulho. Argumentam quea mulher geralmente
sofre do pecado da falta de autoestima. A mulher desviaria
do potencial que Deus lhe deu para cair em trivialidade. O
pecado é compreendido de modo predominante como a
quebra do relacionamento com Deus, com os outros e com a
natureza e a própria vida. Por causa disso, a salvação é vista
como a cura de relacionamentos.

Cristologia

Por Jesus ter encarnado homem, esse é um dos pontos

mais desfavoráveis à teologia feminista. Porém, em vez de
focar no gênero de Jesus, que seria contingente, ou seja,

29
AULA 6 - TEOLOGIA
ARMINIO - WESLEYANA
​Desenvolvimento do arminianismo
O
arminianismo surge como uma resposta ao
calvinismo em alguns dos seus pontos. O
arminianismo clássico enfatiza a expiação ilimitada
e a liberdade humana, ao passo que a vertente wesleyana,
ainda concordando com a vertente clássica, enfatiza
aspectos da justificação e santificação.​​
Teodoro de Beza foi o sucessor de Calvino, porém o
seu método teológico diferia do método de seu tutor.
Enquanto Calvino seguia uma metodologia indutiva de
análise das Escrituras, Beza seguiu uma análise dedutiva.
Além disso, Beza defendeu a dupla predestinação, ou
supralapsarianismo, um ponto que não foi tão evidente
na teologia da predestinação de Calvino. Essa mudança
de paradigmas causou um retrocesso à metodologia
escolástica fazendo com que a fé da igreja fosse reduzida ao
assentimento das afirmações e credos. Foi nesse contexto
que Jacó Armínio surgiu.
Jacó Armínio (1560-1609) esteve sob o ensino calvinista
enquanto estudou em Leyden, Genebra e Basileia. Quando
esteve em Genebra (1582, 1584-1586), ele foi aluno de Beza,
mas acabou rejeitando a teologia do mestre porque teve
aversão à teologia escolástica baseada na lógica aristotélica.
Quando foi chamado para refutar as ideias anabatistas de
Dirck Coorheert, seu processo de estudo o levou a questionar
alguns princípios calvinistas.
Armínio procurou retornar à metodologia de Calvino,
rejeitando o método de Beza. Em seus estudos, uma de suas
conclusões era que a expiação de Cristo era ilimitada tendo
produzido efeitos universais não somente para os eleitos e
benefícios para toda a humanidade que estaria capacitada a
responder a Deus. Armínio concordava com os reformadores
dizendo que a justificação era somente pela fé e que o
homem é totalmente depravado. Porém, discordando de
Beza, entendeu que o supralapsarianismo tornava Deus um
ser impassível e não amoroso. Ele optou pelo entendimento
que os seres humano possuem livre-arbítrio e os eleitos
são aqueles que respondem com féao chamado do Espírito
Santo.A predestinação seria condicional na visão de Armínio
e baseada na presciência, um pré-conhecimento passivo,
de Deus no qual ele antevê aqueles que iriam seguí-lo ou
rejeitá-lo. Consequentemente, o cristão também estaria livre
para rejeitar a Cristo durante sua caminhada.
Nos Países Baixos, os calvinistas tinham mais poder de
30
influência, mas ainda havia outros grupos como luteranos,
zwinglianos e anabatistas. As disputas não eram somente
entre arminianos e calvinistas, mas havia também algumas
entre esses grupis que foram citados. Uma dessas disputas
envolveu Franz Gomarus (1563-1641) e Armínio. Gomarus
era calvinista e discordava fortemente de Armínio. A situação
entre os dois ficou muito tensa ao ponto de Gomarus
espalhar comentários negativos sobre Armínio por todo o
país. Depois de um tempo nesse clima hostil, Armínio morreu
aos 49 anos.
A causa de Armínio foi defendida por um grupo liderado
por Jan van Oldenbarneveldt e Hugo Grotius, os quais
organizaram uma declaração de fé. Essa declaração foi
compilada por Jan Uytenboert e passou a ser conhecida
como Remonstrância. Por causa disso, esse grupo ficou
conhecido como os remonstrantes. O Sínodo de Dort
e a formulação dos cinco pontos do Calvinismo surgiu
justamente como uma resposta à Remonstrância. Nesse
sínodo, os arminianos foram considerados como hereges.
Apesar de ter alguma influência, o arminianismo não
mostrou muita estabilidade. Muitos dos que aderiram
ao arminianismo enveredaram por tendências como o
socianismo, o racionalismo e o universalismo. Na Inglaterra,
o arminianismo desenvolveu forte tendências socinianas e
desenvolveu uma visão pelagiana.
John Wesley
John Benjamin Wesley foi um pregador e teólogo muito
influente no século XVIII. Foi por meio dele que um grande
avivamento aconteceu na Inglaterra e outro, chamado de
Primeiro Grande Avivamento nos Estados Unidos.Após os
despertamentos, floresceu o movimento metodista, o qual
tinha uma teologia próxima a arminiana com algumas formas
de síntese diferentes. A ênfase de Wesley era a santificação
com ênfase nas experiências de crise da regeneração e da
santificação.
John Wesley nasceu em uma família de quarta geração
de pregadores anglicanos, seu pai era formado em Oxford
onde ele veio a estudar juntamente com um de seus 18
irmãos, Charles. Em Oxford, John e Charles Wesly buscaram
conhecer Deus por meio da intelectualidade, mas foi
influenciado por livros de Thomas de Kempis a uma vida
de devoção e ênfase na obediência. Enquanto estavam
em Oxford, John e Charles formaram um grupo de estudo
chamado Clube Santo. Por meio desse grupo é que começou
a ser praticado o metodismo, pois eles tinham certos
métodos de devoção como horários organizados para oração,
leitura, meditação. Nessa fase, ele ainda foi missionário nas
Colônias e seguia o princípio básico de que deveria estar bem
com Deus por meio da piedade, bondade moral, obediência
universal e rígida observação de todos os mandamentos.
31
Sua conversão de fato veio a partir do contato com os
morávios. Ele teve uma experiência de quase morte em uma
missão e viu a fé dos morávios que ficaram inabalados.
Depois, ele teve contato com ensino bíblico feito por eles
na rua Aldersgate, em Londres. Foi num desses encontros
que ele realmente se converteu e sentiu que cria em Jesus.
Isso foi em 1738. No ano seguinte,ele passou um tempo na
Alemanha com eles e voltou paraInglaterra, pregando ao ar
livre. Foi a partir daí que o avivamento começou.
SANTIFICAÇÃO
Uma das doutrinas mais marcantes no ensino de Wesley era
a da perfeição cristã. Ele defendia que o coração do crente
pode ser purificado ao ponto que ele pode viver em perfeito
amor em relação a Cristo. Esse amor governaria o coração
do crente de forma a dirigir todas as suas ações de forma
plena. Isso não quer dizer que a pessoa não teria ações fruto
de ignorância ou que cessaria completamente de pecar. Não
é um estado de vida completamente ausente de pecado.
Porém, sendo a santificação também operada por Deus, ela
levaria o crente a um amor gradual e cada vez maior por Deus
que iri abrangendo o seu ser.
Metodismo e o movimento de santidade (Holiness)
O metodismo foi estabelecido formalmente na América do
Norte por Francis Asbury. A denominação da Igreja metodista
episcopal adotou o Livro de oração comum e Os trinta e
cinco artigos de religião de forma adaptada por Wesley como
liturgia.
O metodismo cresceu bastante após a morte de Wesley,
mas a teologia foi sendo negligenciada. Na segunda metade
do século XIX, ele passou por controvérsias envolvendo a
escravidão, fanatismo religioso por causa da “perfeição”,
participação em sociedades secretas e o abuso de natureza
autocrática do episcopado.
O movimento de santidade surgiu como uma resposta ao
esquecimento dos ensinos de Wesley sobe santificação
e santidade. O movimento enfatizava a conversão e a
santificação. A santidade era entendida como o repúdio a
qualquer prática ou costume que tivesse aparência mundana.
A sua teologia visava revitalizar as igrejas com o ensino
de Wesley sobre a santificação. A partir desse movimento
surgiram igrejas como a metodista wesleyana, a igreja
holiness peregrina, aIgreja do Nazareno, a Igreja de Deus e
a metodista livre. Entretanto, os líderes do movimento se
afastaram dos ensinamentos de Wesley, embora alegassem
seguí-lo, por causa da diferença de contexto cultural.
32
O teólogo Adam Clarke influenciou que os grupos se
afastassem do ensino de Wesley. Ele entendia que a
santificação era instantânea, ao passo que Wesley a via
como progressiva. Clarke interpretou que as Escrituras não
incentivam uma santificação gradual, mas uma purificação
instantânea e completa, livre de todo pecado, assim como
um pecado instantâneo também.
Em parte, isso se deve à omissão de Wesley em definir a
inteira santificação nos Artigos de religião que ele preparou
para o metodismo. Por causa disso, algumas igrejas ou
se acomodaram à ideia da santificação gradual, ou a
negligenciassem de vez. A reação aio mundanismo gerou
a necessidade de retorno às raízes holiness-wesleyana. O
zelo pela santidade dos líderes os fez adotar uma leitura
doutrinária que reprovava a ideia da santificação progressiva.
Os partidários do movimento de santidade acabaram
pendendo para o legalismo porque desenvolveram padrões
para seus membros. A santidade passou a ser vista como
prática de certas atividades e abstinência de outras e não
do perfeito amor. Alguns teólogos holiness tentaram fazer
uma distinção entre santidade e maturidade. A primeira
seria instantânea, já a segunda gradual. Um desses é Orton
Wiley, o qual diz que a pureza é o resultado da despoluição
do pecado , já a maturidade advém do crescimento na
graça. A pureza seria alcançada por um ato instantâneo e a
maturidade por uma progresso.
Alguns desses grupos sintetizaram a teologia de Wesley
com as proposições teológicas do arminianismo posterior
à Remonstrância. O movimento também tinha a tendência
de ser identificado com a autonegação ascética e a negação
da personalidade do crente. Era comum uma ênfase no
sentimentalismo e numa reivindicação de “direção do Espírito
Santo” mesmo se esta contradissesse a prescrição bíblica.
Não obstante, ainda que Wesley tenha enfatizado o aspecto
experimental da conversão e santificação, ele rejeitava esse
tipo de fanatismo.
PENTECOSTALISMO
O pentecostalismo surgiu da teologia holiness-wesleyana.
Segundo a doutrina holiness, a inteira santificação é uma
“segunda benção” da graça que é consumada pelo batismo
no Espírito Santo. Charles Fox Parham formulou que a
evidência inicial do batismo no Espírito Santo é falar em
línguas estranhas. O próprio Wesley não usou a expressão
“batismo com o Espírito Santo”. Ele foi usado por teólogos
subsequentes como John Fletcher, Phoebe Palmer e John
Inskip. Parham ensinava que a santificação total era a
segunda benção e a glossolalia a terceira benção. Com o
tempo, alguns deixaram de lado a santificação e focaram
33
apenas na segunda benção, nos sinais e prodígios.
O marco do movimento pentecostal aconteceu em 1906 na
rua Azuza, em Los Angeles. Muitos líderes do movimento
de santidade rejeitaram o pentecostalismo, mas outras
denominações foram se aproximando, dentre as quais a
Assembléia de Deuscom seu fundador William Durham. Ele
ensinava que a santificação era uma obra progressiva do
Espírito sendo iniciada na cionversão. O batismo no Espírito
Santo seria a segunda benção e era evidenciada pelo falar
em línguas.
Teologia wesleyana-arminiana
• Eleição/predestinação
A predestinação é o plano geral de salvação geral de Deus,
que deseja salvar todos os seres humanos e adotá-los como
filhos por meio de Cristo. A predestinação é entendida como
a preciência, o conhecimento passivo de Deus. Por meio dela,
Deus tem um conhecimento antecipado da fé e os escolhe
com base nisso.
• Decretos
Wesley negava a dupla predestinação. Como Armínio, ele
entendia que: 1) Deus decretou a salvação por meio de Jesus
Cristo; 2) Decretou que aqueles que se arrependessem e
cressem seriam salvos; 3)Decretou a graça preveniente; 4)
Decretou quem seria salvo e condenado com base no pre-
conhecimento da decisão livre dos seres humanos.
• Providência
Deus cuida de todo o mundo, sustenta-o e governa.
Ao mesmo tempo que exerce influência sobre os seres
humanos, ele respeita a liberdade e responsabilidade
humana. O teólogo Thomas Oden desenvolveu uma teologia
da providência em três níveis: 1) Preservação: a providencia
que sustenta, agindo por meio da conservação da leis da
natureza; 2) concorrência: providência permissiva por meio
da qual Deus coopera com as circunstâncias humanas e
naturais; 3)governança: providência orientadora, na qual ele
guia todas as coisas para seu propósito maior.
• Antropologia
Wesley acreditava no pecado original e que sem a graça
preveniente o ser humano era incapaz de escolher a Deus.
34
• Pecado
A maioria dos wesleyanos crê na depravação total. Ainda
que Wesley parecesse defender uma forma de federalismo
onde todos são culpados pelo pecado de Adão, os teólogos
contemporâneos diferem em como essa depravação foi
transmitida entendendo que os pecados são transmitidos
pelos pais a mesma forma que algumas características
físicas são passadas geneticamente. Outros tentaram dizer
que a humanidade não é culpada por causa do pecado de
Adão, mas sofreos efeitos por causa desse pecado. Em anos
posteriores, Wesley modificou suam forma de pensar dizendo
que a culpa herdada pelo pecado original foi cancelada na
cruz.
O pecado original na tradição wesleyana é visto como
uma corrupção da natureza humana com a morte como
penalidade universal. Wesley também cria na depravação
total do ser humano. A graça preveniente seria justamente
uma benção derramada por Deus para capacitar o homem
para escolhe-lo livremente. Ela é dada para restaurar o que
foi perdido na queda.
• Salvação
Wesleyanos são sinergistas. Eles entendem que a salvação
é iniciada por Deus, mas correspondida pelo ser humano,
podendo ser resistida. Embora isso não seja algo parecido
com o pelagianismo, pois neste a salvação é iniciada pelo
homem. Wesley via a segurança da salvação como um
testemunho interno do Espírito Santo. A fé justificadora é
a uma garantia divina da provisão de Cristo. Ele também
afirmava que a justificação é somente pela fé. Porém, há
declarações que tornam a justificação condicionada à
obediência e ao progresso na santificação.
A conversão teria prioridade temporal sobre a regeneração.
A salvação é iniciada pela graça preveniente, seguida da
convicção e arrependimento. Depois disso, segue-se a fé
salvífica, justificação, regeneração e a adoção. A santificação
é a libertação presente e contínua do pecado em si. A
santificação acontece no momento da justificação. Segundo
a tradição wesleyana, os cristãos experimentam um encontro
com graça sendo assim capacitados a amar a Deus de forma
perfeita.
Os wesleyanos da tradição holiness afirmam que a inteira
santificação é uma experiência instantânea e única, já outros
a vêem como uma experiência de crise. Algumas vertentes
holiness defendem que no momento da inteira santificação
a natureza adâmica é purificada ao ponto de ser impossível
que o cristão peque, porém isso nunca foi defendido por
Wesley.
35
A perseverança na teologia wesleyana é vista à luz do
sinergismo. Aquele persevera, é eleito, mas persevera
justamente por causa da cooperação com Deus. Portanto, há
a possibilidade de que ele rejeite a Cristo podendo chegar a
uma apostasia final. Não obstante, se o cristão se arrepender
restaurará seu estado de salvação.

36
AULA 7 – ANGLICANISMO O papa se opôs à atitude de Henrique, o qual buscou meios
de se desvencilhar da autoridade papal.Ele descobriu uma
antiga lei que proibia relações com potências estrangeiras
​Contexto e a utilizou para que o clero inglês cortasse relações com o
papa. Em 1534, foi promulgado o Ato de Supremacia, o qual

A
declarava eu o rei é que seria autoridade sobre a Igreja na
reforma na Inglaterra passou por uma reforma
Inglaterra. Ele, entretanto, podia nomear, mas não consagrar
institucional com o rei Henrique VII e uma teológica
bispos; podia defender pontos da fé, mas não formulá-
com o movimento puritano. O rei Henrique VIII
la. Então ele nomeio o arcebispo para fazer isso e coloca
era casado com Catarina de Aragão, porém não tinha
Thomas Cranmer nesse posto.
descendentes homens para que o trono fosse assumido.
Preocupado com isso e interpretando que estava sob uma
maldição por ter se casado com a mulher de seu falecido Henrique VIII não tinha um interesse de mudança no aspecto
irmão ao interpretar Levítico 20.21, Henrique VIII buscou teológico da fé. Tanto é que ele continuou defendendo
anular seu casamento de 18 anos e casar-se com Ana a fé católica e até mesmo se opôs a Lutero quando este
Bolena. atacou os sete sacramentos. Henrique VIII queria instituir
uma Igreja Católica Inglesa. Em 1539, o Estatuto dos seis
artigos confirmou o celibato clerical, a missa privada e as
Em 1527, Henrique VIII solicitou ao papa Clemente VII que
confissões ao sacerdote. Apenas duas coisas marcaram
anulasse o casamento. Porém, Catarina era tia do sacro
essa nova fase: a supressão dos mosteiros e publicação de
imperado romano e rei da Espanha, Carlos V. Não querendo
uma bíblia em inglês para ser usada nas igrejas. Henrique
disputas com rei, o papa negou o pedido de Henrique
deu as propriedades monásticas aos barões e alguns nobres.
VIII. Ele então decidiu agir por conta própria, aceitando a
Isso o ajudou a conquistar apoio político e reabastecer os
sugestão de seu conselheiro Thomas Cranmer de apresentar
cofres reais. Quanto à tradução da Bíblia, o papa não fez
o caso às universidades. Mesmo com a resposta mista,
oposição conquanto as traduções preservassem as doutrinas
Henrique tomou a iniciativa e em janeiro de 1533 casou-se
católicas.
secretamente com Ana Bolena. Em maio desse ano a corte
eclesiástica inglesa anulou o casamento com Catarina e em
setembro desse ano Ana deu à luz a uma menina: Elizabeth.

37
William Tyndale
William foi o pioneiro na tradução da Bíblia para o inglês.
Seu objetivo era tornar o homem comum conhecedor das
Escrituras. No ano de 1526, Tyndale contrabandeou as
primeiras traduções que tinha feito da Bíblia para seu país.
Ele sofreu perseguição por isso e havia fugido. Nos anos
seguintes, ele fez uma versão aprimorada do NTe partes do
AT. Por causa disso, oficiais da igreja o perseguiram e em
1536 ele foi sentenciado à morte por estaca. Em sua oração
final ele clamou “Senhor, abra os olhos do rei da Inglaterra”.
Outro reformador, Miles Coverdale publicou a primeira edição
de sua Bíblia, a qual era uma versão da obra de Tyndale
acrescida das versões latina e alemã. Um ano após a morte
de Tyndale, surgiu a Bíblia de Mateus que foi obra de John
Rogers, a qual era uma compilação das Bíblias de Coverdale
e Tyndale.Henrique VIII permitiu que essa bíblia fosse
autorizada, podendo ser lida em todo o território. O acesso
às Escrituras foi tão grande que Henrique teve que estipular
regras que limitavam sua leitura a comerciantes ricos e
aristocratas.
Protestantismo na Inglaterra
Com a morte do rei Henrique VIII em 1547 seu filho Eduardo
assumiu o trono com dez anos de idade. Eduardo era filho
de Henrique com Joana Seymour, com quem Henrique se
casou depois de mandar executar Ana Bolena por acusação
de adultério. Durante a infância de Eduardo os conselheiros
reais eram simpatizantes com a Reforma Protestante. Isso
ajudou que a política inglesa tomasse rumos nessa direção.
Durante a vida de Eduardo, os Seis Artigos foram
revogados, os sacerdotes receberam autorização para se
casar e o culto latino foi substituído pelo Livro de Oração
Comum. Em 1553, Cranmer estabeleceu os Quarenta e dois
artigos que estabeleciam a fé da igreja inglesa segundo as
crenças protestantes. A guinda para o Protestantismo foi
interrompida em 1553, quando Eduardo morreu, e Maria,
Filha de Catarina, ascendeu ao trono. Maria era devota
do catolicismo e tentou conduzir a Inglaterra de volta aos
caminhos romanos. Ela também perseguiu os protestantes,
enviando cerca de 300 para serem mortos queimados,
inclusive Thomas Cranmer. Em 1571, John Foxe escreveu
o Livro dos Martires a partir de relatos desses martírios e
atribuiu a ela a alcunha de Maria Sangrenta.
Maria morreu sem reconhecimento e o trono foi sucedido
por Elizabeth, filha de Ana Bolena. Nesse período a Igreja
Anglicana assumiu suas características que nem eram
católicas nem protestantes. Elizabeth buscou uma política de
paz religiosa. Ela promulgou os Trinta e nove artigos (1563),
38
os quais reconheciam apenas o batismo e a Ceia como
sacramentos. Apesar dessa aproximação protestante, muitos
dos artigos eram uma tentativa de agradar os dois lados,
tanto protestantes, quanto católicos. Quanto à liturgia, ela
permaneceu católica, preservando também os bispos na
sucessão apostólica.

Entretanto, os exilados durante o reinado de Maria não

viam essa meio termo com bons olhos.Tendo lido a Bíblia,
eles desenvolveram suas próprias convicções para uma
verdadeira reforma na Inglaterra. Estes eram os puritanos.

39
AULA 8 – FUNDAMENTALISMO denominações que se juntaram para resgatar os valores que
negligenciados pelo Liberalismo. O Fundamentalismo seria,
por definição, um resgate dos fundamentos da fé cristã. Uma

C
hamar alguém de fundamentalista geralmente volta às considerações de como sobrenatural, inerrância e
tem uma conotação negativa.O termo evoca um influência de Deus são coisas que devem ser levadas em
comportamento intransigente, retrógrado, anticultural, conta quando se lê a Bíblia. Embora o Fundamentalismo
estritamente fechado e que, quando não está tentando impor envolvesse vários pontos, alguns de seus principais pontos
suas crenças, está se excluindo para não se contaminar com eram:
o mundanismo. Por outro lado, o termo também é usado
como um coringa de forma pejorativa para desqualificar o • Inspiração, inerrância e infalibilidade da Bíblia;
argumento de alguém somente porque tem uma opinião
derivada de sua religião que foge às ideias mais liberais
• Divindade de Jesus;
contemporâneas.

• Nascimento virginal de Jesus e seus milagres;

CONTEXTO HISTÓRICO

• Sacrifício expiatório de Cristo;

Uma das consequências do Liberalismo foi o desapego com
as Escrituras. O Liberalismo foi fruto do Iluminismo e com
isso o racionalismo acabou por menosprezar os elementos • Ressurreição literal e física de Jesus
sobrenaturais da Bíblia. Teólogos afirmavam a existência
de Deus, mas negavam que ele agisse por meio de milagres. DESENVOLVIMENTO HISTÓRICO
Assim, a razão foi elevada como um elemento suficiente que
seria capaz de investigar os eventos descritos na Bíblia.
Em sua fase inicial até meados de 1920, o Fundamentalismo
visava combater os ensinos dos liberais, buscando removê-
Foi nesse contexto que surgiu o Fundamentalismo. Ele los da igreja. Uma das medidas tomadas foi enfrentar o
foi uma tentativa de pastores e vários teólogos de várias naturalismo, o qual tinha gerado mudanças espirituais.

40
Nessas reuniões que eram feitas, os fundamentalistas
tomavam medidas para combater esses elementos.
Eventos importantes dessa época foram o abandono
do Seminário Presbiteriano de Princenton, que estava
tomado de liberais, e a publicação da obra Cristianismo e
Liberalismo (1923) por John Greshan Machen. Nessa obra,
Machen esclarece as influências negativas do liberalismo e
desenvolve os elementos fundamentais à fé que deveriam ser
resgatados.
Na fase seguinte, até meados de 1940, o fundamentalismo
passa por separações em sua estruturas. Gradativamente
o movimento começou a adotar o pré-milenismo como
um dos pontos fundamentais da fé cristã e isso provocou
divisões entre os teólogos. Essas divisões geraram a
Associação Geral de Igrejas Batistas Regulares (1932), a
Igreja Presbiteriana da América que em seguida mudou o
nome para Igreja Presbiteriana Ortodoxa (OPC), liderada por
J. Machen (1936), a Associação Batista Conservadora da
América (1947), as Igrejas Fundamentalistas Independentes
da América (1930). No sul dos EUA, o movimento estava na
Convenção Batista do Sul, a maior denominação batista, a
Igreja Presbiteriana do Sul, a Associação Batista Americana
entre outras. O movimento também se associou com juntas
missionárias, seminários, conferências e com valores da
cultura americana.
Nessa fase, alguns fundamentalistas passaram a considerar
o pré-milenismo como um dos elementos fundamentais à
fé. Houve também uma identificação com abstinência de
alimentos e uma rejeição de certos avanços científicos.
Carl McIntire lidera um grupo e funda a Igreja Presbiteriana
da Bíblia e o Seminário Teológico da Fé (1938). Com ele
também saíram Francis Schaeffer e Alan McRae, os quais
posteriormente também se afastaram de McIntire. Foi por
causa dessa visão de que a preservação da fé viria através da
separação de quem era considerado liberal que o movimento
passou a ser visto negativamente.
A terceira fase, até meados de 1970, o fundamentalismo
passa a lutar contra o neo-evangelicalismo e passa ganhar
repercussão internacional. O fundamentalismo passa a ter
programas de rádio e TV, e fundam faculdades. De dentro
dos fundamentalistas surge um grupo que visa preservar
os elementos fundamentais da fé, mas sem o espírito
separatista da primeira geração: o neo-evangelicalismo, ou
simplesmente “evangelicalismo”. O evangelicalismo buscou
associar-se com diferentes vertentes para fugir da alcunha
de “fundamentalista” inclusive com liberais, ainda que
afirmassem a inerrância das Escrituras.
Os evangelicais fundam a Associação Nacional de
Evangélicos (1942), o Seminário Fuller, a revista Christianity
Today, o Wheaton College e a Associação Billy Graham. O
41
fundamentalismo funda o Concílio Americano de Igrejas
Cristãs (fundado por Carl McIntire) e começa a atacar
o evangelicalismo porque o entendem como inimigo do
cristianismo por sua tendência a se associar com liberais e
acomodação da fé à ciência. Os fundamentalistas também
fundam o Concílio Internacional de Igrejas Cristãs (1948)
em oposição ao Concílio Mundial de Igrejas (CMI), que era
ecumênico e liberal em muitos aspectos.
A quarta fase do fundamentalismo foi marcada por uma
luta contra o humanismo secular e se deu até meados de
1980. A campanha de Ronald Regan para a presidência dos
EUA lançou o fundamentalismo nessa fase. Regan ganhou
destaque porque ofereceu respostas para a crise social,
econômica, moral e religiosa que a América passava como
legalização do aborto, proibição da leitura Bíblica e oração
nas escolas públicas. O humanismo secular trazia elementos
como evolucionismo, liberalismo político e teológico,
perversão sexual, socialismo, comunismo e um ataque à
autoridade das Escrituras. O fundamentalismo se utilizou da
fundação de novos ministérios com novos líderes. Podem
ser citados homens como Tim LaHaye, Hal Lindsey, James
Robertson. Sua base era a Convenção Batista do Sul, mas
atingiram outras denominações e o Brasil. Eles também se
envolveram com questões socio-políticas, diferentemente
dos fundamentalistas anteriores. Esse ambiente causa um
desgaste político e extermo isolacionismo em Carl McIntire
que acaba sumindo do cenário.
Os fundamentalistas atacavam o domínio do governo por
humanistas e as consequências disso. Eles acreditavam
numa espécie de conspiração humanista que visava
banir o cristianismo. Ele mantinham os mesmos pontos
doutrinários que os da primeira geração, mas agora
lidavam com o humanismo secular. Por causa disso, foi
formada a Maioria Moral (1979) sob a liderança de Jerry
Falwell. O evangelicalismo deu margem para o crescimento
fundamentalista. Os líderes evangelicais começaram a
aceitar o evolucionismo teísta e ecumenismo com católicos
e liberais. Alguns desses liberais que eram aceitos chegavam
a questionar a onisciência de Deus. Nesse ambiente é que
surgem teólogos como Gary North e Rushdoony.
O movimento fundamentalismo nos EUA com a sua
mentalidade sendo expandida na teologia, apologética nas
denominações tradicionais, missões e seminários.
No Brasil, temos o fundamentalismo já em 1951 com a
fundação da Aliança Latino Americana de Igrejas Cristã
(ALADIC) sob a presidência do Reverendo Synério Lira. Essa
aliança ajuntava igrejas fundamentalistas na America Latina
e Brasil e visava ao CMI. Nessa mesma época, o Dr Israel
F. Gueiros, pastor da Igreja Presbiteriana de Recife e ligado
42
ao Concílio Internacional de Igrejas Cristãs (CIIC) liderou
uma reação contra o Seminário Presbiteriano do Norte
(SPN) acusados de modernismo. O liberalismo teológico já
havia adentrado no Brasil. Richard Shaull que ensinava no
Seminário Presbiteriano do Sul, em Campinas, é considerado
o pai da teologia da libertação. No Nordeste, alguns
missionários da Igreja Presbiteriana dos Estados Unidos
(PCUSA) eram professores no Seminário Presbiteriano do
Sul e atacavam a inerrância das Escrituras e questionavam a
integridade de Gênesis.
O Dr. Gueiros fundou outro seminário e foi deposto pelo
Presbitério de Pernambuco em julho de 1956. Em setembro
do mesmo ano, ele organizou a Igreja Presbiteriana
Fundamentalista do Brasil formando um presbitério com
1800 membros.Essa nova denominação se afilia à ALADIC
e ao CIIC. Diante disso, a Igreja Presbiteriana do Brasil (IPB)
tomou as seguintes medidas em 1962:
(1) A IPB reafirma a sua posição teológica e doutrinária
formada em termos, não de eqüidistância de qualquer
concílio ou conselho ecumênico, e sim em termos de
fidelidade às Escrituras do Velho e do Novo Testamento;
(2) A IPB reafirma a posição de não envolvimento formal
nem em relação ao CIIC, nem ao CMI e outros, não fugindo,
porém, a contatos com estes agrupamentos ecumênicos
em tudo que não fira seus padrões éticos, nem implique em
concessões na área de seus símbolos de fé;
(3) A IPB reafirma que não há de sua parte, qualquer
resolução ou intenção de filiar-se a concílios ou conselhos
ecumênicos de âmbito mundial.
Essa posição foi reafirmada em 1966. Dos anos 50 a 90,
o fundamentalismo cresceu no Brasil, especialmente no
Nordeste.
No final da década de 90, A Igreja Presbiteriana
Fundamentalista vê muitas igrejas voltado para a IPB, com
poucas permanecendo no movimento fundamentalista. Hoje,
o movimento tem poucas igrejas presbiterianas e algumas
batistas que se identificaram com o Pentecostalismo
tradicional, o qual aderiu ao dispensacionalismo, alguns
aspectos da batalha espiritual e uma restrita visão de
“liberdade cristã”.
Hoje em dia, o fundamentalismo brasileiro apresenta
aparentemente as seguintes características:
dispensacionalismo, sionismo, separatismo das outras
congregações, observação nas coisas que acontecem no
Oriente Médio. O fundamentalismo também parece também
43
ter adquirido uma postura de rejeição a assuntos periféricos
adotados por outras igrejas. Ele não está restrito a uma 1. Conserva uma lealdade inamovível à Bíblia, que ele recebe
denominação, mas é uma postura que se faz presente em como inerrante, infalível e inspirada verbalmente por Deus.
igrejas locais de diversas denominações.

Conclusões 2. Acredita na veracidade de tudo aquilo que a Bíblia diz.

O fundamentalismo não se vê como um novo movimento,

mas como um retorno às Escrituras, uma restauração do 3. Julga todas as coisas pela Bíblia e é julgado somente por
que tinha sido perdido. Por causa disso, o fundamentalismo ela.
entende que não pode haver comunhão com igrejas e
indivíduos que neguem os pontos que eles considerem
fundamentais para o cristianismo. Algumas de suas posturas
4. Afirma as verdades fundamentais da fé cristã histórica:
parecem ser anticientíficas por rejeitar ou desconfiar
a doutrina da Trindade; a encarnação, nascimento virginal,
algumas descobertas científicas. Assim, ele tende a avaliar
sacrifício expiatório, ressurreição física e ascensão gloriosa,
alguns eventos mundiais como preparações para a volta do
e a segunda vinda do Senhor Jesus; o novo nascimento
anticristo. E se mostra profundamente contra sistemas como
pela regeneração do Espírito Santo; a ressurreição dos
o ateísmo, comunismo e socialismo. O fundamentalismo não
santos para a vida eterna; a ressurreição dos ímpios para o
é um movimento monolítico, ou seja, podem haver várias
julgamento final e a morte eterna; e a comunhão dos santos,
expressões e manifestações diferentes dele.
que são o corpo de Cristo.

Em 1976, o Congresso Mundial de Fundamentalistas, que

aconteceu na Escócia, defendeu que:
5. Pratica fidelidade a esta fé e procura pregá-la a cada
criatura.
“Um fundamentalista é um crente no Senhor Jesus, que
nasceu de novo, e que:

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6. Expõe e se separa de todas as negações eclesiásticas ​R EFERÊNCIA BIBLIOGRÁFICA:
desta fé, do compromisso com o erro, e da apostasia da
verdade. SAWYER, M. James. Uma introdução à teologia: das
questões preliminares, da vocação e do labor teológico. SP:
Editora Vida, 2009.
7. Contende fervorosamente pela fé uma vez dada aos
santos.” http://www.escolacharlesspurgeon.com.br/nav/pregacoes/
texto.cshtml?categoria=teologicas&id=34
Dos pontos positivos do fundamentalismo, podemos
ressaltar seu fortalecimento da fé reformada, sua apologética
em defesa da Igreja Cristã e seu engajamento evangelístico.
Por outro lado, não podemos deixar de notar os aspectos
negativos como sua tendência separatista que nem sempre
consegue conviver com opiniões diferentes em questões que
às vezes são periféricas à fé. Também pode-se ressaltar o
conspiracionismo e a censura de elementos culturais com
alguns filmes e livros.

Não podemos deixar de pensar que o termo é muitas

vezes usado de forma pejorativa. Alguns usam o termo
fundamentalista como sinônimo de “radical religioso”.
Quando na verdade a pessoa cristã está simplesmente se
opondo a valores culturais que de fato são contrário às
Escrituras como aborto e casamento homossexual.

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