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Biografia

Friedrich Daniel Ernst Schleiermacher (1768-1834) nasceu em Breslau, Prússia, filho de


um capelão militar, na chamada “Era da Razão”. Foi educado num internato moraviano em Niesky
e depois prosseguiu para o seminário em Barby (1785), onde leu Kant, Goethe e outros escritores
alemães num clube secreto que formou. Expulso devido a discussões filosóficas, transferiu-se para
a Universidade de Halle em 1786, onde estudou teologia, filosofia e filologia clássica. Serviu como
tutor a uma família em Schlobitten de 1794 a 1796 e depois tornou-se capelão hospitalar em
Berlim. Ali entrou em maior contato com o romantismo e, em 1799, publicou Discursos sobre a
Religião. Devido a um escândalo, passou os anos de 1802 a 1804 em Stolpe como pregador, onde
traduziu obras de Platão. De 1804 a 1807 foi professor em Halle. Devido à ocupação francesa,
voltou a Berlim, tornando-se pastor da Igreja da Trindade. Em 1810, ao ser fundada a Universidade
de Berlim, foi nomeado professor de teologia, posto que ocupou até falecer, em 1834. Em 1821-
1822 escreveu A Fé Cristã. Faleceu sem concluir outra obra sua – Dialética.
Teologia
Schleiermacher foi muito influenciado por Wolff , Semler, Platão, Kant, Spinoza, Leibniz
e Goethe. Confrontado pelo racionalismo e pela ortodoxia, encontrou respostas no romantismo.
Preocupou-se boa parte de sua vida com o conceito de ética.
Para Schleiermacher, a religião não se baseia na razão pura nem na razão prática ou moral,
mas no afeto, que é um “sentimento absoluto de dependência”. Ele entende a realidade como uma
antítese entre o finito e variável e o Eterno e Absoluto (Deus). A religião tem por objetivo lançar
uma ponte entre o absoluto e o finito, pôr o homem em harmonia com Deus. Portanto as religiões
não devem ser divididas em falsas e verdadeiras, mas quanto aos seus graus de eficiência em fazer
o homem perceber sua dependência de Deus. O cristianismo é apenas a melhor delas, pois é a que
mais definitivamente alcança este alvo. Isso porque no cristianismo, Cristo, que é o elemento
central, é a reconciliação do finito com o universal, do temporal com o eterno, a união de Deus
com o homem.
Quanto às doutrinas, Schleiermacher as via como interpretações e definições de
experiências religiosas fundamentais, que possuem aspecto histórico e especulativo. Para ele, a
teologia se apresenta numa comunhão de fé tangível, que é a Igreja, e a função da dogmática é
descrever a doutrina da fé, como encontrada na Igreja, num dado momento da história. Já o
elemento especulativo se encontra em que as exigências da fé conduzem de volta ao sentimento
de dependência absoluta. Mas as doutrinas têm somente valor relativo e secundário. São mutáveis.
São apenas as formas pelas quais a verdade duradoura se expressa de tempo em tempo.
Como a religião em si não é um corpo de doutrinas, nem um sistema de comportamento,
ainda que crença e comportamento nasçam da religião, Schleiermacher subordinava as doutrinas
ao sentimento de dependência. A doutrina da criação, por exemplo, é importante porque indica
que tudo quanto existe depende de Deus. Já como a criação ocorreu, para ele, não é algo que a
teologia deva se ocupar. O mesmo princípio vale para a existência dos anjos, de Satanás etc.
Insistindo, pois, que a religião não é conhecimento, Schleiermacher pôde interpretar as
doutrinas fundamentais do cristianismo de modo que não se opusesse à ciência. Para isso, sua
hermenêutica ocupava-se primariamente do Novo Testamento, pressupondo Cristo como “célula
germinativa” de sua formação. E a mesma força criativa de Cristo que estava atuando dentro dos
autores neotestamentários permitiria agora, no ato da “divinação” (uma harmonia com a natureza
comum do ser humano e o Absoluto), um entendimento das verdades cristãs pela fé. Para isso,
fazia uso da análise histórico-crítica, analisando a relação do texto com a linguagem e sociedade
de sua época e a influência do tempo atual sobre o próprio exegeta.
Com base nesses princípios, Schleiermacher edificou um sistema que abrangia os ramos
da teologia e da religião, dentre eles a ética, a filosofia da religião e a teologia, que se dividia em
filosófica, prática e histórica.
Em A Fé Cristã, Schleiermacher expõe sua dogmática: quanto a Deus, sentir que é
absolutamente dependente é o mesmo que saber estar numa relação com Deus; o pecado está ligado
ao desconforto mental presente quando se está devotamente consciente de Deus, faz parte da
criação e é necessário para desenvolver a consciência de Deus – não é transgressão da lei divina e
não há a Queda; a Salvação é chegar a uma maior consciência de Deus, que no cristianismo ocorre
por meio da fé na pessoa de Cristo, mas seu sofrimento, morte e ressurreição não tem valor
salvador – tudo gira em torno do aperfeiçoamento dos sentimentos religiosos; Cristo é o
desenvolvimento mais elevado do que é humano, a nova humanidade, e é, então, o protótipo da
Igreja – não domina sobre o mundo; sobre a Trindade, tinha uma posição modalista; na escatologia,
via declarações escatológicas apenas como ensinamentos proféticos – não há condenação; quanto
à Escritura, só o Novo Testamento tem valor normativo, o Antigo não expressa adequadamente o
espírito cristão e só tem importância histórica – a “consciência da fé” que existe na Igreja, porém,
é a autoridade final e não a Escritura.
Implicações
Schleiermacher muito contribuiu para a teologia contemporânea. Apesar de muitos nunca
ter ouvido falar dele, suas ideias sobre religião e Cristianismo têm sido transmitidas através de
muitos pastores, líderes denominacionais, autores religiosos e professores de seminários. Por causa
de sua influência, é considerado por muitos o “pai da moderna teologia liberal”. Com seu método
hermenêutico, a interpretação de textos bíblicos entrou numa nova fase. Por um lado, com ele, a
teologia e a religião tiveram seu caráter próprio reconhecido, porém, seu método dogmático
conduziu a um sistema gnóstico, reinterpretando e deturpando elementos essenciais da fé cristã.
Durante o século 19 foi quase que totalmente ignorado fora da Alemanha, mas, a partir
do século 20, passou a ser mais amplamente estudado e conhecido, especialmente por meio de
seus críticos, como Barth e Brunner. O crescimento dos movimentos progressivos liberais,
serviram para aumentar essa tendência. Por fim, por volta dos anos 60, Schleiermacher já tinha a
fama ser o pai da teologia moderna liberal e nas décadas seguintes afloraram diversos trabalhos
científicos acerca de seu pensamento.

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