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Teologia Contemporânea

Teologia Liberal

1
Prof. Me Darleyson de Carvalho
• Há quem diga que “teologia se
faz a lápis”. Nesse sentido, ao
contrário da palavra de Deus, a
Para início teologia pode mudar, se
transformar, adequar-se a uma
de época, ou até mesmo corrigir
conversa suas hipóteses, tanto pela
descoberta de novas fontes de
pesquisa, como por meio de
estudos mais aprofundados
2
Pilares da Fé Cristã
• Infalibilidade das • A morte substitutiva • A salvação pela
Escrituras de Cristo Fé
• Trindade • A deidade de Cristo • A segunda
• O nascimento • O pecado original e Vinda
Virginal de a queda do homem • A vida eterna
Cristo • Juízo Final
• Os milagres
operados por
Jesus

3
QUESTÕES INTRODUTÓRIAS

4
Iluminismo
• Meados do século XVIII ao
começo do século XIX
• Esse período crê nos poderes
da razão, chamada de As
Luzes (por isso, o nome
Iluminismo).
5
Iluminismo
• O Iluminismo afirma que:
– pela razão, o homem pode conquistar a
liberdade e a felicidade social e política (a
Filosofia da Ilustração foi decisiva para as
ideias da Revolução Francesa de 1789);
– a razão é capaz de evolução e progresso, e o
homem é um ser perfectível. A
perfectibilidade consiste em liberar-se dos
preconceitos religiosos, sociais e morais, em
libertar-se da superstição e do medo, graças
as conhecimento, às ciências, às artes e à
moral;
6
Iluminismo
– o aperfeiçoamento da razão se realiza pelo
progresso das civilizações, que vão das mais
atrasadas (também chamadas de “primitivas” ou
“selvagens”) às mais adiantadas e perfeitas (as da
Europa Ocidental);
– há diferença entre Natureza e civilização, isto é, a
Natureza é o reino das relações necessárias de
causa e efeito ou das leis naturais universais e
imutáveis, enquanto a civilização é o reino da
liberdade e da finalidade proposta pela vontade
livre dos próprios homens, em seu
aperfeiçoamento moral, técnico e político.

7
Iluminismo
• Nesse período há grande interesse pelas
ciências que se relacionam com a ideia de
evolução e, por isso, a biologia terá um
lugar central no pensamento ilustrado,
pertencendo ao campo da filosofia da vida.
Há igualmente grande interesse e
preocupação com as artes, na medida em
que elas são as expressões por excelência
do grau de progresso de uma civilização.

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A RELIGIÃO NO ILUMINISMO

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A Religião no Iluminismo
• A era do Iluminismo desafiou os pontos de vista
tradicionais e reformulou o pensamento em todas
as áreas da sociedade ocidental. Porém, nenhuma
dimensão foi mais afetada do que a crença religiosa.
A Idade da Razão marcou a emancipação da cultura
em relação ao domínio da igreja e do Cristianismo.

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A Religião no Iluminismo
• O movimento em direção à autonomia veio como resultado inevitável da
nova mentalidade da época, dando início a uma outra visão da natureza da
religião. Cada vez mais, os cientistas e teólogos passaram a diferenciar a
“religião natural” - a existência de Deus e as leis morais racionalmente
demonstráveis e conhecidas por todas as pessoas - e a “religião revelada” -
as doutrinas conforme eram ensinadas pela Bíblia e pela igreja. Com o
passar do tempo, esta segunda forma de religião começou a ser cada vez
mais atacada e a primeira forma, elevada ã condição de verdadeira
religião. No final, a “religião natural” do Iluminismo ou religião da razão
substituiu o enfoque tão característico da Idade Média e da Reforma sobre
o dogma e a doutrina.

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A Religião no Iluminismo
• O caminho intelectual para a primazia da religião natural sobre a
religião revelada foi aberto pelo empirista britânico John Locke.
Ele lançou a tese revolucionária de que, uma vez destituído de
sua bagagem dogmática, o Cristianismo era a manifestação
religiosa mais racional. Sobre as bases dessa visão de Locke, os
pensadores do Iluminismo construíram o deísmo - uma
alternativa teológica para a ortodoxia. Os teólogos do deísmo
desejavam reduzir a religião a seus elementos mais básicos,
universais e, portanto, racionais.
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A Religião no Iluminismo
• Os deístas acrescentavam ainda que, pelo fato de a religião natural ser
racional, todas as religiões, inclusive o Cristianismo, deveriam estar em
conformidade com ela. Como resultado, os vários dogmas da igreja
considerados revelação já não serviam mais de parâmetro. Ao invés disso,
as doutrinas deveriam ser avaliadas através da comparação com a religião
da razão. O resultado foi uma religião que consistia em um número
mínimo de dogmas para se crer: a existência de Deus, que podia ser
provada através do mundo, a imortalidade da alma, e o castigo pelo
pecado e bênção pela virtude recebidos após a morte.

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A Religião no Iluminismo
• Na verdade, os deístas não viam a religião em sua essência como
um sistema de crenças. O mais importante era o seu significado
ético. Eles partiam do pressuposto de que o papel principal da
religião era oferecer sanção divina para a moralidade. Ao mesmo
tempo, o Iluminismo elevava a capacidade humana de obter as
verdades religiosas, reduzindo - ou até mesmo eliminando - a
necessidade de uma religião revelada. Aquilo que era
verdadeiramente importante havia sido escrito pelo Criador no
grande livro da natureza e deixado aberto para que todos
pudessem lê-lo.
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A Religião no Iluminismo
• Como consequência, algumas vozes do Iluminismo
criticaram duramente o Cristianismo, afirmando que, pelo
menos em sua forma tradicional, ele era uma deturpação
da religião da razão. Os pensadores do Iluminismo
também atacaram os pilares centrais da apologética cristã
daquela época - a crença nas profecias cumpridas e nos
milagres - e responsabilizaram as autoridades
eclesiásticas pela ignorância e superstição do passado.
15
A Religião no Iluminismo
• Outros simplesmente igualaram os dois sistemas de crenças,
declarando que o Cristianismo, em sua forma mais pura, não
passava de outra manifestação da religião conhecida pela razão.
Aqueles que buscavam um lugar para dar continuidade ao
Cristianismo criaram para ele um nicho, afirmando que a religião
revela da era um complemento necessário da religião da razão ou
apresentando o Cristianismo como um estágio do contínuo
processo histórico cujo clímax seria atingido numa futura religião
perfeita e universal.
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A Religião no Iluminismo
• Por mais paradoxal que possa parecer e independente de como o
Cristianismo era visto, a elevação iluminista da religião da razão e sua
ênfase sobre a natureza e a natureza de Deus constituíram uma vitória da
nova imanência sobre a transcendência que caracterizou a Idade Média. O
Deus dos deístas era uma divindade distante e radicalmente
transcendente. Ainda assim, a perspectiva do Iluminismo esforçava-se para
ligar Deus à natureza e à razão humana de forma tão próxima que a
transcendência de Deus acabou fundindo-se com a imanência do divino
dentro do universo ordenado da criação e da razão. Ao invés de olhar além
do mundo para encontrar a Deus, o Iluminismo voltou-se para dentro. A
mudança que havia começado na Renascença estava completa.

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Immanuel Kant (1724-1804)
Durante o século XVIII (Iluminismo), que os alemães
chamam de Aufklärung, acentua-se o impulso
racionalista que assaltara a teologia protestante no
período escolástico.
Não se contenta mais em provar a racionalidade da fé
demonstrando que as verdades reveladas se
harmonizam com os cânones da razão.

Submete a Revelação ao tribunal da razão, dando a


esta o dever de purificá-la de todos os elementos
sobrenaturais.

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Immanuel Kant
(1724-1804)
1. Foi o divisor de águas entre a
Filosofia Moderna e a
Contemporânea; ele também
exerceu grande influência sobre o
Liberalismo Teológico.
2. De muitas maneiras, foi o
fundador teorético do liberalismo
religioso, porque grande número
de teólogos liberais edificou
diretamente sobre a filosofia de
Kant ou sobre alguma versão
alternativa da mesma (Ramm)

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Immanuel Kant (1724-1804)
1. Noúmeno e Fenômeno
2. Kant estabeleceu uma distinção entre a “coisa-em-si,” a qual o homem não pode
atingir pela experiência e a coisa como se apresenta, perceptível ao homem.
3. Noúmeno: Deus, alma, liberdade.
4. Fenômeno: a coisa como se mostra.
5. O homem não consegue apreender o noúmeno; as suas categorias intelectuais
não dispõem de instrumentos para conhecê-lo; contudo, a partir do fenômeno
consegue “inevitavelmente” deduzi-lo.
6. Mesmo que esgotássemos o “fenômeno,” jamais conseguiríamos chegar ao
“objeto em si”;

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Immanuel Kant (1724-1804)
• Kant sugeriu a esfera prática ou moral da vida
como o lugar apropriado para a religião. Ao
construir uma teologia devidamente
fundamentada na razão prática, ele ofereceu uma
nova tentativa de equilíbrio entre a transcendência
e a imanência

22
Immanuel Kant (1724-1804)
• A proximidade intelectual fica evidente através de
sua elevação da dimensão ética da vida ã posição
de ponto central da religião, um ponto de vista
muito próximo ao cerne dos valores da Idade da
Razão. Porém, seu método de estabelecer uma
religião voltada para o aspecto moral diferia
imensamente dos métodos do Iluminismo.
23
Immanuel Kant (1724-1804)
•O livro que ele publicou, Crítica da
Razão Pura (1781), fez estremecer o
mundo da filosofia e lançou uma nova
onda intelectual cujos efeitos ainda
podem ser sentidos.
24
Immanuel Kant (1724-1804)
•Kant elevou a mente ao centro do
conhecimento humano
(epistemologia). Ele teorizou que a
possibilidade de se experimentar a
realidade dependia da mente.
25
Pensando com Marilena Chauí
Para Kant, a razão humana depende da experiência. Sem a experiência, a razão seria sempre vazia, inoperante, nada
conhecendo. Assim, a experiência fornece a matéria (os conteúdos) do conhecimento para a razão e esta, por sua vez,
fornece a forma (universal e necessária) do conhecimento. A matéria do conhecimento, por ser fornecida pela
experiência, vem depois desta e por isso é, no dizer de Kant, a posteriori.
Qual o engano dos racionalistas? Supor que os conteúdos ou a matéria do conhecimento são inatos. Não existem ideias
inatas.
Qual o engano dos empiristas? Supor que a estrutura da razão é adquirida por experiência ou causada pela experiência.
Na verdade, a experiência não é causa das ideias, mas é a ocasião para que a razão, recebendo a matéria da
experiência, formule as ideias.
Dessa maneira, a estrutura da razão é inata e universal, enquanto os conteúdos são empíricos e podem variar no tempo
e no espaço, podendo transformar-se com novas experiências e mesmo revelarem-se falsos, graças a experiências
novas.
O que é o conhecimento racional, sem o qual não há Filosofia nem ciência?
É a síntese que a razão realiza entre uma forma universal inata referente ao sujeito e um conteúdo particular oferecido
pela experiência.
•(Marilena Chauí. Convite à filosofia. Adaptado)
Immanuel Kant (1724-1804)
• A mente tem um papel ―ativo no processo de conhecimento. Ele
argumentou que o processo de conhecimento do mundo externo
não pode ser derivado apenas de experiências sensoriais.
• Os sentidos só oferecem os dados brutos que a mente sistematiza
quando acontece o verdadeiro conhecimento. Acrescentou ainda
que essa organização das sensações (conhecimento) é possível
através de certos conceitos formais presentes na mente, que
agem como um tipo de grade ou filtro oferecendo parâmetros que
viabilizam o conhecimento

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Immanuel Kant (1724-1804)
• Na questão da razão prática o argumento de Kant
está fundamentado na tese que de o homem não é
apenas um ser de experiências sensoriais, mas é
também um ser moral.
• O mundo é, na verdade, um palco no qual os seres
humanos desempenham seus papéis; é uma esfera
de valor moral.
28
Immanuel Kant (1724-1804)
• Kant estabeleceu a natureza moral da existência ao
lançar mão daquilo que ele considerava a experiência
moral universal dos seres humanos, um senso de
condicionamento moral, de ―dever. Ele afirmou que os
seres humanos sabem da ―pressão que existe sobre
eles para que façam escolhas que só podem ser
descritas em termos de moralidade.
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Immanuel Kant (1724-1804)
• Sobre a religião Kant declarou que a ―religião pura da razão - a única
autêntica e universalmente válida - é o princípio interpretativo das Escrituras.
Ele concluiu que a dimensão moral (ou seja, ―a virtude buscando a
santidade) é o verdadeiro significado por trás das histórias bíblicas. E ele
procurou essas verdades eternas da fé presentes de maneira subliminar na
história cristã, a saber:
– (...) que não existe salvação para o homem fora da adoção sincera de
princípios genuinamente morais em sua disposição; que aquilo que
trabalha contra a adoção desses princípios não é tanto a natureza sensual,
que é acusada com tanta frequência, quanto uma perversidade própria...
que a raça humana trouxe sobre si.

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Immanuel Kant (1724-1804)
• (...) ―a verdadeira religião não consiste no
conhecimento daquilo que Deus fez ou continua
fazendo por nossa salvação, mas naquilo que nós
devemos fazer para sermos dignos dessa salvação.
• ―O certo não é ir da graça para a virtude, ele
concluiu, ―mas progredir a partir da virtude em
direção à graça perdoadora.
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Hegel (1770-1831)
1. Pensador extremamente
sistemático (comparado a
Tomás de Aquino) e difícil.
2. Critica tanto Kant quanto
Schleiermacher,
reconduzindo a religião ao
domínio da razão.

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Hegel (1770-1831)

1. Religião: um dos momentos conclusivos da dinâmica


dialética do Absoluto; um dos três momentos em que Ele
toma consciência de si mesmo.
2. O órgão da religião é o pensamento.
3. Pensamento: em formas de imagens, símbolos, metáforas.

Método Dialético
Hegel (1770-1831)

1. Três etapas (Hegel não usava esta terminologia):


2. Tese: momento do “ser em si”.
34 a) Afirma uma parte da realidade negando implicitamente outra parte.
3. Antítese: momento do “fora de si”.
a) Afirmação da parte da realidade implicitamente negada pela tese.
4. Síntese: momento do “ser em si e para si”.
a) É a afirmação da união das partes postas pela tese e pela antítese
num todo único, o qual anula as imperfeições dos momentos
anteriores, mas conserva a positividade de ambos.
Hegel (1770-1831)

1. O Espírito Cósmico
2. Realidade: é o atuar do Espirito que é a realidade
última; através da história em seus contornos, há a
manifestação desse Espírito.
3. Todo o conhecimento humano nada mais é do que o
Espirito Absoluto se agenciando através das mentes
humanas (confunde-se com o panteísmo).
4. Cristianismo: vir a ser do Espírito Absoluto.
Hegel (1770-1831)

1. Trindade: processo de concretização da unidade entre


o divino e o humano em três momentos.
a) Primeiro: Ser puro, abstrato.
b) Segundo: o início da existência do Espírito pela
criação do mundo (o Filho, alienação e abandono
[mal]).
c) Terceiro: o Espírito passando para o estágio de
consciência de si mesmo.
Hegel (1770-1831)

1. Obra juvenil sobre a vida de Jesus: o pensador reduziu o


fundador do cristianismo a um bom moralista que praticava
perfeitamente a moral do imperativo categórico.
2. Obras mais maduras: não vê nos dogmas da Encarnação e da
Redenção outra coisa que símbolos da realização completa da
autoconsciência divina concretizada dialeticamente no espírito
humano através da negação.
3. A onda secularizadora torna-se impetuosa com Feuerbach e
Nietzsche.
Ludwig Feuerbach
(1804-1872)
1. Feuerbach dissolve toda religião,
inclusive a cristã, na “hipostatização”
das necessidades do homem.
2. Essência do Cristianismo: o
fundamento da verdadeira filosofia não
é colocar o finito no infinito, mas sim o
infinito no finito.
3. A filosofia deve provar que o homem
não é produto de Deus, mas sim Deus
um produto do homem.

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1. Deus como Pai: exigência de segurança sentida pelos homens.
2. Deus feito carne: exprime a excelência do amor pelos outros.
3. Ser perfeitíssimo: representa ao homem aquilo que ele deveria ser, mas que, na
realidade, nunca consegue se tornar.
4. Fé na vida futura: fé na vida terrestre, não como ela é, mas como deveria ser.

Ludwig Feuerbach (1804-1872)


Friedrich W. Nietzsche
(1844-1900)
1. Pode proclamar legitimamente:
“Deus está morto”.
2. Através da filosofia, o
protestantismo liberal chegou a
supressão total da teologia.
3. Chegou aos mesmos resultados
também pelo outro caminho, por
meio da filosofia e da história.

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ÁREAS DE INFLUÊNCIA DO
ILUMINISMO SOBRE A TEOLOGIA
41
Áreas de Influência do iluminismo sobre a Teologia

Historicismo: os cânones da história


Promoveu um contínuo questionar da
científica (historiografia) foram cada vez
integridade e credibilidade das narrativas
mais elaborados, objetivando uma maior históricas das Sagradas Escrituras.
exatidão.

Cientificismo: com Galileu a ciência Criou-se uma grande “fé” na ciência para
praticamente todas as áreas do saber.
deu um grande salto contribuindo de
Daí o ainda hoje evidente mito do “saber
modo decisório para a sua científico” como palavra final em uma
“especialização.” disputa.

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1. Subjetivismo Religioso. Pode assumir de


Áreas de modo principal duas características: uma
racional e outra mística.
Influência do a) Ambas trazem como seu fundamento a
revivescência do pensamento de
iluminismo Protágoras (c. 480-410 a.C.) de que “O
homem é a medida de todas as coisas...”
sobre a b) Uma coisa parece bela a uns e feia a

Teologia outros, e deve valer como medida o que


parece a cada um.
Áreas de Influência do iluminismo sobre a Teologia

No Liberalismo teológico A minha razão individual como critério


encontramos espaço para essas de verdade.
duas vertentes do subjetivismo: A minha experiência mística.

Ambos derivam de algo estranho às Escrituras e à sua fonte de


autoridade, elegendo um novo padrão.

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TEOLOGIA
LIBERAL

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Definição de Liberalismo Teológico
1. Liberalismo Teológico: esforço por interpretar, reformular e
explicar a fé cristã dentro de uma perspectiva iluminista.
2. Só pode ser considerado genuíno o “credo” que se ajuste aos
critérios racionais vigentes.
3. De certa forma o Liberalismo Teológico é mais dependente do
Renascimento do que da Reforma Protestante.

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Definição de Liberalismo Teológico
1. Característica principal: desejo de adaptar as ideias religiosas a
cultura e formas de pensar modernas.
2. Os liberais insistem em que o mundo se alterou desde os tempos
em que o cristianismo foi fundado, de modo que as
terminologias da Bíblia e dos credos são incompreensíveis
às pessoas hoje.

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Definição de Liberalismo Teológico
1. Os liberais sustentam que o cristianismo sempre adaptou suas
formas e linguagens a situações culturais particulares.
2. Todas as doutrinas devem passar pelas provas da razão e da
experiência, e a mente deve estar aberta para novos fatos e
verdades.

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Definição de Liberalismo Teológico
1. Como a Bíblia é obra de autores
limitados pela sua própria época, não é
nem sobrenatural nem um registro
infalível da revelação divina.
2. Também manifesta um otimismo
humanista.
3. O liberalismo rejeita as doutrinas
históricas da fé cristã porque incluem
milagres e o sobrenatural: a encarnação
de Cristo, sua ressurreição corporal e
assim sucessivamente.
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Protestantismo Liberal
1. Teologia protestante do século XIX.
2. Inspira-se em dois princípios aparentemente contraditórios de
Kant:
a) A remoção da religião da esfera especulativa.
b) A redução do cristianismo aos limites da razão.
3. Schleiermacher, Hegel, Feuerbach, Nietzsche, Strauss, Baur, Ritschl
e Harnack tendem para a secularização total do Cristianismo,
alcançando tal meta por ambos os caminhos traçados pelos
racionalistas, o filosófico (os quatro primeiros) e o
histórico-filológico (os quatro últimos)
50
A Teologia Liberal Clássica
1. Reconhecimento máximo das afirmações do pensamento moderno
2. Ênfase na liberdade que o pensador cristão possuía como indivíduo
de criticar e reconstruir crenças tradicionais
3. Concentrava-se na dimensão prática ou ética do cristianismo:
tentava moralizar a doutrina
4. Procurava basear a teologia em alguma outra fundação, que não
fosse a autoridade absoluta da Bíblia
5. Movimento contínuo em direção à imanência divina à custa da
transcendência

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TEÓLOGOS

52
Friedrich E. D. Schleiermacher (1768-1834)
1. Considerado universalmente como o pai do protestantismo liberal.
2. Primeiro a elaborar uma nova teologia partindo dos postulados
kantianos.
3. Transfere a religião da esfera da razão para a do sentimento e
reduz os dogmas a simples expressões dos sentimentos comuns de
um povo em relação à Divindade.

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Friedrich E. D. Schleiermacher (1768-1834)
1. Proposições fundamentais para o seu conceito de religião:
a) A religiosidade não é ciência nem ação, mas sim uma
determinação do sentimento e da autoconsciência imediata.
b) O que há de comum a todas, mesmo às mais diferentes
manifestações religiosas, a essência invariável da religiosidade
—, consiste no fato de que nós simplesmente temos consciência
da nossa dependência de Deus, isto é, da nossa relação com Ele.

54
Friedrich E. D. Schleiermacher (1768-1834)
1. A essência da religião consiste no sentimento de dependência
radical.
2. Esse sentimento nasce no momento em que o homem torna-se
consciente de si mesmo e do universo que o circunda.
3. Então ele se dá conta de que depende radicalmente de um “Outro”
(Deus), que não é alcançado através do conhecimento conceitual,
como afirmavam os racionalistas, mas por meio da intuição e do
sentimento.

55
Friedrich E. D. Schleiermacher (1768-1834)
1. Em sendo assim, que tarefa cabe ao teólogo?
2. Não: a tarefa de examinar e ordenar as fórmulas dogmáticas, que,
para Schleiermacher não passam de descrições de sentimentos
religiosos comuns.
3. Sim: a tarefa de estudar a origem da religião e a história dos
dogmas.
4. A ênfase que este pensador coloca sobre os elementos subjetivo
e histórico faz dele o pai da “teologia liberal”.

56
Friedrich E. D. Schleiermacher (1768-1834)
1. Não há religiões falsas e verdadeiras.
2. Todas elas, com maior ou menor grau de eficiência, têm por
objetivo ligar o homem finito com o Deus infinito, sendo o
cristianismo a melhor delas.
3. Rejeitou o nascimento virginal, a expiação substitutiva e a
divindade de Cristo.
4. Ensinava que Cristo foi um redentor somente no sentido de haver
sido um exemplo ideal.

57
Friedrich E. D. Schleiermacher (1768-1834)
• A Bíblia
– “desempenhava um papel importante, porém não central na teologia de
Schleiermacher. A doutrina cristã não deve ser extraída primeira e
exclusivamente da Bíblia. Pelo contrário, ele escreveu que todas as doutrinas
“devem ser tiradas da consciência própria da religião cristã, ou seja, da
experiência interior do povo cristão”.25 A Bíblia é especial no sentido de que
constitui um registro das experiências religiosas das comunidades cristãs
primitivas. A autoridade das Escrituras, porém, não é absoluta. Na verdade, elas
servem como modelo para todas as tentativas dos cristãos de interpretar o
significado de Jesus Cristo dentro de circunstâncias históricas específicas”
(Stanley J. Grenz)

58
Friedrich E. D. Schleiermacher (1768-1834)
• Deus
– A reconstrução de Schleiermacher da doutrina acerca de Deus é uma
de suas contribuições mais controversas.

59
Friedrich E. D. Schleiermacher (1768-1834)
• Deus e o mal
– “A compreensão reformulada de Deus oferecida por Schleiermacher
apresenta sérios problemas para o pensamento cristão tradicional.
Um exemplo é a inflexibilidade do teólogo alemão em sua posição ao
atribuir o mal à causalidade de Deus. O fato de Deus ser autor do
pecado e do mal é necessário para a dependência de suas criaturas.
Se elas estivessem sujeitas a qualquer outro poder que não o de
Deus, então sua onipotência seria limitada. Schleiermacher sugeriu
que o pecado é ordenado por Deus como aquilo que torna necessária
a redenção” (Stanley J. Grenz & Roger E. Olson)
60
Friedrich E. D. Schleiermacher (1768-1834)
• Milagres
– “Além disso, Schleiermacher rejeitava completamente a realidade dos
milagres. Acreditar em milagres é negar que tudo o que acontece é
ordenado e causado por Deus. O sentimento de dependência
absoluta requer que toda a natureza, em suas partes e em seu todo,
seja governada, ordenada e causada por Deus. Os milagres como atos
especiais que anulam a ordem natural seriam uma contradição.”
(Stanley J. Grenz & Roger E. Olson)

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Friedrich E. D. Schleiermacher (1768-1834)
• Oração
– Schleiermacher também negava a eficácia da oração intercessora.
Pedir a Deus para mudar o curso dos acontecimentos implica que
esse curso é, de alguma forma, independente de Deus e que Deus é,
de alguma forma, dependente da pessoa que está orando. É claro
que, apesar das orações não mudarem nada, o fato de as pessoas
orarem e de suas preces aparentemente serem respondidas é
“apenas parte do plano original divino. Portanto, não faz nenhum
sentido a idéia de que se a oração não tivesse sido feita talvez outra
coisa teria acontecido”.(Stanley J. Grenz & Roger E. Olson)
62
Friedrich E. D. Schleiermacher (1768-1834)
• Cristologia
– Schleiermacher rejeitava a doutrina tradicional da Encarnação,
substituindo-a por uma cristologia baseada na experiência da
consciência de Deus.
– Urbildlichkeit e Vorbildlichkeit — seu caráter ideal e sua capacidade
de reproduzir esse caráter em outros

63
Ferdinand C. Baur (1792-1860)
1. O cristianismo representa uma fase transitória do devir religioso da
humanidade.
2. Cristo inaugurou tal fase aderindo a ideia religiosa elaborada nos
séculos anteriores e tornando-a capaz de conquistar o mundo,
conectando-a com o messianismo judaico.

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TEOLOGIA LIBERAL CLÁSSICA

65
Características
• os liberais estavam decididos a reconstruir a fé cristã à luz do
conhecimento moderno. Acreditavam que certos
desenvolvimentos culturais desde o Iluminismo simplesmente
não podiam ser ignorados pela teologia cristã, mas precisavam
ser assimilados de modo positivo.
– Implicações: afirmação do pensamento moderno

66
Características
• Uma segunda característica da teologia liberal era sua ênfase
na liberdade que o pensador cristão possuía, como indivíduo,
de criticar e reconstruir crenças tradicionais.
– Implicações: rejeição da autoridade da tradição ou da hierarquia da
igreja

67
Características
• Em terceiro lugar, a teologia liberal concentrava-se na
dimensão prática ou ética do Cristianismo.
– Implicações: moralização da doutrina e centralidade da mensagem
no Reino de Deus

68
Características
• Em quarto lugar, a maioria dos teólogos liberais procurava
basear a teologia em alguma outra fundação que não fosse a
autoridade absoluta da Bíblia. Acreditavam que o dogma
tradicional da inspiração sobrenatural das Escrituras havia sido
irremediavelmente enfraquecido pela pesquisa
histórico-crítica. Os liberais não desprezavam a Bíblia e nem a
consideravam completamente sem valor.
– Implicações: rejeição dos elementos sobrenaturais

69
Características
• O movimento contínuo da teologia liberal em direção à
imanência divina às custas da transcendência
– Implicações: ampliação da visão do iluminismo

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Albrecht Ritschl (1822-1899)
• Nasceu em 1822 em família protestante
• Estudou teologia e foi influenciado por Schleiermacher, Kant e
F. C. Baur, um estudioso hegeliano do Novo Testamento.
• Professor em Bonn em 1864.
• Professor em Göttingen de 1864 até a sua morte

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Albrecht Ritschl (1822-1899)
• Apesar de ter publicado muitos artigos e livros, a obra mais
importante de Ritschl foi um tratado de três volumes intitulado
A Doutrina Cristã da Justificação e Reconciliação, lançado em
etapas entre 1870 e 1874. Seu tradutor para o inglês, o teólogo
escocês H. R. Mackintosh, comentou sobre ela: “Depois que
Schleiermacher publicou sua obra Christliche Glaube [A Fé
Cristã], em 1821, nenhum tratado dogmático deixou marcas
tão profundas no pensamento na Alemanha e por todo o
mundo como este”. (
72
Albrecht Ritschl (1822-1899)
1. Procura levaro protestantismo para um sentido histórico-critico
mais profundo, esperando, dessa forma, colocar a genuína
concepção do Evangelho a salvo de toda forma de catolicismo e
de toda forma de misticismo, tanto pietista como romântico.

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Albrecht Ritschl (1822-1899)
• “Ritschl acreditava que o conflito entre a teologia e a ciência surgia por não se distinguir
adequadamente entre o que era conhecimento “científico” e “religioso”. Ele afirmava que
o conhecimento científico busca a objetividade teórica pura, é a desinteressada cognição
das coisas em si. Esse conhecimento procura compreender a natureza interna da
realidade de um ponto de vista neutro. O conhecimento religioso, por outro lado,
consiste no julgamento de valores relativos à realidade. Ele interpreta a realidade em
termos do valor que as coisas têm para a realização plena do conhecedor. O
conhecimento religioso está ligado ao valor das coisas para atingir o bem maior do
indivíduo. Uma outra forma de descrever essa distinção é dizer que, para Ritschl, o
conhecimento científico só pode ser sobre a forma como as coisas são, enquanto o
conhecimento religioso é sempre também sobre a forma como as coisas deveriam ser.
Esses julgamentos não podem e nem devem ser desinteressados ou neutros.” (Stanley J.
Grenz & Roger E. Olson)
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Albrecht Ritschl (1822-1899)
• “Ritschl rejeitava veementemente qualquer dependência da teologia em
relação à metafísica. Para ele, essa abordagem era uma fusão ilegítima
de conhecimento científico e religioso.6 Argumentava que as provas
filosóficas da existência de Deus pertencem à esfera do conhecimento
científico, pois tratam Deus como um objeto de interesse teórico,
enquanto o verdadeiro conhecimento religioso acerca de Deus jamais
pode tratá-lo como um objeto, como uma simples parte dos elementos
do mundo. A teologia só está interessada em Deus à medida que ele
afeta moralmente a vida das pessoas, ajudando-as a alcançar o bem
maior.” (Stanley J. Grenz & Roger E. Olson)

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Albrecht Ritschl (1822-1899)
• “De acordo com Ritschl, a teologia é a investigação da experiência coletiva
moral e religiosa do reino de Deus na igreja. Ela é edificada e centrada na
avaliação que a comunidade cristã faz do reino de Deus revelado em Jesus
Cristo como o bem maior da humanidade. A teologia busca construir um
sistema de julgamento baseado exclusivamente no impacto de Deus sobre a
vida dos cristãos e no valor desse impacto para o bem maior. Com essa
finalidade, usa a pesquisa histórica da consciência que Jesus possuía de si
mesmo e o impacto que sua pregação original a respeito do reino de Deus teve
sobre os primeiros cristãos. Ritschl afirmava que tal pesquisa histórica evitaria
que os julgamentos teológicos se tornassem apenas divagações subjetivas e
daria a eles seu próprio caráter científico.” (Stanley J. Grenz & Roger E. Olson)

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Albrecht Ritschl (1822-1899)
• “Para Ritschl, a teologia procura determinar a verdadeira
essência do Cristianismo como algo distinto de suas formas e
expressões externas. Além disso, busca também representar
todas as doutrinas dentro de um relacionamento sistemático
em que a essência é a força controladora.” (Stanley J. Grenz &
Roger E. Olson)

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Albrecht Ritschl (1822-1899)
• “De acordo com Ritschl, não é a Bíblia como um todo, mas o
“conjunto de ideias apostólicas” determinado através de uma
sólida pesquisa histórica. Ritschl estava certo de que tal
pesquisa poderia demonstrar que o reino de Deus é a essência
do Cristianismo - o grão dentro da palha - e o centro do
conjunto de ideias apostólicas” (Stanley J. Grenz & Roger E.
Olson)

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Albrecht Ritschl (1822-1899)
• Deus e o Reino de Deus
– Sobre Deus escreveu muito pouco
– O interesse da Teologia está no impacto que Deus tem sobre as
pessoas
– Estava mais interessado no Reino de Deus. “A fé cristã apropria-se
desse reino revelado em Jesus como sendo o bem maior da
humanidade. A fé, portanto, conhece o Deus proclamado por Jesus
como sendo amor. Fora isso, ela não tem nenhum interesse no “ser
de Deus” (Stanley J. Grenz & Roger E. Olson)

79
Albrecht Ritschl (1822-1899)
• Pecado e Salvação
– O pecado é oposição ao Reino de Deus
– O pecado é egoísmo, uma contradição ao amor que é o Reino de
Deus
– Universal, mas não herdado
– A salvação deve incluir os enfoques religioso e ético. O primeiro da
justificação e o segundo é o ideal de amor ao próximo

80
Albrecht Ritschl (1822-1899)
• Cristologia
– Rejeitava a afirmação da divindade de Jesus
• .. como Fundador e Senhor do Reino de Deus, Cristo é objeto do
conhecimento eterno e da vontade de Deus tanto quanto o é a unificação
moral da humanidade, que se fez possível através Dele e da qual Ele é
protótipo; ou ainda, que, não apenas no tempo, mas também na eternidade
do conhecimento e na vontade Divina, Cristo precedeu Sua comunidade
(Ritcshl)

81
Albrecht Ritschl (1822-1899)
1. Ressaltou o conteúdo ético da teologia cristã e afirmou que esta
deve basear-se principalmente na apreciação da vida interior de
Cristo.
2. Rejeitou o pecado original, a encarnação, a deidade de Cristo, a
morte substitutiva, a ressurreição, os milagres e outras doutrinas
fundamentais.

82
Albrecht Ritschl (1822-1899)
1. Desvaloriza toda diferença confessional, compromete-se a
expressão genuína do Evangelho, reduz-se a fé cristã a um puro
empenho moral, pouco se aprecia o dogma e as tradições da Igreja.
2. Essas também são as conclusões a que chega o seu discípulo Adolf
von Harnack (1851-1930), último e máximo representante do
protestantismo liberal.

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Adolf von Harnack (1851-1930)
1. Foi professor de história da igreja na Universidade de
Berlim de 1888 até aposentar-se, em 1921
2. Harnack é essencialmente um historiador (aliás
muito grande), sendo um dos maiores historiadores
do cristianismo, sobretudo de suas origens.
3. A sua obra-prima é A História dos Dogmas.
4. Durante algumas décadas ele também exerceu uma
enorme influencia como teólogo.

84
Adolf Harnack
1. Berlim: a turma de inverno 1899 – 1900.
2. 600 alunos de Adolf Harnack.
3. 16 aulas (Gibellini) sobre: A essência do
cristianismo.
a. O que é afinal o cristianismo?
b. Tenta responder a essa pergunta apenas em
sentido histórico:
i. Com os meios da ciência histórica;
ii. Com a experiência de vida que nos vem da
história.
Adolf Harnack
1. Tentativa de captar “aquilo que é válido e durável”.
“Os traços fundamentais do evangelho” (O Evangelho
no evangelho). A essência, o grão.
2. Qual é o lugar de Cristo na essência do cristianismo?
a. O evangelho como Jesus o praticou, não anuncia o
Filho, mas somente o Pai.
3. A cristologia eclesiástica é fruto da contaminação do
pensamento grego.
4. Respostas: a paternidade de Deus, a irmandade da
humanidade e o valor infinito da alma humana.

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