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O que é aconselhar?
De uma forma simples, aconselhamento é uma conversa em que alguém, diante
de uma situação difícil e em busca de respostas, pede a outra pessoa, de sua confiança e
a quem reputa sabedoria, ajuda na solução de seu problema.
2. Psicologia
Com o advento do Iluminismo, e sua entrada na igreja por meio da teologia
liberal, paulatinamente a igreja foi entregando seu ministério de aconselhamento para a
psicologia. Daí, surgiu o que tem sido chamado de Psicologia Cristã, fortemente
representada pelo Dr. James Dobson; no Brasil, pelo Corpo de Psicólogos e Psiquiatras
Cristãos (CPPC).
3. Integracionismo
Uma terceira linha foi proposta para o ministério de aconselhamento feito pela
igreja, o Integracionismo, que acredita ser possível conciliar a teologia cristã com a
psicologia. Esta corrente tem sido representada por nomes como Gary Collins e Larry
Crabb.
4. Psicanálise
Ainda que não tão evidente no debate, há uma linha que ganhou força no Brasil
há alguns anos atrás por causa de cursos rápidos que, teoricamente, preparava
pessoas leigas para o exercício do aconselhamento por meio da Psicanálise.
2. Psicologia do Ego:
a. Esta escola trabalha dentro das estruturas da teoria freudiana, mas entende que
o homem é capaz de direcionar seu comportamento de forma inteligente e
adaptadora.
b. É tarefa do psicólogo desenvolver o potencial do homem para o
comportamento sensato, razoável, capaz de tomar decisões que deem freios aos
impulsos brutos e conduzi-los a canais aceitáveis e produtivos.
c. Para desenvolver o potencial humano os psicólogos do ego investem na
formação de autoimagem positiva do homem, bem como na autoconfiança.
d. A psicologia do ego compreende a necessidade de adaptação do homem a
partir de necessidades biológicas dentro de uma estrutura social realista. Assim,
o homem é apenas um ser biológico.
e. À medida que a terapia do ego funcione, o ser humano tende a se tornar
orgulhoso, se afastando de Deus.
f. Como as necessidades verdadeiras ficam sem ser atendidas, o sentimento de
frustração toma conta.
5. Existencialismo:
a. O homem é um produto do acaso, um ponto de interrogação, um
acontecimento não planejado que não obedece a leis e está indo em nenhuma
direção intencional.
b. O problema psicológico resulta da neurose noogênica, segundo Victor Frankl.
As pessoas não sabem quem são e nem porque estão aqui.
c. A cura consiste em persuadir as vítimas a se agarrarem arbitrariamente em
alguma coisa pela qual vivam.
2. MATERIALISMO:
Doutrina filosófica que admite como realidade apenas a matéria. Nega a
existência da dinâmica espiritual, bem como do mundo espiritual ou divino.
3. REDUCIONISMO:
Teoria filosófica aplicada à psicologia que advoga que o ser pessoa, assim como
todo o comportamento humano, pode ser explicado reduzindo-o aos processos
psicológicos, biológicos e químicos que acompanham a atividade humana.
4. DETERMINISMO:
Doutrina segundo a qual a totalidade dos fenômenos constitutivos da realidade
se encontra submetida a determinadas leis de caráter natural. Assim, todo
comportamento humano é determinado pelo processo natural.
5. EVOLUÇÃO:
Todas as coisas tiveram origem no processo evolutivo de formas mais simples.
6. EMPIRISMO:
Pressupõe que o conhecimento só é possível através dos sentidos e/ou através do
método científico.
7. RELATIVISMO:
Pressupõe que tudo é relativo e que nada é absoluto.
8. HUMANISMO:
Pressupõe que o homem é a coisa mais importante do universo e que tudo gira
em torno da sua felicidade.
9. OCULTISMO:
Pressupõe a realidade da espiritualidade, mas uma espiritualidade comprometida
com o bem-estar do homem a partir de deuses que se colocam à seu serviço.
1. Movimento Clássico
Fundado por Jay Adams, defende a suficiência das Escrituras somente para o
aconselhamento, mas não despreza os estudos comportamentais desenvolvidos e
apresentados pela Psicologia Comportamentalista. Estes estudos são definidos como
“úteis”, porém “não essenciais” para a transformação de alguém.
Sua principal rejeição à Psicologia é à sua tentativa de tratar os problemas à luz
de suas inúmeras psicoterapias humanistas.
Os principais conselheiros desta linha são membros das principais instituições de
aconselhamento bíblico mundial: ACBC, IABC, ABC, FBC, BCF (EUA), ABCB,
NUTRA, SEBI, Logos, CETEVAP, Palavra da Vida, CPAJ-Mackenzie (Brasil).
2. Movimento Fundamentalista
O nome deste movimento não é pejorativo, visto ser assim que seus proponentes
se identificam. O principal nome desta linha é Martin Bobgan, e sua instituição mais
famosa é o Bereian Call.
Esta linha rejeita qualquer uso da Psicologia e considera totalmente herética
qualquer tentativa de estudo comportamental.
3. Movimento “Liberal”
Como indicado pelo título, este movimento tem sido pejorativamente chamado
de liberal porque aceita estudar temas que foram propostos pela Psicologia a partir de
uma análise bíblica (e.g. Personalidade, Emoções, Neuroplasticidade, etc.).
Muitos do movimento clássico são inseridos aqui também, entre eles, Jay
Adams. Mas seus principais proponentes são Sam Williams, Robert Kellemen, e sua
principal instituição é a BCC (Biblical Counseling Coalition).
V. A GRANDE QUESTÃO:
A BÍBLIA É, DE FATO, SUFICIENTE PARA ACONSELHAR TODO HOMEM
E O HOMEM TODO?
A Bíblia é, realmente, plenamente suficiente para tudo o que diz respeito à vida
e à piedade?
Em todo o mundo, o movimento de Aconselhamento Bíblico tem sustentado: A
Bíblia tem todas as respostas, o que implica dizer que tudo, e absolutamente tudo, o que
diz respeito não somente à piedade (a saber, o que diz respeito à fé), mas também à vida
(a saber, o que diz respeito ao todo da existência humana), tem nas Escrituras instrução
clara, exata e transformadora.
Todavia, este ensinamento não é aceito por um grande número de pessoas que
trabalham com a perspectiva religiosa de aconselhamento (e.g. psicólogos), nem mesmo
por inúmeros cristãos que propõem uma abordagem espiritualizada no processo de
aconselhamento (e.g. psicólogos cristãos e conselheiros cristãos, nomeados
integracionistas.
Para estes (se forem cristãos convertidos), a Bíblia diz respeito à tudo que é
próprio da fé (e.g. Quem é Deus? Quem é Jesus? Quem é o Espírito Santo? O que devo
fazer para ser salvo?, etc.), mas ela não é suficiente para as questões que desafiam a
existência humana, principalmente as que dizem respeito aos assim chamados
“problemas psicológicos” (e.g. traumas emocionais, transtorno de ansiedade
generalizada), e/ou biopsiquiátricos (e.g. depressão, transtorno bipolar).
Esta dicotomia entre vida e fé quanto à suficiência das Escrituras não é um mal-
entendido produzido por conselheiros bíblicos, também conhecidos como “noutéticos”,
mas é algo que tem sido disseminado, às vezes, de forma sutil ou, às vezes abertamente
em muitos círculos evangélicos por meio de livros (e.g. A Árvore da Cura, Roger
Hurding, Edições Vida Nova), ou declarações como estas:
É claro que existe muito conhecimento moderno que era desconhecido nos dias de
Jesus e de Paulo, que foi dado por Deus para nos ajudar a ministrar uns aos outros, e
para servir a Cristo com maior eficácia.
Gary R. Collins, Can You Trust Psychology? (p. 97, 91, respectivamente).
Qual é a verdade?
Diante desta clara confrontação de ideias que afirmam alicerçar-se na própria
Escritura Sagrada, como posicionar-se?
Seria a Bíblia suficiente para todas as coisas que dizem respeito à vida e à
piedade, ou seria limitada em seus ensinos à fé (salvação e doutrina)?
Pela quantidade de cristãos que cursam Psicologia procurando exercer um
ministério (ou trabalho profissional) de ajuda ao outro, incluindo milhares de pastores;
pela quantidade de Seminários que substituíram a disciplina de aconselhamento bíblico
pelo estudo da Psicologia; temos a impressão (e acredito que correta), de que o
cristianismo cedeu à doutrinação de uma Escritura limitada em seus ensinos.
Mas isto está de acordo com as declarações e ensinos da própria Escritura?
Psicólogos cristãos e conselheiros cristãos têm afirmado que nem a Bíblia e nem
a Teologia cristã advogam a doutrina da Suficiência das Escrituras quanto à vida e seus
conflitos existenciais, mas somente à doutrina.
Um trabalho muito citado em defesa deste ponto de vista é o de Eric Johnson,
Foundations for Soul Care: A Christian Psychological Proposal.
Johnson declara que as raízes da doutrina, na realidade, têm a ver com debates
entre os reformadores e os católicos quanto à fonte de autoridade, o magisterium
eclesiástico ou o Sola Scriptura.
Assim, o debate motriz da Suficiência das Escrituras seria a doutrina, e não os
problemas da existência humana. Segundo Johnson, deveríamos falar de Suficiência
Doutrinária das Escrituras somente.
As declarações de Johnson precisam ser analisadas com clareza e desejo sincero
da verdade. Estaria ele certo quanto à acusação que faz ao movimento de
Aconselhamento Bíblico ao dizer que temos entendido errado a doutrina?
O que significa fé e vida aqui? Ou esta frase é coordenativa (ou seja, refere-se a
dois termos diferentes), ou é conjuntiva (ou seja, refere-se a dois termos que comunicam
a mesma ideia), ou, então, é subordinativa (ou seja, refere-se a dois termos diferentes
cujo segundo é deriva seu sentido do primeiro).
Observemos o que diz um famoso teólogo reformado contemporâneo sobre o
sentido desta frase:
“...fé e vida são um par de conceitos abrangentes. O Catecismo Menor de
Westminster diz: ‘As Escrituras ensinam principalmente o que o homem deve crer
acerca de Deus e o dever que Deus requer do homem’.
Por isso, é razoável pensar que ‘fé e vida’, no ponto I, vi. Da Confissão, refere-
se a tudo o que devemos crer e fazer, ao conteúdo completo da Escritura
aplicado a todo o escopo da vida cristã. (FRAME, John, A doutrina da Palavra
de Deus, p.194,195).
Não deveria existir dúvida para os que advogam a fé reformada que o Sola
Scriptura não se referia apenas às questões salvíficas e doutrinárias como afirma Eric
Johnson.
É claro, à luz do discurso da Confissão de Fé de Westminster, que a frase “fé e
vida” é coordenativa, sendo “fé” referente às questões salvíficas e doutrinárias”, e
“vida” referente à todas as situações que experimentamos na caminhada humana.
Será que Johnson, realmente, estudou e entendeu este ponto? Não parece que a
crítica feita ao Aconselhamento Bíblico, de que este “inventou” o conceito da
“suficiência das Escrituras” a partir de um mal entendido do conceito do “Sola
Scriptura”, seja consistente, pois o entendimento do par de palavras “fé e vida” é muito
claro quanto à sua abrangência para longe do significado restrito de “dogmas”.
Ainda na própria CFW, vemos o tratamento de questões pertinentes à “vida”,
como “O Magistrado Civil” (cap. XXIII) e “Do Matrimônio e do Divórcio” (cap.
XXIV); e em seus catecismos Maior e Menor explicita condutas do viver diário, por
meio da exposição dos Dez Mandamentos.
2. Todo o conselho de Deus concernente a todas as coisas necessárias para a glória dele
e para a salvação, fé e vida do homem, ou é expressamente declarado na Escritura ou
pode ser lógica e claramente deduzido dela.
“Fé e vida”, os dois conceitos, segundo a CFW são ou expressamente declarados
na Escritura ou podem ser lógica e claramente deduzidos dela. Observemos que a frase
não diz respeito somente à “fé” (questões salvíficas e doutrinárias). A “vida” (questões
da nossa existência), é contemplada nas Escrituras da mesma forma que a “fé”.
Questões declaradas: Ansiedade (Mt 6.25), amargura, cólera, ira (Ef 4.31); etc.
Questões lógicas e claramente deduzidas: Depressão (Sl 42), pecado intrauterino
e suas implicações para a formação da personalidade do indivíduo (Jo 9).
Mais uma vez precisamos perguntar: será que Johnson, realmente, estudou o
conceito e as implicações do Sola Scriptura? E se estudou, será que realmente
entendeu? Se estudou, parece ter abandonado o sensus literalis (o sentido pretendido
pelos reformadores) e impôs à doutrina a sua interpretação particular.
Para enfatizar o entendimento errado de Johnson, vale examinar alguns
exemplos sobre o entendimento de “fé e vida” na história da Reforma.
Exemplos da Reforma
À luz da crítica de Johnson, podemos apontar para exemplos concretos de que os
reformadores entendiam a Suficiência das Escrituras quanto à tudo o que diz respeito à
vida?
A resposta é Sim! Vejamos:
1. A Reforma em Genebra
Calvino promoveu a reforma em Genebra não somente numa perspectiva
doutrinária, mas numa perspectiva político-sócio-educacional.
Em sua obra, O Pensamento Econômico e Social de Calvino, o sociólogo francês
André Biéler demonstra que todo o trabalho teológico-pastoral de Calvino junto ao
consistório de Genebra foi pautado pelo claro ensino das Escrituras para a
transformação social da cidade.
A Suficiência das Escrituras foi a base para todo pensamento revolucionário de
Calvino quanto à vida em sociedade.
2. A Reforma Luterana
Quando a Alemanha cedeu ao ensino reformado de Martinho Lutero, a mesma
passou por um processo de transformação social, a partir da escrita de sua língua, que
teve as Escrituras como base de todo processo sócio-político-cultural.
Lutero, enquanto músico, procurou discernir a cultura e sua utilização cristã a
partir do conceito Lei e Evangelho, segundo as Escrituras.
Os fundamentos educacionais, políticos e econômicos na Alemanha foram
estabelecidos tomando por base o ensino das Escrituras.
3. A Reforma Puritana
O Puritanismo teve sua origem na Inglaterra do século XVI, quando calvinistas
(presbiterianos, batistas, congregacionais), se opuseram à condução anglicana e,
posteriormente, católica da igreja cristã, e seu impacto social.
Por isso, os puritanos passaram a lutar pela “pureza” (daí o nome) da igreja e do
Estado na sua forma de viver diante de Deus (Coram Deo).
A Confissão de Fé de Westminster foi o principal documento elaborado pelo
movimento puritano.
Por causa da doutrina do Sola Scriptura, e sua implicação óbvia da Suficiência
das Escrituras, os puritanos instruíram sobre todas as coisas no que diz respeito à vida,
e não somente sobre o que diz respeito à piedade (doutrina), a saber: casamento, sexo,
dinheiro, relacionamentos, trabalho, etc.
Leland Ryken fez um excelente trabalho em seu livro “Santos no Mundo”, Ed.
Fiel, demonstrando como a Escritura era entendida como suficiente para instruir todo o
homem sobre tudo aquilo que Deus criou.
Como temos visto, a doutrina da Suficiência das Escrituras era uma conclusão
óbvia tanto da declaração que se encontra na Confissão de Fé de Westminster como da
prática adotada pelos principais reformadores. Mas e a prática do aconselhamento
bíblico, onde ficava na Reforma?
2. Lutero
Lutero, assim como Calvino, é pouco conhecido pela igrejas evangélicas como
um pastor de ovelhas. Todavia, sua vida pastoral foi muito intensa produzindo não
somente tratados teológicos e comentários, como obras pastorais de aconselhamento.
Consolo no Sofrimento é um pequeno livro que reúne dois sermões de Lutero
sobre a morte e o sofrimento provendo instruções bíblicas para os fiéis.
Lutero sofreu com a depressão, mas lutou biblicamente com esta reação,
sabendo tratar-se de questão espiritual (e.g. seus escritos sobre o sofrimento, a teologia
da cruz e o hino Castelo Forte).
Cremos que estes dois exemplos aplicados ao aconselhamento bíblico sejam
suficientes para demonstrar que os reformadores entendiam a ideia de Suficiência das
Escrituras aplicada ao todo da vida humana, inclusive suas crises existenciais.
Assim, a tese de Eric Johnson perde credibilidade, visto que o mesmo sequer
aponta para exemplos claros das confissões reformadas e da vida prática dos
reformadores.
VI. SUFICIÊNCIA DAS ESCRITURAS
DEFINIÇÃO E ABRANGÊNCIA
Abrangência
“...o conteúdo dotado de autoridade da Escritura não é algo religioso em
oposição a algo secular. Não se trata de ‘questões de salvação’ em contraste com
questões não relacionadas à salvação. Em vez disso, a Escritura se dirige a toda a
vida humana, como só Deus mesmo tem o direito de fazer. Isto se aplica a todas
as situações que experimentamos” (Frame, DPL, 191).
Exemplos:
a) Os mandatos da criação
b) A aliança com Israel (“Deus ordena um calendário, feriados, dieta, roupas,
economia, práticas empregatícias, educação, casamento e divórcio, governo
civil, bem como suas orações e sacrifícios sacerdotais”, DPL, 191).
c) “Os mandamentos de Jesus não lidam apenas com arrependimento, fé e
adoração. Eles também abrangem nosso tratamento ao pobre, nossa ética sexual,
casamento e divórcio, ira, amor aos inimigos, jejum, ansiedade, hipocrisia e
muitos outros assuntos” (DPL, 192).
d) A ética paulina é regida pelo ensinamento de 1Co 10.31.
É indiscutível, quando examinamos com boa vontade de conhecer a verdade, que
a Escritura abrange tudo da nossa vida, não somente questões salvíficas-doutrinárias,
como também questões éticas, científicas e de aconselhamento.
Infelizmente, o comprometimento com o secularismo tem lobotomizado nosso
entendimento da verdade e criado uma dicotomia entre “fé e vida” não existente nas
Escrituras.
John Frame argui dizendo:
Às vezes os cristãos dizem que a Escritura é suficiente para a religião, ou
pregação, ou teologia, mas não para coisas como encanamento, pecuária e
odontologia. E, claro, muitos argumentam que ela não é suficiente para a
ciência, filosofia, ou mesmo ética. Quem diz isso está se esquecendo de um
ponto importante. Certamente, a Escritura contém informações específicas mais
relevantes para a teologia do que para a odontologia. Porém, suficiência, no
presente contexto, não é suficiência de informações específicas, mas suficiência
de palavras divinas. A Escritura contém palavras divinas suficientes para tudo na
vida. Ela tem todas as palavras divinas de que o encanador precisa e todas as
palavras divinas que o teólogo precisa. Assim, ela é tão suficiente para o
trabalho de encanação quanto para a teologia. E, nesse sentido, ela também é
suficiente para a ciência e a ética. (DPL, 195)
VII. A SUFICIÊNCIA DAS ESCRITURAS E A GRAÇA COMUM
Um pressuposto mais antigo para defender que a Suficiência da Escritura diz
respeito à doutrina e não à vida é a inferência que psicólogos e conselheiros cristãos
fazem da doutrina bíblica da Graça Comum.
Definição: Graça comum é a graça de Deus pela qual Ele dá às pessoas
bênçãos inumeráveis que não são parte da salvação. A palavra comum aqui significa
algo que é dado a todos os homens e não é restrito aos crentes ou aos eleitos somente
(Wayne Grudem, em Teologia Sistemática, p. 297-304).
Inferência Integracionista: Toda a verdade é verdade de Deus. Alguns
acrescentam: Não importa de onde proceda a verdade.
Implicações
Segundo Heath Lambert
1. A revelação geral é revelada. Ela é revelação. Ela não é alguma coisa que
pessoas descobriram. Ela é algo que “Deus revelou”, e se Deus não tivesse nos
mostrado, nós nunca saberíamos.
2. Segundo, revelação geral é sobre Deus. O objeto da revelação geral é o
próprio Deus.
3. A verdade sobre Deus transmitida na revelação geral é suprimida por
descrentes.
4. A revelação geral conduz à condenação.
A revelação geral não é aquilo que seu cardiologista sabe a respeito de como
fazer uma cirurgia; não é o que seu eletricista sabe a respeito de como fixar a luz
na sua casa; e não é o que criadores de cachorro sabem a respeito de cuidar de
um canil. Mais relevante para a nossa discussão é que a revelação geral não é o
que um psicólogo sabe a respeito do funcionamento humano (Lambert).
IX. A REIVINDICAÇÃO DAS ESCRITURAS QUANTO À SUA SUFICIÊNCIA
Salmo 19.7:
A lei do Senhor é perfeita e restaura a alma (hebraico vpn); o testemunho do
SENHOR é fiel e dá sabedoria ( hebraico hmkx) símplices.
2 Pedro 1.3
Visto como, pelo seu divino poder, nos têm sido doadas todas as coisas que
conduzem à vida e à piedade...
2 Timóteo 3.14-17
Destes textos bíblicos que são diretos sobre o tema, julgo que 2 Timóteo 3.14-17
seja mais exaustivo e inconfundível sobre a doutrina.
Algumas observações exegéticas sobre o texto e a suficiência das Escrituras:
1. Sobre a tradução
Duas traduções são possíveis para o v.16, a saber:
a) Toda a Escritura é inspirada por Deus. Neste caso, a tradução assume o uso
predicativo (cf. Almeida Atualizada).
b) Toda Escritura divinamente inspirada é. Neste caso, a tradução assume o uso
atributivo (cf. Almeida Corrigida).
Independente da tradução que se adote, a suficiência das Escrituras é clara nesta
passagem, mas a segunda tradução, caso atributivo, harmoniza-se melhor com a
estrutura linguística e discursiva do texto.
Texto Grego:
pa/sa grafh. qeo,pneustoj kai. wvfe,limoj pro.j didaskali,an( pro.j evlegmo,n( pro.j
evpano,rqwsin( pro.j paidei,an th.n evn dikaiosu,nh
Tradução Proposta:
Toda Escritura soprada por Deus é, também, benéfica para o refutar o erro
(doutrina), guiar a vida das pessoas (instruir acerca das situações da vida),
corrigir falhas e instruir as pessoas a serem justas.