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Este material compõe uma das apostilas do curso Teologia Descomplicada, e é de uso
exclusivo e pessoal de seus alunos, não podendo ser distribuído, compartilhado ou ven-
dido em qualquer circunstância. Como material apostilar, baseia-se na transcrição adap-
tada das aulas, com adições de referências bíblicas e bibliográficas, possuindo colagens,
desenvolvimentos e paráfrases de várias teologias sistemáticas disponíveis, assim como
comentários autorais. Sempre que possível, as fontes são citadas no corpo do texto, con-
stando as referências completas ao fim do documento.
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Aula 1
A importância
da doutrina
antropológica
Antropologia deriva das palavras αντρωπρός [homem] e λόγος [palavra, es-
tudo]. Assim, antropologia é o estudo do homem. Há vários caminhos para
esse estudo: sociologia, obra missionária, psicologia, entre outros. O que fa-
remos aqui é antropologia teológica. Tentaremos, portanto, observar o que
a Palavra de Deus tem a nos dizer acerca do homem. O estudo do que é o
homem é essencial para a forma como vivemos, pois a forma como vivemos
é determinada pela forma como nos compreendemos como seres humanos.
Quem nós somos? Para que Deus nos criou? Qual é o nosso propósito no
mundo? O que nos constitui? Se não temos consciência da nossa concepção
acerca do homem, nossa vida será uma consequência disso. Assim, é fun-
damental que tenhamos uma compreensão bíblica acerca do homem, para
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que não nos entendamos de forma errada. Millard Erickson, em sua teologia
sistemática, dá pelo menos cinco motivos pelos quais a antropologia é uma
doutrina tão importante para aquele que deseja conhecer a Palavra de Deus.
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• A presente crise de autoentendimento do homem moderno. Os dra-
mas da modernidade: o homem não sabe mais quem é e qual seu pro-
pósito no mundo, para que ele foi criado e quem é, qual seu senso de
identidade, se sua identidade deriva da nossa biologia ou não. Todas
essas questões são importantes e devem ser respondidas a partir da
palavra de Deus. As pessoas vivem em busca de identidade, propósito
e imagem. As pessoas não sabem onde depositar seu próprio senso
de identidade e de valor. A palavra de Deus pode fornecer isso por
meio de uma boa antropologia.
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Aula 2
Imagens da
humanidade
• Uma máquina
• Um animal
Ele é visto como um animal racional que cresceu nas escalas evolutivas e que
subiu ao topo da cadeia alimentar. Seríamos tão animais quanto cachorros,
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gatos e cavalos. A única diferença seria a capacidade de abstração e de raci-
cínio mais avançado. Essa é uma visão profundamente evolucionista do ser
humano que o reduz ao mesmo nível dos outros seres da criação. As pessoas
defensoras dos direitos dos animais e os veganos geralmente argumentam
que maltratar um animal, usá-lo como força de trabalho, comê-lo, seria o
mesmo que o fazer com o ser humano. Claro que, em algum nível, temos se-
melhanças com alguns animais, mas não das mais profundas, não de forma
total. Não fomos criados como animais, mas como parte especial da criação.
• Um ser sexual
• Um ser econômico
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acreditarem que influências econômicas é aquilo de mais importante na for-
mação de quem é o indivíduo.
• Um peão do universo
É uma ideia particularmente moderna que propaga que seres humanos nada
mais são do que a congruência de forças do universo que o controlam e o
definem. Berthrand Russel, o famoso cético, defendia essa ideia ao ponto
do desespero com a ideia de que somos simplesmente predestinados por
forças que estão além do nosso controle. Essas forças não provêm de Deus,
são simplesmente forças da própria existência. Jean Paul Sartre, o famoso
existencialista, leva essas ideias ao ponto do desespero pessoal de acreditar
que não temos qualquer valor ou significado. Albert Camus defendeu essa
mesma ideia e hoje em dia pessoas defendem ideias muito parecidas ao
afirmarem que o homem nada mais é do que um fruto do meio. Talvez não
sejam forças cósmicas que de alguma forma nos definem, mas sempre a
circusntância em que nós estamos inseridos. Não somos nada mais em
termos de ideias, religião, valores, vontades, senão frutos do meio onde
estamos inseridos.
• Um ser social
• Um ser livre
Homens que possuem vontade plena e absoluta para definir quem são e o
que querem ser, até mesmo uma liberdade contra suas imposições biológi-
cas, o seu sexo. Nada pode impedir o ser humano de ser o que ele é e o que
deseja ser. Exercemos nossa liberdade de acordo com nossos interesses.
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Aula 3
A criação da
humanidade
1. Evolução naturalista. Essa teoria rejeita qualquer ação sobrenatural
na criação do homem. “Os processos imanentes na natureza produ-
ziram os seres humanos e tudo o que existe” (Erickson, 2015, p. 470).
Isso significa que o homem, assim como todas as criaturas, surgiu de
processos naturais e não há qualquer ser divino que tenha participa-
do na criação do que é natural. A evolução naturalista considera que
os processos físico-quimicos dos átomos e partículas subatômicas de-
ram origem à vida e, assim, ao processo biológico. Esses processos
são aleatórios e causais, sem um propósito de ser, e aqueles seres que
surgiram desses processos são selecionados pelo meio externo a eles.
Os que são selecionados positivamente podem perpetuar sua gera-
ção, reproduzindo-se. Por outro lado, aqueles que são selecionados
negativamente podem chegar à extinção. Novamente, esse processo
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de seleção natural é arbitrário e sem propósito de ser. O homem existe
como tal hoje simplesmente porque foi selecionado positivamente e
se reproduziu. Essa posição não encontra respaldo bíblico, pois desde
seu início considera que Deus não existe.
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as espécies de cachorros que hoje existem. O processo de mutação e
seleção foi dando origem às variações dentro da família de determi-
nado animal ou vegetal. Ou seja, Deus não criou o poodle, o rusky, o
rotweiller e o lobo, mas criou um canídeo que pôde dar origem a todos
esses. Não obstante, o homem foi criado de modo especial e distinto,
não derivando de um ser anterior. A interpretação dessa posição sur-
ge porque a palavra hebraica [ ןיִמmin], que é traduzida como “espécie”,
é vaga, “de modo que não é necessário idenficá-lo com as espécies
biológicas” (ERICKSON, 2015, p. 473). Ou seja, quando a Bíblia fala que
Deus criou os animais segundo suas espécies, ela não quer dizer o
mesmo sentido científico que a espécie adquiriu, mas pode significar
que Deus criou os animais segundo suas “famílias”.
Dentro dessas visões sobre a criação do ser humano, existem visões sobre a
criação da terra. Alguns vão argumentar acerca de uma terra jovem e outros,
de uma terra antiga. Existem pelo menos 3 visões sobre a idade da terra den-
tro dessas visões sobre a criação do homem.
• Uma terceira posição, que seria oposta à visão da Terra Jovem, seria
a de que Deus criou a terra há bilhões de anos e ela chegou ao que é
hoje por meio do processo evolutivo.
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Aula 4
O significado
teológico da criação
da humanidade
1. Dizer que o homem é criado é dizer que temos existência depen-
dente. Nossa existência não existe em si mesma, mas depende da
criação do Senhor. Existimos em submissão a ele porque ele existe
e porque ele nos criou. Ele tem uma existência plena e contida em
si mesma. Quando ele diz que “é o que é”, está demonstrando a sua
soberania, grandeza e autoridade. Sua existência é soberana, mas nós
existimos em sujeição a Deus. Somos limitados por aquilo que Deus é
e pelo que ele intentou para nós.
2. O ser humano faz parte da criação. Somos parte do que Deus fez.
Não estamos acima da criação, mas somos parte dela, ainda que se-
jamos sua coroa. Então, somos criados de forma especial, mas somos
parte desse meio ambiente. Isso diz respeito a alguma coisa sobre
ecologia, cuidado com o meio ambiente, sobre nossa relação com o
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meio e tudo mais. Por isso, também somos afetados pelo que aconte-
ce com ela.
3. O
ser humano tem um lugar distinto. Não podemos interpretar
que somos tão importantes quanto o resto da criação, mas que
somos mais importantes que as outras coisas criadas. Somos mais
importantes que os animais, as plantas, que as belezas naturais. Como
seres humanos, fomos criados por Deus como coroa, como aquilo que
há de mais belo e elevado em tudo aquilo que ele fez. A vida humana
vale mais que qualquer outra coisa.
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terpretar a nossa pequenez como algo inerente ao que somos. Todos
nós vamos morrer. Enfrentamos também a fome, o sono, a fraqueza.
Este corpo de carne foi entregue por Deus a nós e tem o objetivo de
nos lembrar que estamos sempre sujeitos às forças de um Deus que
é maior que nós.
7. Limitações não são inerentemente más. Deus nos criou com limita-
ções. Elas nos acompanharão para sempre, talvez até nos Novos Céus
e Nova Terra.
9. Ser um humano é uma coisa incrível. D eus nos criou como a co-
roa de sua criação, como aquilo que há de mais elevado em tudo o
que foi criado. Isso nos faz acreditar que Deus tinha um propósito
especial para nós e que ser um humano é maravilhoso, incríve. É ser
criado por Deus justamente para refletir a sua glória e grandeza. Não
podemos desprezar o ser humano, porque Deus nos fez grandes,
gloriosos, um pouco menor do que os anjos (Sl 8) e, apesar de des-
truídos pelo pecado, ainda seremos resgatados pela obra perfeita de
Cristo Jesus. Deus nos criou à sua imagem e semelhança para refletir
a sua glória a esse mundo caído
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Aula 5
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ser perdidas.
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de Deus diz respeito à totalidade do que o homem é e aquilo que o diferencia
dos animais. Não obstante, essa imagem foi contaminada pelo pecado. Calvi-
no (CALVINO apud FERREIRA e MYATT, 2007 p. 393) afirma que
Ele também diz que “Embora concordemos que a imagem de Deus não foi
nele [no homem] aniquilada e apagada de todo, todavia foi corrompida a tal
ponto que, qualquer coisa que lhe reste, não passa de horrenda deformida-
de (As institutas, I.15.4)”. Ainda segundo FERREIRA e MYATT (p. 394)
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é criada por Deus, resulta a mesma coisa. É assim, e não
de outra maneira, que sou planejado ser pelo Criador.
Brunner ainda acrescenta que existe uma diferença entre aspecto material e
aspecto formal da imagem de Deus.
Karl Barth, que também era um teólogo neo-ortodoxo, apresenta três está-
gios do que pensava ser a imagem de Deus. No primeiro, ele não usava a ex-
pressão “imagem de Deus”, mas falava de uma unidade entre Deus e os seres
humanos. Tal unidade foi perdida com a Queda, apesar de ele também não
considerar a queda um evento temporal. No segundo estágio, devido à con-
trovérsia com Brunner, ele negou qualquer ligação entre Deus e o homem,
e a capacidade de o homem de receber palavra de Deus. No seu terceiro
estágio, ele refere-se à imagem de Deus como algo que ainda é presente no
homem. Ele entende que a imagem consiste não apenas no relacionamento
do homem com Deus, mas do homem com seu semelhante. Para Barth, com-
preenderíamos mais o ser humano estudando Cristo, não os homens, pois
este é aquele que reflete perfeitamente o que Deus pensou para a humani-
18 dade (ERICKSON, 2015).
Aula 6
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• Concepção essencial
• Concepção funcional
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Deus não é algo da concepção do ser humano nem sua experiência de rela-
cionamentos, mas algo que a ele foi designado. A Imago Dei seria o exercício
humano do domínio da criação. Essa concepção se baseia na declaração de
Gênesis 1.26, “Façamos o homem à nossa imagem, conforme a nossa seme-
lhança; e domine sobre os peixes do mar...” e também nos versos 27 e 28
quando Deus ordena que homem e mulher exerçam domínio. A ideia seria
que o homem reflete a Imago Dei porque, assim como Deus exerce controle
da criação, o homem exerceria domínio sobre ela.
Outra passagem que trata a respeito disso é Salmo 8.5-6: “Pois pouco menor
o fizeste do que os anjos, e de glória e de honra o coroaste. Fazes com que
ele tenha domínio sobre as obras das tuas mãos; tudo puseste debaixo de
seus pés”
A intenção de Deus ao fazer o homem à sua imagem seria que este exercesse
domínio – nisto consistiria a Imago Dei. Essa ênfase acompanhou o entendi-
mento do mandato cultural. O mandato cultural seria o exercício do domínio
da criação conforme Deus prentendeu.
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Aula 7
Imago Dei: definições
bíblicas
• A imagem de Deus é universal. Todo ser humano, pecador ou cristão,
é imagem de Deus. Isso não é próprio de uma pessoa de determinada
classe social, língua, etnia, ou nascido de um país. A imagem de Deus
é algo dado a todo ser humano seja ele salvo ou não.
• A imagem de Deus não se perdeu, mas foi maculada. Temos uma ima-
gem quebrada e não refletimos Deus de forma absoluta. Mesmo as-
sim ainda temos algo dessa imagem em nós e ainda somos valiosos
por causa dessa imagem.
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• Portanto, considera-se que a Imago Dei é basicamente essencial. É
algo que o ser humano é, não algo que ele tem ou faz. Ainda que não
se possa precisar um elemento, não se deva, a imagem de Deus diz
respeito à própria constituição humana. As dimensões funcional e re-
lacional seriam consequências da Imago Dei.
Imagem inclui semelhança moral com Deus. Deus é Santo (Is 6. 1-3); ele é amor
(1 Jo 4.16); ele tem muitos outros atributos morais também. Já que humanos
foram criados como Deus, é esperado que eles compartilhem essas caracte-
rísticas morais. Portanto, Deus nos ordena: “sedes perfeitos, portanto como
o pai celestial é perfeito (Mt 5. 48). O Senhor também disse a Israel: “sedes
santos, porque eu sou santo” (Lv 11.45).
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• Imagem inclui o corpo.
• A ressurreição do corpo revela que nosso aspecto físico faz parte da-
quilo que Deus intentou que carregássemos para sempre, até mesmo
no Novo Céu e Nova Terra. O que representa talvez a ideia de sermos
físicos também faz parte da imagem de Deus.
Também, para Berkhof, não podemos desprezar o corpo no que diz respeito
à imagem de Deus porque ele o vê como um “instrumento próprio de autoe-
xpressão da alma” (p. 189). Ele lembra que o corpo “está destinado a tornar-
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-se no fim um corpo espiritual” (p. 189). Ou seja, o corpo é considerado como
uma expressão da Imago Dei, ainda que o próprio Deus não tenha corpo,
porque ele é parte do que o ser humano é.
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Aula 8
Tricotomia, Dicotomia e
Monismo: A constituição
do homem em alma,
espírito e corpo
Há basicamente três posições acerca da constituição do homem:
• Tricotomismo
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te’ ou ‘alma’, não devemos compreender isso como uma
terceira parte do homem, mas como a expressão resul-
tante do espírito funcionando por meio do corpo. Pode-
-se dizer que o espírito é o princípio do homem como
alma. A alma (ou vida) está ancorada no espírito e assim
é inseparável do espírito, mas não é uma terceira parte.
É a vida como um todo pela qual o espírito do homem se
expressa.
Apesar de considerar que alma e espírito são “usados de maneira bem simi-
lar ou em estreita relação”, o autor afirma que
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rituais” (πνευματικός) daria a entender que há uma diferença entre o corpo
natural (ψθχικόν) e corpo espiritual (πνευματικόν).
• Monismo
O Monismo defende que o ser humano não tem mais de uma parte distinta,
mas que é uma unidade radical. De acordo com os monistas, “os termos
que às vezes são usados para distinguir as partes do ser humano devem ser,
na realidade, interpretados basicamente como sinônimos” (ERICKSON, 2015,
p. 510). Para o monista, é impossível existir sem um corpo. Nesse sentido,
a realidade de uma existência pós-morte em um estado incorpóreo não é
possível.
Assim, o uso por Paulo das palavras gregas não deveria ser visto à luz do pen-
samento grego – dualista. Ele admite que Paulo usa a palavra σαρξ, mas ela
deve ser entendida como “humanidade”, não um elemento da constituição
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do homem ou a fraqueza e mortalidade do homem. Portanto, “corpo e alma”
devem ser entendidos como uma descrição exaustiva da personalidade hu-
mana. O homem é uma carne que recebe vida. De acordo com H. Wheeler
Robinson, “O homem é uma unidade e [essa] unidade é o corpo como um
conjunto de partes, que extrai vida e atividade de uma alma-fôlego, a qual
não tem existência separada do corpo”. Essa visão monista não é muito co-
mum em círculos cristãos e é muito próxima de elementos secularizados ain-
da que espirutualistas em algum nível.
• Dicotomismo
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Mateus Jesus faz uma comparação com aqueles
10.28 que querem matar o corpo, mas nada po-
dem fazer à alma. Porém, Deus é aquele
que pode lançar no inferno tanto um como
o outro. Percebemos que há uma distinção
entre alma e corpo, mas nenhuma menção
a uma terceira parte.
Sl 42.5 Sl 51.10 Tanto alma como espírito são palavras usa-
das em um contexto de restauração de ale-
gria, um sentimento, como de restauração
do relacionamento firme com Deus
Gênesis 2.6 Zacarias 12.1 Ser vivente pode ser traduzido para alma
vivente, a partir do orginal (nepesh é a pa-
lavra usada para alma).
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da integração. Enquanto o dicotomismo entende uma maior distinção entre
corpo e alma, a unidade psicossomática entende uma maior integração. Uma
possível ilustração seria que enquanto dicotomismo entende corpo e alma
como água e óleo (uma mistura heterogênea), a unidade condicional entende
como água e álcool (uma mistura homogênea). A proposta é que o homem foi
criado como um ser completo, uma unidade, de alma e corpo. O pecado teria
causado uma deturpação nesse estado, trazendo a separação entre alma e
corpo – aquilo que não era para ser separado –, portanto, causando assim
uma anomalia no homem. No estado intermediário, onde a/o alma/espírito
do homem está com Deus, somos incompletos e somente na ressurreição
do nosso corpo seremos plenamente aquilo que fomos criados para ser.
Erickson (2015, p. 521) afirma que “o estado normal do ser humano é de um
ser unitário com corpo, e é assim que as Escrituras o consideram e o tratam”.
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Aula 9
Psicologia,
psiquiatria e a
relação entre alma e
corpo
Como se dá a relação entre as partes material e imaterial do ser humano?
Essa é uma pergunta muito séria porque tem aplicações importantes na área
da psicologia, psiquiatria e várias outras áreas do conhecimento. É um assun-
to sobre o qual a Escritura fala muito pouco, mas que é importante dicutir. Se
temos uma parte material e uma imaterial, existe comunicação entre essas
duas partes? Aquilo que acontece na alma afeta o corpo? Aquilo que aconte-
ce no corpo afeta a alma? Esse é um assunto extremamente amplo e difícil,
que requer atenção especial devido a sua importância, principalmente de-
pois do avanço das psicologias e psiquiatrias dentro dos contextos religiosos.
Há muitos cristãos que acreditam que crentes não devem tomar remédios
psiquiátricos ou coisas assim. Porém, se existe uma unidade entre as partes
material e imaterial do ser humano e uma comunicação entre essas partes,
é interessante que percebamos que coisas que acontecem no corpo afetam
nossa alma e vice-versa. A Escritura dá alguns exemplos disso.
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Pense no episódio em que os discípulos não conseguem orar com Jesus no
Getsemani e Jesus os repreende por estar dormindo. Jesus diz que o espírito
deles não estava pronto. O problema de os discípulos não estarem orando
não era espiritual, mas de fraqueza da carne. Eles dormiam por causa de
uma fraqueza física, algo que afetava o corpo e o espírito. Era um problema
de natureza fisiológica. Por outro lado, observamos elemento de natureza
psicossomática na Escritura. No mesmo texto do Getsemani, vemos um Cris-
to que seu sangue por causa do terror psicológico da cruz e da separação
de Deus. Doenças psicossomáticas são exatamente isso: Nosso corpo sendo
afetado por questões da alma. Muitas depressões físicas surgem por conta
de problemas espirituais e problemas espirituais surgem por causa de de-
pressões físicas com origem biológica e bioquímica.
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Pode ser que haja um pecado oculto, uma pressão demoníaca ou algo que
está afetando a sua espiritualidade ao ponto de isso mudar o seu corpo.
Muitas vezes, no meu ministério, o serviço espiritual foi afetado por causa do
meu bem-estar físico. Eu estava cansado ou doente e não conseguia pregar
como gostaria. Não conseguia gastar tempo aconselhando, cuidando como
eu gostaria. Isso acontecia por causa do meu corpo, não por causa da minha
espiritualidade. Ou seja, o fato de o meu corpo estar fraco afetava o serviço
espiritual à igreja. Precisamos cuidar do nosso corpo se quisermos gastar
nosso corpo. Precisamos cuidar bem nosso corpo físico se quisermos ter um
serviço espiritual que realmente será útil para o reino de Deus. Claro que
Deus muitas vezes sobrepõe nossas misérias físicas e nos usa mesmo na fra-
queza, mas nós, ao cuidarmos do nosso corpo, afetaremos nosso espírito. Ao
estar bem cuidado fisicamente, exercitado, bem alimentado, consigo ter uma
vida espiritual melhor. Ao cuidar do corpo, consigo pregar com mais vigor,
passar mais tempo lendo e estudando, porque as costas doem menos, o joe-
lho dói menos. Cuidar do corpo ajuda na nossa espiritualidade justamente
porque existe essa unidade entre corpo e alma.
Temos que cuidar da nossa alma para ter o corpo mais cuidado. Precisamos
cuidar do nosso corpo para ter uma alma mais cuidada.
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Aula 10
A origem da Alma:
tradução, criação ou
preexistência?
• Pré-existencialismo
• Traducionismo
Essa posição afirma que, assim como nosso corpo procede de nossos pais,
nossa alma também. Ela é defendida por homens como Gregório de Nissa,
Lutero, Jonathan Edwards, William Shedd, Augustus Strong, entre outros.
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Alguns argumentos do traducionismo são:
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• Criacionismo
• A alma de Cristo não herdou o pecado, pois foi criada por Deus. Cristo
não partilhou da mesma essência numérica que Adão, portanto não
foi concebido em pecado. Ele foi verdadeiramente homem, possuindo
uma alma e nascido de mulher, sendo semelhante a todos nós.
Objeções ao criacionismo
• Como explicar o pecado com o qual todo homem nasce? Deus cria
uma alma pecadora, criando-a má?
• Como relacionar com o ensino de que Deus cessou seu ato criativo (Gn
2.2)?
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Aula 11
Imortalidade da
alma e estado
intermediário
morte é fator inegável (Hebreus 9.27). Deus amaldiçoou o homem com
A
a morte por causa do pecado. O capítulo 5 de Gênesis repetidamente diz
“...e morreu” para evidenciar que a maldição havia recaído sobre o homem.
Aqueles que não concebem a existência de uma parte imaterial no homem,
entendem a morte como a cessação da existência. Porém, a morte não deve-
ria ser vista como não-existência, mas como um modo diferente de existên-
cia. Como diz Erikson (2015, p. 1116), “a morte é simplesmente a transição
desse estado para uma forma diferente de existência; ela não é, como alguns
tendem a pensar, a extinção da vida”.
Outra morte da qual a Bíblia fala é a morte espiritual, na qual a pessoa vive
em pecado (Efésios 2.1-3), e ainda a segunda morte, que é a condenação
eterna (Apocalipse 20.14) por não viver nos caminhos de Deus.
Concebendo a alma, é preciso responder para onde ela vai depois da morte.
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Os liberais acreditavam em uma forma de imortalidade da alma que rejeitava
a ressurreição corpórea porque também rejeitavam que Jesus voltaria, em
sua segunda vinda, de forma corpórea. Assim, a alma é imortal e o homem
passa a existir numa realidade espiritual eterna depois que morre. Já os neo-
-ortodoxos viam a imortalidade da alma como um conceito grego e criam
numa ressurreição do corpo futuro. Porém, atrelada a essa concepção, es-
tava a ideia do ser humano como unidade radical. Portanto, entre a morte e
a ressurreição não haveria vida espiritual, porque não pode haver vida sem
um corpo. Isso faz parte de uma das posições famosas acerca do estado in-
termediário: onde o ser humano está nesse momento depois que ele morre?
Seria a ideia do sono da alma.
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Aula 12
A criação do
casamento
Um dos pontos importantes é sobre a criação do casamento. Ele foi criado
como algo intrínseco à criação do homem e mulher. Eles foram criados e,
quando o homem ainda não tinha sua esposa em casamento, isso não era
muito bom. A mulher é criada para o casamento com o seu marido. O ca-
samento não é uma estrutura inventada, não é uma tradição humana, não
é algo das culturas ocidentais ou orientais. O casamento é algo que Deus
criou preparado para a humanidade. Ele possui uma estrutura diferente dos
outros relacionamentos humanos. Ele não é como uma amizade, mas uma
entrega de vida e posse de um homem para com a mulher e vice-versa, de
forma que ambos, quando se unem, se tornam uma só carne.
Isso é lido em Gn 2.23-24, onde Deus cria homem e mulher para se unirem
como uma só carne. O casamento se torna um ato familiar em que homem e
mulher decidem se unir em matrimônio, em amor um ao outro. Nessa união,
eles largam sua antiga família, não simplesmente a abandonando, mas cons-
truindo um novo núcleo familiar. Então agora existe uma nova unidade que
se dá também de forma sexual. O sexo foi construído para ser desfrutado
dentro dessa relação de matrimônio.
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Primeiro, o matrimônio cobra essa deixa de pai e mãe. Isso porque estamos
lidando com a transferência de submissão e de auxílio. Filhos que antes eram
submissos aos seus pais, agora estão num relacionamento de parceria e sub-
missão um com o outro dentro do casamento. Agora, a mulher não deve
mais submissão absoluta aos seus pais, nem o marido em submissão absolu-
ta a seus pais. É interessante que no NT, quando Paulo fala sobre obediência
de escravos, ele adverte “obedecei em tudo” (Cl 4.22); quando fala dos filhos,
diz “obedecei em tudo” (Cl 4.20). A postura de um filho para com o pai é
de extrema e absoluta obediência. Porém, quando menciona um relaciona-
mento familiar, aconselha as mulheres a serem submissas aos seus maridos
e, na sequência, usa uma palavra diferente da que é usada para os filhos,
porque submissão não é obediência absoluta e total, mas no casamento há
agora esse novo relacionamento em que uma nova família é constituída. Os
filhos não dependem mais financeiramente dos pais, não mais dependem de
autoridade e e propósito dos pais. Agora os filhos vão construir sua própria
história em um novo núcleo familiar.
O segundo ponto é que o texto diz que o homem e a mulher se unem. Ele
tem esse propósito unificador familiar. Eles não simplesmente decidem fazer
sexo, mas se unem em um esforço em direção à unidade nesse relaciona-
mento. O texto fala de homem e mulher em união. O casamento, dentro da
visão judaico-cristã, é algo que não se dá em relacionamentos homossexuais.
O casamento se dá entre homem e mulher justamente porque o fruto do
casamento é uma coabitação fecunda. Sempre potencialmente fecunda. A
ideia é que, por causa da prole, dos filhos e dessa união em uma só carne
que gera fruto, o casamento se dá entre homem e mulher nesse propósito
que Deus conferiu. A gente não está entrando na questão da esfera civil, mas
qualquer outra coisa, segundo o cristianismo, não é casamento.
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Igreja sempre são tratadas com caráter monogâmico. Por mais que o AT não
possua longas condenações à bigamia, a história da bigamia e da poligamia
no AT é geralmente relacionada a famílias que se deram ao pecado. Por mais
que Deus gerencie a poligamia e a bigamia no AT, isso não necessariamente
representava o padrão de Deus para aqueles povos. No NT, no auge da reve-
lação, sempre encontramos padrões monogâmicos. Na criação de todas as
coisas, Deus criou uma família monogâmica entre um homem e uma mulher.
Eles então se unem. A palavra hebraica fala acerca de apegar-se, grudar-se a
uma unidade de fato. O sexo não é casual. O relacionamento não é algo de
que se pode abrir mão a qualquer momento, mas é um relacionamento pro-
fundo e intímo no qual os contraentes se amam e preferencialmente nunca
se separam. A morte vai separá-los em algum momento, mas adultérios e
imoralidades sexuais não deveriam separar o homem e mulher. O casamen-
to foi criado para que divórcio não existisse. O divórcio vem por causa do
pecado entrando no mundo em Gênesis 3.
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Aula 13
Igualitarismo,
Hierarquismo e
Complementarismo
Qual é o papel do homem e da mulher no casamento ou na sociedade, de
forma geral? Existem pelo menos três visões baseadas na criação do casa-
mento que devem ser conhecidas para que você possa entrar nesses deba-
tes tão minunciosos acerca de sexualidade e do papel do homem e da mu-
lher na cultura. Há o hierarquismo, o igualitarismo e o complementarismo,
três visões importantes que merecem nossa atenção.
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e podem assumir os mesmos papéis na sociedade, assim como os mesmos
papéis dentro da igreja. Para eles, mulheres podem ser pastoras tranquila-
mente.
44
Aula 14
A questão do aborto:
Quando a vida
começa?
assunto do aborto está dentro da antropologia, já que falar sobre a ques-
O
tão do aborto é falar sobre quando começa a vida e, como diz o Dr. Glauco
Barreira :
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aborto deveria ser tratado como uma questão de saúde pública. Segundo
ela, cada país deveria ter um diálogo com a população para escolher o pro-
cesso de legalização do aborto. Para ela, o aborto acontecerá invariavelmen-
te e, por isso, legalizar o aborto é proteger a mulher pobre de condições
precárias de atendimento que podem levá-las à morte, enquanto o mesmo
não acontece com mulheres ricas. A Manuela perde o debate porque o abor-
to não é sobre saúde pública, mas sobre antropologia, sobre a vida humana,
sobre onde a vida começa. Não importa questões de saúde pública se não
discutirmos primeiro questões de antropologia.
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global da realidade”. Não podemos reduzir toda a complexidade da antropo-
logia a um desenvolvimento físico, biológico, psíquico ou mesmo social. Ten-
tar reduzir o aborto à questão do desenvolvimento biológico é escolher um
único aspecto da realidade e reduzí-la a apenas isso. O todo é sempre mais
complexo que as partes que o constitutem. Escolher a parte biológica do ser
humano e afirmar que por ele não estar totalmente desenvolvido ele não
é ser humano é bobagem. Nenhum de nós está plenamente desenvolvido
mesmo depois de nascido e nem por isso nossa vida deixa de ser uma vida
humana. É a partir daí que precisamos considerar o que é ser uma pessoa.
É daí que vem o termo tão conhecido, “pessoa em potencial”, a ideia de que
aquele amontoado de células que está dentro da mulher não é uma pessoa,
mas uma pessoa em potencial. Deverá se tornar pessoa em potência, mas
ainda não é pessoa em ato. Ele não é um ser humano de fato, mas será,
porque essa potencialidade para ser humano ali está.
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É quando o coração começa a bater? É com o cortex cerebral? Onde nasce o
indivíduo e onde encerra o amontoado de células? Ninguém sabe dizer com
convicção, justamente porque essas definições são arbitrárias. Essa concep-
ção que separa a pessoalização do ser humano que está sendo gerado pre-
cisa ser arbitrária na definição de quando começa um ser humano dentro da
formação do indivíduo.
Quais são as qualidades que, se as perdermos, nos fazem deixar de ser pes-
soa? Se meu coração deixar de bater, eu paro de ser um ser humano? Se eu
tiver morte cerebral, ainda sou ser humano? Posso estar morto, mas tenho
ali características de pessoalização. Não importa que partes faltem em mim,
ainda sou ser humano. Podem faltar certas partes no feto em desenvolvi-
mento, mas qual são as partes fulcrais para defini-lo como pessoa? Isso é
arbitrário e vem de um processo de desumanização da vida intrauterina.
A Bíblia também diz que todo ser humano é imagem de Deus (Gn 1.26-27). O
feto é imagem de Deus tanto quanto qualquer um de nós. Matar um embrião
é matar a imagem de Deus que está no ventre de uma mulher.
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O salmista declara que o Senhor já o conhecia enquanto ele era informe no
ventre de sua mãe (139.13-16). Deus já conhecia Davi enquanto ele próprio
não tinha consciência de si mesmo. Mesmo quando Davi não tinha mãos,
pulmões, coração ou cérebro, ele já era uma pessoa, já era imagem de Deus
e já era conhecido pelo Senhor.
Referências:
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