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OS PURITANOS, CONCEITO E RELEVÂNCIA PARA O

CRISTIANISMO PÓS-MODERNO
Jeferson Alfredo Pereira*

RESUMO

O presente artigo trata de um importante assunto que, nos últimos anos, tem retomado
seu lugar de destaque no meio evangélico: os puritanos, seu conceito e relevância para o
cristianismo nos dias atuais. O artigo visa enfatizar algumas verdades e trazer a aplicabilidade
dos conceitos bíblicos ensinados pelos puritanos diante das necessidades da igreja evangélica
brasileira.

PALAVRAS CHAVE: Puritanos; Reforma; Santos; Cristianismo; Vida cristã.

INTRODUÇÃO

Diante dos avanços numéricos da igreja evangélica brasileira, tais como: a abertura de
novos meios para a formação e geração de novos líderes; a edição mensal de novos livros
teológicos quer traduzidos, ou escritos por autores brasileiros; o aumento do número de
cristãos convertidos através do trabalho com células e evangelismo; percebe-se os números
que enchem os olhos nas pesquisas do IBGE dizendo que o protestantismo tem crescido cada

*
O autor é Evangelista da Igreja Presbiteriana do Brasil, pastor de Jovens e Adolescentes na IPB Central
de Presidente Prudente, aluno do 1º ano do Curso Avançado de Teologia do Seminário Martin Bucer.
2

vez mais; números e avanços que deveriam ser muito bem recebidos, mas, como é de senso
comum entre os cristãos protestantes, nem sempre os números revelam os verdadeiros
resultados quando se trata da Igreja de Cristo. Diante dessa realidade, é importante aos
cristãos resgatar o zelo pelo cristianismo autêntico e, para isso, nada melhor do que estudando
a vida dos Puritanos.

1. OS PURITANOS NA BUSCA POR UM “CONCEITO”

Mesmo que haja um conceito estabelecido de Puritanismo ou sobre os Puritanos, o


mesmo tem sido logrado e mal compreendido por muito tempo nas igrejas evangélicas. No
meio reformado esse conceito é um pouco mais nítido, ainda que também possua nuances
diferentes. Mas o que vem a ser, verdadeiramente, o Puritanismo? Pode-se observar uma série
de obras que, nos últimos anos, tentam “acertar o rumo e a orientação” da interpretação da
Igreja sobre o modo de vida cristão e qual o verdadeiro valor histórico e teológico que o
Puritanismo oferece séculos depois. Infelizmente a ociosidade na prática da leitura da maioria
do povo evangélico, ou a famosa falta de tempo, faz com que os livros que são oferecidos,
sejam deixados de lado por causa do seu tamanho e linguagem. O próprio artigo que se
oferece é apenas uma tentativa para que o leitor possa buscar mais informações sobre tão
precioso tema.
Sobre os puritanos Franklin Ferreira comenta que:

Os ministros ingleses e escoceses que, nos séculos XVI e XVII, buscaram purificar a
Igreja da Inglaterra (anglicana) dos vestígios de rituais e costumes “papistas”. Para
isso, combinavam piedade e disciplina com o desejo de reformar a maior parcela
possível da igreja e da sociedade. Eles estavam interessados em ensinar e pregar
segundo as Escrituras, aprendendo delas um padrão para a espiritualidade cristã com
ênfase na conversão, no viver experimental e na adoração centrada no Deus trino.1

Alguns cristãos, na ânsia de estigmatizar os puritanos como seres perfeitos e sem


defeitos, podem ficar escandalizados ao saber que:

Devemos imaginar esses puritanos como o extremo oposto daqueles que se dizem
puritanos hoje; imaginemo-los jovens, intensamente fortes, intelectuais,
progressistas, muito atuais. Eles não eram avessos a bebidas com álcool; nem
mesmo à cerveja, mas os bispos eram a sua aversão. Puritanos fumavam (na época
eles não sabiam dos efeitos danosos do fumo), bebiam (com moderação), caçavam,

1
PACKER, James Innel. Entre os gigantes de Deus: Uma visão puritana da vida cristã. São José dos
Campos: Editora Fiel, 2016. 7-8 p.
2

praticavam esportes, usavam roupas coloridas, faziam amor com suas esposas, tudo
isso para a glória de Deus, o qual os colocou em posição de liberdade.2

Talvez por essa causa os amados irmãos oriundos das igrejas pentecostais e
neopentecostais, como também outras denominações “emergentes” – não em sua totalidade –
não conheçam nem aceitem os puritanos como exemplo para o padrão do cristianismo hoje. A
reprimenda pelo comportamento citado acima, faz com que, mais uma vez, os puritanos
tenham o seu modo de vida incompreendido através dos anos. É preciso afirmar, entretanto,
que somente esse trecho transcrito não oferece a totalidade do conceito sobre o modo de vida
dos puritanos. Trata-se apenas de um ponto de partida para que o leitor tenha sua mente aberta
a uma realidade que nem sempre foi divulgada sobre os Puritanos. Pode-se comparar o estudo
e pesquisa sobre o estilo de vida dos puritanos é muito parecido com a exegese: É necessário
um contexto e daí por diante uma interpretação correta sobre quem eram, “afinal os puritanos
permanecem um guia para os cristãos hoje”3 e o que de seus exemplos pode ser aplicado no
cristianismo séculos depois, em plena era pós moderna?
“É por isso que me preocupa uma genuína definição do Puritanismo. Isso tem se
tornado cada vez mais difícil por causa da abundância de livros que estão sendo publicados
sobre esse assunto”.4 Os Puritanos eram essencialmente, aquele tipo de cristão que mesmo
estando no mundo, nada era secular, tudo tinha intensa ligação com aquilo que é sagrado e
eterno. Sendo assim, seu estilo de vida primordialmente envolvia a prática da vida cristã de
acordo com a Bíblia, para honra e glória de Deus. Em contrapartida, os dias atuais
demonstram uma distância cada vez maior da essência Bíblica, à beira da morte da doutrina.
No presente artigo, o conceito utilizado sobre quem eram os Puritanos é composto pelo
postulado do Dr. Ryken que afirma:

O Puritanismo foi parte do movimento de Reforma Protestante na Inglaterra.


Nenhuma data ou evento específicos marcaram o seu início. Assumiu primeiro a
forma de um movimento organizado nos anos de 1560 sob o reinado da Rainha
Elizabeth, mas quando identificamos as características daquele movimento vemos
que suas raízes remontam desde à primeira metade do primeiro século. [...] Eles
desejavam purificar a igreja dos vestígios restantes de cerimonia, ritual e hierarquia
católicos. Esta luta de início com a igreja do Estado rapidamente se ampliou para
incluir outras áreas da vida pessoal e nacional. O Puritanismo foi então, em parte,
um fenômeno distintamente inglês, consistindo no descontentamento para com a
Igreja da Inglaterra. Mas desde o princípio foi também parte do protestantismo

2
Ibid, 8-9 p.
3
RYKEN, Leland. Santos no mundo: os puritanos como realmente eram. São José dos Campos:
Editora Fiel, 1992. 14 p.
4
LLOYD-JONES, David Martyn. Os puritanos: Suas origens e seus sucessores. São Paulo:
Publicações Evangélicas Selecionadas, 1993. 247 p.
3

europeu. Horton Davies diz que o “puritanismo começou como uma reforma
litúrgica, mas desenvolveu-se numa atitude distinta em relação à vida”.5

Em consonância, a declaração do Reverendo Augustus Nicodemus ao recomendar a


brilhante obra de Joel R. Beeke e Randall J. Pederson sobre os Puritanos informa que:

O apelido “Puritanos” foi colocado por seus inimigos para ironizar o ideal de pureza
que defendiam. Eles estavam insatisfeitos porque a Igreja da Inglaterra havia se
reformado apenas parcialmente, conservando ainda muitos elementos do catolicismo
romano que eles consideravam contrários as Escrituras. Queriam uma igreja
purificada destes acréscimos, o que lhes ganhou o apelido de “Puritanos”. A firmeza
com que defendiam suas convicções, o rigor teológico e exegético de suas obras, o
modo de vida frugal, austero e simples que defendiam valeu-lhes uma reputação de
gente inflexível, sisuda, pudica, e obtusa, especialmente depois que caíram em
desgraça política na Inglaterra. Hoje, todavia existe um movimento de contornos
mundiais que visa resgatar a importância do movimento puritano na história da
Igreja.6

Ao estudar a vida dessas pessoas, nota-se logo de início, que grande parte dessa reputação é
infundada. Os Puritanos eram pessoas incríveis, simplesmente abençoados por Deus pelo fato de
escolherem “a boa parte”, escolherem servir ao Senhor de todo seu coração, alma e entendimento.
Mesmo que isso lhes acarretasse perseguição, privações e até mesmo a incompreensão que reina até os
dias de hoje.

1.1 COMO VIVIAM OS PURITANOS?

Os puritanos não viviam de qualquer maneira. É um erro achar que eles eram totalmente
santos, mas é correto afirmar que a santificação em seu viver encabeçava a lista de prioridades
de um puritano. “Assim como em muitas áreas da vida cristã, os puritanos são modelo para
todos os crentes no que concerne à santificação”.7 Também é um erro afirmar que os
puritanos eram pessoas com um estilo de vida qualquer. Como exemplo disso, seu trabalho
era algo realmente sagrado, no sentido do termo: “dar glória ao Senhor”. Os puritanos eram
pessoas essencialmente esforçadas, trabalhadoras, dormiam cedo e acordavam cedo. É
importante notar que:

No todo o Puritano típico nos teria impressionado por trabalhar arduamente, ser
econômico, sério, moderado, prático em suas perspectivas, doutrinário em assuntos
religiosos ou políticos, bem informado a respeito dos últimos acontecimentos

5
RYKEN, Leland. Santos no mundo: os puritanos como realmente eram. São José dos Campos:
Editora Fiel, 1992. 22 p
6
BEEKE, Joel R.; PEDERSON, Randall J.. Paixão pela pureza. São Paulo: Publicações Evangélicas
Selecionadas, 2010. 17 p.
7
BEEKE, Joel R. Vivendo para a glória de Deus. São José dos Campos, Editora Fiel, 2010. 207 p.
4

políticos e eclesiásticos, argumentativo, bem educado e inteiramente familiarizado


com o conteúdo da Bíblia.8

No presente século, em relação à sua agenda, talvez o Puritano fosse considerado como
um workaholic,9 ou no mínimo um ativista diante dos inúmeros afazeres que compunham sua
rotina. Entretanto, sua rotina continha muito mais espiritualidade e, a razão disso é que todas
as tarefas empreendidas pelo puritano eram destinadas a glorificar o Senhor. Ao ler os
historiadores falarem sobre seu estilo de vida, é nítida a diferença no discernimento e
propósito das tarefas no dia a dia do puritano. “O mesmo espírito permeia o pensamento
puritano na relação entre o esforço humano e a bênção divina. Cotton Mather afirmou: “Em
nossas ocupações estendemos nossas redes; mas é Deus quem põe nas nossas redes tudo que
vem nelas”. 10 É claro que o ideal de moderação dos puritanos os guardava de toda espécie de
trabalho excessivo. Outro ponto que merece destaque no viver dos puritanos era a forma como
tratavam suas famílias:

O amor do qual falam esses puritanos é um êxtase emocional que arrebata o que ama
à sua órbita. Henry Smith disse a seus congregados que no matrimônio deve haver
“um unir de corações e um entretecer de afeições juntos”. William Gouge instou
com esposas “a amarem seus maridos, tanto quanto os maridos deveriam amar suas
esposas”, acrescentando: “Sob o amor todas as outras tarefas estão contidas: pois
sem ele nenhum dever pode ser bem realizado”.11

Os puritanos tratavam as famílias com tamanha importância a partir do princípio que


através de uma família estruturada na Palavra de Deus, a igreja e a sociedade poderiam ser
reflexos desse viver bíblico. “Eles criam que a família era a unidade fundamental de uma
sociedade santa”12. Existe aqui a necessidade da observância desse princípio, o de
dependência de Deus, não da igreja ou da sociedade para a formação da família, mas
unicamente da Bíblia Sagrada. A família era a força motriz que induziria tanto a igreja, quanto
a comunidade a tornar-se mais parecida com Cristo e não o contrário. Existe atualmente uma
dupla tragédia: de um lado, centenas de crentes protestantes colocam a culpa do fracasso
familiar na ausência da igreja, enquanto essas mesmas famílias são atacadas constantemente
pela proposta de projetos de lei absurdos e eventos patrocinados pelo estado, como por
exemplo, as “paradas da diversidade” e as passeatas em prol do “orgulho LGBT”. Toda essa

8
RYKEN, Leland. Santos no mundo: os puritanos como realmente eram. São José dos Campos:
Editora Fiel, 1992. 35 p
9
Workaholic (uôrcarrólic) (ingl) s m+f Pessoa que se dedica exclusivamente ao trabalho.
10
RYKEN, Leland. Santos no mundo: os puritanos como realmente eram. São José dos Campos:
Editora Fiel, 1992. 47 p
11
Ibidem, 64 p
12
Ibidem, 88 p
5

enxurrada de ataques contra a família cristã faz com que o retorno à Palavra de Deus e ao
culto racional tanto na igreja, quanto doméstico, tenha destaque na agenda de prioridades do
verdadeiro cristão protestante!

2. A RELEVÂNCIA DO PURITANISMO PARA A IGREJA EVANGÉLICA


BRASILEIRA.

A igreja evangélica brasileira precisa retornar aos trilhos, no ponto onde perdeu seu
rumo. Esse “acidente de percurso” pode ter sido em meio ao surgimento da teologia da
prosperidade e o abandono da ortodoxia das Sagradas Escrituras quando a igreja perdeu seu
foco e seu verdadeiro objetivo, ainda que graças a Deus não em sua totalidade.
Inicia-se a defesa da relevância do exemplo de vida dos Puritanos, baseando-se na sua
espiritualidade, sempre fundamentada nas Sagradas Escrituras. Os Puritanos sempre tiveram
como prioridade a leitura e a aplicação, a verdadeira prática da Bíblia Sagrada em suas vidas.
Notava-se a prática da Palavra de Deus desde o nascer do sol, até o último “boa noite”. Isso se
deve a realidade de que essa “prática” tinha resultados concretos no estilo de vida puritano.
Alguns autores podem dizer que a importância dos puritanos para a igreja pós-moderna foi a
“perseverança em meio à perseguição” outros podem citar “os escritos deixados para nosso
tempo”, Porém, sem o intuito de desmerecer todas essas coisas, a principal contribuição foi a
estrutura de vida diária essencialmente bíblica. Já foi abordado nesse breve artigo que a
“última coisa” que os puritanos estavam preocupados era com a “aparência externa”. O que
realmente importava era o cerne da madeira, a essência do homem, do que ele era feito, quais
suas ideias e objetivos. E se isso tudo não estivesse repleto da Palavra de Deus,
provavelmente não poderia ser chamado de “viver puritano”.
A triste realidade no meio da igreja evangélica brasileira - na atualidade - é a existência
de uma total perda de “interpretação bíblica” que assola nossa nação e que não difere no
restante do mundo. Por exemplo: enquanto esse artigo é escrito, é lançada, no mercado
brasileiro a “bíblia da Inclusão”, uma “bíblia de estudo” voltada especificamente para os
homossexuais, homo afetivos, travestis entre outros que se auto classificam como “excluídos
da sociedade”. Ainda que os autores digam que tal livro pode ser usado por “qualquer
cristão”.
Fica a pergunta: “como pode ser lançada uma obra com essa característica, ser chamada
de Bíblia, se a Bíblia Sagrada possui em seu cerne graves admoestações e proibições sobre
esse tipo de prática e relacionamento?”
6

Obviamente que para tal intento o texto sagrado da Bíblia precisaria ser modificado,
alterado, ou pelo menos orientado a ser interpretado de maneira incorreta. No entanto, o autor
do projeto define assim tal “empreendimento”:

A versão utilizada na Bíblia Comentada [...] é própria [...] Os comentários refletem o


pensamento do autor sobre os vários aspectos doutrinários, que permeiam o fazer
cristão dos religiosos da igreja hodierna. Os textos bíblicos não serão alterados para
favorecer grupos ou classes de pessoas, pelo contrário, a Bíblia Comentada [...]
propõe uma versão que mescla a equivalência formal dos textos e a equivalência
dinâmica, com o fito de proporcionar um entendimento mais fácil e aplicável dos
textos sagrados; Embora os comentários bíblicos esclareçam sobre a inclusão
eclesial dos homossexuais, transexuais e travestis, a Bíblia Comentada [...] não é
uma material exclusivamente para Gays; o que significa dizer que ela não é uma
“Bíblia Gay”, Como foi veiculado por alguns meios de comunicação. Admite-se
dizer que a “Bíblia Comentada [...] é sim o “Livro do Inclusão.13

Na tentativa de interpretar o que o autor da obra deseja dizer, pode-se ver claramente
que existe uma “promessa” de que o texto original da Bíblia não será alterado, entretanto, ao
mesmo tempo, está implícita uma oferta que nas palavras do autor “propõe uma versão que
mescla a equivalência formal dos textos e a equivalência dinâmica”, ou seja, mesclarem o
certo com o errado, do exato com o que é relativo. O que está em pauta não é a discussão
sobre esse “lançamento”, ou sobre essa “nova bíblia”, o que é verdadeiramente assustador e
preocupante é o silêncio absurdo da igreja brasileira diante de tais ideologias. Quer seja no
senado, quer nas livrarias, quer nas praças e ruas, um turbilhão de informações, credos e
crenças são oferecidos como “verdade” e a igreja se encontra paralisada em seu ativismo
egocêntrico. A vida modelada pelas Sagradas Escrituras demonstra que sempre existiram
homens de Deus dispostos a entregar suas vidas pela pregação da verdade. Observa-se tal ato
na vida dos Puritanos. Tais personagens históricos apregoavam o anúncio público do que era
pecado em relação ao que era correto para o povo que Deus veio para salvar. Isso desde antes
de João Batista a começar pelos profetas.
Se esse não for um sinal claro para que a igreja evangélica brasileira, no mínimo,
repense seus feitos na nossa nação, então a situação pode ser mais séria do que se pensa!
Um grande problema do povo evangélico, talvez principalmente entre os da linha
reformada, é de que o pensamento “hiper calvinista” possa estar permeando o estilo de vida e
a ação dos crentes. O pensamento de que: “salvos e pronto” pode criar um hiato desnecessário
entre a ação evangelística dinâmica e o alcance do perdido que é assolado todos os dias com
diversas políticas e filosofias “inclusivas” como essa apresentada em mais um produto

13
DIREITO A FÉ. Graça Sobre Graça - Direito à Fé. Disponível em: <http://www.direitoafe.com/graca-
sobre-graca/>. Acesso em: 08 nov. 2016.
7

“gospel”. Somente a partir da conscientização e do retorno ao primeiro amor, bem como uma
alteração no modo de vida no dia a dia do cristão brasileiro resultar efetivamente numa
relevância cultural para a sociedade brasileira a partir da igreja.
Observe a advertência do Dr. John Stott:

“Poucos temas tem exercido tanto impacto nos últimos anos quanto o da
homossexualidade. As rápidas mudanças sociais têm revelado um nível sem
precedentes de aceitação da homossexualidade. Isso tem levado a uma mudança nas
percepções ocidentais de questões tais como a natureza da sexualidade, o conceito
de família, a educação das nossas crianças e a natureza dos direitos humanos. É
nesse contexto que a igreja tem que oferecer liderança ao refletir biblicamente e
responder de maneira adequada a esses temas. [...] Ao refletirmos sobre a mensagem
da Bíblia e as exigências da nossa cultura, precisamos reafirmar nossa convicção na
autoridade das Escrituras”.14

Se o povo evangélico não souber mais o que é a Bíblia Sagrada verdadeiramente, como
poderá saber discernir o certo do errado? Partindo desse pressuposto é que se nota o cuidado e
o zelo dos puritanos em manter a mensagem bíblica fiel ao seu autor.

Aprendemos dos teólogos puritanos e da segunda reforma holandesa que devemos


poupar-nos nas grandes verdades da santa Escritura. Os teólogos de ambos os
movimentos acharam na santa Bíblia tudo quanto de que necessitavam. Acharam
aqui um sistema de doutrina, um manual de culto e uma ordem eclesiástica que foi
inspirada por Deus, compreensível, todo abrangente e totalmente irresistível.
Devemos também apreciar essa autoridade e protegê-la da erosão. 15

3. CONCLUSÃO

Conclui-se que três aspectos podem iniciar a mudança ou o reavivamento necessário na


igreja brasileira a partir da vida e história dos Puritanos. Em primeiro lugar, a fundamentação
da família na Palavra de Deus. Uma família estruturada e ajustada à Palavra de Deus modifica
sua comunidade instantaneamente. É o efeito que a igreja primitiva teve sobre Jerusalém,
Judéia, Samaria, bem como os confins da terra. O segundo aspecto Puritano é o retorno as
Escrituras como centro da revelação de Deus. Mesmo as igrejas pentecostais podem ter
primeiramente a Bíblia como instrumento de revelação divina e como regra de prática para
seus membros. Finalmente, fazer uso da pregação expositiva e que no momento do
compartilhar da Palavra de Deus, seja esse o ponto máximo do culto. Dessa maneira, pode-se
iniciar uma revolução na maneira de pensar, viver e agir dos cristãos de modo que seja

14
JOHN STOTT – OS CRISTÃOS E OS DESAFIOS CONTEMPORÂNEOS 465p
15
BEEKE, Joel. Espiritualidade Reformada: Uma teologia prática para a devoção a Deus. São José dos
Campos: Editora Fiel, 2014. 399-400 p
8

restaurado o puritanismo necessário para os nossos dias. Não é uma questão de “romancismo
ou saudosismo”. É uma questão de valores que não podem ser negociados e que, caso
consigam ser resgatados, serão de grande valia para todo o povo de Deus.

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