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GILMAR FREITAS DA COSTA

O movimento puritano e a Igreja no continente europeu

1 – Os Puritanos
2 – A contra-reforma católica
3 – A igreja evangélica no continente europeu

NOVA FRIBURGO – MARÇO DE 2005


GILMAR FREITAS DA COSTA

O movimento puritano e a Igreja no continente europeu


1 – Os Puritanos
2 – A contra-reforma católica
3 – A igreja evangélica no continente europeu

Trabalho de História do Cristianismo II, apresentado


ao professor Rev. Marlon, como atividade 1 na PR1,
1° semestre de 2005, para obtenção do grau de
Bacharel em Teologia do STMS.

NOVA FRIBURGO – MAIO DE 2005


SEMINÁRIO TEOLÓGICO MONTE SINAI
CURSO DE BACHAREL EM TEOLOGIA

O movimento puritano e a Igreja no continente europeu


1 – Os Puritanos
2 – A contra-reforma católica
3 – A igreja evangélica no continente europeu

Elaborado por: GILMAR FREITAS DA COSTA

Examinador: _________________
Grau: _______________________
Data: _______________________
Professor:____________________
O movimento puritano e a Igreja no continente europeu

1 – Os Puritanos
2 – A contra-reforma católica
3 – A igreja evangélica no continente europeu

1 - Os puritanos

Tem havido vários avivamentos e períodos de retração na história da Igreja, mas o nosso assunto
começa aqui com a grande Reforma Protestante no século XVI. Poderíamos dizer muita coisa a respeito da
Reforma da perspectiva política, social e militar. Todas elas são importantes, mas ninguém poderá
compreender o que foi realmente a Reforma até que se conscientize de que ela nada mais foi do que um
"derramar do Espírito Santo" sobre o povo da Europa. A Igreja Católica medieval, no último período da Idade
Média, estava profundamente corrompida. O Evangelho havia sido obscurecido pela filosofia tomista e
também por uma série de acréscimos humanos na vida da Igreja. Havia muita depressão e confusão, além de
imoralidade em toda a Europa. O povo havia se tornado céptico, incrédulo; e esta é uma das razões em que a
Renascença encontrou apoio.
Foi um período muito difícil, exatamente como o nosso hoje. Nessa época, um simples monge
desconhecido redescobriu a verdade de que somos justificados pela graça e que não somos salvos por nossas
obras mescladas com os sacramentos da Igreja, mas que o sangue de Jesus, o Filho de Deus, nos purifica de
todo pecado; e que o crente no Senhor Jesus pode chegar a conhecê-Lo sem a mediação da Igreja. Lutero
redescobriu que o cristianismo é na realidade uma experiência direta da alma com o Senhor Jesus agora, e que
na ressurreição futura, o corpo terá esta experiência. Nós temos a impressão de que com a Reforma a alma da
Europa foi libertada. Houve uma explosão de louvor, de hinos sendo escritos e grande alegria, como uma
experiência direta da alma com o Senhor Jesus. Houve também uma purificação da vida moral e a família foi
fortalecida; houve avanços na medicina e em outras áreas do conhecimento científico.
O mundo nunca mais foi o mesmo após este grande avivamento que bem conhecemos como a Reforma.
Mas, na realidade, não foi um movimento perfeito; e especialmente na Inglaterra havia uma preocupação por
parte dos crentes de que a Reforma não houvesse se estendido o suficiente. Os Reis da Inglaterra tinham
controle sobre a Igreja e podiam tolerar que houvesse uma reforma dentro dela, mas não queriam permitir a
reforma de coisas vindas do Catolicismo, e que já estavam estabelecidas. O receio deles era que se a Igreja se
reformasse totalmente, na Inglaterra e na Escócia, eles perderiam o poder.
É neste cenário que os Puritanos aparecem. Depois da Reforma, na Inglaterra e na Escócia seguiu-se
um período de recessão e esfriamento. Havia um grande grupo na Inglaterra e na Escócia que tinha um desejo
profundo de ver uma reforma completa na vida da Igreja. Essa vontade era controlada por aquilo que
conhecemos como o princípio regulador do movimento Puritano. A idéia é esta: Tudo no culto deve ser
regulado e controlado pela Palavra de Deus escrita. Para esse grupo, aqueles acréscimos humanos ao culto,
que não podiam ser demonstrados nem apoiados pela Escritura, deviam ser tirados. Esse grupo não queria que
se permitisse o acréscimo cada vez maior de tradições humanas no culto, pois isso quebraria o segundo
mandamento, obscureceria a clareza do Evangelho e impediria que o poder de Deus viesse sobre a Igreja. Por
causa desse desejo, esses crentes fervorosos na Igreja, na Inglaterra e na Escócia, vieram a ser chamados e
conhecidos como Os Puritanos. A palavra vem do inglês e significa purificar.
Em primeiro lugar, eles queriam purificar a Igreja de Deus, especialmente o culto, através da Palavra
de Deus escrita. Mas não pararam aí, estavam interessados em purificar também, em segundo lugar, o
governo da Igreja e depois a vida da família, o comércio, e os negócios. Daí passavam para o governo civil;
queriam purificar a forma do governo dirigir a nação. Eles queriam reformar as escolas e as universidades à
luz da Palavra de Deus. Por isso começaram a orar e a pregar para que toda a terra, em todos os aspectos do
país, fosse reformada pela Palavra. Geralmente é aceito pelos historiadores que o Movimento Puritano
começou no fim de 1550 e se estendeu até o século seguinte, no ano de 1600. Mas há quem diga (Prof. Sidney
da Universidade de Yale) que o período puritano se estendeu nos E.E.U.U. além dessa data, até à eleição de
John Kennedy, em 1960.
A bênção maior de Deus em tudo isso foi a seguinte: À medida que os Puritanos tinham esse desejo
profundo de Reformar, em todos os aspectos, a Inglaterra e a Escócia, havia uma quantidade enorme de jejuns
e orações para que o Espírito de Deus viesse sobre aquela terra. Os Puritanos, juntamente com Calvino,
mantinham juntos estes dois conceitos: A palavra de Deus e o Espírito Santo. Então, à medida que eles
pregavam a Palavra de Deus, também oravam para que o Espírito viesse satisfazer a fome dos que a ouviam.
Eles sabiam que a Palavra sem o Espírito seria morta, sem vida; e que o Espírito sem a Palavra poderia tornar-
se em confusão e desordem; mas sabiam também que a Palavra de Deus juntamente com o Espírito traz a
vitória, a vida e a reforma. Assim, ao mesmo tempo em que oravam por despertamento, também estavam
fazendo o que podiam através da pregação, da literatura e da mudança do governo. À medida que eles
estavam engajados nessas atividades, percebia-se que estava chegando sobre toda a terra uma fome da Palavra
de Deus.
O governo Inglês começou a perseguir os Puritanos porque temia que eles acabariam por dar à Igreja
um poder político muito grande. Mesmo que os Puritanos estivessem sendo perseguidos, a sua influência
entretanto estava se espalhando pelo país. Não há dúvida alguma de que era o Espírito Santo que estava
predispondo os corações e dando a todos a fome de ouvir a pregação Puritana. Milhares e milhares de
pessoas, tanto da Escócia como da Inglaterra, se congregavam para ouvir a pregação dos Puritanos. Depois de
trinta anos de pregação, desde o início do movimento, a mensagem dos Puritanos começou a produzir
mudanças. Os primeiros pregadores Puritanos, durante os primeiros trinta anos do movimento, não viram
resultado da sua pregação. Eles pregavam o máximo que podiam, oravam muito, trabalhavam e escreviam
livros maravilhosos e conseguiram até mesmo colocar excelentes professores nas universidades de Cambridge
e Oxford. Mas durante vinte ou trinta anos receberam muito pouco apoio ou resposta. De repente, no final do
século XVI e início do século XVII, ocorreu uma tremenda resposta do povo à pregação e propostas dos
Puritanos.
O Rei Carlos I odiava os Puritanos. Ele era secretamente um católico romano, mesmo sendo
considerado o cabeça da Igreja da Inglaterra. Ele elegeu então o Arcebispo de Cantuária, Arcebispo Laud, que
era uma pessoa tremendamente preconceituosa contra os Puritanos. Com a autoridade dada pelo estado e pelo
Rei, Laud começou a perseguir os Puritanos onde quer que pudesse. Foi por esta época que os pais peregrinos
cruzaram o oceano e vieram da Europa para a América do Norte. Dessa forma os primeiros peregrinos
colonizadores da América do Norte foram aqueles Puritanos perseguidos na Inglaterra.
Durante muitos anos o Rei Carlos I governou de forma irregular, sem nenhuma reunião do Parlamento.
Subitamente, ele se viu diante da possibilidade de uma guerra com a Escócia. Isso fez com que convocasse o
Parlamento para conseguir os recursos necessários para sair à guerra. Ele convocou o que se chamou de Breve
Parlamento. Com surpresa e horror constatou que aquele Parlamento, na grande maioria, era composto de
homens favoráveis aos Puritanos. Imediatamente dissolveu o Parlamento, antes que tomassem qualquer
decisão e começassem a reformar o país. Mas o problema continuava: não havia dinheiro no tesouro real.
Enquanto isso, em Edimburgo, o Rei começara uma "guerra litúrgica" contra a Escócia, que já tinha
purificado o culto de todos os acréscimos humanos. Os escoceses estavam furiosos com a possibilidade de
que qualquer tipo de catolicismo fosse introduzido outra vez no culto, pois a Igreja da Escócia era muito mais
reformada do que a Igreja da Inglaterra. Então, o Rei resolveu mandar as suas tropas e obrigar a Igreja da
Escócia a seguir o Livro Comum de Oração que era usado na Igreja da Inglaterra. Naquele tempo, o Rei era
monarca da Inglaterra e da Escócia. Os escoceses tinham chegado à conclusão de que o livro de orações tinha
muita coisa remanescente do catolicismo em termos humanos, por isso o haviam abandonado. O Rei então
enviou uma alta autoridade eclesiástica para a Catedral principal da Escócia e durante o culto ele começou a
ler o livro de orações. Mas o povo da Escócia estava muito bem preparado para agir. Naqueles dias não havia
bancos confortáveis nas catedrais como temos hoje. Todos traziam banquinhos que eram usados na ordenha
das vacas. Uma fonte diz que, no decorrer do culto, uma moça simplesmente pegou o banquinho de três
pernas e o jogou na cara do bispo. De repente a catedral se encheu de banquinhos de três pernas voando de
um lado para outro, e aqueles que eram da Igreja da Inglaterra começaram a correr para salvar a pele.
A Escócia se organizou em um grande exército para atacar a Inglaterra. Finalmente, o Rei Carlos I
conscientizou-se de que devia convocar o Parlamento, mesmo que fosse Puritano. Este se tornou o que se
chama o Grande Parlamento, que se reuniu por 12 anos sem qualquer interrupção, (1640-1652), até que foi
finalmente dissolvido por Cromwell. Embora houvesse muitos partidos dentro deste Parlamento, a grande
maioria era a favor dos Puritanos. Eles eram também contra o catolicismo e contra o poder absoluto do
monarca; não eram contra a monarquia em si, mas contra a monarquia tirânica. Este Parlamento estava
decidido a reformar a vida da Igreja através de leis e reformar a própria lei. Foi este Parlamento que convocou
a Grande Assembléia de Westminster, que começou a reunir-se há 350 anos, em 16 de setembro de 1643.
(Em1993, comemorou-se a data na Inglaterra com um grande encontro na Capela de Westminster). A
Assembléia de Westminster foi uma grande assembléia, composta de pastores e teólogos de todas as partes
das Ilhas Britânicas, e que escreveram nossos símbolos, debaixo da autoridade da Igreja, ou seja: a Confissão
de Fé de Westminster, o Catecismo Maior e o Breve Catecismo, além de um livro de regulamento para o culto
e uma edição de livros de salmos metrificados para serem cantados no culto. A lei determinava que esta seria
a Confissão de Fé em toda a Inglaterra. Os presbiterianos sabem que a Confissão de Fé de Westminster é uma
expressão da crença dos Puritanos; e que foi inspirada pela teologia de João Calvino, de Agostinho, do
apóstolo Paulo, e, na verdade, inspirada pelas Escrituras na sua inteireza. Ela dá grande ênfase na soberania de
Deus e no controle absoluto que Ele tem de todas as coisas para a Sua glória, e na necessidade de uma vida
santa e de obediência a Ele.
Não muito tempo depois, o Parlamento teve de organizar um exército para marchar contra o próprio
Rei. O Rei, na verdade, queria dissolver o Parlamento, mas não conseguia fazê-lo. Ele havia feito um acordo
secreto com os católicos franceses para enviar um exército católico francês à Irlanda e assim derrotar as forças
do Parlamento. Porém os Puritanos foram capazes de organizar um exército mais poderoso do que o do Rei.
Eles foram abençoados porque estava comandando o seu exército o General Oliver Cromwell. Não
precisamos entrar em detalhes, mas o exército do Parlamento foi totalmente vitorioso sobre o exército do Rei.
Finalmente, depois de três dias de julgamento, eles vieram a cortar a cabeça do Rei. Os Puritanos estavam
divididos sobre esta questão. Os Escoceses e Presbiterianos eram contra matar o Rei, mas os Independentes, e
os Congregacionais da Inglaterra, eram a favor da decapitação. Assim, com a morte do Rei, a Inglaterra foi
dirigida, durante muitos anos, pelo Parlamento. Posteriormente Oliver Cromwell assumiu o poder como
Protetor (foi uma época áurea para os Puritanos e para o desenvolvimento da Inglaterra). Finalmente, com sua
morte em 1660, a monarquia voltou ao poder, com o retorno de Carlos II da França, o filho de Carlos I.
Aqui, politicamente, o poder puritano acabou na Inglaterra; mas, religiosa e socialmente, sua influência
continuou por muitos anos. Na verdade a Inglaterra nunca mais foi a mesma após o Puritanismo.
O coração do movimento Puritano pode ser resumido com três coisas: 1º - Predestinação 2º - Esperança
3º - Vocação (chamado).
PREDESTINAÇÃO – A eleição incondicional dos salvos, baseada no princípio básico da Soberania de
Deus. Eles criam na soberania de Deus, e isso os fazia agir em face a qualquer dificuldade. Eles sabiam
perfeitamente que, se Deus é por nós, nada ou ninguém pode ser contra nós.
ESPERANÇA - O movimento puritano era impulsionado por uma teologia baseada na esperança
bíblica. A interpretação puritana das profecias bíblicas, que levou os Puritanos a esperar que Deus estivesse
prestes a concluir a história humana com um triunfo maciço para o Evangelho em termos globais, com a
conversão dos judeus e da grande maioria dos gentios através de grandes derramamentos do Espírito Santo,
aos quais chamavam de a "Chuva tardia" que viria nos últimos tempos.
Esse tipo de visão que os Puritanos tinham do futuro libertou, na ocasião, presente, os seus corações
para colaborar de forma alegre e satisfeita com o propósito de Deus, em termos de se auto-sacrificar para
obedecer totalmente a Deus. Eles estavam convencidos de que, uma vez que o Senhor Jesus havia
ressuscitado dentre os mortos, não podiam ser derrotados de forma alguma se Deus estivesse ao lado deles.
Aqui está uma declaração típica do grande teólogo puritano John Owen. Ele foi, durante o protetorado
de Cromwell, vice-chanceler da Universidade de Oxford, e perdeu esta posição quando voltou a monarquia e
o Rei Carlos II. Entretanto, ele continuou a servir a Deus de forma corajosa e brava, sem nunca ficar
desiludido ou perder a esperança, mesmo estando em minoria, sem qualquer poder político naquela época.
Isso é o que ele escreveu em 1680: "mesmo que nós caiamos, a nossa causa será infalivelmente vitoriosa
porque Cristo está assentado à mão direita de Deus; o Evangelho triunfará e isso me conforta de forma
extraordinária".
VOCAÇÃO - Era a ênfase que davam na importância da vocação de cada pessoa. Enfatizavam a
necessidade de cada pessoa glorificar a Deus através da sua vocação secular. Sem dúvida, Martinho Lutero já
havia ensinado o sacerdócio universal dos santos, e os Puritanos criam nisso. Mas eles desenvolveram a
doutrina do chamado de Deus a cada pessoa muito além do que alguém fizera antes.
O roubo, os crimes, e a violência caíram tremendamente de nível neste período. Os Puritanos
organizaram vários tipos de sociedades voluntárias para dar treinamento e qualificação aos pobres, além de
estudiosos para ajudar aos jovens a fundar hospitais de caridade. Tudo isso tinha apenas um propósito: todas
as pessoas, sejam ricas ou pobres, podem viver para a glória de Deus.
O poder político dos Puritanos durou apenas 20 anos (1640 - 1660), mas a tremenda influência deles
permanece ainda hoje no mundo todo. O conjunto de idéias que chegou a ser chamada de "O Puritanismo" era
uma filosofia de vida, uma atitude com relação ao universo, que de forma nenhuma deixava de lado os
interesses da vida secular. O Puritanismo no século XVII não era, no sentido mais estrito, limitado à religião e
a moral. A ciência, a história e outras disciplinas, não foram deixadas de lado por eles.
Os Puritanos criam que Deus havia criado o mundo físico e humano, e que tudo isso era bom em
princípio. Eles acreditavam que o mundo físico apontava para Deus, e neste ponto eles eram os
‘sacramentalistas’ dos seus dias, muito mais do que aqueles que multiplicavam as cerimônias dentro das
quatro paredes da Igreja.

2 - A Contra-Reforma Católica

A Contra-Reforma Católica é um dos muitos temas históricos que divide os historiadores. Uma das
suas causas tem origem no fim da Idade Média, a peste do século XIV. Esta peste foi altamente mortal. As
soluções humanas não eram suficientes, daí se procurar a ajuda divina, ou seja, aumenta o interesse pela
religião. As práticas religiosas tornam-se mais pessoais e não tanto no âmbito da igreja como era habitual. As
pessoas sentiam necessidade duma relação mais “próxima” com Deus.
Para além das causas religiosas já mencionadas, surgiram causas morais. Os abusos do clero
começavam a ser exagerados, todos o sabiam. Algumas vozes se levantaram contra, mas nenhuma alcançou
tão largas proporções como a de Lutero. Este sacerdote, em 1517, publicou 95 teses contra a prática das
indulgências. De início não era seu objetivo criar uma nova religião, a sua intenção era modificar aquilo que
estava errado, o que saía das práticas antigas. Contudo, a Igreja Católica excomungou-o em 1520, obrigando-
o a lutar de forma radical por aquilo em que acreditava. Após Lutero surgiram outros reformadores; aqueles
que tiveram mais impacto foram Calvino e Henrique III (anglicanismo). Estas novas doutrinas têm
propagação e aceitação mais rápida nos países do norte da Europa, o que origina uma ruptura na cristandade.
A Reforma Protestante só teve este impacto porque muitos dos Estados europeus estavam interessados
num afastamento do poder papal sobre eles. As próprias pessoas tinham necessidade de uma nova forma de
religião, ou de uma mudança na igreja.
Por volta de 1540 a Igreja Católica reage a todas estas situações que a faziam perder estados para o
protestantismo. A Contra-Reforma serviu também para revitalizar a Igreja.
Diante dos movimentos protestantes, a reação inicial e imediata da Igreja católica foi punir os rebeldes,
na esperança de que as idéias reformistas não se propagassem e o mundo cristão recuperasse a unidade
perdida. Essa tática, entretanto, não obteve bons resultados. O movimento protestante avançou pela Europa,
conquistando crescente número de seguidores.
Diante disso, ganhou força um amplo movimento de moralização do clero e de reorganização das
estruturas administrativas da Igreja católica, que ficou conhecido como Reforma Católica ou Contra-Reforma.
Seus principais líderes foram os papas Paulo III (1534-1549), Paulo IV (1555-1559), Pio V (1566-1572) e
Xisto V (1585-1590).
Um conjunto de medidas forma adotadas pelos líderes da Contra-Reforma, tendo em vista deter o
avanço do protestantismo. Entre essas medidas, destacam-se a aprovação da ordem dos jesuítas, a convocação
do Concílio de Trento e o restabelecimento da Inquisição.
No ano de 1540, o papa Paulo III aprovou a criação da ordem dos jesuítas ou Companhia de Jesus,
fundada pelo militar espanhol Inácio de Loyola, em 1534. Inspirando-se na estrutura militar, os jesuítas
consideravam-se os "soldados da Igreja", cuja missão era combater a expansão do protestantismo. O combate
deveria ser travado com as armas do espírito, e para isso Inácio de Loyola escreveu um livro básico, Os
Exércitos Espirituais, propondo a conversão das pessoas ao catolicismo, mediante técnicas de contemplação.
A criação de escolas religiosas também foi um dos instrumentos da estratégia dos jesuítas. Outra arma
utilizada foi a catequese dos não-cristãos, com os jesuítas empenhando-se em converter ao catolicismo os
povos dos continentes recém-descobertos. O Objetivo era expandir o domínio católico para os demais
continentes.
No ano de 1545, o papa Paulo III convocou um concílio (reunião de bispos), cujas primeiras reuniões
foram realizadas na cidade de Trento, na Itália. Ao final de longos anos de trabalho, terminados em 1563, o
concílio apresentou um conjunto de decisões destinadas a garantir a unidade da fé católica e a disciplina
eclesiástica.
Reagindo às idéias protestantes, o Concílio de Trento reafirmou diversos pontos da doutrina
católica, como por exemplo:

I. A salvação humana: depende da fé e das boas obras humanas. Rejeita-se, portanto a doutrina da
predestinação;

II. A fonte da fé: o dogma religioso tem como fonte a Bíblia (cabendo à Igreja dar-lhe a interpretação correta)
e a tradição religiosa (conservada e transmitida pela igreja). O papa reafirmava sua posição de sucessor de
Pedro, a quem Jesus Cristo confiou a construção de sua Igreja;

III. A missa e a presença de Cristo: a Igreja reafirmou que no ato da eucaristia ocorria a presença de Jesus no
Pão e no Vinho. Essa presença real de Cristo era rejeitada pelos protestantes.
O Concílio de Trento determinou, ainda, a elaboração de um catecismo com os pontos fundamentais da
doutrina católica, a criação de seminários para a formação dos sacerdotes e manutenção dos celibatos
sacerdotais.
No ano de 1231, a Igreja católica havia criado os tribunais da Inquisição, que, com o tempo, reduziram
suas atividades em diversos países. Entretanto, com o avanço do protestantismo, a Igreja reativou, em meados
do século XVI, a Inquisição. Esta passou a se encarregar, por exemplo, de organizar uma lista de livros
proibidos aos católicos, o Index librorum prohibitorum. Uma das primeiras relações de livros proibidos foi
publicada em 1564.
A contra-reforma tinha como objetivo principal a reafirmação do dogma, do culto tradicional e a
(re)conversão de fiéis, mesmo que de forma forçada. Para isso vão ser restituídas reformas internas
(instituídas no Concílio de Trento, em 1545), medidas repressivas (caso do Index e da Inquisição) e medidas
de evangelização (Companhia de Jesus).
Inácio de Loiola, fundou esta ordem em 1534. Conseguiu o reconhecimento do Papa Paulo III (bula
pontifícia) em 1540. Esta bula definia as principais tarefas dos jesuítas: confissão, ensino e pregação. Os
membros deviam lealdade ao papa e à companhia em geral (para além dos votos de pobreza, obediência,
castidade), ou seja são devotos para com o papa. Davam especial atenção à instrução. O ministério do ensino
toma maior importância a partir de1547, acabando por se tornar a tarefa principal destes eclesiásticos
regulares. A partir desta data multiplicaram-se os colégios e universidades jesuítas por toda a Europa. A sua
pedagogia tinha a disciplina em grande linha de conta. Estava aberta não só às ciências como também ao
teatro. Tentavam opor o catolicismo romano à expansão protestante.
Os jesuítas tornaram-se num organismo internacional com extrema importância para o movimento da
Contra-Reforma. Após o Concílio de Trento foram eles que difundiram a sua mensagem. Combatiam as
igrejas protestantes no campo das idéias através da evangelização. Esteve presente nos movimentos de
colonização portuguesa e espanhola. A sua função era evangelizar os colonos. O movimento mais famoso foi
na América do Sul, tanto no Império Brasileiro como no Brasil português. Francisco Xavier estabeleceu
missões na Índia, Japão, interior da China e na costa de África.
Em meados de 1542 dá-se início a uma terrível repressão. Por esta época o papa Paulo III restabelece o
tribunal do Santo Ofício, mais conhecido como Inquisição. Este visava proteger a religião e salvar as almas
dos homens (mesmo que esses não o quisessem). Os funcionários desta instituição estavam seguros daquilo
que estavam a fazer, para eles Deus concordava com aquilo que faziam.
A Inquisição foi, fundamentalmente, uma instituição espanhola que antecedeu a contra-reforma. O seu
método consistia em julgar os suspeitos que eram denunciados através de testemunhas anônimas. Usavam
torturas para tentar arrancar uma confissão do réu, que normalmente confessava mesmo sem ter cometido
crime algum. Mal o réu confessava era ou entregue ao Estado ou sentenciado à morte na fogueira. Isto se
traduz na concordância entre o Estado e a Igreja. O Estado usava este meio para se livrar dos seus inimigos
políticos ou simplesmente das pessoas que contestavam as suas decisões. Este instrumento foi o mais negativo
e aterrador da Contra-Reforma.
Paulo IV fez publicar o Index dos livros proibidos. A heresia é, por vezes, fruto da leitura. Como tal
organiza uma lista de livros expressamente proibidos para todas as pessoas, ou melhor, para todos os católicos
(só tinham poder sobre eles). Esta lista estava dividida em: autores (como Erasmo), autores cujos livros eram
condenados individualmente e livros com doutrinas prejudiciais. Todos aqueles que fizessem que fossem
denunciados por ter livros condenados em casa (mesmo que não os tivessem) eram torturados pela Inquisição.
A Igreja tornou-se símbolo de terror e medo entre a população, todo o aparato espiritual tinha-se perdido.
Apesar das reformas disciplinares e dogmáticas, o seio eclesiástico vivia atrofiado, sempre com receio da
repetição do acontecimento de Constança e Basiléia. Na sua procura cega de eliminar rapidamente o
movimento protestante e preservar o espírito católico, o Papado mergulha sobre medidas mais violentas e
perde-se num vasto mar de sangue, mar e crueldade.

3 - A Igreja evangélica no continente europeu

A Reforma Protestante e Contra-Reforma da Igreja designam uma série de acontecimentos que


romperam a unidade da Igreja Católica, dando origem ao aparecimento de outras religiões (luteranismo,
calvinismo, anglicanismo...).
A estrutura política no período medieval era de poder político fragmentado entre inúmeros senhores
feudais A Igreja Católica representava nesse momento uma forte estrutura de poder político centralizado em
Roma e espalhado por todas as localidades da Europa. De todas as Instituições medievais políticas e
econômicas, seguramente, a Igreja Católica era a que representava o maior poder na Europa.
De uma maneira geral, alguns fatores atuaram com mais ou menos intensidade na propagação das
idéias protestantes, entre eles:

• A expansão ultramarina: Fortaleceu a burguesia européia, interessada na reforma religiosa. Tal interesse se
devia tanto a moral econômica católica do "preço justo", elaborada por Tomás de Aquino, que constituía um
obstáculo ao desenvolvimento do comercio, como também ao alto custo do clero para a burguesia nascente.

• A formação das monarquias nacionais: Com o surgimento dos Estados centralizados, o poder real e a Igreja
entraram em conflito, em alguns Estados, na medida em que esta última constituía um empecilho ao
fortalecimento do poder real. Por outro lado, os dízimos, a venda de indulgências e de relíquias sagradas
retiravam dos Estados Nacionais uma boa parte da renda que era transferida para o papado na Itália.

• O Renascimento cultural: Na medida em que se desenvolveu uma cultura antropocêntrica, um espírito de


crítica, o individualismo levou ao declínio da escolástica e contribuiu para a Reforma Protestante.

• O declínio da Igreja: A venda de indulgências e de cargos religiosos tornou a Igreja alvo de crítica da maior
parte de seus fiéis.

Na Alemanha: Era nessa região que a Igreja obtinha as suas maiores rendas. Apesar das contradições
entre as varias classes sociais, parecia que pelo menos com relação a Igreja Católica todos os segmentos
estavam de acordo em criticar os abusos cometidos pelo clero.
A nobreza feudal tinha interesse em apoderar-se das terras da Igreja, a grande burguesia queria um
clero menos intransigente e, ao mesmo tempo, desejava impedir a fuga de capitais para Roma. Os camponeses
e os artesãos viam na Igreja o seu grande explorador, com a cobrança dos dízimos, das rendas feudais.
Um fato importante que acelerou a deflagração da Reforma Protestante na Alemanha foi a venda de
indulgência. O Papa Leão X, necessitando de dinheiro para a construção da Basílica de São Pedro, encarregou
o monge Tetzel de vender as indulgências na Alemanha.
A religião luterana tinha um caráter nacional na medida em que rompeu com o papado e colocou os
pastores dessa Igreja sob a direção dos príncipes alemães. A Igreja luterana simplificou os rituais religiosos,
tendo excluído todos os sacramentos da Igreja Católica, exceto dois, o Batismo e a Eucaristia.
O princípio básico da religião luterana é o da justificação pela fé. Através desse principio, Lutero dava
maior valor à fé do que as boas obras praticadas pelos fieis, como meio de ganhar a salvação. O fiel, para
ganhar o paraíso, não deveria jejuar e sim submeter-se totalmente à vontade de Deus.
Na Suíça: existiam várias cidades-república como Zurique, Basiléia, Berna e Genebra, que haviam se
transformado em importantes centros comerciais. O iniciador da Reforma Protestante, nessa região, foi Ulrich
Zwinglio, que a partir de 1519, se tornou um ferrenho defensor do rompimento com a Igreja Católica, para o
estabelecimento de uma Religião mais pura.
Em 1528, quase todo o norte da Suíça havia se convertido à nova seita. Os cantões florestais,
entretanto, opuseram-se à conversão a nova fé, em 1529, estourou uma guerra civil, que iria culminar com a
derrota das forças de Zwinglio e a morte do seu líder. Em 1531, de acordo com a assinatura de Paz de Kappel,
ficou estabelecido que cada governo cantonal escolheria sua própria religião
Apesar da derrota de Zwinglio, a nova seita estendeu-se dos cantões do norte para Genebra. Nessa
cidade, o poder econômico estava em mãos da burguesia, mas o poder político pertencia a nobreza feudal -
leiga e eclesiástica - representada pelo conde de Sabóia e pelo bispo local. A moral predominante era a
medieval-religiosa, que não correspondia às necessidades da burguesia. A grande burguesia dessa cidade,
dirigindo às massas populares urbanas, revoltou-se contra a dominação feudal, fundando uma cidade-
república independente.
A partir dessa revolta, começou a pregar em Genebra, João Calvino (1509-1564). Um aspecto
importante do calvinismo é a valorização moral do trabalho e da poupança, que resulta numa situação de bem-
estar social e econômico, o que poderia ser interpretado como sinal favorável de Deus à salvação do
indivíduo.
No seu livro, Instituições da Religião Cristã, Calvino expôs o principio básico de sua doutrina - a
predestinação absoluta. Por este princípio, o homem já esta predestinado, antes de nascer, à salvação ou ao
inferno. Os desígnios de Deus são impenetráveis.
Em função da grande divulgação da doutrina calvinista, Calvino acabou fugindo para a França,
publicando em 1536 uma obra em que expõe os princípios de sua teologia, cuja característica principal é a
idéia da predestinação.
Na Inglaterra, estavam se desenvolvendo as indústrias de manufaturas. Ao mesmo tempo, no campo, a
nova nobreza inglesa estava cercando suas terras, provocando com essa medida a migração de grande numero
de camponeses para as cidades.
No nível político, com a dinastia dos Tudor, desenvolvia-se o absolutismo. A Igreja Católica, alem de
grande proprietária de terras, exercia na Inglaterra, como em outros países, o monopólio do comércio da graça
divina. O poder da Igreja era um empecilho para o fortalecimento do absolutismo, ao mesmo tempo em que
competia com os grandes proprietários rurais leigos. A derrota da Igreja era alvo comum dos monarcas e dos
nobres feudais.
As camadas populares, principalmente os camponeses que conservavam os ensinamentos de Wycliff,
acolheram também, com bons olhos os ensinamentos de Lutero. Além disso, a Igreja era odiada pelo povo
inglês, de um modo geral, na medida em que estava associada ao maior inimigo da Inglaterra, a Espanha.
O poder político da Igreja durante a Idade Média poderia ser comparado com a autoridade real.
Henrique VIII, para fortalecer seu poder e torná-lo absoluto, necessitava derrotar a Igreja Católica.
As riquezas da Igreja incomodavam os proprietários rurais capitalistas e os elementos da nova nobreza
inglesa, que tinham interesses nas terras do clero. Assim sendo, aliaram-se a Henrique VIII em sua luta contra
a Igreja Romana.
Outro fato que acabou também por acelerar o rompimento da monarquia inglesa com a Igreja foi a
negativa do pedido de Henrique VIII de divorciar-se de sua esposa Catarina de Aragão. Esse pedido estava
justificado por duas razões, que Henrique VIII acreditava serem de suma importância: em primeiro lugar,
Catarina era uma princesa espanhola, como Henrique VIII tinha em vista o estabelecimento de uma aliança
com a França, hostil à Espanha, a nacionalidade de sua esposa prejudicava. Em segundo lugar, Catarina não
lhe dera um herdeiro masculino, o que impediria a perpetuação da dinastia dos Tudor.
Normalmente, em tal situação, o Papado não recusaria o divórcio. Mas, como instrumento da política
de Carlos V, Imperador do Sacro Império e primo de Catarina, procurou contemporizar. Com a demora da
tomada de uma decisão por parte do Papado, Henrique VII resolveu romper as relações com Roma.
No período compreendido entre 1529-1536, o Parlamento inglês votou uma série de leis separando a
Igreja inglesa do controle de Roma e colocando-se sob o controle do Estado inglês. Henrique VIII tornou-se
chefe supremo da Igreja Anglicana, nomeando seus funcionários e determinando seus dogmas religiosos.
A partir de 1536 foram extintos alguns mosteiros, expropriadas as terras da Igreja, posteriormente vendidas à
nova nobreza, aos comerciantes e aos fazendeiros capitalistas. Tais grupos, favorecidos economicamente com
a compra dessas terras, passaram a ser o sustentáculo político da Igreja Anglicana.

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