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Ética e Moral

Aula 3
Teologia para Leigos
Diocese de Santo André

Professor Fernando
2020
Ética e Moral
Aula 3: Teologia Moral através dos tempos

Como ocorreu a evolução histórica da Teologia


Moral?
Ética e Moral
1) Evolução da Teologia Moral na História

A) Época da Patrística (Padres da Igreja)


Este período abrange os oito primeiros séculos da
história cristã. Inúmeros são os escritores que refletem
sobre os novos problemas que surgem, exigindo uma
resposta em sintonia com a época e os condicionamentos
socioculturais da época.
Denominamos “Padres da Igreja” justamente os
escritores da antiguidade cristã cuja santidade de vida e
ortodoxia de pensamento foram reconhecidos pela Igreja.
Ética e Moral

O primeiro momento da reflexão é constituída pelo


ensinamento moral dos “Padres Apostólicos”, assim
chamados porque tiveram em seus escritos um “espelho” fiel
da pregação dos apóstolos.

Eis as características de seus ensinamentos:


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1. O discurso ético é elaborado em relação com a experiência
litúrgica; desse modo evidencia-se a estreita ligação existente entre
QUERIGMA e o mandamento de Deus, entre o acontecimento
sacramental de Cristo e a vida cotidiana e concreta do cristão.

2. Geralmente, trata-se de ensinamentos ocasionais, pois são


apresentados em homilias, catequeses mistagógicas e, às vezes em
cartas. Assim não se pode falar de um trabalho sistemático, mas
sim, de exortações morais práticas.
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3. As grandes linhas da doutrina desta época – o recurso à sagrada
escritura, que é o único código moral por eles reconhecido e de cujos
textos fazem uso frequente, o princípio da imitação de Cristo, pois a
vida cristã, é uma vida de união com Cristo, um seguimento até o
martírio, se necessário for.

4. Para a descrição dos comportamentos morais, recorre-se aos


temas bíblicos e às categorias culturais próprias do judaísmo
contemporâneo: o decálogo, as antíteses do Sermão da Montanha,
as bem-aventuranças, e outros.
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5. Pode-se perceber até mesmo uma certa sistematização, pelo menos
inicial, como ocorre no Pastor de Hermas, no pseudo Barnabé e na
Didaqué. Essa sistematização se realiza sobretudo em torno do tema
“dois caminhos”, de tão grande ensinamento bíblico ( Dt 30, 15-20; Jr
21,8; 1Rs 5,58; Sb 5, 5-7) – o início da vida cristã se configura como uma
opção fundamental: a renúncia a Satanás ou a decisão por Cristo, e o
tema se desdobra na descrição de dois caminhos concretos, o da Fé
vivida e o da Impiedade.
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a) Século II - Os apologistas

Trata-se do grupo que tem por objetivo defender o cristianismo


dos ataques pagãos. A esse grupo costuma-se agregar os
autores (escritores) africanos devido a semelhança de seus
escritos, por exemplo: Tertuliano e São Cipriano. Destaca-se de
seus escritos a finalidade apologética, pois eles tentam
contrapor a moral cristã à moral pagã: a superioridade do
cristianismo se baseia na grandeza de sua doutrina moral e na
santidade de vida dos seguidores de Cristo.
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b) SÉCULO III
Verificamos nesta época dois fatos básicos:
→ O número de cristãos cresceu consideravelmente e sua presença se
faz notar em todos os ambientes e profissões;
→ O contexto cultural da Igreja já não é tão judaico ou judaizante de
helenização do Cristianismo. A reflexão moral já não pode se contentar
em procurar descobrir um comportamento evangélico para os cristãos,
seja vida profissional ou civil. Agora sobretudo, ela tem que procurar
encontrar o modo no qual possam articular as orientações morais
cristãs, elaboradas no contexto da experiência litúrgico-sacramental
do mistério cristão com o admirável discurso ético, elaborado no seio
da filosofia grega.
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•Primeiro Tratado de Ética Cristã
•Clemente de Alexandria (+215) →
Destacamos aqui a sua obra:
Paidagogos (O Pedagogo), primeiro
tratado de moral cristã, dividido em 3
livros:
•No primeiro livro apresenta Cristo
como mestre e modelo de perfeição
cristã, que consiste na restauração da
imagem divina do homem, tarefa
que se torna possível em virtude da
encarnação e presença do Verbo em
todo cristão; nos outros dois livros
apresenta uma exposição explicada
de todos os preceitos, bem como
uma detalhada explicação dos
mesmos à vida prática.
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•Orígenes (+254). Discípulo de Clemente de
Alexandria. Homem de ampla formação e
muito radical (ainda jovem castrou-se por
interpretar ao pé da letra a passagem de Mt
19,12). Foi mais prudente ao referir-se da
sabedoria pagã: “porque entre elas não há
sabedoria que não esteja contaminada por
alguma impureza”.
•Sua obra: “De Principius”, um verdadeiro
tratado de moral – os dois primeiros livros
tratam de Deus e o mundo criado; o terceiro
fala do homem, de sua liberdade diante das
tentações, e do uso que devemos fazer desta
liberdade; o quarto livro trata da Sagrada
Escritura, sua inspiração e sua interpretação.
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•Santo Ambrósio (+397)
• Bispo de Milão, Possui uma vasta produção
literária, na qual procura abordar de maneira bem
prática os problemas morais. Destaque para sua
obra “De officiis Ministrorum” (Deveres
Eclesiásticos), a qual teria sido inspirada na obra
homônima de Cícero; obra dividida em 4 livros: O
honesto, O útil, Conflito e a conciliação entre o
honesto e o útil. Adota também o sistema das
quatro virtudes cardeais: prudência, justiça,
temperança e fortaleza. De suas obras ficaram
algumas normas de comportamento, soluções para
alguns problemas ligados à consciência. Na sua
opinião os cristãos mostram a sua superioridade
não na quantidade da sua elaboração ética, e sim na
conduta de sua ética de sua moral. Da mesma
forma, os pagãos falam muito, porém, a sua falha
cristã justamente ocorre no exercício das virtudes.
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•Santo Agostinho (+430)


•Ele chegou na Igreja após uma longa marcha
pelo maniqueísmo (doutrina fundamentada
na oposição entre o bem e o mal, no que se
refere a criação do mundo) e o platonismo
(doutrina baseada na criação das coisas a
partir do mundo das ideias).
•Agostinho nos seus escritos trabalha de uma
maneira original e versátil. Seus escritos
morais contêm: cativante expressão dos
sentimentos; exortações morais práticas;
admoestações epistolares; direção espiritual
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•Estrutura da sua reflexão ético-teológica: a


estrutura moral conduz sobretudo a se
descobrir qual é o fim que teremos a usufruir,
a bem-aventurança para a qual tendemos:
esse fim é a posse de Deus. Todas as “coisas
da realidade (do mundo) devem nos ajudar a
atingir o fim último de Deus. Tudo deve ser
usado segundo a lei suprema e interior da
caridade para com Deus e para com o
próximo: essa lei nos fora revelada na
Sagrada Escritura e a sua observância só é
possível com a graça de Cristo (e só com ela).
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•Para Santo Agostinho, o pecado consistiria
na quebra desta ordem, ou seja, fazer com o
meio se torne o fim último. A Ética é o esforço
para adequar o vivido (pelo homem) com o
pensado (por Deus). A adequação desta
relação com o comportamento humano e o
sagrado ocorre na “consciência humana”. É na
consciência humana que se manifesta a lei
eterna de Deus como voz que o obriga e
impele a percorrer o caminho da purificação
(embora nem sempre, haja disposição do
homem para isso) – para Agostinho, a vida
moral cristã é o resultado de um contínuo
processo de introspecção e ascese pessoal
mediada pela escuta da consciência.
•Santo Tomás de Aquino (+1274)
•Para a origem e a razão da Teologia Moral
residem na presença de Deus no homem ( o
homem enquanto imagem de Deus, é o fim, a
participação e a consciência). Com sua imagem
fica destacada de forma profunda a dimensão
teológica, cristológica e antropológica da
moral: o homem é um “ser Moral” na medida
em que se auto compadece e se auto possui
tendo como modelo e referência (Deus) e na
medida que também vai se configurando à
imagem de Cristo, caminho para o fim que é
Deus. A segunda categoria fundamental da
ética tomista é o fim que é a união com Deus
enquanto fonte de bem – aventurança que
ajuda conquistar o Reino de Deus. É a mesma
que vai valorizar as ações e a conduta moral do
homem
• Santo Tomás basicamente trabalha as
verdades morais contidas na Revelação.
Ele não analisa e avalia as múltiplas
atividades humanas segundo o
esquema de preceitos, mas segundo o
esquema das virtudes teologais (fé –
esperança – caridade ) e cardeais (
prudência – justiça – temperança –
fortaleza).
• Este esquema ressalva muito mais os
valores antropológicos e as
possibilidades ou potencialidades da
vida segundo o Espírito; ressalva a
caridade que nos coloca em íntima
união com Deus.
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4) CONCÍLIO VATICANO II
Hoje em dia, falar de crise ou até da “morte” da Ética e mais
concretamente da Teologia Moral, já se tornou lugar comum e até
mesmo é visto com certo preconceito falar de valores éticos ou
morais. As mudanças: social, científica, tecnológica , religiosa,
psicológica, enfim as ciências que circundam o ser humano,
acontecem rápidas demais, e não dão espaços a reflexões, as quais
levem o ser humano a fazer reflexões sobre o seu agir.
Comprometimentos econômicos, interesses pelo poder, e outros
estão tomando o lugar do agir voltado para o Bem
Ética e Moral
Definição desse momento atual a partir do
Concílio Vat. II: “ As instituições, as leis e o modo
de pensar e agir legados pelos antepassados não
parecem sempre em adaptados ao estado atual
das coisas. Vem daí perturbação grave no
comportamento e nas normas de conduta”.
Gaudium Spes 7,2 – Vaticano II
Ética e Moral
Para o Concílio Vaticano II a Teologia Moral deve ser:
“sua exposição científica deve ser nutrida com maior
intensidade pela doutrina da Sagrada Escritura, deverá
mostrar à excelência das vocações fiéis em Cristo e sua
obrigação de produzir frutos para o mundo”.
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Fim

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