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RESUMO
O presente estudo tem como principal foco abordar a possível dissensão do puritanismo do
anglicanismo. Abordar o tema justifica-se porque estudando o puritanismo permite compreender como
o pensamento protestante, particularmente no que diz respeito à moral e às crenças religiosas, evoluiu
ao longo dos séculos. Objetivo geral é analisar a possível dissensão do puritanismo do anglicanismo.
Para tanto, definiram-se os seguintes objetivos específicos; conceituar o anglicanismo; definir o
puritanismo; examinar a possível dissensão do puritanismo do anglicanismo. O presente estudo consiste
em pesquisa aplicada de caráter exploratória e descritiva. Nesse sentido, os resultados serão
apresentados de forma qualitativa, a partir da coleta de uma revisão bibliográfica. Foi possível concluir
que o puritanismo foi dissensão do anglicanismo, pois criou novas formas de protestantismo com suas
próprios dogmas e tradições.
ABSTRAT
The main focus of this study is to address the possible dissension of puritanism from
Anglicanism. Addressing the topic is justified because studying Puritanism allows us to understand how
Protestant thought, particularly with regard to morals and religious beliefs, evolved over the centuries.
General objective is to analyze the possible dissension of puritanism from Anglicanism. To this end, the
following specific objectives were defined; conceptualize Anglicanism; define puritanism; examine the
possible dissension of Puritanism from Anglicanism. The present study consists of applied research of
an exploratory and descriptive nature. In this sense, the results will be presented in a qualitative way,
based on the collection of a bibliographic review. It was possible to conclude that Puritanism was a
dissent from Anglicanism, as it created new forms of Protestantism with its own dogmas and traditions.
1
1 Artigo científico apresentado ao Centro Universitário do Vale do Ribeira – UNIVR - como requisito para a
aprovação na disciplina.
2 Discente do curso Teologia EAD.
2
1. INTRODUÇÃO
decisão de romper com a Igreja Católica e criar a Igreja Anglicana. Além de perceber como a reforma
protestante na Inglaterra foi influenciada pelas políticas do Estado e como isso teve um impacto no
nascente protestantismo inglês.
Sendo assim, o presente artigo tem como presente problema de pesquisa o Puritanismo pode ser
considerado dissensão do Anglicanismo? E como objetivo geral: analisar a possível dissensão do
Puritanismo do Anglicanismo.
Para alcançar o objetivo geral, os objetivos específicos serão três; no primeiro será uma
apresentação do anglicanismo, suas origens e principais doutrinas; o segundo será dedicado ao
puritanismo, bem como suas origens e principais diferenças com o anglicanismo e os motivos que
levaram os puritanos quererem reformar a igreja anglicana; e, por fim, será examinada a possível
dissensão do puritanismo, assim como do anglicanismo e suas consequências para o desenvolvimento
do protestantismo.
Portanto, estabelecem-se as seguintes hipóteses: H1 (afirmativa): O Puritanismo pode ser
considerado dissensão do anglicanismo. H2 (negativa): O Puritanismo não pode ser considerado
dissensão do Anglicanismo.
O presente estudo consiste em pesquisa aplicada de caráter exploratória e descritiva. Nesse
sentido, os resultados serão apresentados de forma qualitativa, a partir da coleta de uma revisão
bibliográfica, com informações de fontes secundárias, como artigos e livros e com análise
comparativa.de obras de diferentes autores.
2. O ANGLICANISMO
Nesta seção serão apresentados conceitos de diferentes autores sobre o anglicanismo, suas
origens e principais doutrinas e o seu desenvolvimento na Inglaterra.
É evidente que o século XVI foi marcado pelo sentimento anticlerical, agravado
principalmente pelo movimento reformador protestante de Lutero. Porém, esse mesmo sentimento de
anticlericalismo é encontrado na Inglaterra no século XIV que foi iniciado pelas ideias de João Wycliff.
E apesar do pensamento de Wycliff ser abafado e marginalizado, deixou as suas sementes influenciando
a reforma protestante como um todo, particularmente na Inglaterra.
Gonzalez (2004 p. 319) explica que o pensamento de Wycliff também diferia da eclesiologia
católica, ou seja, o modo de governo da igreja:
penduraram até o século XVI nos seus seguidores, que eram conhecidos de Lollardos, querendo uma
reforma da igreja, mas agora também sendo influenciados pelo pensamento humanista de Erasmo de
Roterdã.
Contudo, mesmo que as obras de Lutero terem sido lidas e rejeitadas no começo da década de
1520, conforme afirmado por Lindberg (2017), a entrada efetiva do protestantismo na Inglaterra se deve
a um ato político. O rei Henrique VIII queria divorciar-se da sua esposa, Catarina de Aragão, por não
dar um herdeiro homem, só uma filha, Maria. Para isso, ele pediu ao papa Clemente VII para anular o
casamento e conceder o divórcio. Porém, o papa se recusou a realizar esse pedido.
Então, Tomás Cranmer, que havia se tornado o principal conselheiro do rei em assuntos
religiosos pouco antes, sugeriu ao rei que se consultassem os principais e mais conceituados
estabelecimentos de ensino a esse caso específico de matrimônio. Essas universidades incluíam as
católicas de Paris, Orleans, Toulouse, além das inglesas Oxford e Cainbridge. Após análise, todas elas
declararam que o caso de matrimônio era inválido. Depois desse acontecimento as relações com o papa
ficaram abaladas.
Mas o cisma definitivo ocorreu em 1534 quando Henrique fez o Parlamento aprovar o divórcio
com Catarina, tornando sua filha, Maria, ilegítima ao torno. Além disso, foi proibida toda ajuda
financeira ao papa e também declarou a autoridade máxima da Igreja da Inglaterra ao rei, que é chamado
de Lei da Supremacia pelos historiadores, considerando traição o desrespeito dessa autoridade e punível
com morte. Tomás Moore foi um exemplo disso e perdeu a cabeça por se recusar a autoridade de
Henrique VIII sob a Igreja (WALKER, 2006; GONZÁLEZ, 2011).
Assim, formulou-se Os Dez Artigos de 1536, a primeira confissão de fé anglicana. González
(2004) explica que neles se reconhecem a autoridade da Bíblia, os credos antigos e os quatro primeiros
concílios ecumênicos. A salvação é pela fé em Cristo e mediante as boas obras. Algumas práticas
tradicionais católicas também são apoiadas, como imagens, orações pelos mortos, purgatório,
vestimentas clericais e invocação aos santos, e as críticas ou o negar dessas práticas é expressamente
proibido. Afirmam três sacramentos cristãos principais: batismo, eucaristia e penitência, expondo que
Cristo está real e fisicamente presente na eucaristia
Para permitir que os leigos tomem conhecimento da Palavra de Deus, os sacerdotes paroquiais
foram orientados para colocar bíblias nos prédios das igrejas. Com esse propósito, foram traduzidas
bíblias para o inglês, apesar de William Tyndale tenha tentado fazer isso em 1522, mas foi rejeitado.
Porém, agora estava sendo trabalho de Cronwell, que teria sido secretário do rei por um período, sob
supervisão de Crammer (WALKER, 2006; LINDBERG, 2017).
Além disso, Cairns (2008) afirma que os mosteiros foram fechados em 1536 e 1539 pelo
Parlamento britânico por ordem de Henrique. Quando foram fechados 378 mosteiros foram impedidos
de se manterem expropriando suas propriedades para a coroa. Os abades que estavam na Casa dos
Lordes foram banidos, enquanto o rei tomou um lugar significativo nas riquezas dos mosteiros.
No entanto, como afirmam Gonzalez (2011) e Latourette (2006), em 1539 o rei fez valer a sua
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autoridade como chefe máximo da Igreja e promulgou, sob protesto de Crammer, os Seis Artigos que
tinham claramente uma teologia mais católica do que protestante, apoiando principalmente á
transubstanciação e o celibato clerical.
Considerando os conceitos já apresentados sobre o assunto, pode-se também entender que
Henrique VIII tinha uma aversão enorme ao protestantismo, já tendo escrito uma obra contra Lutero e
morrido como católico. Portanto, embora certas ideias protestantes tenham chegado a alguns círculos, no
primeiro momento a adesão da Inglaterra ao protestantismo pode ser considerado e visto mais política
do que uma convicção religiosa (OLSON, 1999; GONZÁLEZ, 2011; MCGRATH 2012).
Ademais, dado o cenário religioso turbulento do período, seria possível observar e traçar
comparações mais detalhadas entre o Anglicanismo e outras denominações protestantes da época. Por
exemplo, McGrath (2014) afirma que já havia diferentes confissões protestantes nas décadas de 1530 e
1540 na Inglaterra, tendo Henrique VIII tolerando ideias luteranas no seu reinado com fim político.
Vale ressaltar que Henrique VIII casou seis vezes e teve três filhos de mulheres diferentes.
Assim, quando Henrique VIII morreu em 1547, subiu ao trono seu filho, Eduardo VI, cuja mãe, Joana
Seymour, era protestante. E apesar do seu curto reinado, pois ele morreu em 1553 por conta da sua fraca
saúde com 16 anos, Olson (1999) e González (2011) afirmam que o grande avanço do protestantismo
inglês se deu nesse período, mas agora também recebendo influências de Zuínglio e Calvino.
Olson (1999) González (2004) e Walker (2006) estão em senso comum ao identificarem que
o Livro de Oração Comum, que o autor principal da obra foi Crammer, foi fundamental nesse avanço,
pois deu ao povo inglês uma liturgia na sua língua. Publicado em 1549, mas foi revisado em 1553. Uma
das principais diferenças entre as duas versões se referia a presença de Cristo na eucaristia, na primeira
versão reflete uma visão mais católica ou luterana, enquanto na segunda a de Zuínglio (GONZÁLEZ,
2011).
Também González (2011, p. 76) explica que:
Essa diferença entre os dois livros de oração era o indicador do rumo em que estavam
as coisas na Inglaterra. Os chefes do partido reformador, que se inclinavam cada vez
mais para a teologia reformada, tinham amplas razões para esperar que sua causa
triunfaria sem maior oposição
Ademais, o reinado de Eduardo viu a formulação dos Quarenta e Dois Artigos, que foram
elaborados por Crammer. Walker (2006) e Cairns (1995) informam que eles eram muito decididos em
seguir a fé protestante. Neles, assim como Livro de Oração Comum de 1553, também se nota a influência
de Calvino principalmente no que se refere á doutrina predestinação. E o uso da segunda versão do Livro
de Oração se tornou obrigatório nas igrejas.
Porém, em 1553 Eduardo VI morre, e sobe ao torno Maria Tudor, a mesma ilegitimada por
Henrique VIII em 1534. Por consequência, Maria obteve que o parlamento declarasse válido o
casamento de sua mãe, Catarina de Aragão, com ele. Devido a isso, leis religiosas de seu meio-irmão
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Eduardo VI foram anuladas. Ela então se casou com Felipe da Espanha, e, por conseguinte, a comunhão
com o papado foi reestabelecida por um tempo. No entanto, isso resultou em uma série de mártires,
incluindo Crammer, o que a fez ganhar o apelido de “Maria, a Sanguinária” (GONZÁLEZ, 2004).
No entanto, em 1558 com a morte de Maria o protestantismo voltou a prosperar com Isabel I,
filha de Ana Bolena, no reinado. Apesar de ser protestante, é descrito por Olson (1999) e González
(2011) que ela fez um governo de conciliação entre católicos e protestantes, além de ter reeditado o
Livro de Oração Comum e refirmado a Lei da Supremacia, revisou os Quarenta e Dois Artigos, os
reduzindo para Trinta e Nove Artigos. Assim como seu meio irmão Eduardo, rejeitou o extremismo de
algumas confissões protestantes, como o anabatismo, e do catolicismo,
Sendo assim, Olson (1999), Hägglund (2003) e Lindberg (2017) resumem os conteúdos deles
e afirmam que eles confessam fé na santíssima Trindade e as duas naturezas de Cristo. Tratam da
autoridade das Escrituras e dos credos Apostólico, Niceno e Atanasiano. Foi rejeitada a ideia católica
de tradição. E também condena a crença no purgatório. A salvação e a justificação são somente pela fé,
e a predestinação e eleição é de visão calvinista. Além de falarem sobre os sacramentos, deixando um
meio-termo entre as visões luteranas e calvinistas. O último artigo aborda a questão dos juramentos, que
Cristo proibiu, mas permitia que os cristãos os prestem ao magistrado quando requerido.
Além disso, o principal teólogo anglicano do período elizabetano foi Richard Hooker. Ele
escreveu a obra Das Leis Eclesiásticas, na qual argumenta a favor da forma episcopal como governo da
Igreja da Anglicana, e que Igreja e Estado foram constituídos por Deus e, portanto, devem ser
obedecidos através da rainha. Esses argumentos foram usados posteriormente para legitimar o
anglicanismo contra o puritanismo (GONZÁLEZ 2004; LATOURETTE 2006; PETERSON 2014)
Faz-se necessário, portanto, entender os conceitos relacionados ao anglicanismo, suas origens
e principais doutrinas e o seu desenvolvimento na Inglaterra foi visto como ele se relacionou fortemente
com a política secular e alta independente da religião de seus governantes. Porém, com a chegada de
Isabel I ao poder tentou reconciliar todos os partidos religiosos criando uma igreja com uma teologia
que tinha traços comuns de ambas confissões, como a soteriologia e a eucaristia.
Porém, o impacto duradouro do domínio do Anglicanismo na Inglaterra e essa conciliação iria
irritar a certo grupo chamado de Puritanismo; o artigo se voltará para analisar tal movimento.
3.O PURITANISMO
Nesta seção serão apresentados conceitos de diferentes autores sobre puritanismo, bem como
suas origens, o seu desenvolvimento na Inglaterra e principais doutrinas.
Conforme relatado na seção anterior, o protestantismo inglês passou por um período de
retrocesso no reinado de Maria Tudor. No governo dela, que durou 5 anos de 1553 até 1558 a Inglaterra
voltou ao catolicismo. Ela religou a Inglaterra na comunhão papal. Para simbolizar essa união ao
papado, ela se casou com Felipe da Espanha, que era a maior potência católica na época. Além de ter
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“papismo”, isto é, do catolicismo romano. Desejando uma reforma de acordo com o padrão bíblico. Eis
aí a razão o nome “puritano” dado pelos inimigos desse movimento (OLSON, 1999).
No entanto, Isabel I morre em 1603, e Tiago I a sucedeu, já rei da Escócia. Gonzalez (2004)
afirma que por ser criado como presbiterano, a causa puritana tinha esperança de ter os seus pedidos
atendidos. No entanto, apesar de sua permissão de fazer uma nova tradução da Bíblia, a King James, os
desejos dos puritanos de criar uma igreja mais reformada foram frustrados, quando em 1618 publicou o
Livro dos Esportes. Nele se incentivava divertimentos, tais como apostas e teatros, no domingo, que
para os puritanos eram imorais (LATOURETTE 2006; GONZALEZ 2011).
As coisas estavam assim, até que em 1625 morre James I e é sucedido por seu filho, Carlos I.
Conforme relato de Gonzalez (2011) e Walker (2006), desde o início de seu reinado, houve muita
oposição por parte dos puritanos. Contudo, a tensão aumentou em 1633 quando o rei nomeou William
Laud como Arcebispo de Cantuária, o qual, por sua vez, tentou impor o Anglicanismo na Escócia, onde
o presbiteranismo era a religião oficial.
Com esse fato foi um dos fatores da Guerra Civil que estourou na Inglaterra durante a década
de 1640. Além disso, os puritanos conseguiram ascensão política nos reinados de Tiago I e Carlos I
reivindicando, principalmente, a reforma da igreja. No entanto, se diferiam qual modelo governo
eclesiológico adotar. Assim, quando a Guerra Civil inglesa começou todas essas correntes conflitaram
entre si.
Nesse conflito havia dois partidos religiosos principais: os presbiterianos e os independentes.
Os presbiterianos, que eram a maioria no Parlamento, defendiam uma igreja única sob poder do Estado
de acordo com os princípios do presbiterianismo. Os independentes, por outro lado, eram mais tolerantes
e defendiam a liberdade religiosa, permitindo que cada grupo seguisse sua própria forma de governo
eclesiástico (GONZÁLEZ, 2011).
No entanto, essa guerra só terminou com a execução de Carlos I e com a proclamação de uma
república puritana sob governo de Oliver Cromwell. Todavia, essa república só teve êxito até a morte de
Cromwell, muito por conta do caráter fraco de seu filho, sendo a monarquia restaurada com Carlos II.
Segundo o relato de Latourette (2006), Walker (2006) e Gonzalez (2011) no reinado de Carlos II, o filho
exilado de Carlos I durante a Guerra Civil, o Anglicanismo voltou a ser religião oficial da Inglaterra, a
liturgia anglicana se tornou obrigatória e o Livro de Oração Comum foi revisado.
Porém, a coroa passou para seu irmão, Tiago II, que era católico assumido. E
consequentemente:
[...] decretou pena de morte para quem assistisse a cultos não autorizados c colocou
boa parte dos assuntos do país nas mãos dos católicos. Como na Inglaterra, tratou de
decretar a tolerância para com os católicos, mas os presbiterianos escoceses tampouco
a aceitaram. Depois de três anos sob Jaime II, os ingleses se rebelaram e convidaram
Guilherme, príncipe de Orange, e sua esposa Maria a ocupar o trono. [...]. No ano
seguinte, Guilherme e Maria também foram proclamados soberanos desse país. A
política religiosa de Guilherme e Maria foi, no gerai, tolerante. Na Inglaterra, deu-se
liberdade de culto a toda pessoa que assinasse os Trinta e nove artigos de 1562 e que
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Vale ressaltar que enquanto a Guerra Civil estava acontecendo, se reuniu a Assembleia de
Westminster. Nela, segundo Olson (1999), González (2004), e Walker (2006), se produziu três notáveis
documentos de clara inspiração calvinista, mostrando como o pensamento de Calvino foi entendido post-
mortem dele. São eles; a Confissão de Fé, os chamados catecismos, Maior e Menor.
Além do mais, a soteriologia puritana era, majoritariamente, calvinista. E assim, “Todos
proclamavam a soberania absoluta de Deus e a total depravação do ser humano. Teriam concordado
sinceramente com os cinco temas teológicos do Sínodo de Dort (tulip) e condenavam o arminianismo
com a doença “gangrenosa” na teologia cristã” (OLSON 1999, p. 509-510).
Uma das características do pensamento puritano foi ênfase na Teologia do Pacto. Ainda que
essa teologia foi desenvolvida ao longo da história, originando-se na Idade Média. Esta teoria sugeria
que haviam dois pactos, entre Deus e os seus eleitos, e que havia também um pacto entre Deus e Adão,
como representante de toda humanidade. O pacto de obras era destacado como a obrigação do homem
para com Deus, e usado como fonte teológica pelo puritanismo para mostrar que o Estado e a sociedade
existem por meio de um acordo, o que é expressamente a lei natural (LATOURETTE 2006).
Faz-se necessário, portanto, entender os conceitos relacionados ao puritanismo desde as suas
origens e o seu desenvolvimento na Inglaterra das suas principais doutrinas foi um desafio para os
monarcas da Inglaterra que se esforçaram para manter uma igreja unida sob sua autoridade.
Porém, os puritanos não quiseram submeter á essa autoridade. Sendo assim, o presente artigo
responderá a seguinte questão: o puritanismo pode ser considerado dissensão do anglicanismo?
A presente seção tem como foco discorrer sobre examinar a possível dissensão do puritanismo
do anglicanismo. Tal abordagem é necessária para analisar como o protestantismo evoluiu pós-Reforma
de Lutero no século XVI, bem como as suas consequências na história do cristianismo.
Como visto durante a seção anterior, o movimento puritano não se deu satisfeito com a reforma
feita na Inglaterra. Para esse grupo o Anglicanismo não se reformou o suficiente e se esforçaram para
mudar isso, querendo reformar á liturgia anglicana, embora não tenha conseguido, pois, como foi visto,
em 1660 com a restauração da monarquia inglesa, o Anglicanismo também foi restaurado.
Assim, tomando por base o objetivo do presente trabalho, que trata da possível dissensão do
Puritanismo do Anglicanismo, é possível notar que a maioria dos puritanos não concordavam com a
eclesiologia anglicana, que no caso da Igreja Anglicana era episcopal. Embora que “Alguns tomaram
uma posição intermediária e aceitaram ordenação pelo episcopado, mas não teriam o controle da
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congregação a menos que fossem chamados para isso.” (GONZALEZ, 2004, p. 296)
Hulse (2004) e Walker (2006) afirmam que um dos primeiros puritanos, Thomas Cartwright,
defendia o governo presbiterano, em que os líderes das igrejas, os bispos e os presbíteros, eram eleitos
única e exclusivamente pelos membros dela sem inferência do Estado, e assim exerciam a disciplina nas
igrejas numa assembleia de presbíteros, baseando-se no Novo Testamento.
No entanto, conforme Hägglund (2003) e Walker (2006) enquanto Cartwright defendia a
presbiterianismo de jure divino e João Whitgift, por outro lado, se opôs à essa visão puritana e, em vez
disso, acredita que as Escrituras davam à igreja autoridade como ela achar melhor, afirmando que o
modelo anglicano era a melhor forma de governo eclesiástico. Whitgift, Whitgift conseguiu expulsá-lo
da universidade em 1572. Até a sua morte em 1603, Cartwright viveu em errância e perseguido, a maior
parte do tempo no continente.
Outro puritano notável a defender governo presbiterano foi Walter Travers. Travers foi um
pastor que foi também professor de direito, em Londres, produziu um escrito sobre disciplina eclesiástica
em 1574. Ele debateu com Ricardo Hooker, defensor da posição anglicana. Essa discussão resultou em
um livro de Hooker, Das Leis da Organização Eclesiástica. (HÄGGLUND, 2003).
Além desse grupo, também surgiu os chamados Independentes que viriam a ser conhecidos
como congregacionais. Liderados inicialmente por Roberto Browne, pregavam a total independência
das igrejas de uma sobre outra. Os membros das igrejas deveriam prezar pelo bem-estar do outro, e
escolhiam os seus próprios pastores de modo democrático. Além de acreditar, influenciados pelos
anabatistas, que a igreja é o local que somente os cristãos de verdade se unem á Cristo, que é a Cabeça
da Igreja (LATOURETTE 2006; WALKER 2006; GONZALEZ 2011).
Porém, como Cairns (1995) Latourette (2006) e Walker (2006) indica, mesmo que Browne
tenha se separado por algum tempo da Igreja da Inglaterra e propagado princípios separatistas e
independentes, renegou tais princípios e morreu sendo sacerdote anglicano em 1633.
Contudo, os princípios plantados por Browne foram passados para frente por outros teólogos:
Além disso, esse grupo de teólogos puritanos liderados principalmente por Greenwood e
Barrow e outros “Eram separatistas no sentido em que se retiravam da Igreja da Inglaterra e
independentes no sentido em que criam na plena autonomia de cada igreja local.” (LATOURETTE
2006, p. 1104).
De acordo Walker (2006) e Latourette (2006) todos esses teólogos acreditavam no batismo
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infantil. E com esse fato João Smyth, um ex sacerdote anglicano que havia se unido aos Independentes,
não concordou. Para ele, batismo tinha que ser algo consciente ministrado somente aos adultos. E assim,
junto com a sua congregação foi para Holanda e fundaram a primeira Igreja Batista em 1609. E Thomas
Helwys fez o mesmo na Inglaterra em 1612.
Desse modo, as principais informações a serem tratadas aqui passam pelo fato de que alguns
puritanos mais radicais que defendiam os princípios separatistas e independentes perderam a esperança
de reformar a Igreja Anglicana. Até nesse momento alguns puritanos ainda esperavam que isso pudesse
acontecer de alguma forma, como González (2004), Olson (1999), Latourette (2006) e Walker (2006)
apresentam.
Sendo assim, com base nos conteúdos referenciais, é possível notar como o tema vem sendo
abordado, em produções científicas, de forma parecer lógico a considerar o Puritanismo dissensão do
Anglicanismo, já que criou novas igrejas protestantes com suas próprias teologias e doutrinas. Esses
grupos foram chamados de “nãoconformistas” rejeitando a liturgia anglicana, principalmente o Livro de
Oração Comum (OLSON 1999; LATOURETTE 2006).
Já González (2004) afirma que o movimento Puritano tinha profundas influências das reformas
no século XVI. Embora recebido influencias dos Lollardos os seguidores de João Wycliff., foi
fortemente ligado ao Calvinismo, pois muitos que haviam fugido da Inglaterra para lugares onde o
Calvinismo era forte, voltaram quando Maria Tudor morreu. Também foi reforçado por pessoas que
tinham aprendido com Martin Bucer e Cambridge durante o governo de Eduardo VI. Os Puritanos não
apoiaram a liderança de Elizabete como um meio termo entre o Catolicismo e o Protestantismo. Parecia-
lhes uma concessão entre o Romanismo e o Cristianismo 'baseado na Bíblia'.
Ademais, também é possível perceber que o assunto apresenta uma relação com o impacto que
teve no futuro do protestantismo nos séculos seguintes. Latourette (2006) e Walker (2006) afirmam á
medida que século XVII avançava ia surgindo novas teologias protestantes. Por exemplo, em 1616 foi
fundada a Primeira Igreja Congregacional por Henrique Jacob, que houve sido muito influenciado pelos
Independentes.
Porém, nas décadas de 1630 e 1640, alguns inspirados pelos princípios batistas saíram da igreja
de Jacob, adotando o batismo por imersão, que se tonaria símbolo dos batistas daquele momento em
diante. Além de serem calvinista e acreditarem na expiação limitada. Por causa disso eram chamados de
“batistas particulares”, isto é, acreditavam que Cristo morreu somente pelos pecados dos eleitos, em
oposição dos “batistas gerais”, que criam na expiação ilimitada, a crença de que morreu somente pelos
pecados do mundo inteiro.
Contudo, segundo Latourette (2006), Walker (2006) e Gonzalez (2011), esses grupos não
tinham a liberdade de exercer ás suas fés até com a subida de Guilherme de Orange ao trono inglês em
1689, que ficou conhecido como Revolução Gloriosa, uma revolução sem derreamento de sangue e sem
guerra. E Guilherme concedeu liberdade de crença aos não-anglicanos.
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Sendo assim, os puritanos, decepcionados com a política religiosa de Tiago I, uma vez que ele
foi criado como reformado alguns puritanos pensavam que ele ia favorecer á sua causa contra os
anglicanos, o que não aconteceu. Por isso que Olson (1999) afirma que em 1620 um grupo de puritanos,
em sua maioria Congregacionais, embarcaram no navio Mayflower e assim fundaram a colônia de
Massachusetts para adorarem a Deus como queriam.
Aliás, foi Segundo Latourette (2006), Walker (2006) e Gonzalez (2011) nos Estados Unidos
que aconteceu o chamado Grande Despertar no século XVIII. Esse foi um avivamento que deixou as
suas marcas no protestantismo nos séculos seguintes, e teve influência puritana. Os sinais desse evento
já começaram a aparecer na década de 1720 em Nova Jersey entre os congregacionais. Contudo, foi
somente em 1736 que começou o avivamento realmente.
Em poucos meses o avivamento avançou e conversões em massa ocorreram, muito por conta
de Jonathan Edwards e George Wihtfield, que enfatizavam a necessidade de uma experiência real de
conversão para uma vida mais madura. Contudo, esse avivamento deixou as suas consequências e
dividiu mais igrejas:
Ainda no que diz respeito ao Grande Despertar, para Walker (2006) e Gonzalez (2011),
também trouxe consequências para o desenvolvimento das missões protestantes. Com elas foram
fundadas muitas Sociedade Missionárias como Associação Cristã de Moços e a Associação Cristã
Feminina e assim se difundiu o protestantismo pelo mundo.
Estudar o legado do movimento puritano pode fornecer uma visão profunda sobre como a
teologia protestante posterior foi influenciada por suas abordagens e preocupações. Ainda que o
movimento puritano tenha surgido na Inglaterra em meados do século XVI, as suas crenças e as suas
práticas foram dadas continuidade e desenvolvidas de modo significativo pelas gerações posteriores de
teólogos protestantes
Desse modo, com base na argumentação apresentada ao longo desta seção fica claro que o
Puritanismo acabou sendo um movimento de protesto contra o Anglicanismo pelas reformas não feitas
que ele achava necessário para fugir das superstições do catolicismo romano. E assim, é notado que o
puritanismo é, de fato, uma dissensão do anglicanismo, pois apareceram diversos grupos que saíram da
igreja anglicana e formaram outras igrejas com suas próprias particularidades.
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5. CONSIDERAÇÕES FINAIS
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
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São Paulo: Vida Nova, 1995.
GONZALEZ, J. L. História ilustrada do cristianismo. A era dos mártires até a era dos sonhos
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HULSE, Erroll. Quem foram os puritanos? e o que eles ensinaram – São Paulo: –
Publicações Evangélicas Selecionadas, 2004
LATOURETTE, K. S. Uma história do cristianismo: volume II: 1500 a.D a 1975 a.D. São
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OLSON, Roger. História da Teologia Cristã. 2000 de tradição e reformas. São Paulo – Vida
Acadêmica, 1999.
PEDERSON, Randall J. Unity in diversity: English puritans and the puritan reformation,
1603-1689. Brill, 2014.