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São os Anciãos?
Às minhas filhas e esposa amada.
Prezado leitor,
É um prazer compartilhar com você minhas experiências como ancião
congregacional.
Isso mesmo, ainda sou uma Testemunha de Jeová ativa; sirvo como ancião
restrito numa congregação do Brasil. Não apresento material apóstata ou
questionamento doutrinal. Por meio dos relatos que serão descritos em forma
de causo – estilo que escolhi para narrar os eventos vividos –, você conhecerá
alguns dos principais procedimentos congregacionais e como os homens que
lideram a congregação interpretam e aplicam as instruções da Organização.
Quem realmente são os anciãos? foi uma série lançada em janeiro de 2017,
em um fórum da internet. Contou com sete capítulos, que foram agrupados
neste livreto.
Ancião Brasileiro é o pseudônimo deste autor. Além de narrador, é testemunha
ocular dos fatos e personagem na maioria dos causos.
Compartilho com você 30 anos de história real; são relatos impressionantes e,
muitas vezes, por mais absurdos que sejam, retratam a realidade que vivi.
Alguns cenários foram adicionados e seus personagens tiveram seus nomes
mudados.
Todo o material não tem fins lucrativo. Esta narrativa faz parte da minha busca
por paz mental e redenção. Se você, assim como eu, tem muita fé em Jeová e
em Seu Filho, tirará muito proveito dos causos narrados a seguir.
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Ancião Brasileiro
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Apresentação ------------------------------------------------------------------------------------4
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Comissão judicativa: o fetiche dos homens designados
U
m dos procedimentos mais constrangedores na congregação das
Testemunhas de Jeová é a comissão judicativa, onde um professo errante
ou acusado de transgressão é convocado para um tribunal eclesiástico. O
errante acredita piamente que abrirá seu coração perante Deus e que somente
a confissão trará paz mental e alívio a uma consciência atormentada.
Para ter o pecado perdoado e encontrar a sua redenção espiritual, o acusado
deve expor pormenores íntimos de suas faltas, e não deve poupar nem mesmo
os detalhes mais indiscretos inimagináveis. É essa particularidade nas
comissões judicativas que mexe com o imaginário da maioria dos anciãos, pois
fomenta fetiches e taras, reprimidos ou não, uma vez que eles, em sua maioria,
secretamente alimentam suas fantasias.
O Cara
Vou contar-lhes sobre um determinado ancião que chamaremos de O Cara. O
Cara é um ancião entre seus 35 a 40 anos, casado com uma irmã 15 anos mais
nova; além de arrogante e tirado a playboy, destaca-se sua obsessão por
comissões judicativas. Mas não são todas as comissões; somente aquelas que
envolvem mulheres jovens ou bem-apanhadas, estilo panicat. Levou anos para
que eu notasse esse desvio de conduta no Cara. Ao me tornar ancião, de certa
forma escusava-me de comissões judicativas, mas o ancião O Cara sempre
voluntário, disposto, estilo profeta Isaías – “Eis-me aqui! Envia-me”. Quando o
corpo era reunido para escolher os participantes, a proatividade de O Cara era
notável e também relativa, como explicarei adiante. Comecei a notar algo
estranho nesse ancião. Quando surgia a necessidade de formação de
comissões para cuidar de homens, ou irmãs não tão avantajadas (cabeça,
ombro, joelho e pé), nosso querido ancião O Cara nunca podia se fazer presente
e dizia que estava cheio de trabalho. Porém para as jovenzinhas, de preferência
as menores, ele sempre estava disponível. Comecei a desfrutar da amizade
desse ancião O Cara. Era-me imposto isso. Precisava de amigos anciãos e na
mesma faixa de idade. A intimidade com O Cara possibilitou-me conhecê-lo
melhor; passei a notar seu comportamento estranho, com um linguajar solto,
palavras frívolas e obscenas. Amante do álcool até chegar ao ponto da
embriaguez. Em certa ocasião bebeu tanto que pôs o dedo na garganta para
vomitar e liberar espaço para continuar a bebedeira. Em um de seus porres, o
7
Lição
Prezados, rejeitem abrir vossos corações para esses canalhas travestidos de
pastores amorosos. Vossa intimidade só diz respeito àqueles que
verdadeiramente vos amam. Não compartilhem emoções ou experiências com
estranhos. Caso sintais a necessidade de confessar, façam isso a Deus no
escuro do vosso quarto ou na imensidão de um oceano ou rio. Não compareçais
às comissões judicativas; e se forem, mantenham-se calados. Exijam respeito.
Sejais indelicados com aqueles monstros que não movem uma palha para tornar
vossa vida melhor. E sabemos que estão ansiosos para desassociar e escrever
relatórios para o escritório. Depois disso sereis largados ao ermo e submetidos
ao ostracismo.
Nota: Desculpem-me pelo linguajar deste conto, mas, por mais triste que seja, a
forma narrada é a que descreve a real situação e sentimento dos envolvidos.
Não é obra de ficção ou mera coincidência.
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2
Mistério da meia-noite
N
este segundo causo, conto-vos uma história cheia de mistérios e revelações.
Quem nunca teve um ancião muito louco em sua congregação? São
daqueles que nos induzem a questionar como é que homens como esses
são recomendados. Mas somos doutrinados a pensar que não ‘é como o homem
ver que Jeová vê’ (1 Samuel 16:7). No relato de hoje apresento-vos um ancião
que chamaremos de Sacaninha; tal ancião é da mesma ‘geração’ de O Cara
(citado no causo anterior), tendo em vista o conceito de geração apresentado
pela Torre, isto é, contemporâneos, simultâneos; ou seja, basta um ter visto o
outro, seja criança ou velho, que são da mesma geração. Acrescento que todos
os casos são verídicos com adição de pequenos elementos para facilitar a
compreensão e tornar genéricos os fatos.
O causo de Sacaninha
Já faz 10 anos que esses eventos ocorreram. Tive que me esforçar para não
cometer nenhuma inverdade. Eu era aspirante a servo ministerial pela segunda
vez; estava com todo o gás, puxando o saco dos anciãos e dos superintendentes
de circuito. Não vou negar que havia corrupção em mim – um traço da
personalidade de qualquer ancião, mesmo não observado. Enfim, chegou em
nossa região um ancião muito louco. Irreverente, falastrão e quebrando o
protocolo, Sacaninha foi logo conquistando o coração de todos. Aproximamo-
nos mutuamente. Ele era perito na arte de fazer cócegas em nossos ouvidos.
Sabia falar a língua do povo. Não era orador fluente. Baixa escolaridade e baixo
nível intelectual. Mesmo assim, em pouco tempo estava eu bajulando
descaradamente o Sacaninha. Na congregação, ele me dava bastante privilégios
de serviço (escravidão); na verdade, eram as suas obrigações que ele
empurrava para mim. Comparava-me a outros como sendo único. Alimentando
meu ego, ele sabia por onde me comprar.
Aos poucos fui ficando desconfortável na relação com Sacaninha. Ele me pedia
quase todos os dias para levá-lo de carro aos diversos lugares. Não queria mais
usar transportes coletivos; folgado, agendava compromissos em meus dias de
descanso. Começou com carona para discursos fora e acabou que me tornei seu
motorista Uber particular. Fui notando que o seu comportamento era estranho e
‘misterioso’. Amava fofocas, era entrão, chegando sem ser convidado nos
lugares; sabia de tudo e falava mal de todos.
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O Dia D
Meus queridos leitores, nosso amado ancião Sacaninha era frequentador
assíduo de cabarés e boates. Amava se embriagar rodeado de mulheres. Um
verdadeiro putão! Mas pegá-lo foi algo muito difícil. Era uma raposa de esperto,
não deixava rastros. Mas assim se diz na organização: Jeová um dia revelará. E
não é que esse ditado logrou com Sacaninha! Em um desses cabarés havia um
estudante que também gostava da diversão para maiores. Ele acabou
encontrando-se várias vezes com Sacaninha nas casas noturnas. Então um
certo dia esse estudante resolveu assistir uma reunião das Testemunhas de
Jeová e com quem ele deu de cara na tribuna? Quem? Quem? Quem?
Acertaram os que disseram: Raimundo Nonato, vulgo Sacaninha. Em nenhum
momento Sacaninha o reconheceu.
Para resumir logo a história e chegarmos ao seu fim. O estudante contou a seu
instrutor que conhecia Sacaninha de casas noturnas. O instrutor custou a
acreditar. Mas como estava desejoso de um furo e ansiava tornar-se ancião,
abraçou a causa e, como terrorista calculista, aguardava o tempo de ativar a
bomba; porém antes certificou-se da informação. Montou tocaia nas boates
noturnas, fez rondas nos bairros, até que um dia viu Sacaninha entrando na
boate e cronometrou sua permanência no local; como esse instrutor estava
aspirando a patente de ancião, fez tudo direitinho. Conseguiu testemunhas e,
quando foi até os anciãos, estava com o pacote pronto. Esses anciãos foram
bem espertos. Realizaram uma reunião na ausência de Sacaninha, juntaram
todos os fatos e ouviram as testemunhas. Sacaninha fora posto contra a parede.
Um final surpreendente
Estamos todos ansiosos para saber o que aconteceu com Sacaninha e qual foi
o desenrolar de seu 'segredo sagrado'. Para sua decepção e frustração de senso
de justiça, querido leitor, nosso querido ancião conseguiu se safar. Sacaninha é
mais liso que um porco banhado em glicerina e mais astuto que Renam
Calheiros, o xerifão do Senado. Nosso amigo Sacaninha fez outra virada de
mesa, alegou que era um profissional do ramo de vendas, que trabalhava
oferecendo seus produtos a esses estabelecimentos. Pediu provas de que ele
praticava imoralidade sexual. Chorou, comoveu a todos ao dizer que era um
santo homem e que estava sendo perseguido. Apresentou seus falsos atestados
médicos. Afirmava sofrer de dislexia e que era bem provável que tivesse ido
nesses lugares, não tinha certeza. E por último, tal como na política, utilizou-se
dum artifício sujo disponível para os homens da dianteira: o foro privilegiado.
Sacaninha abriu mão de seus privilégios de ancião. Alegou problemas
emocionais, financeiros, que não se lembrava de algumas coisas; entregou os
privilégios. Ao agir assim, escapou da cassação e evitou sua “inelegibilidade”
pelos próximos cinco anos para privilégios especiais dentro da congregação
(Acreditem, existe esse procedimento). Anunciou-se que Sacaninha não era
mais ancião. Mas ele podia servir como indicador, fazer leitura e ter outros
privilégios. Montou-se uma equipe de investigação de dois anciãos para irem nas
12
Lição
Não gostaria de deixar este aprendizado, ou moral, neste causo, mas
infelizmente não existe outra forma. Vocês se lembram do irmão que de início
contou o podre de Sacaninha? Esse irmão sempre teve razão e jamais foi feita
a ele uma retratação por ter sido acusado de caluniador. O padrão de justiça da
Torre está bem distante da justiça divina. Tempo nenhum é capaz de restituir as
perdas ou danos causados. Nosso senhor Jesus Cristo jamais seria o
responsável por vivermos injustiças congregacionais e nem está direcionando as
coisas para nos ensinar algum tipo de lição. Jamais permita que a verdade
prevaleça sobre a mentira e esforce-se para cultivar o perdão – o único gesto
capaz de trazer redenção para injustiças. Não confiem nos padrões dos
julgamentos dos anciãos. Vocês não estão diante de Cristo, mas de víboras
travestidas de líderes espirituais.
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3
A venda de terrenos para o novo mundo
O
terceiro causo de nosso livreto aconteceu há mais ou menos 25 anos. Era
início da década de 90. A geração de hoje em meu circuito nunca ouviu falar,
e os que foram contemporâneos da sequência de eventos citados fazem
questão de não lembrar. Talvez alguns dos envolvidos sejam usuários em nosso
fórum, porém esse relato pode ser apenas uma mera coincidência fatídica e não
um vazamento de nudes. Não quero expor detalhes da vida pessoal de ninguém,
por isso venho tentando ser o mais genérico possível ao revelar verdades no
tempo apropriado.
É bem provável que em vossos circuitos exista aquele ancião xerifão, daqueles
que são usados até mesmo para auditar viajantes. A seguir conto-vos a história
do cacique do circuito, mano Valdomiro (Uma homenagem a um famoso líder
religioso em nosso país).
Causo do empreendedor
Valdomiro é um notório ancião que começou sua carreira terrestre como pastor
em meados da década de 80; por volta do início dos anos 90, nosso querido
ancião/pastor Valdomiro vivia os trends tops da parada. Ancião presidente,
orador de assembleias e congressos, membro das comissões de apelações e
conselheiro de viajantes. Valdomiro era um homem próspero; era empresário do
ramo imobiliário e tinha diversos investimentos. Lembro-me de determinado
congresso, em um estádio de futebol, que, quando foi anunciado pelo presidente
o nome de Valdomiro como próximo orador, podia sentir-se um êxtase no
semblante de alguns irmãos e outros sussurravam de tesão. Eu pensava no meu
íntimo: “Quero ser famoso como Valdomiro, quero discursar para o delírio das
multidões; quero ser reconhecido como um excelente orador e idolatrado pelo
circuito”. Mas é triste informar que esse homem dos sonhos tinha uma
personalidade exótica. Na tribuna era amoroso, sorridente e humilde; no trato
com outros, autoritário, grosso e mal-educado. Sua presença metia medo em
seus coanciãos e ovelhinhas. Achava-se ungido (ungido = indivíduo que
professa ter um membro sexual superior a 17cm). Até seu andar era modificado,
como se tivesse algo roçando entre as coxas. Gostava de humilhar os menos
favorecidos, achava que todos eram seus empregados. Valdomiro continuava ‘a
crescer em conhecimento e sabedoria’.
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Sua casa era uma referência no circuito. Os viajantes vinham pousar e ficavam
por dias, semanas e meses. Até mesmo Sup. de Distritos gostavam do veraneio
e dos jantares oferecidos por Valdomiro. Muitas vezes preferiam ficar na casa de
Valdomiro a ficar nas humildes residências das congregações designadas.
Valdomiro era casado e tinha filhos. Um verdadeiro amante da filantropia.
Gostava de empregar irmãos em seus empreendimentos. Na congregação, a fila
para falar com Valdomiro era enorme e tinha até senha. Muitos queriam emprego
e conselhos amorosos. Em sua casa, por insistência da esposa, moravam irmãos
menos favorecidos no circuito, incluindo uma pioneira solteira e abandonada por
seus familiares. Essa pioneira será a chave na revelação do “segredo sagrado”
de nosso ancião. Valdomiro tinha excelente oratória e uma bela voz. Não
tínhamos facebook na época, mas Valdomiro nos contava cada estória com um
final que nos fazia meditar. Não sei de onde ele arranjava as estórias; dizia que
eram das publicações que ele estudava com afinco, mas nunca sequer ouvi suas
parábolas por lá; ainda não tinham inventado a internet, mas Valdomiro já
possuía inúmeras correntes. Acreditávamos que suas parábolas estavam nas
publicações do Escravo Fiel e Discreto (Era assim que chamávamos o Escravo
Fiel Prudente). Um coaching nato!
Valdomiro ficava com a grande diferença. Mas acontece que um tal de Jeremias,
traficante de renome, apareceu por lá. Ficou sabendo dos planos de Valdomiro
e decidiu que com ele ia acabar. Os lotes demoravam a ser entregues, a região
estava abandonada, apenas algumas bandeirinhas podiam ser avistadas de
longe. Os irmãos começaram a fazer pressão para a entrega do condomínio e
de seus respectivos lotes. Porém, como já havia citado, um irmão de pseudônimo
Jeremias resolveu investigar junto à prefeitura. Jeremias descobriu que não
existia propriedade rural nenhuma no nome de Valdomiro; também constatou
que aquelas terras que foram vendidas já tinham dono e não era nosso querido
ancião. A notícia se espalhou entre os compradores, que formavam turbas
enfurecidas. Valdomiro inventou uma viagem para a Alemanha, as equipes de
vendedores TJs sumiram do mapa. Depois descobrimos que poucos eram
realmente irmãos. Iniciou-se uma caça a Valdomiro; pressão vinha de toda a
parte; em sua congregação fizeram vigília.... Até o dia que Valdomiro apareceu.
Não existia bankline, tudo era no cheque ou dinheiro vivo. Os anciãos cagões de
sua congregação tomaram coragem para enfrentá-lo, pois até alguns deles
estavam no prejuízo. Levaram o caso ao circuito e ao Sup. de Distrito. Valdomiro
fez uns acordos descarados com alguns lesados e outros saíram no prejuízo
total, não teve jeito. Muitos cheques falsos e mentiras dissimuladas.
Devido à forte pressão congregacional, Valdomiro perdeu os privilégios como
ancião, mas não foi desassociado. Desde o dia que se anunciou sua remoção,
ele nunca mais pisou no Salão.
Passaram-se cinco anos e, de forma discreta, foi anunciada que Valdomiro tinha
sido desassociado. Muitos nem o conheceram. Alguns acreditavam que era
finalmente a justiça divina sendo feita e que depois de tanto tempo betel estava
dando uma resposta a tantas queixas. No entanto, o motivo de sua expulsão não
foram os golpes a lá Eike Batista; Valdomiro tinha passado o rodo em uma
pioneira que amorosamente morava na casa dele. Lembram-se que nosso
querido pastor era amante da filantropia? Em sua casa morava uma pioneira,
que era a alegria de Valdomiro. Não gosto de contar essas histórias envolvendo
anciãos e pioneiras, parece um certo fetiche dos membros da organização e não
um relato verdadeiro. Porém, contrariando minha opinião, Valdomiro traçava a
pioneira nos principais territórios isolados e rurais da cidade – e fazia isso desde
a época dos belos discursos em congresso, que inclui até um de batismo.
Valdomiro e a pioneira foram os primeiros a apoiar essa modalidade de ‘pregar
em território rural’, só que eles iam sozinhos e ficavam nus (um método que ainda
não foi aprovado pelo escravo). Parece que nada fica oculto nessa santa
organização, pois, no tempo apropriado, alguém lá em cima manobrou a situação
para trazer luz onde havia escuridão. Neste caso ninguém foi pego com boca na
botija e nem houve confissão. Acontece que a pioneira ficou grávida e, depois
de quatro meses, não conseguiu esconder a situação. A esposa de Valdomiro
descobriu e contou para os anciãos. Eles foram embora – Valdomiro e a pioneira
–; foram morar em outra cidade, numa casa bem modesta. Nosso querido ancião
e empreendedor amargou um revés financeiro. Ficou pobre, perdeu suas
empresas, perdeu o pouco que tinha no divórcio e na divisão dos bens com os
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filhos. Nem a venda de seu tesouro pagou suas dívidas com agiotas e
fornecedores. Foi jurado de morte. Passou a esconder-se.
Um pastoreio surpreendente
Nós “ansiosos” regulamente temos que realizar visitas de pastoreio. Em algumas
somos bem recebidos; em outras, soltam-nos os cachorros. Às vezes nos
servem lanchinhos e pizzas. Recomendo, trate bem seu ancião; ele merece.
Aceitamos de bom grado segundo o que a pessoa tem, não o contrário. Em uma
bela visita de pastoreio, eu juntamente com um coancião fomos recebidos com
uma bela travessa de pipoca acompanhada de um refrigerante genérico da
Coca-Cola. Nesse exato pastoreio fomos visitar uma irmã que cria sozinha o seu
filho na verdade e cujo marido é opositor. Pasmem, queridos, eu me engasguei
com a pipoca; precisei de umas palmadinhas na nuca para não desfalecer, pois,
em determinado momento da visita descobri que a irmã que perseverava em
criar seu filho na verdade era a pioneira adúltera do início deste conto. O seu
marido era nada mais nada menos que o carinha que mora logo ali, nome
artístico “Valdomiro”, que, para minha surpresa, ainda estava vivo. Essa irmã
abriu o coração pra gente. Contou-nos de sua infidelidade, que Valdomiro havia
prometido uma vida de eterna panicat, luxo e fartura; porém, a realidade era
dura. Ela passava necessidade, Valdomiro era zombador e, o pior de tudo,
odiava as Testemunhas de Jeová. Valdomiro não era fiel, tinha diversas
amantes. Ela nos disse que poderia perdoar tudo, menos o fato de ele está-se
tornando apóstata (Foi nessa hora que me engasguei com a pipoca). Valdomiro
acessava o site Ex-Testemunhas de Jeová, compromisso com a verdade, e
vivia mostrando os links pra ela. A ex-pioneira nos contou que Valdomiro não
acreditava mais no Corpo Governante; dizia ele que a organização era filiada à
ONU e que as publicações tinham mensagens subliminares. Ela nos pediu para
um dia fazer um pastoreio a ele, pra tirar essas ideias e pensamentos
demoníacos do coração daquele pobre homem. Um dia eu faço seu pastoreio.
Essas são as informações mais recentes sobre Valdomiro. A ex-pioneira disse
que não tem pra onde ir e não pode largar o galã. É bem provável que Valdomiro
esteja lendo seu relato neste exato momento. Bem-vindo à fraternidade,
guerreiro! "É isso, tamo junto, é noís!"
Lição
A corruptibilidade dos homens designados é um enorme lembrete da inverdade
da crença que os anciãos das Testemunhas de Jeová são representantes do
Reino de Deus na terra. Luxúria, orgulho, ambição, simonia e outros são as
qualidades mais destacadas nesse meio. Quero ressaltar que o espírito
ganancioso os fazem chantagear aspirantes a escravilégios na congregação e
usam a autoridade que possuem para interesses pessoais. Além disso, muitos
dessas “dádivas em homens” extorquem as ovelhinhas de Cristo, causando
danos emocionais e financeiros irreparáveis. Escondem-se na certeza da
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Um ladrão honesto
H
oje vou contar-lhes o quarto capitulo de nosso livreto. Tenho certeza que as
aventuras românticas e peripécias de nossos queridos anciãos estão
causando perplexidade e indignação. Porém, no causo a seguir, vamos dar
uma pausa nessa pornochanchada evangélica e contar a história de um ancião
do bem. Não era exótico, arrogante ou sínico. Uma pessoa verdadeira, mas que
fraquejou e experimentou a revolta do sistema. Estava difícil em pensar num
nome para ele; então peguei carona na criatividade das experiências da Torre,
resolvi batizá-lo de Jim (alguns nomes foram mudados). Apelar pra Jim sempre
resolve a nossa falta de inspiração e nos ajuda a complementar o raciocínio.
Este relato é pobre em comédia, espero não os decepcionar com a monotonia
do texto, mas trago procedimentos internos que em nada seguem o padrão de
justiça divina. Jim teve impacto em minha trajetória na Torre.
por alto faltas e alguns desvios de personalidades. Jim acreditava nas pessoas.
E esse foi seu erro. Deu poder a pessoas ambiciosas e despreparadas.
Alimentou os próprios cães que depois o morderam. Acreditando no curso
profissionalizante da organização e no treinamento que viria dos céus, Jim
conseguiu a aprovação para que uma nova congregação fosse formada e
proporcionou a divisão do rebanho. Esse Jim era retado! Porém, Jim não sabia
que tinha ficado do lado podre. Alguns meses depois, os homens que foram
nomeados por indicação de Jim estavam querendo sua cadeira de coordenador.
Esse posto dentro da congregação é ambicionado por muitos e, para ocupar tal
posição, alguns colocam seus instintos mais mesquinhos à tona.
Jim estava lascado. Ele cruzava a cidade para apoiar essa congregação.
Envolvia muitos custos. Tinha filhos adolescentes. Trabalhava humildemente
como operário, mas a conta não fechava. Aos poucos foi achegando-se ao SPC
e SERASA. Essa situação aflitiva apertava a mente de Jim e, como tinha a chave
da geladeira da congregação, caiu na desgraça da tentação. Como coordenador,
Jim administrava o dinheiro congregacional, cartão corporativo e senhas para
transação bankline. Os servos das contas faziam toda a logística operacional,
mas Jim pediu para fazer os depósitos. Ocorre que, do valor do recibo para o
que era depositado, tinha uma diferença. Nosso amado irmão estava fazendo
um consignado com o caixa da congregação. Ele retinha parte dos donativos e
usava nas necessidades de seu lar. Mas lembre-se, era apenas um empréstimo
consignado, não um desvio de verbas, tal qual temos nas prefeituras. Dois ou
três meses depois Jim fazia a restituição sem acréscimo de juros. Isso se tornou
frequente e perdurou por um ano e meio. No entanto, Jim estava com dificuldade
na reposição. O servo das contas ficou calado, mas o ancião secretário, que era
um golpista (chamaremos a ele de Temer), percebeu essa movimentação e
perguntou ao irmão das contas do que se tratava. Ingênuo, o irmão das contas
denunciou o esquema ilícito de Jim. Eis a oportunidade de Temer ferrar com
Jim e assumir seu posto. Esse secretário comeu à mesa de Jim e, se não fosse
por Jim, nunca seria ancião. Devia a Jim a sua posição de ancião, mas não
estava nem aí, pimenta no c*(3,1416) é refresco. Juntou todos os anciãos do
corpo na ausência de Jim e elaborou um grande golpe. Tinha o senado de
anciãos todo de seu lado. Bastava o supremo tribunal do SC dar o aval. Levaram
o assunto para o mestre dos mestres, o SC, que não era mais o mesmo que
havia transferido Jim para essa congregação; esse viajante ficou chocado com
o sistema de corrupção. Mas a metodologia adotada pelo superintendente
deixou Temer confuso e decepcionado. O viajante disse que não era para ele
tratar do caso de Jim e nem contar nada a ele. O assunto seria resolvido na
próxima visita, num prazo de três meses. O secretário Temer ficou frustrado.
Como assim? O SC não confiava que ele tinha capacidade de cuidar de um caso
complexo? Sim, apesar de ousado, Temer era recém designado e não sabia
nada de nada. Nunca havia sequer participado de uma comissão. O viajante
tinha um homem de confiança. Um puxa-saco do circuito. Ele iria transferir esse
Pela-saco como infiltrado para a congregação de Jim. A mando do viajante, Pela-
saco se mudou para a congregação para auditar as contas e assumiu o posto de
secretário no lugar de Temer. Ele não poderia ser o coordenador, pois essa
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designação é dada pelo SC. Jim, inocente, recebeu Pela-saco de braços abertos
e até refeições proporcionou para essa raposa. Jim ainda exercia a função de
coordenador, mas mal sabia ele que era decorativo, e Temer, que aspirava a
coordenação, foi ser o dirigente da sala B. Pela-saco, o agente secreto da KGB,
não parava de auditar as contas e de gerar planilhas. Fez o mapa do dinheiro
desviado. E fud*(*3,1416) com Jim em um relatório parcialmente manipulado,
pois os números só exibiam os saques, mas não os retornos aos cofres da união
da Torre de Vigia. Enfim chega a visita do superintendente de circuito – um dia
que jamais sairá da memória de nosso querido ancião Jim.
Um homem se humilha
Se castram seu sonho
Seu sonho é sua vida
Lição
A falta de respeito àqueles que prestam serviços à congregação é um sinal da
falta de aprovação de nosso Senhor Jesus em como as coisas são conduzidas
na congregação das Testemunhas de Jeová. Jim errou, mas estava suscetível a
isso, pois é humano. Ele precisava servir de exemplo para os demais. Tinha que
ser violentado e esmagado. O dinheiro da Torre é sagrado e nada ou ninguém
importa. Se necessário, a polícia deve ser envolvida, mas em nenhum momento
o Corpo Governante pode ter prejuízo financeiro. O dinheiro é o combustível
dessa religião e seus procedimentos trazem segurança às finanças. As políticas
administrativas fortalecem a transparência até certo ponto da pirâmide da
organização. Anciãos e superintendentes atuam como a receita federal: vigiam
os tesouros que são recolhidos localmente. Um vigiando a circunferência anal
do outro. Não existe cumplicidade. Nesse quesito, a Torre é exemplo em
conseguir destinar plenamente a arrecadação para o propósito final: o bolso do
Betel americano!
Apêndice
Na congrega Norte existia um ancião muito louco. Ele fazia muitas trapalhadas.
Designava desassociados para partes na escola e havia liberado o acesso
restrito na caixa de entrada do site JW.ORG para todos os servos ministeriais.
Em toda visita era denunciado ao viajante, que achava era graça das
traquinagens desse ancião. Uma noite, um belo silêncio rompe a madrugada. O
telefone do viajante toca sem parar e no visor logo identifica o nome Ancião
Muito Louco. Preocupado, o viajante atende e do outro lado o Ancião Muito
Louco, em desespero, diz que transferiu todo o dinheiro da conta da
congregação para a CC de algum estranho. O caixa estava zerado! O viajante
não se conteve e gargalhou por muito tempo. “Mas, Ancião Muito Louco, como
isso aconteceu? ” – Indagava com risos ao nosso pastor. O SC dispensou-o e
combinaram que voltar a dormir seria a melhor opção e ao amanhecer viria
solução.
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Ao raiar do dia, o Ancião Muito Louco era o primeiro na fila do banco. Urgente,
queria falar com o gerente para cancelar a transferência. Mas não era mais
possível. O dinheiro caiu na conta de alguém que estava negativado e aí se sabe,
né? O LIS comeu tudinho. Ancião faz contato com o viajante e informa que não
conseguiu resgatar o dinheiro da Torre. O SC deu uns bons esporros nele, mas
apresentou uma proposta para não cuidar do caso de forma judicativa. Disse que
ele deveria repor o dinheiro com recurso próprio, e que cuidaria da burocracia
com o pessoal da associação jurídica do circuito. Ele deveria também fazer um
B.O na delegacia e anexar como furto virtual, para protegê-lo e desfazer os
danos que poderiam ser causados ao escritório.
O Ancião Muito Louco voltou às pressas ao banco e sentou na primeira cadeira
que tinha a placa informando empréstimo. Valendo de sua posição de
aposentado, nosso Ancião Muito Louco fez um consignado com desconto em
sua pensão; até hoje paga suavemente o dinheiro que quase não chega no seu
destino santo.
Descobrimos em tempos recentes que nosso querido amigo Ancião Muito Louco
sofre de Alzheimer. Está num estágio avançado da doença, está ficando sem
suas lembranças.
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5
Rapidinha nos terrenos da Torre
N
o quinto causo estou retomando as aventuras românticas de nossos
safadinhos pastores; desta vez conto-vos um relato do mais alto escalão que
tenho conhecimento e tenho presenciado. A escrita em alguns momentos
pesa para o erotismo e uma apelação subjetiva machista. Peço perdão às
meninas, mas fazia-se necessária essa conotação para trazer à tona
sentimentos impróprios e chegarmos à nossa lição. O personagem desse
capitulo tem o nome de Zeca, em homenagem a um grande cantor e garoto
propaganda de uma famosa cerveja em nosso país. O Zeca era superintendente
de Salão de Assembleia, o maioral dos salonitas.
A origem do nome
Em um determinado mutirão de faxina (Esse povo ama chamar serviço de faxina
de privilégio), Zeca deu boas-vindas aos vol(otários) e fez a distribuição das
tarefas. Recebi das mãos de Zeca um checklist de atividades que incluíam
limpeza das residências, paisagismo e higienização do canil (Residência dos
cachorros de tempo integral). De forma educada, Zeca me explicou tudo que
estava envolvido nesse maravilhoso privilegio de serviço; disse que os cães
estavam presos em um local seguro dentro do canil e que contava com minha
equipe para dar o melhor a Jeová. Chegando em nosso território, a bagaceira
estava feita; havia mais excrementos ali que em uma jaula de elefantes. Aqueles
cachorros não obravam, mas se fotocopiavam na forma de estercos. Era uma
bagaceira. Parecia que não se fazia a assepsia daquele lugar há dias. Reuni dois
jovens dispostos e zelosos comigo. Dispensei as irmãs e pedi para elas cuidarem
da área externa aos alojamentos. Localizamos os três terroristas que moravam
naquele canil. Estavam agitados, presos por grades em uma espécie de área de
lazer. Latiam sem parar. Mas quando começamos a limpar, os ‘sacaninhas’
sentaram e começaram a nos observar. Olhei nos olhos daquelas doces
criaturas que nos diziam sem pudor: ─ Vocês se fude (π =3,1416), meus irmãos;
vocês se fude ( π=3,1416). Só não parti para a agressão porque aqueles
rottweilers eram abençoados; estavam ali porque tiveram suas petições
aprovadas com louvor, cumprindo qualificações espirituais. Insisto nesse relato,
pois esse evento fatídico é o que nos leva ao batismo do nome de nosso
personagem, o Zeca. Encontramos no fundo do canil, uma área reservada, com
uma espécie de porão. À medida que nos aproximávamos, os cachorros latiam
desesperadamente. Os jovens que me acompanhavam eram curiosos demais.
E corajosamente abaixaram e descobriram um depósito subterrâneo com uma
grande quantidade de garrafas de cerveja. As garrafas estavam novinhas, eram
tantas que nenhum homem podia contar. Todas da marca BRAHMA; algumas
pareciam que haviam acabado de serem usadas. Cheirava a lúpulo e cevada.
Os jovens ficaram em choque! Não conseguiam acreditar e indagaram de mim o
que era aquilo. Um lugar santo com cervejas? Não era proibido no manual para
salonitas? Pensei rapidamente que poderia destruir os sonhos daqueles garotos
ou continuar alimentando as suas utopias. Fiquei com a segunda alternativa e
disse-lhes que aquelas garrafas de cerveja eram recolhidas para serem
recicladas e o dinheiro usado como donativo para a obra mundial. Lembro-me
do semblante de prazer e de satisfação que sentiram com minha resposta. Ufa,
foi por pouco! Fiquei pensativo e querendo esquecer essa descoberta. Enquanto
os vol(otários) bendizia a Deus por passar um dia em seus pátios, eu tentava me
recompor e não tive dúvidas de que um dia na praia era melhor que mil dias
naquele lugar.
26
E também aquele princípio bíblico: "Quando estou bebo é que sou forte!" As
coisas vão bem para o casal.
Em tempos recentes, fui fazer discurso na congregação de Zeca. Ao final da
reunião, ele veio cumprimentar-me. Não se lembrava de mim, mas eu o
conhecia. Zeca e sua nova esposa/amiga comentaram a reunião toda. Zeca
também era indicador. Porém Zeca não pode voltar a servir como ancião até que
sua ex-esposa seja desassociada ou venha a morrer. A atual esposa amiga/irmã
é pioneira regular, mas ele amarga a geladeira dos privilégios (Veja apêndice no
final do causo, nota do KS).
28
Lição
Investimos materialmente na organização das Testemunhas de Jeová. Nossas
contribuições servem para custear as despesas operacionais do reino aqui na
terra; elas custeiam todos os que estão no tempo integral da Torre em diversas
modalidades. Aquelas taxas absurdas em Assembleias de Circuito e resoluções
milionárias cobrem os custos de todos, inclusive sustenta a família dos salonitas
e seus patrões. Zeca era custeado pelo meu e seu donativo. Talvez jamais tenha
imaginado que nosso dinheiro serviria para patrocinar o pagodinho do Zeca e
suas peripécias sexuais. Do motel ao combustível do veículo que fazia o
translado do amor. Todas as despesas eram bancadas com aquela porção que
reservarmos em nosso apertado orçamento todos os meses. Sim, aquelas '3
moedinhas' (léptons) eram o que molhava as mãos e outras coisas de Zeca e
nossa querida amiga/irmã. Acreditamos que nossos recursos serão utilizados
para apoiar e santificar o nome de Jeová, mas não é bem assim que vemos.
Que dizer da estrutura desumana da organização? Onde membros são
descartados e lançado ao relento no mar da humanidade? Nossa querida irmã
Santa experimentou o descarte pela Sociedade Torre de Vigia e sentiu a
crueldade com aqueles que doam sua vida para a manutenção dessa entidade.
Nem de sacar FGTS em contas inativas, esses escravos do reino têm direito. Ela
ainda acredita que tudo foi obra do Diabo para quebrantar a fé dela e que
Satanás usou seu esposo e amiga/irmã para fazê-la deixar de ser leal a Jeová e
sua organização. Jamais nosso Senhor Jesus e Soberano Jeová tem
direcionado as coisas de tal forma a causar danos às ovelhinhas, mas preservar
a entidade JW.ORG. Eles estariam sendo egoístas demais se permitissem que
tais práticas fossem administradas em Deles. O que vemos é uma prova que a
atual congregação que se domina cristã não possui Cristo como seu cabeça e
nem a aprovação ou orientação divina. Trata-se apenas de um produto da
imaginação do homem.
Apêndice
KS2010 3:8, página 31 [Culpado de adultério no passado: Nesses casos,
provavelmente levará mais tempo para ele recuperar sua boa reputação e a
confiança das pessoas. Antes de considerarem sua recomendação com o
superintendente de circuito, vocês devem saber responder as seguintes
perguntas: Quando ocorreu o adultério? Ele foi repreendido, ou foi
desassociado? No caso de repreensão, a comissão judicativa deu um anúncio?
O cônjuge inocente o rejeitou? Como ficaram sabendo disso? Se ele se
divorciou, casou de novo? Casou com a pessoa com quem cometeu adultério?
Há evidências de que ele planejou tudo para ficar livre da esposa anterior ou que
a pressionou a aceitar o divórcio? O adultério fez com que o casamento da outra
pessoa acabasse? Como outros foram afetados pelo adultério? A esposa
inocente ainda está viva? Ela se casou novamente? …. Se a transgressão foi
cometida quando ele estava em outra congregação, escrevam aos anciãos de lá
para saber o que acham da recomendação. ]
29
6
O causo do Bode Véio
C
hegamos ao penúltimo capitulo deste livreto. À medida que avançávamos no
segredo sagrado revelado de cada causo, sentíamo-nos numa operação
deflagrada da polícia federal; escrutinamos de forma coercitiva a vida dos
futuros príncipes da terra. Na narrativa a seguir, convido-vos a adentrar ao meu
corpo de anciãos, no qual servi por cinco anos. Participarei ativamente neste
causo, contando um pedaço de minha história, conduzindo os eventos ao seu
desenrolar. Em alguns momentos vou oscilar entre a terceira e a primeira pessoa
da narrativa. Alguns dos membros desse corpo de anciãos já são conhecidos de
vocês, pois constaram em causos anteriores. Talvez esse relato não traga a
empolgação, reviravoltas e brilhos dos outros, mas é fundamental para a
revelação final do último capítulo. Conheceremos dois personagens notórios; o
protagonista desse causo, ancião Bode Véio (velho) e o coadjuvante maioral de
toda tribo de Israel, o cacique Aruana.
Após completar 70 anos, o Bode resolveu dar uma guinada em sua vida. Vendeu
seus bens e foi parar em uma congregação que só tinha dois anciãos. Era a
oportunidade de voltar à ativa e exibir com orgulho sua larga experiência em
cuidar de assuntos congregacionais. O Bode foi servir na congregação Oeste,
juntamente com um ancião um pouco mais novinho que ele, o Zé Meningite
(coordenador), e com um outro ancião playboy, chamado de O Cara. (Veja
Causo I). A bagaceira estava formada. Esse trio tocou o terror. O Zé Meningite
fica doente pela enésima vez. Não podia ficar de coordenador.
A congregação Oeste era grande, com 170 publicadores e poucos servos que
ainda eram limitados. Apelaram para o comandante supremo do talibã, o SC,
que resolveu enviar reforços, e nosso querido pastor Jim (Veja Causo IV) foi
apoiar a Macedônia. Jim se une à irmandade.
com macarrão. No jantar caí de boca na batata doce e no ovo cozido. Comi com
tanta veemência que o resultado foi catastrófico. Fui para a reunião pesado. Logo
de início mostrei minhas armas, com um sensacional peido de abertura. Foi o
cover de entrada para a noite com ar mais pesado em nossas reuniões. Avisei
que não estava bem, mas insistiram que eu ficasse. Por Deus, segurei o cu na
hora da oração, mas depois comecei a enxurrada de gases silenciosos e
mortíferos.
Nossa, mãe! Estava podre, nem eu suportava. Mas fui valente, direcionando o
vento para a cara do Bode. Mas como eu estava com a bazuca descalibrada, o
tiro quase sempre ia na face do Cara, o coordenador. Todos ficaram irados e
revoltados. No meio da reunião um odor insuportável tomou conta do corpo. Uma
catinga de Bode Véio misturado com ovo podre. Desta vez não fui eu, algum
mau elemento se aproveitou de minha fragilidade e obrou ali mesmo. Aos gritos,
o coordenador me expulsou da sala; todos me colocaram para fora, mas antes
de sair reiterei que não era o responsável por aquela carniça. Nunca negaria um
peido, era homem para assumir minhas cagadas.
O Coordenador, bufando de raiva gritou: ─ Saí daqui, desgraça!
Não suportei essa ofensa e mandei todos irem se fud*(3,1416), pois não protegia
general de dez estrelas que ficava atrás da mesa com o C*(3,1416).
O Bode, com ódio no olhar, disse: – Você perdeu sua vida, meu irmão; você
perdeu sua vida, meu irmão!
Pensei: “Essas palavras vão entrar no coração, vou sofrer as consequências
como cão. ”
Em nossas reuniões o Bode ficava nervoso, berrava (Bebebebebebebe) e cuspia
no chão. O Ancião Brasileiro começou a perder a paciência com aquele animal
idoso. Ameaçava-me de morte; dizia que, se não fôssemos cristãos, eu iria ver.
Em uma reunião ficou em pé enquanto socava as mãos e olhava em minha
direção. Mantive-me com a guarda montada e preparado, pois, a qualquer
movimento falso, eu daria com os pés em sua caixa torácica. Chamei o Bode
para a briga, se ele era homem. Esses covardes gostam de ameaçar, mas, na
hora de provar a masculinidade, são umas bichinhas. (Nota: Repudio qualquer
forma de agressão ao idoso, criança e mulheres.... Mesmo gostando das
músicas do Vitor & Leo).
O Bode Velho liga para o SC aos prantos, soluçando e gemendo. O viajante fica
preocupado. Liga para outros irmãos e pede que acudam o 'pobre velhinho'. O
Bode, antes de desligar, conta mentiras a respeito do Ancião Brasileiro; chora
batendo no peito, diz que o espírito de Jeová tinha se afastado da congregação
por minha causa. O Bode era perito na arte de mentir e inventar estórias. O SC
liga para O Cara e diz que virá em nossa congregação em caráter de urgência
(Que o leitor use de discernimento). Na quarta-feira, após a reunião, reunimo-
nos na sala B e, para minha surpresa, o viajante chega com sua maleta. Com
todos reunidos, começa a esmurrar a parede; diz que não aguenta mais esse
corpo. Direciona palavras para o Ancião Brasileiro. Pega esse pobre homem e o
33
coloca em seu colo, descobrindo sua nudez, violentando seu corpo ali mesmo
na presença de todos. Fui desmoralizado na frente daqueles canalhas, enquanto
o Bode e O Cara davam risadas. Não me foi dado o direito de resposta, réplica
ou tréplica. Após vestir suas calças, o viajante anuncia que mandará um novo
coordenador, o maior xerife do circuito, eleito dezenove vezes pelo escritório
melhor ancião do ano (Top of mind). Para colocar ordem na casa e iniciar os
processos de desqualificações, viria para nossa congregação o cacique Aruana.
O cacique Aruana
Era um ex-pioneiro especial solteiro, que por algum motivo casou-se e deixou o
serviço. Um homem muito estimado no circuito. Assumiu o trono após uma
sucessão de caciques caírem, Valdomiro, R. Soares e Malafaia. Esse cacique
estava em todo lugar e fazia tudo em nosso circuito. Aceitou a proposta do SC
para embarcar na nova congregação Oeste e trazer a paz para o corpo. Assim
que chegou, foi abraçado pelo Bode e emocionou-se com o fato de o
ancião/Bode ter quase 40 anos como pastor. O Cara aproximou-se também do
Cacique e foi aquela simonia, trouxeram espelhos para o nobre cacique e um
colar do Amazonas. Meu santo não bateu com o do Cacique e vice-versa. O
cacique Aruana era cruel e logo desqualificou dois servos ministeriais para botar
ordem na casa; isso foi um golpe em mim, pois eram meus protegidos. Outros
que haviam apenas sido repreendidos, ele desassociou-os. Tirou o Ancião
Brasileiro da posição de dirigente de A Sentinela. Formaram uma aliança para
barrar todos os meus projetos e destituir-me da posição de ancião.
O cacique era um gênio, manipulador; jogava xadrez. Foi corrompendo a
congregação. O cerco estava se fechando contra o Ancião Brasileiro. Comecei
uma luta para sobreviver. Estudei muito, buscava o fórum TJs Livres, pesquisava
em todos os idiomas. Precisava de conhecimento para enfrentar aquela fera.
Não me acovardei, parti para o ataque e isso deixava o cacique furioso. Mostrei
minhas armas. Tivemos duelos épicos. Pouco usávamos o KS, era tudo na de
linha de raciocínio. Vossa Excelência pra cá e pra lá. Briga de magistrados.
Cacique Aruana era bom nos ensinamentos da Torre e quase sempre me vencia,
poucas vezes consegui beliscar sua armadura e desferir golpes. Ele não lutava
sozinho. O Bode e o Cara levavam água para ele. Eu me sentia esgotado.
Olhava para o ancião Banana e o Cagão que nada faziam para me ajudar. Eram
uns Maria-vai-com-as-outras. Descobri uma fraqueza do Cacique; no passado,
ele havia recebido um cocar feito com chifres de touro. Sim, sua bela esposa lhe
botou um par de galhas com um primo dela, que quase lhe custou os privilégios.
Ela foi desassociada e ele permaneceu como ancião. Nunca tive coragem de
usar essa arma secreta. Arrependo-me até hoje por isso.
Esses são eventos que antecedem ao fim, que vem sendo revelados causo a
causo, e serviram de pano de fundo para que os sinceros possam ter contato e
saber quem realmente são os anciãos. Somente após a leitura cuidadosa da vida
desses príncipes proféticos, chegaremos à compreensão da verdade por traz
dos contos (Continua).
34
Lição
Donde procedem as guerras e donde vêm as lutas entre vós? — Tia. 4:1.
Acreditamos que os anciãos se reúnem para cuidar do bem-estar da
congregação. Mas nesse conclave TJ (Abemos papa), o espírito santo, passa a
milhas daquele metro quadrado. A natureza dos assuntos é desprezível e as
decisões tomadas são pessoais, muitas vezes visando o benefício próprio.
Lembro de uma vez que o Bode, em uma das reuniões, questionou o
posicionamento das cadeiras no auditório; disse que a forma como estavam
distribuídas permitia que os oradores descobrissem a nudez de nossas irmãs. O
Bode disse que ele mesmo tinha visto diversas vezes as calcinhas das irmãs;
acrescentou que muitos irmãos poderiam ter ereções do palco. Punheteiro sem
vergonha!
Rixa, ciúme, ambição e agressividade. Esses são os frutos que permeiam as
decisões desses santos homens. O mais revoltante é que oram pedindo uma
porção do espírito para logo após iniciarem uma sessão de mentiras e absurdos
uns com os outros e contra as ovelhas de Cristo. Os anciãos são o escravo mau
que açoita as ovelhas de Cristo em busca de sua ascensão pessoal e da
satisfação do poder concedido aos que usufruem tal posição. Que Jeová tenha
misericórdia daqueles que estão debaixo desse jugo opressor! Que esses
hipócritas recebam em dobro, de nosso Jesus Cristo, o açoite com o seu santo
chicote que sangrará a carne desses malditos homens.
Apêndice
KS10 2:3 P12 [Quando realizar reuniões de anciãos: Em geral, o corpo de
anciãos realiza quatro reuniões por ano: uma em cada visita do superintendente
de circuito e mais uma três meses após cada visita. O corpo de anciãos pode
programar outras reuniões conforme a necessidade. Essas reuniões adicionais
devem tratar apenas dos assuntos para os quais foram programadas. Nas
reuniões, os comentários devem ser concisos e relevantes ao assunto em
consideração. Reuniões desnecessárias ou excessivamente longas consomem
tempo valioso que os anciãos poderiam aproveitar melhor em família, no
ministério e no pastoreio. (Mat. 24:14; 1 Tim. 3:4; 1 Ped. 5:2) Antes de preparar
a pauta, o coordenador do corpo de anciãos deve contatar cada ancião para
saber o que gostariam de considerar na reunião. O superintendente de circuito
prepara a pauta para a reunião realizada durante sua visita. Além dos pontos
que ele mesmo coloca em pauta, o superintendente de circuito deve contatar o
coordenador do corpo de anciãos para saber que pontos os anciãos gostariam
de incluir. Em geral, as reuniões não devem passar de duas horas. ]
35
7
O causo final: a revelação
É
com grande alegria que conto-lhes o último capitulo deste livreto, que foi
publicado previamente em forma de série online Quem realmente são os
anciãos? Na Bíblia das Testemunhas de Jeová, o número sete é repleto de
significados. Você sabe o que significa o número sete? Perfeição, totalidade e
verdade. Por isso, para simbolizar a inteireza e candura de nossos causos, eles
foram agrupados em sete capítulos que prefiguram alguma coisa que não
sabemos ainda, mas, ao término desse último conto real, encontraremos nossas
respostas. Durante sete semanas, que não foram de anos e nem proféticas,
foram sistematicamente revelados os bastidores das franquias dos Salões do
Reino. Para descrever esse sétimo causo, precisei recorrer a uma cronologia
reversa, um estilo diferente de enxergar o tempo em uma história. Na verdade,
usei um Ctrl+c e Ctrl+v do seriado LOST. Mas fiquem tranquilos, que no final
estarão todos vivos. Em alguns momentos estaremos no presente, e em outros,
viajaremos para o passado por meio de flashbacks; depois voltaremos ao
presente, avançando nos forwards. O último episódio é mais extenso, é quase
um livro, pois, além de descrever as sequências de eventos, faz-se necessárias
críticas, crônicas e observações a respeito da estrutura feudal comunista da
Sociedade Torre de Vigia. Tenho certeza que foi surpreendente conhecermos os
futuros príncipes O Cara, Sacaninha, Valdomiro, Jim, Zeca e Bode Véio. O relato
da vida desses santos modernos nos inspira, é capaz de nos proporcionar um
aprendizado único. Estive preparando você, querido leitor, a cada causo, para
lhe apresentar a verdadeira lição por traz dos contos. O sétimo e último capítulo
conta a história do pior de todos os anciãos que conheci. Por conviver face a
face com esse ser, posso garantir que não existe desvios na narrativa de sua
história. Peço um pouco mais de vosso tempo atenção para narrar a história de
João de Santo Cristo, conhecido em toda a internet e mundo dissidente como
Ancião Brasileiro. Sim, deixei para contar minha história por último, pois
precisava do contexto apresentado nos causos anteriores. Durante os relatos
contados, foi fácil me colocar numa posição onde apontava as falhas e erros
alheios, e fiz isso durante toda essa série, criticando, escarnecendo, dando
minha opinião e julgando a conduta de homens como eu. Agora, de forma
sincera, resolvi analisar-me criticamente e reconhecer meus devaneios, erros,
falsidade e hipocrisia. Descrevo até mesmo as intenções do meu coração.
Aproveito a série para fazer uma revelação pessoal, abrindo uma ferida que
nunca foi sarada. Talvez, com essas “delações premiadas”, possa-me redimir
com Cristo e encontrar a paz mental.
36
Trajetória de serviço
Ancião Brasileiro nasceu em lar divido. Seu pai não era TJ, sua mãe e toda a
sua família serviam à empresa Torre de Vigia (Atual jw.org). O avô do Ancião
Brasileiro viveu a decepção de 1975 e mesmo assim continuou a defender as
ideologias da Torre. O jovem Ancião Brasileiro foi um fenômeno kids, muito fofo,
era amado no circuito. Príncipe em dramas bíblicos, entrevistas em assembleias
e destaque na congregação. Em sua juventude, foi colocado num pedestal como
exemplo para outros jovens e servido de troféu para a organização. Leitor de A
Sentinela com doze anos de idade, discurso nº 4 e muitos outros privilégios de
serviço. Aos dezoito anos, contrariando a lógica, torna-se servo ministerial. Mais
destaque lhe é dado. Muitos discursos públicos nas congregações da região.
Querido pelos viajantes. Porém uma desgraça o faz perder os privilégios;
mandam-no para o inferno pela segunda vez, dá-se violência e estupro de seu
corpo e Ancião Brasileiro alimenta a certeza: eu me vingarei, aguardem!
Após cumprir um exílio de 1.260 dias (A metade de sete, três tempos e meio) e
ter dado uma breve passeada na dissidência, Ancião Brasileiro passa a servir
como servo ministerial novamente. Come o pão que o Diabo amassou e não
consegue ser recomendado para ancião. Percebe-se que a nova geração de
anciãos, que eram servos em sua época e ficavam para trás, tinham receios em
designá-lo e perderem posições de serviço no circuito. Ancião Brasileiro era um
homem muito fluente e bem desenvolvido. Com uma oratória acima da média,
encantava as multidões. Se Valdomiro matou ‘milhares’, Ancião Brasileiro
golpeou ‘dezenas de milhares’. A rasgação de ceda afetava o ego dos anciãos
37
locais, que resolveram colocar podas e lascas de ferro para limitar seu
crescimento. Temiam perder suas patentes, temiam deixarem de ser secretários,
superintendentes de serviço e até mesmo temiam perder a tão sonhada cadeira
da coordenação. Isso revoltava o Ancião Brasileiro, pois não conseguia entender
o porquê dessa atitude.
Certo dia Ancião Brasileiro recebe um convite especial de outro ancião do
circuito, o Jim; este propõe a Ancião Brasileiro que poderá conceder-lhe a unção
como ancião congregacional. Fizeram um ‘pacto de poder’ e o servo Ancião
Brasileiro, após três meses, torna-se pastor congregacional. Este foi o início de
uma elevação muito maior do que o destaque local e abriu as portas para
projeção de uma “carreira internacional” no circuito. Em dois meses como ancião,
surge uma oportunidade ímpar: um irmão foi transferido de trabalho e ele seria
o orador em uma assembleia. O viajante estava desesperado, precisava de
alguém para substituir esse irmão em um discurso de 15 minutos. O SC liga par
Jim, que, depois de humildemente reconhecer sua limitação, rejeita a proposta.
Porém Jim afirmou que conhecia um homem capaz de conduzir de forma
excepcional essa designação. Jim indica o Ancião Brasileiro. Sem relutar, o
vaidoso Ancião Brasileiro aceita esse desafio e, de forma encantadora, discursa
para mais de 2.500 pessoas sem titubear ou olhar para o esboço. Os olhos do
viajante brilharam e a assistência via nascer um novo xodó do circuito. A partir
daí as designações tornaram-se constantes em assembleias e congressos. O
sucesso do Ancião Brasileiro claramente incomodava os frustrados, que
passaram a vê-lo como um inimigo a ser batido. Eu tinha dinheiro; não era rico,
mas para nossa região tinha um bom padrão. Enquanto os outros anciãos
andavam a pé no ermo ou em suas carroças seminovas, o meu carro era o
melhor da congregação. Belos paletós e camisas. O Cara, que era ancião
congregacional tirado a playboy, odiava-me, pois não conseguia acompanhar a
tendência fashion e o modo de vida farto que eu vivia, que incluía restaurantes
e viagens. Até minha esposa, com uma porta dos fundos avantajada, era motivo
de inveja. Ficava a dúvida no ar: Será que o Ancião Brasileiro colocava seu carro
para dormir naquela vasta garagem ou ficava ele ao relento? (Eles nunca vão
saber!).
As coisas na congregação Oeste, com o tempo, se tornaram insuportáveis.
Porém os anos iniciais realmente foram um sonho. Apoiando o coordenador, que
era marionete nas mãos do Ancião Brasileiro, nosso querido pastor resolveu
fazer uma transformação: promover a igualdade social dentro da congregação.
Isso foi uma baita burrice e um tiro em sua circunferência anal. As congregações
não querem equilíbrio social e espiritual. Esses ninhos são alimentados pelo
sucesso e insucesso de outros. Os fortes espirituais precisam ser enaltecidos
acima daqueles que são julgados sem espiritualidade. O Ancião Brasileiro queria
dar oportunidade de serviço e privilégios para todos. Isso significava tirar do
destaque aqueles que estavam acostumados com isso. A política do Ancião
Brasileiro era a de pão e circo para todos. Juntamente com sua família, ele foi
um promoter de várias recreações e banquetes na congregação. Usei de todos
os meus recursos para alimentar o povo e divertir o rebanho. Passeios,
piqueniques, luais e muitas festinhas (jovens, idosos e viúvas). Não era possível
38
e praticaram imoralidade sexual por sete horas, até o amanhecer. Imagina o que
ele fez, não imagina? Seu ritual de “lascar calcinhas”, será? Não, a moça estava
sem esse adereço; dessa vez não foi possível. Muitos anos se passaram e
descobri que essa moçoila era casada com um mundano e tinha um filho. Fiz a
cronologia do amor e, graças ao Senhor, aquela criança não era minha. Nessa
mesma semana retornei às minhas atividades congregacionais como se nada
tivesse acontecido. Subia à tribuna mesmo estando impuro do ponto de vista
espiritual. Sentia o peso de uma consciência maculada, mas era capaz de
suportar. Ancião Brasileiro teve um relacionamento com uma mulher casada e
quase entrou numa fria. Foi caçado pelo marido traído que, por sorte, não o
descobriu.
Durante toda minha adolescência tive problemas com pornografia. Era amante
da saga da Emanuelle que a Band exibia pelas madrugadas no Cine Privê.
Assisti todos os capítulos; quando não aguentava ficar acordado, programava o
vídeo cassete. Comprava revistas Sexy e Playboy; lia-as e depois jogava no lixo
(Que desperdício!). Permaneci amante da literatura erótica mesmo depois de me
tornar servo ministerial; mas, após o susto de algumas aventuras românticas,
começou o meu processo de amadurecimento e autodomínio.
Conheci uma irmã (de outra congregação) que se tornou minha namorada.
Resolvi manter a seriedade e a castidade no namoro, mas era muito difícil; de
natureza safada, logo induzi essa irmã a provar de minha habilidade especial.
Eu não era fiel a essa relação; cheguei a montar um triângulo amoroso que
envolvia colegas de trabalho, mas sem que elas soubessem disso. Mesmo nesta
fase de namoro, outras irmãs na congregação flertavam comigo e queriam ficar,
mesmo sem compromisso. Minha namorada não suportou guardar segredo de
nosso namoro avançado, sua consciência a atormentava e resolveu nos entregar
aos anciãos de sua congregação. Contou a eles que brincávamos pesado e até
falou sobre minha tara de lascar calcinha. Foi aí que experimentei o inferno pela
segunda vez. Tentei enganar os anciãos de minha congregação, mas
confrontaram os testemunhos das comissões e descobri que minha namorada
me delatou em tudo. Quase fomos desassociados.
A comissão judicativa foi constrangedora e deselegante. Para mim, como
homem, foi horrível e para minha namorada foi pior ainda. Humilharam-na ao
passo que saciavam seus capciosos desejos proibidos. Fiquei com muita raiva
dela, mas nesse momento descobri algo inspirador: o amor. Não suportei ver o
sofrimento de minha namorada com essa situação, que de certa forma foi
provocada por mim. Não gosto de fazer ninguém sofrer. Descobri que seus
sentimentos eram mais importantes.
Em virtude de já estarmos além da flor da juventude, pedi a ela em casamento.
Após nossa repreensão, as coisas ficaram mais quentes, ela ficou mais liberal.
Vai entender as mulheres.... Passou a usar duas calcinhas, mostrando-se
preparada e receptiva às minhas investidas.
Casamos, mas sem direito a discurso no salão. Vieram as crianças, uma por vez,
claro! O início do casamento foi turbulento, pois eu tinha ressentimento por ter
40
impedia de me preparar para a reunião. Ele disse que era impossível, que meu
bloqueio só poderia ser dado após o anúncio congregacional. Informei que havia
relatado o problema ao cacique Aruana, que fez pouco caso. O cacique negou
que havia bloqueado e disse que eu não lhe havia informado sobre o problema.
Mentiroso! Então mostrei-lhes um e-mail enviado por mim informando-os sobre
o bloqueio. Ainda estava salvo na pasta de “enviados”. Esse argumento me deu
uma tranquilidade inicial. O viajante deu uma mijada em todos e disse que isso
foi uma falta de critério. Esses canalhas fizeram isso de propósito, para que eu
não pudesse preparar defesa e ser totalmente arrasado na reavaliação.
Realmente eu não estava preparado como eles, só tinha o KS em mãos, e aquela
porcaria de livro não serve pra nada. O Bode bufava de raiva dentro da sala. Eu
via ódio em seu olhar.
Iniciou-se uma série de ataques pessoais: mentiras, trapaças, testemunhas
falsas; citaram minha esposa que havia discutido com algumas irmãs por minha
causa. Disseram que fui visto num carro com mulheres do sexo oposto. Eu era
um homem generoso, gostava de dar carona às pessoas. Eles apresentaram
relato de uma testemunha que afirmou ter-me visto no carro com uma mulher e
que minha mão estava na coxa da acompanhante. Mentira, inverdade, isso
nunca aconteceu! Com tanto lugar pra pegar, eu ficar com a mão na coxa!?
Quem era essa mulher? Que lugar, data e horário foi isso? Não souberam
responder.
Quero resumir minha agonia. Foi uma guerra injusta. Eu insistia no direito de
resposta. Solicitava, por favor, que lessem os autos do processo, que me
deixassem mostrar as provas técnicas de minha defesa no livro dos anciãos.
Negavam-se a abri-lo. Pedi um intervalo; relutaram em atender, mas o
meritíssimo consentiu. Minha glande estava sangrando; aquela briga com seis
espadas era desproporcional. Enquanto eles se revezavam em suas ereções, eu
tinha que suportar firme glande a glande. Após o intervalo, consegui a palavra e
falei de metodologia e padronização. Expliquei ao superintendente minha
filosofia de trabalho, como eu gostava de seguir os procedimentos. Citei que Sua
Excelência, o viajante, havia cometido uma falta de critério. (Que o leitor use de
discernimento). Nesse momento, o Bode se levanta desferindo um tapa
figurado em minha cara. “Blasfêmia! Está ultrajando o santo de Israel! Para a
estaca com ele! Não preciso ouvir mais nada. Você, Ancião Brasileiro, se acha
maior que o nosso maioral”─ berrou o Bode. Continuei meu raciocínio e pedi
educadamente ao juiz que me retornasse a palavra; depois de concedida,
expliquei o sentido da palavra prerrogativa, e que o viajante havia ferido a
prerrogativa do nosso corpo quando apareceu e formou reunião para deliberar
suas instruções. O homem que super entende ficou sem graça e disse que eu
estava certo, mas que existia exceções. Cacique Aruana faz deboche de mim;
diz que eu era incapaz de compreender essas coisas. Finalmente pediram que
me retirasse, pois iriam deliberar a meu respeito.
Saí; fui para meu carro no estacionamento. Passei trinta e sete minutos ali
esperando a sentença. Fiquei pensando em minha trajetória de vida, desde
quando era criança até aquele dia; questionei-me se vivera por todo esse tempo
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uma via cruzes que estava virando circo. Batia a cabeça no volante. Tinha fome
e sede. Sentia um aperto no coração. Durante anos fui caçado pela corja liderada
pelo cacique Aruana. Fui abandonado pelos amigos. Aqueles que se sentavam
à minha mesa, ao perceberem que minha influência tinha acabado, afastaram-
se de mim. A congregação não possui fidelidade aos seus líderes. Querem ver
os milagres da multiplicação nos banquetes e nos usar para suas necessidades;
acreditava que O Cara era meu melhor amigo, porém descobri que ele era um
traidor invejoso. Tudo o que ele fez foi por inveja. Tinha ciúme de mim com sua
esposa novinha, mas sempre o respeitei; e cá para nós: ela me dava mole! Bem
que poderia ter tirado uma selfie com a calcinha lascada da mulher dele, não
acham? Ele era o mentor do Bode. Usou minha família para realizar sua trama,
queria ter tudo o que eu tinha e ser melhor do que eu.
Foram anos horríveis. Adoeci, tive transtornos emocionais. Passei por uma crise
de estresse, que resultou em parte de minha face ficar paralisada por sete dias.
Tive crise de ansiedade e TOC (Transtorno Obsessivo Compulsivo). Fui buscar
ajuda na medicina. Consulta psiquiatra e psicoterapia. Respiridona, Rivotril,
Stillnox e Zolpidem. Fiz uso de remédios controlados para cuidar dos nervos e
recuperar a paz. Comecei a falhar na cama e sofrer de ejaculação precoce. (Ai
que dor, que dor!) Estava sendo afetado em todos os sentidos. Faltava ao
trabalho para honrar os compromissos congregacionais. Não me concentrava
nas atividades. Meus resultados estavam ruins, produzia muita rejeição e
retrocesso. Acabei perdendo o emprego também naquela época. Estava
experimentando um revés financeiro. Desempregado, comecei a me desfazer de
imóveis e bens e até hoje vivemos disso, além de minha querida esposa ser
sacoleira. Vendemos de tudo.
De volta ao sobrado. Ali, diante daqueles homens, eu não era mais o mesmo. Já
havia aberto os olhos. Tinha filhos e algo havia mudado dentro de mim. Eu havia
presenciado toda a podridão dos bastidores da congregação. Valdomiro,
Sacaninha, O Cara, Jim, Zeca e o Bode – era só o que me vinha à memória.
Mesmo assim mantive-me endurecido no propósito de também ter ‘o poder’ e
alimentar minhas vaidades. Somente algo foi capaz de quebrar meu coração: a
Comissão Real Australiana. Foi duro ver aquele cara usando de evasivas e
querendo transferir a culpa dos dogmas doutrinais para os anciãos
congregacionais; e o resultado foi como se um véu tivesse sido removido de
meus olhos, pois não conseguia acreditar nas mentiras contadas por alguém que
se proclama o guardião da fé de mais de oito milhões de pessoas. E na questão
da pedofilia, é imperdoável a atitude e postura mentirosa. Quanto a isso, preciso
fazer uma revelação para vocês, leitores, pois só assim entenderão a praga em
meu coração. Para mim, esse é o ponto alto de todos os nossos causos.
A revelação
Gostaria de convidá-los para mais um flashback. Nessa viagem no tempo
retornaremos uns 33 anos atrás, quando o Ancião Brasileiro era uma criança
com seus sete anos. Algo muito ruim aconteceu na vida desse menino que o
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marcaria para sempre. Nunca contei a meus pais, esposa, anciãos, psicólogos
– a ninguém em absoluto! Guardei no coração, como algo que não existiu.
Às vezes minha mãe não podia ficar comigo e me deixava aos cuidados de um
tio, que era irmão dela. Por duas ocasiões fui molestado sexualmente por esse
parente. ‘Para o inferno eu fui pela primeira vez; violência, estupro do meu corpo’.
Ele tentou violentar-me por uma terceira vez, mas resisti. Não me lembro de
todos os detalhes, mas sei que essas sessões duravam algo em torno de sete
minutos de abuso íntima. É algo totalmente desproporcional uma criança ser
vitimada por um adulto. Não sabia o que fazer. Ninguém havia me preparado
para isso. Meu abusador e tio era uma Testemunha de Jeová. No Salão nunca
nos ensinaram sobre abuso. O que fazer? Contar para os pais? Contar para os
anciãos? Eu não tinha ideia. Sentia-me culpado, como que se tivesse feito algo
errado para com Deus. Tive a coragem de não mais ceder aos abusos e fiz
ameaças a meu tio. Ele ficou preocupado e começou o suborno. Levava-me
para o futebol da congregação pra me fazer de gandula atrás do gol. Ganhei uma
camisa do Palmeiras que passei a usar escondido. Recebi muitos presentes, até
que o episódio caiu no esquecimento.
Jamais verti uma lágrima. Consegui colocar dentro do peito, em uma região
inalcançável e revestida por uma enorme pedra; mas, quando assisti o vídeo da
Comissão Real Australiana, meu mundo desabou. Ver o Geoffrey Jackson, de
forma dissimulada, defendendo a política de abuso da Torre foi o cúmulo. Ele
não era um sonhador ou enganado, mas sim um enganador, que usava de meias
verdades para proteger o reinado da Dinamarca. Era inadmissível adotar
práticas que beneficiam abusadores para proteger a reputação de uma igreja.
Os sentimentos dos menores e a dor de um abuso são secundários quando o
nome de Jeová (jw.org) está envolvido; isso fica bem claro nos guidelines
(procedimentos) da orga. O Corpo Governante jamais tomou a dianteira em
instruir as congregações sobre como proteger as crianças. Todos os seus
procedimentos envolvem manter o sigilo dos casos, para evitar processos ou
divulgação na mídia. Eu lia isso nas cartas e no KS (livro dos anciãos), mas não
aceitava. Procurava explicação. Mesmo com a pressão sobre a organização, o
que é feito hoje nas congregações é o mínimo. O fluxo de confidência, o
tratamento dado aos envolvidos continuam protegendo a organização e
prejudicando as vítimas.
Assistimos recentemente, em sua propaganda ilusória, ao vídeo de Sofia e
Pedrinho, que tem o título Torne-se amigo de jeová; proteja seus filhos. Nele,
fomos instruídos a treinar as crianças contra abusadores; que elas deveriam
contar tudo para papai e mamãe. Mas o que viria depois? O que fariam os pais?
Contarão para os anciãos? O que farão os anciãos? Contarão para polícia? A
resposta, o vídeo não apresenta, mas sabemos que é não. Anciãos cientes de
abuso devem ligar imediatamente para o escritório, que aconselhará contatar as
autoridades se, e somente se, não houver processos naquela região ou se lei
nacional exigir que denúncia seja feita.
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─ Você não vai comemorar? Ironizou o Bode. Não tinha motivos, não depois de
ter minha vida revirada ao avesso.
O viajante fez algumas considerações, pediu que eu lesse em voz alta Hebreus
13:17. Falava de submissão e respeito à liderança, incluindo a dele, e que essa
orientação valeria para todos nós. Também anunciou que, apesar de não ser
removido da posição de ancião, eu ficaria sobre restrições. Apresentou-nos algo
novo, disse que é possível repreender um ancião, assim como repreendemos
um publicador, sem que ele seja exonerado do cargo; e para comprovar isso,
citou a ocasião em que o apóstolo Paulo repreendeu publicamente o também
apóstolo Pedro. As minhas restrições incluiriam ficar fora da tribuna, das pastas
de serviços da congregação, do pastoreio e das orações na tribuna – tudo isso
por tempo indeterminado. Acrescentou que o corpo de anciãos cuidaria de fazer
cumprir as restrições e decidiriam o momento de removê-las e então finalizou
com oração. Após isso, ele me sugeriu ‘beber um pouco de vinho’ por causa do
estômago e evitar situações desconfortáveis. Respondi que estava tratando com
um chá caseiro de minha avó. Uma ou duas vezes por dia fazia uso do chá de
privada. Alguns minutos sentado no trono tinham resultados animadores. Todos
riram em cumplicidade como se tivessem recebidos cócegas em suas regiões
anais. Um momento de descontração geral.
Retirei-me imediatamente. Não entreguei as cartas de dissociação. Estava
confuso. O relógio marcava 23:50min. Três horas e meia de audiência de
instrução.
Eu em geral fazia em quinze minutos o trajeto do Salão para casa, mas nessa
noite cheguei em casa a zero hora e sete minutos. Demorei a chegar, pois fui
devagarzinho; passei em frente à zona da cidade, e tive uma miragem: vi um
homem de capa que parecia nosso amigo Sacaninha. Foi apenas um delírio; era
um travesti fantasiado.
Em casa tinha alguém me esperando aflita, ansiosa com a decisão. Coloquei o
carro na garagem e, ao entrar, dou de cara com minha esposa. Cabelos lá em
cima e olhos avermelhados como se estivesse entorpecida.
─ Tava fumando um baseado, mulher? Indaguei ironicamente.
Queria saber logo a resposta. Não fiz mistério. Disse que não entreguei a carta
e continuava como ancião. Ela pulou de felicidade e deu glória ao pai nas alturas.
Informei que isso não mudava nossa decisão. Entregaríamos na próxima reunião
nossa demissão voluntária. Lançando-se ao chão, ela desesperadamente rangia
os dentes e me implorava para não o fazer. Disse que não queria deixar a Jeová
e nem a família TJ; disse-me que havia orado a Jeová a noite toda para tudo
acabar bem; acrescentou ainda que fez uma promessa para cumprir em caso de
meu livramento (Ô desgraça de promessa maldita! Num guento mais, Xicó! Uma
hora fico rico, outra hora fico pobre). Afirmou seu amor pela Torre, jamais
abandonaria a organização e que ainda seria pioneira. Censurou-me dizendo
que escrever a carta foi uma loucura, era isso que Satanás queria.
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Que traição! Oh, facada no peito! A Torre venceu mais uma. Nem meus amores
pertenciam a mim. Mas a tranquilizei; disse-lhe que por ela não pularia fora do
barco ainda. Ela estava muito agitada, dei um dos meus remedinhos e, após
sete minutos, ela já estava roncando e sonhando com o Corpo Governante a
proferir suas novas luzes.
Não tomei medicação para dormir. Fui para o sofá e lá fiquei sentado olhando
para o vazio. Meditei por sete horas em tudo o que havia acontecido na minha
vida. Tornei-me Testemunha ainda jovem, sem noção, por impulso; fui assediado
e corrompido. Lembrei-me que era igual a todos os anciãos que já havia
conhecido. Valdomiro, Sacaninha, Zeca, O cara, o Bode e Jim. Tinha dentro de
mim um pouco de cada um deles. Éramos movidos pelos mesmos interesses:
poder e luxúria. Pensei nas minhas filhas e quando as vi pela primeira vez, bem
como também nos afagos que lhes fiz todas as noites. Eu as carregava no colo
e olhava em seus olhos. Prometia-lhes que as protegeria e que daria a vida e
meu sangue por elas. Mas eu não estava cumprindo essa promessa; pelo
contrário, de tão obcecado pelo poder e por uma posição, perdi sete anos da
minha vida colocando-as em segundo ou terceiro plano. Era o pior de todos os
anciãos [pausa para choro].
Eu não podia permitir que meus filhos passassem pelo fogo. Vendê-las ao Corpo
Governante. Destruir seus sonhos e sua chance de ter um futuro. Não podia
acovardar-me ante os predadores de criança. Para salvá-las, daria meu sangue,
não apenas uma fração.
Orei por todas as sete horas que se sucederam, até que o dia amanheceu. Ao
observar a hora sete da manhã, resolvi fazer a coisa mais inusitada para aquele
momento. Não sei explicar o que me deu, arrumei-me e fui ao campo. Ao chegar
ao Salão, o viajante fazia a consideração e sorriu pra mim. Nenhum dos outros
anciãos estavam no ministério. Claro, estavam esgotados. O homem que super
entende pediu pra sair comigo. Mesmo cansado, mantive-me de pé. Nesse dia
não pregamos, ficamos passeando e conversando pelo território. Mas logo de
início ele foi direto e perguntou-me:
“Quem te disse aquela instrução que o viajante não pode se reunir com corpo
e deliberar fora da visita regular, a menos que tenha autorização do escritório? ”
Essa informação faz parte do curso de viajante e está no manual dos SC. Eu não
sabia onde tinha aprendido e, para agradá-lo, disse que foi um Superintende de
Distrito. Ele disse que aquele negócio de prerrogativa é algo muito profundo e
grave. Assim eu descobri o real motivo por não ter sido desqualificado. Que o
leitor use de discernimento!
O viajante estava com o dele piscando e na reta, pois se eu apelasse e
acidentalmente citasse o passo em falso daquele viajante, ele teria que dar
explicações; era evidente que ele não queria pôr em risco sua posição. Fiquei
sabendo que ele teve problemas no antigo circuito e os anciãos de lá escreveram
para o escritório. Ele estava queimado e na corda bamba.
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Lição
A trajetória ministerial do Ancião Brasileiro é riquíssima em aprendizado
espiritual, como, por exemplo, ter as respostas às seguintes perguntas:
Como é possível um homem pecador ascender ao circuito e ocupar uma posição
rotulada como santa e supostamente escolhido por espírito? Se o espírito santo
está envolvido nessa escolha, como diz o Corpo Governante, por que não agiu
impedindo a unção desse e de outros pecadores? É possível passar a perna
nessa força maior ou induzi-la a uma decisão errada e condicioná-la a agir de
acordo com nossos interesses impróprios e egoístas? Como homens como
esses usam a Bíblia para ensinar pecadores se eles mesmos, que tomam a
dianteira, não cumprem as leis bíblicas? Por que Deus permite que pessoas
assim assumam o posto de seus representantes e liderados por Cristo? As
respostas as essas perguntas nos levam à conclusão que nada da estrutura
administrativa e corporativa montada pelas Testemunhas de Jeová tem a direção
divina. O fato de intitularem-se o povo de Deus é fruto de imaginação, presunção,
arrogância e falsas aplicações da Bíblia. O Ancião Brasileiro, em sua corrupção,
chegou a uma posição enaltecida dentro da pirâmide. Mas também
experimentou a vulnerabilidade do sistema gerido por corruptos com
mecanismos apócrifos. Seu relato mostra que é possível seguir avante tendo
uma vida dupla, apesar dos apelos emocionais da seita afirmando o contrário. O
espírito santo não fará nada para impedir isso e nem outras dezenas de causos,
pois simplesmente ele não está nesse meio. Não podemos colocar na conta da
imperfeição a desaprovação espiritual da congregação das Testemunhas de
Jeová. Em nenhum momento nos causos apresentados falamos dos aspectos
doutrinais da organização. Tratamos apenas da parte comportamental de seus
membros que se dizem estrelas na mão do próprio Cristo. Nosso Senhor disse
que conheceríamos os verdadeiros cristãos por suas ações.
De acordo com procedimentos do Corpo Governante, a maioria dos pecados do
Ancião Brasileiro expirou.
O KS, Cap3: §19, página 37, diz: [19. Se um irmão designado confessar que no
passado cometeu um pecado passível de desassociação ou se isso for
descoberto: O corpo de anciãos talvez decida que ele pode continuar servindo
como ancião ou servo ministerial se o seguinte for verdade: a imoralidade ou
outra transgressão grave não ocorreu recentemente, há poucos anos, e ele está
genuinamente arrependido, reconhecendo que deveria ter confessado o pecado
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imediatamente. (Pode até ser que, agora, com a consciência pesada, ele tenha
confessado seu pecado e procurado ajuda.) Ele serve fielmente há muitos anos,
tem evidencia das bênçãos de Deus e é respeitado pela congregação. ]
Segundo a lógica da organização, como explicado em uma revista A Sentinela,
os pecados possuem validade de culpabilidade. Bem parecido com nosso
sistema judiciário. Quer dizer que mais ou menos após cinco anos eles expiram.
No caso do Ancião Brasileiro, isso explica sua designação como ministro
eclesiástico ordenado, bem como suas bênçãos em privilégios espirituais na
congregação e nos santos congressos. Regras do espírito santo da Torre!
Todos somos imperfeitos e nada sabemos. Ser ancião congregacional não eleva
a ninguém a um patamar de conhecimento ou santidade em relação aos outros,
e nesses quesitos só temos um. Não temos a obrigação de confidenciar a esses
homens o que há em nossos corações. Amigos, familiares e o próprio Jesus
Cristo já são nossos confidentes. Não nos submetamos ao julgamento desses
homens, pois entre tais nenhum está apto para julgar, visto que não são capazes
de ler corações. Os protocolos para juízo congregacional não se baseiam nos
princípios de justiça e igualdade que permeiam o espírito santo. Jeová não te
acusa ou perdoa por meio de sete homens podres e imundos, que se posicionam
como cabeças em vossas congregações. Não permitam que destruam vossos
amores, paixão e sonhos em razão de uma ideologia extremista americana. Não
lancem vossos filhos ao fogo, destruindo sua luz por causa de uma interpretação
equivocada da Bíblia.
Algumas Testemunhas de Jeová, em seus momentos de revolta, encontram a
dissidência e saciam a necessidade de justiça que têm. Outras, por curiosidade
e desejo de novidades, recorrem ao Google que os leva aos canais dissidentes.
Mas parece que, após a decepção, vem a reconciliação com a Torre; então a
dissidência torna-se descartável e desprezível. É bem provável que tenham
aquele sentimento de estar fazendo algo errado, aquela dor de consciência. Mas,
depois de ler este livreto, esforce-se para tirar isso de sua cabeça. Você foi
condicionado a sentir isso, não foi o espírito santo que produziu essa sensação.
Eu achava que Jeová me aceitava como eu era e por isso me designou, talvez
com o propósito de que eu pudesse mudar a organização ao adotar práticas de
justiça e amor. Mas é impossível lutar contra o sistema. Apenas o Criador
vencerá essa luta.
Na busca por minha liberdade espiritual e paz mental, venho empenhando-me
pelo verdadeiro cristianismo. Não poderia ‘ir deitar com meus antepassados’
guardando comigo o conhecimento desses absurdos vivenciados na minha
jornada como Testemunha de Jeová; por isso resolvi assentar por escrito minhas
experiências reais para que saibam e tenham plena certeza das coisas que
aconteceram, e que isso possa induzi-los a reflexões profundas.
Por agora, minha crise de consciência reside, não apenas no fato de continuar-
me identificando como TJ, mas também na minha posição passiva diante tudo
que passei nas curvas dessa vida. Por isso faço um apelo: tomemos posição
do lado da verdade. Não quero com isso promover uma rebelião contra os
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anciãos. O fato de uma pessoa ser ruim ou boa independe de ser algo, ter uma
designação ou posição. Mas quero que sejam livres para servir a Deus com
espírito e verdade. Precisamos de alguma forma nos posicionar para evitarmos
dores irreparáveis. Há décadas que pessoas denominadas dissidentes
empenham-se para divulgar coisas que as publicações mutáveis das
Testemunhas não ensinam. São muitos ao redor do mundo, os quais são
rotulados de apóstatas simplesmente por não concordarem com doutrinas
humanas; como tais, não nos entreguemos ao silêncio. Peço que se registrem
nos fóruns e acessem outras plataformas. Façam suas apresentações e
colaborem para a cura espiritual de muitos.
Criado nos terrenos da Torre, tornei-me o que ela queria que eu fosse: “Geração
Coca-Cola”, com empatia a tudo que vinha do tio Sam; por isso essa religião nos
custa a alma. Quando nascemos na Torre, somos programados a receber o que
ela nos empurra como enlatados americanos de nove as seis. Desde pequeno
comemos o lixo industrial das publicações. Esse parece ser o destino de quem
herdou essa herança maldita, isto é, o destino de quem nasceu “na verdade”. E
o Ancião Brasileiro não conseguiu o que queria quando aceitou ser ancião e foi
ter com o Diabo. Ele queria mesmo era falar pro Corpo Governante ajudar toda
essa gente desassociada e infiltrada que só fazem sofrer.
Quero dizer que esse não é meu último trabalho para ajudar pessoas a terem a
paz mental. Finalmente faço minha parte. Estou esgotado emocionalmente. Qual
será o final de minha jornada na Torre? O que fará o Ancião Brasileiro? Esse
fim ficará em aberto e só depende de mim construir uma nova história.
Mas confesso que não sei para onde ir, pois só vejo breu; mas sei que a jornada
começa no meu próprio coração, donde começo a trilhar um caminho em busca
da redenção e da verdadeira luz.
FIM