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Puritanismo

por

Rev. Augustus Nicodemus Lopes

Este estudo se baseia, em grande parte, em palestras de Dr. Douglas Kelley sobre o
mesmo tema

I - A HISTÓRIA DO MOVIMENTO PURITANO E SUAS ÊNFASES


PRINCIPAIS 

À medida que percebemos que o mundo ocidental está se esfacelando


diante dos nossos olhos, constatamos que vivemos uma crise moral
terrível. Acreditamos que a solução seria um avivamento produzido
pelo Espírito Santo. Em última análise, dependemos unicamente de
Deus vir ao nosso encontro. Sabemos que isso aconteceu no século
XVII, na época dos Puritanos. Portanto, embora estejamos aqui
tratando de coisas que aconteceram entre três e quatro séculos atrás,
cremos que a situação em que os Puritanos se encontravam se
assemelha em muito à dos nossos dias. Acreditamos que o Senhor
Jesus é o mesmo ontem, hoje e o será eternamente; que a graça de
Deus é suficiente para cada geração; e que obviamente Deus não
perdeu nada do Seu poder, ou do Seu amor e da Sua misericórdia.
Temos toda a razão do mundo para invocá-Lo e pedir que faça o
mesmo que já fez no passado.

Enquanto estudamos os Puritanos e pensamos no que aconteceu na


Inglaterra e na Escócia, temos a plena confiança de que isso vai nos
encorajar e nos conscientizar de que Deus pode trabalhar da mesma
forma maravilhosa ainda nos dias de hoje; no Brasil, na Escócia ou na
Inglaterra, em qualquer lugar onde o nome de Jesus for invocado.

O que nos dá a chave para compreender o Movimento Puritano é a


concepção de Avivamento. Portanto, citamos um profundo conhecedor
de História da Igreja que ensinou na Universidade de Princeton,
Professor Latoretti. No final da segunda guerra mundial, ele escreveu
um pequeno livro, mas de grande valor, sobre a História da Igreja,
cujo nome é “A Luz Inextinguível”. Em menos de cem páginas ele
conseguiu resumir de forma clara o movimento e a obra de Deus na
história. Ve jam o que ele disse:

A influência de Jesus tem crescido com o passar dos anos e nunca foi
tão poderosa como nos últimos 125 anos. A influência de Cristo pode
se comparar ao avanço das marés. A maré se projeta e cresce através
da vinda sucessiva de ondas. À medida que uma nova onda chega, ela
eleva o nível da água um pouco mais acima. Semelhantemente, à
medida que aquela onda recua, há uma recessão. A próxima onda
coloca o nível da água em um nível acima da onda anterior. Portanto,
desta forma, cada um dos períodos de recuo, quando as ondas
retornam, é menos notado do que na vez anterior.

Em outras palavras, o que o Prof. Latoretti está dizendo é o seguinte:


O Cristianismo se move e progride em termos de avivamento, como
estas ondas, seguidas de períodos de recessão, de retraimento.
Avivamento, recessão, avivamento. Mas cada novo avivamento nos
leva além da posição anterior, nos dá mais luz do que o anterior; ao
mesmo tempo em que esses períodos de recessão e esfriamento que se
seguem, nunca são tão profundos como nos períodos de retração
anteriores.

Tem havido vários avivamentos e períodos de retração na história da


Igreja, mas o nosso assunto começa aqui com a grande Reforma
Protestante no século XVI. Poderíamos dizer muita coisa a respeito da
Reforma da perspectiva política, social e militar. Todas elas são
importantes, mas ninguém poderá compreender o que foi realmente a
Reforma até que se conscientize de que ela nada mais foi do que um
“derramar do Espírito Santo” sobre o povo da Europa. A Igreja
Católica medieval, no último período da Idade Média, estava
profundamente corrompida. O Evangelho havia sido obscurecido pela
filosofia tomista e também por uma série de acréscimos humanos na
vida da Igreja.&n bsp; Havia muita depressão e confusão, além de
imoralidade em toda a Europa. O povo havia se tornado céptico,
incrédulo; e esta é uma das razões em que a Renascença encontrou
apoio.

Foi um período muito difícil, exatamente como o nosso hoje. Nessa


época, um simples monge desconhecido redescobriu a verdade de que
somos justificados pela graça e que não somos salvos por nossas
obras mescladas com os sacramentos da Igreja, mas que o sangue de
Jesus, o Filho de Deus, nos purifica de todo pecado; e que o crente no
Senhor Jesus pode chegar a conhecê-Lo sem a mediação da Igreja.
Lutero redescobriu que o cristianismo é na realidade uma experiência
direta da alma com o Senhor Jesus agora, e que na ressurreição
futura, o corpo terá esta experiência. Nós temos a impressão de que
com a Reforma a alma da Europa foi libertada. Houve uma explosão
de louvor, de hinos sendo escritos e grande alegria, como uma
experiência direta da alma com o Senhor Jesus. Houve também uma
purificação da vida moral e a família foi fortalecida; houve avanços na
medicina e em outras áreas do conhecimento científico.

O mundo nunca mais foi o mesmo após este grande avivamento que
bem conhecemos como a Reforma. Mas, na realidade, não foi um
movimento perfeito; e especialmente na Inglaterra havia uma
preocupação por parte dos crentes de que a Reforma não houvesse se
estendido o suficiente. Os Reis da Inglaterra tinham controle sobre a
Igreja e podiam tolerar que houvesse uma reforma dentro dela, mas
não queriam permitir a reforma de coisas vindas do Catolicismo, e que
já estavam estabelecidas. O receio deles era que se a Igreja se
reformasse totalmente, na Inglaterra e na Escócia, eles perderiam o
poder.

É neste cenário que os Puritanos aparecem. Depois da Reforma, na


Inglaterra e na Escócia seguiu-se um período de recessão e
esfriamento. Para usar uma figura do Prof. Latoretti, durante a
Reforma veio aquela grande onda espiritual que depois foi seguida por
uma baixa no fervor do povo. Havia um grande grupo na Inglaterra e
na Escócia que tinha um desejo profundo de ver uma reforma
completa na vida da Igreja. Essa vontade era controlada por aquilo
que conhecemos como o princípio regulador do movimento
Puritano. A idé ia é esta: Tudo no culto deve ser regulado e controlado
pela Palavra de Deus escrita. Para esse grupo, aqueles acréscimos
humanos ao culto, que não podiam ser demonstrados nem apoiados
pela Escritura, deviam ser tirados. Esse grupo não queria que se
permitisse o acréscimo cada vez maior de tradições humanas no culto,
pois isso quebraria o segundo mandamento, obscureceria a clareza do
Evangelho e impediria que o poder de Deus viesse sobre a Igreja. Por
causa desse desejo, esses crentes fervorosos na Igreja, na Inglaterra e
na Escócia, vieram a ser chamados e conhecidos como Os Puritanos .
A palavra vem do inglês e significa purificar .
1º - Em primeiro lugar, eles queriam purificar a Igreja de Deus,
especialmente o culto, através da Palavra de Deus escrita. Mas não
pararam aí, estavam interessados em purificar também, em segundo
lugar, o governo da Igreja e depois a vida da família, o comércio, e os
negócios. Daí passavam para o governo civil; queriam purificar a
forma do governo dirigir a nação. Eles queriam reformar as escolas e
as universidades à luz da Palavra de Deus. Por isso começaram a orar
e a pregar para que toda a terra, em todos os as pectos do país, fosse
reformada pela Palavra. Geralmente é aceito pelos historiadores que o
Movimento Puritano começou no fim de 1550 e se estendeu até o
século seguinte, no ano de 1600. Mas há quem diga (Prof. Sidney da
Universidade de Yale) que o período puritano se estendeu nos
E.E.U.U. além dessa data, até à eleição de John Kennedy, em 1960.

A bênção maior de Deus em tudo isso foi a seguinte: À medida que os


Puritanos tinham esse desejo profundo de Reformar, em todos os
aspectos, a Inglaterra e a Escócia, havia uma quantidade enorme de
jejuns e orações para que o Espírito de Deus viesse sobre aquela terra.
Os Puritanos, juntamente com Calvino, mantinham juntos estes dois
conceitos: A palavra de Deus e o Espírito Santo. Então, à medida
que eles pregavam a Palavra de Deus, também oravam para que o
Espírito viesse satisfazer a fome dos que a ouviam. Eles sabiam que a
Palavra sem o Espírito seria morta, sem vida; e que o Espírito sem a
Palavra poderia tornar-se em confusão e desordem; mas sabiam
também que a Palavra de Deus juntamente com o Espírito traz a
vitória, a vida e a reforma. Assim, ao mesmo tempo que oravam por
despertamento, também estavam fazendo o que podiam através da
pregação, da literatura e da mudança do governo. À medida que eles
estavam engajados nessas atividades, percebia-se que estava
chegando sobre toda a terra uma fome da Palavra de Deus.

O governo Inglês começou a perseguir os Puritanos porque temia que


eles acabariam por dar à Igreja um poder político muito grande.
Mesmo que os Puritanos estivessem sendo perseguidos, a sua
influência entretanto estava se espalhando pelo país. Não há dúvida
alguma de que era o Espírito Santo que estava predispondo os
corações e dando a todos a fome de ouvir a pregação Puritana.
Milhares e milhares de pessoas, tanto da Escócia como da Inglaterra,
se congregavam para ouvir a pregação dos Puritanos. Depois de trinta
anos de pregação, desde o início do movimento, a mensagem dos
Puritanos começou a produzir mudanças. Os primeiros pregadores
Puritanos, durante os primeiros trinta anos do movimento, não viram
resultado da sua pregação. Eles pregavam o máximo que podiam,
oravam muito, trabalhavam e escreviam livros maravilhosos e
conseguiram até mesmo colocar excelentes professores nas
universidades de Cambridge e Oxford. Mas durante vinte ou trinta
anos receberam muito pouco apoio ou resposta. De repente, no final
do século XVI e início do século XVII, ocorreu uma tremenda resposta
do povo à pregação e propostas dos Puritanos.

Tudo isso nos ensina que não devemos perder a paciência e ficar
desencorajados se não temos resultados à primeira vista. Deus pode
estar nos usando para preparar uma tremenda bênção que a geração
seguinte irá desfrutar. E mesmo que não vivamos o suficiente para ver
essa bênção, nos alegraremos juntos no grande dia da colheita, no
último dia. O que importa é que o Senhor Jesus vai receber a glória e
será coroado com mil coroas naquele grande dia. O calend ário de
Deus não funciona segundo os nossos desejos.

Não queremos entrar em detalhes no conflito político entre os


Puritanos e o governo. Apenas mencionaremos que o Rei Carlos I
odiava os Puritanos. Ele era secretamente um católico romano, mesmo
sendo considerado o cabeça da Igreja da Inglaterra. Ele elegeu então o
Arcebispo de Cantuária, Arcebispo Laud, que era uma pessoa
tremendamente preconceituosa contra os Puritanos. Com a
autoridade dada pelo estado e pelo Rei, Laud começou a perseguir os
Puritanos onde quer que pudesse. Foi por esta época que os pais
peregrinos cruzaram o oceano e vieram da Europa para a América do
Norte. Dessa forma os primeiros pe regrinos colonizadores da América
do Norte foram aqueles Puritanos perseguidos na Inglaterra.

Durante muitos anos o Rei Carlos I governou de forma irregular, sem


nenhuma reunião do Parlamento. Subitamente, ele se viu diante da
possibilidade de uma guerra com a Escócia. Isso fez com que
convocasse o Parlamento para conseguir os recursos necessários para
sair à guerra. Ele convocou o que se chamou de Breve Parlamento.
Com surpresa e horror constatou que aquele Parlamento, na grande
maioria, era composto de homens favoráveis aos Puritanos.
Imediatamente dissolveu o Parlamento, antes que tomassem qualquer
decisão e começassem a reformar o país. Mas o problema continuava:
não havia dinhei ro no tesouro real. Enquanto isso, em Edimburgo, o
Rei começara uma “guerra litúrgica” contra a Escócia, que já tinha
purificado o culto de todos os acréscimos humanos. Os escoceses
estavam furiosos com a possibilidade de que qualquer tipo de
catolicismo fosse introduzido outra vez no culto, pois a Igreja da
Escócia era muito mais reformada do que a Igreja da Inglaterra.
Então, o Rei resolveu mandar as suas tropas e obrigar a Igreja da
Escócia a seguir o Livro Comum de Oração que era usado na Igreja da
Inglaterra. Naquele tempo, o Rei era monarca da Inglaterra e da
Escócia. Os escoceses tinham chegado à conclusão de que o livro de
orações tinha muita coisa remanescente do catolicismo em termos
humanos, por isso o haviam abandonado. O Rei então enviou uma
alta autoridade eclesiástica para a Catedral principal da Escócia e
durante o culto ele começou a ler o livro de orações. Mas o povo da
Escócia estava muito bem preparado para ag ir. Naqueles dias não
havia bancos confortáveis nas catedrais como temos hoje. Todos
traziam banquinhos que eram usados na ordenha das vacas. Uma
fonte diz que, no decorrer do culto, uma moça simplesmente pegou o
banquinho de três pernas e o jogou na cara do bispo. De repente a
catedral se encheu de banquinhos de três pernas voando de um lado
para outro, e aqueles que eram da Igreja da Inglaterra começaram a
correr para salvar a pele.

A Escócia se organizou em um grande exército para atacar a


Inglaterra. Finalmente, o Rei Carlos I conscientizou-se de que devia
convocar o Parlamento, mesmo que fosse Puritano. Este se tornou o
que se chama o Grande Parlamento, que se reuniu por 12 anos sem
qualquer interrupção, (1640-1652), até que foi finalmente dissolvido
por Cromwell. Embora houvesse muitos partidos dentro deste
Parlamento, a grande maioria era a favor dos Puritanos. Eles eram
também contra o catolicismo e contra o poder absoluto do monarca;
não eram contra a monarquia em si, mas contra a monarquia tirânica.
Este Parlamento estava de cidido a reformar a vida da Igreja através
de leis e reformar a própria lei. Foi este Parlamento que convocou a
Grande Assembléia de Westminster, que começou a reunir-se há 350
anos, em 16 de setembro de 1643. (Em1993, comemorou-se a data na
Inglaterra com um grande encontro na Capela de Westminster). A
Assembléia de Westminster foi uma grande assembléia, composta de
pastores e teólogos de todas as partes das Ilhas Britânicas, e que
escreveram nossos símbolos, debaixo da autoridade da Igreja, ou seja:
a Confissão de Fé de Westminster, o Catecismo Maior e o Breve
Catecismo , além de um livro de regulamento para o culto e uma
edição de livros de salmos metrificados para serem cantados no culto.
A lei determinava que esta seria a Confissão de Fé em toda a Ingla
terra. Os presbiterianos sabem que a Confissão de Fé de Westminster
é uma expressão da crença dos Puritanos; e que foi inspirada pela
teologia de João Calvino, de Agostinho, do apóstolo Paulo, e, na
verdade, inspirada pelas Escrituras na sua inteireza. Ela dá grande
ênfase na soberania de Deus e no controle absoluto que Ele tem de
todas as coisas para a Sua glória, e na necessidade de uma vida santa
e de obediência a Ele.

Não muito tempo depois, o Parlamento teve de organizar um exército


para marchar contra o próprio Rei. O Rei, na verdade, queria dissolver
o Parlamento, mas não conseguia fazê-lo. Ele havia feito um acordo
secreto com os católicos franceses para enviar um exército católico
francês à Irlanda e assim derrotar as forças do Parlamento. Porém os
Puritanos foram capazes de organizar um exército mais poderoso do
que o do Rei. Eles foram abençoados porque estava comandando o seu
exército o General Oliver Cromwell. Não precisamos entrar em
detalhes, mas o exército do Parlamento foi totalmente vitorioso sobre o
exército do Rei. Finalmente, depois de três dias de julgamento, eles
vieram a cortar a cabeça do Rei. Os Puritanos estavam divididos sobre
esta questão. Os Escoceses e Presbiterianos eram contra matar o Rei,
mas os Independentes, e os Congregacionais da Inglaterra, eram a
favor da decapitação. Assim, com a morte do Rei, a Inglaterra foi
dirigida, durante muitos anos, pelo Parlamento. Posteriormente Oliver
Cromwell assumiu o poder como Protetor (foi uma época áurea para
os Puritanos e para o desenvolvimento da Inglaterra). Finalmente, com
sua morte em 1660, a monarquia voltou ao poder, com o retorno de
Carlos II da França, o filho de Carlos I.

Aqui, politicamente, o poder puritano acabou na Inglaterra; mas,


religiosa e socialmente, sua influência continuou por muitos anos. Na
verdade a Inglaterra nunca mais foi a mesma após o Puritanismo.

Devemos mencionar de forma breve três ênfases teológicas dos


Puritanos. Acreditamos que estes três princípios ou ênfases teológicas
fizeram os Puritanos vitoriosos e triunfantes em seu propósito de
mudar o mundo. As três ênfases são estas:

1º - Predestinação 2º - Esperança 3º - Vocação (chamado)


Existem muitos outros fatores, mas acredito que o coração do
movimento Puritano pode ser resumido com estas três coisas:
PREDESTINAÇÃO - Quanto a isso, citaremos um grande historiador
contemporâneo de Oxford, Prof. Christopher Hill. Ele aparentemente
não é crente, e muitos o tem acusado de ser marxista, mas o que
sabemos é que ele tem grande apreciação pelas reformas introduzidas
pelos Puritanos. Ele enfatiza a força na crença da predestinação
dentro da causa Puritana. Citaremos o seu livro sobre o puritano
Oliver Cromwell, chamado o Inglês de Deus (Já traduzido para o
português com o título - O ELE ITO DE DEUS). Ele disse: “Os homens
tem geralmente comentado sobre o aparente paradoxo de um sistema
teológico que crê na predestinação e que, ao mesmo tempo, produz
nas pessoas uma ênfase tão grande em esforço e energia moral”. Em
outras palavras, muitos dizem que se você crê na Predestinação, na
soberania de Deus, você não vai fazer mais nada. A História prova
exatamente o contrário. Na realidade aquelas pessoas que crêem
firmemente na soberania de Deus são as mais ativas e corajosas.
Voltemos à citação do Prof. Hill: -

Acredito que o motivo pelo qual os Puritanos foram tão ativos é por
causa da consciência da eleição de Deus. Os seus corações haviam
sido transformados na direção do Deus vivo. Um homem sabia que
estava salvo porque sentia, em algum momento da sua vida, uma
satisfação interior, um lampejo que lhe dizia que ele estava em
comunhão direta com Deus. Não estamos aqui lidando com uma
êxtase místico de um monge, mas com a consciência de pessoas
comuns como donas de casa, artesãos ou comerciantes.

O que dava a estas pessoas tanta força? Era a sensação de que


tinham o Espírito de Deus. Era então, a sensação de terem sido
fortalecidas por este Espírito. Era este conjunto de coisas que fazia
com que o homem do povo sentisse que qualquer que fosse sua
atividade, ela possuía valor diante de Deus. Esta convicção de ter sido
eleito e de ter comunhão com Deus através de Cristo deu-lhes
autoconfiança numa época em que havia tanta incerteza econômica e
adversidade política.

Aqueles que criam como os Puritanos, tinham uma “fé interior que os
fazia sentirem-se livres, quaisquer que fossem suas dificuldades
externas”. O Prof. Hill cita o Prof. Haller dizendo o seguinte: “As
pessoas que têm certeza de que herdarão o céu, possuem meios de, no
presente, assumir a posse da terra”. Completa o Prof. Hill dizendo que
“foi essa coragem e confiança que capacitavam os Puritanos a lutar
por meio de armas espirituais, econômicas ou militares, para criar um
mundo novo, digno daquele Deus que os havia abençoado de forma
tão marcante”.

O Dr. Perry Miller da Universidade de Harvard, que é o grande


historiador dos Puritanos nos E.E.U.U., certa vez disse:

É impossível você imaginar um Puritano sem esperança; eles criam na


soberania de Deus, e isso os fazia agir em face a qualquer dificuldade.
Eles sabiam perfeitamente que, se Deus é por nós, nada ou ninguém
pode ser contra nós.

Até que tenhamos esta confiança é duvidoso que a Igreja de Deus seja
o que deve ser na época presente. Nós sempre podemos encontrar
uma desculpa para nos comprometer com o mal, se quisermos. Mas
aqueles que têm este senso de comunhão com Deus e confiança no
Seu propósito soberano, não procuram comprometer a sua fé. Tão
grande é a convicção de que o Senhor Jesus Cristo está próximo, que
sabem ser muito mais importante agradar o Senhor Jesus do que
agradar os desejos humanistas. Assim, vemos como a doutrina da
Predestinação era um dos sustentáculos do sist ema Puritano e da
sua causa.

ESPERANÇA - Em segundo lugar, o movimento puritano era


impulsionado por uma teologia baseada na esperança bíblica . Ian
Murray, que é editor da Banner of Truth , escreveu há cerca de 20
anos um livro extraordinário chamado “A Esperança Puritana”,
mostrando a interpretação puritana otimista das profecias bíblicas, e
como isso levou os Puritanos a esperar que Deus estivesse prestes a
concluir a história humana com um triunfo maciço para o Evangelho
em termos globais, com a conversão dos judeus e da grande maioria
dos gentios através de grandes derramamentos do Espírito Santo, aos
quais chamavam de a “Chuva tardia” que viria nos últimos tempos.

Esse tipo de visão que os Puritanos tinham do futuro libertou, na


ocasião, presente, os seus corações para colaborar de forma alegre e
satisfeita com o propósito de Deus, em termos de se auto-sacrificar
para obedecer totalmente a Deus. Eles estavam convencidos de que,
uma vez que o Senhor Jesus havia ressuscitado dentre os mortos, não
podiam ser derrotados de forma alguma se Deus estivesse ao lado
deles.

Aqui está uma declaração típica do grande teólogo puritano John


Owen. Ele foi, durante o protetorado de Cromwell, vice-chanceler da
Universidade de Oxford, e perdeu esta posição quando voltou a
monarquia e o Rei Carlos II. Entretanto, ele continuou a servir a Deus
de forma corajosa e brava, sem nunca ficar desiludido ou perder a
esperança, mesmo estando em minoria, sem qualquer poder político
naquela época. Isso é o que ele escreveu em 1680: “mesmo que nós
caiamos, a nossa causa será infalivelmente vitoriosa porque Cristo
está assentado à mão direita de Deus; o Evangelho triunfará e isso me
conforta de forma extraordinária”.

James Hanik do partido dos “covenants” (pactuantes), que foi


martirizado no dia 17 de fevereiro de 1688, em Edimburgo, disse no
dia do seu martírio: “ tem havido dias gloriosos e grandiosos do
Evangelho nesta terra, mas eles serão nada em comparação àquilo
que haverá de ocorrer”. Esse tipo de pessoa que tem tanta esperança
no futuro, não pode ser derrotada. Enquanto o Diabo tenta nos
desencorajar quanto ao futuro, Deus procura nos fortalecer e
encorajar com respeito ao que Ele pode fazer.

VOCAÇÃO - Queremos mencionar, finalmente, outra verdade que fez


com que os Puritanos fossem tão fortes e eficazes nos seus dias. Era a
ênfase que davam na importância da vocação de cada pessoa.
Enfatizavam a necessidade de cada pessoa glorificar a Deus através da
sua vocação secular. Sem dúvida, Martinho Lutero já havia ensinado o
sacerdócio universal dos santos, e os Puritanos criam nisso. Mas eles
desenvolveram a doutrina do chamado de Deus a cada pessoa muito
além do que alguém fizera antes. Mesmo estudiosos marxistas do
século XX, como o Prof. Arcangius de Leningrado, dá crédito aos
Puritanos por terem elevado a moral da classe trabalhadora da
Inglaterra naquele período. O próprio Prof. Hill está se mpre citando
estes estudiosos marxistas que têm essa visão positiva com relação
aos Puritanos neste aspecto.

Obviamente, o levantamento do moral da classe trabalhadora da


Inglaterra com o movimento Puritano se deveu à ênfase Puritana sobre
a santidade da vocação de cada pessoa. Ao invés de simplesmente
distribuir recursos com as pessoas pobres, os Puritanos organizaram
sociedades e sistemas, que pudessem ajudar estas pessoas a aprender
uma vocação. Eles diziam às pessoas pobres que elas haviam sido
criadas à imagem de Deus tanto quanto o Rei, e que o sangue de
Jesus tinha sido derramado por todo tipo de pessoas (não por todos).
Que eles haviam sido chamados para servir a Deus em suas vidas de
acordo com o propósito de Deus. Diziam às pessoas que, quando
alguém está varrendo um quarto de forma respon sável, está ajudando
a avançar o Reino de Deus tanto quanto um grande pregador. Com
este tipo de pregação, os pobres começaram a sentir um novo senso de
dignidade e começaram a desenvolver os talentos que Deus lhes havia
concedido em favor da Inglaterra.

O roubo, os crimes, e a violência caíram tremendamente de nível neste


período. Os Puritanos organizaram vários tipos de sociedades
voluntárias para dar treinamento e qualificação aos pobres, além de
estudiosos para ajudar aos jovens a fundar hospitais de caridade.
Tudo isso tinha apenas um propósito: todas as pessoas, sejam ricas
ou pobres, podem viver para a glória de Deus.

Quero concluir esta palestra sobre o Puritanismo na Inglaterra citando


a 1ª pergunta do Catecismo Maior de Westminster: “Qual o fim
principal do homem? Resposta: glorificar a Deus e gozá-lo para
sempre ”.

  II - O LEGADO PURITANO

  Gostaríamos de falar sobre a herança que os Puritanos nos


deixaram, o seu legado para os dias de hoje. O poder político dos
Puritanos durou apenas 20 anos (1640 - 1660), mas a tremenda
influência deles permanece ainda hoje no mundo todo. Na primeira
palestra, citamos o “Princípio Regulador” puritano, ou seja, que no
culto nada deve ser permitido que não tenha o apoio da Palavra de
Deus escrita. O que faremos agora é expor como os Puritanos
tomaram este “Princípio Regulador” e o aplicaram fora das quatro
paredes da Igreja em todas as áreas da vida. O que eles entenderam é
que cada área da vida, para que seja abençoada, tem que ser
orientada, controlada, e regulada pela Palavra de Deus. Gostaríamos
de outra vez citar o Prof. Christopher Hill:

O conjunto de idéias que chegou a ser chamada de ‘O Puritanismo' era


uma filosofia de vida, uma atitude com relação ao universo, que de
forma nenhuma deixava de lado os interesses da vida secular. O
Puritanismo no século XVII não era, no sentido mais estrito, limitado
à religião e a moral. A ciência, a história e outras disciplinas, não
foram deixadas de lado por eles.

Os Puritanos se tornaram distintos de muitos outros evangélicos


exatamente por esta visão. Muitos evangélicos fazem uma diferença
radical entre aquilo que é sagrado, espiritual, e o que não é espiritual,
o que é secular. Muitos crentes não conseguem aplicar os princípios
que ouviram na Igreja aos domingos, à vida no lar e no trabalho. Isso
era exatamente o que acontecia na Igreja Católica na Idade Média.
Havia uma dicotomia profunda entre aquilo que era eclesiástico (o que
era sacerdotal) e o que era comum, o que era dos leigos. Esta
dicotomia tem retornado de forma diferente à nossa sociedade. É por
isso que nós precisamos escutar o que os Puritanos têm a nos dizer,
porque eles rejeitaram de forma absoluta qualquer distinção entre este
s dois aspectos, ou seja, entre o que é sagrado e o que é secular.
Vejamos o que disse William Tyndale, um dos tradutores da Bíblia
para o inglês, e antecessor dos Puritanos que chegou a ser martirizado
por causa do seu trabalho. Ele disse: “Existe uma diferença entre
lavar pratos e pregar a Palavra de Deus, mas no que se refere a
agradar a Deus, não existe qualquer diferença entre estas duas
coisas”. O grande teólogo puritano William Perkins disse o seguinte: “A
obra do pastor em pastorear as suas ovelhas é um trabalho tão bom
diante de Deus quanto a atitude ou o trabalho de um juiz em passar
uma sentença, ou um magistrado em fazer um julgamento ou de um
pregador em sua pregação”.

Dr. Leland Ryken, que escreveu “ Santos no Mundo ”, disse o


seguinte com referência a esta rejeição dos Puritanos da dicotomia
entre o que é sagrado e o que é secular:

Os Puritanos criam que Deus havia criado o mundo físico e humano, e


que tudo isso era bom em princípio. Eles acreditavam que o mundo
físico apontava para Deus, e neste ponto eles eram os
‘sacramentalistas' dos seus dias, muito mais do que aqueles que
multiplicavam as cerimônias dentro das quatro paredes da Igreja.

Um outro puritano disse: “Um crente deve considerar tanto o seu


escritório quanto a sua Igreja como sendo santo”. Isso significa que a
Palavra de Deus fala de forma normativa, não somente para a Igreja,
como também para a minha vida pessoal, em todas as suas esferas.
Portanto, o propósito da criação é ser normatizada, controlada pelo
propósito do Criador. William Perkins disse que “A Bíblia abrange
muitas ciências sagradas, incluindo a ética, a economia, a política e as
ciências acadêmicas”.

Vamos tentar fazer um sumário : O puritano cria que estava na


presença de Deus e fazendo a obra de Deus em qualquer lugar que ele
fosse, e não somente na Igreja. Ele sentia que era o seu chamado
transformar cada área da vida em algo santo para Deus. Vamos ver
algumas áreas que os Puritanos desejavam purificar no mundo. É
nesse aspecto que eles deixaram um legado extraordinário para os
dias de hoje.

Em primeiro lugar, eles queriam a Reforma total da Igreja segundo as


Escrituras. Eles acreditavam que a melhor forma de se obter isso era
através da pregação expositiva de todo conselho de Deus. Acreditavam
que, se a pregação viesse através da exposição dos livros da Bíblia,
uma reforma sobrenatural aconteceria como resultado. Para tal, era
necessário que todas as partes da Bíblia fossem entendidas, para se
dar um caráter equilibrado à reforma. Acreditavam na necessidade de
pregar de forma direta ao coração . Na realidade, a pregação p uritana
é mais conhecida como pregação direta. Desejavam falar às pessoas
simples, de forma direta e não rebuscada, e que fosse compreendida.
Esse conceito era muito diferente do que era praticado na Igreja
Anglicana daquela época. A pregação Anglicana daquele tempo era
muito florida, rebuscada, com citações em grego, hebraico e latim.
Muitos dos pregadores na Igreja Anglicana pregavam apenas com o
propósito de impressionar os professores das universidades que
estavam presentes. Os Puritanos entendiam que este tipo de pregação
era uma glorificação do pregador ou demonstração de erudição, muito
mais do que a declaração do conselho de Deus. O propósito da
pregação não era o de glorificar o pregador e toda a sua erudição. O
propósito do pregador era o de se esconder atrás do texto o máximo
que pudesse para que o Senhor fosse exaltado em toda a Sua glória e
beleza. Assim, os Puritanos prega vam de forma simples e direta em
muitos assuntos, e colocavam grande ênfase na aplicação da Palavra .

Geralmente passavam meia hora expondo o que havia no texto, e mais


meia hora na aplicação desse texto. Eles diziam o que o texto falava
aos diversos tipos de pessoas presentes na congregação. Diziam o que
a Palavra tinha a ensinar às pessoas que já eram salvas, aos perdidos
e àqueles que estavam em busca da salvação; mostravam o que o
texto falava aos pais, às crianças e até ao Rei e ao governo. Por isso,
alguns deles foram lançados na prisão e tiveram suas orelhas
cortadas. Apesar disso, continuavam pregando da mesma forma, e a
Palavra era aplicada poderosamente. Eventualmente, muitas Igrejas
fecharam suas portas para esta pregação puritana. Foi q uando um
número grande de homens de negócios bem sucedidos, em Londres,
começaram a fazer depósitos bancários para investir e a usar os juros
daquela aplicação para sustentar centenas de pregadores Puritanos
que se espalhavam pela Inglaterra pregando a Palavra. Estes homens
estavam convictos de que a Inglaterra e Escócia haveria de florescer
pela pregação da Palavra, e literalmente pagavam para isso. Quando
um pregador Puritano não conseguia pregar nas Igrejas, ele ia para a
feira, e lá pregava a dezenas e centenas de pessoas que vinham para
as compras. Geralmente os simpatizantes dos Puritanos que eram
proprietários de negócios, e que tinham instalações amplas, cediam-
nas para que os Puritanos pregassem. Dessa forma, milhares de
pessoas eram atingidas pela Palavra. Eles literalmente tomaram o
mapa da Inglaterra e procuraram garantir que cada parte do país
tivesse pelo menos um pr egador Puritano, para que a obra
reformadora de Deus fosse acessível a cada parte da nação. Dessa
forma, a influência do puritanismo cresceu ao ponto de tomar o
Parlamento. Esta é a primeira coisa que podemos aprender com eles:
buscar a purificação da Igreja e da sociedade pela pregação da
Palavra.

Em segundo lugar, vamos falar sobre a vida de piedade dos Puritanos.


Já falamos sobre a reforma da Igreja, e agora falaremos sobre a
reforma do coração. Os Puritanos estavam em conflito para manter
juntas duas coisas: de um lado, um coração que ardia em amor a
Deus e ao próximo; e de outro, um intelecto preparado, pois
entendiam que se a mente fosse bem educada e preparada e se o
coração fosse cheio de fervor e amor a Deus, as pessoas seriam
transformadas à imagem de Cristo e seriam capazes de mudar a
comunidade em que viviam. A expressão que os Puritanos sempre
usavam para isso era “autocontrole”. Em termos modernos, usando
uma expressão teo lógica contemporânea, diríamos “cheio do Espírito
Santo”. Uma das maneiras pelas quais os Puritanos buscavam o
“autocontrole,” ou o andar “cheio do Espírito Santo”, mantendo o
coração e a mente aquecidos, era através da meditação contínua na
Palavra de Deus. A espiritualidade puritana nunca foi dissociada da
Palavra de Deus escrita, e isso é muito importante e deve ser lembrado
hoje.

A única espiritualidade que realmente vem de Deus é a que é


consoante ao ensino da Palavra. Um dito puritano afirmava:
“Pregações são como a comida na mesa; você deve comer, mastigar
bem; um sermão bem digerido e sobre o qual você meditou bem é
melhor do que vinte sermões sobre os quais você não meditou”. Os
Puritanos faziam comparação com uma vaca ruminando. Entendemos
que uma das razões da nossa superficialidade, como evangélicos, é
que não queremos tirar tempo para meditar na Palavra de Deus. Os
Puritanos eram pessoas tão ocupadas quanto nós hoje, mas tinham
essa prioridade diária de meditar na Palavra, na verdade. Eles
voltavam para casa depois do culto para discutir e conversar a
respeito do sermão com seus filhos.

Em terceiro lugar, isso nos leva a um outro aspecto importante do


legado Puritano. Não somente eles estavam controlando a vida da
Igreja e a vida pessoal através da Escritura, mas também a vida
doméstica. Há cerca de um século, o famoso historiador Inglês J.
Richard Greenhan disse:

O lar, como nós hoje o conhecemos, foi criado pelos Puritanos. A


esposa e os filhos emergiram de uma simples dependência do pai, à
medida em que os pais e maridos percebiam nas suas esposas e filhos
santos exatamente como eles, almas que haviam sido santificadas pelo
toque do Espírito Santo e que haviam sido chamadas com a mesma
vocação divina com a qual eles haviam sido chamados. Essa sensação
de comunhão dentro da família trouxe uma nova ternura e um
refinamento aos sentimentos, às afeições do lar .

Em quarto lugar, ao invés da assistência diária à missa, como na


Igreja Católica, os Puritanos instituíram o culto doméstico diário. Isso
foi um passo sociológico muito importante. O Prof. Hill o considera
como a “espiritualização da família”. À medida que a família e a casa
eram vistas por esta perspectiva, se tornavam então, como um outro
centro de governo. E à medida que o lar era visto como tendo esta
independência, funcionava como oposição, com o objetivo de
equilibrar aquele governo autoritário que havia. O lar Puritano, então,
era um lugar onde Deus era encontrado em amor, onde os membros
da família eram respeitados como santos, e onde a Palavra de Deus
era continuamente ouvida e difun dida.

É uma grande falsidade que se levanta contra os Puritanos dizer que


eram opostos a qualquer tipo de sexualidade. Se você se dedicar a ler
sobre os Puritanos, vai ver que não é assim. Eles se baseavam no
Velho Testamento e nas epístolas para se deleitarem no dom da
sexualidade dado por Deus. É verdade que os vitorianos do século
XIX, na Inglaterra, tinham uma certa antipatia por este assunto. Mas,
na realidade, esse pessoal da era vitoriana pode ser considerado mais
como humanistas do que propriamente como Puritanos.

Este princípio regulador é relacionado com a área da educação. Os


Puritanos freqüentemente mencionavam um dito rabínico: “Se um pai
não ensina ao seu filho a Lei de Deus, e se não o treina numa
profissão decente, está criando-o para ser um ladrão”. Na Nova
Inglaterra, nos E.E.U.U., no início da década de 1630 e 1640, algumas
leis foram estabelecidas determinando que todo pai deveria assegurar
a educação de seus filhos. A lei era esta: “As pessoas devem ser
instruídas em alguma vocação que seja legal e útil, quer seja para o
trabalho manual, ou outro tipo de emprego, quer arando na fazenda,
ou algum outro tipo de profissão que seja proveitosa para si mesmo e
para o bem comum.”

Nesse contexto, deveríamos observar a importância da vida puritana-


familiar com sua instrução acadêmica e espiritual aos filhos, o que
trouxe muitos frutos em termos de diligência e atividade dos Estados
Unidos.

Um livro fascinante foi escrito com o título “A Boston Puritana e a


Filadélfia dos Quakers”. Nele, o autor compara o que aconteceu com a
descendência dos Puritanos da cidade de Boston, e com a
descendência dos Quakers na Filadélfia, e prova que os descendentes
dos Puritanos exerceram uma influência muito maior até os dias de
hoje. Conclusão: a influência intelectual, política e cultural na
América tem vindo mais do lado Puritano do que do lado dos Quakers.
Por falar nisso, alguém já fez um estudo que se tornou famoso sobre
os descendentes do grande Puritano Jonathan Edwards. É
impressionante observar a descendência de Jonathan Edwards em
cada área da vida.
Em quinto lugar, este princípio regulador puritano influenciou
grandemente na área da ciência, como é reconhecido pelos
historiadores da ciência, como Butterfield e o professor Whitehead
Huikos da Holanda. Falando deste último, referimo-nos ao seu livro “A
religião e o surgimento da ciência moderna”. Neste livro ele diz algo
que é reconhecido pelos demais historiadores da ciência, ou seja, que
as raízes da ciência moderna estão no Movimento Puritano. Com isso
não estamos querendo dizer que toda a ciência moderna no século
XVII e XVIII é puritana, mas que uma porcentagem surpreendente do
que foi feito em termos científicos está enraizada no movimento
Puritano. Sabemos que a ciência, como era p raticada no século XVII e
XVIII, não se iniciou nas universidades de Cambridge e Oxford. Na
realidade, os grandes avanços científicos se iniciaram em outra
direção; eles surgiram da Sociedade Real de Londres, da qual, durante
algum tempo, Isaque Newton foi membro. Além de seu trabalho
científico, Newton escreveu vários livros sobre profecias e comentários
de livros da Bíblia.

Vários desses membros da Sociedade Real de Londres tinham também


sido membros da grande Assembléia de Westminster na década de
1640, e alguns dos professores de matemática e geometria, que
estavam vivos naquela época, também tinham participado desta
grande Assembléia. A doutrina da glória de Deus na criação, que eles
sustentavam, foi o que tornou possível à ciência moderna avançar de
forma tremenda.

Um outro aspecto do legado puritano que chega aos nossos dias foi a
ascensão da classe pobre. O Prof. Jordan escreveu um livro
importante: “Filantropia na Inglaterra - 1480/1660”. Neste livro, ele
mostra que os Puritanos fizeram mais do que qualquer outro grupo
para esvaziar as favelas, diminuir o crime e acabar com a pobreza.
Eles literalmente reestruturaram a economia de tal forma que os
pobres podiam participar. Eles não eram socialistas, pois criam no
direito de liberdade privada (livre iniciativa), mas acreditavam que a
misericórdia de Deus devia ser demonstrada a todas as pessoas de
forma prática.< O:P>

Certo teólogo anglicano, Lancelot Andrews, que na verdade não era


um Puritano, observou em 1588 que as Igrejas Calvinistas de
refugiados em Londres foram capazes de “fazer tanto bem, que
nenhum de seus pobres é visto nas ruas a pedir”, os pedintes
praticamente acabaram.

Outra coisa a ser mencionada foi a reconstrução do governo em


termos da Palavra de Deus. Se tivéssemos tempo, falaríamos de John
Knox, Samuel Rutheford e outros. Eles desenvolveram a idéia de que
todas as pessoas são iguais diante da Palavra de Deus, e que qualquer
que viola os seus direitos é um tirano, e o povo tem o direito de
derrubá-lo do governo. É muito conhecido o fato de que, durante a
revolução americana, aproximadamente dois terços da população na
colônia era calvinista, incluindo presbiterianos, batistas e
congregacionais. Foi o legado calvinista nas colônias americanas que
os capacitou a tomar uma posição e ganhar a liberdade dos E.E.U .U.

Acreditamos que à medida que aprendermos e observarmos mais do


legado Puritano em termos da nossa época e da nossa cultura,
teremos também mais liberdade, mais bênção e menos pobreza no
nosso país.

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