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INTRODUÇÃO À

COMUNICAÇÃO
SOCIAL
PROFESSOR
Dr. Rodrigo Robinson

ACESSE AQUI O SEU


LIVRO NA VERSÃO
DIGITAL!
EXPEDIENTE
DIREÇÃO UNICESUMAR
Reitor Wilson de Matos Silva Vice-Reitor Wilson de Matos Silva Filho Pró-Reitor de Administração Wilson de
Matos Silva Filho Pró-Reitor Executivo de EAD William Victor Kendrick de Matos Silva Pró-Reitor de Ensino
de EAD Janes Fidélis Tomelin Presidente da Mantenedora Cláudio Ferdinandi

NEAD - NÚCLEO DE EDUCAÇÃO A DISTÂNCIA


Diretoria Executiva Chrystiano Mincoff, James Prestes, Tiago Stachon Diretoria de Graduação e Pós-graduação Kátia
Coelho Diretoria de Cursos Híbridos Fabricio Ricardo Lazilha Diretoria de Permanência Leonardo Spaine Diretoria de
Design Educacional Paula R. dos Santos Ferreira Head de Graduação Marcia de Souza Head de Metodologias Ativas
Thuinie M.Vilela Daros Head de Recursos Digitais e Multimídia Fernanda S. de Oliveira Mello Gerência de
Planejamento Jislaine C. da Silva Gerência de Design Educacional Guilherme G. Leal Clauman Gerência de Tecnologia
Educacional Marcio A. Wecker Gerência de Produção Digital e Recursos Educacionais Digitais Diogo R. Garcia
Supervisora de Produção Digital Daniele Correia Supervisora de Design Educacional e Curadoria Indiara Beltrame

FICHA CATALOGRÁFICA

Coordenador(a) de Conteúdo C397 CENTRO UNIVERSITÁRIO DE MARINGÁ.


Feranda Gabriela de Andrade Coutinho Núcleo de Educação a Distância. ROBINSON, Rodrigo.
Projeto Gráfico e Capa Introdução à Comunicação Social. Rodrigo Robinson.
André Morais, Arthur Cantareli e Maringá - PR.: Unicesumar, 2022.
Matheus Silva
172 p.
Editoração
ISBN 978-65-5615-887-7
Lavígnia da Silva Santos
Design Educacional “Graduação - EaD”.
Giovana Vieira Cardoso 1. Introdução 2. Comunicação 3. Social. 4. EaD. I. Título.
Curadoria
Fernanda Feitoza de Brito CDD - 22 ed. 302.2

Revisão Textual
Anna Clara Gobbi dos Santos
Ilustração
Welington Oliveira Impresso por:
Fotos
Shutterstock Bibliotecário: João Vivaldo de Souza CRB- 9-1679

NEAD - Núcleo de Educação a Distância


Av. Guedner, 1610, Bloco 4 Jd. Aclimação - Cep 87050-900 | Maringá - Paraná
www.unicesumar.edu.br | 0800 600 6360
A UniCesumar celebra os seus 30 anos de história
avançando a cada dia. Agora, enquanto Universidade,
ampliamos a nossa autonomia e trabalhamos diaria-
mente para que nossa educação à distância continue
Tudo isso para honrarmos a
nossa missão, que é promover
como uma das melhores do Brasil. Atuamos sobre
a educação de qualidade nas
quatro pilares que consolidam a visão abrangente
diferentes áreas do conhecimento,
do que é o conhecimento para nós: o intelectual, o
formando profissionais
profissional, o emocional e o espiritual.
cidadãos que contribuam para
A nossa missão é a de “Promover a educação de o desenvolvimento de uma
qualidade nas diferentes áreas do conhecimento, for- sociedade justa e solidária.
mando profissionais cidadãos que contribuam para o
desenvolvimento de uma sociedade justa e solidária”.
Neste sentido, a UniCesumar tem um gênio impor-
tante para o cumprimento integral desta missão: o
coletivo. São os nossos professores e equipe que
produzem a cada dia uma inovação, uma transforma-
ção na forma de pensar e de aprender. É assim que
fazemos juntos um novo conhecimento diariamente.

São mais de 800 títulos de livros didáticos como este


produzidos anualmente, com a distribuição de mais
de 2 milhões de exemplares gratuitamente para nos-
sos acadêmicos. Estamos presentes em mais de 700
polos EAD e cinco campi: Maringá, Curitiba, Londrina,
Ponta Grossa e Corumbá, o que nos posiciona entre
os 10 maiores grupos educacionais do país.

Aprendemos e escrevemos juntos esta belíssima


história da jornada do conhecimento. Mário Quin-
tana diz que “Livros não mudam o mundo, quem
muda o mundo são as pessoas. Os livros só
mudam as pessoas”. Seja bem-vindo à oportu-
nidade de fazer a sua mudança!

Reitor
Wilson de Matos Silva
Dr. Rodrigo Robinson

Olá Gente querida,


Vamos caminhar juntos nessa disciplina e gostaria de
me apresentar um pouco, para além do meu currículo,
para que você possa me conhecer um pouco melhor.
Eu sou o primeiro da minha família a ter curso superior,
essa não era uma realidade da minha família, que sempre
teve uma vida muito prática, trabalhando desde cedo. Eu
também trabalhei pra pagar minha faculdade, talvez seja
a sua história também. Me aproximei da Comunicação
Social, mais especificamente da publicidade porque sem-
pre fui comunicativo, mas especialmente porque eu amo
as artes. Eu toco violão, mas não sou bom o suficiente
para viver de música. Eu amo as artes visuais, o cinema,
o teatro, enfim todas as expressões artísticas, mas por ter
herdado um senso prático, não me via como um artista,
achava que tudo isso poderia ser utilizado para comuni-
car. Para transmitir mensagens claras. Foi assim que me
tornei um comunicador social.
Trabalhei em agências de comunicação e de design,
no início, na criação, produzindo muitos materiais para
campanhas, cartazes, banners, folders, diagramei revistas
e inclusive fazendo curadoria de conteúdo. Com o passar
do tempo fui assumindo cargos de gestão das pessoas
criativas que trabalham nesses lugares, uma experiência
muito desafiadora. Eu gostava da criação e de todo esse
envolvimento, mas o meu trabalho principal era cobrar
as pessoas para que os prazos fossem cumpridos, isso
era muito desanimador para mim.
Foi aí que dei uma guinada na minha carreira. Nessa
época eu morava em Curitiba e não aguentava mais o
frio de lá. Eu já tinha dois filhos e eles viviam presos no
apartamento, ou doentes por tomar um frio na orelha
pra brincar no parquinho. Fiz uma especialização e lem-
brei que gostava de estudar. Decidimos mudar para o
interior do estado do Paraná e foi uma oportunidade de
me dedicar aos estudos. Fiz Mestrado e Doutorado em
Administração e desde então sou professor e pesquisa-
dor de tempo integral. Na verdade, de tempo parcial, de
tempo integral mesmo eu sou pai do Rafael, do Leonardo
e da Sofia, que veio no meio do doutorado. Encontrei na
relação com os alunos, na pesquisa e na produção de
conteúdo para livros, artigos e para as aulas uma nova
forma de expressar e vivenciar minha criatividade!

Link currículo lattes: http://lattes.cnpq.


br/7314552213694334
INTRODUÇÃO À COMUNICAÇÃO SOCIAL

Você é um jovem antenado, conectado com tudo o que acontece no mundo e no seu
mundo. As informações estão disponíveis e acessíveis para você em todos os momen-
tos, você está on-line 24 horas por dia. Mas quais são os assuntos do seu interesse?
Quais são as pesquisas que você faz na internet? com quem você conversa ou o de
quem você procura a opinião quando está em dúvida?
É possível que você nem perceba, mas muito dos assuntos que você discute, dos in-
teresses de suas pesquisas foram despertados pelos meios de comunicação de massa.
Mesmo que você não assista televisão ou não ouça rádio, ou nem mesmo se interesse
por cinema, os meios de comunicação moldam nossos interesses.
É por isso que se torna importante refletir sobre a comunicação social e trazer à
consciência a influência que ela tem em nossas vidas.
Qual o assunto mais falado dessa semana? Quem está falando sobre ele? Quais as
opiniões ou lados da história estão disponíveis? Você pode fazer uma lista respondendo
a essas perguntas e tentar identificar nos meios de comunicação e nas mídias sociais
se os assuntos são os mesmos, ou parecidos, ou mesmo derivações uns dos outros.
Então você poderá refletir a partir desses assuntos, quais as intenções, quais os
interesses de quem está falando e as posições disponíveis. Você poderá perceber que
mesmo as posições pessoais das redes sociais, partem de um padrão, de um modelo,
de uma posição já construída que apenas está sendo repetido por algum motivo. Esses
modelos são oferecidos a todo o momento pelos meios de comunicação.
Chegou a sua vez entender a mídia e seus interesses. Perceber os movimentos
sociais e a relação com a comunicação. Aproveite essa disciplina para ampliar seus
horizontes e desenvolver a capacidade de interpretar os sentidos da comunicação.
Ao final dessa disciplina, avalie se a sua visão sobre os meios de comunicação
mudou, e de que forma você entende agora a influência da mídia sobre a sua vida e
a sociedade.
RECURSOS DE
IMERSÃO
REALIDADE AUMENTADA PENSANDO JUNTOS

Sempre que encontrar esse ícone, Ao longo do livro, você será convida-
esteja conectado à internet e inicie do(a) a refletir, questionar e trans-
o aplicativo Unicesumar Experien- formar. Aproveite este momento.
ce. Aproxime seu dispositivo móvel
da página indicada e veja os recur-
sos em Realidade Aumentada. Ex- EXPLORANDO IDEIAS
plore as ferramentas do App para
saber das possibilidades de intera- Com este elemento, você terá a
ção de cada objeto. oportunidade de explorar termos
e palavras-chave do assunto discu-
tido, de forma mais objetiva.
RODA DE CONVERSA

Professores especialistas e convi-


NOVAS DESCOBERTAS
dados, ampliando as discussões
sobre os temas. Enquanto estuda, você pode aces-
sar conteúdos online que amplia-
ram a discussão sobre os assuntos
de maneira interativa usando a tec-
PÍLULA DE APRENDIZAGEM
nologia a seu favor.
Uma dose extra de conhecimento
é sempre bem-vinda. Posicionando
seu leitor de QRCode sobre o códi- OLHAR CONCEITUAL
go, você terá acesso aos vídeos que
Neste elemento, você encontrará di-
complementam o assunto discutido.
versas informações que serão apre-
sentadas na forma de infográficos,
esquemas e fluxogramas os quais te
ajudarão no entendimento do con-
teúdo de forma rápida e clara

Quando identificar o ícone de QR-CODE, utilize o aplicativo Unicesumar


Experience para ter acesso aos conteúdos on-line. O download do
aplicativo está disponível nas plataformas: Google Play App Store
CAMINHOS DE
APRENDIZAGEM

1
9 2
41
HISTÓRIA DOS DEFINIÇÕES E
MEIOS DE MODELOS DE
COMUNICAÇÃO PROCESSOS DE
COMUNICAÇÃO

3
73 4 109
A IMPORTÂNCIA DA ESTRUTURAS
MÍDIA E DE SEUS SOCIAIS E OS
INSTRUMENTOS PARA MECANISMOS
A CONFIGURAÇÃO QUE INTERFEREM
DA SOCIEDADE NA FUNÇÃO DA
ATUAL COMUNICAÇÃO

5
139
A RELEVÂNCIA
DOS MEIOS DE
COMUNICAÇÃO
DE MASSA EM
UMA SOCIEDADE
DE CONSUMO
1
História dos meios
de comunicação
Dr. Rodrigo Robinson

Nesta Unidade vamos fazer uma viagem sobre a história dos meios de
comunicação e sua relação com o desenvolvimento das sociedades.
Você vai compreender o contexto histórico e cultural do surgimento da
impressão gráfica e o impacto que cada novo meio de comunicação,
passando pelo rádio a televisão, até as novas mídias e as novas formas
de interação no ciberespaço.
UNIDADE 1

Imagine que um homem tenha sido congelado na Europa em 1860, quando gran-
des invenções como o telefone e o rádio começaram a impactar as comunicações,
e tenha somente acordado um século depois, nos anos 1960. Com certeza, muitas
inovações surgiram nesse longo período, entre elas a televisão em 1920. Os anos
de 1860 foram um período de grandes nomes das artes de como Cézanne, Monet,
Renoir, Van Gogh e Alphonse Mucha. Período do surgimento da Art Nouveau
e do grande arquiteto Gaudi. Um século de grandes pensadores como Darwin,
Marx, Spencer, Dostoiévski, Peirce, Nietzshe e Freud, e de revoluções políticas na
Espanha, em Cuba, na Rússia, guerras civis nos Estados Unidos, e de lutas sociais
com o surgimento do Apartheid na África do Sul em 1948.
O mundo mudou, mas imagine que esse homem trabalhava em uma linha
de produção em uma fábrica, ou mesmo em um escritório de advocacia. Com
certeza ele estranharia as roupas e o mundo todo ao seu redor, no entanto, ele
conseguiria entender a lógica do trabalho nessas duas esferas produtivas, quem
sabe até pudesse utilizar o seu terno antigo, se fosse um advogado.
Agora vamos imaginar que alguém tenha sido congelado em 1960, e tenha
acordado apenas 50 anos depois, em 2010. É possível que essa pessoa tivesse mui-
to mais dificuldade de compreender o mundo do trabalho do que o seu amigo de
1860 teve ao acordar um século depois. O impacto da internet e das novas formas
de comunicação que surgiram a partir dos anos 1970 modificaram radicalmente
a lógica do trabalho e a forma como vivemos.
É possível que você esteja tão acostumado a estar conectado e disponível
para a comunicação com qualquer parte do mundo em tempo real, mas já parou
para pensar como essas mudanças na comunicação impactam as sociedades e os
formas como vivemos?
Conhecer a história dos meios de comunicação nos ajuda a compreender o
impacto que cada um deles produziu nas sociedades de suas épocas. Essa percepção
nos permitirá compreender como essas formas de se comunicar coletivamente
moldaram as capacidades humanas. Os meios comunicacionais são parte do desen-
volvimento biopsicossocial do ser humano, ou seja, a comunicação nos modifica.
Desde os primeiros sons vocais dos períodos pré-históricos, até a natureza
cibernética das novas tecnologias, as diferentes invenções foram nos modificando
e nos trouxeram até esse momento.

10
UNICESUMAR

A invenção da prensa gráfica e as primeiras publicações em grande quan-


tidade permitiram a difusão de ideias que sustentaram grandes mudanças nas
sociedades, como por exemplo a Reforma Protestante. A imprensa surge com essa
possibilidade de impressão e os primeiros jornais semanais começaram a circular.
Mais tarde, o telefone e o rádio, que surgem na mesma época, modificam para
sempre as formas de comunicação. Primeiro usados de maneira restrita por grupos
fechados e pelos exércitos, foi o poder da comunicação sem fio que as ondas de
rádio proporcionaram que nos fizeram imaginar um mundo sem fronteiras físicas.
A televisão e o cinema são até hoje espelhos daquilo que as sociedades conside-
ram bonito. O senso estético, as formas de se comportar, as ideias que circulam pela
sociedade, sem sombra de dúvida são moldadas por esses meios de comunicação.
É possível perceber o impacto que esses processos comunicacionais têm sobre
o dia-a-dia das novas vidas, dessa mesma forma cada inovação na forma de nos
comunicarmos teve um impacto na constituição das sociedades. A comunicação
em massa, o rádio, a televisão, o cinema, e outras mídias, oferecem modelos do que
significa ser um homem ou mulher bem-sucedidos, ou fracassados, ou seja, os sig-
nificados culturais são construídos de forma muito poderosa através desses meios.
Sem conhecer a história de cada meio de comunicação, temos uma visão
muito limitada e parcial de sua importância e do impacto social que eles possuem,
por isso aprofundaremos esses tópicos durante essa unidade.
Pense na dificuldade que tínhamos até muito pouco tempo atrás de expressar
determinadas situações por telefone. Mesmo com o surgimento do celular, ainda
sem câmeras e aplicativos de conversa em tempo real, era necessário narrar as si-
tuações que gostaríamos de comunicar. O telefone e o celular só permitiam a co-
municação através de áudios em tempo real. Com o surgimento dos smartphones
a comunicação em tempo real ganhou muitas outras possibilidades: enviar fotos,
enviar áudios gravados, e algo que parecia coisa de ficção científica, as chamadas
de vídeo, são uma realidade tão comum nos dias atuais que talvez nem tenhamos a
noção de como essas inovações nos modificam e modificam a nossa comunicação.
Para experimentar essas limitações, faça uma pesquisa na internet com os se-
guintes termos “Alexander McQueen conceitual”. Você encontrará imagens de roupas
conceituais do estilista McQueen. Observe as imagens e grave em seu celular um
áudio de um minuto descrevendo as características do estilo das roupas que você
encontrar. Imagine que você precisa comunicar como é o estilo das roupas criadas
por esse estilista para alguém que não está vendo e não tem acesso a essas imagens.

11
UNIDADE 1

A cultura se constitui a partir da participação de muitos elementos, inclusi-


ve os meios de comunicação. As imagens são fundamentais não apenas para a
comunicação, mas para a constituição de nossa própria vida, nos dias de hoje.
Na atividade proposta anteriormente, você poderia iniciar descrevendo ele-
mentos amplamente conhecidos, como por exemplo, “o estilista desenvolve suas
criações em vestidos longos e curtos para mulheres”, e a partir daí encontrar os
elementos de diferenciação do que sempre se viu, como por exemplo, “no entanto
diferente de tudo o que você já viu, ele busca elementos contrastantes com muito
volume, e formas inusitadas que às vezes lembram elementos da natureza como
uma rosa ou penas, e as vezes futuristas, como um chapéu de astronauta…”
Podemos entender a cultura como uma atividade participativa na qual as
pessoas produzem as sociedades e as suas identidades. Essa cultura tem impacto
sobre as pessoas, moldando seus comportamentos, estabelecendo as capacidades
e as formas de agir. Pense como as novelas, os filmes e os influenciadores digitais
moldam as suas escolhas. O que você considera bonito ou feio, as roupas que vai
utilizar, as músicas que você ouve e assim por diante.
A mídia nesse sentido se torna um espaço de disputa de poder. Isso porque ao
moldar os comportamentos a cultura reforça, ou modifica as posições de poder
na sociedade. Os meios de comunicação de massa têm a capacidade de fortalecer
sentidos e ideologias, fornecendo as linhas principais que estruturam o imagi-
nário social. Esse poder que estava concentrado nas grandes redes de rádio e
televisão, passou ao longo do tempo por um processo de democratização.
É a partir desse contexto que eu te convido a refletir sobre o papel dos meios
de comunicação na produção dos sentidos e das identidades das nossas socieda-
des. Ao aprofundarmos os contextos históricos do surgimento das mídias, que-
remos refletir sobre seu impacto na forma como vivemos e como entendemos o
mundo em que vivemos.
Agora que você já experimentou como os meios de comunicação moldam
nosso dia-a-dia, registre em seu Diário de Bordo as suas percepções e questio-
namentos sobre esse tema. Você já comprou algum produto porque viu em uma
novela, ou um influenciador digital falou sobre ele? De onde você tira suas refe-

12
UNICESUMAR

rências para escolher suas roupas? Quem são as pessoas famosas que você con-
sidera bem sucedidas? Como você ficou sabendo sobre elas? Como seria a sua
vida se não existisse nenhum meio de comunicação?

Caro(a) aluno(a), a partir de agora iremos mergulhar na história da impressão


gráfica. Vamos além de apenas compreender os aspectos tecnológicos das ino-
vações que permitiram o homem a imprimir textos, buscaremos compreender o
contexto social e cultural, e o impacto dessa nova forma de comunicação.
A impressão de textos e imagens já era praticada há muito tempo na China e
no Japão, contudo foi a prensa móvel de Gutenberg, na Alemanha em 1450, que
viabilizou o surgimento da imprensa no mundo ocidental. Isso porque as impres-
sões feitas na China e no Japão eram feitas a partir de um bloco de madeira enta-
lhada para imprimir uma única página de um texto específico. Esse modelo era
viável para essas culturas que utilizam milhares de ideogramas para comunicar,
mas inviável para um alfabeto de vinte ou trinta letras (BRIGG; BURKE, 2016).
A invenção de Gutenberg utilizava letras de metal que podiam ser retiradas
e reorganizadas permitindo a impressão de diferentes páginas de textos. Cada
página era montada com centenas de letras organizadas uma a uma. A tinta era
passada sobre as letras que eram prensadas pela máquina, contra o papel.

13
UNIDADE 1

Figura 01 - Placas com letras de metal

Descrição da Imagem: A imagem apresenta uma fotografia, no centro há uma caixa de metal onde letras
e números entalhados também em metal estão dispostos aleatoriamente, não formando nenhuma pa-
lavra, mas completando quase toda a caixa. À direita da imagem aparece uma mão feminina apontando
para as peças.

Uma curiosidade é que os termos “caixa alta” e “ caixa baixa” surgiram da organi-
zação das caixas tipográficas da prensa de Gutenberg, isso porque as minúsculas
ficavam na parte baixa, enquanto as maiúsculas eram guardadas na parte de cima.
A primeira impressão relevante de Gutenberg foi uma Bíblia que teve um
impacto na cultura europeia do que se chamou de “era moderna” de 1450 a 1789.
A invenção se espalhou rapidamente, em 1500 já havia em torno de 250 impres-
soras instaladas por toda a Europa. Estima-se que nessa data mais de 3 milhões
de livros já circulavam nas mãos de leitores europeus. Por outro lado, na Rússia,
a cultura impressa teve dificuldades de se popularizar, isso porque a educação
formal era acessível apenas para o clero (BRIGG; BURKE, 2016).

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UNICESUMAR

Essa situação evidencia que a popularização da cultura impressa não depen-


dia apenas de uma questão tecnológica, mas de um contexto cultural. No império
Turco Otomano, a disseminação da cultura impressa demorou ainda mais para se
estabelecer. Primeiro porque os muçulmanos acreditavam ser pecado imprimir
livros sagrados, e depois por causa do poder autoritário e centralizado do Grande
Turco, líder do império que achava melhor manter as pessoas na ignorância para
poder impor seu poder (BRIGG; BURKE, 2016).
Esta passagem da história da disseminação da prensa gráfica, mostra como a
comunicação social, ou a disseminação de informação e conhecimento em larga
escala sempre incomodou líderes autoritários.
No Brasil as impressoras também chegaram tardiamente. Vários historiadores
têm versões do porquê a tecnologia de Gutenberg, inventada no século XV só
chegou ao Brasil no século XIX (MOLINA, 2015). Se pensarmos que o primeiro
jornal impresso no Brasil foi publicado em 1808, o atraso foi de quase 360 anos!
O atraso intriga historiadores, uma vez que os Jesuítas, que estiveram no Brasil
desde os séculos XVI, estabeleceram impressoras em diferentes outros países na
Ásia e na África e a impressão gráfica se espalhou rapidamente pelas colônias
espanholas, mas no Brasil isso não aconteceu. Existem explicações no ambiente
político e cultural para esse atraso. O primeiro e provavelmente mais forte é o fato
de que a coroa Portuguesa não autorizou explicitamente a instalação de prensas
gráficas no Brasil, e nos anos 1707 publicou ordem para recolher todas as “letras
impressas” que fossem encontradas e enviadas para Portugal e os donos notifi-
cados para que não imprimissem nem livros nem papéis avulsos.
Outra explicação para o atraso é a ausência de pessoas letradas. No entanto, o
interesse político de Portugal em esconder o Brasil do mundo, para não despertar
a cobiça de outros países sobre a sua rica e abundante colônia, evidencia a relação
extrativista que Portugal mantinha com sua colônia. Somente com a chegada da
Corte Portuguesa ao Brasil é que foram estabelecidas impressoras para reproduzir
os jornais portugueses (MOLINA,2015).
Na avaliação de filósofos como Francis Bacon (1561-1626) a prensa é parte
de um trio que mudou completamente o mundo. Para ele, o conjunto prensa-pól-
vora-bússola modificou o mundo e o levou para uma outra era. Outro filósofo,
Samuel Hartlib, escreveu que o conhecimento disseminado pela impressão faria
chegar às pessoas comuns saberes sobre seus direitos e liberdades e elas nunca

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UNIDADE 1

mais seriam governadas de forma opressora (BRIGG; BURKE, 2016). Talvez por
isso líderes autoritários e despóticos, desde a invenção da prensa, até os dias de
hoje procuram desacreditar a imprensa.
A invenção da prensa trouxe preocupação também para as lideranças religio-
sas, que temiam perder seu poder, uma vez que pessoas comuns podiam agora
ter acesso aos livros sagrados. Agora pessoas nas baixas camadas da hierarquia
social e cultural poderiam ler os textos sozinhos, em vez de acreditar e confiar
naquilo que as autoridades diziam sobre eles (BRIGG; BURKE, 2016).
A disseminação de informação para pessoas comuns permitiu que elas mes-
mas tivessem acesso ao conhecimento. Líderes religiosos que manipulavam os
textos sagrados para seu interesse, e mesmo a dependência que as pessoas tinham
desses líderes por não terem acesso aos textos, começam a ser questionados e per-
dem parte do seu poder. Perceba como a invenção da prensa gráfica e a tipografia
desafiou os poderes estabelecidos.
Foi, no entanto, no século XVII que a preocupação de líderes religiosos e
políticos aumentou ainda mais, com o advento dos jornais. Os jornais passaram
a disseminar informações e a publicação de livros também cresceu de maneira
exponencial. Para muitos autores e historiadores, esse foi um momento de gran-
de ruptura na cultura e nas estruturas dos seres humanos. Marshall McLuhan,
analisando o impacto da cultura impressa sobre a cultura oral, afirmou que “os
impressos abriram uma fenda entre a cabeça e o coração” (BRIGG; BURKE, 2016,
p. 34). A transmissão de conhecimentos pela oralidade, no entanto, se manteve
importante, pois os livros não eram assim tão acessíveis para pessoas comuns.
As consequências inegáveis do advento da impressão, foram ponderadas por
Elizabeth Eisenstein que apontou dois aspectos:


Em primeiro lugar, as publicações padronizaram e preservaram o
conhecimento, fenômeno que havia sido muito mais fluido na era
em que a circulação de informações se dava oralmente ou por ma-
nuscritos. Em segundo lugar, as impressões deram margem a uma
crítica à autoridade, facilitando a divulgação de visões incompatíveis
sobre o mesmo assunto (BRIGG; BURKE, 2016, p. 37).

16
UNICESUMAR

Hoje se considera que o impacto da impressão foi um dos fatores, e talvez um


acelerador de mudanças culturais que já estavam em curso, e não necessariamente
o propulsor dessas mudanças. Por isso, o conceito de mídia é importante. Enten-
de-se por mídia, todo o conjunto dos meios de comunicação social de massa.
No contexto da invenção da impressão gráfica, além dos jornais e dos livros,
devemos considerar os serviços de correios, a impressão de mapas e os serviços
de entregas que ganharam força e se uniram aos jornais e livros em um contexto
que modificou a cultura.

EXPLORANDO IDEIAS

Os meios de comunicação se referem aos instrumentos ou à forma do conteúdo utilizado


para realizar o processo comunicacional. Então o envio de uma carta é também um meio
de comunicação. A produção de mapas impressos é também um meio de comunicação.
Por outro lado, o conceito de mídia está associado à comunicação de massa. Ou seja, quando
um meio de comunicação alcança um grande número de pessoas. A mídia é então o conjunto
desses meios de comunicação em massa. A mídia abrange a televisão, a imprensa, os satélites
de comunicação, os meios eletrônicos e telemáticos de comunicação.
Fonte: O Autor.

As primeiras folhas de notícias foram publicadas na Alemanha em 1609, e entre 1620


e 1630 abriram jornais na Itália, na França e na Inglaterra e em 1788 aconteceu a
fundação do The Times nos Estados Unidos, ainda no calor da primeira constituição
americana. A criação de jornais levou a profissionalização da imprensa, logo os assun-
tos a respeito da liberdade de imprensa começaram a ser discutidos.
Foi somente com a chegada da corte portuguesa ao Brasil em 1808, é que as
impressões de jornais começaram a ser autorizadas, primeiro com os informes da
corte, também a Gazeta do Rio de Janeiro começa a circular. A Gazeta do Rio de
Janeiro era uma cópia da Gazeta de Lisboa, que havia sido lançada para divulgar
os atos do governo. A monarquia absoluta tinha procurado impedir ou dificultar
a disseminação de informações em Portugal.
Foi também em junho de 1808 que começou a circular o que se considera de
fato o primeiro jornal do Brasil, o Correio Braziliense. Este jornal crítico ao go-
verno estabelecido no Brasil era editado em Londres, por Hipólito José da Costa,
o jornalista mais importante do período pré independência (MOLINA, 2015).

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UNIDADE 1

Hipólito teve grande importância na preparação do ambiente social para o


estabelecimento da república no Brasil. O seu jornal buscava produzir consciên-
cia política, diferente de outros movimentos revolucionários, Hipólito acreditava
na participação do povo na política através do voto. Apontava para a necessidade
de um objetivo comum que pudesse dar identidade ao país (MOLINA, 2015).
O Correio Braziliense foi veiculado até o ano de 1822, sua existência é marcada
por críticas à monarquia e acordos que permitiram o jornal continuar circulando.
Liberações e censuras fizeram parte do primeiro jornal brasileiro e também o
próprio Hipólito é uma figura histórica ambígua, sendo odiado e respeitado. Sem
dúvida o Correio Braziliense é uma referência para a imprensa livre no Brasil.
Os meios de comunicação criam uma esfera pública de discussão. Isso significa
que os temas que são abordados pelos jornais, pela televisão e pelo rádio, passam a
ser discutidos pelas pessoas que têm acesso a essas informações. Esse é um aspecto
importante para a vida de uma sociedade. Ao levantar determinados temas, diferentes
interesses passam a ser questionados. Por exemplo, se um jornal aponta irregularida-
des em um pagamento de um governo, e a população toma ciência dessas informações
passa a controlar e a exigir esclarecimentos, ou começa a desconfiar dos governantes.
Por isso, as empresas de comunicação são concessões públicas, ou seja, o gover-
no que autoriza e concede às empresas privadas, o direito de explorar essa ativida-
de. As relações entre os interesses públicos e privados estão sempre em negociação
ou conflito nessa atividade. Vamos a partir de agora, aprofundar essa discussão.

18
UNICESUMAR

No século XVI, um frade católico, a partir de sua leitura das Sagradas Escrituras,
passou a questionar a prática e os ensinamentos da Igreja Católica. Especialmente
a venda de indulgências, que consistia no pagamento monetário pelo perdão
espiritual dos pecados. Em 1517, Martinho Lutero publicou as suas 95 teses que
criticavam a prática da Igreja e pretendiam reformá-la. As ideias de Lutero foram
amplamente divulgadas e ganharam projeção e permanência justamente pela
possibilidade de impressão em grande quantidade que a prensa de Gutenberg
proporcionava. Esse movimento ficou conhecido como a Reforma Protestante, e
teve grandes impactos na cultura e na estrutura de muitas sociedades ocidentais.
Uma das grandes ideias de Lutero era a do sacerdócio geral de todos. Ou seja,
que todos os cristãos deveriam ter acesso às Sagradas Escrituras e deveriam com
seus dons e talentos servirem a Deus, como um sacerdote. Essa ideia especialmen-
te desagradava a igreja por tirar poder daqueles que concentram a informação.
A grande obra impressa de Gutenberg foi uma Bíblia Sagrada que se espalhou
rapidamente pela Europa. Além disso, o Catecismo menor de Lutero e muitos
outros de seus escritos passaram a ser publicados e amplamente divulgados.
Mas o que a Reforma Protestante tem a ver com comunicação social ou com
os meios de comunicação?
A questão que quero sublinhar com essa história, é que a divulgação impressa
da Reforma Protestante, por livros, jornais e panfletos, constituiu pela primeira
vez um debate social que questionava abertamente um poder instituído. As ideias
de Lutero fizeram com que pessoas comuns passassem a questionar a Igreja e
exigir mudanças. As conversas nas casas, nos ambientes públicos, nos bares e por
todos os lados estava impregnada dessa discussão. Até então, o debate público era
dominado pelos poderosos, a igreja, a nobreza e os governantes.
Outros insurgentes considerados hereges reformadores foram facilmente si-
lenciados antes de Lutero, exatamente porque suas ideias eram divulgadas apenas
pela oralidade e seus escritos não possuíam muitas cópias que permitisse a disse-
minação. A divulgação impressa das ideias de Lutero em grande escala, criaram
o ambiente para que as ideias reformistas avançassem.
A divulgação impressa deu origem a uma Esfera Pública de discussão. Os tex-
tos impressos de Lutero trouxeram a possibilidade de que outras pessoas que não
faziam parte do clero tivessem acesso à essa discussão e pudessem se posicionar.
A tradução da Bíblia para um dialeto acessível a pessoas menos cultas, ampliou
o acesso direto às Escrituras e deu força para a Reforma. A Bíblia de Lutero teve

19
UNIDADE 1

papel fundamental na alfabetização na Alemanha e ainda se constitui peça im-


portante no estabelecimento de um padrão para a língua Alemã que tinha muitos
dialetos (BRIGG; BURKE, 2016).

Figura 2: A Bíblia de Lutero / Fonte: Schleese, T. Lutherbibel von 1534. 1999. 1 fotografia. Disponível
em https://commons.wikimedia.org/wiki/File:Lutherbibel.jpg. Acesso em 04 abr. 2022.

Descrição da Imagem: Na imagem aparece uma fotografia com a Bíblia de Lutero, de 1534, que foi tradu-
zida para o alemão. Um livro envelhecido em fundo preto. O livro está aberto na primeira página. Do lado
esquerdo tem anotações feitas a mão e uma gravura pequena centralizada na parte superior, acima dos
escritos. Na página da direita tem uma impressão com textos em alemão, no centro, cercada de gravura.

20
UNICESUMAR

O processo de conscientização e de crítica à autoridade, que se constitui em uma


esfera pública, no entanto não aconteceu de uma hora para outra, por um longo
período, com avanços e retrocessos, com censura e perseguição os meios de co-
municação foram se estabelecendo como um instrumento de discussão e reflexão
social (BRIGG; BURKE, 2016).
A Reforma protestante ensinou os governantes sobre o poder dos meios de
comunicação que passaram a utilizar a comunicação e a esfera pública para apoiar
movimentos e guerras políticas. No entanto, a fragmentação do poder provocado
pelos efeitos da Reforma impossibilitou que os governos controlassem totalmente
a impressão gráfica, especialmente na Europa ocidental (BRIGG; BURKE, 2016).
Os avanços tecnológicos como os telégrafos, o correio, o telefone, as câmeras de
vídeo, o rádio e a televisão, ampliaram esse espaço de divulgação e acabaram por criar
um infinito mar de informações e faz parte da construção cultural de nossos dias.
Existe nesses meios um aspecto público e um privado, que é interessante refletirmos.
Os serviços de radiodifusão possuem um aspecto de serviço público, no sen-
tido de que servem à sociedade com a divulgação de informações relevantes. “O
serviço de radiodifusão utiliza meios físicos para a transmissão de sons e imagens,
ocupando o espectro eletromagnético” (SCORSIM, 2000, p.162). A radiodifusão,
portanto, se refere às transmissões de rádio e da televisão também.

NOVAS DESCOBERTAS

Quer entender melhor como funcionam as ondas eletromagnéticas que per-


mitem que o rádio e a televisão enviem seus sinais? Então assista o vídeo a
seguir:

O espaço de transmissão no campo eletromagnético é limitado fisicamente, por


isso, nem todos que querem poderão utilizar esse espaço de transmissão. Esse é
um dos motivos pelos quais o espaço eletromagnético precisa ser controlado pelo
estado. O estado precisa disciplinar a utilização desse espaço. Este controle estatal
se dá mais por fatores técnicos do que políticos (SCORSIM, 2000).

21
UNIDADE 1

ESPECTRO ELETROMAGNÉTICO

Controle Máquina Elementos


AM FM TV Radar Remoto Lâmpada Sol de Raio-X Radioativos

Ondas de Rádio Infravermelho Ultravioleta Raio-X Raio Gama

LUZ VISÍVEL
Ondas do Ondas do
tamanho tamanho
de um prédio de um átomo

Figura 03: Espectro Eletromagnético

Descrição da Imagem: A imagem apresenta um gráfico do Espectro Eletromagnético. Da esquerda para


a direita apresenta as ondas da maior para a menor. Na sequência aparecem as ondas de Rádio: AM, FM,
TV e Radar. Depois as Infravermelhas representadas por um controle remoto de televisão. Bem no meio
do gráfico aparece o espectro visível aos olhos representado por uma lâmpada. Mais a direita aparece os
raios ultravioleta representado pelo sol, e os raios-X representados por uma máquina de raio-X, e por fim
os Elementos Radioativos que utilizam os raios Gama. Na parte inferior do gráfico, do lado esquerdo apa-
rece uma imagem de prédios e na direita o desenho de um átomo, representando o tamanho das ondas.

No caso brasileiro, é a Constituição Federal que outorga à União a competência


para explorar diretamente, ou indiretamente, através de autorização, permissão
ou concessão os serviços públicos de radiodifusão (SCORSIM, 2000). É aí que
se estabelece a relação entre o público e o privado.
As redes de rádio e televisão são concessões de um espaço eletromagnético
que é público. Porém mais do que uma simples questão técnica, o monopólio
estatal para a concessão de espaço de radiodifusão também se dá por aspectos
que interessam à constituição política de um Estado Democrático. Nesse sentido,
ponderou-se que deixar a exploração deste espaço limitado meramente à lógica
econômica poderia afetar a diversidade das manifestações culturais ou mesmo
impossibilitar o acesso da comunidade a um determinado tipo de informação.

22
UNICESUMAR


O objetivo do serviço público de radiodifusão tem importância vital
para o funcionamento do Estado Democrático de Direito, pois en-
volve a liberdade de expressão, de informação, o pluralismo político
e a cultura do país. A representação e apresentação da realidade é
feita pelos meios de comunicação (SCORSIM, 2000, p. 163).

Ao conceder à iniciativa privada o direito de explorar comercialmente as rádios e a


televisão, a Constituição estabelece como prerrogativa a liberdade de expressão. Con-
cedendo o direito da livre expressão cultural e política, de outro lado existe o direito
público de receber informações verdadeiras e pertinentes. Nessa relação entre a inicia-
tiva privada, a sociedade e o Estado, o Estado tem a função de controle. A renovação
da concessão se dá a cada 10 anos para as rádios e 15 anos para as televisões. A não
renovação da concessão ou permissão está condicionada à aprovação de no mínimo
dois quintos do Congresso Nacional, e a extinção da concessão antes do vencimento
do prazo só poderia se dar mediante decisão judicial.
A Constituição ainda outorga ao Congresso Nacional a autoridade para fiscalizar
os meios de comunicação, contudo esta é uma tarefa que, segundo Scorsim (2000) o
Estado não dá conta de realizar, e nem tem mecanismos para tanto. Ao abrir mão de
sua tarefa constitucional de controle, o Estado delega às próprias empresas privadas
que zelem por suas obrigações constitucionais. No entanto, Scrosim (2000) aponta
para a incapacidade de uma empresa capitalista que obtém seus recursos através de
anúncios publicitários, realizar esta tarefa. Autores mais críticos como Moraes, Ra-
monet e Serrano (2015) chegam a afirmar que os meios de comunicação atualmente
geram problemas para as democracias ao invés de sustentá-las.


Costumamos pensar que os meios de comunicação são essenciais
à democracia, mas, atualmente, eles geram problemas ao próprio
sistema democrático, pois não funcionam de maneira satisfatória
para os cidadãos. Isso porque, por um lado, se põem a serviço dos
interesses dos grupos que os controlam e, por outro, as transforma-
ções estruturais do jornalismo – tais como a chegada da internet e
a aceleração geral da informação – fazem com que os meios sejam
cada vez menos fiáveis ou menos úteis à cidadania (MORAES, RO-
MANET, SERRANO, 2015, p.52).

23
UNIDADE 1

PENSANDO JUNTOS

Minha visão é que por um lado deve-se desconfiar de tudo que uma emissora de televisão
transmite. Precisamos nos perguntar, quais os interesses estão por trás desta forma de
apresentar a realidade. E por outro, não podemos acreditar que o fim das concessões
para a iniciativa privada nas comunicações, ou a censura, seria um bom caminho para a
democracia, pois estaríamos confinados apenas à visão e aos interesses dos grupos que
estão no poder. Uma sociedade instruída terá capacidade de avaliar os interesses e cons-
truir suas próprias convicções.
Fonte: O Autor

As inovações tecnológicas trouxeram grandes revoluções na maneira de nos co-


municarmos, mas também foram modificando as estruturas de poder das nossas
sociedades. A partir de agora, vamos navegar pelas inovações com o rádio e a
televisão e compreender dentro do contexto histórico, o impacto que elas causa-
ram nas pessoas e nas estruturas sociais.
No início as tecnologias comunicativas eram vistas como substitutos piores
para a impossibilidade de estar presente para se comunicar. O envio de cartas e
volumes por longas distâncias cumpria um papel que de fato não empolgava a
nobreza que fazia uso desses serviços. Enviar correspondências e objetos a cavalo,
ou por navio, era demorado.
No entanto com avanço das tecnologias como os telefones houve mais entusiasmo,
mas foi sem dúvida o rádio, ou seja, a possibilidade de transmitir mensagens sem fios,
é que revolucionou as possibilidades de comunicação em massa e à distância.
As comunicações passam a cumprir um papel próprio, não apenas de enviar men-
sagem, mas os próprios meios moldam as mensagens. Marshall McLuhan (1974)
afirma que o meio é a mensagem. Ou seja, cada meio tem características e atuam
sobre nossos sentidos e sensibilidades, moldando a mensagem. Mais do que isso, as
sociedades se estruturam e se reorganizam a partir dos meios de comunicação de
massa. O rádio e a televisão, especialmente, organizam os espaços da própria casa.
A sala se organiza com os sofás virados para a televisão. Os horários das
novelas definem outros aspectos da vida como o horário do campeonato de fu-
tebol, ou a hora que a dona de casa vai estar em casa ou pode sair. Mais do que
isso, nós fomos nos acostumando com um modo de pensar e sentir a partir das
dinâmicas televisivas.

24
UNICESUMAR

Telégrafo

O Telégrafo foi a primeira grande invenção das comunicações a partir da energia


elétrica. Este aparelho envia mensagens a distância por meio de fios. Os primei-
ros telégrafos começaram a funcionar na década de 1830. Na Grã-Bretanha um
modelo com seis fios e cinco agulhas transmitia mensagens que apontavam para
as letras, formando as palavras. Neste mesmo tempo, nos Estados Unidos, Samuel
Morse trabalhava em seu próprio modelo e desenvolveu uma linguagem de comu-
nicação conhecida como Código Morse. Em 1943, o governo americano contratou
Morse para que ele construísse a primeira linha telegráfica de longa distância. Ela
tinha 35 quilômetros e ligava Baltimore a Washington (BRITANICA, 2021).

Figura 04: Tabela de Código


Morse

Descrição da Imagem: A imagem mostra uma folha envelhecida contendo uma tabela com quatro colu-
nas. Na parte superior da folha está o título “Tabela de Código Morse” escrito em inglês e com caracteres
japoneses. Na primeira e na terceira colunas estão as letras do alfabeto, de A a Z, e números de 0 a 9. Na
segunda e na quarta coluna estão os códigos morse referentes a cada letra e número. Os códigos morse
são representados por bolinhas e tracinhos. Por exemplo, o código morse para a letra A é um pontinho
e um tracinho. Na parte de baixo da tabela tem uma linha especial para o código SOS.

25
UNIDADE 1

A invenção foi recebida com entusiasmo e prometia tirar a humanidade da “tira-


nia da distância”, o mundo distante e desconexo estava com os dias contados. O
primeiro-ministro britânico saudou a novidade afirmando que ela havia “reunido
toda a humanidade em um grande nível, em que se podia ver [sic] tudo que é feito
e ouvir tudo que é dito, e julgar cada política adotada no exato momento em que
os eventos aconteciam” (BRIGGS; BURKE, 2016, p. 214).

Figura 05: Telégrafo pertencente à Marinha Real Britânica.

Descrição da Imagem: A imagem traz um telégrafo antigo que está sobre uma mesa de madeira escura
em um canto da parede de madeira clara. A esquerda um papel branco com uma tabela e na parte superior
da imagem, fixadas na parede estão vários cabos e aparelhos transmissores antigos.

Em 1880, já havia uma indústria produzindo aparelhos e estruturas de transmissão, e


foram instalados cabos submarinos sob o Oceano Atlântico, com mais de 4.600 qui-
lômetros. Apesar do entusiasmo do premier britânico, ainda não se podia dizer que
toda a humanidade estava desfrutando da novidade, mas sem dúvida, os políticos e os
governos dos países fizeram uso estratégico da nova ferramenta de comunicação, es-
pecialmente nas muitas guerras em que estavam envolvidos (BRIGGS; BURKE, 2016).

26
UNICESUMAR

Telefone

O telefone por sua vez, foi recebido com mais incredulidade. Em 1876, quando
Graham Bell fez uma transmissão a longa distância para seu assistente que estava
a 3,2 quilômetros, chegava-se a afirmar que ele era desnecessário, e que se vivia
bem sem ele. A conversa com o assistente, é emblemática sobre a compreensão
limitada da invenção naquele momento. Bell teria dito algo como “sua presença
está sendo solicitada aqui”. Ou seja, a mensagem era um chamado para estar
presente (BRIGGS; BURKE, 2016).

Figura 06 - Fotografia Publicitária do Primeiro Telefone

Descrição da Imagem: A imagem, uma fotografia em preto e branco, apresenta ao centro um homem
branco, calvo e com expressão séria, vestindo terno e gravata. Este homem está segurando com a mão
direita uma espécie de cone que encaixa no ouvido e está diante de um outro cone próximo a sua boca.
Na parte de baixo da imagem está escrito em inglês, Primeiro Telefone de Bell.

27
UNIDADE 1

No entanto, o telefone ocupa um lugar importante na pré-história da radio-


difusão, isso porque se associava sua utilização muito mais ao entretenimento do
que como uma ferramenta de trabalho. Nos EUA chegaram a produzir programas
com notícias e canções para serem enviadas por telefone. Pessoas podiam pagar
músicos para cantarem para elas ao telefone.
Algo que soa extremamente curioso, se pensarmos na utilização dos telefones,
no dia-a-dia da vida profissional, e a partir dos smartphones o fato de estarmos
acessíveis em qualquer lugar durante as 24 horas do dia. O serviço telefônico
através do oceano Atlântico começou em 1927. Os primeiros celulares aparece-
ram no final dos anos 1970.

Rádio

Muitos avanços em pesquisas de diferentes pessoas em diferentes lugares do mundo


permitiram que o rádio fosse criado. Assim como outras invenções, o potencial da
novidade era questionado. Especialmente porque ele era visto apenas como uma me-
lhoria do telégrafo, porém sem a necessidade de fios. O que facilitava muito a comuni-
cação militar com navios que estavam navegando e através de grandes distâncias em
terra firme. No entanto, enquanto visto como substituto do telégrafo ele apresentava
desvantagens, pois a mensagem (no início todas em Código Morse) poderia chegar
a outro destino, se um outro aparelho sintonizasse na mesma frequência.
Na década de 1890, o italiano Guglielmo Marconi melhorou os aparelhos de
transmissão sem fio e realizou as primeiras transmissões a longa distância em
1896. Era o início da Radiotelefonia, ou seja, a ideia do envio de mensagens de um
ponto a outro sem a necessidade de fios. No entanto, isso ainda não era o Rádio,
como meio de comunicação de massa (FERRARETO, 2007).
O russo-americano que mudou a mentalidade quanto às possibilidades
das tecnologias de radiotelefonia, foi David Sarnoff. Veja o texto tirado de
um memorando interno da empresa Marconi Company, de 1916 e que pode
ser encontrado em sua biografia:


Concebi um plano de desenvolvimento que poderia converter o
rádio em um meio de entretenimento doméstico como o piano ou
o fonógrafo. A ideia consiste em levar a música aos lares por meio
da transmissão sem fios.

28
UNICESUMAR

Mesmo que isto já tenha sido tentado no passado mediante o uso de


fios, seu fracasso deveu-se a que os cabos não se prestam para este
fim. O rádio, ao contrário, faria isto facilmente. Poder-se-ia instalar,
por exemplo, um transmissor radiotelefônico com um alcance com-
preendido entre 40 e 80 quilômetros em um lugar determinado em
que seria produzida música instrumental ou vocal ou de ambos os
tipos… Ao receptor poder-se-ia dar a forma de uma singela caixa
de música radiotelefônica, adaptando-a a vários comprimentos de
onda de modo que seria possível passar de uma a outra apenas fa-
zendo girar uma chave ou apertando um botão. 

A caixa de música radiotelefônica possuiria válvulas amplificadoras


e um alto-falante, tudo acondicionado na mesma caixa. Colocada
sobre uma mesa na sala, fazendo-se girar a chave escutar-se-ia a mú-
sica transmitida… O mesmo princípio pode ser estendido a muitos
outros campos, como por exemplo escutar, em casa, conferências,
que resultariam perfeitamente audíveis. Também poder-se-ia trans-
mitir e receber simultaneamente acontecimentos de importância
nacional (LYONS, 1966, p. 180 Apud FERRARETO, 2007, p. 51).

A primeira emissora de rádio só surge quatro anos após a previsão de Sarnoff,


é a KDKA em Pittsburgh no ano de 1920. A primeira grande votação foram as
eleições presidenciais norte-americanas. Foi um sucesso que levou milhares de
pessoas a comprarem um receptor de rádio.
Em 28 de Agosto de 1928, a rádio WEAF transmitiu o anúncio de um edifício
de apartamentos. Foi o primeiro comercial pago em rádio e isso mudou tudo. As
companhias de comunicação que ganhavam dinheiro com tarifas nos serviços
de telégrafos e telefonia passaram a investir na Rádio.
Com o passar do tempo surgiram diversas emissoras, e a rádio passou a afe-
tar a vida quotidiana como nenhuma outra inovação tecnológica o fizera. Os
programas passaram a incluir um grande número de entretenimento (músicas,
novelas, programas de humor, notícias, esportes, comerciais...).
A Grande Depressão americana aumentou as audiências do rádio, pois era
um meio de comunicação barato, entre os anos de 1930 a 1933 venderam-se 4
milhões de rádios nos EUA. A Segunda Guerra Mundial foi coberta por repór-
teres no exterior, narrando com precisão e com sons os horrores da guerra. Entre
os anos 1930 e 1940, viveu-se a época de ouro do rádio.

29
UNIDADE 1

Televisão

A televisão inaugurou uma nova forma de olhar e compreender o mundo. A


televisão transformou a vida cotidiana e também o discurso dos meios de comu-
nicação de uma maneira profunda, como veremos mais adiante.

Figura 07: Mulher assistindo TV na Alemanha

Descrição da Imagem: Imagem representa uma fotografia envelhecida de uma mulher branca que está
sentada de perfil à direita da foto, com um vestido de veludo comprido e com um corte de cabelo curto.
Ela está assistindo televisão em um aparelho que são duas caixas grandes. A caixa inferior é maior e possui
oito grandes botões. A caixa superior tem uma tela pequena de 14x18 centímetros. O aparelho ocupa
metade da imagem e está sobre uma mesa de madeira.

O começo da televisão se dá ainda no final dos anos 1920, quando já era possível
enviar uma imagem e um sinal sonoro através das ondas de rádio. Porém é em
1936, que a British Broadcasting Corporation (BBC), do Reino Unido, lançou o

30
UNICESUMAR

primeiro programa de TV do mundo. Os sinais de televisão podem viajar como


ondas de rádio ou através de cabos (BRITANICA, 2021).
Foi depois da Segunda Guerra Mundial que o aparelho de TV se popularizou,
no final dos anos 1940 e na década de 1950. O Brasil foi o primeiro país da Amé-
rica Latina a ter uma emissora de televisão. A TV Tupi-Difusora, do empresário
Assis Chateaubriand, realizou sua primeira transmissão em 18 de setembro de
1950 em São Paulo (BRITANICA, 2021).
A publicidade sempre foi fundamental para a Televisão, e essa relação modi-
ficou a forma como as pessoas “veem” os produtos e sua relação com o consumo,
como aprofundaremos adiante.
Com o surgimento da internet, novas mídias surgiram, e também se construiu
uma nova forma de interação entre os diferentes meios de comunicação. Sempre
que surgia um novo meio, muitos acreditavam que os outros iriam desaparecer,
mas a história nos mostra que isso não aconteceu, pelo contrário, os meios come-
çaram a interagir uns com os outros criando o que se chamou de convergência
midiática, como veremos a seguir.
Imagine que você está assistindo ao noticiário na televisão aberta, e no final da
notícia a apresentadora o convida para acessar mais detalhes do caso apresentado
acessando a página do jornal na internet através de um QR-CODE. Então nessa
página, existe um texto complementar, e no meio do texto aparece um link para
um Podcast com uma mesa redonda de especialistas sobre o assunto.
Ou então, você está à espera do lançamento do último filme de uma série de
super-heróis que você acompanha a muito tempo. Antes do lançamento do filme
no cinema, os youtubers que você acompanha já começam a dar falar sobre o
filme, apresentar suas teorias. Um programa de rádio que você ouve pelo aplica-
tivo do seu celular faz uma retrospectiva dos primeiros filmes e discute possíveis
finais para a série. O filme é lançado e você consegue assistir em um cinema em
shopping center na primeira semana. Quando sai do filme ainda impactado pelo
que viu, decide comer um hambúrguer num fast food. Quando vai fazer o pedido
percebe que existe um lanche que traz miniaturas dos heróis do filme como brin-
de. No mês seguinte ao lançamento do filme no cinema, acontece o lançamento
de um jogo com as histórias e a interface do filme.
Na segunda temporada de Stranger Things, a Netflix utilizou de uma estra-
tégia transmídia para criar interação, expectativa e envolver as pessoas com o
lançamento. Uma das ações foi a criação de um jogo sobre a série.

31
UNIDADE 1

Figura 08 - Jogo de Stranger Things / Fonte: https://i.ytimg.com/vi/8rK8iHcbMRM/maxresdefault.jpg

Descrição da Imagem: A imagem da abertura de um jogo apresenta ao centro e no topo, em letras gran-
des a frase: Stranger Things - The Game. Abaixo aparecem seis personagens do jogo em uma imagem
pixelada. Ao fundo o cenário escuro e sombrio.

A palavra convergência tem sido utilizada em muitos contextos, e no caso das mídias
pode se referir a junção ou união de diferentes meios de comunicação, e caso mais
evidente se dá a partir dos computadores que logo deixaram de ser comparados a
calculadoras ou máquinas de escrever e uniram as telecomunicações em um único
aparelho. Se pensarmos na quantidade de mídias que convergem em um smartphone:
rádio, televisão, cinema, telefone, e todas as possibilidades que a internet pode oferecer.
Quando a internet começou a se popularizar, ouvíamos dizer que não exis-
tiria mais papel, que os livros seriam apenas digitais, quando surgiu a televisão
diziam que o rádio morreria. Se no passado acreditávamos que a invenção de
uma nova forma de comunicação iria substituir a anterior, hoje sabemos que isso
não aconteceu. Pelo contrário, as diferentes mídias foram convergindo e criando
um espaço de comunicação muito mais intenso. É verdade que elas também se
modificaram, mas continuam a exercer um papel importante nesse mar de in-
formações no qual estamos inseridos.

32
UNICESUMAR

O conceito de convergência midiática, proposto por Jenkins (2015), está mais


associado ao fluxo de conteúdos através das diferentes mídias, assim como nos
exemplos apresentados no início deste capítulo.


Por convergência refiro-me ao fluxo de conteúdos através de múl-
tiplos suportes midiáticos, à cooperação entre múltiplos mercados
midiáticos e ao comportamento migratório dos públicos dos meios
de comunicação, que vão a quase qualquer parte em busca das ex-
periências de entretenimento que desejam. Convergência é uma
palavra que consegue definir transformações tecnológicas, merca-
dológicas, culturais e sociais… (JENKINS, 2015, p. 27).

Para Henry Jenkins (2015), devemos perceber a convergência midiática como um


fenômeno cultural que vai muito além desse fluxo de informações, ela modificou
a forma como os consumidores acessam produtos e serviços. Os consumidores
agora são incentivados a procurar pelas informações, transitando entre diferentes
meios e conteúdos que estão espalhados.


[...] a convergência representa uma transformação cultural, à medi-
da que consumidores são incentivados a procurar novas informa-
ções e fazer conexões em meio a conteúdos midiáticos dispersos
(JENKINS, 2015, p. 28).

A convergência entre as mídias é mais do que o fluxo de conteúdo entre as mídias,


ela quebra as barreiras entre quem é produtor, e quem é receptor de informação.
Esse fenômeno aproximou organizações da comunicação e pessoas comuns, in-
teragindo intencionalmente ou não para gerar conteúdo. Essa interação entre
consumidores e produtores nos diferentes meios pode ser chamada de cultura
participativa (JENKINS, 2015).
Esta convergência tem alterado a relação das pessoas comuns com as mídias.
A tecnologia permitiu acesso e o público agora quer participar dessa nova cultura.
Esse é um processo de mudança de uma sociedade midiática que era controlada
pelas empresas de mídias de massa, para uma sociedade em rede, onde as cone-
xões são feitas e desfeitas de acordo com o interesse dos participantes.

33
UNIDADE 1

No passado as redes de relacionamento eram da esfera privada, e nas co-


munidades locais normalmente duravam a vida inteira. A internet derrubou as
barreiras geográficas e as conexões hoje podem ser construídas com pessoas em
qualquer canto do mundo (CASTELS, 2002). Essa possibilidade de comunicação
cria uma cultura que não respeita os limites duros da geografia, são antes um mo-
vimento fluido de conectar para construir soluções que interessam e desconectar
quando não há mais interesse (BAUMAN, 2001).
A publicidade e o jornalismo tiveram que aprender a envolver os consumi-
dores nos seus processos. O caminho que antes era de mão única, ou seja, das
empresas para as pessoas, agora é de mão dupla.
No jornalismo a ideia de convergência diz respeito a habilidade de produzir
conteúdo original em formato multimídia. A convergência é o que acontece na
redação quando a equipe editorial trabalha em conjunto para produzir diferen-
tes produtos para múltiplas plataformas a fim de atingir a massa com conteúdo
interativo 24 horas por dia, 7 dias por semana (QUINN, 2005).
A convergência pode se dar de diferentes formas, Gordon (2003, p.64) apon-
tou cinco:
■ Convergência de propriedade: Neste caso, a mesma empresa possui todas
as plataformas: impresso, online, televisão e rádio.
■ Convergência tática: acontece quando um jornal impresso estabelece
uma parceria com um canal de televisão ou com um canal à cabo, com
a intenção de somar as audiências e aumentar a receita de todos. Neste
caso, as plataformas não pertencem a um mesmo grupo sendo empresas
diferentes. A notícia veiculada em um meio leva a audiência a acompa-
nhar os desdobramentos desse mesmo conteúdo em outra plataforma.
■ Convergência estrutural: é a forma de convergência que modifica a forma
da captação dos conteúdos modificando as estruturas de levantamento
de informações.
■ Convergência de coleta de dados: este é um dos aspectos mais polêmicos
quando se trata de convergência jornalística. Segundo Gordon, nenhum
outro tópico gera mais discussão do que este. Ele traz em foco o debate do
papel do “jornalista multimídia”, isto é, um profissional capaz de produzir
várias versões de uma mesma história a fim de divulgá-la em diferentes
plataformas.

34
UNICESUMAR

■ Convergência narrativa: A convergência de diferentes plataformas irá mo-


dificar a forma como os jornalistas contam as histórias. Cada meio possui
características bem próprias, linguagens que aproximam a comunicação.

Para a publicidade, o grande desafio é envolver o novo consumidor. O consu-


midor que quer participar dos processos produtivos. Que quer fazer parte das
histórias, que quer contar suas histórias e participar da elaboração e da produção
dos seus próprios produtos. Esse novo consumidor tem sido chamado de “pros-
sumidores”, uma junção dos termos produtor e consumidor.
A vivência nas redes sociais favorece essa interação ativa entre consumidores
e as marcas. Os novos aparelhos permitem uma interação que vai além da relação
com os produtos e seus aspectos simbólicos. Os novos consumidores agora têm
a possibilidade de emitir opiniões, reclamar, debater e produzir seus próprios
conteúdos (RODRIGUES; TOALDO, 2013).
As possibilidades de interação abrem espaço para uma publicidade que con-
versa mais diretamente com os consumidores, em uma via de mão dupla, e não
apenas ficar falando sobre si mesmo.

35
UNIDADE 1

Se a televisão foi responsável por modificar as narrativas que estruturam nossas


sociedades, sem dúvida, o ciberespaço modificou a forma como nos relacionamos
com os meios de comunicação. A partir dessa nova relação passamos de especta-
dores passivos, a coprodutores de conteúdo, dos produtos e das estruturas sociais
que orientam nossas vidas.
O grande ponto de ruptura das convergências midiáticas, como vimos no
capítulo anterior, é a possibilidade de interagir em tempo real, reagindo ou provo-
cando assuntos e modificando o rumo das narrativas midiáticas. Se num passado
muito recente, as grandes redes de televisão eram donas de um poder absoluto,
e no Brasil, talvez ainda sejam (AMORIM, 2015), as novas relações interativas
têm obrigado as grandes redes a mudarem seu discurso.
Neste capítulo quero destacar dois conceitos importantes para compreender
a interatividade no ciberespaço. Primeiro vamos compreender as características
desse novo consumidor que se relaciona com as empresas nos espaços virtuais.
Quais suas características e de que forma ele tem impulsionado as empresas a
interagirem de uma forma diferente. São os prosumers, como veremos a seguir.
E um segundo conceito que considero importante para entender a dinâmica da
convergência é a ideia de transmídia.

Prosumers

O consumidor de hoje quer também participar do processo produtivo, ele não está
mais disposto a apenas receber como espectador o que as empresas e a mídia têm a
lhes oferecer. Para definir esse novo consumidor Alvin Toffler (1980) no seu livro The
third wave utilizou o termo prosumer uma combinação de produtor e consumidor.


Os prosumers são consumidores engajados no processo de copro-
dução de produtos, significados e identidades. São consumidores
proativos e dinâmicos em compartilhar seus pontos de vista. Eles
estão na vanguarda em relação à adoção de tecnologias, mas sabem
identificar valor nos produtos escolhidos (FONSECA et al., 2008, p.5).

36
UNICESUMAR

No entanto, se deve confundi-los apenas como amantes de tecnologias ou early


adopters, aqueles consumidores que gostam de novidades. Os prosumers refle-
tem e estimulam mercados, através de sua participação e poder de comunicação,
sendo fundamentais para o processo de inovação nos produtos, nos serviços, mas
também na produção da cultura.
A interação para esses consumidores não é apenas algo superficial ou cosmé-
tico, ela é definidora do tipo de relação que o novo consumidor desenvolverá com
essa empresa. Os prosumers são um desafio tanto para a publicidade quanto para
o jornalismo. De maneira muito generalizada poderíamos dizer que essas duas
facetas da comunicação social estavam acostumadas a elas mesmas produzirem
suas narrativas e oferecê-las aos consumidores.
A publicidade evidencia os benefícios do produto ofertado, objetiva ou sub-
jetivamente, e o jornalismo contando as histórias de um determinado ponto de
vista. Quando o prosumer se depara com essas narrativas, ele não apenas as re-
cebe, mas emite suas opiniões e juízos sobre ela.
Vejamos a seguinte situação: uma empresa cria uma propaganda com um
conteúdo que coloca uma mulher negra em uma posição de inferioridade, sub-
missão e exploração. Utilizando essas palavras parece evidente que nenhuma
marca faria essa escolha, no entanto, quantas vezes a patroa foi representada por
uma mulher branca e a empregada doméstica por uma mulher negra. E quantas
vezes uma mulher de sucesso foi representada por uma mulher negra?
O que acontece, é que no passado, as pessoas, mesmo se incomodando, ou
percebendo essa situação não teriam meios para emitir sua opinião e mudar essa
narrativa. No entanto, a interatividade que a internet possibilitou, dá as ferramen-
tas para que os novos consumidores se manifestem, e esse movimento faz com
que as empresas reajam rapidamente.
Por outro lado, o prosumer quer ser o centro das narrativas jornalísticas. Para
que o fato tenha valor para esse novo consumidor, ele precisa estar conectado com
sua realidade. Precisa conversar com suas visões de mundo, e com seus valores.

37
UNIDADE 1

Uma das formas pelas quais os prosumers participam da produção das iden-
tidades e narrativas é através do processo que Jenkins (2013) chamou de trans-
mídia. Essa narrativa surgiu como uma resposta ao anseio de participação dos
novos consumidores. Para Jenkins (2013) a transmídia é uma nova estética que
permite a criação de um universo onde a história será contada. Leia a seguir a
explicação de Jenkins (2013) sobre a narrativa transmidiática:


A narrativa transmidiática é a arte da criação de um universo. Para
viver uma experiência plena num universo ficcional, os consumi-
dores devem assumir o papel de caçadores e coletores, perseguindo
pedaços da história pelos diferentes canais, comparando suas ob-
servações com as de outros fãs, em grupos de discussão on-line, e
colaborando para assegurar que todos os que investiram tempo e
energia tenham uma experiência de entretenimento mais rica (JEN-
KINS, 2013, p. 47).

É bem provável que você já tenha participado da construção de uma narrativa


transmidiática, mesmo sem perceber. Agora que você conhece o conceito, fique
atento e tente perceber como essas narrativas são construídas.

Fica aqui o meu convite para você ouvir o Podcast “Do


Repórter Esso ao Stranger Things”. Nele vamos falar sobre
a evolução das narrativas midiáticas. Como esse processo
passou de uma via de mão única para múltiplas vias com
várias direções.

O profissional da área de comunicação social precisa compreender que os meios


de comunicação que ele utiliza no seu dia-a-dia provocaram grandes mudanças
culturais e estruturais na sociedade. De certa forma, a comunicação social, os
modelos de sucesso e fracasso apresentados pela mídia, povoam o imaginário
social, moldando comportamentos e encaminhando decisões sobre a vida pessoal
e social. Os meios de comunicação formaram o que se chama de uma opinião

38
UNICESUMAR

pública, uma percepção coletiva sobre determinados assuntos e por isso a atuação
ética e responsável do profissional de comunicação é tão importante.
Coloque-se a partir de agora, diante dos meios de comunicação, ou seja, do
que você ouve no rádio, na televisão, dos filmes, não apenas com um receptor
passivo, mas procurando compreender os movimentos sociais e históricos do que
está sendo comunicado. Para o profissional de comunicação as redes sociais não
são apenas entretenimento e distração, são locais de pesquisa e observação social.
A ação prática que estou lhe propondo no final desta unidade, é perceber os
movimentos históricos e os discursos que emanam dos meios de comunicação.
Compreender o papel social que cada meio desempenha nos dias atuais. Por
exemplo, você precisa ouvir rádio, você precisa assistir TV aberta. Você pode
achar que o rádio é ultrapassado, mas ele tem um papel crucial na formação dos
posicionamentos políticos das cidades do interior do Brasil. Você pode julgar as
novelas como moralmente condenáveis, ou sem graça, ou mesmo irrelevante,
mas a verdade é que milhares de brasileiros organizam suas rotinas diárias para
estarem disponíveis na hora da novela.
Assista programas que nunca assistiu, ouça estações de rádio que nunca ouviu
e perceba as diferentes leituras do mundo que aparecem em cada uma. Um bom
profissional de comunicação, conhece as características e as linguagens de cada
meio, e o primeiro passo para adquirir esse conhecimento e ser um espectador
e ouvinte atento e crítico.
Esta atitude lhe servirá durante todo o curso. Procure desenvolver um senso
crítico, percebendo os movimentos sociais e históricos dos quais os meios de
comunicação fazem parte. Não se trata de criticar tudo, mas de se colocar diante
dos movimentos com uma postura de perguntar, a quem interessa, quais os ob-
jetivos, o que está por trás disso.
O conhecimento que você adquiriu nesta etapa lhe ajudará a perceber que
as mudanças na comunicação não são apenas tecnológicas, elas são ainda mais
sociais e culturais, surgindo como resposta aos nossos desejos de comunicação e
produzindo efeito sobre a forma como nos estruturamos como sociedade.
Continue a aprofundar seu conhecimento histórico sobre os meios de comu-
nicação e o próprio conteúdo da comunicação social, e perceberá a fonte rica de
inspiração e conhecimento sobre a sociedade que vivemos hoje.

39
Chegou o momento de se colocar no centro desse processo de aprendizagem
e refletir sobre os conhecimentos que adquiriu nessa etapa. Preencha o Mapa
de Empatia a seguir, externalizando os conhecimentos e as reflexões que esse
módulo lhe proporcionou:

Quais as reflexões, os pensamentos,


que vieram a minha mente durante
essa unidade?

O que eu ouvi e me marcou O que eu vi nesta unidade que


de alguma forma? eu nunca tinha visto antes?

Quais as coisas que eu produzi, ou falei,


que foram importantes para meu
aprendizado?
2
Definições e
Modelos de
Processos de
Comunicação
Dr. Rodrigo Robinson

Nesta unidade vamos navegar pelos caminhos da comunicação. Va-


mos conhecer as definições e os objetivos da comunicação, conhecer
os modelos e os elementos do processo comunicativo. Vamos refletir
sobre os aspectos da fidelidade no processo de comunicação e com-
preender a importância da comunicação e da aprendizagem para o
seu desenvolvimento pessoal.
UNIDADE 2

Vamos imaginar que você acordou certa manhã com o despertador do seu celular
tocando aquela música que já te deixa “cheio de gás”. Era um dia comum, mas você
estava animado. Pegou o celular, desligou o despertador e já dá uma olhadinha
nas mensagens (comunicação escrita). Respondeu algumas e escovou os dentes.
Ainda com os olhos meio embaçados, procurou pela pasta de dentes para dentes
sensíveis, que tem uma embalagem laranja (comunicação visual), ainda bem,
pois não precisou abrir bem os olhos para conseguir identificá-la.
Ao sair do banheiro tropeçou no cachorro que já estava feliz te esperando.
Fez um carinho (comunicação por gestos) e disse algumas palavras estranhas
que ele entendeu e quase perdeu o rabinho de tanto balançar. Chegou na cozinha
e viu que havia acabado o café. Resolveu então passar em uma padaria antes de
chegar ao trabalho. Na padaria disse um “bom-diaaa” animado para as atendentes
(comunicação falada) e escolheu no cardápio (comunicação ilustrada) um
café especial. Enquanto esperava, assistiu uma reportagem no jornal da manhã
(comunicação em massa) que passava na televisão que estava ligada no ambien-
te. De repente, subiu aquele cheiro do pão-de-queijo saindo do forno que te fez
salivar (comunicação química) e você pede um pra você.
Já no escritório sua equipe já te espera para uma reunião. Você entra animado
e cumprimenta todo mundo (comunicação por gestos, falada e por expressão
corporal). A reunião começa e o assunto é a divulgação de uma exposição de
arte moderna na cidade. Seus colegas começam a dar sugestões (comunicação
em grupo). Alguém pega o catálogo da exposição e mostra a peça principal (co-
municação impressa). Você se lembra da sensação que teve ao ver aquela obra
de arte pela primeira vez (comunicação pela arte) e relata para os participantes
da reunião (comunicação em grupo).
No final da reunião vocês decidem ir até o museu para ver detalhes da exposição,
e ao ver as peças percebem que elas têm texturas diferentes, que causam diferentes
sensações ao tocar (comunicação por tato). Essa experiência lhe dá um insight (co-
municação consigo mesmo, imaginação) para a comunicação do evento...
O seu dia continuou cheio e interessante, mas vamos parar por aqui essa história.
Você já pode perceber que nosso dia-a-dia está repleto de uma variedade imensa de
formas de comunicação. Nós costumamos achar que comunicação é apenas falada
ou no máximo escrita, mas na verdade, estamos imersos em comunicação. Você já
percebeu a variedade de recursos que utiliza diariamente para a comunicação? Quais
as formas de comunicação que você utiliza e não percebia, ou não dava atenção?

42
UNIDADE 2

Existem também diferenças entre os diversos tipos de comunicação que pode


ser interpessoal, entre as pessoas, ou massificado, que alcança um grande número
de pessoas. Pode ser público como é a comunicação nos meios de comunicação
de massa ou pode ser privada como em uma conversa pessoal.
No relato anterior vimos como os momentos em que estamos diante da comuni-
cação em massa, como diante da televisão, de um jornal ou do rádio, fazem parte da
nossa vida diária, e nem mesmo percebemos ou diferenciamos estes eventos de outros.
Nós acessamos esses veículos em busca de informação e entretenimento.
Uma pesquisa realizada no Brasil identificou que as pessoas acessam os meios
de comunicação principalmente em busca de informação e entretenimento. Se-
gundo a Pesquisa Brasileira de mídia (BRASIL, 2022), as pessoas responderam
com que finalidade acessam os seguintes meios de comunicação:
Televisão: 79% para se informar
67% para se divertir
Rádio: 63% para se informar
62% para se divertir
Internet: 67% para se informar
67% para se divertir
Revista: 58% para se informar
36% para se divertir
Jornal: 84% para se informar
24% para se divertir

A pesquisa ainda revelou que apenas 22% da população brasileira diz ler jornal
pelo menos uma vez por semana e apenas 7% fazem isso diariamente. Precisamos
entender esses números com relação às pessoas que acessam esses meios. No
entanto, uma coisa fica evidente, as pessoas procuram esses meios para infor-
mação e divertimento. Contudo, veremos que todo o processo de comunicação
tem a intenção de influenciar, e mesmo quando estamos nos divertindo ou nos
informando, precisamos ter isso em mente e compreender o papel que meios de
comunicação em massa desempenham em nossa sociedade.
Quando estamos diante de uma propaganda em um veículo de comu-
nicação em massa como a televisão, esse objetivo fica mais claro, mas toda
a programação de uma rede televisiva tem um objetivo. E aqui não se trata
de fazer um juízo de o quanto isso é bom ou ruim, mas de perceber o poder

43
UNIDADE 2

desses meios sobre o nosso cotidiano. Pergunte-se: “quantas vezes você assis-
tiu televisão sem se perguntar qual era o objetivo e simplesmente absorveu
o conteúdo que estava sendo transmitido?”
Agora é hora de você tentar perceber a intenção, o objetivo da comunicação
nos veículos de comunicação. Procure em pelo menos três meios de comunicação
de massa diferentes (televisão, rádio, jornal, revista, sites na internet...), informa-
ções sobre a dengue. Procure identificar o sentido, o objetivo da comunicação e
perceba se existe uma mensagem central, um objetivo que se possa dizer que é
comum a todas essas informações.
Agora perceba a diferença de “linguagem” nesses diferentes meios de comuni-
cação. De que forma aparecem as informações no rádio, na TV ou na internet. Ten-
te listar as diferenças e perceber as características de cada meio de comunicação.
Os diferentes meios de comunicação possuem características específicas
que moldam a própria mensagem. O rádio por exemplo tem uma caracterís-
tica muito mais local, embora existam redes nacionais, a comunicação é mais
simples, e os locutores pretendem fazer parte da vida diária dos ouvintes.
Como um amigo que traz informações.
Por outro lado, a televisão tem o poder da imagem e consegue estabele-
cer modelos de comportamento muito mais profundamente. No combate à
dengue, por exemplo, ela pode mostrar e tornar comum um comportamento
de cuidado e prevenção.
Essas diferenças moldam as mensagens e os próprios veículos aparecem com
poder de moldar comportamentos, de mostrar as imagens de sucesso, criar sonhos,
inspirar e inclusive guiar os pensamentos a respeito de determinados assuntos.
Diante dessa situação devemos sempre nos perguntar quais os interesses por trás
dessa notícia, desse filme ou dessa novela; qual a mensagem que estamos assimilan-
do, quem são os interessados em tudo isso. Não se trata de cair na paranoia das teo-
rias da conspiração, mas de saber que existem interesses e aprender a percebê-los.
Agora que refletimos um pouco sobre os meios de comunicação e a forma
com eles estão presentes no nosso dia a dia, escreva no seu diário de bordo. Quais
as diferenças entre a forma que a televisão e o rádio comunicam um mesmo
assunto? De que forma os meios de comunicação podem influenciar o compor-
tamento das pessoas? De que maneira o fato de estarmos conectados o dia inteiro
e sem interrupção afeta nossa percepção sobre a vida real?

44
UNIDADE 2

Descrição da Imagem: Na imagem aparecem dois homens com expressão facial engraçada de espanto e
dúvida. No lado esquerdo um homem de óculos e moletom segura com a mão esquerda um pote encosta-
do na orelha e ligado a um fio, que vai até outro pote que é segurado pelo outro homem que usa camisa
social, gravata borboleta e suspensório. O homem da direita também segura o pote encostado na orelha.

45
UNIDADE 2

Agora que você percebeu como estamos imersos em comunicação e como ela é
importante para o nosso dia-a-dia, vamos compreender os seus objetivos. Vamos
começar nossa viagem pela comunicação, definindo conceitos e percebendo os
objetivos da comunicação. Especialmente será importante perceber as diferenças
e aquilo que caracteriza a comunicação social.
O campo de estudos da comunicação é um campo vasto e multidisciplinar, e a
depender da compreensão teórica que se tem do que é comunicação, esse campo
pode ser maior ou menor. Se dedicam ao estudo da comunicação, a psicologia social,
a sociologia, a antropologia, a filosofia da linguagem e outros como a engenharia, por
exemplo (MESSAGI JUNIOR, 2018). Essa característica é percebida também pela
ausência de um marco fundador dos estudos da comunicação. Este é sem dúvidas um
campo interdisciplinar e com muitas possibilidades de interpretação.

NOVAS DESCOBERTAS

O principal evento de comunicação do Brasil reflete essa pluralidade teórica:


o INTERCOM, o Congresso da Sociedade Brasileira de Estudos Interdisciplina-
res da Comunicação. Você pode visitar o site do evento e navegar pelos dife-
rentes temas e trabalhos apresentados, explorando temas do seu interesse.

A compreensão mais básica e inicial sobre o processo de comunicação, apresen-


tada pela primeira vez por Aristóteles, é a relação entre um alguém que diz algo
para um outro alguém.
Nesse processo, já conseguimos identificar um Emissor, um Receptor e a
Mensagem que está sendo enviada. O esquema de Aristóteles permitiu muitos
estudos iniciais a respeito do processo de comunicação, contudo ele ainda ig-
norava um elemento fundamental para o que chamaríamos de Comunicação
Social, o Canal, ou o Meio. O Canal pelo qual a mensagem foi enviada, ou Meio
pelo qual a mensagem foi transmitida.
Em 1948, Harold Lasswell desenvolveu uma teoria sobre o processo de comu-
nicação que passou a incorporar outros elementos importantes para o estudo da
comunicação social, como o Canal, e a preocupação com o efeito que se pretende
com a comunicação. A estrutura proposta por Lasswell, estava baseada em cinco
perguntas: Quem / diz o que / em que canal / a quem / com que efeito?

46
UNIDADE 2

Quem? Diz o que? Em que canal? A quem? Com que efeito?

Figura 1– Processo de Comunicação de Harold Lasswell / Fonte: O autor

Descrição da Imagem: A figura traz um fluxograma, com cinco retângulos ligados por setas contendo
uma pergunta dentro de cada um deles. O primeiro retângulo traz a pergunta “Quem?”, o segundo a
pergunta “Diz o que?” o terceiro, a pergunta “Em que canal?”, o quarto, a pergunta “A quem?” e por último
a pergunta “Com que efeito?”.

Entre Aristóteles e Lasswell muita “água passou embaixo da ponte”. As estru-


turas da sociedade se modificaram, estruturas sociais e políticas. De reinados
totalitários para democracias, do mercantilismo ao capitalismo, e nesse pro-
cesso um fator que impactou profundamente as comunicações foi o surgi-
mento das Sociedades de Massa.
Talvez você já tenha ouvido falar nos termos Cultura de Massa ou Socie-
dade de Massa, vamos defini-los para que você possa compreender melhor
a importância da comunicação nesse contexto. A palavra ‘massa’ começa a
ser utilizada ainda no século XIX com as grandes migrações de populações
rurais para as cidades em busca de trabalho nas indústrias que estavam sur-
gindo, e mais tarde, no século XX a partir da influência do rádio, dos jornais
e dos filmes na vida das pessoas. Massa é um agrupamento de pessoas
que não se conhecem entre si e nem se organizam para alcançar algum
objetivo comum, são anônimos e de qualquer categoria social, mas que
de alguma forma têm seu comportamento influenciado de maneira
parecida (CORDEIRO ET AL, 2017).
A Sociedade de Massa pode ser compreendida como uma sociedade ur-
bana influenciada pela cultura de massa, em contraponto a uma sociedade
tradicional, mais rural e que era organizada pelas instituições tradicionais,
como a família, a religião e partidos políticos. A tecnologia da comunicação,
portanto, é definidora dessa nova cultura que é produzida industrialmente e
surge separadamente da vida diária das pessoas. A Cultura de Massa difun-
dida em larga escala pelos novos meios de comunicação em massa, se trans-
forma em uma instituição social e passa a competir com as instituições tra-
dicionais (família, religião e partidos políticos) (CORDEIRO ET AL, 2017).

47
UNIDADE 2

Essas instituições não são os prédios, as empresas ou as organizações, devemos


entender as instituições como um conjunto de regras (geralmente não escritas, mas
passadas de pessoa para pessoa) que orientam o nosso comportamento. As institui-
ções como a família e a religião nos orientam como agir em determinadas situações,
o que é aceitável, ou o que é condenável e isso direciona nossas vidas.
Então, você pode imaginar o impacto que teve o surgimento dessas novas
tecnologias de comunicação que passaram a difundir novas formas de compreen-
der a vida e de se comportar. A cultura de massa surge como um novo poder. Ela
passa a influenciar a vida das pessoas.
Para definirmos a Comunicação Social, precisamos levar em consideração
esse contexto de mudanças sociais e da presença de tecnologias que permitiram
a comunicação em massa. A mediação por essas tecnologias é fundamental para
delimitar o campo de atuação da comunicação social. Messagi Junior (2018, p.24),
assume “categoricamente que se não houver mediação por tecnologia, não se trata
de comunicação social”.
Assumimos então, que a Comunicação Social é o processo mediado por
tecnologias da comunicação que permitem a comunicação em massa. É
importante pensarmos sobre isso, pois uma mesma tecnologia as vezes pode ser
utilizada para comunicação em massa e às vezes para uma comunicação privada
e interpessoal. Vamos imaginar que você envia uma mensagem por WhatsApp
para uma amiga. Essa é uma mensagem privada e pessoal, não se trata de comu-
nicação social, certo? Por outro lado, se essa tecnologia for utilizada para enviar
mensagens repetidas para um grande número de pessoas, ela pode ser entendida
como comunicação social, ou mesmo comunicação em massa.
É nesse contexto que se estabelece a importância do canal, ou do meio, pelo
qual a mensagem é transmitida. Até então, o estudo da comunicação se concentra-
va na mensagem que estava sendo enviada, mas a partir dessas novas tecnologias,
o meio se torna mais importante do que a mensagem em si. Marshal McLuhan
(1969) um dos maiores estudiosos da filosofia da comunicação chegou à con-
clusão de que o meio é a mensagem. Mcluhan capturou a importância do meio
no processo de comunicação, não apenas como um canal para a mensagem, mas
como elementos que afetam a sociedade para além de suas características técnicas.
Nesse sentido, cada meio (o rádio, a televisão, o cinema, a internet...) tem suas
características próprias e influenciam profundamente a sociedade, muito além
das mensagens que por eles são transmitidas. Por isso, os meios se constituíram

48
UNIDADE 2

em si, um poder nas sociedades massificadas. Se o próprio meio tem o poder de


comunicar, de influenciar o comportamento, ele se torna mais importante do que
as mensagens por ele transmitidas. Os meios, portanto, têm o poder de influen-
ciar as massas, que se deixam seduzir de forma automática pelas outras pessoas
e especialmente pelos seus líderes (MESSAGI JUNIOR, 2018).

Figura 2 – Mãe e filha diante de um aparelho de rádio antigo

Descrição da Imagem: A foto retrata uma cena dos anos 1950, a esquerda um grande aparelho de rádio
antigo de madeira, ao centro da imagem uma mulher com uma menina no colo, olham para o rádio en-
quanto a menina está com a mão em um dos botões. Sobre o aparelho de rádio, que ocupa metade da
imagem, tem um prato com uvas e um vaso de vidro. Ao fundo ainda é possível identificar um aparelho
antigo de televisão.

A partir das discussões que fizemos até agora, podemos começar a pensar so-
bre o objetivo da comunicação. Para Aristóteles o objetivo da retórica (ou da
comunicação) é a persuasão. A retórica utilizaria todos os recursos disponí-
veis para persuadir (BERLO, 1985). Desde então, muitas teorias se dedicaram a
buscar compreender o objetivo da comunicação. A psicologia, por um período,
compreende a comunicação com apelos diferentes à mente e à alma, como se a

49
UNIDADE 2

informação fosse processada na mente e a persuasão se dirigisse à alma. Contudo,


essa divisão do ser humano não faz mais muito sentido na compreensão mais
holística e integral que se tem nos dias de hoje.
Essa compreensão levou a uma divisão dos objetivos da comunicação, que
ainda hoje está presente. Costuma-se dividir os objetivos da comunicação entre
informar, persuadir e divertir. Uma análise crítica sobre essa divisão é a ideia
de que elas pudessem ser independentes umas das outras como por exemplo, a
educação (informar), a publicidade (persuadir) e as novelas (divertir). Com base
nessa ideia tentamos categorizar os programas entre educativos e informativos,
o que na visão de Berlo (1985) é um erro.
David K. Berlo foi um teórico da comunicação americano. Em 1960, Berlo
expandiu o modelo de transmissão linear com o modelo de comunicação emis-
sor-mensagem-canal-receptor (SMCR). O seu livro “O Processo da Comunica-
ção” é um dos livros base desta disciplina.
Se formos levar em consideração as ideias de Mcluhan, essa divisão também
não faz muito sentido, pois o próprio meio tem suas características e constituem
a mensagem. Nesse sentido, entende-se que o objetivo da comunicação é influen-
ciar, ou persuadir como apontava Aristóteles.

EXPLORANDO IDEIAS

A televisão como um meio de comunicação de massa não pode ser compreendida apenas
como um intermediário para que uma mensagem seja enviada. O próprio veículo, a emissora
de televisão tem influência sobre a mensagem enviada. Então, por exemplo, escolher veicular
um anúncio na Rede Globo, no intervalo do Fantástico, tem um impacto diferente de se veicu-
lar o mesmo anúncio durante o programa do Datena na Bandeirantes. Outro exemplo é perce-
ber que o jornal transmitido pelo SBT, tem diferentes características do Jornal da Bandeirantes,
mesmo que o meio seja o mesmo, a televisão. Nesse sentido o meio é a mensagem.

Se considerarmos que o objetivo de toda e qualquer comunicação é influen-


ciar, e que não existe comunicação sem a intenção de influenciar, então se torna
importante pensar em quem está querendo influenciar (emissor), quem se quer
influenciar (receptor), e qual a intenção por trás da mensagem que se está trans-
mitindo. Então, mais útil seria compreender o comportamento do emissor e suas
intenções do que a mensagem em si.

50
UNIDADE 2

Na visão de Berlo (1985. p.20) deveríamos situar o objetivo da comunicação


no emissor e não na mensagem. Para compreender o objetivo da comunicação,
deveríamos empregar quatro critérios:

1. Não seja logicamente contraditório consigo mesmo;

2. Se concentre no comportamento; isto é, seja expresso em termos de


comportamentos humanos;

3. Seja específico o bastante para que possamos relacioná-lo com o real


comportamento de comunicação;

4. Seja coerente com os meios pelos quais as pessoas se comunicam.

Nas palavras de Berlo (1985, p. 22) a definição dos objetivos da comunicação:


Nosso objetivo básico na comunicação é nos tornar agentes influen-
tes, influenciarmos os outros, nosso ambiente físico e nós próprios,
é nos tornar agentes determinantes, é termos opção no andamento
das coisas. Em suma, nós nos comunicamos para influenciar – para
influenciar com intenção [itálico do texto original].

Se admitirmos que o objetivo da comunicação é influenciar o comportamento


das pessoas, então deveríamos nos preocupar também com a resposta, ou a reação
das pessoas diante desse objetivo. Então iremos perceber que uma comunicação
eficiente é aquela que deixa claro, que explicita as respostas específicas que se
espera daqueles que recebem nossas mensagens. Quanto mais entendermos os
objetivos da comunicação, mais poderemos influenciar as pessoas para se com-
portarem de uma determinada forma.
Por exemplo, uma mãe pode ficar muito brava com a ação de uma criança, e
brigar com ela, falar em voz alta. A criança irá perceber que fez algo de errado, no
entanto, se a mãe não falar claramente qual o comportamento que ela espera da
criança, é possível que ela não saiba exatamente o que deve fazer e dessa forma a
bronca terá pouco efeito em influenciar o comportamento da criança.
Então podemos admitir que a eficiência da comunicação está conectada ao
quanto somos capazes de evidenciar os comportamentos que esperamos da outra
pessoa, ou dos receptores de nossas mensagens. Na oratória, no jornalismo, na

51
UNIDADE 2

publicidade e em uma peça teatral é preciso especificar os efeitos que se pretende,


ou seja, as reações que se deseja provocar, os comportamentos que se deseja des-
pertar, só então ficará evidente o que se deve ou não comunicar (BERLO, 1985).
Por isso precisamos aprofundar o conhecimento sobre o processo comunica-
tivo e os elementos que fazem parte desse processo. Antes, contudo, de mergulhar
no processo comunicativo e esmiuçar os seus elementos, precisamos relembrar
que um processo é dinâmico e qualquer modelo que se pretenda definir é uma
“fotografia”, um recorte, e mesmo que possamos identificar e separar os elementos
para fins didáticos, a comunicação é dinâmica e acontece na interação.
Como mencionado anteriormente, um dos primeiros pensadores a se dedicar
a compreender o processo de comunicação foi Aristóteles. Em seu modelo, ele
previa a existência de um emissor (QUEM), de um receptor (A QUEM) e da
mensagem (DIZ O QUE).

Quem? Diz o que? A quem?

Figura 3 – Processo de comunicação / Fonte: Adaptado de Perez e Barion (2002)

Descrição da Imagem: Na imagem aparecem três formas alinhadas horizontalmente. A primeira é um


retângulo com a palavra “QUEM”, a segunda forma é uma seta apontando para a direita com a palavra
“DIZ O QUE”, e a terceira é outro retângulo com a palavra “A QUEM”.

Esse modelo se mostra insuficiente para compreendermos a comunicação nos


nossos dias, mas sem dúvida abriu caminhos para que os estudos da comunica-
ção se aprofundassem. Ele dá conta, no entanto, de explicar o processo de uma
conversa.
Imagine que José queira convidar Jenifer para ir ao parque com ele. Nesse
momento ele tem um objetivo com a comunicação, que é que Jenifer aceite seu
convite, mas para chegar nessa situação é preciso transformar essa vontade em
uma mensagem a ser enviada para Jenifer. Então José se utiliza de um código co-
nhecido pela Jenifer: a língua portuguesa. Ele a usa para formular sua mensagem,
e diz para Jenifer: “Você gostaria de ir comigo ao parque hoje à tarde?” A Jenifer é
capaz de compreender e decodificar essa mensagem. Ao fazer isso ela responde:
“Eu gostaria, mas infelizmente não poderei ir, pois terei aula hoje à tarde.”.

52
UNIDADE 2

Neste exemplo, além do emissor (José), do receptor (Jenifer) e da mensagem


(quer ir ao parque comigo?), identificamos ainda um código, ou seja, a linguagem
pela qual a mensagem foi transmitida. Berlo (1985) deu importância em seu
modelo para a codificação e a decodificação da mensagem. No exemplo acima, a
voz de José foi o codificador da mensagem, que foi decodificada pela capacidade
de ouvir e entender de Jenifer.

1. O modelo de Berlo (1985, p. 40) contempla:

2. A fonte;

3. O codificador;

4. A mensagem;

5. O canal;

6. O decodificador;

7. O receptor.

Contexto
Emissor Alô? Receptor

Mensagem

Canal

Código

Figura 4: Modelo de Comunicação / Fonte: adaptado de BERLO (1985)

Descrição da Imagem: Na imagem aparecem dois personagens conversando por meio de um “telefone”
feito com latinha e fio. No primeiro plano aparece o primeiro personagem com a palavra EMISSOR. Do lado
dele aparece um balão de diálogo com a palavra “Alô?” e perto dessa palavra tem a palavra MENSAGEM. Ao
fundo o segundo personagem segurando a latinha próximo ao ouvido, perto dele a palavra “RECEPTOR”.
Sobre a linha que liga as duas latinhas tem as palavras: CANAL e CÓDIGO.

53
UNIDADE 2

O modelo de Berlo (1985), introduz também a ideia de canal, ou seja, o inter-


mediário pelo qual a mensagem é enviada, e aponta para a importância dessa
escolha para o sentido da mensagem enviada. Esse modelo reforça a ideia de
que não existe comunicação sem um receptor capaz de decodificar a mensagem.
O modelo de Lasswell amplia a compreensão, não apenas da existência de um
canal, mas a ideia de que o canal é decisivo sobre o efeito, ou a intenção para a qual o
processo de comunicação está a serviço. Esse modelo reúne muitas das várias escolas
da comunicação, podendo ser entendido, especialmente nos seus quatro primeiros
passos, como um modelo básico de comunicação: Emissor, mensagem, canal, receptor.
Ao acrescentar a pergunta “com que efeito?”, o modelo se dedica ao fato de
que o processo de comunicação sempre tem um objetivo, que é maior que a
própria mensagem. A comunicação sempre tem uma intenção, que nem sempre
está expressa na mensagem em si.
A teoria da informação também forneceu um modelo baseado no estudo das
comunicações na segunda guerra mundial. Esse modelo, proposto pelos engenhei-
ros Shannon e Weaver, está focado no aspecto puramente técnico da transmissão
da informação sob o contexto de mensagens criptografadas (BAPTISTA, 2017).
Fonte de
ruído

Comunicador Transmissor Canal Receptor Destinatário

Mensagem Sinais Sinais Mensagem


emitidos recebidos
Figura 5 – Modelo do Ato comunicativo / Fonte: BAPTISTA, 2017, p.191

Descrição da Imagem: A imagem traz um fluxograma com cinco retângulos ligados por setas com as seguin-
tes palavras: Comunicador, Transmissor, Canal, Receptor, Destinatário. Abaixo da seta entre Comunicador e
Transmissor aparece a palavra Mensagem. Abaixo da seta entre Transmissor e Canal aparece a palavra Sinais
Emitidos. Sobre o retângulo Canal, aparece o termo Fonte de ruído. Abaixo da seta entre Canal e Receptor
aparece o termo Sinais recebidos. Abaixo da seta entre Receptor e Destinatário aparece a palavra Mensagem.

Este modelo dá destaque ao ruído que atua sobre o canal, às vezes modificando
ou dificultando a compreensão da mensagem. O ruído é qualquer interferência
que ocorre durante a transmissão da mensagem que dificulta a sua compreensão

54
UNIDADE 2

pelo receptor. O grande problema para os engenheiros estadunidenses era: quais


os efeitos do canal sobre o conteúdo? Eles se preocupavam em manter a integri-
dade da mensagem ao longo da passagem pelo meio técnico (BAPTISTA, 2017).
A codificação e decodificação de mensagens era um elemento estratégico
fundamental para as estratégias de guerra, por isso se dedicou muito esforço
nesse processo. A Máquina Enigma, utilizada pelos nazistas, lhes rendeu grandes
vantagens nos movimentos de batalha, pois mesmo as mensagens sendo inter-
ceptadas eram difíceis de serem decodificadas.

Figura 6 – Máquina Enigma utilizada para criptografia na Segunda Guerra Mundial

Descrição da Imagem: No centro da imagem está uma caixa de madeira aberta que acomoda a máquina.
Existem botões com as letras do alfabeto dispostas como em uma máquina de escrever. No lado esquer-
do da imagem sobre uma caixa de madeira acoplada estão dois rotores de metal. Na parte de cima da
imagem, dentro da tampa de madeira aberta, aparecem fios pretos, e na parte de baixo está gravado na
madeira o nome Enigma.

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UNIDADE 2

EXPLORANDO IDEIAS

Durante a Segunda Guerra Mundial os Alemães passaram a utilizar máquinas chamadas


Enigma, para criptografar as mensagens trocadas entre o comando, os navios e os exér-
citos espalhados pelos fronts de guerra. No entanto, um grupo de matemáticos e enge-
nheiros poloneses, em conjunto com a inteligência militar britânica, conseguiu elaborar
um modelo ainda mais avançado que conseguiu decifrar pela primeira vez decifrar os
códigos da Enigma. Depois da Enigma, os alemães desenvolveram uma máquina ainda
mais sofisticada que permitia criar códigos ainda mais complexos, ela era chamada de
B-Schreiber. Para decifrar esses novos códigos, foi necessária a invenção da famosa calcu-
ladora eletromecânica, conhecida como Bomb (Bomba). Ela foi inventada por Alan Turing,
reverenciado como o “pai da computação”. E essa invenção levou à criação do Colossus
– o primeiro dos computadores.
Fonte: Fernandes, 2022.

A partir da Escola de Frankfurt, com estudos de Adorno, Horkheimer, Marcuse


e outros, o sentido mais utilitarista das pesquisas empíricas sobre comunicação
começam a ser questionadas. A Teoria Crítica apontava que esses processos preci-
savam ser interpretados à luz dos aspectos históricos e das condições da produção
capitalista. Entendiam os meios de comunicação como instrumentos meramente
distributivos dos conteúdos da indústria cultural, totalmente comprometidos
com os valores mercadológicos, para gerar consumo e lucro (BAPTISTA, 2017).
Interessante perceber como a crítica da Escola de Frankfurt ainda estava muito
direcionada ao conteúdo e o efeito da comunicação, considerando meios e os veí-
culos de comunicação como meros meios para a transmissão de valores. Os seus
estudos surgem no contexto da emergência das mídias de massa e da cultura de
massa. Os teóricos dessa escola desenvolveram numerosas teorias sobre a domina-
ção econômica, política, cultural e psicológica da civilização industrial avançada.
A Escola dos Estudos Culturais por sua vez dá destaque ao receptor, que não
é mais entendido apenas como um mero receptor passivo, mas compreende a
produção popular de cultura e o processo de decodificação da comunicação em
massa, como parte importante do processo comunicativo. As pesquisas passam
a investigar a recepção dos meios massivos, com pesquisas de audiência, como
sujeitos engajados na produção de sentido (ESCOSTEGUY, 2001).
Mas quando pensamos nos nossos dias, temos que levar em consideração
o poder que os próprios meios de comunicação exercem sobre a sociedade. Os

56
UNIDADE 2

estudos da escola de Toronto, no Canadá, especialmente de Marshall McLuhan,


deram destaque ao poder dos meios sobre as mensagens. Para McLuhan, os meios
de comunicação são como extensões do próprio homem e por isso tem poder
sobre ele. Os meios de comunicação são determinadores do padrão de conduta
das sociedades, e por isso precisam ser estudados com profundidade.
Existem, portanto, diferentes modelos, com diferentes enfoques, mas eles
sempre apresentam alguns elementos em comum. Vamos aprofundar então a
compreensão sobre esses elementos e entender como se relacionam.
Com o aprofundamento dos estudos da comunicação, muitos estudiosos con-
seguiram elencar os elementos que fazem parte desse processo. Esses elementos
são os seguintes (CORDEIRO ET AL, 2017):
1. Emissor: O emissor é aquele que produz e emite a mensagem. Toda mensa-
gem tem um emissor, seja ele uma pessoa ou uma organização complexa que
envolva milhares de pessoas. O emissor é que possui intenções e objetivos no
processo comunicativo, aquele direciona intencionalmente a comunicação.
2. Receptor: O receptor é o destinatário da mensagem, quem a recebe e a in-
terpreta. Pode ser um indivíduo, um grupo ou um grande público. O recep-
tor durante muito tempo foi visto como um elemento passivo do processo
comunicativo, especialmente nos modelos de comunicação social por meio
de meios de comunicação de massa. Contudo os estudos culturais, e mais re-
centemente, os estudos sobre a comunicação através da internet, permitiram
uma visão de que a comunicação acontece através de múltiplas vias. Entendo
o receptor como parte ativa da decodificação das mensagens culturais.
3. Mensagem: A mensagem é o que é transferido para o receptor. Trata-se
de qualquer peça de comunicação, como uma aula, uma palestra ou um
e-mail. Não é o que o emissor quer dizer, e sim o que ele diz de fato. As
mensagens podem ser classificadas em informais/profissionais, sonoras,
audiovisuais, etc. Além disso, também podem ser divididas em temporais,
espaciais e espaço-temporais.
4. Signos: Os signos são os elementos de uma mensagem, como palavras, gestos
e imagens. Os signos podem ser verbais ou não verbais. O signo é uma coisa
que está no lugar de outra coisa para representar algo. Uma placa de trânsito
que simboliza o pare, uma fumaça que indica que existe fogo, ou um ícone
que representa o banheiro masculino. Eles são alvo do estudo da semiótica e
fundamentais para o processo de dar sentido para as mensagens.

57
UNIDADE 2

Estamos expostos diariamente a uma infinidade de signos que nos comunicam


muitas coisas. Um simples passeio pelas ruas da cidade, só é possível porque
conhecemos os signos que se apresentam nesses espaços. Os sinais de trânsito
nos ajudam a atravessar a rua com seguranças, mas se não vimos um carro se
aproximar podemos ouvir o som do motor e saber que ele está perto. Ainda iden-
tificamos as diferenças entre prédios comerciais e as casas, porque sabemos que
elas são diferentes, através das características de cada uma delas. A comunicação
não verbal é rica e muito mais complexa do que geralmente prestamos atenção.

Figura 7 – Comunicação não verbal nas ruas da cidade

Descrição da Imagem: A imagem é uma fotografia de uma rua de uma cidade urbana. No centro da
imagem está aruá com uma leve curva para a direita. Ao fundo uma igreja gótica antiga pode ser vista. Dos
dois lados da rua existem prédios antigos e novos com muitas placas. Existem carros estacionados dos dois
lados e pessoas caminhando nas calçadas. Na rua ainda é possível perceber trilhos de um bonde urbano.

5. Informação: As informações são nome técnico dado ao conteúdo da


mensagem. As informações podem ser muito ou pouco informativas,
dependendo do grau de novidade.

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UNIDADE 2

6. Sintonia: O processo de conexão exige certo grau de conexão entre emis-


sores e receptores, não quer dizer o simples entendimento da mensagem.
Refere-se ao fato de que o receptor precisa estar conectado física e psico-
logicamente à mensagem.
7. Código: Refere-se à linguagem em que a mensagem é transmitida. Toda
e qualquer linguagem falada e escrita é um código. No processo de comu-
nicação, é necessário que o emissor use um código conhecido do receptor.
O código pode ser visual, sonoro, tátil.
8. Retorno: O retorno ou feedback acontece quando o receptor responde
à mensagem se convertendo em emissor, enquanto o emissor original se
torna receptor. Inicia-se assim uma conversação, e a interação entre os
dois é maior. Os processos de comunicação no contexto multimídia tem
gerado uma comunicação constante, com grande interação entre emissor
e receptor.
9. Contexto: Toda a comunicação está inserida em um contexto, e o sentido
da mensagem depende desse contexto onde ela foi produzida. O contexto
pode ser compreendido em contexto interno da própria mensagem, e
o contexto externo como a situação psicológica, social, histórica, etc. A
comunicação exige interação entre as mentes, mas também física, en-
volvendo os aspectos intelectuais, semânticos, mas também concretos.
Quando a comunicação acontece pela palavra, existe um contexto verbal
e outro extraverbal, ou seja, das palavras em si, e as circunstâncias em que
foram utilizadas. Por exemplo, uma pessoa que está na sala de casa e diz:
“Feche a porta, João!”. Ela pode estar com frio, ou o barulho da rua pode
estar atrapalhando assistir televisão. As pessoas que estão vivenciando
aquele contexto são capazes de discernir esses elementos que vão além
das palavras.
10. Sinais: Os sinais pelos quais a mensagem é transmiti-
da podem ser gráficos, ondas sonoras, ondas luminosas, si-
nais fotográficos, sinais magnéticos e ondas eletromagnéticas.
Ou mesmo uma junção de vários deles.
11. Canal: O canal é meio físico que transporta os sinais do emissor até o
receptor. Se pensarmos em termos de comunicação social, os canais são
os meios de comunicação e também os veículos escolhidos. Os meios são
por exemplo a televisão, o rádio... e os veículos são as empresas, a Rede

59
UNIDADE 2

Globo e a Rádio Bandeirantes, por exemplo. A comunicação entre um


emissor e um receptor, na prática, muitas vezes acontece por uma cadeia
de vários canais. O que passa pelos canais de comunicação são os sinais
enviados pelo emissor. Isso pois a comunicação é o processo intelectual e
físico pelo qual uma dada mensagem, que tem uma informação e é cons-
tituída de signos retirados de um código, é transmitida de um emissor
para um receptor através de um canal, sob forma de sinais (CORDEIRO
ET AL, 2017, p.47).
12. Ruído: O processo de transmissão da mensagem pode ser atrapalhado
por algum sinal, é isso que chamamos de ruído. O ruído é uma interferên-
cia que afeta o canal de comunicação. O ruído pode ter naturezas diversas:
visual, sonora, etc. Ele pode ainda ser de natureza interpretativa, e nesse
caso seria um ruído semântico.
13. Repertório: O repertório é de extrema importância para a comunica-
ção social, para jornalistas e para publicitários. O repertório é a parte do
código que é conhecida e utilizada por um emissor ou um receptor. Ou
seja, músicas, ideias, imagens, e tudo mais que seja compartilhado entre
emissor e receptor que pode facilitar a comunicação. Para uma comunica-
ção eficiente, é preciso que emissor e receptor não apenas usem o mesmo
código, como também o mesmo repertório. Trata-se do vocabulário do
código, a lista de signos deste código. Então quando você utiliza a frase
“Segura o forninhoooo...”, se as pessoas com as quais você quer se comu-
nicar conhecem o meme, a comunicação adquire um sentido maior.
14. Redundância: A redundância na comunicação é mais que um elemento,
é um recurso. A redundância acontece quando se utiliza de mais signos do
que o necessário para a transmissão de uma informação. A redundância
serve para tentar compensar os ruídos do canal e também para aumentar
a clareza e diminuir a ambiguidade da mensagem. No entanto, o excesso
de redundância gera problemas na comunicação.

Alguns elementos do processo comunicativo aparecem para aumentar a fi-


delidade da comunicação. Quando temos uma finalidade com a comunica-
ção, e queremos uma resposta específica, precisamos nos preocupar com a
fidelidade da comunicação, ou seja, queremos que a mensagem seja enviada
da forma mais fiel possível.

60
UNIDADE 2

Alguns autores, como Shanon e Weaver (1948-1949), trabalham a questão


da fidelidade da comunicação, enfocando os ruídos (PEREZ; BAIRON, 2002).
A produção de ruídos irá reduzir a fidelidade da comunicação. Por outro
lado, identificando e isolando os ruídos da comunicação pode-se aumentar
a efetividade da mensagem enviada. Outros autores, construíram modelos
do processo de comunicação que enfocam os fatores determinantes da fide-
lidade. É o caso de Berlo (1985) que identificou fatores determinantes desde
o emissor da mensagem até o receptor.
Sobre o Codificador-fonte (ou emissor), Berlo (1985, p.50) identificou
quatro fatores que influenciam a fidelidade da mensagem: a) suas habilidades
comunicativas; b) suas atitudes; c) seu nível de conhecimento e d) sua posição
dentro do sistema sociocultural.
Sobre as habilidades de comunicação, o emissor tem a tarefa de codificar a
mensagem de maneira que possa ser compreendida pelo receptor. Para isso necessita
de determinadas habilidades. Berlo (1985) destacou cinco habilidades fundamen-
tais: A escrita e a palavra como habilidades de codificação das mensagens. A leitura
e a audição como habilidade de decodificação e o pensamento, ou raciocínio,
como fundamental tanto para codificar como para decodificar as mensagens.
Essas habilidades influenciam a emissão das mensagens de duas formas
básicas. Em primeiro lugar elas são fundamentais para que o emissor possa
analisar quais os seus objetivos e intenções ao dizer algo para alguém. A
efetividade da comunicação começa, portanto, com a definição clara sobre
o objetivo dessa comunicação. O que se quer comunicar? De que forma se
deseja influenciar o receptor dessa mensagem?
Depois disso, essas cinco habilidades (escrita, palavra, leitura, audição e
raciocínio) serão fundamentais para codificar a mensagem que expressem o
que se deseja comunicar. Ou seja, quando escrevemos precisamos dominar
o idioma, as regras de escrita e as palavras, conhecer os significados dessas
palavras, inclusive em diferentes contextos.
A comunicação oral é ainda mais complexa, ao falarmos, precisamos
saber pronunciar as palavras. Precisamos conhecer os códigos sociais in-
formais, os gestos, as posturas, a entonação da voz. Tudo isso fará parte da
comunicação e irá interferir na fidelidade da mensagem que se quer trans-
mitir. As palavras ditas e as posturas corporais podem ser contraditórias e
sem dúvida isso criará ruídos na comunicação.

61
UNIDADE 2

Berlo (1985) dedica-se mais profundamente à habilidade do pensamento, ou


do raciocínio. A pergunta que se faz é quais os elementos que precisamos para
construir nossos raciocínios? Essa pergunta moveu e ainda move filósofos desde
Platão, mas no campo da comunicação, Berlo (1985) compreende que o principal
elemento para o pensamento é a própria linguagem. A linguagem tem o poder de
direcionar os nossos pensamentos. No sentido de que seria muito difícil construir
raciocínios sem ter nome para as coisas. Então a partir de nossas experiências de
aprendizados vamos construindo um repertório de palavras e imagens simbólicas
que permitem que nosso cérebro organize suas ideias.

PENSANDO JUNTOS

Se levarmos em consideração que a linguagem é fundamental para o pensamento, en-


tenderemos a importância de um comunicador social aprofundar-se no estudo da lingua-
gem e da semiótica. Reflita, um repertório pequeno de símbolos e palavras, não dificulta
apenas a fala, mas principalmente a capacidade de articular os pensamentos. Por conse-
quência, a elaboração dos objetivos da comunicação já será prejudicada, aumentando as
possibilidades de que a mensagem não seja fiel à intenção da comunicação.

Atitude

A partir das ideias de Berlo (1985) entenderemos aqui “atitude” como uma
postura, uma predisposição, uma tendência, algum desejo de aproximar-se ou de
afastar-se de alguém (inclusive de si mesmo). Nesse sentido uma atitude positiva
ou favorável, expressa que essa pessoa gosta de estar com a outra, identifica-se
com ela, tem uma postura de abertura para com ela. Por outro lado, uma atitude
desfavorável ou contrária, seria de evitar ou humilhar a outra pessoa.
Sem dúvida essas atitudes irão influenciar a comunicação, ajudando ou di-
ficultando na fidelidade do envio das mensagens. Berlo (1985) aponta para três
atitudes que influenciam o processo de comunicação: Atitude para consigo, Ati-
tude para com o assunto e Atitude para com o Receptor.

62
UNIDADE 2

A Atitude para consigo diz respeito a uma espécie de autoavaliação que indica
atitudes positivas ou negativas a respeito dos objetivos de uma comunicação.
Então se uma pessoa está pouco confiante em convidar alguém para sair ou para
oferecer algum produto para a venda, isso sem dúvida afetará a forma como ela se
comunica. Uma pessoa com uma atitude negativa para consigo que quer vender
algo diria “Você não quer comprar nada hoje, não é mesmo?”.
Por outro lado, pessoas que têm alto conceito sobre si mesmas, ou que
estão confiantes em uma determinada situação, podem parecer arrogantes
na comunicação e acabar não alcançando seus objetivos por causa da atitude
para consigo diante daquela situação.
A Atitude para com o assunto diz respeito ao quanto você acredita ou não
em determinado assunto, produto, empresa, pessoa etc. Essa atitude é importante
porque na maioria das vezes as pessoas deixam transparecer suas opiniões sobre
os assuntos mesmo sem perceber. Então, um vendedor que não acredita no pro-
duto que está vendendo, se comunicará de uma forma diferente de um vendedor
que realmente acredita que aquele produto é excelente.
Por fim, Berlo (1985) considera a atitude para com o receptor uma in-
fluência importante para a fidelidade da comunicação. Nós costumamos ter
atitudes positivas ou negativas, ou mesmo neutras em relação às outras pes-
soas. Sem dúvida estaremos mais abertos para pessoas as quais gostamos e
mais desconfiados de pessoas que somos desfavoráveis. Esse aspecto impacta
a fidelidade e a qualidade da comunicação.

Nível de Conhecimento

O nível de conhecimento diz respeito ao quanto o emissor domina o assunto


que quer comunicar. Evidentemente quem não sabe do que está falando, terá
dificuldade de estabelecer uma comunicação fiel, mas por outro lado, também
um emissor muito especializado, que conhece muito sobre um assunto, pode
ter dificuldade de se comunicar com quem não conhece tanto sobre o assunto.

63
UNIDADE 2

Sistema Sociocultural

Ninguém é capaz de se comunicar de forma independente e autônoma da posi-


ção que ocupa no sistema sociocultural. Todos nós temos funções, e cumprimos
papéis sociais, de filho, de mãe, de patrão, de proprietário de uma empresa, ou
figuras públicas, especialistas reconhecidos, e assim por diante. Estas posições
interferem profundamente na comunicação.
Pessoas de classes sociais diferentes se comunicam de forma diferente, pessoas
com referências culturais diferentes se comunicam de forma diferente. Pessoas em
diferentes níveis hierárquicos se comunicam de forma diferente. Então o emissor da
mensagem precisa reconhecer essas diferenças para se comunicar de forma eficiente.
Discorremos sobre a influência dos quatro fatores sobre o emissor da mensa-
gem e poderíamos também aplicar esses fatores sobre o receptor. O receptor
também precisa ter habilidades para decodificar a mensagem e compreender o
que está sendo dito; a depender de sua atitude em relação a comunicação terá
mais dificuldade ou menos dificuldade de compreender e reagir às mensagens
enviadas; o conhecimento sobre o assunto lhe colocará em diferentes situações
e também a sua posição sociocultural irá interferir nesse processo.
Tratamos até aqui dos fatores que influenciam emissores e receptores para a
fidelidade da comunicação. Nos dedicaremos agora a compreender as influências
sobre a mensagem e o canal. A mensagem é o produto físico real do emissor.
Pode ser uma aula, ou o discurso quando falamos, uma pintura ou a escrita em si,
são as mensagens. Berlo (1985) elenca pelo menos três fatores que influenciam
a fidelidade da mensagem: 1) o código; 2) o conteúdo e 3) o tratamento.
Na definição de Berlo (1985, p.63), um código pode ser definido como qual-
quer grupo de símbolos capaz de ser estruturado de maneira a ter significação
para alguém. Os idiomas são códigos, mas também a dança, a música, tem voca-
bulários e sintaxes próprias. A escolha do código adequado é fundamental para
a fidelidade da mensagem. Às vezes um discurso lógico e racional não é capaz
de fazer com que seus receptores compreendam e sejam influenciados como se
deseja. Para que a comunicação aconteça sem ruídos, emissor e receptor precisam
ser capazes de decifrar o código utilizado.

64
UNIDADE 2

O conteúdo é o material da mensagem, escolhido pelo emissor para expressar


sua mensagem. Quais palavras foram escolhidas, as conclusões apresentadas. O
que de fato se disse. E por fim o tratamento da mensagem são as decisões que o
emissor toma a respeito de como irá apresentar o código escolhido e o conteúdo
para o receptor. O jornalista ao preparar uma matéria faz escolhas quanto ao
título, a forma que irá contar a história, os publicitários escolhem as imagens
a forma que irá dispor e ainda quando e como esse conteúdo será apresentado
para os receptores.
O canal diz respeito ao meio pelo qual a mensagem é enviada. A voz pode
ser o canal para a fala, assim como uma carta pode ser o canal para uma mensa-
gem escrita. Quando falamos de Comunicação Social, pensamos nos canais de
comunicação de massa como a Televisão, o Rádio, o Jornal, o mesmo os meios
digitais. O emissor precisa escolher o canal que utilizará para se comunicar. Uma
vez escolhido o canal, a Televisão, por exemplo, o emissor ainda terá que escolher
o veículo, ou seja, a empresa de televisão na qual irá veicular sua mensagem, que
podem ser a Globo, a Ric, SBT e outros. Alguns fatores interferem nessa escolha,
como quanto dinheiro está disponível, quais as preferências do público-alvo e
ainda quantos pessoas serão alcançadas pela mensagem no veículo escolhido.
Enfim, a preocupação com a fidelidade deve permear todo o processo de
comunicação, a começar com a definição dos objetivos, passando pelos cuidados
do próprio emissor e do receptor, passando pela mensagem e o canal escolhido.
A comunicação cumpre um papel fundamental para a vida em sociedade, através
dela podemos trocar informações e aprender. A partir de agora iremos nos de-
dicar a compreender alguns aspectos importantes da comunicação interpessoal
e dos processos de aprendizagem.
Mesmo a comunicação social que se dedica ao estudo dos processos comuni-
cacionais mediados pela tecnologia de mídia de massa, deve levar em considera-
ção que a comunicação acontece quando emissor e receptores humanos se comu-
nicam. Ou seja, no final das contas precisamos compreender o comportamento
humano. Se entendermos, como vimos anteriormente, que toda a comunicação
tem o objetivo de influenciar o comportamento, então precisamos entender as
variáveis que determinam o comportamento humano.

65
UNIDADE 2

Figura 8 – Resposta ao estímulo de compra

Descrição da Imagem: Sobre uma mesa de madeira clara desgastada está um notebook aberto. A mão
esquerda da mulher está sobre as teclas e a mão direita aparece segurando um cartão de crédito. Do
lado direito da imagem tem uma bolsa feminina de palha e entre os braços da mulher na parte de baixo
da imagem aparece a sua carteira. Na tela do computador aparece a frase: Shop now.

Existem diferentes disciplinas que se dedicam a compreender o comportamento


humano. A Psicologia se dedica aos aspectos pessoais do comportamento, en-
quanto a Sociologia compreende esse humano na sua experiência grupal e cole-
tiva. A Psicologia Social procura relacionar os aspectos pessoais e sociais e pode
ser base para compreender o comportamento influenciado pela comunicação
(BERLO, 1985). Mais recentemente o marketing e a comunicação têm recorrido
a estudo da neurociência para compreender os comportamentos mais instintivos,
ou que são impulsionados por impulsos cerebrais (PERUZZO, 2018).
Quando falamos de comunicação falamos sobre como as pessoas aprendem.
Existem muitos estudos e linhas de compreensão sobre o aprendizado humano.
Iremos destacar alguns elementos que consideramos importantes para o proces-
so de comunicação. Um primeiro aspecto que podemos destacar em relação ao
aprendizado, é a relação estímulo e resposta. O estímulo é qualquer coisa que

66
UNIDADE 2

pode ser percebida pelos nossos sentidos, e a resposta é qualquer reação que o
indivíduo faça como resultado da percepção do estímulo (BERLO, 1985, p.80).
Berlo (1985) falava em dois tipos de respostas, a “descoberta”, que é pública e
perceptível, e a “encoberta” que não é observável, é íntima. Mais recentemente des-
cobriu-se que nada menos que 95% dos processos de resposta dos consumidores
são inconscientes, ou encobertos. Por esse motivo tem se recorrido à neurociência
para entender esses processos que acontecem dentro de nossas mentes.
Aprendemos de maneira mais básica a partir de estímulos e respostas, desde
crianças, quando ganhamos algum elogio sabemos que aquele comportamento
é aprovado, ou quando levamos uma bronca sabemos que esse outro compor-
tamento não é legal. Esse processo se estende pelo processo de comunicação,
inclusive na comunicação social.
Para o processo de comunicação, Berlo (1985) define a aprendizagem como
uma mudança que acontece a partir de um determinado estímulo. Nesse senti-
do, os comunicadores por vezes precisam escolher os estímulos que se sabe que
levam a determinado comportamento.


Como comunicadores, temos muitas vezes objetivos que exigem
aprendizagem por parte dos receptores. Queremos que mudem
suas respostas ao estímulo existente ou que transfiram as respostas
existentes a um estímulo modificado. Quando é este nosso objetivo,
precisamos entender na maior extensão possível os princípios de
aprendizagem humana, o processo que ocorre no organismo entre
o tempo em que o indivíduo percebe um estímulo e o tempo em
que a ele responde (BERLO, 1985, p.83).

Então se queremos que um consumidor deixe de utilizar um produto que ele uti-
lizava e passe a utilizar um novo produto, precisamos conhecer quais os estímulos
que faziam com que ele comprasse aquele produto. Trata-se de um processo de
aprendizagem complexo. Queremos produzir a resposta de mudança.
O processo de aprendizagem pode ser compreendido da seguinte forma (BERLO,
1985, p.86): 1) Apresentação do estímulo, 2) percepção do estímulo pelo organismo,
3) interpretação do estímulo, 4) resposta experimental ao estímulo, 5) percepção das
consequências da resposta experimental; 6) reinterpretação das consequências e pre-
paro de novas respostas e 7) criação de uma relação estímulo-resposta estável: o hábito.

67
UNIDADE 2

INTÉRPRETE

DECODIFICADOR CODIFICADOR

Estímulo Resposta

Consequência
Figura 9 – O processo de aprendizagem / Fonte: BERLO, 1985, p. 86.

Descrição da Imagem: Na linha central da imagem aparecem em caixa alta as palavras DECODIFICADOR
e CODIFICADOR ligados por um raio. Sobre essa linha aparece a palavra INTÉRPRETE que está conectada
com as palavras Decodificador e Codificador por setas nos dois sentidos. Abaixo da palavra DECODIFI-
CADOR aparece a palavra Estímulo com uma seta na direção da palavra decodificador. Abaixo de DECO-
DIFICADOR sai uma seta na direção da palavra Resposta e depois de resposta uma seta para baixo na
direção da palavra Consequência, e por fim acima da palavra Consequência aparece uma seta na direção
de DECODIFICADOR.

Nesse processo a mudança do comportamento se estabelece em um novo hábito.


Podemos compreender como um novo hábito de consumo, mas também como
uma nova forma de entender e interpretar o mundo. Interessante percebermos
que quando esse hábito se estabelece, a resposta ao estímulo passa a ser direta.
Nossa caminhada até aqui nos levou pelos conceitos e modelos da comunicação.
Percebemos que toda a comunicação tem a intenção de influenciar o comportamento
das pessoas, e quando os objetivos da comunicação estão claros, enviamos mensagens
com o objetivo de despertar comportamentos específicos nas outras pessoas.
Aprendemos quais os fatores que influenciam a fidelidade do processo de comu-
nicação e vimos que existem fatores importantes em cada uma das etapas do proces-
so. Especialmente as escolhas feitas pelo emissor quanto à forma que irá construir a
mensagem, os códigos que escolhe usar e o canal por onde a mensagem será enviada.

68
UNIDADE 2

O processo de comunicação pode ser compreendido como um processo de


aprendizagem, quando um determinado estímulo pretende modificar o compor-
tamento de resposta. Todo esse processo está imerso na complexidade humana e
quanto mais soubermos sobre os processos de aprendizagem e decisão dos seres
humanos, melhores comunicadores seremos.

Caro(a) aluno(a), fica aqui o meu convite para você acessar o


podcast desta unidade. Vamos conversar sobre codificação
e decodificação da mensagem a partir do Filme “O Jogo da
Imitação”. Vai ser uma conversa sobre o processo de comu-
nicação com base nas histórias do filme. Não perca!

NOVAS DESCOBERTAS

Filme: O Jogo da Imitação


Sinopse: Durante a Segunda Guerra Mundial, o governo britânico
montou uma equipe que tem por objetivo quebrar o Enigma, o famo-
so código que os alemães usam para enviar mensagens aos subma-
rinos. Um de seus integrantes é Alan Turing (Benedict Cumberbatch),
um matemático de 27 anos estritamente lógico e focado no trabalho, que
tem problemas de relacionamento com praticamente todos à sua volta. Não
demora muito para que Turing, apesar de sua intransigência, lidere a equipe.
Seu grande projeto é construir uma máquina que permita analisar todas as
possibilidades de codificação do Enigma em apenas 18 horas, de forma que
os ingleses conheçam as ordens enviadas antes que elas sejam executadas.
Entretanto, para que o projeto dê certo, Turing terá que aprender a trabalhar
em equipe e tem Joan Clarke (Keira Knightley) sua grande incentivadora.
O filme é um bom exemplo de como o desenvolvimento da tecnologia mo-
difica a comunicação. No caso, para decifrar as mensagens, se desenvolveu
um sistema que deu origem ao computador.
Fonte: AdoroCinema

69
UNIDADE 2

Ao chegarmos até aqui na nossa caminhada sobre os conceitos e modelos


de comunicação, precisamos tomar consciência de que todo o processo de co-
municação é intencional. No sentido de que se comunica quem tem a intenção
de influenciar as outras pessoas. A comunicação tem o objetivo de provocar um
determinado comportamento.
Muitas vezes temos a impressão que apenas a publicidade se comunica de
maneira tão intencional e com o objetivo de nos vender algo, mas toda a comu-
nicação diária está imersa em diferentes interesses. O que nós devemos perceber
aqui é que isso não é necessariamente ruim, mas é a natureza do processo.
As redações dos jornais, os jornalistas, fazem escolhas quanto ao formato, as
palavras e até mesmo quais notícias serão ou não publicadas. As escolhas que
fazem precisam estar alinhadas aos objetivos do veículo. Nesse sentido, o co-
municador social não pode nunca se comunicar sem analisar profundamente e
definir os seus objetivos com o que escreve. Um jornalista quando escreve sobre
a dengue pode ter o objetivo de gerar conscientização, ou um publicitário quando
cria um anúncio pode ter o objetivo de construir a imagem de uma empresa.
Do ponto de vista dos seus estudos, os modelos e elementos da comunicação
apresentados aqui, são de fundamental importância para criar uma base de com-
preensão de como esses processos acontecem e de que maneira cada elemento é
importante para que as mensagens sejam comunicadas com fidelidade.
De agora em diante, procure perceber cada um dos elementos do processo,
quem é o emissor, qual o canal escolhido, qual a mensagem e quem é o receptor
para o qual as mensagens se destinam e com que intenção essa mensagem está
sendo enviada. Fazendo isso, você poderá treinar essa habilidade e perceber os
caminhos escolhidos pelos emissores.

70
Chegou o momento de se colocar no centro desse processo de aprendizagem e
refletir sobre os conhecimentos que adquiriu nessa etapa. Utilizando a ferramen-
ta www.goconqr.com, crie um mapa conceitual sobre o processo de comunicação.
Escreva as seguintes palavras que representam o modelo de comunicação e a
partir dessas palavras, vá acrescentando novas palavras que representam cada
etapa do processo de comunicação:

Intenção
Influenciador

Emissor
ELEMENTOS DO PROCESSO Receptor
DE COMUNICAÇÃO
Aquele que envia
a mensagem Rádio

Televisão Canal Mensagem

Meio pelo qual a O que está


mensagem é enviada sendo dito
3
A Importância da
Mídia e de Seus
Instrumentos Para
a Configuração da
Sociedade Atual
Dr. Rodrigo Robinson

Nesta parte de nossa jornada iremos descobrir as relações entre a


comunicação e a sociedade pós-industrial, vamos compreender as
relações entre mídia e poder, além de pensar sobre democracia e a
comunicação. A indústria cultural pode ter impactos alienantes sobre
a cultura das sociedades, mas a comunicação também pode servir
como instrumento de transformação social.
UNIDADE 3

Em uma cidade do interior do Brasil, há poucas décadas, dois jovens se apaixo-


nam. Ela é filha de uma família tradicional de comerciantes da cidade, os “Al-
buquerque”, e ele, filho de uma família de trabalhadores rurais, os “Santos”. Eles
se encontraram em uma festa da cidade, na praça central, na verdade sempre se
viam e cada um conhecia o outro, principalmente a família um do outro, por isso
mesmo mantinham certa distância.
Mas naquele dia, ao som da orquestra municipal tocando músicas do repertó-
rio nacional, alguma coisa mudou. Eles se entreolharam e tiveram coragem de se
aproximar, conversaram por horas, e quando deram as mãos o coração acelerou.
Decidiram que iriam namorar, mas ninguém poderia saber. Os Albuquerque,
jamais admitiriam que sua filha se relacionasse com um Santos, especialmente
porque eles eram de religiões diferentes e isso seria a perdição da família.
Mas as coisas iam bem entre os apaixonados, até que um dia, ela descobriu
que estava grávida, e foi impossível manter em segredo o romance que já durava
meses. O jovem Santos criou coragem e contou para sua família, que ficou muito
preocupada, pois sabia de suas condições materiais e não poderiam ajudar muito
o casal, mas ainda estavam preocupados com a reação dos Albuquerque.
Então, sem mais poder esconder a gravidez a jovem decide contar para sua
mãe, que ficou estarrecida. Uma jovem grávida e solteira, ela não poderia casar na
igreja, estava condenada socialmente. O rapaz teria que assumir o relacionamen-
to. Mas seu pai não aceitaria jamais. O casal decide fugir da cidade, e construir
sua vida em outro lugar.
A breve história retrata a vida cotidiana de um Brasil não muito distante.
Talvez você mesmo conheça histórias parecidas, que talvez terminaram de outra
forma, mas que contém muitos desses elementos. Esse era um tempo em que as
grandes instituições, como a família e a religião, de certa forma conduziam as
vidas das pessoas.
Ou seja, nascer em uma determinada família, pertencer a uma religião, morar
em uma determinada cidade, eram questões definidoras. Se, por um lado, essas
instituições limitavam as escolhas possíveis, por outro lado, elas traziam um sen-
tido de pertencimento e identidade que gerava segurança para a vida.
Essas instituições (Família, igreja, escola) ainda são importantes em nossas
vidas, contudo, vivemos em um tempo de mais liberdade e maiores possibili-
dades. Existem muitos outros modelos de vida possíveis, e a mídia sem dúvida
oferece imagens que constroem esses modelos.

74
UNIDADE 3

Nesse mundo em transformação, qual o papel da mídia na construção de


novas formas de viver? E qual o impacto para as sociedades?
Em um mundo em que a opinião pública é um poder fundamental para o
exercício do poder na sociedade, as mídias têm um papel fundamental. A cons-
trução das identidades das pessoas e a estruturação da sociedade passam pelos
modelos, pelas imagens que os meios de comunicação de massa nos oferecem.
As imagens que povoam o nosso imaginário social, ou seja, os padrões de
vida e das relações, os julgamentos morais, as percepções e visões sobre o mundo
são construídas socialmente, e os meios de comunicação possuem uma grande
importância nesse processo.
É por isso que se faz necessário estudar mais a fundo a relação da mídia com
a economia, com a cultura, com a política e com a sociedade de maneira geral.
Agora que você já tem uma visão geral sobre o que iremos tratar nesta uni-
dade, eu proponho uma experiência para que você possa visualizar os aspectos
importantes que iremos discutir a seguir.
Vamos pesquisar os papéis que os negros representaram nas novelas no Brasil
desde os anos 1960. Procure por exemplos de protagonistas negros e os papéis
que desempenhavam. Você pode pesquisar em matérias jornalísticas, ou pelos
vídeos no Youtube.
A tarefa é identificar como os negros foram representados pelas mídias de
massa, no produto cultural chamado novela.
Se realizou a pesquisa proposta, você pode perceber que majoritariamente os
negros apenas desempenhavam papéis de escravos, trabalhadores domésticos e em
posições de marginalidade. Contudo, mais recentemente eles têm aparecido em pa-
péis com maior poder como médicos, donos de empresas e mesmo como protago-
nistas. É ainda evidente que os negros ocupam bem menos espaço que teriam direito
se levássemos em conta as proporções de negros e brancos na sociedade brasileira.
A reflexão que proponho, é de que forma essas representações podem in-
fluenciar o imaginário social e criar imagens que permitam que a presença de
negros em posições de poder seja vista com naturalidade.
Agora que refletimos um pouco sobre a influência da mídia na sociedade,
escreva no seu diário de bordo. Quais as imagens de sucesso e fracasso que as
novelas e filmes nos oferecem? Sobre o papel dos negros nas novelas brasileiras,
o que podemos concluir sobre as imagens que elas oferecem para os negros em
nossa sociedade?

75
UNIDADE 3

Figura 1 - Jovens diante dos novos meios de comunicação

Descrição da Imagem: Sentados em pufes estão cinco pessoas, uma do lado da outra. Da esquerda para a direi-
ta, um homem de camisa e gravata segura um celular na mão e mostra algo para a mulher que está ao seu lado.
Na sequência aparece um jovem com camisa xadrez com um notebook no colo, ao lado dele estão uma mulher
e um homem, cada um olhando para o seu celular. Ao fundo da imagem tem uma prateleira com folhagens.

A partir de agora queremos nos aprofundar nas relações entre a mídia e a socie-
dade. Vamos entender aqui a “mídia” como o conjunto de meios de comunicação
de massa, e a “sociedade” como um coletivo de famílias e pessoas que compar-

76
UNIDADE 3

tilham o espaço em um determinado tempo histórico. Importante percebermos


que nem a mídia nem a sociedade são homogêneas, ou seja, existem grandes
diferenças na forma de compreender a vida, no entanto, pode-se perceber um
modelo hegemônico, que se sobrepõe aos outros.
Os modelos hegemônicos invariavelmente estão a serviço de manter o poder
dos mais poderosos, e criar bases para que este poder seja assimilado na vida
diária com pouca resistência. Sem dúvidas a mídia tem um papel histórico im-
portante no estabelecimento de culturas e projetos de poder hegemônicos, mas
veremos isso com mais detalhes no próximo capítulo. Nesse momento queremos
refletir sobre a mídia e a comunicação nessa sociedade que podemos chamar de
pós-industrial ou pós-moderna
Muitos teóricos têm se dedicado a caracterizar a sociedade pós-industrial, ou
pós-moderna. Zygmunt Bauman (2001), foi um sociólogo e filósofo polonês que
talvez mais profundamente compreendeu o momento histórico em que vivemos.
Ele denominou este tempo como a modernidade líquida. Ele utilizou esse termo
“líquida”, porque o líquido é fluido, inconstante, não estruturado, em contraposi-
ção a um tempo em que as coisas eram mais rígidas, permanentes, sólidas.
No período anterior ao que vivemos agora, a vida era organizada e estru-
turada a partir das grandes instituições como a família, a religião, a escola, o
estado. Devemos entender instituições como um conjunto de normas formais
ou informais, modos de viver, definições do que é certo ou errado, permitido ou
proibido. Essas instituições exercem influência, ou determinam, como podemos
viver. No mundo “sólido”, como da história que abriu essa unidade, a família e a
igreja tinham muita influência sobre a vida das pessoas.
Na modernidade líquida esses sólidos, esses padrões, esses modelos já não
exercem tanta influência, no entanto isso não significa que somos livres para ser
o que quisermos. Na verdade, na visão de Bauman (2001) surge uma nova tarefa
para cada indivíduo, encontrar um novo nicho para se encontrar e se adaptar.
Se no passado, por um lado as instituições limitavam as possibilidades, por
outro elas estabeleciam uma certa identidade. Ou seja, a pessoa que era reco-
nhecida pelo sobrenome, que tinha uma religião e morava em uma determina-
da localidade, tinha sua identidade construída sobre esses pilares, no entanto,
quando esses pilares se dissolvem, sobre o trabalho para o indivíduo construir
diariamente a sua identidade, como descreve Bauman (2001) no trecho a seguir:

77
UNIDADE 3


São esses padrões, códigos e regras a que podíamos nos conformar,
que podíamos selecionar como pontos estáveis de orientação e pelos
quais podíamos nos deixar depois guias, que estão cada vez mais em
falta. Isso não quer dizer que nossos contemporâneos sejam guiados
tão somente por sua própria imaginação e resolução e sejam livres
para construir seu modo de vida a partir do zero e segundo a sua
vontade, o que não sejam mais dependentes da sociedade para obter
as plantas e os materiais de construção. Mas quer dizer que estamos
passando de uma era de “grupos de referência” predeterminados a
uma era de “comparação universal”, em que o destino dos trabalhos
de autoconstrução individual está endêmica e incuravelmente sub-
determinado, não está dado de antemão, e tende a sofrer numerosas
e profundas mudanças antes que esses trabalhos alcancem seu único
fim genuíno: o fim da vida do indivíduo (BAUMAN, 2001, p. 14).

Neste trabalho de construir nossas próprias identidades, de buscar realização


de si mesmos, vivemos em um estado de consumo superabundante de estilos, de
sensações e de experiências que apelam para os nossos sentidos. Para Lipovetsky e
Serroy (2014), vivemos em um capitalismo artista em que a criatividade e a arte se
infiltraram em todas as esferas da vida, que nos faz procurar por um ideal estético,
centrado na busca de sensações e prazeres imediatos, novidades e divertimento.
Na tarefa de experimentar as caixas nas quais queremos nos enquadrar, nos
perdemos na busca incessante do prazer imediato, fadados às vezes a um senti-
mento permanente de insatisfação e de inadequação.
Outro reflexo da fluidez dos tempos atuais é que o tecido social se en-
fraqueceu. Nas pequenas comunidades locais, as pessoas se conheciam e
criavam relações que durariam para a vida toda. Isso gerava um senso de
pertencimento e compromisso mútuo que fazia com que o tecido social fi-
casse fortalecido. Então, quando algo de ruim acontecia, as pessoas podiam
contar umas com as outras.
Nos dias atuais os relacionamentos são efêmeros. Ou seja, muito mais su-
perficiais, começam e terminam com um clique. Você e eu temos milhares de
amigos nas redes, mas muito poucos com os quais realmente podemos contar,
e na maioria das vezes nem moram na mesma cidade que você. Então, essas
características fazem com que a ideia de localidade, ou da experiência da cidade
seja enfraquecida, isso que se chama de tecido social enfraquecido.

78
UNIDADE 3

Apesar de estarmos pouco conectados com as pessoas e a comunidade local,


vivemos um fenômeno do qual, segundo Bauman (2001), não existe volta: a
hiperconectividade. Nós estamos conectados, on-line o tempo inteiro, mas não
apenas isso, o mundo está hiperconectado. As coisas que acontecem do outro
lado do mundo chegam ao nosso conhecimento em tempo real.

Figura 2 – Conectados

Descrição da Imagem: Um homem jovem segura um smartphone com a mão esquerda. Aparece apenas
o braço, a mão e parte do corpo do homem. Sobre a imagem linhas vermelhas se conectam a bolinhas
formando uma rede.

Esse fenômeno revela também outra característica marcante do nosso tempo, a


interdependência. Ou seja, o mundo hiperconectado, também é interdependente,
então se uma guerra acontece no leste europeu (no momento em que escrevo esse
conteúdo vivenciamos a invasão russa à Ucrânia no ano de 2022), isso afetará
nossa vida no Brasil, como por exemplo, aumento dos custos do combustível, ou
a falta de insumos agrícolas que eram importados da Rússia. E as mudanças nesse
mundo hiperconectado acontecem em uma velocidade muito grande. Então, se a
pandemia da Covid-19 modificou aspectos da nossa vida cotidiana, especialistas
apontam que a invasão russa à Ucrânia modificou a geopolítica mundial. Movi-
mentos que antes levariam décadas para acontecer, agora acontecem em minutos.

79
UNIDADE 3

É nesse contexto que devemos refletir a influência da comunicação nas so-


ciedades atuais. No passado os meios de comunicação de massa travaram uma
batalha pelas grandes narrativas que prometiam revolucionar o mundo. O dis-
curso do liberalismo econômico das promessas de uma sociedade de consumo
que traria abundância, liberdade, autonomia e bem-estar triunfou nos anos 1960
e 1970, a partir dos Estados Unidos. Mas outras grandes narrativas estavam em
pauta, como as experiências comunistas, especialmente a soviética. Com a que-
da do muro de Berlim e o fim da Guerra Fria, surgiram muitas outras guerras
nacionalistas e religiosas que mantêm o medo e a instabilidade constante e um
estado frágil de paz mundial (KELLNER, 2001).
As grandes narrativas já não fazem sentido no mundo fragmentado e fluido
que vivemos, mesmo que tentativas nacionalistas surjam aqui e ali ao redor do
globo, as verdadeiras disputas acontecem no campo cultural. E é nessa busca de
construção de identidade que a cultura da mídia, ou a comunicação que passa
pelos meios de comunicação de massa se faz mais presente na vida das pessoas.

EXPLORANDO IDEIAS

O termo cultura tem sido utilizado de diversas formas e pode caber muita coisa dentro
dele. Em sentido mais amplo podemos entendê-lo com uma forma de atividade que en-
volve as pessoas de maneira participativa na criação de sociedades e identidades. “A cul-
tura modela os indivíduos, evidenciando e cultivando suas potencialidades e capacidades
de fala, ação e criatividade”.
Fonte: Kellner, 2001, p.11.

A cultura da mídia participa dos processos de construção da identidade das pes-


soas, e das possibilidades da sociedade com a qual interage. As imagens, os sons,
os espetáculos oferecidos pelos meios de comunicação dominam o tempo de
lazer, moldam as opiniões políticas os comportamentos sociais e oferecem vasto
material para que as pessoas construam suas identidades, como explicita Kellner
(2001, p.9) no texto a seguir:


As narrativas e as imagens veiculadas pela mídia fornecem os símbolos,
os mitos, e os recursos que ajudam a construir uma cultura comum para
a maioria dos indivíduos em muitas regiões do mundo hoje.

80
UNIDADE 3

Bauman (2001) afirma que as experiências nacionais estão enfraquecidas, porque


muitas pessoas se conectam e se identificam muito mais com modelos culturais
globalizados, ou com culturas de outros lugares. A mídia dominada por poucos
grandes grupos internacionais molda essa cultura e cria possibilidades para que
as pessoas de todos os lugares do mundo com ela se identifiquem.

Figura 3– Mulher árabe conectada aos costumes globalizados

Descrição da Imagem: Ao centro da imagem aparece uma mulher com traços árabes, utilizando a vesti-
menta tradicional hijab que cobre a cabeça e o pescoço. Ela segura com a mão direita um cartão de crédito
enquanto olha para o monitor de um notebook. Ao fundo desfocado aparece um ambiente profissional
com mesas e cadeiras.

O que se vê é o surgimento de uma hipercultura comunicacional e comercial


que brota nos quatro cantos do mundo, não mais tendo o ocidente como criador
monopolizado da indústria e da cultura. O capitalismo artista invade todas as
esferas da vida, em que a estética, o gosto pelo belo cria experiências emocionais
para o consumo. Os jardineiros se tornam paisagistas, os Cabeleireiros são Hair

81
UNIDADE 3

Designers, os cozinheiros são chefs criativos e assim por diante. Esses modelos se
tornam ideais estéticos que moldam as imagens de sucesso e fracasso que povoam
nossas mentes (LIPOVETSKY; SERROY, 2014).
Neste contexto, a comunicação é essencial para sustentar uma cultura baseada
na imagem do belo. Tanto as imagens produzidas pela mídia, como as imagens
produzidas pelas pessoas que participam da sustentação dessa cultura. Qualquer
lugar do mundo tem potencial para uma foto turística de um olhar “enquadrado”
pelo espaço das redes sociais. Então, mais importante que a experiência real é a
forma como a compartilhamos através de imagens e vídeos curtos. Aprendemos
com os influenciadores a produzir as melhores imagens de nós mesmos, e acre-
ditamos naquela vida vista de fora.
Os meios de comunicação de massa reforçam e criam mitos, imagens do que
é ser bom ou ruim, ter sucesso ou ser fracassado, ser homem, ser mulher, mode-
los de relacionamentos, enfim formas de viver. A mídia cria um repertório que
constrói o imaginário social, que é acessado por cada um de nós quando quere-
mos representar uma situação específica. Essa cultura é industrial e não apenas
nos oferece produtos, mas nos torna produtos de uma engrenagem de consumo.


A cultura da mídia é industrial; organiza-se com base no modelo de
produção de massa e é produzida para a massa de acordo com ti-
pos (gêneros), segundo fórmulas, códigos e normas convencionais.
É, portanto, uma forma de cultura comercial, e seus produtos são
mercadorias que tentam atrair lucro privado produzido por em-
presas gigantescas que estão interessadas na acumulação de capital
(KELLNER, 2001, p.9).

A comunicação está, portanto, no centro do que se pode chamar de experiência


pós-moderna, e a mídia está a serviço da criação de produtos culturais que serão
explorados comercialmente, na lógica de mercado. É preciso compreender como
a mídia participa do jogo de poder que estrutura as sociedades. Um comunicador
social não pode ser ingênuo a respeito das forças que estruturam as sociedades,
por isso iremos aprofundar a partir de agora, as relações entre mídia e poder.

82
UNIDADE 3

Mídia, poder e dominação

Figura 4 - Apresentação no trabalho

Descrição da Imagem: Em uma sala estão seis pessoas sentadas uma ao lado da outra, todas olhando
para uma mulher que aparece de frente para elas no canto esquerdo da imagem. As pessoas estão com
semblantes alegres, e ao fundo aparecem prateleiras como se fosse um ambiente de trabalho.

As relações sociais estão inseridas em contextos de exercício de poder e domi-


nação. Desde os mais antigos registros de civilizações essas relações aparecem.
Existem diferentes tipos de dominação, aquela que se dá pelo poder tradicional
(como as relações familiares), a dominação carismática (que se desenvolve pelo
carisma do líder que atrai as pessoas), e a dominação burocrática, ou racional
legal (que se dá pelo poder que a lei confere a determinadas pessoas por sua
função, como os policiais) (WEBER, 2012).

83
UNIDADE 3

A clássica definição de Max Weber (1991) sobre poder é a probabilidade


de que alguém consiga impor sua vontade seja sobre qual fundamento for. Ou
seja, a probabilidade de que um dado grupo de pessoas siga as ordens. Ela está
relacionada com a ideia de dominação que é “a possibilidade de impor ao com-
portamento de terceiros a vontade própria” (WEBER, 2012, p.188). Então, um
pai impõe aos filhos o comportamento que deseja porque exerce seu poder, e
dominação que está baseada nas relações tradicionais familiares.
O estado tem o poder de utilizar a força para fazer cumprir as leis, porque a
sociedade concedeu a ele esse poder, que Weber chama de Burocrático, ou racio-
nal-legal. Isso significa que os agentes públicos possuem poder apenas enquanto
estiverem agindo dentro dos limites da lei. Portanto, um policial tem o poder de
prender alguém esteja infringindo a lei, mas não pode entrar na sua casa e fazer
com que o seu filho o obedeça. São relações de poder e dominação diferentes.
Existe também uma relação entre poder econômico e dominação. Não ne-
cessariamente todo poder econômico implica em dominação, contudo para
Weber (2012, p.188), “o modo como os meios econômicos são empregados para
conservar a dominação influencia, decisivamente, o caráter da estrutura de
dominação”. O poder econômico procura manter suas posições de dominação
na sociedade, e conservar ou ampliar suas áreas de influência.
À medida que a mídia se constitui ao longo da história com grande poder de
influenciar a cultura e as pessoas, o capital financeiro, ou seja os donos do poder
econômico também passaram a se interessar por esse ramo de atividades.


[...] megaempresas, fundos de investimentos, magnatas das finan-
ças e do petróleo e bancos como Santander, Bilbao Vizcaya, SCH
e Deustche Bank têm participações acionárias e propriedades cru-
zadas em mídia. Philippe Bouquillion demonstra como financia-
mentos e inversões de grandes bancos ampliam a influência das
engrenagens da “financeirização” no modelo oligopolista das indús-
trias culturais (MORAES; RAMONET; SERRANO, 2013, p.20-21).

Ao dominar o setor midiático, os megagrupos “detêm a propriedade dos meios


de produção, a infraestrutura tecnológica e as bases logísticas como parte de
um sistema que rege habilmente os processos de produção material e imaterial
(MORAES; RAMONET; SERRANO, 2013, p.18)”. A mídia constitui um poder

84
UNIDADE 3

impulsionado pelo poder econômico, os grandes grupos de comunicação pas-


saram a ter a capacidade de produzir cultura imaterial e material, pois possuem
acesso ao dinheiro necessário para a inovação.
A convergência das diferentes mídias, especialmente dos novos espaços
digitais, permite que um mesmo produto seja rentabilizado em diferentes pla-
taformas, o que amplia ainda mais o poder de influência e de gerar recursos
financeiros.


A convergência entre mídia, telecomunicações e informática viabiliza
o aproveitamento de um mesmo produto em diferentes plataformas e
suportes e distintos meios de transmissão, distribuição, circulação, exi-
bição e consumo, fazendo sobressair a mais-valia na economia digital.
Agrupam-se os mais diversos atores econômicos, atraídos pela oportu-
nidade de alavancar seus negócios, aí incluídos fabricantes, anunciantes,
patrocinadores, fornecedores, administradores de marcas, gestores cor-
porativos, criadores de campanhas publicitárias, operadores financeiros
etc. (MORAES; RAMONET; SERRANO, 2013, p.19).

O sistema midiático possui algumas características que reforçam o seu lugar


de poder e influência na sociedade. Moraes, Ramonet e Serrano (2013, p. 17-18)
apontaram três características importantes:


a) a capacidade de fixar sentidos e ideologias, interferindo na
formação da opinião pública e em linhas predominantes do
imaginário social.

b) desembaraço na apropriação de diferentes léxicos para tentar


colocar dentro de si todos os léxicos, a serviço de suas conveniências
particulares. Palavras que pertenciam tradicionalmente ao léxico da
esquerda foram ressignificadas no auge da hegemonia do neolibe-
ralismo, nos anos 1980 e 1990.

c) incute e celebra a vida para o mercado, a supremacia dos apelos


consumistas, o individualismo e a competição. A glorificação do
mercado consiste em apresentá-lo como “único” capaz de traduzir
anseios da sociedade, como se só ele pudesse se converter em ins-
tância de organização societária.

85
UNIDADE 3

Figura 5 - Sede da rede americana CNN no Brasil

Descrição da Imagem: A imagem apresenta ao fundo um céu com muitas nuvens. Bem no centro da
imagem aparece um prédio sem janelas com o logotipo da CNN Brasil no topo. A direita do prédio a copa
de uma árvore e à esquerda três prédios menores.

Esse modelo de grandes grupos de comunicação só foi possível graças a desregula-


mentação promovida pelos liberais nos anos 1980 e 1990, que passou a permitir o
“cross onership” ou “propriedade cruzada” de emissoras de rádio, TV, revistas e jornais
em um só mercado. A proibição da propriedade cruzada procurava evitar a concen-
tração de poder em poucos grupos e empresas de comunicação. No Brasil, no entanto,
nunca houve essa proibição, o que permitiu que grandes grupos se tornassem donos
de emissoras de rádio, televisão, jornais e revistas (AMORIM, 2015).
Em 2020 chegou ao Brasil a rede americana de notícias CNN. No entanto,
a legislação brasileira limita a participação estrangeira na formação societária
das empresas de comunicação, o que retardou o lançamento da rede no país. A
licenciada da marca CNN no Brasil é uma sociedade fundada pelo ex-diretor de
jornalismo da RecordTV, Douglas Tavolaro e pelo proprietário do grupo MRV
Engenharia Rubens Menin, sócio majoritário da Emissora no Brasil. O caso é um
exemplo de “propriedade cruzada”, e também revela a preocupação da legislação
de que estrangeiros dominem a comunicação no país.

86
UNIDADE 3

Tudo começa com a escolha pelo modelo de radiodifusão escolhido pelos


países. Na Europa o modelo público-estatal, ou seja, com o monopólio do es-
tado, surgiu como uma necessidade de controlar o acesso à informação depois
da Primeira Guerra Mundial, com o objetivo de criar coesão social, e o rádio se
mostrou fundamental nesse processo. O EUA seguiu o modelo comercial desde
o início, alinhado com a Primeira Emenda Americana, que preconiza liberdade
de expressão sem cerceamento do estado (AMORIM, 2015).
No Brasil, a rádio nasceu estatal no Brasil, mas apesar do interesse em manter
o modelo estatal, ele não se sustentaria por falta de recursos.


A primeira regulamentação surgiu no governo Venceslau Brás
(1914–1918), com o Decreto 3.296, de julho de 1917, que tornou o
rádio monopólio estatal e centralizou o poder de concessão no Po-
der Executivo. A opção estatal transpareceu na escolha do primeiro
discurso radiofônico a ser transmitido no Brasil, em 7 de setem-
bro de 1922. Na ocasião, o presidente Epitácio Pessoa (1919–1922)
foi ouvido simultaneamente em Niterói, Petrópolis e São Paulo. A
transmissão foi a grande novidade e um dos momentos mais espe-
rados da Exposição Internacional do Rio de Janeiro, em comemo-
ração ao Centenário da Independência (AMORIM, 2015).

A verdade é que pouca gente se interessou pela transmissão de rádio feita nas
comemorações do centenário da independência e a iniciativa acabou esfriando.
Somente por volta de 1927 o rádio começa a se expandir de verdade no Brasil
com o modelo comercial, depois das experiências de rádio clube, sociedades que
eram bancadas pelos próprios sócios. A Rádio Nacional do Rio de Janeiro foi a
primeira grande emissora brasileira, mas passou por problemas financeiros e foi
comprada por Getúlio Vargas em 1940. Tornou-se uma empresa pública, mas
manteve o modelo comercial. Contratou os melhores radialistas e tornou-se a
rádio mais ouvida na América Latina (AMORIM, 2015).
As empresas brasileiras de mídia desde o início sempre tiveram um papel
de formação do imaginário social brasileiro sobre política. A Rádio Nacional
cumpriu um papel de construir na mente dos brasileiros os acontecimentos da
Segunda Guerra Mundial.

87
UNIDADE 3


A rádio mais importante do Brasil tinha, claro, o noticiário mais
influente da época: o Repórter Esso. Sua estreia no Brasil, em
28 de agosto de 1941, remete à Política de Boa Vizinhança dos
Estados Unidos na América Latina e à criação do Escritório
Interamericano (Office for Coordination of Commercial and
Cultural Relations Between the American Republics), durante
a Segunda Guerra Mundial (1939–1945).

O presidente americano Franklin Roosevelt criou o Escritório In-


teramericano — dirigido por Nelson Rockefeller, neto de John D.
Rockefeller, fundador da Standard Oil, as atuais Exxon e Esso —,
que tinha como única função levar a América Latina a apoiar os
Aliados na Guerra e consolidar a hegemonia americana na região

...

Durante a Segunda Guerra Mundial, o noticiário se caracterizava


pelo duro combate aos países do Eixo. No Brasil, tinha como diretriz
não dar cobertura à campanha “O Petróleo é Nosso”, já que a criação
da Petrobras não interessava ao governo americano nem à Esso. Em
1957, o Congresso Nacional criou uma CPI, concluída em 1959,
que comprovou o envolvimento da Esso e da McCann-Erickson na
distribuição de verbas contra a nacionalização do petróleo. Quando,
em 31 de dezembro de 1968, o noticiário radiofônico chegou ao
fim, duas razões foram apontadas: na área profissional, o noticiá-
rio perdera a credibilidade e, no âmbito político, sua missão estava
cumprida (AMORIM, 2015, sp.).

O programa Repórter Esso foi inicialmente criado para fazer a propaganda da


guerra americana para os brasileiros. Iniciou sua atividade em 1941 apoiado pelo
presidente Getúlio Vargas e sob a orientação do Departamento de Imprensa e
Propaganda, o DIP. O programa pode ser considerado uma das evidências da
globalização das comunicações. Os Estados Unidos espalharam pelo mundo
uma síntese de cinco minutos dos acontecimentos de caráter global que eram
transmitidos para 14 países do continente por 59 estações de rádio. O pacote
cultural-ideológico dos Norte americanos se espalhava pelo mundo.

88
UNIDADE 3

Figura 6 – Getúlio Vargas em discurso pelo rádio / Fonte: Correio da Manhã. Presidente Getúlio Vargas
faz discurso pelo rádio. 1954. 1 fotografia. Disponível em https://pt.wikipedia.org/wiki/Rep%C3%B3r-
ter_Esso#cite_note-O_Rep%C3%B3rter_Esso-1. Acesso em 07 mar. 2022.

Descrição da Imagem: Ao centro da fotografia envelhecida aparece um microfone grande e antigo de


ferro em um pedestal. Diante do microfone, Getúlio Vargas está em posição de quem está lendo o que
está escrito em uma folha de papel que segura com a mão esquerda.

Os eventos relatados por Paulo Henrique Amorim (2015) no Livro “O Quarto


Poder”, evidenciam as relações entre o poder político, o poder econômico e o
poder de influência das empresas de comunicação. Este é apenas um dos relatos
que também evidencia a influência americana nas empresas de comunicação do
país. Especialmente após o final da guerra fria, os EUA estabelecem sua influência
cultural sobre o mundo ocidental, e essa influência tem desdobramentos econô-
micos e sobre as relações de poder entre os países.

89
UNIDADE 3

O termo “quarto poder” utilizado por Amorim (2015) foi criado durante a
Revolução Francesa sugerindo que a mídia poderia se tornar um poder cidadão,
junto com o Executivo, o Legislativo e o Judiciário. Com o passar do tempo e a
influência do poder econômico sobre esses poderes, especialmente os meios de
comunicação, transformou a mídia em um poderoso ator político. No entanto, di-
ferente dos outros três, o poder midiático não tem legitimidade democrática, pois
ninguém vota nele, ninguém o elege (MORAES; RAMONET; SERRANO, 2013).


Por ser composto por empresas, o poder midiático não é subme-
tido a controles econômicos como os demais. Um deputado, um
servidor público, um ministro ou um juiz acabariam na prisão se
recebessem dinheiro de um setor ou de uma pessoa em litígio. To-
dos os dias, a mídia recebe dinheiro (seja com publicidade ou por
outra via) de setores interessados ou com vocação de influência
social. Ao contrário também dos outros poderes, a mídia não tem
um contrapoder. O governo tem a oposição, os empresários têm
os sindicatos, as empresas têm as associações de usuários. Não há
contrapoder para o poder midiático. Houve tentativas de criá-lo
com os chamados observatórios de comunicação, mas eles não se
consolidaram (MORAES; RAMONET; SERRANO, 2013, p.73-74).

A comunicação desempenha um papel sofisticado e potente nas sociedades de-


mocráticas, onde a formação da opinião pública é um elemento essencial para o
exercício do poder. Os meios de comunicação de massa têm o poder de construir
e modificar a opinião pública.
A opinião pública é uma percepção coletiva sobre um determinado assunto. É
uma expressão da participação popular na criação, controle e crítica de uma socie-
dade. Para Lippmann (2010) a análise da opinião pública passa pela compreensão
da relação que existe entre a) os fatos em si, b) a imagem que temos sobre os fa-
tos e d) a resposta que as pessoas dão em relação a imagem que tem dos fatos.
A imagem que construímos em nossas mentes sobre os fatos é influenciada
pelas imagens que a mídia nos oferece. Nesse sentido o seu poder de influência
está em suprir nossa imaginação com as imagens que representam a versão da
realidade que ela deseja apresentar.
A opinião pública não necessariamente é consensual, ou seja, sempre haverá
diferentes visões, mas inclusive as diferentes versões sobre um mesmo fato são

90
UNIDADE 3

parte da construção da opinião pública. Laurence Lowell (1856-1943) foi edu-


cador americano e diretor da Universidade de Harvard, figura forte e às vezes
controversa, criticou a ideia de alguns autores de “opinião universal”, como se
houvesse um consenso na sociedade sobre determinados assuntos, ele entende
que a opinião pública é formada quando a maioria da população concorda ou
aceita determinada versão sobre os fatos.
As pessoas constroem suas percepções ou assumem posições, com base nas
versões disponíveis. E a mídia tem um papel fundamental em apresentar essas
versões. Não raramente com tendência para que uma determinada versão pre-
valeça, obviamente aquela que lhe favorece de alguma forma.
Sendo a opinião pública um elemento fundamental para o exercício do poder,
e a mídia o fator de maior influência na construção da opinião pública, devería-
mos pensar sobre o seu papel nas democracias, na sustentação ou na derrubada
de governos legítimos eleitos pelo povo.

Democracia e comunicação

Figura 7 - Manifestações pela democracia

Descrição da Imagem: Imagem noturna com prédios iluminados ao fundo e uma multidão de pessoas
em primeiro plano. Ao centro da imagem uma mulher segura um cartaz em que está escrito: Listen to
the people (Ouça o povo).

91
UNIDADE 3

Com frequência associa-se o trabalho da imprensa como fundamental para o exer-


cício da democracia. É importante pensarmos sobre esse aspecto, especialmente
em um momento em que as democracias pelo mundo parecem estar sob ataque.
Qual seria o papel da imprensa na sustentação da democracia? Ela realmente
ainda ocupa esse lugar? Quais são as relações entre os processos de comunicação
social e as democracias?
Essas perguntas irão nortear nossa discussão e podem nos ajudar a refletir
sobre a relação entre democracia e os meios de comunicação.
Vamos começar contextualizando esse assunto por alguns aspectos da experiência
brasileira de constituição de um sistema de radiodifusão que permitisse o estabele-
cimento de emissoras de comunicação. A primeira transmissão de rádio no Brasil
aconteceu no centenário da independência, promovido pelo governo brasileiro em
1922, no entanto, a transmissão com uma qualidade muito ruim não chamou a aten-
ção de muitas pessoas e o projeto de ter um modelo de radiodifusão estatal não foi
para a frente. No entanto, Edgar Roquette-Pinto, criador da Rádio Sociedade do Rio
de Janeiro, estava convencido de que o Brasil precisa de uma rede de rádios.
O sistema de Radiodifusão sonhado por Roquette-Pinto, seria essen-
cialmente educativo. Entre os anos 1910 e 1925, Roquette-Pinto que é con-
siderado o pai do rádio no Brasil sem dúvida foi uma das pessoas que mais
trabalhou para que o sistema de radiodifusão vingasse no país. A forma que
encontrou de viabilizar foi montar “rádios sociedade”, onde os sócios con-
tribuem para que a rádio funcionasse, sem anúncios.


O objetivo desse tipo de emissora era sintetizado por Roquette-
-Pinto ao encerrar seus programas: “Trabalhar pela cultura dos que
vivem em nossa terra e pelo progresso do Brasil”. Segundo ele, “o
rádio é a escola dos que não têm escola. É o jornal de quem não sabe
ler” (AMORIM, 2015, sp.).

No entanto, o modelo que se firmou foi o de concessão pública para empresas privadas
atuarem nesse mercado, e por consequência esse ideal de educação passa a ser subor-
dinado aos interesses econômicos de quem controla as emissoras. Nos Estados Unidos
o modelo sempre foi comercial, não pelo interesse dos governantes da época ou por
convicção, mas porque a constituição Americana não permitiria outro formato.

92
UNIDADE 3

A constituição dos EUA, prevê em sua primeira emenda, a ideia de liberdade


de expressão e de outras liberdades, como a liberdade de imprensa e o direito de
as pessoas exercerem suas religiões e se reunirem pacificamente.


O congresso não deverá fazer qualquer lei a respeito de um estabele-
cimento de religião, ou proibir o seu livre exercício; ou restringindo
a liberdade de expressão, ou da imprensa; ou o direito das pessoas
de se reunirem pacificamente, e de fazerem pedidos ao governo para
que sejam feitas reparações de queixas (AMORIM, 2015, p. 17).

Liberdade de expressão, acesso à informação sem dúvida são pilares da demo-


cracia, e invariavelmente, ditadores autocratas controlam as redes de rádio e te-
levisão, restringindo os conteúdos desses meios de comunicação.
A legislação brasileira também estabelece os princípios fundamentais para a
comunicação audiovisual, entre eles a liberdade de expressão e o acesso à infor-
mação. Segundo a Lei 12.485/2011 artigo 3º, são os seguintes princípios:
I - liberdade de expressão e de acesso à informação;
II - promoção da diversidade cultural e das fontes de informação, produção
e programação;
III - promoção da língua portuguesa e da cultura brasileira;
IV - estímulo à produção independente e regional;
V - estímulo ao desenvolvimento social e econômico do País;
VI - liberdade de iniciativa, mínima intervenção da administração pública
e defesa da concorrência por meio da livre, justa e ampla competição e
da vedação ao monopólio e oligopólio nas atividades de comunicação
audiovisual de acesso condicionado.

Nesse sentido, poderíamos afirmar que a imprensa tem um papel importante


no acesso à informação e no exercício da liberdade de expressão. Contudo, é
preciso também se perguntar se o conteúdo veiculado pelas grandes redes de
comunicação representa a garantia de liberdade de expressão da população. Para
Moraes; Ramonet; Serrano (2013), sem sombra de dúvida os grandes grupos de
comunicação não são representantes da liberdade de expressão popular, antes,
eles estão a serviço dos interesses mercantis de seus acionistas.

93
UNIDADE 3

O modelo comercial, sob o manto da proteção da liberdade de expressão,


tem conferido aos meios de comunicação um poder sem controle. Os poderes do
estado são todos regulados e com muitas ferramentas de contrapoder, especial-
mente o voto. Já a mídia, atua influenciando a sociedade sem nenhuma instância
de regulamentação ou contrapoder. A ideia de Liberdade de expressão e liber-
dade de imprensa, sustenta os discursos das grandes redes de comunicação, que
reagem fortemente a qualquer tentativa de controle ou cerceamento (MORAES;
RAMONET; SERRANO, 2013).
Por outro lado, veículos públicos de comunicação, como as televisões cultu-
rais dos estados são constantemente utilizados como propaganda de governo e
se desviam também de suas funções culturais.


O intento de controlar os meios de comunicação públicos, tanto
dos governantes como de seus partidos, é um problema que está na
ordem do dia. A alternativa é estabelecer mecanismos e instituições
que impeçam esse controle, bem como métodos que afiancem a
independência e o profissionalismo dos jornalistas e diretores. Os
meios de comunicação privados, mesmo que isso soe paradoxal,
podem ser mais servis ao poder político do que os públicos. Não
nos esqueçamos de que grande parte de sua receita provém de me-
didas governamentais: publicidade institucional, incentivos fiscais
benéficos, subsídios, programas de ajuda, entre outros (MORAES;
RAMONET; SERRANO, 2013, p.81-82).

Podemos pensar na importância das mídias de massa e o seu papel nas democra-
cias, especialmente nesse momento da história em que elas têm sido ameaçadas
em diferentes lugares do mundo por governos autoritários, também entre as
democracias. A imprensa tem usado seu poder de influência muitas vezes para
enfraquecer as instituições democráticas, promovendo ataques sistemáticos a
instâncias da república e influenciando a opinião pública contra líderes demo-
craticamente eleitos.
Ao mesmo tempo que disseminar informação é um papel importante, a mídia
não deixa de interpretar e dar seu viés sobre o que será veiculado. Sociedades
democráticas maduras precisam perceber as intenções dos veículos ao comunicar
determinados assuntos e não os tomar como verdades absolutas.

94
UNIDADE 3

Aliás, descobrir as fontes das informações às quais temos acesso tornou-se


tarefa indispensável para o cidadão do século XXI. Se podíamos duvidar das
informações e das intenções dos veículos de comunicação de massa, pelo menos
sabíamos quem eram os responsáveis por aquela notícia ou visão de mundo, nas
mídias sociais o trabalho é ainda maior.

Figura 8- Fake News

Descrição da Imagem: Sobre uma mesa de madeira estão um notebook que aparece apenas parte do
teclado e sobre um smartphone com uma página de jornal virtual aberta. Sobre a notícia, como se fosse
um carimbo aparece a palavra FAKE.

Sem dúvida, as mídias sociais (Facebook, Twitter, Instagram) e as ferramentas de


comunicação digital como o WhatsApp, ocupam lugar central na disseminação
de informação nos dias de hoje. O problema da confiabilidade da informação se
agravou, porque ao longo do tempo aprendemos a desconfiar dos conteúdos das
grandes redes de comunicação de massa, mas a história recente demonstrou que
as mídias sociais são terreno fértil para mentiras e fake news. De certa forma, o

95
UNIDADE 3

anonimato que as mídias sociais oferecem fizeram com que grandes mentiras que
interessam a grupos políticos pudessem circular mais livremente (MOUNK, 2019).
O que faz o conteúdo circular é o fato de ele ser interessante e não necessa-
riamente verdadeiro.


Se o conteúdo criado for suficientemente novo ou interessante, até
mesmo alguém com poucos contatos é capaz de alcançar um pú-
blico amplo em questão de minutos. Ao criar uma rede de usuários
difusa na qual todo mundo se comunica entre si, as mídias sociais
alteraram a dinâmica de distribuição. Há um motivo para “meme”
ou “viral” serem termos novos em nosso vocabulário cotidiano: eles
só poderiam assumir a importância que têm hoje num mundo em
que qualquer um consegue capturar a imaginação de um punhado
de pessoas semelhantes, que então compartilham o que pensam
com o público mais global (MOUNK, 2019, sp.).

As redes sociais modificaram completamente a estrutura de circulação de in-


formações em nossa sociedade. Se no passado apenas poucas empresas e em-
presários eram criadores dos conteúdos que iriam circular na sociedade através
dos veículos de comunicação de massa, agora qualquer pessoa que criar um
conteúdo interessante pode “viralizar”. Para o bem ou para mal, e eu diria para
o bem e para o mal, as mídias sociais modificaram para sempre a forma como
nos comunicamos.
Então, as redes sociais podem ajudar a derrubar ditadores que querem con-
trolar um país, mas também podem derrubar governantes democraticamente
eleitos, que por algum motivo passaram a contrariar o interesse de poderosos.
E esse movimento pode ser fomentado como se estivesse surgindo do povo ou
fosse a voz do povo.

96
UNIDADE 3

Comunicação e transformação social

Figura 9 - Revolução digital

Descrição da Imagem: Contra um fundo de céu azul aparecem mãos levantadas para o alto segurando
celulares.

A ideia de transformação social, por muitas vezes esteve vinculada à ideia de


desenvolvimento. E sobre o desenvolvimento, ao longo dos anos, muitas teorias
e compreensões guiaram a estruturação das sociedades ao redor do mundo. Essas
sociedades desenvolveram suas formas de organização e sistemas produtivos,
político-jurídicos, sociais, culturais e comunicativos.

97
UNIDADE 3


Os modos de comunicação repercutem os modelos de desenvol-
vimento que as forças que se fizeram dominantes foram capazes
de assegurar. Deste modo, as políticas públicas de comunicação,
mesmo que não sejam explícitas, articulam-se às propostas de de-
senvolvimento predominantes, mesmo que estas não cheguem a
corresponder aos interesses e às necessidades de todas as classes
sociais. É próprio de uma situação como esta a existência de anta-
gonismos e o surgimento de alternativas constituídas por segmen-
tos em busca de soluções para os problemas sociais. É instigante o
papel dos grandes meios de comunicação de massa e digitais que,
a primeira vista, parecem atuar autonomamente e de forma inde-
pendente, como se fossem “um quarto poder”, mas que, de fato, são
orgânicos às classes dominantes para ajudar na consecução de seus
interesses organizados (PERUZZO, 2014. p.161).

No capitalismo ocidental as ideias de desenvolvimento invariavelmente passaram


pelo liberalismo econômico e a ideia de desenvolvimento de um mercado forte,
auto regulado e com pouca interferência do estado. O modelo de acumulação de
riqueza, no entanto, se provou grande gerador de desigualdades, especialmente
na crise americana de 1929, e mais recentemente na crise de 2008.
Em meio ao movimento histórico de afirmação do capitalismo como
sistema mundial, ao mesmo tempo que se constituem forças contrárias e
lutas sociais e políticas por independência, vão surgindo outras propostas
de desenvolvimento, como por exemplo a teoria do Desenvolvimento Par-
ticipativo (PERUZZO, 2014).
Segundo Peruzzo (2014), o Desenvolvimento Participativo está baseado nos
princípios estabelecidos pela Fundação Dag Hammarskjold. Nesta visão o de-
senvolvimento é gerado para a satisfação de necessidades, a começar pela erra-
dicação da pobreza. Este desenvolvimento é parte integrante da sociedade e ao
mesmo tempo autônomo e deve estar em harmonia com o meio ambiente.
Nesta perspectiva a ideia principal é que não existe modelo universal de de-
senvolvimento, e sim ele deve ser concebido como um modelo multidimensional
e dialético, que pode diferir de uma sociedade a outra (Servaes, 2004, p. 33).
Ou seja, o desenvolvimento acontece a partir da participação integral e sus-
tentável, tendo como princípios paradigmáticos (PERUZZO, 2014, p.168-169):

98
UNIDADE 3


• as necessidades básicas: o desenvolvimento pretende satisfazer
necessidades humanas, materiais e não materiais;
• que seja endógeno: definido a partir do núcleo de cada sociedade,
que estabelece com soberania seus valores e a visão de seu futuro;
• que seja auto confiável: implica que cada sociedade confie basica-
mente nas próprias forças e recursos, em termos das capacidades
de seus membros e de seu ambiente natural e cultural;
• que esteja integrado à ecologia: utilizando racionalmente os
recursos da biosfera com plena consciência do potencial dos
ecossistemas locais, assim como dos limites globais impostos às
gerações atuais e futuras;
• que se baseie na democracia participativa: como a verdadeira forma
de democracia, e não só um governo do povo e pelo povo, mas, fun-
damentalmente,“para as pessoas” em todos os níveis da sociedade; e
• o favorecimento das mudanças estruturais requeridas nas rela-
ções sociais, nas atividades econômicas e na distribuição espacial
da estrutura de poder para alcançar as condições de autogeren-
ciamento e participação no processo de decisão por todos aque-
les afetados, desde a “comunidade” até o mundo como um todo
(Servaes, 2004, p. 33-34).

A comunicação pode fazer parte das transformações da sociedade de maneira


propositiva, neste modelo de desenvolvimento participativo. Esse modelo favore-
ce a transformação das estruturas de poder e enfatiza a dialogicidade, e as noções
de acesso igualitário, diálogo e participação.
A Unesco conseguiu transformar essas ideias em prática social a partir da autoges-
tão, acesso livre e participação. Ao se inserir em contextos locais respeitando a cultura,
reconheceu os antagonismos, as diferenças e a lentidão para que as mudanças sociais
ocorram. Nesse contexto, se torna necessário que os processos e os meios de comuni-
cação se coloquem em favor da ampliação da cidadania para que os próprios cidadãos
possam interagir com as forças que constroem a sociedade (PERUZZO, 2014).
Nesta perspectiva a comunicação busca se alinhar a um modelo de desen-
volvimento que promova igualdade de acesso à riqueza e ao desenvolvimento
integral da pessoa. Não se trata apenas de progresso, mas da capacidade de fazer
com que a sociedade seja capaz de distribuir melhor comida, água, habitação, e
acesso aos bens de consumo (PERUZZO, 2014).

99
UNIDADE 3

Para Amartya Sen (2018), economista indiano, professor da Universidade


de Harvard, o desenvolvimento só acontece com liberdade, inclusive liberdade
de acesso aos bens de consumo. A dignidade em uma sociedade capitalista está
ligada à capacidade de que todos os seus cidadãos tenham acesso ao consumo.
A comunicação tem papel importante, disseminando informação, conhe-
cimento, confiança e promovendo uma atitude correta em relação aos projetos
de desenvolvimento. Ela deve ser facilitadora dos processos de mudança social
nos quais as pessoas menos favorecidas sejam as mais beneficiadas. O desenvol-
vimento nessa concepção deve promover uma mudança não apenas técnica e
política, mas também de mentalidade (PERUZZO, 2014).
A ideia de desenvolvimento participativo, pode vislumbrar uma esperança
pelos caminhos das novas mídias sociais que permitem que qualquer pessoa seja
protagonista das discussões e das ideias que circulam socialmente. No entanto,
para isso será necessário resgatar um compromisso social com a verdade, sendo
completamente intolerante com a mentira e o fake news, que manipula e des-
virtua o sentido da participação social, transformando-nos em marionetes nos
jogos de poder.

PENSANDO JUNTOS

Vamos refletir, o que nos falta para que as mídias sociais e os comunicadores sejam utili-
zados para o desenvolvimento inclusivo? O que nos falta como sociedade para que pos-
samos assumir a responsabilidade da construção de um futuro mais digno e comprome-
tido com a erradicação de nossos maiores problemas sociais? É possível que o poder de
comunicação que está em nossas mãos possa ser utilizado para construir uma sociedade
mais justa e igualitária?

100
UNIDADE 3

Culturas e a indústria Cultural

Figura 10 - Gravação de evento cultural

Descrição da Imagem: à esquerda em primeiro plano está um homem com uma câmera em um tripé.
Na sua frente em segundo plano, desfocada estão pessoas olhando para um palco ao ar livre.

101
UNIDADE 3

Podemos compreender a cultura como a expressão da identidade de um povo.


São expressões criativas do modo de vida, da concepção de mundo e das expe-
riências vividas em uma sociedade. Essas expressões criam a ideia de pertenci-
mento e aumentam o tecido social de uma sociedade.
As expressões culturais têm claramente um valor simbólico. Ou seja, as
músicas que cantamos, as nossas danças, as representações dos nossos seres
mitológicos, de nossas crenças, tudo isso constrói a nossa identidade cul-
tural. Em um país tão diverso e múltiplo como o Brasil, precisamos pensar
em culturas, no plural. Em diferentes culturas que se misturam e convivem
formando o caldeirão cultural no qual vivemos.
A legislação brasileira procura garantir o espaço da diversidade cultural por
meio da lei do audiovisual (12.485/2011). A lei preconiza o seguinte princípio:
II - promoção da diversidade cultural e das fontes de informação, produção
e programação. Além disso, limita em 30% o conteúdo importado e mesmo a
participação de capital estrangeiro nas emissoras e produtoras brasileiras.
No entanto, precisamos refletir sobre o impacto da massificação da cultura,
e a forma como ela é empacotada como produto, seguindo a lógica comercial. A
Teoria Crítica que surge na Escola de Frankfurt na Alemanha, entende o movi-
mento de massificação da cultura como a “indústria cultural”;
Para os pensadores da Escola de Frankfurt, Cultura e Indústria podem ser
autodestrutivos. Industrializar a cultura poderia, na visão de alguns autores,
matá-la. O termo Indústria Cultural nasce com a análise crítica de Adorno e
Horkheimer (1985), que tipificam o impacto da então nascente mídia de massa.
O rádio, o cinema e a televisão foram compreendidas por esses autores como
poderosas plataformas de manipulação da grande massa. A ideia de massificar
a cultura, passa por esvaziar seus significados e pasteurizar as expressões mais
originais para que possa ser facilmente consumida pelo grande público.

102
UNIDADE 3

EXPLORANDO IDEIAS

A Escola de Frankfurt (fundada em 1923 na Alemanha) foi o berço da teoria crítica e do conceito
de Indústria cultural. Teóricos europeus como Theodor Adorno e Horkheimer, se dedicaram a
estudar o impacto das mídias de massa sobre a sociedade. Baseados em estudos de grandes
autores como Hegel, Kant, Freud Max Weber, e inspirados nas críticas Marxista ao capitalismo,
desenvolveram teorias que eram um contraponto a teoria positivista. A teoria crítica se apoia
no método do materialismo histórico dialético, busca compreender a sociedade a partir do seu
contexto histórico e social. A compreensão é que a história de alguma forma é uma síntese das
contradições que nos trouxeram até o momento presente.
Fonte: Mogendorff, 2012

Figura 11 – O cinema na indústria cultural

Descrição da Imagem: A imagem de uma sala de cinema, no topo a tela iluminada e na parte inferior da
imagem em um primeiro plano os bancos e a silhueta da cabeça das pessoas.

103
UNIDADE 3

A indústria cultural, segundo Adorno e Horkheimer (1985), teria a função de


reorientar o comportamento das massas para uma postura conformista, não
permitindo que escapassem desse movimento. O conformismo substitui a cons-
ciência, evitando que a mensagem enviada seja confrontada. Assim, o indivíduo
é conformado em seu papel de consumidor, atingindo o seu objetivo de trans-
formar os homens em servos dependentes, incapazes de agir e decidir autono-
mamente (MACHADO, 2009).
Os produtos massificados da indústria cultural procuram anestesiar a re-
flexão crítica, por isso são sempre iguais. Ou seja, assistir a um filme é assistir a
todos e ouvir uma música é ouvir a todas. A padronização da cultura facilita o
consumo e entrega para o telespectador o entretenimento sem questionamentos,
sem exigir esforço.
A padronizar a cultura, a indústria cultural insere nas sociedades elementos
culturais das sociedades hegemônicas. Sabidamente, os EUA utilizaram estra-
tégias midiáticas para espalhar o seu estilo de vida para o mundo o “American
Way of Life”.
A publicidade, os filmes, o jornalismo, as músicas contribuíram para que
esse modo de vida se espalhasse radicalmente pelo mundo ocidental. A crítica
à indústria cultural, é também uma crítica ao imperialismo americano, que de
certa forma pasteuriza as expressões culturais locais e as transforma em produtos
de fácil consumo.

Não perca a oportunidade de ouvir o podcast sobre a


influência das mídias nas nossas relações diárias. Vamos
refletir de maneira provocativa analisando a nossa capaci-
dade de produzir “memes” para todo e qualquer acontec-
imento da vida social. Por que somos especialistas nessa
arte e de que forma isso pode influenciar nossa sociedade.
Dê o play, espero por você!

104
UNIDADE 3

NOVAS DESCOBERTAS

Filme: Obrigado por fumar


Sinopse: Nick Naylor (Aaron Eckhart) é o principal porta-voz das gran-
des empresas de cigarros, ganhando a vida defendendo os direitos
dos fumantes nos Estados Unidos. Desafiado pelos vigilantes da saú-
de e também por um senador oportunista, Ortolan K. Finistirre (Wil-
liam H. Macy), que deseja colocar rótulos de veneno nos maços de cigarros,
Nick passa a manipular informações de forma a diminuir os riscos do cigarro
em programas de TV. Além disto Nick conta com a ajuda de Jeff Megall (Rob
Lowe), um poderoso agente de Hollywood, para fazer com que o cigarro seja
promovido nos filmes. Sua fama faz com que Nick atraia a atenção dos prin-
cipais chefes da indústria do tabaco e também de Heather Holloway (Katie
Holmes), a repórter de um jornal de Washington que deseja investigá-lo.
Nick repetidamente diz que trabalha apenas para pagar as contas, mas a
atenção cada vez maior que seu filho Joey (Cameron Bright) dá ao seu traba-
lho começa a preocupá-lo.
Fonte: Adorocinema.com

Caro(a) estudante, esta unidade nos desafiou a pensar a comunicação social interna-
cional aos grandes assuntos da vida social. A economia, a cultura, a política se refletem
nas estruturas que sustentam nossa sociedade. As estruturas de poder influenciam
nossa vida diária, aquilo podemos ser e fazer, e a mídia se constitui um poder.

105
Caro Aluno, chegou a hora de você sintetizar o conhecimento adquirido nesta
etapa. Neste ciclo de aprendizagem discutimos os efeitos positivos e negativos
da comunicação social nas sociedades. Utilize a ferramenta gratuita é o www.go-
conqr.com para criar um mapa conceitual sobre os efeitos negativos e positivos
dos meios de comunicação de massa sobre as sociedades. Faça algo parecido
com o modelo.

Transformação social e desenvolvimento

O IMPACTO DAS MÍDIAS


DE MASSA NA SOCIEDADE

Indústria cultural e os efeitos negativos

Figura 12 - Modelo de Mapa conceitual

Descrição da Imagem: No meio do mapa em um retângulo maior está escrito: O impacto das mídias de
massa na sociedade. Deste retângulo saem dois novos retângulos ligados por linhas com os seguintes textos:
Transformação social e desenvolvimento; Indústria cultural e os efeitos negativos.
4
Estruturas Sociais
e os Mecanismos
que Interferem
na Função da
Comunicação
Dr. Rodrigo Robinson

Nesta etapa de nossa jornada vamos buscar compreender como as es-


truturas sociais influenciam a comunicação e as funções que os meios
ocupam nesses sistemas. Vamos explorar as funções da Publicidade
e do Jornalismo nas sociedades pós-industriais e ainda refletir sobre
a ética na comunicação social.
UNIDADE 4

Você deve conhecer a história do menino indiano criado por lobos no meio da
selva. Mogli recentemente foi recriado em uma animação realista que realmente
vale a pena ver. A história que emocionou gerações evidencia a relação entre dois
mundos que podemos comparar com diferentes sistemas sociais. A selva possui
sua hierarquia, relações de poder e comportamentos esperados muito definidos.
E entre essas regras está manter-se afastado dos humanos, que são perigosos para
o equilíbrio do sistema.
Mogli foi criado pensando ser um lobo, ele procura imitar o comportamento
dos lobos, e entre eles está a capacidade de fugir dos grandes predadores felinos. Em
um determinado momento Mogli começa a ser rejeitado, por estar colocando em
risco todo o sistema. Numa das cenas mais tensas do filme Shere Khan, o tigre vilão
que sempre o perseguiu, acusa, “um filhote de homem não pode viver na floresta!”.
De que forma se organizam os sistemas sociais? Como se estabelecem os
papéis sociais? Quais os papéis que os meios de comunicação possuem em nossa
sociedade? O que significa ser um Jornalista ou um Publicitário?
O filme pode ser um lindo espelhamento da realidade dos diferentes sistemas
sociais que estruturam nossas relações e comunicação. A floresta do filme possui
uma estrutura social que não oferece lugar para o homem, nem para o filhote de
homem, e a estrutura social dos humanos oferece risco para os animais da floresta.
Assim também as nossas vidas estão organizadas em sistemas sociais nos
quais ocupamos determinados papéis, ocupamos determinadas funções. Quando
você está em uma empresa desempenhando sua função, seja qual for, ela possui
um grupo de comportamentos esperados, os quais você deve cumprir para man-
ter aquele sistema funcionando. Por outro lado, quando você está em sua casa, se
você for um filho que mora com os pais, você tem outros papéis a cumprir, assim
como se você for uma mãe, terá muitas outras responsabilidades e atribuições.
O ser humano não é capaz de viver sozinho, mesmo o Mogli, perdido na
floresta precisou se inserir em um contexto social. Cada um de nós faz parte
dessas estruturas, e compreender os papéis sociais e as relações entre eles, fará
grande diferença na forma como compreendemos a comunicação e como nos
posicionamos nessas estruturas.
Você faz parte de diferentes sistemas sociais. Faça uma lista de todos os siste-
mas sociais que você faz parte (como na faculdade, na família, no trabalho, etc.)
e defina a posição que você ocupa nesse sistema.

110
UNIDADE 4

A partir desta experiência, começamos a refletir sobre as estruturas sociais


as quais fazemos parte. Você deve ter percebido que em alguns sistemas sociais
você tem mais responsabilidades e obrigações e em outros menos. Essa dinâmica
interfere diretamente na forma como nos comunicamos. Pense nas palavras, na
entonação, nos argumentos que você utiliza no trabalho, e na forma como con-
versa com seus amigos, com certeza é diferente.
Quais os papéis que você ocupa nesses sistemas em que você parte? Como
você se sente nesses papéis? Você gostaria de ocupar outros papéis? De que forma
os seus estudos podem ajudá-lo a ocupar novos papéis?

Os seres humanos são seres sociais. Nós não somos capazes de viver sozinhos,
isolados, sem contato com ninguém, embora às vezes eu queira fugir do contato
com outras pessoas (um pouco antissocial), tenho que reconhecer que seria im-
possível viver sozinho (BERLO, 1960). Por muito tempo se sustentou a tese de que
os homens começaram a viver em coletivos para se protegerem e sobreviver em
ambientes hostis. No entanto, as pesquisas têm mostrado que esse não era o único
nem o principal motivo, o que ficou revelado é que existe um aspecto existencial
na vida social. Isso significa que vivemos em comunidades desde os tempos mais
remotos porque a vida precisa ser compartilhada para adquirir sentido, significa-
do, e isso é fundamental para a experiência humana (FLIGSTEIN, 2013).

111
UNIDADE 4

Figura 1 - Homem e mulher compartilhando momentos / Fonte:https://pixabay.com/pt/photos/ho-


mem-mulher-cachorro-2425121/

Descrição da Imagem: Do lado esquerdo da imagem aparece um homem vestindo uma calça jeans
escura, uma camiseta clara e uma jaqueta. Ele está sentado com a perna esquerda dobrada e sobre ela,
segura uma xícara. O homem sorri com uma expressão descontraída e tranquila. Do lado direito está
uma mulher semi deitada com as pernas na direção do homem, ela veste calça jeans e usa um grande
cachecol. Ela está sorrindo e também segura uma xícara, no seu colo aparece um cachorrinho. Os dois
estão encostados em uma parede de madeira bem rústica e sentados sobre grandes almofadas.

Foram encontrados esqueletos enterrados com colares, adereços e armas, que


evidenciam que nestes rituais mais remotos de sepultamento, os significados, o
reconhecimento social, a reverência, enfim a subjetividade estava acima das ne-
cessidades mais utilitárias. Os aspectos sociais de reconhecimento e construção
de identidade já estavam presentes e se constituem elemento essencial para a
condição humana (FLIGSTEIN, 2013).
Como vimos anteriormente, todo o processo de comunicação tem a intenção
de influenciar o comportamento de outras pessoas. Ou seja, as pessoas se comu-
nicam buscando transmitir suas ideias de forma a produzir nos outros um deter-
minado comportamento. Neste sentido, no processo de comunicação tentamos

112
UNIDADE 4

prever o comportamento de outras pessoas. Ou seja, procuramos fazer previsões


de como as pessoas irão reagir ao que comunicamos, e dessa forma tentamos
ajustar a forma de comunicação para que o resultado obtido, ou a influência sobre
a outra pessoa seja o mais perto possível do nosso objetivo.
Uma criança aprende desde cedo a forma como seus pais são mais receptivos
aos seus pedidos. Crianças que fazem birra, choram e conseguem o que querem,
certamente voltarão a utilizar esse recurso de comunicação. Certa vez, estávamos
em um supermercado e era a época perto da Páscoa. Você já imaginou os corre-
dores cheios de ovos pendurados. Minha sobrinha tinha mais ou menos sete anos
de idade, e sabia que fazer birra e chorar não colava com a sua mãe. Então, quando
já estavam se dirigindo ao caixa ela falou: “Mãe, sabia que eu gosto muito de ovo
de páscoa?” O resultado vocês podem imaginar, ela ganhou o ovo que queria.
Segundo Berlo (1960), uma das formas que encontramos para estabelecer
uma interação necessária para que os objetivos da comunicação sejam alcança-
dos, é através da empatia. As previsões do comportamento baseados na empatia,
demandam um grande esforço físico de conhecer a outra pessoa.
A empatia é definida por Falcone et al. (2008, p.323), como “a capacidade de
compreender de forma acurada, bem como de compartilhar ou considerar sen-
timentos, necessidades e perspectivas de alguém expressando esse entendimento
de tal maneira que a outra pessoa se sinta compreendida e validada.”.
A habilidade empática é fundamental para o desenvolvimento de relacio-
namentos duradouros. Em pesquisa realizada por Fonseca e Carvalho (2016),
pode-se evidenciar uma correlação positiva entre a existência da habilidade em-
pática e casamentos de longa duração. O que significa que a existência de empatia
influencia a satisfação conjugal, ou seja, os casais com habilidades empáticas são
mais felizes e possuem casamentos mais duradouros.
No entanto, Berlo (1960) aponta para duas limitações para a empatia como fer-
ramenta de interação na comunicação: Ela consome muita energia, e ela perde a
exatidão à medida que o grupo aumenta. No primeiro ponto, precisamos levar
em consideração que interagir empaticamente com outras pessoas exige um grande
esforço do interlocutor. É preciso tempo e dedicação para que se possa compreender
as perspectivas, sentimentos e necessidades das outras pessoas, e isso exige um esforço
físico. Por isso, ficamos cansados quando estamos diante de uma situação social nova.
Quando vamos para uma festa que não conhecemos ninguém, ou nos primeiros dias
de um novo trabalho, o esforço para interagir através da empatia é realmente cansativo.

113
UNIDADE 4

O segundo ponto de dificuldade da interação empática, acontece quando va-


mos interagir com grandes grupos de pessoas. Quando estamos em reuniões,
conferências, ou em grupos grandes, precisamos levar em consideração várias
pessoas ao mesmo tempo, o que dificulta o estabelecimento de interação empática.
Para que exista uma boa interação a partir da habilidade empática é preciso
que certos pressupostos sejam atendidos. Segundo Berlo (1960, p. 135), os pré-
-requisitos são os seguintes:


1. Não nos comuniquemos com muitas pessoas ao mesmo tempo;

2. Tenhamos tido experiência prévia com essas pessoas, para que


tenhamos base para fazer previsões a respeito delas;

3. Sejamos sensíveis ao comportamento humano, isto é, tenhamos


habilidades de empatia;

4. Estejamos motivados (dispostos a despender energia) para a


interação.

No entanto, quando esses pressupostos não podem ser atendidos, ou seja, quando
estamos em um grande grupo, ou não conhecemos as pessoas previamente, ou
mesmo não temos o interesse ou a habilidade de ser sensíveis ao comportamento
do outro, a empatia não serve como base para a interação.
Existe uma segunda base para a compreensão das expectativas sobre o com-
portamento humano. Essa base são os sistemas sociais que podemos identificar
em grupos humanos organizados. Segundo Berlo (1960), conhecer a composição
e o funcionamento de um sistema social é útil para que possamos prever o com-
portamento das pessoas desse grupo em determinadas situações.
Os sistemas sociais surgem da necessidade humana de viver coletivamente.
O ser humano é interdependente de outros seres humanos para alcançar seus
objetivos pessoais. Ou seja, é muito pouco provável que você atinja seus objeti-
vos de vida sem participar de um sistema social. Para se tornar um médico, você
precisará cursar uma universidade que tem seus sistemas de relações sociais, pro-
fessores, os colegas, os conteúdos, e mais do que isso, aprender o que é permitido
e o que não é permitido para alguém que quer ser médico.

114
UNIDADE 4


Os sistemas sociais são as consequências da necessidade que tem o
homem de relacionar seu comportamento com os comportamentos
dos outros, a fim de realizar seus objetivos (BERLO, 1960, p.137).

Em um sistema social precisamos compreender os seus elementos e a sua estrutura.


Os elementos são os comportamentos esperados dos indivíduos do grupo e a estru-
tura a forma como esses comportamentos são categorizados e interagem entre si.
Vamos compreender melhor, os comportamentos são as respostas esperadas a de-
terminados estímulos recebidos. Então em um determinado sistema social, espera-se
que pessoas que ocupam determinadas posições no sistema, se comportem de uma
forma específica. Um conjunto de comportamentos pode constituir uma categoria de
comportamentos. Berlo (1960) chama essas categorias de Comportamentos-papéis,
ou podemos apenas chamá-los de papéis. “A expressão “comportamento-papéis” de-
nomina um grupo de comportamentos selecionados, coligados e associados a uma
pessoa em determinada posição num sistema social” (BERLO, 1960, p.137)
Os comportamentos-papéis possuem relação entre si, e se estruturam em diferen-
tes posições dentro de um sistema social. Então, em nossa sociedade temos um con-
junto de comportamentos que atrelamos ao papel de “mãe”. Entendemos a “mãe” como
protetora, cuidadora, fonte de amor e de afeto. Esperamos que ela cuide de seus filhos,
se preocupe com a família, e assim por diante. Esse conjunto de comportamentos são
os comportamentos-papéis que esperamos de uma mãe no nosso sistema social. O
papel “mãe”, se relaciona, no entanto, com outro papel que entendemos como o papel
de “filhos”. Os filhos devem obediência, carinho e respeito a sua mãe. Entre os papéis,
“mãe” e “filhos” existe uma relação, eles estão em diferentes posições no sistema social.
E essas relações entre os papéis é o que estrutura um sistema social.
A ideia de “papel social” foi introduzida no pensamento sociológico por Émi-
le Durkheim (1858-1917), em sua obra “Da Divisão do Trabalho Social”. Nesta
obra Durkheim (1977) ocupou-se em entender a especialização no trabalho. A
especialização do trabalho faz com que um determinado sujeito seja conformado
em uma determinada forma de agir que corresponde ao seu “papel social”. Nessa
perspectiva, o sujeito cumpre o seu papel à medida em que colabora para a orga-
nização social ao desempenhar as funções esperadas por aqueles que se encaixam
dentro de um grupo específico com atribuições previamente designadas.

115
UNIDADE 4

À medida que duas pessoas desenvolvem atividades que estejam relaciona-


das, elas organizam esses comportamentos de maneira a não duplicar a tarefa,
ou seja, dividem o trabalho e tornam as funções mais especializadas. As formas
como se estratificam e especializam os comportamentos determinam como os
comportamentos-papéis serão agrupados e os papéis definidos (BERLO, 1960,
p.139). Se definem também quais os comportamentos que serão agrupados sob
um mesmo nome, e quais serão separados em outra nomenclatura.
Assim, a pessoa que faz os cálculos, e desenha as plantas para construir uma
casa passa a ser chamada de Engenheiro, e a pessoa que levanta os tijolos e executa
a obra é conhecido como pedreiro. No entanto, se em uma construção, o pedreiro
ocupar um papel de coordenação ele será designado Mestre de obras.

PENSANDO JUNTOS

Os papéis sociais podem ser utilizados para reforçar estigmas e estratificar a sociedade.
Muitas vezes os estigmas sociais podem ser prejudiciais para populações mais vulnerá-
veis. Então, os papéis sociais que sobram para pessoas pobres são aqueles que os man-
tém nessa situação de pobreza. Essa situação deve nos fazer repensar: se quisermos uma
sociedade mais justa e igualitária, quais as funções sociais, os papéis que as pessoas mais
vulneráveis podem assumir que os ajude a sair dessa situação?

A definição da hierarquia entre os papéis sociais de um determinado sistema so-


cial se estabelece a partir de disputas entre interesses e poderes dos participantes.
Segundo Fligstein (2013), os campos sociais, poderíamos compreendê-los tam-
bém como sistemas sociais, se estabelecem a partir das disputas entre os atores
que tradicionalmente dominam o campo, e os atores desafiadores que procuram
se colocar em posições confortáveis nesses campos.
Por exemplo, recentemente no Brasil surgiu uma discussão sobre a regula-
mentação da profissão de Jornalista. Uma grande disputa está em andamento, de
um lado, profissionais consagrados da imprensa brasileira que não possuem um
curso superior de jornalismo, mas que exercem a profissão há muitas décadas, e
de outro as instituições de ensino, associações de classe e profissionais. Em dis-
puta estão os parâmetros como por exemplo a exigência de ter curso superior, ou
seja, comportamentos necessários para ser considerado jornalista, para ocupar a
posição de jornalista no sistema social das profissões de comunicação.

116
UNIDADE 4

Uma vez definidos os comportamentos que se espera de um determinado pa-


pel social, se estabelece também as funções que ele terá na sociedade estratificada
e especializada. Ou seja, quais serão as atividades, e as funções que se espera que
esses papéis desempenhem. Nesse contexto, a partir de agora iremos aprofundar
as funções dos meios de comunicação.
Os meios de comunicação de massa nasceram com ferramentas que mo-
dificaram as relações de poder em nossas sociedades. O poder de influenciar a
opinião pública passou a estar nas mãos dos veículos de comunicação, agindo
como um novo ator no jogo político e cultural das sociedades.

Figura 2 - Mulher espantada olhando para o celular

Descrição da Imagem: Uma mulher está bem no centro da imagem com uma expressão facial de espanto,
ela levanta os óculos com a mão esquerda enquanto olha para o celular que segura com a mão direita.

O esforço idealista dos pioneiros da radiodifusão, como Roquette-Pinto no Brasil, que


compreendiam o novo meio como a possibilidade de democratização da educação e
da cultura, logo se transformou em poder das grandes corporações de mídia.

117
UNIDADE 4

A imprensa que surge como um pilar das democracias, como garantidora da


livre expressão e da livre divulgação de ideias, logo passou a ser um ator poderoso
no jogo de interesses pessoais e de fato não se concretizou como a voz do público.
No entanto, não foi apenas o jogo político, econômico e social que se
modificaram com o estabelecimento dos meios de comunicação de massa.
Marshal McLuhan (1964) faz uma reflexão sobre como a tecnologia de comu-
nicação de massa passa a ser assimilada pelo homem como sendo extensão
dele mesmo. Os meios têm um poder de sedução sobre os homens, capaz de
enfeitiçar e estabelecer seus pressupostos, passando a controlar o ser humano
como em um transe narcísico (McLUHAN, 1964. p.17).
A interpretação que McLuhan faz do mito de Narciso que se apaixona
por sua própria imagem, é que ele não se encanta por ele mesmo, mas pela
possibilidade de ver uma extensão de si mesmo na imagem refletida. Para
McLuhan é o mesmo encanto que faz com que nós percebamos a televisão,
o rádio, os meios de comunicação como extensões de nós mesmos. Os meios
como extensões do homem, acontecem porque nos encantamos com a pos-
sibilidade de sermos pós-humanos (SANTAELLA, 2007), “ampliados” pelas
extensões, modificações e adaptações do nosso próprio corpo.
Na visão de McLuhan, esse encantamento, ou embriaguez, amortece a capaci-
dade crítica e torna os seres humanos, passivos servis das vontades e dos pressu-
postos que os meios nos impõem. McLuhan traz uma citação interessante do Papa
Pio XII, explicitando a preocupação com o domínio que os meios de comunicação
exercem sobre o homem, e a necessidade de que cada indivíduo resista,


“Não é um exagero dizer-se que o futuro da sociedade moderna,
bem como da estabilidade de sua vida interior, dependem em gran-
de parte da manutenção de um equilíbrio entre a força das técni-
cas de comunicação e a capacidade de reação do indivíduo.” (In:
McLUHAN, 1964, p.21)

Pio XII e McLuhan falam em capacidade de reação porque entendem que o ser
humano tem fracassado no intento de resistir. McLuhan (1964, p.21) chega a
dizer que a aceitação dócil e subliminar do impacto causado pelos meios trans-
formou-os em prisões sem muros para seus usuários.

118
UNIDADE 4

PENSANDO JUNTOS

Precisamos pensar sobre o impacto que os meios de comunicação, e ainda mais os novos
meios digitais, trazem não apenas para as estruturas da sociedade, mas também sobre a
forma como pensamos e interagimos com o mundo.
Fonte: Santaella, 2007.

Para Lúcia Santaella (2007, p.128), uma das maiores estudiosas de semiótica do
Brasil, já é consenso que a revolução tecnológica que estamos atravessando é
psíquica, cultural e socialmente muito mais profunda do que foi a invenção do
alfabeto. O conceito de homem pós-humano de Santaella (2007, p.129), avança
mais um passo na ideia das extensões do homem, que nesse momento passa a de
fato integrar o seu próprio corpo. A condição pós-humana diz respeito à natureza
da virtualidade, genética, vida inorgânica, ciborgues, inteligência distribuída,
incorporando biologia, engenharia e sistemas de informação.
Embora cunhados em tempos muito diferentes, o que pode unir esses dois
conceitos é a ideia de que o homem não tem mais a capacidade de viver separado
dos avanços tecnológicos que invadiram definitivamente sua psique e seu corpo.
É preciso compreender a crítica determinista de McLuhan (1911-1980),
no contexto em que se deu, o domínio da televisão nos meios de comunica-
ção e o avanço do seu formato por sobre os outros meios. É difícil imaginar
que o homem dos nossos dias seja ingênuo em relação aos meios de comu-
nicação. Por essa leitura que mistura a tecnologia dos meios, com os veículos,
ou seja, as empresas de comunicação, McLuhan foi criticado. Contudo, suas
reflexões sobre o poder que os meios têm de influenciar a forma como pen-
samos e vemos o mundo são relevantes.
Precisamos avançar nessa discussão para o impacto das mídias sociais sobre
nossas relações e modos de viver e pensar. Até o advento e o estabelecimento
das grandes redes de televisão, ainda existia uma similaridade com o mundo
inventado pela prensa gráfica de Gutenberg. Havia um número limitado de redes
de rádio e televisão que eram formadores de opinião e um grande número de
receptores. Existia um impedimento financeiro para tornar-se um influenciador,
era preciso ser dono de uma rede de televisão ou rádio, a internet, e mais especi-
ficamente as mídias sociais mudam essa lógica (MOUNK, 2019).

119
UNIDADE 4

A internet e as mídias sociais sem sombra de dúvida subverteram essa lógica.


Agora qualquer pessoa pode ser uma difusora e produtora de informação e conteúdo.
Essa característica desafiou o sistema tradicional de influência e apresentava um ver-
dadeiro potencial para aprofundar a democracia. Nos anos de 2013 e 2014 entusiastas
das novas ferramentas acreditavam que elas tinham potencial de aproximar velhos
inimigos e ser um caminho para vencer os ódios arraigados (MOUNK, 2019).
Mas, na realidade, não foi bem isso que aconteceu. Diferentes grupos deram
diferentes usos para a ferramenta, utilizando-a como ferramenta de emancipação
e em outros casos fortalecendo governos autoritários, incitando ódio racial e todo
tipo de causa desprezível.


A verdade sobre as mídias sociais, a meu ver, não é que necessariamente
sejam boas ou más para a democracia liberal. Tampouco que promovem
ou minam a tolerância. Pelo contrário: diria que elas diminuem o abis-
mo tecnológico entre os insiders e os outsiders políticos. Até algumas
décadas atrás, os governos e as grandes (MOUNK, 2019, p. 166).

Yascha Mounk (2019), é um cientista político que recentemente escreveu o livro


“O Povo Contra a Democracia”. Ele faz uma análise da recente influência das redes
sociais no jogo político mundial, inclusive apontando as mídias sociais como uma
das causas das recentes ameaças à democracia mundial, especialmente a partir da
análise do comportamento de Donald Trump. Contudo a citação acima, revela
que mesmo considerando que as mídias sociais foram um dos elementos que nos
trouxeram a este momento de ameaça às democracias pelo mundo, ele entende
que elas não são nem boas nem más, diferente do olhar mais crítico que McLuhan
dispensou aos meios de comunicação de massa no passado.
Dentro desse contexto de jogos de poder, e de influência que os meios de co-
municação de massa e mesmo as mídias sociais possuem, podemos refletir sobre
as funções da publicidade na sociedade de consumo em que vivemos.

120
UNIDADE 4

Propaganda e Publicidade

Para refletir sobre o papel da publicidade nesse contexto, quero recorrer à visão
de Gilles Lipovetsky (2000), especialmente ao texto “Sedução, publicidade e pós-
-modernidade”. Neste texto o autor apresenta uma visão profunda sobre o papel da
publicidade na vida do ser humano pós-moderno, sem cair no reducionismo que
aponta a publicidade e o marketing como o grande vilão do capitalismo, empurran-
do as pessoas para o consumo desenfreado e uma vida consumista e sem sentido.

Figura 3 - Publicidade out of home

Descrição da Imagem: A imagem apresenta o cruzamento de avenidas centrais em uma grande cidade
americana. A imagem é noturna e existem muitos táxis nas avenidas e os prédios estão cobertos por
letreiros e placas luminosas.

121
UNIDADE 4

Definitivamente, Lipovetsky (2000) aprofunda a compreensão sobre a relação


entre a sedução e a publicidade e seu impacto sobre as pessoas. Para contextua-
lizar o pensamento do autor é preciso compreender sua visão também sobre a
Sociedade de Consumo:


[...] por sociedade de consumo não se deve entender simplesmente
um individualismo egoísta e o reino dos shopping centers. Há tam-
bém, na atualidade, um retorno da religião, uma preocupação com
a identidade, com o reconhecimento e a valorização de si, com a
aceitação do outro (LIPOVETSKY, 2000, p.7).

Esta visão sobre o contexto do consumo já aprofunda a visão sobre os possíveis


papéis da publicidade. O consumo faz parte do trabalho que o homem pós-mo-
derno tem de construir sua própria identidade (BAUMAN, 2000). Lipovetsky
(2000) sublinha que o problema não está no consumo em si, e sim nas desigual-
dades que impedem que todos tenham acesso ao consumo. Em sua visão, as
sociedades de consumo são mais livres e a pressão da moda ou da publicidade
não é autoritária, e não impede a expressão pessoal dos que nelas vivem.
Nesse sentido, já se começa a desenhar um papel importante da publicidade
nessa sociedade. Ao passo que essas sociedades abandonam regimes autoritários
e buscam construir relações baseadas na liberdade, o que faz com que as pessoas
usem determinados produtos é o seu poder de sedução. Lipovetsky (2000) rejei-
ta a ideia de que a publicidade tenha o poder manipulador de fazer as pessoas
consumirem o que não desejam, sua leitura é de que, por desejarem, se deixam
seduzir pela publicidade.

122
UNIDADE 4

Então a publicidade se modificou e também influenciou o imaginário das


pessoas, estimulando o lúdico, o teatral e o espetáculo.


A publicidade libertou-se da racionalidade argumentativa, pela
qual se obrigava a declinar a composição dos produtos, segundo
uma lógica utilitária, e mergulhou num imaginário puro, livre da
verossimilhança, aberto à criatividade sem entraves, longe do culto
da objetividade das coisas (LIPOVETSKY, 2000, p.8).

Lipovetsky (2000) chama a publicidade de a cosmética da comunicação. No sen-


tido de que ela embeleza, deixa atraente, seduz pela criatividade, pela insinuação.
No entanto, apesar de apelar para o jogo da sedução, a publicidade se dedica a
temas secundários da vida. O amor, a criação de filhos, a política, e a morte, não
são objetos da sedução publicitária, e sobre esses assuntos as pessoas estão muito
mais sujeitas aos seus círculos pessoais de influência.
Mesmo no mundo da modernidade líquida, em que as grandes instituições
como a família, a igreja e a escola perdem sua onipresença nesses temas centrais,
os indivíduos em busca de construir suas identidades, não são manipulados pela
publicidade, antes encontram em círculos de influência, algum apoio para essa
tarefa interminável e solitária (BAUMAN, 2000).
Isso não significa dizer que o consumo não faça parte desse processo, mas o
indivíduo desse tempo negocia com a sedução e se deixa envolver ou simples-
mente ignora. Nesse sentido a sociedade de consumo é muito mais plural, aberta
e permite diferentes formas de viver.
Ainda assim se pode listar algumas funções da mídia nos tempos pós-modernos.
McQuail (2003 apud FREITAS; RUÃO, 2001, p.352-353) nomeia cinco funções:

123
UNIDADE 4

A função de informação corresponde ao


papel da mídia de transmitir os eventos
FUNÇÃO DE INFORMAÇÃO que acontecem no mundo, anunciar rela-
ções de poder existentes e contribuir com
o progresso por meio de renovações.

A função de correlação, além de infor-


mar, busca interpretar, criticar, comentar
os significados das informações; além
FUNÇÃO DE CORRELAÇÃO de providenciar que os pareceres das
autoridades e instituições sejam trans-
mitidos, e assim, socializar e auxiliar na
construção de consensos

A função de continuidade está relacio-


nada com a construção da ordem social,
FUNÇÃO DE CONTINUIDADE relata o papel midiático de sustentar
valores e indica e reforça a cultura domi-
nante e as subdominantes.

A função de entretenimento tem objetivo


FUNÇÃO DE ENTRETENIMENTO de promover meios de descanso, e em
consequência, reduzir a tensão social.

A função de mobilização movimenta


ideias com finalidades sociais como por
FUNÇÃO DE MOBILIZAÇÃO
exemplos no âmbito da política e da
economia.

Quadro 1: Funções da mídia nos tempos pós-modernos / Fonte: adaptado de McQuail (2003) apud
FREITAS; RUÃO, 2001, p.352-353)

124
UNIDADE 4

A publicidade também desempenha papéis que foram esboçados por Rasquilha


(2009 Apud FREITAS; RUÃO, 2001, p.354): informação, economia, financiamen-
to, substituição, estereotipação, desproblematização e conservadorismo.
■ A função de informar tem como objetivo levar o conhecimento sobre a
marca, o produto ou a ideia para o cidadão receptor da mensagem. Todos
os manifestos publicitários passam informações sobre o anunciante, in-
dependente de terem objetivos comerciais ou institucionais e dos meios
em que são propagados.
■ A função econômica visa estimular o consumo e ativar o mercado financeiro.
■ A função financiadora propõe que a publicidade sustente veículos de co-
municação, como por exemplo, jornais.
■ A função substitutiva incentiva uma realidade fictícia por meio de repre-
sentações do objeto real, como por exemplo, por um signo publicitário.
■ A função “estereotipadora” estimula um conjunto de características de um
determinado nicho de público, sendo que a própria mensagem publicitária
usa estereótipos em seu discurso.
■ A função “desproblematizadora” está mais relacionada com estratégias do
discurso publicitário, que contém uma história feliz, com prazer associado
à marca e à compra.
■ A função conservadora vale-se de valores já existentes na sociedade para
divulgar suas mensagens incentivando modelos conservados na sociedade.

A publicidade se mostra essencial para o consumo simbólico, criando histórias e


contexto para que os produtos sejam consumidos. Na Sociedade de Consumo, na
era da informação, os elementos subjetivos estão muito presentes no consumo do
que a satisfação utilitária. A era da informação é também a era da pós-verdade. O
Dicionário de Oxford, elegeu como expressão “pós-verdade” como a palavra do
ano de 2016. Na definição desse mesmo dicionário, pós-verdade são as circuns-
tâncias em que os fatos objetivos são menos influentes na formação da opinião
pública do que emoções e crenças pessoais (SPINELLI; SANTOS, 2018, p.59).

125
UNIDADE 4

Figura 4 - As mídias sociais na palma da mão

Descrição da Imagem: Uma mão segura um smartphone visto de cima em primeiro plano, na tela é
possível ler a palavra Social Media, e ver os ícones das principais redes sociais. Na parte direita da imagem
aparece uma xícara e um computador desfocados.

Não é sem motivo que essa palavra se insere definitivamente em nossas socie-
dades em 2016. A campanha de Donald Trump à presidência dos EUA, foi um
marco na utilização das mídias sociais para divulgar notícias falsas.


Muitas histórias inventadas e difundidas em portais como Vdare, In-
foWars e American Renaissance eram tão forçadas ou escabrosas que
ficava difícil entender como alguém podia acreditar nelas. “Papa Fran-
cisco choca o mundo e declara apoio à candidatura de Donald Trump à
presidência”, alardeava certa manchete.“Bomba: revelamos rede satanis-
ta de Hillary Clinton”, anunciava outra. Mas uma parcela significativa da
população acreditava. Segundo pesquisa realizada em agosto de 2016,
42% dos eleitores registrados passara a acreditar que Hillary Clinton era
“do mal”. Em uma pesquisa ainda mais surpreendente feita na Carolina
do Norte, dias após Trump ter se referido a Clinton como o “demônio”,
41% de seus apoiadores afirmaram acreditar que isso era “literalmente
verdade” (MOUNK, 2019, p. 164-165)

126
UNIDADE 4

O fato é que estamos vivendo tempos de grande circulação de mentiras com


cara de verdade. Chega a ser impressionante a quantidade de notícias falsas
e como elas circulam rapidamente. Pesquisa recente do MIT (Massachusetts
Institute of Technology) mostrou que elas circulam 70% mais rapidamente
do que notícias verdadeiras (CASTRO,2020).
Se em 2016, a palavra do ano foi pós-verdade, em 2018, definitivamente as
palavras “Fake news” entraram para o vocabulário do brasileiro. As pesquisas
no Google chegaram a crescer 30 vezes em um único dia e se mantiveram
dali pra frente. Veja o gráfico que pode ser encontrado no site de estatísticas
do próprio Google Trends.

100

75

50

25

19 de março 18 de novembro 19 de julho 19 de março


de 2017 de 2018 de 2020 de 2022

Figura 5 - Gráfico do aumento da busca pelo termo Fake news no Google (19/03/2017 a 19/03/2022)
/ Fonte: https://trends.google.com.br/trends/explore?date=today%205-y&geo=BR&q=fake%20news

O contexto de surgimento desse fenômeno é uma crescente desconfiança de que


as grandes redes de comunicação manipulam a opinião pública com inverdades.


Considera-se, então, uma parcela de culpa ao jornalismo pela pro-
liferação de mentiras e imprecisões nas mídias e a negligência em
relação aos imperativos de qualidade, os quais ferem o maior patri-
mônio da mídia: a credibilidade (SPINELL; SANTOS, 2018, p.170).

Feitosa (2017) fez uma comparação com a análise feita pela filósofa Hannah
Arendt ao analisar as formas do crescimento do autoritarismo e o antissemitis-
mo. Hannah Arendt cunhou o termo “mentira organizada” que se dava a partir
da aliança dos meios de comunicação com os regimes totalitários, fazendo com
que toda a realidade possa ser falsificada através de estratégias de manipulações
midiáticas (SPINELLI, SANTOS, 2018).

127
UNIDADE 4


O resultado não é mais apenas a substituição da verdade pela men-
tira, mas a paulatina destruição na crença em qualquer sentido que
nos oriente pelo mundo. Em outras palavras, a mentira organizada
contemporânea conduz a um cinismo niilista, uma recusa em acre-
ditar na verdade de qualquer coisa. A descrença é a desistência da
tarefa de fazer qualquer avaliação. Algo parecido acontece quan-
do, no Brasil de hoje, se diz que todos os políticos são corruptos,
como se não houvessem aí distinções mais finas ainda a serem feitas
(FEITOSA, 2017 in: SPINELLI, SANTOS, 2018 p. 76 - grifo nosso).

A desistência de fazer qualquer avaliação ou verificação é uma atitude muito


ruim para o processo de comunicação social. O imediatismo das novas mídias
sociais, que multiplicam assuntos bombásticos, elimina o processo de reflexão e
crítica das informações que recebemos. Esse é o ambiente perfeito para o cres-
cimento das fake news.
Poderíamos pensar também sobre a função do jornalismo em nossas socie-
dades. Em primeiro lugar existe uma necessidade de as pessoas saberem o que
está acontecendo em suas cidades, no país e na sociedade interconectada em que
vivemos, também do outro lado do mundo. Nesse sentido, para Kovach e Rosens-
tiel (2003) a notícia é o principal produto do jornalismo e se sustenta por uma
necessidade do ser humano: o instinto de percepção (SPINELLI; SANTOS, 2018
p. 176). Para esses autores, o jornalismo tem um compromisso com a verdade, e
entende a importância de apurar bem os fatos, buscar a exatidão, a equidade e
a verdade, em um trabalho contínuo que está na essência das notícias.
Nessa mesma compreensão, Gilles Gauthier (2015) defende a tese de que a
verdade é um imperativo intrínseco ao Jornalismo. Para este autor produzir afir-
mações verdadeiras é um pressuposto da atividade jornalística. Gaulthier (2015,
p. 207) advoga em favor de um realismo jornalístico


1) Existe uma realidade independente do Jornalismo e é sobre esta
realidade independente que trata, em última instância, o Jornalismo.
É a partir desta realidade independente que provêm a construção
jornalística. O segundo enunciado diz respeito à verdade.

2) O Jornalismo consiste na produção de asserções verdadeiras so-


bre esta realidade independente. A atribuição de valor de verdade é
atividade anterior à construção jornalística.

128
UNIDADE 4

Nessa perspectiva, no contexto atual de aumento de fake news surge para o jor-
nalismo profissional uma tarefa que tem sido chamada de fact-checking, ou a
checagem dos fatos. Na verdade, o jornalismo profissional sempre se dedicou
a essa tarefa, no entanto, nesse novo contexto em que as notícias podem surgir
de diferentes fontes, e ser divulgadas por qualquer pessoa, essa tarefa se tornou
fundamental (SPINELLI; SANTOS, 2018).
A partir dos anos 2000, essa tarefa começou a crescer rapidamente, especial-
mente para verificar declarações de figuras públicas. Essa nova tarefa foi reconhe-
cida pelo público e premiada por seus serviços a uma sociedade mais transparente,
o auge aconteceu em 2009 quando o site PolitiFact.com recebeu o Prêmio Pulitzer,
a maior premiação mundial do jornalismo. No Brasil, existem três agências de
fact-checking certificadas pelo IFCN (International Fact-checking Network), são
elas, a Agência Lupa, Agência Truco, e Aos Fatos (SPINELLI; SANTOS, 2018).
O compromisso com a verdade se torna ainda mais fundamental nesse contex-
to, no entanto, a grande quantidade de informações e notícias que as pessoas têm
acesso podem fazer com que elas optem por informações mais diretas e impactan-
tes como são geralmente as fake news. Nesse sentido, um desafio para o jornalismo
profissional é se concentrar na síntese e na verificação, deixando a interpretação, o
insignificante, o engraçadinho e se concentrar no que é verdadeiro e importante
na história (KOVACK; ROSENSUEL, 2003 in: SPINELLI; SANTOS, 2018)
O fact-checking e as fake news revelam também um outro elemento do con-
texto atual no qual o jornalismo se insere, é o que se tem chamado de conver-
gência midiática. O termo é amplo e pode ser aplicado de diversas maneiras, mas
de maneira geral ele pode ser compreendido com a interação entre os meios de
comunicação tradicionais e as novas mídias digitais.

EXPLORANDO IDEIAS

As Fake news são notícias que são intencionalmente e comprovadamente falsas, podendo
enganar os leitores, no entanto é importante delimitar essa fronteira para não se consi-
derar fake news os erros não intencionais, teorias da conspiração e sátiras, por exemplo.
O Fact-checking é o serviço de checagem dos dados e das informações que são apresentadas
em notícias. Esse serviço cresceu significativamente por causa do aumento das fake news. Elas
têm se constituído um contraponto importante, no entanto, tem o grande desafio de atrair um
público maior. As fake news parecem muito mais interessantes do que a verdade verificada.
Fonte: SPINELLI; SANTOS, 2018.

129
UNIDADE 4

A convergência jornalística também se insere nesse contexto, e se refere a um pro-


cesso de integração de meios de comunicação tradicionalmente separados que
afeta as empresas, a tecnologia, os profissionais e o público em todas as fases de pro-
dução, distribuição e consumo de conteúdos de qualquer tipo. A redação e a equipe
editorial trabalham juntas para produzir conteúdo específico para as diferentes
mídias, oferecendo notícias 24 horas por dia, 7 dias por semana (RASÊRA, 2010).
A partir dessas definições Gordon (2003, p, 64) desenvolveu um modelo para
explicar visualmente o conceito de convergência:

Meio Fonte de Meio


convergência

Wireless Rádio

Computador
Impressão Televisão
e Internet

Cabo Satélite

Figura 6 - O conceito de convergência / Fonte: adaptado de Gordon, 2003, p. 64.

Descrição da Imagem: A imagem é composta de três retângulos lado a lado horizontalmente. No retân-
gulo da esquerda a aparece o título MEIO e abaixo do título três retângulos menores com as palavras:
Wireless, Impressão Cabo, essas palavras estão ligadas por setas na direção do retângulo central onde
aparece o título: Fonte de Convergência e abaixo do título um retângulo com as palavras: Computador e
Internet. No terceiro retângulo à esquerda aparece o título Meio e abaixo dele três retângulos menores
com as palavras Rádio, Televisão e Satélite. Da palavra televisão sai uma seta que liga ao retângulo do meio.

Sendo assim, Gordon (2003, p.64-69) identifica cinco tipos de convergência: Con-
vergência de propriedade: é quando a mesma empresa possui todas as plataformas:
impresso, online, televisão e rádio. Convergência tática: é quando um canal de televi-
são firma parceria com um jornal impresso ou com um canal à cabo. Convergência
estrutural: esta forma de convergência está associada com mudanças na captação e
na distribuição da notícia, assim como é um processo de gerenciamento no sentido
de introduzir mudanças nas práticas de trabalho. Convergência de coleta de dados:

130
UNIDADE 4

este é dos aspectos mais polêmicos, ele traz em foco o debate do papel do “jornalista
multimídia”, isto é, um profissional capaz de produzir várias versões de uma mesma
história a fim de divulgá-la em diferentes plataformas. Convergência narrativa: esse
tipo de convergência está relacionada com a maneira em que o jornalista executa sua
função primordial, isto é, o de contar histórias.

Figura 7 - Fact x Fake

Descrição da Imagem: Na imagem aparecem quatro peças de madeira com letras. As duas primeiras
letras são F A, e as duas últimas estão sendo viradas por uma mão. Essas duas têm as letras K E, em uma
face e C T em outra, em uma brincadeira com as palavras FAKE e FACT.

Um efeito da convergência que modificou completamente e para sempre o jorna-


lismo é a interação e a participação de pessoas comuns nas definições das pautas.
Se por um lado a participação de pessoas comuns na circulação de notícias pode
gerar fake news, por outro, tira a exclusividade dos veículos de mídia, a escolha
dos temas que serão veiculados.

131
UNIDADE 4


Verifica-se a potencialização da interação com o público, bem como
a mudança de seu papel no ciclo informativo. Mesmo existindo re-
gras e seletividade na publicação do que é enviado por amadores, a
abertura aos cidadãos nas seções colaborativas tem formato inédito.
Nesse sentido, percebe-se uma mudança que envolve parte importan-
te da lógica comunicacional tradicionalmente seguida no jornalismo.
Afinal, até pouco tempo atrás, todo o processo de apuração e seleção
de pautas era reservado aos profissionais (BELOCHIO, 2009, p.4).

As fake news e o fact-checking reacendem a importância de se discutir e conside-


rar a ética na comunicação social como um processo contínuo e ininterrupto. A
ética não é um conceito abstrato e relegado ao estudo teórico, filosófico. A ética
só existe se for prática e diária.
As atitudes éticas são aquelas que levam em consideração a vivência em so-
ciedade, e o impacto sobre a vida das outras pessoas. O grande desafio da con-
duta ética está nas decisões do dia-a-dia. Imagine que você é o jornalista de uma
redação de um jornal digital, e chega para você a informação de que o candidato
à presidência que está em primeiro lugar nas pesquisas sofreu um acidente e
morreu. Esse é um dilema ético real para o jornalista. Nessa situação você tem
que decidir entre gastar tempo para verificar a informação e ter certeza de que o
fato é verdadeiro, mas nesse caso pode ser que você perca o furo de reportagem e
outro jornal ou jornalista publique o fato antes que você. Ou você pode escolher
publicar sem checar corretamente ou com a profundidade necessária, ser o pri-
meiro a publicar o furo, mas ele pode não ser verdade, ou inteiramente verdade.
Perceba que nenhum jornalista de respeito diria que seria admissível publicar
algo sem fazer a correta checagem dos fatos, no entanto, em situações como essas
os compromissos éticos não são tão fáceis e diretos.
Vejamos uma outra situação. Imagine que lhe chegou a informação de que em
uma creche da cidade, as professoras estão batendo nas crianças. É uma notícia de
grande interesse público. Denunciar um abuso como este pode proteger crianças
indefesas. E você no compromisso com a divulgação dos fatos decide publicar,
mesmo sabendo que isso terá um impacto grande sobre aquelas professoras e a
escola. A reação da sociedade é imediata, antes do fim do dia já tem dezenas de
pais na frente da escola, gritando e pedindo que devolvam seus filhos. A comoção
na cidade aumenta e as professoras e a diretora precisam se esconder com medo
de serem atacadas. A punição social parecia justa, mas meses depois, após uma

132
UNIDADE 4

investigação minuciosa da polícia chegou-se à conclusão de que a acusação era


mentirosa. Que nunca houve agressão na escola. Mais uma vez o dilema ético
estava latente. Qual a responsabilidade do jornalista, e qual o impacto que a di-
vulgação ampla de um caso que não estava confirmado teve sobre aquela escola
e aquelas professoras. O mais triste é que esse caso de fato aconteceu no Brasil.
A ética profissional no jornalismo pode ser compreendida como um com-
promisso com a credibilidade da própria atividade jornalística. O compromisso
com a verdade, a busca por diferentes versões, a atuação comprometida com o
efeito social do que se publica, pode ser entendido como lealdade à profissão e
aos colegas jornalistas (MARTINS, 2019).


A ética profissional é uma compilação dos escrúpulos, um denomi-
nador comum traçado pela associação de vontades, um compromis-
so público ditado por um orgulho profissional mutuamente parti-
lhado (MASCARENHAS, 1988, p. 53 Apud MARTINS, 2019, p. 14).

Oscar Mascarenhas, jornalista profissional e docente, que presidiu ao Con-


selho Deontológico do Sindicato dos Jornalistas, instituição autorregulatória
por excelência, compreendia a ética jornalística nesse compromisso de não
vou trair a pessoa, não vou atingi-la pelas costas, abrir-lhe alçapões; vou
noticiar as informações em termos de cidadania” (MASCARENHAS, 1988
Apud MARTINS, 219, p. 14).
As novas mídias e a convergência midiática têm criado novas situações desa-
fiadoras para a ética profissional jornalística. Percebendo esse movimento, Gar-
cía-Marzá (2017) propõe uma “nova geração” de códigos de ética e de conduta,
com duas missões fundamentais (Apud MARTINS, 2019, p.23):


1) Por um lado, valorizar a transparência e a participação, não apenas
na definição dos compromissos, mas também no acompanhamento
e no controle do seu cumprimento, mediante sistemas de auditoria.

2) Por outro, prever a criação de comités de ética e de “responsabili-


dade corporativa”, que no seio das organizações desempenhem uma
função semelhante à dos provedores do leitor (independentes, esta-
riam habilitados a intervir na interpretação do código, dar resposta a
reclamações e denúncias externas e promover a informação interna).

133
UNIDADE 4

Tomando como pressuposto que todos os atos de comunicação têm uma dimen-
são ética, Spínola (2019, p. 99) sintetizou algumas dimensões importantes para
uma comunicação ética.
■ a dimensão das éticas teleológicas e deontológicas – o «bem supremo
» e a dedução a partir daí em ações concretizadoras desse «bem»;
■ a noção de justeza – no sentido, naturalmente de justiça, mas também,
no sentido de exatidão, de verdade, bom senso e razão; no sentido de
receber e dar o devido, equidade e igualdade;
■ a confiança – no sentido em que o apreço a confiança institucional que
se opera entre um indivíduo e uma instituição enquanto pessoa moral.
Os seus determinantes são: a reputação, o poder, o desempenho passado
e presente, a dimensão e a cultura.
■ a transparência, prestação de contas ou accountability ou como refe-
re Kant (2015) “deixar claras as nossas motivações, aspirações e intenções
aos outros para que assim possam, como pessoas racionais que são, avaliar
as nossas ações”, ou ainda, como referia Arthur Page (de Carvalho Spínola,
2017, p. 120), ser um dever das organizações explicar de onde se vem, a
que se vem e para onde se quer ir.

A ética é uma conduta pessoal em relação aos outros. A comunicação social tem
impactos em muitas pessoas, por isso o compromisso com uma prática pro-
fissional ética é ainda mais relevante. Chegando ao fim dessa etapa do nosso
aprendizado, gostaria de reforçar que o trabalho do comunicador social deve
diariamente ser pesado pela ética. A ética é prática e não teórica.

Nesse podcast vamos refletir sobre os sistemas de comu-


nicação e as questões éticas da comunicação a partir do
filme Mogli. Fica aqui o meu convite para que você assista
ao filme e depois ouça o podcast. Vai lá, dá o play!

134
UNIDADE 4

NOVAS DESCOBERTAS

Mogli: Entre dois mundos


Criado por uma alcateia em meio às florestas da Índia, Mogli (Rohan
Chand) vive com os animais da selva e conta com a amizade do urso
Baloo (Andy Serkis) e da pantera Bagheera (Christian Bale). Ele é acei-
to por todos os animais, exceto pelo temido tigre Shere Khan (Bene-
dict Cumberbach). Quando Mogli se defronta com suas origens humanas,
perigos maiores do que a rixa com Shere Khan podem surgir.
Data de lançamento: 2018
Fonte: Adorocinema.com

Agora é a sua vez de trabalhar. A sua tarefa é procurar os sites de checagem de


notícias brasileiras e navegar por eles para conhecê-los. Depois procure por três
notícias que você recebeu por Whatsapp, ou que você viu no Facebook ou outra
rede social, e tente verificar nesses sites se aparece alguma coisa relacionada a
essas notícias.
Faça dessa tarefa um hábito na sua vida. Verifique qualquer coisa que lhe traga
alguma dúvida, especialmente se você for encaminhar para outras pessoas essa
informação. O estudante de comunicação, e o profissional de comunicação não
são pessoas comuns quando o assunto é disseminação de informações. Comece
desde já a construir a sua prática profissional, e a sua reputação.
Os melhores profissionais de comunicação constroem a sua reputação ba-
seados na verdade e no compromisso bem comum.

135
Agora é hora de você identificar os sistemas sociais dos quais você faz parte.
Análise um dos sistemas que você faz parte (na faculdade, na família, no traba-
lho, no esporte…). Faça um quadro com as posições que existem nessa estrutura
social, colocando ordem hierárquica nos diferentes papéis. Pense sobre o porquê
os papéis mais elevados na hierarquia detém esse poder e faça uma análise se
existiria uma estrutura melhor, mais produtiva ou mais justa nesse sistema.

Família Trabalho Amigos

Dono da
Pai Mãe empresa Eu José Maria

Irmão Irmã Eu Diretor Diretor do Laís Thais


Financeiro meu setor

Chefe

Eu

Figura 8 - Exemplo de quadro para a realização da atividade

Descrição da Imagem: Existem três organogramas de hierarquia alinhados lado a lado. O primeiro tem no
primeiro nível a palavra Família. No segundo nível: Pai e Mãe, e no terceiro irmão, irmã e EU. No segundo
organograma aparece no primeiro nível a palavra Trabalho. No segundo nível Dono da empresa, no terceiro
nível Diretor financeiro e Diretor do meu setor, no quarto nível Chefe e no quinto nível a palavra EU. No
terceiro organograma aparece no primeiro nível a palavra Amigos. No segundo nível Eu, José e Maria e no
terceiro nível Laís e Thaís.
5
A Relevância
dos Meios de
Comunicação de
Massa em Uma
Sociedade de
Consumo.
Dr. Rodrigo Robinson

Neste ciclo iremos aprofundar a visão sobre os impactos e a relevância


da comunicação de massa para a Sociedade de Consumo. Vamos com-
preender os significados da Sociedade de Consumo, e compreender
o papel da propaganda e da televisão na construção da identidade
pós-moderna. Vamos discutir sobre como os meios de comunicação
podem ser disseminadores de preconceito e discriminação e de que
forma as mídias servem aos interesses de uma cultura hegemônica.
UNIDADE 5

Uma adolescente comum tem suas contas nas redes sociais, e encontra nelas uma
forma de medir sua popularidade e aceitação. Ao compartilhar momentos de
sua vida íntima e ver repercutir com curtidas e comentários, se entende, aceita e
faz parte de uma comunidade global. O seu trabalho de construir e manter uma
imagem que agrade as outras pessoas a domina a ponto de dificultar suas relações
no mundo real. Nas redes ela consegue construir uma imagem que não é capaz
de sustentar na vida real, o que a afasta de outras pessoas.
Outro jovem está em busca de se colocar de uma maneira positiva no merca-
do de trabalho. Estudante de direito, perto de se formar ele só sai de casa de terno,
e procura fazer contatos e se comportar com esses grupos para ser legitimado.
Ele viu filmes e novelas e sabe como os advogados devem se comportar, inclusive
com um certo ar arrogante e prepotente.
Para jovem negro da periferia a dificuldade de encontrar uma referência de
sucesso e aceitação é muito maior. Os modelos que a mídia lhe oferece são sempre
de subserviência, ou de malandragem. O esforço para ser reconhecido como um
bom profissional sempre passa pela desconfiança.
Na pós-modernidade, a construção da identidade é um trabalho de cada um
de nós. Mas muito mais do que viver a liberdade da escolha e autonomia, esse é
um processo que depende dos espaços, dos lugares que a sociedade oferece para
serem ocupados.
Os meios de comunicação criam e divulgam esses modelos, muitas vezes refor-
çando preconceitos e estereótipos. Quais são os modelos de sucesso e fracasso que a
mídia te oferece e como isso impacta as suas decisões? Quais as imagens oferecidas
por filmes e novelas que constituem seus sonhos e desejos de realização e consumo?
A televisão aberta cobre 90% do território nacional, segundo dados do Ibope,
ela é ainda a mídia mais numerosa, se comparada com outras mídias, como o
computador pessoal, por exemplo, e ultrapassa inclusive a quantidade de rádios
desde 2002. A TV não pode ser vista como um meio que comunica somente às
classes mais baixas: sua penetração é grande em todos os níveis sociais: 94% na
classe A1 e 96% na classe D (SILVA, 2011).
É um erro pensar que a televisão aberta não tem mais influência sobre os
temas nacionais e sobre a vida diária das pessoas.
Muitas pessoas têm se desligado das programações da rádio e da TV aberta,
mas como vimos elas ainda são fundamentais. Agora é hora de você colocar a
mão na massa, ou melhor, os olhos e os ouvidos nas rádios e na televisão. Sua

140
UNICESUMAR

tarefa será ouvir pelo menos uma hora de programação em uma rádio, e uma
hora no período da noite. O desafio é identificar modelos de sucesso e fracasso,
na programação e na publicidade.
Assista a um programa de notícias, uma novela, um filme ou um programa de
auditório, e tente anotar quais os modelos que aparecem. Por exemplo, uma propa-
ganda apresenta uma mulher milionária, como é essa mulher? O seu perfil, idade,
aparência, se é mãe, se tem uma profissão, qual é a profissão e assim por diante.
Ao mesmo tempo que estamos mais expostos e nós mesmos nos tornamos
produtos de uma sociedade baseada no consumo. O ser humano pós-moderno
deixou de acreditar que um mundo perfeito e ordenado seja possível, então ele
aceita que a construção do seu eu (self) é incompleta e está permanente em an-
damento, mesmo que isso traga ansiedade.
Neste tempo, não se quer mais expor a vida por uma causa ideológica, política
ou religiosa, valoriza-se mais a própria vida. Neste processo, no entanto, o abando-
no da utopia de uma vida melhor no futuro faz com que se busque no imediato,
no agora a satisfação e o prazer. Esse trabalho, no entanto, não é autônomo, ele
está inserido em um contexto social que desenha as possibilidades.
Nesse sentido, reflita sobre como a televisão, a rádio, o cinema e as mídias sociais
o influenciam na construção das imagens que povoam a sua mente. Você acredita que
os meios de comunicação têm o poder de influenciar as suas escolhas de consumo e
de sonhos para o futuro? Se você acha que sim, quais as imagens de futuro, desejos e
sonhos você identifica como sendo produzidos por esses meios de comunicação? Se
você acha que não, quais as estratégias que você utiliza para resistir a essas influências?

141
UNIDADE 5

Figura 01 - Pessoas com suas compras

Descrição da Imagem: Sentados sobre uma mureta estão cinco jovens. Não é possível ver seus rostos na
imagem. Cada um deles segura um celular, um livro ou um tablet. No chão em primeiro plano aparecem
sacolas de papel coloridas.

Neste ciclo vamos aprofundar alguns dos conceitos que vimos anteriormen-
te, pensando especificamente na relevância que os meios de comunicação
têm na sociedade atual. O primeiro passo será compreender e refletir sobre
a sociedade de consumo e seu impacto sobre as nossas vidas. Não se trata
apenas de pensar no sistema capitalista, mas como ele nos transformou em
consumidores em tempo integral, e como os meios de comunicação desem-
penham papéis importantes nesse processo.
No entanto, o enfoque que eu quero dar neste ciclo é um balanço entre a
compreensão de como as coisas funcionam, sem demonizar o sistema, e nem
mesmo endeusá-lo. Isso significa que utilizarei autores que são críticos do
sistema e outros autores que fazem uma análise mais pragmática apontando
também suas virtudes.

142
UNICESUMAR

Um ponto importante é que profissionais da comunicação não podem ser


ingênuos e cair nas visões extremadas, que entendem a crítica ao sistema de
mercado, ou capitalista como uma defesa de uma ideologia comunista. Essa é
uma visão muito, mas muito simplista, que não cabe a um profissional da área
de comunicação.
Então eu te convido a vir comigo nesse aprofundamento de ideias, a ampliar
suas visões e basear suas críticas e elogios em argumentos que encontram base
na realidade, mais do que na ideologia. Vamos compreender então o que significa
viver em uma sociedade de consumo.
O termo Sociedade de Consumo muitas vezes é utilizado para se referir a so-
ciedade atual, contemporânea. Mas diferente de termos como pós-modernidade
ou pós-industrial, ou mesmo modernidade líquida como denominou Bauman
(2001), o termo Sociedade de Consumo não determina uma era, e sim uma qua-
lidade, ou uma característica do tempo em que vivemos. Os termos Sociedade de
Consumo e Cultura do Consumo estão mais próximos, mas também podemos
diferenciá-los a partir dos referenciais teóricos utilizados (BARBOSA, 2004).
A antropóloga, socióloga e pesquisadora dos significados do consumo, Lívia
Barbosa, autora de livros importantes como “O jeitinho brasileiro”, “Consumo,
Cultura e Identidade” e “Sociedade de Consumo”, que utilizaremos como base para
esse capítulo, faz algumas considerações importantes sobre essas compreensões:


Primeiro, quando utilizamos cultura de consumo e/ou sociedade de
consumo estamos enfatizando esferas da vida social e arranjos ins-
titucionais que não se encontram, na prática, uniformemente com-
binados entre si, podendo ser encontrados desvinculados uns dos
outros. Isto significa que algumas sociedades podem ser sociedades
de mercado, terem instituições que privilegiam o consumidor e os
seus direitos mas que, do ponto de vista cultural, o consumo não é
utilizado como a principal forma de reprodução nem de diferencia-
ção social, e variáveis como sexo, idade, grupo étnico e status ainda
desempenham um papel importante naquilo que é usado e consumi-
do. Ou seja, a escolha da identidade e do estilo de vida não é um ato
individual e arbitrário, como alguns autores o interpretam no contex-
to das sociedades ocidentais contemporâneas (BARBOSA, 2004, p.9).

143
UNIDADE 5

Nesse primeiro ponto, Barbosa (2004) explica que uma sociedade pode ser uma
sociedade de mercado, sem ter exatamente uma cultura de consumo. A ideia é
que a cultura de consumo se apresenta em uma sociedade que tem o consumo
como a principal base de diferenciação social. A sociedade indiana, por exemplo,
é uma sociedade de consumo, no entanto, outros elementos como a religião de-
sempenham um papel fundamental sobre o consumo, definindo quais alimentos
podem ser consumidos em quais situações e também no estabelecimento das
castas, que geram diferenciação social.


Segundo, devemos ter clara a distinção entre sociedade e cultura
porque, para muitos autores - Frederic Jameson, Zygmunt Bauman,
Jean Baudrillard e outros - a cultura de consumo ou dos consu-
midores é a cultura da sociedade pós-moderna, e o conjunto de
questões discutidas sob esse rótulo é bastante específico. Ele inclui a
relação íntima e quase causal entre consumo, estilo de vida e identi-
dade, a autonomia da esfera cultural, a estetização e comoditização
da realidade, o signo como mercadoria e um conjunto de atributos
negativos atribuído ao consumo tais como: perda de autenticidade
das relações sociais, materialismo e superficialidade, entre outros.
Por outro lado, autores como Don Slater, Daniel Miller, Grant Mc-
Cracken, Colin Campbell, Pierre Bourdieu e Mary Douglas, por
exemplo, abordam a sociedade de consumo ou o consumo a partir
de temas que não são considerados pela discussão pós moderna
[...] esse autores investigam o consumo sob perspectivas [...] esses
autores investigam como o consumo se conecta com outras es-
feras da experiência humana e em que medida ele funciona como
uma “janela” para o entendimento de múltiplos processos sociais e
culturais (BARBOSA, 2004, p. 11).

O segundo ponto importante é a compreensão teórica sobre o termo. Barbosa


(2004) enumerou duas abordagens diferentes: Uma que considera a cultura
de consumo com a cultura da sociedade pós-moderna, ou seja, o consumo
que define o estilo de vida, a identidade das pessoas. Entre estes autores es-
tão Zygmunt Bauman e Gilles Lipovetsky, que temos utilizado aqui e ainda
aprofundaremos adiante. A outra visão considera que o consumo se conecta

144
UNICESUMAR

com outros aspectos da vida e se dedica mais a compreender os significados,


as motivações nas diferentes experiências das pessoas. Nesta perspectiva, a
própria Lívia Barbosa se encaixa e também autores como Bourdieu e Mc-
Cracken que também utilizamos para explicar alguns aspectos importantes
das relações de consumo.
Antes, no entanto, de aprofundar os aspectos que relacionam o consumo aos
meios de comunicação, vamos caracterizar o que entendemos como Sociedade
de consumo, em que ela se diferencia de outros momentos históricos.

Figura 02 - Mulher conectada

Descrição da Imagem: Ao fundo a imagem desfocada remete a um espaço aberto como na rua com
muitas pessoas. No centro da imagem aparece uma mulher com um celular na mão e uma mochila nas
costas. Sobre o rosto da mulher aparecem elementos gráficos como um colchete e alguns números, e
sobre o corpo dela elementos como se fossem pontos interligados.

Pelo menos duas mudanças significativas na relação com o consumo, marcam


a mudança para a Sociedade de Consumo: a mudança do consumo fami-
liar para o consumo individual, e a mudança do consumo de pátina
para o consumo de moda.

145
UNIDADE 5

A lógica do consumo familiar era caracterizada por ter a família ou o grupo


doméstico como unidade consumidora. A maior parte do que era necessário para
viver era produzido pela própria família. A sociedade era organizada por grupos
de status, e o que regia os seus estilos de vida eram regras de conduta e vestimen-
ta, como por exemplo as leis suntuárias. Essa era a experiência do consumo no
período dos reinados e das cortes, especialmente na Europa.
A classe burguesa da época das cortes, tinha poder econômico, mas era im-
pedida de acessar certos tipos de consumo que eram proibidos pelas leis que
buscavam garantir que o estilo de vida da nobreza fosse diferenciado.

EXPLORANDO IDEIAS

As Leis Suntuárias são leis que pretendem regular os hábitos de consumo. Elas têm o
objetivo de restringir o luxo e a extravagância, particularmente contra gastos absurdos
quanto às vestes, comida, móveis etc. Tradicionalmente, é uma lei que regulava e refor-
çava as hierarquias sociais e os valores morais através de restrições quanto ao gasto com
roupa, alimento e bens de luxo. Na maioria das épocas e lugares, elas foram ineficazes.
A Pátina é a marca do tempo deixada nos objetos, indicando que eles pertencem e são
utilizados pela mesma família há gerações. A pátina está ligada à durabilidade e a um ciclo
de vida mais longo dos objetos, que conferia um status de nobreza aos proprietários.
Fonte: Barbosa, 2004.

A sociedade contemporânea que começa a se estabelecer, especialmente após a


revolução industrial (Séculos XVII e XIX), modifica completamente essa noção,
e o estilo de vida passa a estar diretamente relacionado à renda. Ou seja, não são
mais as regras, leis suntuárias, que organizam o consumo e sim a capacidade
de pagamento. Nessa sociedade, a noção de liberdade de escolha, autonomia, e
ausência de regras morais fortes o suficiente para impedir o livre consumo, se
estabelece, caracterizando a prática do consumo individual. Na sociedade de
consumo, as pessoas consomem individualmente.
Outra grande mudança foi a mudança do consumo de pátina para o consumo
de moda. Na sociedade organizada pelas leis suntuárias dos séculos XVII e XVIII,
o status social não era determinado pelo consumo, mas sim pela posição social
que as famílias tradicionalmente mantinham. Nessa perspectiva, uma evidência
da posição e do status social da família, era a manutenção dos móveis de geração
em geração. Os móveis de qualidade, duráveis, eram evidência do status da família.

146
UNICESUMAR

Essa era a ideia da pátina, ou seja, os móveis um pouco desgastados, mostravam


que eles estavam ali há muito tempo, uma evidência social do poder da família.
Essa perspectiva também se altera completamente, para o consumo de
moda. Ou seja, a ideia de consumir novidades, o que está na moda, ou nas
modas. Então a qualidade e a durabilidade não são tão importantes como a
possibilidade de consumir o novo. O critério para escolha de qualquer coisa
passa a ser uma escolha individual. A principal questão é muito mais de
conhecimento de como usar o que está sendo usado e de legitimidade para
usar conforme se deseja (BARBOSA, 2004).


A moda, que caracteriza o consumo moderno, ao contrário da pá-
tina, é um mecanismo social expressivo de uma temporalidade de
curta duração, pela valorização do novo e do individual. Ela é o “im-
pério do efêmero”, no dizer de Gilles Lipovetsky. Como tal ela rejeita
o poder imemorial da tradição (a pátina) em favor da celebração
do presente social, do mundo da vida cotidiana, do aqui e do agora.
Sua referência não são os antepassados, mas os contemporâneos
(BARBOSA, 2004, p. 25).

Para Barbosa (2004), esse novo consumo pautado pela moda e pelas escolhas in-
dividuais é o império da ética do self. Podemos elencar alguns pontos importantes
dessa nova forma de consumo baseada nas escolhas pessoais:
■ Desobrigação de regras de consumo como as leis suntuárias;
■ A noção de liberdade de escolha;
■ “Autonomia” na decisão de como queremos viver;
■ O trabalho da construção da identidade;
■ Consumo com diferentes significados (construídos);
■ Objetos como signos culturais.

Nas sociedades de consumo, os bens carregam significados que são construí-


dos socialmente e se tornam expressões do conhecimento e da subjetividade
de quem os possui. Os bens de consumo carregam um significado que vai
além de seu caráter utilitário e seu valor comercial. Essa significância reside,
em grande medida, na capacidade que têm os bens de consumo de carregar
e comunicar significado cultural (McCracken, 2007).

147
UNIDADE 5

McCracken (2007) aponta duas formas pelas quais os significados se movem


do mundo cultural para os bens e em seguida por rituais de consumo para o
próprio consumidor individual. Os dois principais agentes de movimentação dos
significados, ou seja, fazer com que um significado seja atribuído a um determi-
nado bem, são o Sistema de moda e a Publicidade.

Mundo culturalmente constituído

Publicidade Sistema
Sistema de moda de moda

Bens de consumo

Ritual Ritual Ritual de Ritual de


de posse de troca cuidados pessoais desapropriação

Consumidor individual

Legenda: Localização do significado


Instrumento de transferência de significado
Figura 03 - Movimentação dos significados / Fonte: McCracken, 2007, p. 100.

Descrição da Imagem: A imagem é composta por três retângulos um sobre o outro interligados por
setas de cima para baixo. No retângulo de cima está escrito Mundo culturalmente constituído. Abaixo do
retângulo duas setas para baixo, uma com os dizeres Publicidade / Sistema de moda, e outra com o dizer
Sistema de moda. Na sequência aparece o segundo retângulo com as palavras Bens de consumo. Após
esse retângulo aparecem quatro setas para baixo com as seguintes expressões: Ritual de posse, Ritual
de troca, Ritual de cuidados pessoais, Ritual de desapropriação. O terceiro retângulo está abaixo destas
quatro setas com as palavras: Consumidor individual.

Nesta perspectiva, o Mundo Culturalmente constituído trata-se do mundo da


experiência rotineira, em que o mundo dos fenômenos se apresenta, aos sentidos
individuais, plenamente formado e constituído pelas crenças e premissas de sua
cultura. São os valores presentes na sociedade que organizam o nosso mundo. Nes-
se mundo existem categorias culturais e os princípios que regem cada categoria.

148
UNICESUMAR

O Mundo cultural é constituído de Ca-


tegorias e Princípios Culturais (McCrac-
ken, 2007):
■ Categorias Culturais: são as coorde-
nadas fundamentais do significado,
representando as distinções básicas
que uma cultura usa para dividir o
mundo dos fenômenos (tempo, es-
paço, classe, status, gênero, idade e
ocupação...)
■ Princípios Culturais: o significado
está nas ideias ou valores que de-
terminam como os fenômenos cul-
turais são organizados, avaliados e
interpretados. Os princípios cultu-
rais são as ideias organizadoras por
meio das quais se dá a segmentação.

Imagine a Categoria Cultural para o gêne-


ro masculino, ou masculinidade. Em nossa
sociedade, o que significa ser homem é um
conjunto de valores e ideias de como se com-
portar e inclusive como se vestir. Utilizar saias
não faz parte dos princípios culturais desta ca-
tegoria, embora em outras culturas elas fazem
parte da vestimenta tradicional dos homens.
Para que o uso de saias se torne aceito e par-
te do que se considera masculino em nosso
país, seria necessária uma movimentação dos
significados, para se pudesse construir novos
significados para esse objeto.

149
UNIDADE 5

Figura 04 - Homem de saia

Descrição da Imagem: em
uma passarela de moda,
no primeiro plano aparece
um homem com neces-
sária uma movimentação
uma jaqueta jeans aberta
sem camisa e utilizando
saia com uma calça preta
apertada por baixo.

Para McCracken (2007) existem duas formas de movimentar os significados, a


Publicidade e o Sistema de moda:


• Publicidade: “A publicidade é um meio pelo qual o significado se
derrama constantemente do mundo culturalmente constituído
sobre os bens de consumo. Por meio da publicidade, bens novos
e velhos abrem mão de antigos significados e adquirem outros,
novos, constantemente. Como participante ativo desse processo,
o espectador/leitor se mantém informado do estado e do estoque
atuais do significado cultural existentes nos bens de consumo. Nes-
se sentido, a publicidade serve como dicionário de significados
culturais correntes (McCracken, 2007, p.105)”.

150
UNICESUMAR

• Sistema de Moda: “No caso do sistema de moda, o processo


tem mais fontes de significado, agentes de transferência e meios
de comunicação (McCracken, 2007, p. 105)”. Através de estilistas,
projetistas, consultores, indústria, mídia especializada, pessoas in-
fluentes, o sistema de moda atua de três maneiras diferentes para
transferir significado para os bens:
• Transferindo significados existentes: significados que estão
presentes no mundo constituído, mas não estão atrelados, ou não
são associados a determinados bens. Nesse processo se transfere
o significado de uma coisa para outra.
• Criando significados novos: é a criação de significados que não
existem no mundo cultural constituído. Nesse processo criativo,
se imaginam novos porquês para as coisas.
• Reforma radical dos significados culturais: é a mudança radi-
cal de um significado existente. Em curso em nossa sociedade sem
dúvida está a revisão do que é ser masculino.

Na Sociedade de Consumo, quando não estamos consumindo, quando


estamos zapeando entre os canais de televisão ou navegando pelas redes
sociais “gratuitas”, nós somos os produtos. Bauman (2001) fala da exposição
da vida cotidiana, da exibição do eu, de forma espontânea nas redes, como um
processo de auto exposição que faz com que se tenha uma quantidade imensa
de informações sobre as pessoas. As empresas estão muito interessadas nessas
informações e assim como nas mídias tradicionais a audiência podia ser vendida
para anunciantes, agora todas as nossas informações podem ser vendidas, e nos
tornamos um produto muito mais complexo.
A partir de agora, queremos aprofundar a relação entre a mídia, ou os meios
de comunicação com a construção das identidades pessoais e a estruturação das
sociedades de consumo. Vamos começar essa caminhada, recorrendo a algumas
ideias de Douglas Kellner (2001), em seu livro “A Cultura da Mídia”.
O livro de Kellner (2001) apresenta uma crítica da mídia à medida que ela
se coloca como um artefato cultural a serviço de ideologias políticas. Por isso se
dedica a estudar profundamente filmes, programas televisivos e músicas com a
intenção de despertar no leitor o discernimento sobre as mensagens que estão
codificadas em signos ideológicos. Para ele, os produtos da indústria cultural: o
cinema, o rádio, a imprensa, a música, a televisão modelam a forma de viver, de-

151
UNIDADE 5

finem identidades e os valores que permeiam a vida das pessoas. Esses produtos
culturais criam o repertório do qual o indivíduo que faz parte dessas sociedades
retira os modelos para construir suas identidades.
Nesse sentido, a pretensa autonomia na decisão de como queremos viver e de
quais valores éticos e estéticos irão constituir a nossa identidade, estão sujeitos
aos modelos disponíveis em nossa cultura, modelos esses que segundo Kellner
(2001), são difundidos pela mídia. Esses modelos em primeiro lugar estariam
a serviço da manutenção do poder das relações existentes, e nesse sentido se
constituem espaços de disputas ideológicas de políticas rivais.
Os programas de televisão, os filmes, as músicas apresentam formas de viver
que se tornam modelos. Então, a forma como um profissional de sucesso é apre-
sentada em um filme, as relações amorosas descritas nas músicas sertanejas, o
lugar social das diferentes etnias, se constituem um repertório de imagens que
constituem o imaginário social, ou seja, as formas possíveis e legitimadas de viver.

Figura 05 - Casal assistindo televisão

Descrição da Imagem: Na imagem em primeiro plano aparece um casal de costas, sentado em uma
poltrona, abraçado, assistindo à televisão, Na tela da TV uma imagem de um casal sentado à mesa em
trajes de gala brindando com taças de vinho à luz de velas.

152
UNICESUMAR

Por outro lado, a mídia diferente de governos autoritários, não tem poder de
obrigar que as pessoas se comportem de uma maneira específica, o que permite
um espaço social de resistência. A cultura de uma sociedade pode servir para via-
bilizar a resistência do indivíduo. Para Kellner (2001), o que permite o indivíduo
resistir à manipulação e fortalecer sua autonomia pessoal é o estudo crítico da
mídia. Ou seja, aprender a perceber as intenções que se apresentam nos modelos
oferecidos e resistir e lutar em um movimento contra a hegemonia.
A televisão desempenha um papel fundamental na reconstrução da iden-
tidade contemporânea e na conformação de pensamentos e comportamentos
(KELLNER, 2004, p 304). O autor ainda considera que a televisão ocupou o lugar
dos mitos e dos rituais na integração dos indivíduos em uma ordem social. O
autor brasileiro Mauro Salles, ecoa essa afirmação na realidade nacional.


[...] a televisão é a mídia brasileira mais importante. Em menos de
quatro décadas, o vídeo transformou a face do país, modificou os
hábitos diários do povo, revolucionou a política, impôs profundas
alterações na cultura, estabeleceu parâmetros de comportamento,
afetou a fala e inovou a língua dos brasileiros.

[...] A televisão se transformou na principal fonte de informação e


notícia para as mais amplas camadas de espectadores de todos os
níveis, todas as idades, todas as classes, de todos os rincões deste
país (SALLES, 2010, p.18).

Apesar de as redes sociais terem ocupado grande parte da discussão social dos
últimos anos, é um equívoco pensar que a televisão tenha perdido seu lugar na
construção do imaginário social.


A televisão, presente há mais de 60 anos no país, se firmou como um dos
mais importantes meios e atinge, diariamente, mais de 90% do território
nacional, segundo dados do Ibope. Ainda é mais numerosa, se com-
parada com outras mídias, como o computador pessoal, por exemplo,
e ultrapassa inclusive a quantidade de rádios desde 20027. A TV não
pode ser vista como um veículo que comunica somente às classes mais
baixas: sua penetração é grande em todos os níveis sociais: 94% na classe
A1 e 96% na classe D (SIFUENTES; VILELA; JEFFMAN, 2012, p.13)

153
UNIDADE 5

Em tempos de convergências midiáticas, as redes sociais muitas vezes são canais


de repercussão de acontecimentos televisivos. Em 2012, a novela “Avenida Brasil”
da Rede Globo, registrou expressivos números na repercussão nas mídias sociais.
Sifuentes, Vilela e Jeffman fizeram uma análise da repercussão da novela nas redes
sociais, e destacaram algumas evidências da força das novelas no dia-a-dia. A
seguir algumas das frases que repercutiram na internet:


• Me serve, vadia: frase da personagem Nina/Rita, em um dos momen-
tos de maior audiência da novela, tal expressão apresentou mais de
16.000 menções no dia da exibição do 101° capítulo e 7.593 duran-
te os 30 dias seguintes, no Twitter. Sobre essa frase, no Youtube, são
aproximadamente 278 vídeos e mais de 176 mil resultados no Google.
• Ariranha: termo que remete à personagem Suelen. De acordo com
o Google Insights, apenas um mês depois do início da novela, no
dia 26 de março, a busca pelo termo já havia aumentado 390%.
• É tudo culpa da Nina: frase da personagem de Adriana Esteves
também obteve grande repercussão. Segundo o Topsy, no dia 20
de julho, foram mais de 40 mil menções, colocando a personagem
Rita como culpada pelos mais diversos fatos, desde mau tempo, até
morte de celebridades. No Facebook, a página mais influente é a
Culpa da Rita com mais de 10 mil fãs. Em buscas no Google, mais
de 790 mil resultados são encontrados fazendo referência à novela.
• Oi Oi Oi: trecho da música de abertura da novela, é a hashtag mais
usada nos tweets que fazem referência à Avenida Brasil: são mais
de 12.188 citações no mês de agosto. A expressão tem, no You-
tube, aproximadamente 15.200 resultados e, no Google, mais de
811.000. No dia do 100° capítulo, que prometia uma virada na his-
tória, quando a vilã descobre quem realmente é Nina, #OiOiOi100
atingiu o topo dos Trending Topics mundial. Outras hashtags
como #avenidabrasil, #congela, #EsseCadinho, #MistériosdeCar-
minha e #Capítulo100 ficaram entre os dez assuntos mais citados
no Twitter no dia da exibição do centésimo episódio da novela
(SIFUENTES; VILELA; JEFFMAN, 2012, p.15).

A publicidade na televisão também se apresenta como um elemento pode-


roso na construção de imagens que podem suprir nossas vidas de signifi-
cados. Como afirmou McCracken (2007) a publicidade funciona como um

154
UNICESUMAR

dicionário de significados culturais que nos ajudam a navegar no mundo da


construção das identidades pós-modernas.
Então, utilizar é uma determinada marca de tênis significa fazer parte do time
de elite dos esportes, ou optar por uma marca de calças jeans mostra sua rebeldia
e não conformidade com as regras, tudo isso sem nem mesmo praticar esportes
ou continuar tendo uma vida enquadrada e ordinária.
A publicidade foi responsável por trazer poesia ao cotidiano. Desde a estética
inovadora dos cartazes de Toulouse-Lautrec para o cabaret Moulin Rouge, pas-
sando por todos os movimentos das artes, trazendo para a rua, popularizando e
de certa forma vulgarizando o que se tinha como artístico. Os cartazes de Lautrec
inauguram uma estética que exalta a simplicidade dos traços e a pureza das linhas.
Aumentando a visibilidade e o impacto da mensagem.

Figura 05 - Cartaz do Moulin


Rouge / Fonte: https://com-
mons.wikimedia.org/wiki/File:-
Moulin_Rouge_%E2%80%93_
La_Goulue,_by_Henri_de_Tou-
louse-Lautrec.jpg

Descrição da Imagem:
No topo da imagem apare-
ce escrito “Moulin Rouge”
com uma letra “M” e o tex-
to repetido três vezes. Ao
lado o texto “Concert BAL
TOUS les SOIRS”, e logo
abaixo “La Goulue”. No
centro da imagem aparece
uma dançarina de Cancan
e abaixo a silhueta de um
homem com terno e car-
tola. Ao fundo a silhueta
de pessoas com chapéus
e cartolas.

155
UNIDADE 5

A publicidade artística passou a atribuir valor monetário, àquilo que tinha apenas
valor estético, se utilizou do sonho, da imaginação, do lúdico para criar identidade
para as marcas (LIPOVETSKY, 2015).
A televisão e a publicidade na medida em que recorrem a elementos existentes
no mundo cultural para apresentar modelos, e atribuir significado às coisas, acaba
muitas vezes recorrendo a estereótipos. O estereótipo pode ser definido como uma
imagem, ideia que categoriza alguém ou algo com base apenas em falsas generali-
zações, expectativas e hábitos de julgamento (Dicionário Michaelis). A televisão e a
publicidade recorrem aos estereótipos para comunicar mensagens complexas de uma
forma rápida. No entanto, esse processo pode reforçar preconceitos e discriminações.
Kabengele Munanga, antropólogo e professor brasileiro-congolês, especialista em
antropologia da população afro-brasileira, afirma que a mídia transmite, reforça e
solidifica estereótipos encontrados em nossa sociedade (SILVA, 2011).

Figura 06 - Reunião de trabalho

Descrição da Imagem: Aparecem seis pessoas ao redor de uma mesa de reunião. A primeira pessoa da es-
querda para direita é um homem negro com uma camisa azul clara, ele segura uma caneta sobre a mesa. Ao
lado dele está uma mulher branca com cabelos morenos, ela veste uma camisa social branca e está olhando
concentrada para a mesa. O próximo homem sentado tem os cabelos loiros e olha atentamente para as pessoas
do outro lado da mesa. No centro da imagem, na ponta da mesa de pé, está uma mulher negra com os cabelos
ondulados soltos, com a boca aberta como se estivesse falando. Do lado esquerdo da mesa estão duas pessoas
de costas, uma mulher quase encoberta por um homem branco de terno escuro.

156
UNICESUMAR

Em estudo realizado sobre o Racismo na publicidade brasileira, Carlos Augusto


de Miranda e Martins analisou 1.158 anúncios, dos quais apenas 86 utilizam ima-
gens de negros(as), verificando o modo pelo qual os anúncios são veiculados. Isso
significa que apenas 7% dos anúncios referem-se ao segmento afrodescendente.
Nesse contexto, perpetuam-se e se naturalizam os estereótipos que penetram no
imaginário da população; assim, a publicidade é considerada veículo da violência
simbólica em nosso país (SILVA, 2011).
No entanto, essas representações na televisão e na publicidade são veladas,
assim como é o racismo no Brasil. Ele não é agressivo e escancarado, é velado,
escondido, disfarçado, é o que chamam de “Racismo à Brasileira” (DE LIMA,
1996). Solange M. C. de Lima, comentando a obra de Florestan Fernandes sobre
a representação dos negros na mídia reuniu as seguintes representações:


[…] os trabalhos resultantes de pesquisa que tomaram como campo
de investigação o rádio, a televisão, o teatro e a dramaturgia teatral,
o cinema, a literatura ficcional, científica, popular, didática e paradi-
dática, bem como a imprensa e a propaganda. Todos eles mostram
que o negro é retratado, quando se trata do período escravocrata,
como escravo em suas diversificações de fugitivo, fiel ou traidor,
ou na pós-abolição, como empregado subalterno, subserviente e
exercendo sempre papel secundário na trama da história. A figura
da mulata sensual e destruidora de lares é por demais conhecida,
também. Esses trabalhos foram todos realizados tendo como refe-
rencial teórico as ciências humanas e sociais (história, sociologia e
antropologia) (DE LIMA, 1996, p. 58).

Não é novidade, e talvez para você aluno, que acompanhou a teledramaturgia


brasileira ao longo das últimas décadas é possível perceber que até 1990, o negro
só aparecia na mídia em papéis subalternos ou coadjuvantes. Posteriormente
passou a ocupar outros papéis, mas manteve-se o imaginário negativo sobre o
negro: estereótipo em relação à mulata, atleta, artista, carente social (SILVA, 2011).
Estudo realizado por Pereira et al (2011), procurou mapear os estereótipos
e preconceitos que aparecem na publicidade, analisando as propagandas do ho-
rário nobre de uma TV baiana. As seguintes imagens puderam ser encontradas
(PEREIRA ET AL, 2011, p 102):

157
UNIDADE 5


• Os homens brancos são frequentemente representados como
indivíduos bem-sucedidos, empresários de sucesso, pais de
família que oferecem o suporte necessário para que esposa e
filhos desfrutem a vida com paz e tranquilidade. Outra repre-
sentação marcante é a do homem apaixonado pelo automóvel,
capaz de colocar a bela garota ao lado em segundo plano, ao
expressar todo o seu amor pelo tresloucado objeto de desejo
sobre rodas. Também é digna de nota a imagem do homem
atlético, persistente, capaz de superar as inúmeras barreiras até
atingir o almejado ideal. Enfim, não passa despercebido o este-
reótipo do homem conquistador, sempre pronto a assediar – e
quase sempre conquistar – as belas mulheres que se arriscam
nas imediações.
• O homem negro quase nunca está associado a profissões que
demandam trabalho intelectual, sendo vinculada a persona-
gens como o operário, o tratorista ou o pipoqueiro.
• Já a imagem da mulher branca encontra-se estereotipadamente
associada à da mãe de família, cuidadora por excelência, preo-
cupada com a saúde e o bem-estar dos filhos, com a limpeza e a
assepsia do lar, assim como com a faina cotidiana nas tarefas da
cozinha e da lavanderia. Este parece ser o coroamento da ima-
gem da mulher como aquela que alcançou o grande objetivo
da vida: ser esposa e mãe. A imagem da mulher branca e jovem
é tão estereotipada quanto a da mulher cuidadora. Trata-se de
uma figura esbelta, de cabelos lisos, bem tratados, sem pontas e
sem frisos, cheia de sorrisos e – quase – sempre disponível para
as investidas amorosas do seu gracioso pretendente.
• Em contrapartida, a imagem da mulher negra é uma incógnita
e, nas poucas vezes que aparece, é representada como estudante
universitária de uma faculdade particular.
Kabengele Munanga (1996) organiza a publicação dos textos que tratam sobre
formas de vencer a discriminação racial no Brasil, e sugeriu algumas diretrizes
que deveriam ser levadas em conta, tais como (SILVA, 2011, p. 23):

158
UNICESUMAR


• aumentar a frequência das referências ao negro como construtor de
cultura, evitando a ênfase nos “clichês”;
• tratar o negro de forma independente do conceito de racismo;
• buscar vencer a barreira da visibilidade histórica do período da
escravidão, desfazendo as sinonímias escravo = negro e negro pré-
-escravo = selvagem.

A partir desse contexto, ainda é preciso refletir sobre o papel dos grandes con-
glomerados da indústria cultural. Se os meios de comunicação e os produtos
culturais são fundamentais na construção dos modelos de identidade disponíveis
para o ser humano pós-moderno, é preciso pensar sobre a influência e o interesse
dos grandes grupos produtores de conteúdo.


As holdings de publicidade firmam acordos com subsidiárias e
agências associadas para o compartilhamento de campanhas re-
gionais e locais, com programação simultânea de anúncios em uma
centena de países, muitos dos quais produzidos em série e adaptados
a idiomas e traços específicos, a um custo inferior do que se fossem
programados para mercados isolados. São implementadas políticas
de produção, comercialização e marketing, absorvendo particula-
ridades socioculturais dos países em que se encontram (MORAES;
RAMONET, SERRANO, 2015, p.30)

As grandes empresas de produção de filmes e publicidade procuram adaptar suas


políticas, diretrizes e conteúdos internacionais às realidades locais, maquiando as
representações para formas comercializáveis, traduzindo tudo para uma lingua-
gem tecnofinanceira provocando um esvaziamento moral e uma indiferença cul-
tural. Tudo fica como pasteurizado, sem gosto, sem cheiro, facilmente consumível.


A partir de tal juízo, Jesús Martín-Barbero assinala que o processo
de aculturação acelera “operações de desenraizamento” com as quais
o grande capital procura inscrever as identidades nas lógicas dos
fluxos (MORAES; RAMONET, SERRANO, 2015, p.32)

159
UNIDADE 5

A aculturação a uma cultura geral internacional, ou melhor, a adaptação a uma


cultura hegemônica norte-americana, tende a provocar um desenraizamento,
fazendo com que as culturas locais percam sua força e se dissipem na imensidão
da produção cultural dos grandes grupos. Nesse sentido a hegemonia cultural é
extremamente prejudicial para a cultura local, e cria modelos de identidade que
favorecem a manutenção e a disseminação do poder hegemônico das grandes
potências mundiais.
Existem estratégias utilizadas por esses grandes grupos para superar as dife-
renças culturais, com objetivos mercadológicos. São modelos que servem como
referências. Só raramente existem em estado puro, o mais comum é encontrá-los
em formas híbridas (MORAES; RAMONET, SERRANO, 2015, p.33):


• Um modelo tradicional, de ingerência direta da organização so-
bre o meio em que atua, incluindo-se aí as organizações que dela
dependem. Este modelo se baseia na “aculturação forçada”. Neste
modelo se impõem as características e o espírito da organização
sobre os traços culturais dos receptores. A transferência dos valores
da empresa para o público ignora as diferenças culturais e rejeita
os valores originários.
• Um segundo modelo, hegemônico, de interferência mediada:
esta forma de superação cultural é marcada pela idealização do
espírito da empresa. A diversidade cultural não é negada, mas os
traços específicos do contexto são desvalorizados ou desconside-
rados. Deste modo, uma espécie de “imperialismo organizacio-
nal” transforma manifestações pessoais em espelhos do espírito
da empresa.
• Um modelo harmônico, de integração cultural: se define pela
flexibilidade nas relações entre a empresa e o seu meio. A ferra-
menta para conquistar mercados, neste caso, é a aproximação com
as diversas culturas correspondentes aos contextos espaço-tempo-
rais. Assim, “as diferenças entre os traços culturais são objeto de
um acordo pragmático, de relativização estrutural, em que a troca
cultural é incentivada”.

Para Zygmunt Bauman (2000) em uma sociedade de consumo, a cultura se con-


verte em um “armazém de produtos para consumo”. Nesse contexto a arte e todas
as expressões culturais são empacotadas e transformadas em mercadoria.

160
UNICESUMAR


Ao cancelar a diferença entre a produção artística e a produção ge-
ral de mercadorias, a mercantilização arrasta para o consumo de
massa e para o comércio de significados em larga escala um con-
junto de manifestações até então tidas como elitistas (exposições,
ciclos de conferências, música erudita) e que agora se projetam nas
agendas midiáticas como megaeventos, atrelados à publicidade, aos
esquemas promocionais, aos cálculos da lógica financeirizante, aos
efeitos de atração de público/audiência e à geração de dividendos
(MORAES; RAMONET, SERRANO, 2015, p.35)

A produção e consumo se estabelecem em preceitos estéticos. É o que Lipovetsky


(2004) chama de capitalismo artista.

Fica aqui meu convite para você ouvir o podcast dessa un-
idade. Vamos discutir os impactos dos modelos apresenta-
dos pelas mídias em nossas sociedades, especialmente
aspectos que reforçam discriminação e racismos.

NOVAS DESCOBERTAS

Colin Kaepernick: em preto e branco


A minissérie conta a história real de Colin Kaepernick (Jaden Michael),
ex-jogador de futebol americano que atuou no San Francisco 49ers.
Narrada pelo próprio atleta, a produção acompanha sua adolescên-
cia e seus anos de ensino médio, bem como o início de sua carreira
esportiva na Califórnia. Adotado pelo casal Teresa (Mary-Louise Parker) e
Rick Kaepernick (Nick Offerman), Colin encara uma jornada nada fácil como
uma criança negra que cresce no seio de uma família branca.
Ela se torna interessante à luz dos nossos estudos, no sentido de observar-
mos os modelos de identidade oferecidos ao jovem Colin, e a forma que ele
encontrou de enfrentá-los.
Fonte: https://feededigno.com.br/serie/critica-colin-em-preto-e-branco-mi-
nisserie-2021-netflix/

161
UNIDADE 5

O profissional de comunicação social precisa compreender os aspectos culturais


que moldam as sociedades onde ele atua. Ele não pode mais assistir apenas o que
gosta, e se fechar em preconceitos e estereótipos. Ele precisa reconhecer esses
estereótipos e compreender os efeitos que os modelos identitários oferecidos
pelos meios de comunicação têm sobre a vida das pessoas.
Para os seus estudos sobre comunicação social, será sempre importante re-
tornar ao pensamento de que tudo o que se faz em publicidade e jornalismo
tem impacto na cultura. Conforme o seu curso avançar ele se tornará cada vez
mais prático e aplicado, e os conteúdos que você estudou aqui podem parecer
distantes. No entanto, à medida que você ganhar consciência que a atividade de
comunicação é muito mais do que técnica, será importante retomar as reflexões
que provocamos nesta disciplina.
Quais são os modelos de identidade que você quer reforçar com sua comu-
nicação? Quais são os estereótipos que precisam ser desfeitos para que vivamos
em uma sociedade mais justa e desenvolvida? Qual o seu papel nesta tarefa?

162
Para encerrar esse Ciclo de Aprendizagem eu sugiro uma autoavaliação, como um
Mapa de Empatia, para que você reflita e avalie a sua percepção e postura sobre os
temas discutidos.

Responda às seguintes questões:

1. O que eu ouvia falar sobre a mídia e sua relação com a sociedade?

2. O que eu vejo nos programas de televisão e filmes como modelos que reforçam
preconceitos?

3. O que eu falo sobre a mídia e sua influência?

4. Quais as minhas preocupações, medos, ansiedades sobre o tema?

5. Quais meus sonhos, meus desejos, aquilo que me motiva a me tornar um profissional
da comunicação social?

163
Unidade 2

Intenção
Influenciador

Emissor
ELEMENTOS DO PROCESSO Receptor
DE COMUNICAÇÃO
Aquele que envia
a mensagem Rádio

Televisão Canal Mensagem

Meio pelo qual a O que está


mensagem é enviada sendo dito

Unidade 3

Difusão de Participação social


informações nas discussões

Transformação social e desenvolvimento

O IMPACTO DAS MÍDIAS


DE MASSA NA SOCIEDADE

Indústria cultural e os efeitos negativos

Massificação Influência dos grandes


da cultura grupos de mídia

Esvaziamento Alienação
de sentido

166
Unidade 4

Após criar os organogramas dos sistemas sociais que você faz parte, é hora de refletir
sobre eles e escrever uma breve análise, sobre o papel que você ocupa no sistema e que
papel você gostaria de ocupar.

Por exemplo, no meu trabalho, eu ocupo um papel com pouca influência, estou subordi-
nado a três superiores e as minhas ideias demoram para ser ouvidas. Imagino que uma
forma mais horizontal de relações poderia melhorar o meu trabalho e tornar o ambiente
melhor. E assim por diante, escreva sobre cada um dos sistemas que você identificou.

Unidade 5

Para lhe ajudar na execução da atividade proposta, a seguir alguns caminhos para suas
respostas.

1. O que eu ouvia falar sobre a mídia e sua relação com a sociedade?

Escreva um pouco o que já ouviu falar sobre a mídia e a sua relação com a sociedade,
o que sua família, seus amigos, ou mesmo a própria imprensa fala sobre isso.

2. O que eu vejo nos programas de televisão e filmes como modelos que reforçam
preconceitos?

Vimos que os meios de comunicação difundem modelos de comportamentos sociais.


Escreva aqui alguns modelos que você identificou nos filmes e nos programas que já
assistiu. Por exemplo, os modelos de mulher, de homem, de profissional de sucesso,
de fracasso e assim por diante.

167
3. O que eu falo sobre a mídia e sua influência?

Quais são as suas posturas, o que você já falou ou fala sobre a influência da mídia. Se
houve alguma mudança a partir dessa disciplina pode colocar aqui também.

4. Quais as minhas preocupações, medos, ansiedades sobre o tema?

Relate aqui as questões que lhe trazem preocupação, por exemplo, a respeito dos mo-
delos, das relações de poder, do papel no desenvolvimento social e assim por diante.

5. Quais meus sonhos, meus desejos, aquilo que me motiva a me tornar um profissional
da comunicação social?

A partir de tudo isso, você como futuro profissional de comunicação, irá assumir um
papel nesses processos. Escreva sobre os seus sonhos, as questões que você considera
importante e que te motivam a assumir esse papel.

168
Unidade 1

AMORIM, Paulo Henrique. O quarto poder: uma outra história. São Paulo: Hedra, 2015.

BRITANICA, Enciclopedia. Disponivel em: https://escola.britannica.com.br/artigo/tel%C3%A-


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