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Conceitos da
Administração e
Ética Empresarial
DRA. CLÁUDIA HERRERO MARTINS MENEGASSI
Híbrido
GRADUAÇÃO
Conceitos
da Administração e
Ética Empresarial
Dra. Cláudia Herrero Martins Menegassi
DIREÇÃO UNICESUMAR
Reitor Wilson de Matos Silva, Vice-Reitor e
Pró-Reitor de Administração Wilson de Matos
Silva Filho, Pró-Reitor Executivo de EAD William
Victor Kendrick de Matos Silva, Pró-Reitor de
Ensino de EAD Janes Fidélis Tomelin, Presidente
C397 CENTRO UNIVERSITÁRIO DE MARINGÁ. Núcleo de Educação a da Mantenedora Cláudio Ferdinandi.
Distância; MENEGASSI, Cláudia Herrero Martins.
Conceitos da Administração e Ética Empresarial. Cláudia
NEAD - NÚCLEO DE EDUCAÇÃO A DISTÂNCIA
Herrero Martins Menegassi Diretoria Executiva Chrystiano Mincoff, James
Maringá-Pr.: Unicesumar, 2018. Prestes e Tiago Stachon; Diretoria de Graduação
304 p.
“Graduação - EaD”. e Pós-graduação Kátia Coelho; Diretoria de
Permanência Leonardo Spaine; Diretoria de
1. Conceitos. 2. Administração . 3. Ética Empresarial 4. EaD. I. Design Educacional Débora Leite; Head de
Título.
Produção de Conteúdos Celso Luiz Braga de Souza
ISBN 978-85-459-0991-0 Filho; Head de Metodologias Ativas Thuinie Daros;
CDD - 22 ed. 658 Head de Curadoria e Inovação Tania Cristiane Yoshie
CIP - NBR 12899 - AACR/2
Fukushima; Gerência de Projetos Especiais Daniel
F. Hey; Gerência de Produção de Conteúdos
Impresso por: Diogo Ribeiro Garcia; Gerência de Curadoria
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do Núcleo de Produção de Materiais Nádila de
Almeida Toledo; Supervisão de Projetos Especiais
Yasminn Talyta Tavares Zagonel; Projeto
Gráfico José Jhonny Coelho e Thayla Guimarães
Cripaldi; Fotos Shutterstock
Coordenador de Conteúdo Fábio Augusto Gentilin
e Crislaine Rodrigues Galan
NEAD - Núcleo de Educação a Distância Designer Educacional Yasminn Tavares Zagonel
Av. Guedner, 1610, Bloco 4 - Jardim Aclimação Revisão Textual Erica Fernanda Ortega, Ivy Mariel
CEP 87050-900 - Maringá - Paraná Valsecchi e Silvia Caroline Gonçalves
unicesumar.edu.br | 0800 600 6360 Editoração Isabela Belido, José Jhonny Coelho,
Melina Belusse e Thayla Guimarães Cripaldi
Ilustração Bruno Pardinho, Marta Kakitani e
Marcelo Goto
Realidade Aumentada Thiago Surmani e
Leandro Naldei
PALAVRA DO REITOR
http://lattes.cnpq.br/4229317394755159
Organizações
e Administração
13
Teorias da
Administração
41
O Fator Humano
nas Organizações
71
Tendências no
Áreas Funcionais
Campo da
da Administração
Administração
101 199
Abordagens
Gestão Estratégica Alternativas
de Gestão
137 239
171 273
17 Tipos de organização
51 Estudo de movimentos e tempos (EMT)
81 Pirâmide de Maslow
106 O Timing na logística
139 A fábula “os cegos e o elefante”
177 Os principais stakeholders relacionados a projetos
210 Data server
249 Economia de comunhão
289 Modelo de ética corporativa
Utilize o aplicativo
Unicesumar Experience
para visualizar a
Realidade Aumentada.
Dra. Cláudia Herrero Martins Menegassi
Organizações
e Administração
PLANO DE ESTUDOS
OBJETIVOS DE APRENDIZAGEM
• Apresentar conceitos e características das organizações, • Descrever as funções da administração “planejar” e “or-
bem como os diferentes tipos em que podem se apre- ganizar”.
sentar. • Descrever as funções da administração “dirigir”, “coorde-
• Apresentar os conceitos de gestão, administração e seus nar” e “controlar”.
princípios e elementos.
O que são
Organizações?
““
conseguir fazer esse curso, mesmo com a como-
grupos estruturados de pessoas que se didade de poder até mesmo fazer suas leituras
juntam para alcançar objetivos comuns. passeando no parque.
Surgem como respostas à necessidade dos Eu estou aqui, “falando” com você por meio
indivíduos de alcançar metas mais ambicio- desse material. Isso é possível, mais uma vez, por
sas, impossíveis de serem atingidas indivi- que estamos em um âmbito organizacional, se não,
dualmente, em virtude da complexidade e como eu teria chegado até você ou você até mim?
da variedade das tarefas inerentes ao tra- As organizações são esse meio, essa ferramenta,
balho a se efetuar. Podem ser organizações onde você e eu atingimos nossos objetivos, que
formais, como no caso de um exército ou nesse caso são distintos e complementares.
de uma empresa, ou informais, como um Terminando este curso, você vai abrir sua pró-
grupo de amigos que se junta para jogar pria empresa, seu próprio escritório? Ou preferirá
vôlei na praia. trabalhar em uma organização já existente? Em
ambos os casos, lá estará você novamente den-
tro de uma organização - como dono ou como
funcionário. Contudo, eu conheço gente que
não trabalha fora de casa! Essas pessoas estão à
Organização margem do mundo organizacional? Não… essas
Grupo estruturado de pessoas que se unem para pessoas fazem compras no supermercado, têm
alcançar objetivos comuns. filhos nas escolas e se relacionam com a escola e os
Fonte: Sobral e Peci (2013, p. 5). professores, talvez paguem aluguel ou condomí-
nio… organizações, organizações, organizações...
UNIDADE I 15
A essa altura você já entendeu que as organizações
fazem necessariamente parte da nossa vida e que
não temos que estar alheios a elas.
Precisamos então conhecê-las o máximo pos-
sível para compreender seu funcionamento, suas
formas, suas nuances… Atingiremos todas elas?
Não. Impossível. No entanto, podemos ter uma
boa ideia daquilo que permeia grande parte delas.
Podemos ter nossa mente mais preparada, aberta e
atenta para alguns sinais que antes nos passariam
despercebidos.
O dicionário Aurélio define organização como
Figura 1 - Máquina de escrever “associação ou instituição com objetivos defini-
dos” (DICIONÁRIO, 2010, p. 1518). Define tam-
bém em outros sentidos, mas este é o que está
dentro do nosso contexto. Os tipos de organização
podem ser diversos, mas uma coisa todos têm
em comum: objetivos definidos. Essa é a razão de
ser de uma organização. Contudo, vamos ainda
pensar um pouco mais sobre as organizações, por-
que depois esse pensamento permeará também
as diversas formas nas quais elas se apresentam.
Bem, se há objetivos, é porque existem por trás
deles necessidades. E concebendo a organização
como uma ferramenta ou um meio, precisamos
também pensar em recursos e processos. Arrisco
Figura 2 - Fita de vídeo (VHS) aqui até a propor quatro pilares que caracterizam
as organizações: necessidades, recursos, processos e
objetivos, e tudo isso dentro de algo que chamarei
de ambiente. As necessidades são o que motivam
a criação de uma organização e estão diretamen-
te relacionadas ao seu objetivo. Para que ele seja
alcançado, todavia, são necessários recursos (tais
como matérias-primas, mão de obra, informação,
conhecimento, tecnologia, capital, estruturas…)
e processos que coloquem todos esses recursos
“para trabalhar” em prol do objetivo; e tudo isso
em um contexto, um ambiente geográfico, econô-
mico, cultural e social. Quando um ou mais sofre
alterações, a configuração da organização deve se
Figura 3 - Fita K7 alterar para manter sua sobrevivência.
16 Organizações e administração
Ambiente
Necessidades Recursos
Processos Objetivos
Tipos de organização
As necessidades podem deixar de ser importantes a certo ponto ou se- vivo, complexo e interligado, eu
rem substituídas por outras e isso impacta diretamente as organizações, sempre digo: não não… corpos
que se transformam para se adaptarem ao novo cenário ou desaparecem humanos geralmente são mui-
(JONES, 2010). Vamos pensar em alguns exemplos muito práticos: apa- to mais simples. O coração de
relhos de videocassete, fitas VHS e K7, máquinas de escrever… motivos uma pessoa geralmente faz exa-
para essas mudanças? Mudança tecnológica, por exemplo. tamente a mesma coisa que o de
As mudanças tecnológicas afetam diretamente os recursos dispo- outra pessoa. A “rota” do sangue
níveis e os processos. Maquinário que substitui mão de obra, maqui- no corpo também é a mesma
nário que facilita a mão de obra, softwares, internet… e continuamos e por aí vai. É de certo modo
a alterar as organizações a cada mudança dessa. previsível o funcionamento do
Também as áreas de negócio se alteram com mudanças ambientais, corpo humano, em situações de
que englobam todo o contexto no qual a organização está inserida, normalidade da saúde. Nas or-
em termos econômicos, geográfico, social… A quebra do monopólio ganizações, é muito mais difícil
da telefonia fixa no Brasil, por exemplo. Se você tem mais de 30 anos, encontrar esses pontos comuns.
provavelmente se lembra da época em que uma linha telefônica custa- Elas são de difícil compreensão,
va o equivalente a um carro usado. Era muito dinheiro! E geralmente porque são muito mais com-
se ficava na fila para conseguir uma linha. Lembro-me de pessoas que plexas e são diferentes mesmo
ganhavam a vida alugando linhas telefônicas. As que estavam atentas aquelas que atuam no mesmo
às mudanças que estavam ocorrendo, conseguiram sair do negócio a segmento e no mesmo quartei-
tempo; outras perderam todo o capital investido. Hoje com R$ 10,00 rão, que dirá as de segmentos
você compra “uma linha” para o seu celular, que é o seu chip. e portes completamente dife-
Por essas e outras é que quando as organizações são compa- rentes e localizadas em outros
radas com o corpo humano para demonstrar que é um sistema países ou regiões.
UNIDADE I 17
Contudo, voltando nossos pés para o chão: ou transnacionais (de acordo com sua localização
tentaremos sempre tratar ao menos os pontos a abrangência), basicamente podem ser dos
comuns à maioria delas, afinal, algum tipo de or- setores da indústria, comércio ou serviço e o que
ganização a organização deve ter, não é mesmo? todas têm em comum é a natureza jurídica.
E quais são suas formas? Como elas podem se Outros tipos de organização: igrejas, organi-
apresentar? De muitas maneiras! Não esgotaremos zações do terceiro setor, cooperativas, os diversos
todas elas aqui, com toda a certeza. Primeiramente tipos de empreendimentos econômicos solidários,
porque focaremos propositalmente naquelas que associações…
mais se aproximarão da sua vida “lá fora” e também É importante salientar que cada um desses
porque eu acredito que lá no Japão ou na Índia tipos de organização tem suas características
certamente há tipos de organização que eu nem próprias. Igrejas, por exemplo. Primeiramente,
imagino! O ser humano, de fato, cria organizações há vários tipos de igrejas, com crenças e valores
de muitos tipos diferentes para atingir seus propó- específicos e também com formas de se organizar
sitos também diferentes e pode apostar que muitos peculiares. Algumas delas são regionais, enquan-
deles estão fora do nosso âmbito de conhecimento. to outras fazem parte de uma instituição maior,
Vamos começar, então, por aquele que talvez mais presente em vários países e liderança única. Com
faça parte da nossa vida: as empresas. Segundo a de- muitos ou poucos seguidores... Isso porque esta-
finição do dicionário Aurélio, empresa é uma “orga- mos falando somente em igrejas. Se pensarmos
nização econômica destinada à produção ou venda nas grandes religiões, o conceito se expande ainda
de mercadorias ou serviços, tendo em geral como mais. No entanto, todas elas têm necessidades,
objetivo o lucro” (DICIONÁRIO, 2010, p. 779). objetivos, recursos, processos e estão inseridas
Guerrini (2016) caracteriza empresa como “um em um ambiente ou contexto.
conceito jurídico e um fenômeno econômico”. Cooperativas também são organizações. Não
são empresas, mas são atividades produtivas ou
comerciais e que possuem um modo próprio
de organização, baseado em princípios coope-
rativistas: adesão livre e voluntária; gestão de-
Enquanto o conceito de Organização pode ser mocrática; participação econômica; autonomia
discutido e idealizado por diversas áreas do co- e independência; educação, formação e infor-
nhecimento, o conceito de empresa é estrita- mação; cooperação entre cooperativas; interesse
mente jurídico. É necessário formalizar um plano pela comunidade (ROCHA, 1999). Você pode
e declarar objetivos organizacionais para comu- imaginar que esses princípios e essa forma de
nicar as intenções da empresa. organização que não prevê donos, mas coopera-
Fonte: Guerrini (2016, p. 11). dos, e condições equânimes entre eles requerem
uma forma de gestão bastante diferente daquelas
presentes nas empresas.
Em se tratando somente de empresas, já temos aí As cooperativas podem também ser de
um mundo de diversidade. Podem ser micro, pe- Economia Solidária. Além desse tipo, há di-
quenas, médias ou grandes (definição que pode versos outros de empreendimentos econô-
variar pelo número de funcionários ou micos solidários que não são empresas, mas
faturamento), locais, nacionais, multinacionais são organizações dentro desse nosso conceito.
18 Organizações e administração
Alguns deles apenas citados aqui e que serão me-
lhor apresentados na Unidade 8 são: clubes de
trocas, comércio justo, empresas autogestioná-
rias (que apesar da natureza de empresa, tem seus
princípios próprios), finança solidária e economia
sem dinheiro. Para cada um, com suas especifici-
dades, uma forma de gestão.
As associações, por sua vez, também se apre-
sentam de diversos tipos. Podem ser formais, com
a presença de estatutos com definições e regras
claras e podem também ser informais. Há asso-
ciações de bairros, comerciais, industriais, de ben-
feitores, criminosas e assim por diante. E, acredite,
até mesmo as criminosas precisam de gestão!
Bem, acredito que tenha ficado muito claro
o que são as organizações e alguns de seus tipos.
Você já está inserido neste contexto de modo prá-
tico e, agora, também teórico. Agora vamos passar
aos conceitos de administração e gestão e como
eles estão relacionados às organizações.
UNIDADE I 19
Administração
e Gestão
“
“
1. ação de administrar. 2. Gestão de negó-
cios públicos ou particulares. 3. Governo, re-
gência. 4. Conjunto de princípios, normas e
funções que têm por fim ordenar a estrutura
e funcionamento de uma organização (em-
20 Organizações e administração
presa, órgão público etc.). 5. Prática desses gestão - tem que dar conta de colocar tudo isso
princípios, normas e funções (DICIONÁ- para funcionar.
RIO, 2010, p. 57). Em 2011, Maximiano retorna com uma defini-
ção um pouco mais estendida de administração,
No idioma inglês, temos como tradução para ges- acrescentando alguns processos. Para ele, então,
tão o termo management. Para administração, administrar é
temos o mesmo termo - significando gestão, ge-
rência e administração como no sentido 1, 2, 4 e 5 tomar decisões para cuidar adequadamen-
do Aurélio e também o termo administration sig- te dos recursos e realizar objetivos. Esse
nificando gerência, governo, ou seja, mais similar processo de tomar e executar decisões
ao ponto 3 do dicionário Aurélio há pouco citado. compreende cinco processos principais in-
Sendo assim, tomaremos administração e ges- terligados: planejamento, organização, lide-
tão como sinônimos, no sentido de gerir, de orde- rança (e outros processos da gestão de pes-
nar a estrutura e o funcionamento de organizações. soas), execução e controle (MAXIMIANO,
Além desse conceito ao qual chegamos, porém, 2011, p. 8).
diversos autores conceituaram administração ou
gestão segundo enfoques específicos e vamos tra- O que o autor traz como processos principais da
zer alguns aqui para nosso conhecimento. administração é equivalente ao que Henry Fayol
Lacombe (2009, p. 3), por exemplo, dá maior há mais de um século chamou de funções admi-
destaque às pessoas e aos objetivos pessoais e nistrativas, que veremos melhor nos próximos
organizacionais. Em sua definição, “administrar tópicos. O que Maximiano (2011) traz de novo às
é obter resultados por meio de pessoas, ou seja, funções administrativas de Fayol é acrescentar a
é o ato de trabalhar com pessoas para realizar elas a liderança (e outros processos de adminis-
os objetivos da organização e de seus membros”. tração de pessoas).
Certamente que esse destaque - nas pessoas - é
fundamental, mas talvez faltem alguns outros
elementos, pois há outros recursos também ne-
cessários para se alcançar esses objetivos, como
tecnologia, matérias-primas, capital…
Segundo Maximiano (2004, p. 33), “adminis- Liderança é o processo de trabalhar com pessoas
tração é um processo dinâmico de tomar deci- para possibilitar a realização de objetivos. Lide-
sões sobre a utilização de recursos, para possi- rança é um processo complexo, que compreende
bilitar a realização de objetivos”. Veja que nesse diversas atividades de administração de pessoas,
conceito alguns elementos se destacam: processo como coordenação, direção, motivação, comuni-
dinâmico (não é feito uma única vez), tomada de cação e participação no trabalho em grupo.
decisões (sempre e a cada momento), utilização Fonte: Maximiano (2011, p. 9).
de recursos (o meio para se alcançar os objetivos)
e objetivo. Isso faz lembrar aquela tipologia que
fizemos sobre as características das organizações, Sobral e Peci (2013) acrescentam à definição de
não faz? Não é coincidência. Se a organização administração os conceitos é de eficiência e eficá-
tem essas características, a administração - ou cia. Segundo os autores, administração é “um pro-
UNIDADE I 21
cesso de coordenação do trabalho dos membros contrôle). A obra foi publicada em 1916 e reper-
da organização e de alocação dos recursos orga- cutiu o mundo inteiro.
nizacionais para alcançar objetivos estabelecidos Mesmo sendo sua obra original datada de
de uma forma eficaz e eficiente” (SOBRAL; PECI, tanto tempo atrás, suas ideias continuam muito
2013, p. 6). A eficiência diz respeito a processos atuais. Segundo Fayol (2007), há seis grupos de
e a eficácia, a resultados, ambos elementos fun- operações ou o que ele chama de funções essen-
damentais do que se espera de uma organização. ciais que são comuns a todas as empresas, inde-
De modo geral, o que percebemos nos concei- pendentemente de seu porte ou nível de comple-
tos é que a gestão ou a administração (que aqui xidade, descritas a seguir:
“
“
trataremos como sinônimos) é algo inerente a
todo o tipo de organização. Sem ela, seria caos o conjunto das operações de toda empresa
e não organização. E isso se refere até mesmo a pode ser dividido em seis grupos, a saber:
estruturas informais. Já imaginou sua família sem 1) Operações técnicas: produção, fabricação,
um pouco de (ou muita) administração? Não te- transformação. 2) Operações comerciais:
ria almoço na mesa, roupas passadas para o uso, compras, vendas, permutas. 3) Operações fi-
logística de transporte à escola, trabalho ou fa- nanceiras: procura e gerência de capitais. 4)
culdade e até mesmo seu lugarzinho certo para Operações de segurança: proteção de bens e
dormir a noite. de pessoas. 5) Operações de contabilidade:
É, a administração é fundamental para a nossa inventários, balanços, preços de custo, es-
vida cotidiana. Ela está estruturada em alguns tatística etc. 6) Operações administrativas:
pontos principais. Esses pontos são chamados previsão, organização, direção, coordenação
de funções administrativas, que foram propostas e controle (FAYOL, 2007, p. 23).
inicialmente por Henry Fayol, engenheiro
francês, em seu livro Administração Industrial Fayol (2007) dizia que os cinco primeiros grupos
e Geral: previsão, organização, comando, coor- são bastante conhecidos nas rotinas organizacio-
denação e controle, cujo título original é: Admi- nais, mas o grupo administrativo necessitaria de
nistration industrielle et générale: prévoyance, maior aprofundamento. E aí ele parte de uma de-
organisation, commandement, coordination, finição de administração que se tornou clássica:
22 Organizações e administração
Veremos melhor as especificidades desse con- Perceba que, embora o autor tenha escrito isso
ceito nos próximos tópicos, mas antes disso ainda originalmente em 1916, um século mais tarde
falaremos um pouco mais aqui sobre Fayol. esses princípios são ainda muito atuais! Talvez
O autor empregou o termo princípios para al- alguns deles não se apliquem ou se apliquem
gumas condições inerentes à administração, mas menos em determinados tipos de organização,
com uma ressalva importante: não há um número ou outros ainda deveriam ser inseridos, mas isso
limitado deles e nem rigidez. Eles podem se alterar o próprio autor já previu quando deu a abertura
a todo o tempo, pois é sempre necessário observar para outros princípios e para esses mesmos em
as circunstâncias, as variáveis, as necessidades de vários graus distintos de acordo com as caracte-
adaptação… enfim, uma organização nunca será rísticas de cada organização a qual se pretende
exatamente igual à qualquer outra e os princípios analisar.
de administração têm que se adequar a essa miría- Poderíamos, por exemplo, inserir como um
de de situações distintas que caracteriza o mundo desses princípios o “ba”, que é o ambiente propí-
organizacional. E mesmo que os princípios sejam cio ao compartilhamento do conhecimento, por
os mesmos, Fayol salienta que se trata sempre de exemplo. Para alguns tipos de empresa, isso é fun-
uma questão de medida, ou seja, dificilmente se damental! Entretanto, veremos mais sobre isso na
aplicará o mesmo princípio mais de uma vez em Unidade VII, quando falaremos sobre Gestão do
condições idênticas (FAYOL, 2007). Conhecimento.
O autor menciona, então, alguns princípios administrativos que ele afirma ter
tido a oportunidade de aplicar com maior frequência — tendo clara essa res-
salva apresentada anteriormente:
1) a divisão do trabalho;
2) a autoridade e a responsabilidade;
3) a disciplina;
4) a unidade de comando;
5) a unidade de direção;
6) a subordinação do interesse particular ao interesse geral;
7) a remuneração do pessoal;
8) a centralização;
9) a hierarquia;
10) a ordem;
11) a equidade;
12) a estabilidade do pessoal;
13) a iniciativa;
14) a união do pessoal.
(FAYOL, 2007, p. 43-44)
UNIDADE I 23
Planejar
e Organizar
24 Organizações e administração
Planejar e organizar são as duas primeiras fun-
ções da administração. Vamos começar com o
primeiro: planejar.
Fayol (2007) denominava essa função como
“prever”, mas veja seu conceito para prever: “pre-
ver, aqui, significa ao mesmo tempo calcular o
futuro e prepará-lo; é, desde logo, agir” (FAYOL,
2007, p. 65). Certamente é a isso que nos referimos
quando dizemos “planejar”, enquanto talvez para
nós o termo prever dê um pouco a conotação de
algo que necessitaria de uma bola de cristal.
O autor ainda traz como um instrumento efi-
caz para a previsão o programa de ação que é,
segundo ele, “o resultado visado, a linha de con-
duta a seguir, as etapas a vencer, os meios a em-
pregar” (FAYOL, 2007, p. 65). Então, a previsão
dele somado a esse programa de ação é o que nós
costumamos mesmo chamar de planejamento.
Vamos, então, aos autores mais atuais. Sobral e
Peci (2013, p. 195) definem planejamento como “fun-
ção da administração responsável pela definição dos
objetivos da organização e pela concepção de planos
que integram e coordenam suas atividades”.
Nesse conceito temos dois elementos chave:
objetivos e planos.
““
Os objetivos são resultados, propósitos,
intenções ou estados futuros que as
organizações pretendem alcançar. Já os
planos são guias que indicam o que deve
ser feito, especificando os recursos e as
ações necessárias para alcançar os objetivos
(SOBRAL; PECI, 2013, p. 195).
““
Planejamento pode ser visto como (a) a
determinação da direção a ser seguida para
se alcançar um resultado desejado ou como
(b) a determinação consciente de cursos de
UNIDADE I 25
ação, isto é, dos rumos. Uma característica muito interessante e que talvez não nos da-
Ele engloba decisões, mos conta é que quando se fala em planejamento, estamos falando
com base em objetivos, também em atitude. Maximiano (2011) confere à atitude a respon-
em fatos e na estimati- sabilidade pela capacidade de sobrevivência de uma empresa, tanto
va do que ocorreria em a atitude proativa como a reativa. A ideia é que haja um equilíbrio
cada alternativa. Plane- entre essas duas, de modo que a atitude proativa cumpra seu pa-
jar é, portanto, decidir pel de promover crescimento e mudança e a reativa de manter a
antecipadamente o que estabilidade e impedir mudanças desnecessárias e para as quais a
fazer, de que maneira fa- empresa pode não estar ainda preparada.
zer, quando fazer e quem
deve fazer (LACOMBE;
HEILBORN, 2008, p.
Levantamento de informações;
162, grifo dos autores).
26 Organizações e administração
feitas em cada unidade e a orientação geralmente 6. hierarquizáveis: que seja possível estabe-
é a médio prazo. O nível operacional, por fim, está lecer uma ordem de prioridade entre os
relacionado às atividades rotineiras, à definição diversos objetivos (SOBRAL; PECI, 2013).
dos procedimentos e processos específicos e aos
objetivos relacionados aos resultados esperados Tendo claro de que retirar trata o planejamento e
de indivíduos ou grupos (SOBRAL; PECI, 2013). suas características, passamos agora para a próxi-
Quando se pensa nos objetivos do planeja- ma função administrativa: organizar.
mento, primeiramente deve-se ter em mente o Enquanto o planejamento se ocupa com a de-
que move a organização e onde ela quer chegar, finição dos objetivos e das estratégias para alcan-
ou seja, sua missão e visão. çá-los, o objetivo principal da função de organizar
é criar condições para que esses objetivos sejam
alcançados (SOBRAL; PECI, 2013).
Fayol (2007, p. 77) dizia que “organizar uma
empresa é dotá-la de tudo o que é útil a seu fun-
“Missão: declaração escrita que descreve a razão cionamento: matérias-primas, utensílios, capitais
de ser da organização, seu propósito, valores, e pessoal”. Sobral e Peci (2013, p. 251) trazem al-
princípios e linhas orientadoras”. guns outros elementos complementares a esse
“Visão: declaração do que a organização deseja conceito: “organização: função da administração
ser, ou seja, da posição que ela quer ocupar no responsável pela distribuição de tarefas e recursos
futuro”. pelos membros e unidades da empresa, e esta-
Fonte: Sobral e Peci (2013, p. 200-201). belecimento dos mecanismos de comunicação e
coordenação entre estes”.
Os mesmos autores compreendem a organização
Tendo considerado a missão e a visão, outros ele- como um processo de tomada de decisões e definem
mentos são importantes ao se pensar os objetivos. dois processos específicos que caracterizam a função
São características que, se atendidas, ajudarão os de organizar: a diferenciação e a integração. A dife-
objetivos a serem mais eficazes: renciação consiste em dividir as diversas atividades
1. específicos: transmitir com clareza qual é e tarefas para serem executadas pelas pessoas ou
o resultado esperado; departamentos especializados e competentes para
2. mensuráveis: que seja possível definir for- a função. A integração, por sua vez, é o processo de
mas de mensuração para facilitar o pro- coordenação dessas atividades de modo a obter uni-
cesso de avaliação; dade de esforços para o mesmo objetivo.
3. desafiadores, porém alcançáveis: devem Essa função da administração é também res-
representar um desafio para motivar, mas ponsável pela definição de diversos elementos,
devem ser realistas; como qual é o grau desejável de especialização
4. definidos no tempo: é necessário especi- do trabalho, quem será responsável por qual
ficar o prazo para sua realização, pois só atividade ou equipes de trabalho, qual o tama-
assim poderá ser avaliado seu alcance; nho dos grupos de trabalho, quais os critérios
5. coerentes: que os vários objetivos de uni- de divisão das tarefas por departamentos, qual
dades diferentes da organização não sejam o grau desejável de centralização das tomadas de
contraditórios entre si, mas consistentes; decisão, qual o grau desejável de formalização
UNIDADE I 27
das tarefas e funções, dentre tantas outras que Além disso, somente o fato de não precisar
envolvem esse processo de organização (SO- trocar de ferramentas ou de lugar, já era uma boa
BRAL; PECI, 2013). economia de tempo. Taylor depois aprofundou
O processo de organizar, segundo Maximiano esse conceito no estudo dos tempos e movimentos
(2011, p. 137): (SMITH, 2003).
“
“
consiste em dividir o trabalho e atribuir res-
ponsabilidades e autoridade a pessoas. As
principais etapas (ou decisões) no processo
de organizar são: 1) analisar os objetivos e o Tenha sua dose extra de
trabalho a realizar; 2) dividir o trabalho, de conhecimento assistindo ao
acordo com os critérios mais apropriados vídeo. Para acessar, use seu
para a realização dos objetivos; 3) definir leitor de QR Code.
28 Organizações e administração
Dirigir, Coordenar
e Controlar
UNIDADE I 29
“
“
O chefe encarregado de um comando deve: esforços nas coisas que de fato farão a diferença
1) ter conhecimento profundo do seu pes- no trabalho da equipe. E quanto ao termo “devo-
soal; 2) excluir os incapazes; 3) conhecer tamento”, ele se refere ao respeito pela autoridade,
bem os convênios que regem as relações pela hierarquia, a fim de manter a equipe unida e
entre a empresa e seus agentes; 4) dar bom não haver dualidade de comando.
exemplo; 5) fazer inspeções periódicas do Bem, tendo compreendido os princípios do
corpo social, recorrendo nessas inspeções “pai da criança” a respeito dessa função adminis-
ao auxílio de quadros sinópticos; 6) reunir trativa, vamos passar para os autores mais recen-
seus principais colaboradores em conferên- tes. Segundo Sobral e Peci (2013, p. 10),
“
“
cias, onde se preparam a unidade de dire-
ção e a convergência dos esforços; 7) não se A direção está relacionada com os processos
deixar absorver pelos detalhes; 8) incentivar de gestão de pessoas na organização. Diri-
no pessoal a atividade, a iniciativa e o devo- gir significa liderar, motivar, e coordenar os
tamento” (FAYOL, 2007, p. 120-121). trabalhadores no desenvolvimento de suas
tarefas e atividades. Dirigir também signi-
Algumas coisas soam bastante estranhas, não é fica selecionar os canais de comunicação
mesmo? No entanto, vamos nos lembrar que o mais adequados e resolver conflitos entre
texto original foi escrito há um século, portanto, os subordinados.
em um contexto social e temporal muito dife-
rente do nosso. Vamos então procurar as atua- Aqui entrariam diversas questões que pode-
lidades disso: ter conhecimento do seu pessoal, ríamos acrescentar a respeito dessa função. O
por exemplo. Esse é o primeiro passo, de fato, conhecimento de questões comportamentais,
para conseguir fazer um bom ajuste de divisão por exemplo, é de grande ajuda a um gestor que
do trabalho. Excluir os incapazes talvez esteja se possui essa função de direção. Compreender os
referindo a não considerar como parte integrante diferentes tipos de personalidade, ter sensibili-
de determinado projeto ou tarefa as pessoas que dade para perceber como estão as relações entre
não tenham ainda as habilidades necessárias para as pessoas que trabalham juntas, capacidade de
fazê-lo e cuja possibilidade de treinamento não motivação… Sobre vários desses temas vamos
seja viável por alguma razão. O quadro sinóptico ainda tratar melhor ao longo do nosso livro, mas
mencionado por ele se refere ao uso do recurso gostaria agora somente de expor duas tipologias
de resumos esquematizados de uma ideia, para que nos ajudarão a compreender melhor a ques-
facilitar o entendimento. tão dos fatores de personalidade e dos traços de
Quanto a não se deixar absorver pelos deta- personalidade com relação ao comportamento
lhes, isso dependeria do caso, concordam? Há dentro das organizações.
projetos em que os detalhes são fundamentais Bom, primeiramente vamos definir personali-
e talvez o que se espera dos chefes nesse caso é dade. Você já deve ter ouvido (e falado) um boca-
exatamente uma absoluta atenção sobre eles. Há do de vezes a expressão: “fulano tem personalida-
outros casos em que a ideia é não se deixar distrair de forte!”. O que isso quer dizer exatamente? No
por questões menos importantes e concentrar os senso comum, talvez isso se refira mais às pessoas
30 Organizações e administração
“mandonas”, mas na realidade, pela definição, talvez não seria adequado usar essa expressão para tal
finalidade, dado que todas as personalidades podem ser fortes, no sentido de acentuadas. Alguém
extremamente tímido poderia, então, ser descrito como uma personalidade forte (em timidez), não
é mesmo?
Contudo, estou aqui falando da definição e nem apresentei ela ainda. Vamos lá: “a personalidade de
um indivíduo refere-se ao conjunto de características psicológicas estáveis que o caracteriza e diferencia
de outras pessoas, refletindo em seu comportamento” (SOBRAL; PECI, 2013, p. 309).
Considerando esse conceito, foi concebido um modelo que descreve a personalidade humana com
base em 5 dimensões: extroversão, agradabilidade, senso de responsabilidade, estabilidade emocional
e abertura a novas experiências. Vamos lembrar que se trata de uma tipologia, uma das tantas que há
nesse campo. Abrange todos os seres humanos? Talvez. Abrange todas as características de personali-
dade possíveis em uma pessoa? Certamente não! Além disso, essas dimensões podem ser combinadas
em diferentes graus e de diferentes formas. Você deve estar pensando: “isso é óbvio, né? As pessoas são
diferentes umas das outras; não são só 5 tipos de seres que há por aí” e você está completamente certo!
Vamos às características de cada uma dessas dimensões:
Você conseguiria pensar um pouco sobre si mesmo e tentar compreender a própria personalidade a
partir dessas descrições? Até certo ponto sim, mas é difícil conseguirmos determinar, por exemplo, até
que ponto sou entusiasta ou curiosa, não é verdade?
Bem, há diversos testes baseados nesse modelo e que buscam adequar a personalidade de um
candidato a um cargo. Além dele, outra tipologia relevante a ser considerada pelas organizações é
com relação ao lócus de controle, o maquiavelismo e o automonitoramento (SOBRAL; PECI, 2013),
apresentados no quadro a seguir:
UNIDADE I 31
Percepção que os indivíduos Passamos agora para a coordenação. Para
têm sobre o controle dos Fayol (2007, p. 126, grifos do autor), “coordenar
acontecimentos de sua vida:
algumas pessoas acreditam é estabelecer a harmonia entre todos os atos de
Lócus de que seu sucesso ou fracasso uma empresa de maneira a facilitar o seu funcio-
controle é consequência de sua habili-
dade e esforço (controle inter- namento e o seu sucesso”. Isso envolve promover
no), outros creem que é fruto o equilíbrio das despesas e recursos financeiros,
do acaso ou de forças externas
(controle externo). envolve considerar as obrigações e consequências
de toda e qualquer operação, estabelecer priori-
Tendência em direcionar o
comportamento para a aqui-
dades e adaptar os meios ao fim (FAYOL, 2007).
sição de poder e manipulação
Maquiave- dos outros. Os indivíduos com
lismo cotações elevadas na escala
de maquiavelismo tendem a
comportar-se de forma egoísta
e hostil em relação aos outros.
Coordenar é equilibrar, sincronizar e integrar as
Habilidade de um indivíduo ações das pessoas e as atividades das unidades
para ajustar seus comporta-
organizacionais, de acordo com certa ordem e
mentos aos fatores externos
e situacionais. Indivíduos com método, para assegurar seu desenvolvimento
Automoni- alto automonitoramento são harmônico.
toramento sensíveis à informação externa
ou interpessoal, ao passo que Fonte: Lacombe e Heilborn (2008, p. 206).
indivíduos com baixo automo-
nitoramento são sensíveis aos
sentimentos e emoções.
Lacombe e Heilborn (2008) apresentam alguns
Quadro 2 - Principais traços de personalidade estudados esforços de coordenação necessários para que
em comportamento organizacional as atividades de uma organização aconteçam
Fonte: Sobral e Peci (2013, p. 310).
da melhor forma possível:
E aqui, você consegue se autoanalisar a respeito a) o balanceamento, que se refere ao equilí-
de seu lócus de controle, do seu grau de maquia- brio das quantidades;
velismo e de automonitoramento? E imagina o b) a sincronização, que se refere a coordenar
quanto é importante para o responsável por uma as atividades de modo a tudo acontecer
equipe identificar e compreender esses aspectos em seu tempo correto;
nas pessoas que a compõe. Alguém que tem sem- c) a integração dos esforços, que se refere à
pre a tendência de culpar os outros ou as circuns- orientação de todas as atividades para o
tâncias, por exemplo. Identificar que a pessoa tem propósito comum.
tendência ao controle externo pode ser o primeiro
passo para ajudá-la a assumir melhor suas res- Perceba que a divisão do trabalho, conforme
ponsabilidades. Imagine as diferentes ocasiões em já vimos, é fundamental para a produtividade,
que esses traços de personalidade podem influen- mas concomitante a ela há todo um trabalho de
ciar na vida organizacional e, melhor ainda, tente coordenação para que todas as atividades con-
identificar esses comportamentos no local onde corram para o mesmo objetivo. Seria, de certa
você trabalha. É importante esse treinamento para forma, “montar o quebra-cabeças”, sendo cada
melhor poder conduzir equipes. peça uma tarefa específica que foi designada a
32 Organizações e administração
alguém (ou grupo/equipe/setor) por meio da Atualmente, por exemplo, é comum que em-
divisão do trabalho. presas tenham um controle tecnológico também,
Há alguns mecanismos de coordenação im- como o bloqueio de páginas da internet, e-mails
portantes para conduzir esse processo. Lacombe corporativos a cujos conteúdos a empresa tem
e Heilborn (2008) trazem como mecanismos o acesso ou a proibição do uso dos próprios smar-
ajuste espontâneo (que pode ser tanto formal tphones dos funcionários. Essas são questões
quanto informal), a supervisão direta, a definição polêmicas, sem dúvida, que renderiam uma boa
da estrutura e dos padrões de trabalho e a padro- conversa, mas aqui vamos considerar os dois lados
nização das habilidades. Como instrumento para e, de repente, até mesmo pensar naquele ditado
poder se utilizar desses mecanismos, os autores popular que já ouvimos tantas vezes “o combinado
sugerem como aspecto principal a comunica- não sai caro”. Talvez com regras claras e estabele-
ção e isso implica tanto o contato direto, quanto cidas previamente, o que poderia parecer invasivo
documento escritos ou comunicação por meios pode ser um acordo entre as partes baseado em
eletrônicos. algumas razões e aceito por todos.
A comunicação nesse processo, de fato, tem des- Ainda sobre o controle, Sobral e Peci (2013, p.
taque e importância singular. Sobre esse aspecto 10) apresentam a seguinte definição:
“
“
fundamental não trataremos profundamente aqui,
pois você terá uma disciplina voltada especifica- o controle é a função da administração que
mente a ele, tamanha sua importância para nossa assegura que os objetivos estão sendo al-
formação, tanto humana quanto profissional. cançados. Consiste no monitoramento e na
Por último, mas não menos importante, o avaliação do desempenho da organização,
controle. na comparação deste com os objetivos pla-
Começando sempre por aquele que carinho- nejados e na correção dos possíveis desvios.
samente estamos chamando de “pai da criança”: A função de controle envolve: a definição de
Fayol. Para ele, medidas de desempenho; a verificação siste-
““
mática do desempenho efetivo; a compara-
numa empresa, o controle consiste em ve- ção entre os padrões e objetivos planejados
rificar se tudo corre de acordo com o pro- e o desempenho efetivamente observado; e,
grama adotado, as ordens dadas e os princí- finalmente, o estabelecimento de medidas
pios admitidos. Tem por objetivo assinalar corretivas (no caso de se verificarem des-
as faltas e os erros, a fim de que se possa vios significativos). É por meio da função
repará-los e evitar sua repetição (FAYOL, de controle que a organização se mantém
2007, p. 130). no rumo pretendido ou planeja mudanças.
O autor ainda salienta que diversos aspectos de- Há diversos tipos de controle. Sobral e Peci (2013)
vem ser considerados, ou seja, o controle se aplica trazem alguns deles: 1) o controle preventivo, que
a tudo, às coisas, pessoas ou ações. Ele recomenda tem a função de antecipar possíveis problemas
algumas ações pontuais segundo diversos pontos (ex.: inspecionar insumos e matérias-primas); 2) o
de vista: o comercial, o técnico, o financeiro, de controle simultâneo, que tem como característica
segurança, da contabilidade e poderíamos ainda corrigir os problemas à medida que ocorrem (ex:
acrescentar diversos outros. supervisão direta dos trabalhadores); 3) o controle
UNIDADE I 33
posterior, que corrige os problemas depois que Mais uma vez, a importância de uma comuni-
eles acontecem (ex: controle de qualidade dos cação clara e objetiva.
produtos finais). Há diversas formas de se estabelecer o controle
Aqui podemos pensar que talvez o ideal mes- em uma organização. Muitos autores trazem pro-
mo, em termos de excelência, fosse os três tipos, postas nesse sentido, inclusive propõem algumas
pois evitaria problemas com os insumos (que pelo ferramentas, como auditoria, inspeções visuais,
efeito cascata acarretaria problemas aos produtos sistemas automatizados para contagem e medição
finais), com o andamento do trabalho (cujo efeito ou até mesmo o cartão ponto. Enfim, existe uma
também afetaria os produtos finais) e com proble- infinidade de ferramentas, mas aquelas que de fato
mas de insatisfação dos clientes ou retrabalho ou funcionarão serão as que fizerem sentido dentro
recalls, fazendo o controle de qualidade. da organização. Não adianta, por exemplo, con-
Estamos falando de produtos nesse exemplo, tratar uma auditoria se o problema, já se sabe, está
mas também para serviços isso se aplica: os insu- na qualidade das matérias-primas. O importante
mos (conhecimento e demais recursos necessários é procurar os mecanismos que ajudem a organi-
para desempenhar o trabalho), o “durante”, que talvez zação a atingir seus objetivos, que sejam também
necessite ainda de algum ajuste, e o “depois”, fazendo éticos e não agridam as pessoas que ali trabalham;
talvez uma pesquisa de opinião aos clientes sobre a um sistema sensato e transparente, de modo que
qualidade do serviço. Em suma, a ideia do controle não se queira como objetivo “achar um culpado”,
é que tudo o que foi planejado lá atrás dê certo! É mas sim diminuir a probabilidade de problemas e
garantir (ou tentar garantir) um bom resultado final. aumentar as possibilidades de alcance do objetivo
Sistemas de controle organizacional podem organizacional.
ser os mais variados. As características de sistemas Nessa unidade foram apresentados os concei-
de controle eficazes dependerão da natureza do tos de organização, empresa, gestão, administra-
negócio e de como se pretende administrar uma ção, enfim, do que será fundamental para poder-
organização. Lacombe e Heilborn (2008, p. 173) mos caminhar pelos próximos assuntos. Vimos
estabelecem algumas etapas para o controle: “pa- também as funções da administração: planejar,
drões de desempenho; medidas (aferição); inter- organizar, dirigir, coordenar e controlar e como
pretação e ação corretiva”. De fato, é fundamental elas podem ser aplicadas na prática.
para o controle que haja padrões de desempenho Isso nos dá a base para compreendermos o
bem definidos e também medidas objetivas que que envolve o mundo das organizações e de sua
possam ser aferidas. Do contrário, as pessoas não administração. Na próxima unidade, falaremos
sabem o que nem quanto se espera delas, o que sobre algumas das principais teorias da adminis-
torna injusta uma avaliação e difícil o acerto den- tração. Obrigada pela companhia e até a próxima
tro de padrões que elas desconhecem. unidade!
34 Organizações e administração
Você pode utilizar seu diário de bordo para a resolução.
35
Assinale a alternativa correta.
a) Apenas I e II estão corretas.
b) Apenas II e III estão corretas.
c) Apenas I, II, e IV estão corretas.
d) Todas as alternativas estão corretas.
e) Nenhuma das alternativas está correta.
36
LIVRO
37
CHIAVENATO, I. Administração: teoria, processo e prática. 5. ed. Barueri-SP: Manole, 2014.
FAYOL, H. Administração industrial e geral: previsão, organização, comando, coordenação e controle. 7. ed.
São Paulo: Atlas, 2007.
FERREIRA, Aurélio B. de H. Dicionário Aurélio da língua portuguesa. 5. ed. Curitiba: Editora Positivo, 2010.
JONES, G. R. Teoria das organizações. 6. ed. São Paulo: Pearson Education do Brasil, 2010.
LACOMBE, F. J. M.; HEILBORN, G. Administração: princípios e tendências. 2. ed. São Paulo: Saraiva, 2008.
______. Introdução à administração. Edição compacta. 2. ed. São Paulo: Atlas, 2011.
SOBRAL, F.; PECI, A. Administração: teoria e prática no contexto brasileiro. 2. ed. São Paulo: Pearson Educa-
tion do Brasil, 2013.
38
1. B.
2. C.
3. A.
39
40
Dra. Cláudia Herrero Martins Menegassi
Teorias da
Administração
PLANO DE ESTUDOS
Administração
Administração científica por objetivos
OBJETIVOS DE APRENDIZAGEM
• Descrever o modelo burocrático: seus princípios, dimen- • Apresentar a visão sistêmica da organização e a Teoria
sões e disfunções. da Contingência, bem como sua influência no modo de
• Descrever a Administração Científica e o Estudo de Movi- conceber a gestão.
mentos e Tempos de Frederick W. Taylor e os princípios • Apresentar o sistema de gestão Administração por Ob-
do Fordismo e Toyotismo. jetivos (APO).
Modelo
Burocrático
““
características principais de cada uma dessas di-
Burocracia é uma estrutura social na qual a mensões encontra-se na citação do próprio autor
direção das atividades coletivas fica a cargo (HALL, 1968, p. 95, tradução e grifos nossos):
UNIDADE II 43
“
“
(1) Hierarquia de autoridade – o As dimensões das burocracias sistematizadas por
grau em que a tomada de decisão é Hall (1968) são o conjunto de atributos que de-
pré-estruturada pela organização; (2) termina o grau de burocratização de uma deter-
Divisão do trabalho – o grau em minada organização (SAMUEL; MANNHEIM,
que as tarefas de trabalho são sub- 1970). Perceba que, seguindo essa perspectiva,
divididas através de especialização as dimensões “podem não variar concomitante-
funcional decidida pela organização; mente” (HALL, 1961, p. 13, tradução nossa), ou
(3) Presença de regras – o grau em seja, embora as dimensões burocráticas estejam
que o comportamento dos membros estreitamente ligadas entre si, elas também podem
organizacionais está sujeito ao con- se manifestar de forma independente uma da ou-
trole organizacional; (4) Especifi- tra. Além disso, haverá sempre variação desse grau
cações de procedimentos – o grau de uma organização a outra, considerando que
em que membros das organizações cada uma dessas dimensões dificilmente estará
devem seguir técnicas definidas pela em grau exatamente igual a outras e, mais difícil
organização para lidar com as situa- ainda, todas ao mesmo tempo em mesmo grau.
ções em que se encontram; (5) Im- É claro que isso poderia gerar uma descaracte-
pessoalidade – o grau em que, tanto rização do modelo, então é importante notar que
membros organizacionais, quanto o quanto mais as dimensões burocráticas aparecem
público externo são tratados sem con- em graus elevados, mais a organização se aproxi-
sideração às qualidades individuais; ma do tipo ideal de burocracia exposto por Weber:
“
“
(6) Competência técnica – o grau
em que padrões ‘universalizados’, de- Na burocracia de tipo ideal todas essas di-
finidos organizacionalmente são uti- mensões estariam presentes em alto grau,
lizados nos processos de seleção e de enquanto as organizações não-burocratiza-
promoção de pessoal. das ou simples apresentariam, idealmente,
baixo grau de freqüência em todas as dimen-
sões. Mais precisamente, uma organização
altamente burocratizada seria caracterizada
por uma complexa divisão do trabalho; uma
estrutura hierárquica multigraduada e rigo-
rosamente observada; normas extensivas de
controle da atuação no trabalho; normas de
trabalho bem desenvolvidas e sistematica-
mente observadas; comportamento impes-
soal – tanto entre os membros das organi-
zações como entre estes e os não-membros
– orientados por normas que enfatizam o
cargo e não o seu ocupante como base da
interação; e a importância do êxito no de-
sempenho das tarefas – como base para a
44 Teorias da administração
promoção e salário. A organização não-bu-
rocrática, por outro lado, seria caracterizada
por uma pirâmide hierárquica relativamente
achatada [...] uma divisão do trabalho mais
simples etc. (HALL, 1978, p. 33).
UNIDADE II 45
Pensando em uma sistematização, podemos apre- que não tenha uma mínima hierarquia de autori-
sentar as seguintes características de cada dimensão dade? Talvez você diga: as cooperativas. Já estudei
do modelo burocrático — lembrando que não se profundamente cooperativas e digo a você: existe
esgotam aí, mas orientam para um melhor enten- hierarquia, em alguns casos até bastante definidas,
dimento de cada uma delas, conforme o Quadro 1. em outros menos, mas algum tipo existe. A mes-
Por que esse modelo é tão robusto a ponto de ma reflexão se aplica a cada uma de todas as seis
ser praticamente utilizado por todas as organi- dimensões. Não há organização que não tenha
zações, mesmo as que não sabem que o modelo alguma delas. Pode ter em grau muito pequeno,
existe na teoria? Você conhece uma organização mas ela está lá de alguma forma.
Dimensões Características
Competência • Necessidade dos critérios, exames, concursos, títulos para admissão e pro-
técnica moção dos funcionários.
46 Teorias da administração
Tendo compreendido o que é o modelo burocrá- nesse caso é no sentido do trabalhador se sentir
tico e suas dimensões, vamos falar um pouco a estranho ao fruto do seu próprio trabalho, é não
respeito de suas disfunções, ou seja, dos “efeitos reconhecer-se nele.
colaterais” desse modelo. Afinal, não é a toa que Com relação à impessoalidade, as particula-
o termo burocracia foi parar no senso comum ridades de cada caso não são consideradas com
sempre com uma conotação tão negativa. a devida importância, ou seja, o tratamento uni-
Vamos fazer essa análise pensando no tipo formizado não se adapta a casos particulares. Isso
puro, é claro, no modelo burocrático pensado ao para citar alguns exemplos, mas as disfunções ain-
máximo, em todas as suas dimensões ao grau má- da vão muito além dessas.
ximo, porque provavelmente as mesmas críticas Considerando as diversas disfunções da buro-
não se aplicariam aos casos em que os graus são cracia, destaca-se uma questão que alguns autores
moderados ou baixos (nesse último caso, talvez trazem: “por que tal modelo persiste já que não é
outras críticas diferentes surgiriam). eficaz?” (CROZIER, 2004, p. 1409, tradução nos-
Bem, vamos lá: um primeiro aspecto é sobre a sa). É evidente que trata-se de uma questão com-
disciplina e a rigidez da burocracia. A disciplina plexa e sem resposta única ou definitiva. Todavia,
pode ser vista como algo que oprime o trabalha- o que se percebe, tendo em vista não somente toda
dor. Com relação à rigidez, Perrow (1976) afirma a teoria a respeito do modelo burocrático, como
que a burocracia é rígida, vagarosa e inóspita a também sua prática no mundo organizacional, é
mudanças e inovações. Sobre a extensiva cen- que as características do modelo são consideradas
tralização de comando e supervisão, Blau (1978) ainda essenciais para se obter controle e previsi-
destaca um problema do excesso de supervisão bilidade daquilo que acontece nas organizações, o
de todas as decisões por parte dos superiores: a que de certo modo colabora para a produtividade
tensão entre os funcionários, o que pode tornar e para a sustentabilidade das organizações em
a supervisão levada ao extremo ineficaz e nociva. termos principalmente econômicos.
Outro aspecto é apontado por Motta (1986), Além disso, temos que lembrar sempre que,
que compreende a burocracia como sendo um no mundo real, estamos falando de modelo bu-
instrumento de recalcamento e alienante, por re- rocrático concebido dentro da ideia de inúmeras
duzir cada pessoa somente ao papel que desen- possibilidade de gradação em cada uma de suas
volve segundo seu cargo ou atividade. Segundo o dimensões, o que faz com que ele se adapte aos
autor,“o trabalhador se defronta com o produto de diferentes estilos de gestão, de formas de organi-
seu trabalho como um objeto que lhe é estranho, zação e de ramos de atividade.
com o qual não se identifica” (MOTTA, 1986, p. Depois dessa leitura você nunca mais ouvirá o
71). Os sistemas rígidos de normas e procedimen- termo burocracia da mesma forma, não é verda-
tos, segundo DeHart-Davis e Pandey (2005), tam- de? Vamos agora passar para o próximo tópico: a
bém geram alienação do trabalhador. Alienação administração científica.
UNIDADE II 47
Administração
Científica
48 Teorias da administração
São muitas as contribuições de Taylor para a
administração. Vamos elencar algumas delas,
Tenha sua dose extra de segundo Ribeiro (2010):
conhecimento assistindo ao 1. A cada trabalhador deveria ser atribuída
vídeo. Para acessar, use seu
a tarefa mais elevada possível, de acordo
leitor de QR Code.
com suas aptidões.
2. Estabelecer um padrão médio de pro-
dução e solicitar a cada trabalhador que
produza quantidades equivalentes ou su-
Taylor era engenheiro mecânico e acreditava que a periores a esse padrão.
produtividade e a eficiência dos trabalhadores era 3. Remuneração por produção, de modo
a chave para a prosperidade de uma organização. que fosse satisfatória para quem cum-
E esse eficiência, segundo ele, estava atrelada à di- prisse o padrão e motivadora para quem
visão do trabalho e à especialização, que tornaria o o excedesse.
trabalhador mais hábil para realizar as tarefas para 4. Introduzir a ideia de cientificidade no tra-
as quais eram designados (LACOMBE, 2009). balho (como o estudo de movimentos e
Para Taylor, o objetivo da administração era o tempos, que veremos a seguir).
de assegurar o máximo de prosperidade tanto ao 5. Treinamento de trabalhadores para me-
patrão quanto ao empregado. A prosperidade do lhorar a quantidade e qualidade do que
patrão asseguraria a sustentabilidade do negó- produziam.
cio e a do trabalhador tem a ver com o que hoje 6. Controle do trabalho para verificar se está
chamamos de gestão por competências, ou seja, sendo realizado de acordo com as normas
pressupunha um sistema de remuneração que estabelecidas cientificamente.
fosse diferenciado de acordo com a capacidade 7. A separação entre planejamento (admi-
do trabalhador e sua produção, o que o motivaria nistradores) e execução (trabalhadores).
também a desenvolver cada vez mais essas poten-
cialidades e competências (LACOMBE, 2009). E os próximos estão relacionados aos primeiros,
Outra característica marcante de Taylor é a mas têm a ver, sobretudo, com a questão da cien-
divisão entre o plano estratégico e o operacional tificidade que Taylor procurou atribuir à admi-
das empresas. Segundo ele, o administrador (aqui nistração (por isso o nome da teoria), estudando
poderíamos pensar no dono, ou diretor, ou gerente, cada tarefa em seus detalhes a fim de otimizar e
enfim, quem tenha o cargo de liderança geral da maximizar a produção:
“
“
empresa) deveria ser o responsável pelas tarefas
de administração e planejamento, o que envolve 1. Estudar cuidadosamente cada trabalho,
também a fixação de metas, a busca por melhorias antes de lhe fixar o modo de ser executado.
nos processos, pelo desenvolvimento dos traba- 2. Estudar o trabalho dos operários, decom-
lhadores, promoção da cooperação entre eles e de pô-lo nos seus movimentos elementares e
premiá-los pelos bons resultados. Ao trabalhador cronometrar cada um deles, para eliminar
caberiam as tarefas relacionadas à execução do que os inúteis e aperfeiçoar os úteis.
foi planejado. Ele defendia a ideia de que planeja- 3. Selecionar cientificamente os trabalhado-
mento e execução deveriam ser tarefas distintas res (princípio que preparou terreno para o
e feitas por pessoas distintas (LACOMBE, 2009). aparecimento da psicotécnica).
UNIDADE II 49
4. Dar aos trabalhadores instruções técnicas esquerda, para que não tivesse que perder o tempo
sobre como trabalhar. de trocar de mão para manuseá-la. Se servia a mais
5. Separar as funções de preparação e as de de um trabalhador, então deveria ficar posicionada
execução, dando-lhes atribuições precisas. de modo que ambos, sentados, conseguissem alcan-
6. Especializar e treinar os agentes nas res- çá-la (poupa-se o tempo de se levantar). Esses são
pectivas atribuições, tanto na preparação e exemplos que nos dão a ideia básica desse estudo.
no controle do trabalho quanto na execução. Já percebeu quanto tempo você perde procuran-
7. Preparar a produção, estabelecendo exce- do as chaves de casa? Taylor aconselharia você a ter
lente remuneração para quando forem atingi- um porta-chaves em casa. Onde? Próximo à porta,
dos ou ultrapassados os padrões estabelecidos. pois é onde você precisará delas. Você que está aí
8. Padronizar os utensílios a serem usados. estudando, que arrumou um cantinho bom para
9. Dividir entre a empresa, diretores, exe- isso, mas que tem muita sede e tem que se levantar e
cutantes e consumidores as vantagens que ir até a cozinha para beber água (e talvez aproveitar
resultarem do aumento da produção. para procrastinar um pouquinho…). Nesse caso,
10. Controlar a execução do trabalho para vamos otimizar esse estudo? Garrafinha de água
corrigi-lo, aperfeiçoá-lo e premiá-lo. bem aqui ao lado!
11. Classificar, de forma prática e mnemôni- Pensando agora em todos os trabalhos possíveis,
ca, os equipamentos, os processos e os ma- desde um advogado que precisa de um computa-
teriais a serem empregados ou produzidos, dor, caneta, papéis e de certos documentos e livros
de forma a facilitar sua produção (RIBEIRO, à mão, até um engenheiro ou arquiteto, que precisa
2010, p. 17-18). não somente ter os seus próprios instrumentos de
trabalho em mãos, como também a consciência de
Vimos nesses princípios algumas pistas sobre o es- que o fruto de seu trabalho tem que ser algo que
tudo de movimentos e tempos (EMT). Taylor deu leve isso em consideração. Imagine uma cozinha
muita atenção a isso, a ponto de ser considerado o projetada de modo que a pia fique longe do fogão,
pioneiro nesse campo. por exemplo. Sólidos e líquidos se espalhando pelo
O estudo consistia em estudar a tarefa, o local chão da cozinha ao transportar as panelas ou colhe-
de trabalho, as ferramentas e máquinas, e procurar res de um lugar para outro.
“racionalizar o trabalho e alcançar a otimização da Conheço um apartamento em que entre a co-
relação tempo-esforço, procurando identificar os zinha e a sala de jantar está a sala de estar. Muito
melhores movimentos e tempos na execução de interessante ter que desviar as travessas com comida
uma tarefa” (RIBEIRO, 2010, p. 30). do sofá para poder chegar à mesa… não é prático
Pensem, isso é genial! E isso pode (e deve!) ser fazer caminhadas pela casa com travessas de comi-
pensado em tudo na nossa vida: desde a disposição da quente nas mãos… Então, esse estudo se aplica
dos móveis e eletrodomésticos na nossa casa até a inclusive nessas profissões e muito mais do que você
posição do nosso computador e dos nossos mate- imagina!
riais na nossa mesa de trabalho. Taylor começou esse estudo de movimen-
A ideia era poupar tanto tempo quanto esforço. tos e tempos, mas depois novos elementos
Se o trabalhador precisava, então, de uma ferramen- foram incorporados por Frank e Lillian Gil-
ta específica e ele era canhoteiro, era melhor, então, breth, na primeira década do século XX, segui-
que estivesse logo a seu alcance e próximo à mão dos por Barnes e Maynard (RIBEIRO, 2010).
50 Teorias da administração
Mnemônico é um conjunto de técnicas utilizadas
para auxiliar o processo de memorização. Consis-
te na elaboração de suportes como os esquemas,
gráficos, símbolos, palavras ou frases relaciona-
das com o assunto que se pretende memorizar.
Recorrer a esses suportes promove uma rápida
associação e permite uma melhor assimilação
do conteúdo.
Fonte: Significados ([2017], on-line)1.
UNIDADE II 51
Frank Gilbreth, engenheiro, analisou as tare- nossas vidas, não é verdade? Além de digitar
fas realizadas por um grupo de trabalhadores e rápido, posso digitar por horas sem cansar
identificou movimentos que eram desnecessários. as minhas mãos. Isso também é EMT!
Propôs, então, um sistema de simplificação das ta- • Ferramentas e materiais devem estar próxi-
refas de modo que os movimentos desnecessários mos e ocupar lugar fixo e definido. Voltemos
fossem eliminados. Sua esposa, psicóloga, também ao exemplo da nossa cozinha: quem tem dis-
contribuiu para esses estudos (CHIAVENATO, ponível 2 horas por dia para preparar o al-
2009). moço? Geralmente temos lá nossa meia ho-
A sistemática do EMT consiste em: rinha e temos que fazer milagres com ela, não
“
“
é? Não precisar andar para lá e para cá para
1. Definição do campo de estudo. pegar o que precisamos já economiza um
2. Definição dos instrumentos a serem uti- bocado de tempo! Se você tem uma filha de
lizados. 3 anos de quem tem que desviar sempre que
3. Observação do trabalho e sua decomposi- precisa andar pela cozinha, então… melhor
ção em movimentos ou micromovimentos. mesmo não precisar se movimentar muito.
4. Registro das observações. E sobre ocupar lugar fixo e definido… você
5. Identificação dos movimentos inúteis e já recebeu uma visita em casa que resolve
fases inúteis. gentilmente ajudar a guardar a louça e você
6. Identificação das deficiências nos equipa- passa meses depois procurando o descasca-
mentos, ferramentas e bancadas de trabalho. dor de legumes? (Esse exemplo é uma singela
7. Definição do tempo-padrão da tarefa (ou homenagem à minha mãe).
cálculo do tempo normal). • O uso da gravidade para escoamento. Mui-
8. Implantação (RIBEIRO, 2010, p. 32). to comum ver esse princípio sendo usado
na construção civil, para escoamento de
Com essa sistemática, qualquer um pode replicar entulhos. O tempo e o esforço que poupa
essa análise em seus ambientes até hoje, um século é algo extremamente considerável!
mais tarde! • Iluminação adequada. Um dia um arqui-
Diversas são as especificidades do EMT. Trago teto me disse: “no escuro, todas as cores
aqui algumas delas (RIBEIRO, 2010), que podem são iguais”. Acho que a frase nem era de
ajudar em nossas vidas tanto nas nossas casas autoria dele, mas me marcou. Ela se aplica a
quanto no trabalho: muitas questões da vida, se analisada meta-
• A quantidade de movimentos a ser realiza- foricamente, mas também pode ser literal!
da deve ser a menor possível. Estou empre- Uma boa iluminação é fundamental para
gando esse princípio neste exato momento, a distinção tanto de cores, como materiais,
enquanto digito este texto utilizando todos texturas, enfim, tudo o que é necessário
os meus dedos. Confesso que fico feliz em para se executar um bom trabalho.
ver o quanto digito rápido! Sim, esse mé- • As mãos devem ser desobrigadas de todo o
todo de digitação que um dia aprendemos, trabalho que possa ser realizado vantajo-
em que há dedos específicos para letras es- samente por dispositivo acionado pelo pé.
pecíficas, um dia teve que ser aprendido, Alguém considerou isso quando projetou
pensado etc., mas depois facilita muito as as lixeiras, graças a Deus!
52 Teorias da administração
E a lista ainda seria enorme, mas você já entendeu trabalhador não produzisse nem acima da velocida-
a lógica da questão. de da esteira, nem abaixo dela. Gerava também um
Vamos passar agora para o Fordismo. Henry sincronismo com as demais tarefas do processo de
Ford (1863-1947) não foi um teórico, mas um em- produção.
presário que colocou em prática muitos desses Você já deve ter assistido o filme Tempos Mo-
princípios elaborados por Taylor e pelos demais dernos de Charles Chaplin. A cena da esteira re-
teóricos e ficou famoso principalmente por ter trata bem essa linha de produção e traz também
criado a produção em larga escala. Ele fundou a algumas críticas veladas a ela, como a alienação
Ford Motor Co. em 1903, com o objetivo de pro- do trabalhador (ele aperta parafusos compulsi-
duzir carros em grandes quantidades a fim de vamente a certo ponto, mesmo sem que isso faça
poder vendê-los a preços populares para que esse sentido), o esgotamento por desempenhar sempre
produto pudesse ser adquirido pelo maior número uma mesma função e assim por diante.
possível de pessoas (CHIAVENATO, 2009). Tivemos assim uma boa base do que é a escola
Você já deve ter ouvido aquela célebre frase da administração científica. Vamos passar agora
atribuída a Ford: “podemos produzir automóveis para a teoria dos sistemas.
de qualquer cor, desde que sejam pretos”. A questão
por trás da cor era muito simples: a tinta preta era a O modelo inicial fabricado era o Modelo T.
que secava mais rápido (além de não ter que trocar Mais tarde, por exigência dos consumidores,
a tinta e os utensílios para mudar a cor - lembre-se passou a produzir o Modelo A.
do EMT) e como o foco era produção em massa,
a coisa tinha que fluir da forma mais ágil possível.
Uma das grandes novidades trazidas por Ford que
influenciou o mundo da administração foi a introdu-
ção de uma esteira com velocidade prefixada na linha
de produção. Isso
fazia que o
Figura 3 - Modelo A
54 Teorias da administração
No âmbito da administração, a Teoria de Sistemas produzindo saídas” (ABRANTES, 2012, p.141).
teve início em 1956. A empresa passou a ser con- Daniel Katz e Robert Louis Kahn são os prin-
siderada dentro de um contexto ambiental, tanto cipais nomes da Teoria dos Sistemas aplicada à
interno quanto externo e, segundo essa teoria, administração. “Seu modelo teórico para a com-
tanto o ambiente interno quanto externo podem preensão de organizações é um sistema de impor-
ser fechados ou abertos. Segundo essa abordagem, tação e exportação de energia, no qual o retorno
a organização é como um organismo vivo e, sendo da energia exportada reativa o sistema” (ABRAN-
assim, considerá-la como um sistema fechado ou TES, 2012, p. 141).
adotar um comportamento de inércia a conduz As organizações, portanto, são sistemas aber-
para o desaparecimento e a morte. A teoria então tos, que recebem influência do ambiente e tam-
apregoa que a organização é um sistema aberto, bém o influenciam. Garcia (2016) descreve al-
que não pode ser concebida como um fim em si gumas características que são peculiares a essa
mesma, mas que interage com o ambiente externo, relação: 1) precisa lidar com grande quantidade
que faz parte de um ambiente dinâmico, constituí- de variáveis incontroláveis; 2) mudar uma parte
do de outros sistemas (ABRANTES, 2012). do sistema implica em mudar outras concomitan-
Um conceito importante dentro da teoria dos temente; 3) adaptabilidade e constância na dire-
sistemas é o de feedback ou retroalimentação. Tra- ção devem estar presentes; 4) deve considerar sua
ta-se, nesse contexto, da capacidade da empresa de permeabilidade, ou seja, o quanto ela é vulnerável
“utilizar os resultados de seu próprio desempenho aos fatores ambientais; 5) é passível de modifica-
como informação autorreguladora, ajustando a si ções necessárias e é resiliente. Poderíamos ainda
mesmo como parte do processo em andamento.” elencar diversas outras, mas a ideia fundamental
Essa capacidade é extremamente necessária, uma é esta: considerar que a empresa está inserida em
vez que “um sistema mantém-se em funciona- um ambiente e precisa se relacionar com ele da
mento enquanto é capaz de processar entradas, melhor forma possível.
Objetivos
Recursos
• Financeiro;
Entradas
• Humanos;
Saídas
Processos de • Produtos;
• Informacionais; Transformação • Serviços.
• Materiais;
• Tecnológicos
Retroalimentação
AMBIENTE
UNIDADE II 55
Primeiramente, é claro, vamos considerar o am- nologia pode ser fator vital para uma empresa,
biente interno. Ele é composto pela estrutura dependendo de seu ramo e de como suas con-
interna da organização. Isso inclui os funcionários, correntes estão trabalhando.
os departamentos, os setores, a estrutura física, o Fatores políticos legais também fazem parte
maquinário, a tecnologia utilizada, enfim, tudo o desse macroambiente. De fato, “a atividade em-
que constitui a própria organização. Aqui dentro, presarial é fortemente influenciada por leis, dire-
os desafios são muitos. Entrariam diversas ques- trizes, padrões e decisões das diferentes instâncias
tões, tais como: modo de organizar o trabalho, governamentais que servem para regular os mer-
modelo de gestão, estilo de liderança, clima or- cados nacional e internacional” (GARCIA, 2016,
ganizacional, mão de obra especializada, comuni- p. 109-110).
cação interna, organização financeira e orçamen- Algumas instituições vinculadas aos governos,
tária, missão e visão da empresa… enfim, uma por exemplo, têm o papel de normatizar e fiscali-
verdadeira infinidade de questões que influen- zar as operações das empresas. Alguns exemplos:
ciam o ambiente interno e que devem sempre Instituto Nacional de Metrologia, Qualidade e
ser consideradas. A grande questão da teoria de Tecnologia (Inmetro), Agência Nacional de Vi-
sistemas, no entanto, é que a organização não pode gilância Sanitária (Anvisa), Agência Nacional de
somente considerar seu ambiente interno, dado Telecomunicações (Anatel), Agência Nacional
que tudo ali é influenciado também pelo ambiente de Aviação Civil (Anac), Banco Central do Bra-
externo. Sendo assim, deve-se considerar também sil (Bacen), Conselho Administrativo de Defesa
o macroambiente — ou seja, aquele mais amplo Econômica (CADE) e diversas outras (GARCIA,
mas que infuencia também a organização — e o 2016).
ambiente de tarefa ou operacional, que é aquele Fatores econômicos, demográficos, ecológicos,
composto por elementos mais próximos do dia a culturais e de tantas outras naturezas influenciam
dia da empresa. diariamente as organizações.
Vamos começar falando do macroambiente Podemos perceber que haverá uma maior
em que a organização está inserida. Fatores tecno- ou menor permeabilidade de acordo com o que
lógicos fazem parte desse macroambiente. Aderir aquele aspecto ambiental significa para a organi-
ou não a uma nova tecnologia disponível ou até zação. Vamos pensar um exemplo prático: devido
mesmo desenvolvê-la de acordo com as necessi- a um escândalo político, há uma alta repentina
dades da organização. Certamente são decisões no dólar. Uma empresa que depende de insu-
que implicarão custos e resultados. Um amigo mos importados terá graves problemas com essa
meu me disse outro dia que um quadro de avisos mudança de cenário, enquanto as empresas que
na empresa dele funciona melhor que e-mails. exportam comemorarão a nova conjuntura e em
Então, aquele mito que a tecnologia é sempre algo empresas cujas atividades pouco ou nada têm a
que vem para facilitar pode nem sempre estar ver com questões relacionadas ao câmbio, a vida
correto. Há casos em que o custo não vale a pena. continuará normalmente. Veja, é o mesmo acon-
Além disso, às vezes se paga por um pacote que tecimento afetando diferentes organizações de
se usa muito pouco. Você já teve um celular ou diferentes formas.
computador de última geração, mas só usava os Além do ambiente interno e do macroambien-
mesmos programas e recursos do seu aparelho te, há também o ambiente de tarefa, ou operacio-
antigo? Em outros casos, aderir a uma nova tec- nal. Trata-se dos elementos do ambiente externo
56 Teorias da administração
com os quais a organização interage em suas ações são os stakeholders. É necessário reconhecer todos
cotidianas. E aqui, é claro, não poderíamos deixar eles e analisá-los, a fim de identificar seus interesses
de falar deles: os stakeholders. e de que modo esses interesses podem afetar a
Palavra bonita, né? Pega bem você usá-la por organização. Identificar o impacto de cada um deles
aí. No entanto, quem são eles? São todos os agentes na organização e também aqueles considerados
de alguma forma relacionados à empresa (o termo críticos, que merecem atenção especial.
também vale para outros contextos, como na área Para essa análise, Sobral e Peci (2013, p. 127)
de desenvolvimento de software, por exemplo, são sugerem que sejam percorridas as seguintes etapas:
aqueles que usarão o sistema, mas o princípio é o • identificar os stakeholders da organização.
mesmo). São aqueles que influenciam a organiza- • determinar a importância e o impacto de
ção ou são influenciados por ela de alguma forma. cada stakeholder para a organização;
Então, você já pode imaginar quem e o que faz • identificar quais são os stakeholders críti-
parte desse nome bonito, não é? Clientes, concor- cos para a organização;
rentes, fornecedores, bancos, governo, sindicatos, • desenvolver uma abordagem diferenciada
acionistas, funcionários e por aí vai. para cada um dos stakeholders de acordo com
Contudo, não é suficiente somente saber quem sua relevância e características específicas.
Clientes
Associações
de comércio Concorrentes
e indústria
Grupos de
ação política Fornecedores
e social
Stakeholders
Mídia Bancos e
seguradoras
Órgãos do
Trabalhadores
governo
Acionistas Sindicatos
UNIDADE II 57
Tendo seguido todas essas etapas, a ação dependerá 2) Eventualidade; ação ou situação imprevista e
de cada caso, podendo tomar diferentes formas, que não se consegue controlar” (DICIONÁRIO,
como a proposta de parcerias e alianças com forne- [2017], on-line).
cedores, contato direto com clientes potenciais, ou Uma das principais características da teoria da
fiéis, ou problemáticos, novas propostas de planos contingência, portanto, é a ideia da necessidade
de carreira ou remuneração…. enfim, dependerá constante de adaptabilidade às mudanças am-
de qual stakeholder estamos falando e qual é o pon- bientais, identificando e analisando as principais
to a ser trabalhado com ele ou com relação a ele. contingências, que no âmbito organizacional pode
Pois é… não estamos isolados do mundo. Pelo significar “as características (internas e externas)
contrário, quando se fala em organizações, a inter- que podem influenciar a estrutura de uma orga-
dependência entre diversos elementos e agentes é nização” (SOBRAL; PECI, 2013, p. 81).
algo implícito. O grande erro é esquecer-se disso. Há diversas discussões que são abarcadas pela
É considerar as atividades de uma organização teoria contingencial, mas o que nos importa aqui
como um fim em si mesmas e esquecer de que é o destaque a essa maneira de se conceber as or-
tudo faz parte de um ambiente maior, repleto ganizações, que extrapola a adoção de um modo
de outros fatores que influenciam também a or- de gestão estável e passa para uma ideia de dina-
ganização. E não somente esta perspectiva, mas mismo, de modificação, de adaptabilidade.
também sua via inversa: a influência que a or- Parece tudo tão simples e óbvio, não é? Não, não
ganização exerce sobre o ambiente, em todos os é. Como você se sente quando tinha se programado
sentidos: desde o seu impacto ambiental, até sua para fazer algo importante e alguém o interrompe
importância para a comunidade local/nacional/ pedindo que você faça alguma outra tarefa? Geral-
internacional, a oferta de determinados bens e mente não gostamos disso, de sair da nossa rotina,
serviços, inovações… enfim, a natureza dessa in- da nossa agenda, da nossa programação, e, muito
fluência pode se manifestar de diferentes formas. menos, do nosso modo de pensar, do nosso modelo
Tendo compreendido de que se trata a teoria mental. Agora vamos passar esse mesmo raciocí-
de sistemas, daremos mais um passo adentrando nio para o nível organizacional: rever processos,
às teorias da administração. Falaremos agora da repensar produtos, buscar inovações, adaptar-se a
teoria contingencial. Ela está intimamente ligada novas leis… talvez implique até mesmo a rever os
à teoria de sistemas (LACOMBE, 2009). próprios valores, a própria visão do negócio.
Segundo a teoria da contingência, não há uma Lembra lá na primeira unidade que falamos
forma ideal de se administrar uma organização, sobre as mudanças que acontecem e que são fun-
uma vez que tudo depende do ambiente em que damentais para um negócio e para quem produzia
ela está inserida, do momento econômico, das tec- máquinas de escrever ou fitas K7, por exemplo?
nologias disponíveis… (RIBEIRO, 2010). Sendo Pois é… ao ignorar as contingências, uma orga-
assim, a melhor forma de se administrar depen- nização pode simplesmente ir à falência!
derá de cada caso. Tendo compreendido a teoria de sistemas e a
A definição do dicionário para contingência contingencial, vamos passar no próximo tópico
é: “1) possibilidade de que algo se realize ou não; para a administração por objetivos.
58 Teorias da administração
Administração
por Objetivos
Caro(a) aluno(a)!
Vamos a mais uma viagem pelas teorias da ad-
ministração. Agora vamos falar da Administração
por Objetivos (APO).
Acredito que essa teoria possa ter a ver com
muitos aspectos da nossa vida pessoal. Você já fez
alguma vez uma listinha no dia primeiro de janei-
ro de algum ano com suas metas de ano novo?
Confesse, pelo menos uma vez você fez… Uma
vez (confissão minha agora) resolvi fazer isso na
minha agenda nova (ainda de papel naquele tem-
po) e comecei a escrever minhas metas, é claro,
no dia primeiro de janeiro da agenda. Quando
terminei, eu tinha ocupado todas as linhas (de
uma agenda grande!) até o dia 13 de janeiro da
agenda! Isto é, 13 páginas de metas para aquele
ano. Tinha desde “reclamar menos” a “me empe-
nhar para aprender a cozinhar melhor”, passando
por “economizar uma quantia X por mês” até “te-
lefonar mais para o meu irmão”.
Pois é, foram 13 páginas repletas de boas in-
tenções, mas…. faltou pensar nos planos de ação
para cada uma delas. Ao final do ano, algumas
foram alcançadas e outras eu nem me lembrava
de um dia ter escrito! Podemos tirar daí alguns
UNIDADE II 59
elementos que já já veremos neste tópico: a ne- Perceba que, segundo essa perspectiva, o estabe-
cessidade de planejamento, de elaborar planos lecimento de objetivos não cabe somente à alta
de ação, de rever esses planos ao longo do perío- administração, mas se trata de um processo rea-
do, readaptá-los caso seja necessário e, por fim, lizado em conjunto com os demais membros dos
avaliá-los. grupos dentro da organização. Isso é fundamental
Pensando a Administração por Objetivos (APO), quando se fala em objetivos. Mais uma vez, ten-
a coisa gira um pouco em torno dessa mesma ideia. tando nos colocar “na pele do sujeito”: é muito
O enfoque está nos resultados, nos objetivos a serem mais fácil nos empenharmos no alcance de um
alcançados e, é claro, nos meios para isso: objetivo quando participamos de sua concepção
“
“
do que quando ele nos é simplesmente imposto,
A APO é um sistema de gerência em que não é mesmo? E essa comunicação auxilia tam-
chefias e subordinados estabelecem objeti- bém na própria análise da viabilidade da meta,
vos e metas para suas respectivas áreas de dado que na maioria das vezes os subordinados
responsabilidade, formulam planos para são aqueles que realmente conhecem os proces-
atingir às metas especificadas, definem pa- sos, as maneiras e as condições para se realizar
drões para medir o desempenho e fazem o um trabalho.
acompanhamento periódico do progresso A interligação entre os departamentos é fun-
obtido (RIBEIRO, 2010, p. 130). damental na APO. Imagine que os departamentos
não convirjam para o mesmo objetivo. Certamen-
Dentro desse contexto, você pode imaginar que te haverá graves problemas de integração, para
alguns elementos têm papel imprescindível, tais dizer o mínimo. Os planos operacionais são, por
como o planejamento, a coordenação dos proces- sua vez, as etapas para se chegar ao objetivo. Ne-
sos e atividades, a integração entre eles, a avaliação les devem estar contidos os recursos necessários
da eficácia, administração de recursos humanos, (de todas as naturezas: humanos, tecnológicos,
desenvolvimento de gerentes, entre diversos ou- materiais, financeiros, de conhecimento…), o
tros (RIBEIRO, 2010). cronograma que estipula o período em que as
Algumas das características principais da atividades devem ser desenvolvidas e por quem e
APO são: assim por diante. O controle é fundamental para
• Estabelecimento conjunto de objetivos en- que os planos sigam para onde devem seguir: para
tre o gerente e seus subordinados. o objetivo traçado.
• Estabelecimento de objetivos para cada Nesse processo ainda dos planos, há a necessi-
departamento ou setor. dade de que eles sempre sejam reavaliados. Lem-
• Interligação dos objetivos departamentais. bra da teoria da contingência? Pois é, alguns de
• Elaboração dos planos operacionais, com seus princípios se aplicam aqui também: olhos
ênfase no controle. atentos ao ambiente! Planos talvez tenham que
• Contínua avaliação, revisão e reciclagem ser reformulados de acordo com conjunturas di-
dos planos. ferentes que possam surgir ao longo do caminho.
• Participação atuante da chefia na estimu- A tudo isso soma-se a avaliação de desempenho.
lação de envolvimento dos subordinados De nada adiantam essas ações anteriores se não se
(SILVA, 2013, p. 405) tem uma ideia clara do que foi ou não foi alcançado.
60 Teorias da administração
Na Figura 6, estão representados os processos da APO, que refletem isso que discutimos até aqui.
Estabelecimento Desenvolvimento
de metas e do plano de ação, Revisão dos Avaliação de
objetivos de maneira objetivos/planos desempenho
organizacionais colaborativa
Reuniões
Recursos
Feedback
Figura 6 - Os processos da APO
Fonte: Silva (2013, p. 406).
Ribeiro (2010) acrescenta alguns aspectos mas coisas práticas que ele me ensinou a respeito
igualmente importantes a serem considerados desse (mau) hábito; me ajudou a ter consciência
na APO, por exemplo, a exposição do assunto das vezes que reclamo e me policiar para não fa-
à direção superior da empresa para obter o seu zê-lo (quer o nome do livro? Vou indicar lá no
total apoio. Esse é um aspecto fundamental que material complementar). Sobre ligar para o meu
não pode ser negligenciado. Sem esse apoio, os irmão com mais frequência: estabelecer um dia
objetivos não se concretizam. Acrescenta ainda na semana ou a cada quinze dias e ligar para ele,
a necessidade de se subdividir o objetivo maior e pronto! Perceba que a ideia é fragmentar para
em metas para os setores, paras os grupos e até ações diárias ou semanais ou mensais aquela meta
mesmo para cada indivíduo. que pode parecer difícil.
Se voltamos ao nosso exemplo lá do começo, Veja que na APO o raciocínio é o mesmo: di-
das metas de início de ano, essa divisão também vidir por departamentos, por grupos e até mesmo
faz sentido lá. A meta era “me empenhar para por pessoas! Como cobrar o resultado de um de-
aprender a cozinhar melhor”. Como eu poderia partamento se dentro dele não ficou estipulado
subdividir essa meta de modo a, de fato, fazer coi- quem faz o que? Já ouviu o ditado que diz “cachor-
sas diárias ou semanais que me fizessem dar um ro que tem dois donos morre de fome”? Pois é, um
passo a mais em direção a ela? Talvez comprar pensa que o outro deu comida e ninguém deu. Um
(e ler!!!) livros de receitas (ops, e fazer as recei- pensa no departamento que o outro está fazendo
tas também, é claro), ou assistir semanalmente e ninguém faz! Por isso até as metas individuais
um programa de culinária e replicar a receita… têm que ser estabelecidas claramente.
sobre a meta de “reclamar menos”: essa é difícil Para muitos tipos de organização, esse pode ser
para reclamões crônicos como eu (olha eu aqui um modelo bastante interessante. Um escritório
reclamando já), mas uma coisa que fiz foi comprar de engenharia ou arquitetura, por exemplo. Cada
um livro sobre isso, ler o livro e aprender algu- projeto pode ser encarado como um objetivo e,
UNIDADE II 61
para além disso, também as próprias estratégias
para crescimento da empresa ou para que seus
serviços sejam mais conhecidos, por exemplo,
podem entrar nesse sistema de APO. Visitas a
fornecedores, contatos com mestres de obras,
parcerias com construtoras, divulgação periódica
dos trabalhos em revista especializada… enfim,
vários são os planos de ação de acordo com os
objetivos que se tem. O importante é ter claro o
fim (objetivo), o meio (os planos), a necessidade
de constante revisão desses meios e a avaliação
final, para ver se todo o esforço, de fato, concorreu
para o alcance do objetivo.
Com esse tópico encerramos nossa unidade.
Essa visão geral do pensamento administrativo
nos ajuda a compreender os diversos tipos de or-
ganização, as formas de conceber sua estrutura,
sua relação com o ambiente (os diversos tipos
de ambiente) e as maneiras de se considerar suas
atividades meio e fim.
Trouxemos aqui algumas das escolas da ad-
ministração ou teorias da administração. Não há
somente essas, mas os princípios dessas também
estão presentes nas outras, como a estruturalista,
a normativista (que se baseia principalmente em
Fayol), a do desenvolvimento organizacional e
outras sobre as quais ainda falaremos no nosso
livro, como a de relações humanas e comporta-
mental, que por terem um tema tão central para
as organizações — as pessoas — dedicaremos a
próxima unidade especialmente a elas.
62 Teorias da administração
Você pode utilizar seu diário de bordo para a resolução.
1. O modelo burocrático está presente em praticamente todas as organizações.
Foi descrito primeiramente por Max Weber e depois desenvolvido também por
outros autores. A respeito do modelo burocrático – ou burocracia – assinale a
alternativa correta.
a) A burocracia está presente em praticamente todas as organizações, por ser
constituída por grande número de documentos e formulários e ter como ca-
racterística principal a morosidade nos processos.
b) O modelo burocrático tem suas dimensões rígidas e definidas, sendo cada uma
delas constante em todas as organizações.
c) As dimensões do modelo burocrático são: hierarquia de autoridade, divisão
do trabalho, sistema de pagamentos de taxas, sistema de arquivamento de
documentos e formulários, impessoalidade e competência técnica.
d) Cada uma das dimensões burocráticas pode ser analisada separadamente e
com a ideia de gradação, ou seja, cada uma delas pode aparecer nas organi-
zações em maior ou menor grau.
e) O modelo burocrático é considerado o tipo ideal de modelo de gestão, não
apresentando nenhum tipo de problema ou efeitos secundários que possam
ser considerados negativos.
63
IV) Para Taylor, as atribuições de planejamento e de execução caberiam a todos
os trabalhadores da empresa que, em constantes reuniões, deveriam decidir
juntos sobre os rumos da empresa e de como trabalhar para chegar aos
objetivos coletivamente descritos.
64
LIVRO
FILME
Tempos modernos
Ano: 1936
Sinopse: um trabalhador de uma fábrica sofre um colapso nervoso por trabalhar
de forma quase escrava. Ao se recuperar, encontra a fábrica fechada e, confun-
dido com o líder de uma greve, acaba preso. Saindo da prisão, encontra uma
jovem em apuros e a ajuda, e é obrigado a enfrentar a Depressão Americana.
Os dois se unem atrás de emprego e vivem uma série de aventuras.
Comentário: as cenas da fábrica, do trabalho do personagem de Chaplin na
esteira, revelam uma crítica ao sistema de produção em massa difundido pelo
Fordismo e a alienação do trabalhador do seu próprio trabalho.
WEB
65
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REFERÊNCIA ON-LINE
67
1. D.
2. A.
3. E.
68
69
70
Dra. Cláudia Herrero Martins Menegassi
O Fator Humano
nas Organizações
PLANO DE ESTUDOS
A abordagem comportamental
OBJETIVOS DE APRENDIZAGEM
• Discutir sobre os diversos elementos presentes na Escola • Discutir sobre a importância e o papel do foco, da atenção
das Relações Humanas e decorrentes dela, com ênfa- e da autoconsciência para a vida pessoal e para a vida no
se em temas como liderança, feedback, competências e trabalho.
coaching.
• Apresentar a Escola do Comportamento Humano dentro
da teoria das organizações e suas implicações, com ênfase
à motivação, teorias X, Y e Z.
Escola das
Relações Humanas
Prezado(a) aluno(a)!
Bem-vindo(a) a mais essa unidade!
Na unidade anterior, vimos algumas das teo-
rias das organizações. Não falamos sobre aquelas
que diziam respeito principalmente às pessoas
nas organizações, justamente porque o assunto
merece pelo menos uma unidade inteira. Aliás,
você terá uma, ou melhor, duas disciplinas in-
teiras do seu curso falando sobre pessoas, mas
não podemos deixar de falar sobre esse assunto
também dentro do campo organizacional, então
aqui estamos nós.
Nesta unidade, então, traremos um pouco
de duas escolas específicas da administração:
a escola de recursos humanos e a escola do
comportamento humano. Focaremos um pouco
naquilo que a escola fala em si sobre o tema, mas
não nos limitaremos a isso. Traremos também
esses temas para a atualidade, devido sua grande
importância para a vida dentro das organizações.
Começamos, então, pela escola das relações
humanas.
Já conhecemos bem Taylor e Fayol, cujos pen- Essa experiência, especificamente, foi realizada
samentos vimos nas unidades anteriores e são em uma fábrica de equipamentos telefônicos loca-
os principais nomes da teoria da administração lizada nessa cidade, perto de Chicago, nos Estados
científica e da escola clássica e normativista. A Unidos. Foram experiências relacionadas a mu-
visão deles a respeito da organização foi de grande danças na iluminação e introdução de intervalos
contribuição, tanto para a teoria das organizações de descanso, aumento desses intervalos, horário
quanto para o dia a dia das empresas — princi- de término da jornada de trabalho antecipado,
palmente indústrias — da época, e podemos, in- mudanças no tipo de supervisão, entre outras
clusive, observar até os dias atuais grande parte (RIBEIRO, 2010).
dessa forma de pensar se concretizando no mun- As conclusões dessas experiências foram: i)
do organizacional. o fator psicológico prevaleceu ao fisiológico, o
A questão, porém, é que críticas surgiram a que fez com que percebessem que as condições
essas escolas, dado que a visão delas era um tanto psicológicas dos trabalhadores — que jamais
quanto mecânica — tanto que também se fala em haviam sido consideradas — eram questões bas-
escola mecanicista para se referir aos pensamen- tante relevantes nas organizações e que deveriam
tos de Taylor. Bem, o filme de Charles Chaplin que ser ponderadas; ii) um ambiente amistoso, com
recomendei na unidade anterior mostra um pou- supervisão branda e espaço para convivência
co essa questão: produtividade e mecanismos para melhorou a produtividade; iii) o nível de pro-
alcançá-la — como a esteira, divisão do trabalho dução depende da integração social das pessoas;
etc. — e o trabalhador alienado de seu próprio iv) é importante considerar fatores sociais, ex-
trabalho, visto talvez também como uma parte pectativas individuais e a organização informal
de uma engrenagem maior que está a serviço de dos trabalhadores (RIBEIRO, 2010).
uma produção sempre mais eficaz. Desse modo, um dos principais temas trata-
Desse modo, não tardou a aparecer gente ques- dos por essa escola passou a ser a liderança, tema
tionando esses e outros aspectos voltados ao tra- este nunca antes abordado pelas escolas que a
balhador e assim surgiu a Escola das Relações Hu- precederam.
manas, cujo intuito era humanizar os princípios
e a maneira de se administrar as organizações.
O intuito dos autores dessa escola era destacar
os pontos positivos das escolas anteriores, mas
também corrigir seus excessos no tocante ao tra- Liderança é a característica que se espera do
balhador, principalmente (RIBEIRO, 2010). gerente, chefe ou supervisor, e que deve ser de-
Quando se fala em Escola das Relações Huma- monstrada na condução do processo produtivo,
nas, o que vem logo em mente é a famosa expe- por meio do envolvimento e do aproveitamento
riência de Hawthorne. De fato, essa escola, assim pleno da criatividade do grupo a ele subordinado,
como diversas outras, não se baseou apenas em de modo a alcançar a satisfação de todos.
teorias, mas, ao contrário, foi fruto de observações Fonte: Ribeiro (2010, p. 68).
do que de fato acontecia nas empresas na época.
UNIDADE III 73
Bem, quando se fala em liderança, o assunto Achei fantástica essa observação. É muito in-
é longo e temos abordagens de todos os tipos. teressante observar uma determinada questão
Desde aquelas mais romantizadas, como a que sob uma ótica diferente da que tínhamos tido
encontramos no livro O monge e o executivo, de até então, inclusive para refletir sobre ela e dis-
James C. Hunter (2004), em que ele expõe a tese cordar até. Será mesmo que “sempre que se es-
do líder servidor, até aquelas mais científicas, mas tabelece um agrupamento humano, formal ou
que acabam indo em direção à inevitável análise informal, em qualquer área de atividade, alguém
desta figura emblemática: o ser humano. estará liderando o processo em cada momento”
(CORTELLA; MUSSAK, 2013, p. 9)? Talvez. Essa
ideia parece meio chocante, não é? No entanto,
os autores complementam que a liderança pode
Tenha sua dose extra de ser, inclusive, compartilhada. Nesse caso, talvez a
conhecimento assistindo ao ideia possa mesmo se estender para diversos tipos
vídeo. Para acessar, use seu
leitor de QR Code.
de agrupamentos humanos, até mesmo a família.
E sobre a boa e velha questão se liderança é
algo inato ou não? O que esses autores diriam?
Cortella e Mussak (2013) têm um livro bastante Cortella, a partir de uma visão filosófica, consi-
interessante sobre liderança, em forma de bate dera a liderança uma virtude e, segundo ele, o ser
papo, muito agradável de se ler, em que a certo humano já nasce com ela, mas precisa desenvolver
ponto se questionam sobre a área a qual perten- e praticar seu potencial de liderança ao longo da
ceria o estudo da liderança. Segundo os autores, vida. Por outro lado, Mussak — cuja formação é
a várias áreas, como a antropologia, sociologia, medicina — fundamenta-se em parte na biologia
psicologia e humanismo em geral. Isso porque e, sendo assim, considera a liderança como uma
liderança não é cargo, mas uma atitude, uma con- espécie de força interior que todos, sem exceção,
dição, uma função a ser exercida, um comporta- possuem, mas que em alguns essa força é maior
mento humano. do que em outros e que precisa ser desenvolvida
Você sabe que o Mário Sérgio Cortella é um filó- (CORTELLA; MUSSAK, 2013).
sofo, não é? Ele, inclusive, tem textos ótimos, livros Cortella acrescenta a essa ideia o pensamento
ótimos, vídeos no youtube ótimos. Recomendo de Aristóteles, que definia ato e potência:
“
“
todos eles. Então, a sua abordagem sobre liderança
tem alguns aspectos que não são tão convencionais Pois eu penso a virtude como potência, isto
como os que geralmente ouvimos por aí. Por é, como possibilidade, como força intrínse-
exemplo, ele destaca a condição circunstancial ca. Nessa perspectiva, a pessoa nasce com a
da liderança. Segundo ele, a liderança “é algo que possibilidade e precisa realizá-la. Emprego
acontece em ocasiões específicas, em determinadas o verbo realizar com o sentido do latim e
situações, mas nenhum de nós lidera o tempo todo do inglês, isto é, a pessoa precisa tornar real
e em todas as situações, dada a impossibilidade de a sua possibilidade e dar-se conta, ter cons-
que assim seja” e, por isso, é descabida a ideia de ciência dela (a ideia do to realize). De nada
“vácuo de liderança”, ou seja, momentos em que adianta ter uma virtude que não se pratica,
ninguém esteja liderando o processo, exceto por pois ela permanecerá apenas como potencial.
intervalos muito pequenos. O próprio Aristóteles dizia que a árvore está
UNIDADE III 75
É interessante como vários conceitos iguais Primeiramente, sobre feedback. Essa prática é
na administração estão presentes em áreas dife- uma das queridinhas da área de recursos huma-
rentes, mas querem dizer exatamente a mesma nos. Você irá encontrar autores que são enfáticos
coisa. Jucá (2013), dentro do tema liderança, fala em dizer que a importância do feedback é tama-
sobre a importância de se saber contar histórias, nha que sem ele as pessoas ficariam desorientadas
por considerá-las uma forma envolvente das pes- dentro de uma organização, sem saber ao certo se
soas aprenderem conceitos, ideias ou quaisquer o que estão fazendo está bom ou não. Essa linha
outras coisas. Cita inclusive a definição de An- de pensamento corresponde à maioria dos autores
nette Simmons, segundo a qual história é “uma da área. Aí quando lemos Dale Carnegie (2012),
experiência narrada com detalhes e sentimentos ele é categórico em dizer que “críticas construti-
suficientes para fazer que o ouvinte a vivencie vas” não existem e não devem ser feitas. Para ele,
como real” (apud JUCÁ, 2013, p. 33). No entanto, crítica é crítica, mesmo quando feita na melhor
a narrativa de histórias ou o chamado storytelling das intenções e as pessoas não gostam de receber
não é somente um tema abordado pelo campo da críticas, seja qual for a circunstância. Na época em
liderança. Na área de Gestão do Conhecimento que ele escreveu esse livro — primeira edição em
(GC), ela é considerada uma prática de GC e é 1936 — ainda não existia a onda organizacional
muito recomendada dentro das organizações. É do feedback, então ele usou “crítica construtiva”
interessante perceber que estamos falando das para dizer a mesma coisa. Valeria a pena ler esse
mesmas coisas, dando a elas a mesma importância trecho de seu livro.
mesmo em campos distintos da gestão. É claro que a literatura sobre feedback já avan-
Voltando ainda às dimensões propostas por çou bastante nas últimas décadas. Inicialmente,
Jucá (2013), o autor destaca a importância da por exemplo, quando se usava esse termo, pensa-
cooperação, da reciprocidade, da confiança e da va-se imediatamente na expressão de um ponto
credibilidade — o que implica, nesse último caso, negativo a ser melhorado. De uns anos para cá,
“apresentar resultados consistentes; sinceridade, fala-se também em feedback positivo. Goleman
abertura e franqueza; ser diariamente o exemplo (2014) afirma que altos níveis de desempenho
de alguém que faz o que prega e cumpre o que podem ser alcançados por qualquer pessoa que
promete. Esses são os segredos da credibilidade e pratique de forma inteligente. Para ele, “uma prá-
os alicerces para a confiança” (JUCÁ, 2013, p. 44). tica inteligente sempre inclui um esquema de fee-
Outra questão ainda abordada pelo autor é que o lí- dback, que permite reconhecer erros e corrigi-los
der procure promover equipes de alta performance. [...]. Idealmente, esse feedback vem de alguém
Sobre desenvolver talentos, o autor traz algu- com um olhar de especialista” (GOLEMAN, 2014,
mas questões relacionadas ao incentivo ao sucesso p. 159-160).
— cuja definição é, segundo ele, “amar o que se faz, Enfim, você certamente verá isso em outra dis-
vivendo em ciclos de desenvolvimento continuado ciplina de modo mais aprofundado; o que quero
com outras pessoas” (JUCÁ, 2013, p. 61). Aconselha aqui, somente, é despertar você para uma leitura
também a prática cotidiana do feedback, do reco- crítica do que virá, lembrando que você não pre-
nhecimento por meio do elogio e da atuação do líder cisa “beber” tudo aquilo que a área de recursos
como um coaching. Também coaching é uma das humanos diz como verdade absoluta e que nem
práticas de Gestão do Conhecimento, que mencio- mesmo os autores são unânimes acerca da valida-
namos há pouco. Aqui teríamos muito o que refletir. de de diversos assuntos — feedback é um exemplo.
International Coaching Coaching é uma parceria continuada que estimula e apoia o cliente a pro-
Federation (ICF) duzir resultados gratificantes em sua vida pessoal e profissional. Por meio
do processo de coaching, o cliente expande e aprofunda a sua capacidade
de aprender, aperfeiçoa seu desempenho e eleva sua qualidade de vida.
Gallwey (1996) Coaching é liberar o potencial de uma pessoa para que ela maximize a
própria performance. É mais ajudá-la a aprender do que ensiná-la.
UNIDADE III 77
Em suma, trata-se de uma técnica em que uma outros chega a ser agressivo à sua personalida-
pessoa preparada e treinada para isso faz pergun- de. Enfim, será sempre difícil (ou impossível)
tas de modo a conduzir outra pessoa à reflexão. existir grupos homogêneos cujos integrantes
Não oferece respostas, mas ajuda a própria pessoa encontrem sentido nas mesmas coisas ou se
a encontrá-las. Vou expressar aqui minha visão sintam confortáveis com elas.
pessoal sobre esse assunto e, mais uma vez, que Outra questão ainda a se refletir sobre coa-
sirva somente para estímulo à sua reflexão acerca ching é que há cursos — muitas vezes bastante
dos conceitos com os quais você ainda terá con- caros — que vendem a ideia de que todos os par-
tato. Bem, quando feito individualmente, acredito ticipantes também podem vir a se tornarem coach.
que seja algo bastante valioso. Talvez nem tanto Essa parte realmente me preocupa, uma vez que
pela técnica em si, mas por oportunizar algo raro se trata — ou deveria se tratar — de um trabalho a
nos dias de hoje: parar para pensar sobre a própria ser desempenhado por quem tem formação para
vida, os próprios sonhos, os próprios objetivos em ele, formação essa que passa por estudos apro-
vários aspectos da vida. Você para para pensar fundados do ser humano, o que deveria abarcar
nisso uma hora por semana, sem nenhum tipo minimamente a sociologia, antropologia e psi-
de interrupção, nem mesmo mental? Certamente cologia. Como já disse antes, porém, trata-se de
não… a presença do coach ali, inclusive, serve para uma provocação que faço a você, incitando sua
inibir qualquer tipo de interrupção acerca dessa capacidade de reflexão crítica sobre as coisas que
reflexão, mesmo aquelas oriundas dos próprios normalmente são vendidas por aí como a pana-
pensamentos (comuns quando estamos sozinhos). ceia para todos os males.
Ter esse tempo para refletir acerca SOMENTE Voltando a Jucá (2013), o autor ainda fala sobre
das nossas coisas e, ainda, alguém preparado para o papel do líder no treinamento e na seleção de
se dedicar a essa reflexão conosco, de modo total- pessoas e também sobre seu papel de delegar. So-
mente presente e voltado a isso — o que difere de bre o primeiro tema, destaca como novo conceito
um papo com um bom amigo, em que provavel- contemporâneo para “talento” o termo “competên-
mente a pessoa daria alguns conselhos ou contaria cia”. Competência pode ser definida como “con-
também coisas de sua vida — já é algo que por si juntos de conhecimentos, habilidades e atitudes
só vale a experiência do coaching. interdependentes e necessárias à consecução de
No entanto, temos uma prática bastante co- determinado propósito” (DURAND, 1998, p. 3).
mum nos ambientes organizacionais — talvez Das diversas definições que existem para o ter-
por questões de custo — que é o coaching em mo competências, foi criado o famoso modelo
grupos. Então… nesse caso eu diria que são “ou- CHA (Conhecimentos, Habilidades e Atitudes),
tros quinhentos” (será nacional essa expressão? pois parece que esses três componentes sejam ade-
Quer dizer “é outra história”, “outra coisa”...). As quados para expressar o conceito. Além disso, são
dinâmicas que são usadas nesses casos costu- interdependentes: de fato, sem conhecimento, as
mam não agradar a todos, pois há pessoas que habilidades poderão ser duvidosas e as atitudes,
não gostam de se expôr e se sentem desconfor- equivocadas. Sem habilidades, o conhecimento
táveis com isso. Há técnicas também de “gri- pode ficar apenas no âmbito tácito e não se trans-
tos de guerra”, dentre outros que também nem formar em atitudes eficazes. As atitudes, por fim,
sempre são o estilo de todos. Enquanto para são aquilo que você de fato faz com seus conhe-
alguns aquilo funciona como uma catarse, para cimentos e habilidades.
UNIDADE III 79
A Abordagem
Comportamental
Caro(a) aluno(a).
Falaremos agora sobre a Escola do Compor-
tamento Humano dentro da teoria das organi-
zações, extrapolando os temas também para os
dias atuais.
A Escola do Comportamento Humano é, de
certo modo, uma continuação ou um desenvol-
vimento da Escola de Relações Humanas. Alguns
autores têm dificuldade em distinguir uma da
outra e em algumas literaturas as duas são tratadas
conjuntamente como behavioristas, mas Ribeiro
(2010, p. 79) tenta distingui-las da seguinte forma:
“
“
enquanto a das Relações Humanas entende
que o indivíduo é dotado de sentimentos e
percepções, a do Comportamento Humano,
além de reconhecer esses aspectos, situa o
indivíduo como agente de seu próprio pro-
gresso na medida em que o entende como
participativo e não como mero espectador
da realidade que o cerca.
UNIDADE III 81
E agora que já conseguiu tudo isso ainda ficou um. Poderíamos colocar aqui também os hobbies,
um vazio por dentro? É a necessidade de autor- ou seja, aquilo a que a pessoa pode se dedicar sim-
realização. Essa é complexa. Quando falávamos plesmente por prazer, porque gosta.
das básicas, como dormir e se alimentar, ou a ne- Maslow esboçou essa ideia em forma de uma
cessidade de segurança, essas eram necessidades pirâmide de necessidades.
mais comuns a todos. Quando se fala em autorrea- Em que ponto desta escala será que você está?
lização, estamos falando aqui de cada indivíduo Ou em que degrau dessa pirâmide?
singular neste planeta. O que realiza uma pessoa, É claro que, mais uma vez, estamos falando
não realiza outra. Para alguns, a autorrealização de pessoas e não existe padrão único e universal
pode vir quando a pessoa consegue contribuir para todos. Essa teoria é uma representação do
para algo de bom no mundo, por meio de algu- que seria comum a grande parte das pessoas.
ma instituição que cria, ou trabalho voluntário… Gareth Morgan (1996), em seu excelente
para outros, ela significa o constante desafio em livro Imagens da organização, faz uma adap-
se fazer algo cada vez melhor — em algum espor- tação dessas necessidades ao âmbito organi-
te, no trabalho… para outras pessoas pode ser zacional e sugere algumas medidas a serem
desfrutar um tempo de qualidade com a família usadas pelas organizações para proporcionar
ou proporcionar aos filhos condições de acesso à a motivação para os diversos degraus da pirâ-
educação ou cultura. Enfim, aqui cada um é cada mide de Maslow.
Necessidade
de associação
Necessidades
de segurança
Necessidades
básicas
“
“
teoria de Maslow.
Frederick Herzberg, porém, desenvolveu a teo- a atitude do indivíduo depende da expecta-
ria dos fatores internos e externos, aplicável prin- tiva que ele tem de ver seu esforço pessoal
cipalmente à questão da motivação no trabalho. retribuído; a maior ou menor participação
Os fatores internos ou motivacionais são intrín- está intimamente ligada à possibilidade
secos à pessoa e são aqueles diretamente ligados de promoção ou premiação, sem o que o
ao trabalho e à função exercida, o que caracteri- seu desempenho será sofrível (RIBEIRO,
za uma posição de controle direto sobre eles. Os 2010, p. 90).
UNIDADE III 83
Trata-se de uma teoria que indica uma forma de vação, ou seja, da pessoa por si só se motivar. Cer-
pensamento que pode ser nociva ou até mesmo tamente é uma postura mental bastante favorável,
cruel para a pessoa que a adota e certamente não pois blinda de certo modo a pessoa de ataques
se aplica a todos os âmbitos da vida. Quem precisa externos à sua motivação. Quem sabe um dia to-
desempenhar tarefas domésticas, por exemplo, dos poderemos chegar a esse nível de maturidade
sabe bem que existe muito trabalho a ser feito e ou equilíbrio mental. Até lá, é melhor cultivarmos
pouco reconhecimento. Talvez até como mães e um ambiente saudável e amistoso onde as pes-
pais essa retribuição nem sempre acontece, e o soas colaborem para a motivação umas das outras,
trabalho tem que ser feito da mesma forma. Aqui principalmente na família, com os amigos e no
caberia bem aquela ideia de automotivação. Po- trabalho ou na faculdade, ou seja, nos ambientes
deria diminuir sofrimentos e frustrações no curto que mais fazem parte de nossas vidas.
prazo. Ainda sobre motivação, de tempos em tempos
Uma das grandes polêmicas dentro do campo seria bom analisarmos nossa própria pirâmide e
da motivação: é possível que alguém motive ou- identificar nossas necessidades com base, sobre-
tra pessoa ou a motivação só pode ser algo que tudo, nos nossos valores de vida. Assim, talvez
vem do próprio indivíduo? Há linhas teóricas que a pirâmide de cada um de nós seria algo mais
afirmam que sim, outras não e um terceiro grupo sofisticado que o modelo geral; teria traços da
é dos moderados. Talvez eu me enquadre nesse nossa própria personalidade e dos nossos anseios
último. A questão é que ninguém tem o poder mais profundos. Para ajudar nessa reflexão, Dalai
absoluto e supremo de motivar outra pessoa. O Lama sugere alguns questionamentos para avaliar
que se pode fazer é fornecer condições favoráveis nossa motivação: “i) é apenas para mim, ou para
para isso, mas a contrapartida precisa vir do in- outros?; ii) é para o benefício de poucos, ou de
divíduo que irá ou não se motivar, conforme for muitos?; iii) é para agora, ou para o futuro?” (GO-
sua reação a isso. Então eu diria que há — ou pode LEMAN, 2014, p. 248). Além desses, muitos outros
haver — uma influência sim, mas não absoluta, questionamentos poderiam ajudar nessa reflexão,
sobre a motivação de outrem. Quando me deparo a fim de compreendermos as nossas reais neces-
com um impasse, tento pensar no seu extremo, sidades, considerando também a vida e o mundo
isso ajuda. Vamos pensar então pelo outro lado: de forma mais ampla. Afinal de contas, vivemos
um líder, chefe, gerente, coordenador, professor… em sociedade e construímos hoje o mundo em
pode desmotivar uma pessoa? Sim, certamente que nossos descendentes viverão.
pode. Atitudes abusivas, injustas, ambiente insa- Além de questões relacionadas à motivação,
lubre ou monótono podem dificultar e muito a a Escola do Comportamento Humano também
manutenção da motivação de alguém e talvez a tentou compreender a conduta dos administra-
faça despencar. dores condicionada por suas suposições sobre o
Em ambos os casos, o sujeito é o agente de seu comportamento humano. Douglas McGregor foi
destino. A palavra — ou o sentimento — final é dele, o principal nome desse estudo, cujos princípios
mas vivemos em sociedade e as ações dos outros, desenvolvidos encontram-se nas chamadas Teoria
principalmente aqueles próximos, inevitavelmente X e Teoria Y.
nos influenciam de alguma forma. Segundo a Teoria X, “o ser humano é avesso
Aqui teríamos dezenas de livros sobre motiva- ao trabalho e o evitará sempre que possível. Por
ção que apregoariam a importância da automoti- conta dessa característica, as pessoas precisam
“
“
de se fazer isso é por meio da remuneração, tanto
como meio de recompensa como meio de puni- a motivação, o potencial e a capacidade de
ção. O foco está no objetivo da empresa e não do assumir responsabilidades estão presentes
funcionário. em cada pessoa. A empresa, porém, precisa
A Teoria Y, por sua vez, pressupõe que “o tra- criar condições para que elas desenvolvam
balho é uma coisa tão natural quanto o lazer e o essas características. O procedimento para
descanso. Punições e ameaças não são as únicas tanto consiste em criar oportunidades, dar
formas de obter a cooperação e a participação vazão ao potencial e remover obstáculos
do indivíduo” (RIBEIRO, 2010, p. 81). Considera (RIBEIRO, 2010, p. 82).
UNIDADE III 85
William Ouchi (1988) acrescentou a Teoria Z a pico, quero deixar uma questão para reflexão.
esse contexto. Seu pressuposto principal é que a Vimos que, segundo diversas teorias, a moti-
confiança e a produtividade são elementos forte- vação está condicionada à busca por satisfazer
mente relacionados. Isso quer dizer que o ambien- necessidades que nunca acabam, pois, quando
te organizacional deve estar configurado de forma satisfeitas, novas surgem. Minha questão para
a promover a confiança entre as pessoas. Isso im- se pensar é: onde fica a gratidão nessa história?
plica também em questões comportamentais e de Seria possível que a gratidão ou a alegria pelo
relacionamento, pois é justamente a sensibilidade que já temos também fosse um elemento de
do gestor que promoverá a compreensão acerca da motivação? É claro que não são coisas exclu-
melhor maneira de se formar equipes de trabalho dentes. Posso ser extremamente grata e feliz pelo
e de promover discussões pertinentes que gerem que tenho — e isso me dá ânimo e motiva — e
consenso. A ideia dessa teoria é a valorização do também almejar coisas novas — o que também
trabalho em grupo e da confiança entre as pessoas me dá ânimo e motiva. A pergunta é: também a
como propulsoras de um bom clima organizacio- apreciação da vida que você tem, a gratidão pelas
nal e de produtividade. coisas boas pelas suas conquistas, tem espaço
A pré-concepção das pessoas, nesse caso, é na sua vida? Permita que também isso seja uma
determinante para a abordagem de gestão que poderosa motivação na sua vida!
será adotada. Não resisto e vou contar a você uma história
É claro que mais tarde muitos outros pessoal: durante meu doutorado, fiz um crono-
temas foram incorporados a essa escola, ou grama das coisas que ainda precisava fazer para
desenvolvidos após ela. Essa é a parte em que concluí-lo. A lista era grande e confesso que me
a psicologia entra no âmbito organizacional senti bastante desanimada pelo caminho longo
e nos ajuda a compreender diversas questões ainda que tinha para percorrer. Resolvi então fazer
relacionadas ao comportamento humano. De fato, também um “cronograma reverso”, ou seja, escrevi
a administração não é considerada uma ciência tudo o que eu já tinha feito. Quando vi que o que
justamente porque é interdisciplinar e bebe em eu já tinha feito era no mínimo três vezes mais
várias fontes — e assim deve ser, por sua natureza do que aquilo que ainda tinha para fazer, você
— como a antropologia, sociologia, economia e, não pode imaginar a alegria, o orgulho de mim
sim, também a psicologia. mesma, a satisfação que senti de já ter feito tudo
No próximo tópico, abordaremos algumas aquilo! E a lista do que eu ainda tinha a fazer me
questões importantes que chamei de desafios nas pareceu bastante plausível. O cansaço e desânimo
relações de trabalho. São questões típicas do nosso deram lugar a uma forte motivação.
momento e que, é claro, também se relacionam Talvez não sejam só as necessidades que nos
com tudo o que vimos até agora sobre o fator hu- motivam. Nossas conquistas também podem ser
mano nas organizações. fortes elementos motivacionais e a gratidão por
Entretanto, antes ainda de concluir este tó- elas e por tudo o que temos e somos também.
Caro(a) aluno(a).
Depois de termos compreendido alguns prin-
cípios das escolas das relações humanas e com-
portamental, partimos agora para uma questão
fundamental — tanto para o desenvolvimento das
pessoas como indivíduos quanto para seu melhor
desempenho no trabalho — e que representa uma
das grandes dificuldades que há hoje em ambien-
tes corporativos: foco.
Distrações, interrupções, falta de clareza acer-
ca dos objetivos da própria atividade e organi-
zacionais, internet, redes sociais, smartphones…
tudo isso colabora a tirar o foco no ambiente de
trabalho. Consequências disso? Problemas com
cumprimento de prazos, com o nível de compe-
tência desempenhado, com a produtividade, com
a motivação... enfim, com os objetivos pessoais e
organizacionais como um todo. Você pode me
dizer: mas eu sou uma pessoa focada, não tenho
esses problemas. Então, responda às seguintes per-
guntas propostas por Goleman (2014, p. 194-195):
UNIDADE III 87
• Você tem dificuldades de lembrar o que • o foco no outro facilita nossas ligações com
alguém acabou de lhe dizer durante uma as pessoas das nossas vidas;
conversa? • o foco externo nos ajuda a navegar pelo
• Não se lembra de nada do caminho para o mundo que nos rodeia (GOLEMAN,
trabalho de manhã? 2014, p. 12).
• Não sente o sabor da comida enquanto está
comendo? Segundo o autor, uma vida plena exige que do-
• Presta mais atenção ao seu iPod do que à minemos os três.
pessoa com quem está? No nosso dia a dia, parece que ondas de pen-
• Está lendo este livro com pouca atenção? samentos sobre inúmeras coisas querem entrar
em nosso circuito mental e competir com aquela
Se houve alguma resposta “sim”, é porque há algo tarefa específica que estamos tentando cumprir.
que pode ser trabalhado aí. Quantos pensamentos sobre diversos assuntos
Daniel Goleman, renomado psicólogo ameri- já entraram em sua mente somente nos seus
cano e autor do best seller Inteligência Emocional últimos dez minutos de estudo? É claro que o
(2012), lançou um livro há alguns anos especifi- próprio cérebro faz armadilhas de modo que as
camente sobre foco e também é esse seu título. interrupções ou os pensamentos não convidados
Gosto demais das ideias desse autor. De fato, pareçam ser legítimos, pareçam ter uma utilida-
é um desses autores cuja trajetória acadêmica lhe de. Goleman (2014) afirma que a linha divisória
confere legitimidade e então é possível ler seus entre um pensamento infrutífero e uma reflexão
livros considerando, de fato, o que ele diz, justa- produtiva está no fato de chegarmos a alguma
mente por ter embasamento científico, diferente solução experimental ou algum insight sobre a
de diversos “livros de aeroporto”, como comumen- solução da questão que nos veio em mente. Do
te chamamos alguns livros sem muita base teórica contrário, são só mesmo devaneios,“ruminações”
— é somente força de expressão; nada contra os e procrastinação.
livros de aeroportos. Por falar em procrastinação — um dos sintomas
Trago, então, algumas ideias desse autor. Segun- mais evidentes da falta de foco — os smartphones
do Goleman (2014, p. 10), “nossa capacidade de são poderosos objetos que propiciam esse com-
atenção determina o nível de competência com que portamento tão nocivo para o desenvolvimento
realizamos determinada tarefa”. A compreensão, a pessoal e profissional. De fato, a procrastinação é
memória, a aprendizagem, a percepção do que nós algo que pode se tornar um vício e ela se apoia em
mesmos sentimos, a autoconsciência e autocontro- tudo o que vê pela frente: cafezinhos, respostas rá-
le, a empatia e até mesmo uma percepção mais oti- pidas ao whatsapp, aquela olhadela no Facebook e
mista da vida são elementos que estão diretamente assim por diante. Sobre procrastinação, recomendo
relacionados à atenção. A atenção é a base do foco. fortemente um texto excelente no material comple-
O foco pode ser interno, no outro, ou externo: mentar (web). É um texto didático e divertido que
• o foco interno nos põe em sintonia com explica muito bem o mecanismo da mente procras-
nossas intuições, com nossos valores prin- tinadora e também dá caminhos para vencer esse
cipais e nossas melhores decisões; mal (leia até o final da terceira parte).
UNIDADE III 89
Além de ser um poderoso aliado da procras- termos conscientes de nossos atos não obstante as
tinação, o excesso dentro do mundo digital cau- agitações emocionais da vida (GOLEMAN, 2014).
sa outros tantos fatores nocivos à vida como um No filme “Click”, quando o personagem de
todo. “A vida imersa em distrações digitais cria Adam Sandler questiona o que acontecia com
uma quase constante sobrecarga cognitiva. E essa ele quando ele acelerava o tempo pelo controle
sobrecarga mina o autocontrole”, afirma Goleman remoto, o inventor diz que eram momentos em
(2014, p. 37). Trata-se, na atualidade, de algo que já que ele ficava “no piloto automático”, com a mente
foi para o campo do impulso, como passar horas divagando. Ou seja: sem foco, sem atenção. Ele
olhando fixamente para algum tipo de tela digital percebe que perdeu momentos importantíssimos
(e quando vejo isso acontecendo com crianças de sua vida e da vida de sua esposa, filhos e pais
de menos de três anos de idade fico triste, muito estando nesse estado. É uma representação mais
triste!) ou de não conseguir ir da sala de casa ao realística do que imaginamos!
quarto sem levar o celular junto ou ver se chegou É esse “piloto automático” o responsável
alguma mensagem no celular quando o semáforo pelos “sequestros emocionais” ou “sequestros
está vermelho. É uma sobrecarga cognitiva que da mente” que Goleman (2012) fala em seu ou-
nos tira o simples prazer de olhar a paisagem e as tro livro — Inteligência Emocional. São aqueles
pessoas entorno ou apreciar uma música - e cantar momentos em que parece que primeiro agimos
junto! O dia que minha filha com menos de três e depois pensamos — o que geralmente causa
anos me disse: “mãe, deixa o celular no cantinho”, mágoas, arrependimentos, culpa ou demissões!
percebi que meu tempo com ela estava sendo to- São momentos em que uma pessoa pode dar um
mado por essas distrações. A partir daí, o celular grito ou um tapa em seu filho por um motivo
parou de ir para o sofá ou da sala para o quarto e banal, apenas porque “a cabeça não estava no
para a cozinha: passou a ficar estacionadinho em lugar” naquele momento. Talvez tanta dor no
cima do balcão e, qualquer ligação importante, eu mundo seria evitada se as pessoas exercitassem
ouvirei, sem a necessidade de tê-lo pendurado sua autoconsciência. É aquela retomada de nós
atrás de mim. Meus braços ficaram livres para mesmos, é a respiração, o pensamento e a re-
pegar minha filha no colo. flexão antes da atitude ou da palavra. Quando
Quando falamos em foco, em atenção, talvez temos essa autoconsciência, ou seja, quando es-
não demos a devida importância a isso. Na reali- tamos em um estado de atenção plena, de foco,
dade, as questões relacionadas a esses temas vão conseguimos ter maior controle emocional e
muito além de bons conselhos para a vida. Elas clareza na situação em si e nas inúmeras conse-
implicam outras muito importantes que talvez quências que as nossas diversas possíveis reações
você jamais imaginaria! E por que? Porque para podem causar. Quando chegamos nesse nível e
se conseguir estar focado, ou seja, ter sua atenção reconhecemos o que realmente importa, ou seja,
completa voltada a algo — a atenção plena — é optamos por aquilo que será bom para todos, aí
necessário ter autoconsciência, e a autoconsciên- está a sabedoria.
cia — ou auto-observação, como também já ouvi Sobre o foco no outro, “quanto mais distraí-
— é uma poderosa aliada de nós mesmos em nos- dos estamos, menos podemos expressar empatia
sas vidas. Ela nos ajuda a nos mantermos calmos e compaixão” (GOLEMAN, 2014, p. 108). Isso
durante momentos de crises e de sermos imunes porque, quando estamos distraídos sequer per-
a turbulências emocionais; ajuda-nos a nos man- cebemos o outro. “A empatia exige um ato de
““
exatamente nossos próprios pensamentos.
não é a conversa das pessoas ao nosso redor Mais uma forma de recuperar o foco, baseada
que tem mais poder de nos distrair, mas a nas experiências de meditação: ao perceber que a
conversa da nossa própria mente. A con- mente está divagando, transferir a atenção para a
centração absoluta exige que essas vozes respiração e mantê-la lá. Ele explica isso biologica-
internas se calem. Comece a subtrair setes mente, mas vamos ficar aqui só com a dica mesmo.
sucessivamente de cem e, se mantiver o foco É sempre um exercício de voltar à autocons-
na tarefa, sua zona de conversa ficará em ciência ou à atenção plena, percebeu? Está aí a
silêncio (GOLEMAN, 2014, p. 53) chave de tudo. E é ter consciência até mesmo de
“não se ter consciência” em determinado momento.
Parece um exercício engraçado, né? Contudo, fun- Maluco isso, né? No entanto, faz todo o sentido.“O
ciona. Aquela história de contar até 10 para ajudar antídoto para a divagação da mente é a metacons-
a conter uma explosão de raiva também funciona, ciência, a atenção à própria atenção, como na capa-
acredite! As questões são muito bem explicadas nos cidade de perceber que você não está percebendo
livros do Goleman (2012; 2014), mas vou deixar a o que deveria estar percebendo e corrigir o foco”
parte da explicação biológica do funcionamento do (GOLEMAN, 2014, p. 191, grifo do autor). Isso traz
cérebro para você pesquisar diretamente lá. um importantíssimo benefício tanto à nossa vida
Outra coisa que pode ajudar: a positividade. pessoal quanto profissional: ajuda a manter
“
“
“Focar no que há de errado no que fizemos ativa
os circuitos de emoções aflitivas. Lembre-se: as uma distância mais ampla entre o impulso e a
emoções dirigem a nossa atenção. E a atenção foge ação, em parte por produzir a metaconsciên-
do que é desagradável” (GOLEMAN, 2014, p. 147). cia, a capacidade de observarmos nossos pro-
Segundo o autor, as emoções positivas ampliam cessos mentais em vez de apenas sermos do-
nosso raio de atenção, o que nos deixa livres para minados por eles. Isso cria pontos de decisão
observarmos o contexto maior. que não tínhamos antes: podemos oprimir
Outra questão refere-se à persistência em tra- impulsos incômodos que normalmente nos
zer a mente de volta, à autoconsciência: levariam a agir (GOLEMAN, 2014, p. 192).
UNIDADE III 91
A atenção plena ajuda até mesmo a prestarmos tudo isso que vimos aqui será útil a você, tanto em
mais atenção ao modo como gastamos nosso di- sua vida pessoal, como estudantil e profissional.
nheiro. Essa autoconsciência pode evitar compras Inteligência emocional também é outro
por impulso ou desnecessárias. tema que mereceria ser trabalhado à exaus-
Em resumo, o foco ou a atenção é a “força de tão quando se fala em desafios nas relações de
vontade em determinar o curso da vida” (GOLE- trabalho! Contudo, acredito que aqui os conceitos
MAN, 2014, p. 81). É trabalhar conscientemente renderiam praticamente outro livro. Recomendo
nós mesmos para conseguirmos o melhor de nós fortemente a leitura do livro Inteligência Emocio-
e para contribuirmos em nossos ambientes, tanto nal, do Daniel Goleman (2012), e também outros
familiar quanto social e profissional. É aprovei- livros do autor que falam sobre isso. No entanto,
tar essa oportunidade que temos nas mãos agora já adianto a você: a questão central é sempre essa
que sabemos da importância do foco para nos sobre a qual já falamos bastante aqui: a autocons-
desenvolvermos ainda mais como pessoas, pois ciência, que se consegue somente estando com a
“quaisquer que sejam nossos melhores talentos, a atenção plena no momento presente.
autoconsciência nos ajudará a utilizá-los ao má- Mesmo que você já tenha lido os livros que tra-
ximo” (GOLEMAN, 2014, p. 87). balhamos aqui, acredito que rever esses conceitos
São tantos os outros desafios que existem no possam ajudar você a conduzir melhor seus estu-
ambiente de trabalho e nas relações interpessoais. dos, seu trabalho e até mesmo sua vida pessoal em
Diversos deles serão tratados nas outras disci- família e com os amigos. Afinal, estamos falando
plinas voltadas ao estudo de relações humanas e de algo que nunca está acabado, mas é exercício
de comunicação. Todavia, muitos dos problemas contínuo, é esforço diário de desenvolvimento
nesses aspectos que acontecem nas organizações pessoal e profissional, é a busca cotidiana por ser-
poderiam ser evitados se a autoconsciência e a mos a melhor versão de nós mesmos!
atenção plena fossem exercitadas no nosso dia a Concluímos essa unidade justamente com esse
dia. E isso se refletiria também na produtividade, desejo: que você tenha elementos que lhe con-
certamente. Goleman (2014, p. 195) afirma que “a duzam à reflexão consciente de quais são seus
falta de atenção, na forma da divagação da men- valores, do que lhe motiva, de qual é seu foco e
te, pode ser a maior desperdiçadora de atenção de como está sua atenção e seu nível de autocons-
no local de trabalho”. E você está aqui justamente ciência para não somente chegar aos seus obje-
porque quer se preparar para ser bom no mercado tivos, como também para ser, dia após dia, essa
de trabalho, não é mesmo? Tenho certeza de que melhor versão de você mesmo!
93
Assinale a alternativa correta.
a) Apenas I e II estão corretas.
b) Apenas II e III estão corretas.
c) Apenas I está correta.
d) Apenas I, III e IV estão corretas.
e) Nenhuma das alternativas está correta.
3. Uma das questões fundamentais e que representa uma das grandes dificuldades
que há hoje em ambientes corporativos é o foco. A respeito desse importante
elemento, tanto para o desenvolvimento das pessoas como indivíduos quanto
para seu melhor desempenho no trabalho, assinale Verdadeiro (V) ou Falso (F):
(( ) A falta de foco é algo facilmente administrável e não causa nenhum tipo de
consequência pessoal ou profissional.
(( ) Há pelo menos três tipos de foco: interno, no outro e externo.
(( ) A autoconsciência e a atenção plena são elementos fundamentais para maior
foco e controle das próprias emoções.
94
LIVRO
95
FILME
Click
Ano: 2006
Sinopse: um arquiteto, casado e com filhos, está cada vez mais frustrado por
passar a maior parte de seu tempo trabalhando. Um dia, ele encontra um in-
ventor excêntrico que lhe dá um controle remoto universal, com capacidade de
acelerar o tempo. No início, ele usa o aparelho para acelerar qualquer momento
tedioso, mas se dá conta de que está acelerando o tempo demais, deixando
de viver preciosos momentos em família. Desesperado, ele procura o inventor
para ajudá-lo a reverter o que fez.
WEB
96
CARNEGIE, D. Como fazer amigos e influenciar pessoas. 52. ed. São Paulo: Editora Nacional, 2012.
DUTRA, J. S. Gestão por competências: Um modelo avançado para o gerenciamento de pessoas. São Paulo:
Gente, 2001.
GOLEMAN, D. Inteligência emocional: a teoria revolucionária que redefine o que é ser inteligente. Rio de
Janeiro: Objetiva, 2012.
______. Foco: a atenção e seu papel fundamental para o sucesso. Rio de Janeiro: Objetiva, 2014.
JUCÁ, F. Academia de liderança: como desenvolver sua capacidade de liderar. Campinas-SP: Papirus 7 Mares,
2013.
OUCHI, William. Teoria Z: como as empresas podem enfrentar o desafio japonês. 10. ed. São Paulo: Nobel, 1988.
RIBEIRO, Antonio de Lima. Teorias da administração. 2. ed. São Paulo: Saraiva, 2010.
WALGER, C.; VIAPIANA, L.; BARBOZA, M. M. Motivação e satisfação no trabalho: em busca do bem-estar
de indivíduos e organizações. Curitiba: Intersaberes, 2014.
97
1. C.
2. D.
3. D.
98
99
100
Dra. Cláudia Herrero Martins Menegassi
Áreas Funcionais
da Administração
PLANO DE ESTUDOS
Administração Administração
de Marketing Financeira
Administração de Administração de
operações e logística Recursos Humanos
OBJETIVOS DE APRENDIZAGEM
• Discutir sobre a área de administração de operações e • Discutir sobre a área de recursos humanos no âmbito
logística no âmbito organizacional. organizacional.
• Discutir sobre a área de marketing no âmbito organiza- • Discutir sobre a área de administração financeira no âm-
cional. bito organizacional.
Administração
de Operações
e Logística
UNIDADE IV 103
e até mesmo os relacionamentos! (BERTAGLIA, tração de estoques que tem como objetivo reduzir
2009). Interessante pensarmos por esse lado tam- ao mínimo os inventários da organização, por meio
bém, não é mesmo? Geralmente, quando se fala da coordenação da produção com entregas precisas
em logística, fala-se muito em processos práticos, de suprimentos” (SOBRAL; PECI, 2013, p. 440). O
mas a grande questão é que a maioria deles - senão sistema incentiva as entregas somente sob solicita-
todos - é feita por pessoas e o relacionamento é o ção. O objetivo é manter estoques mínimos, sim-
fio condutor de tudo isso. plificar os processos e promover fluxos adequados
De fato, o conceito de integração é fundamen- e simplificados de materiais.
tal nesse processo e a comunicação pode ser um A logística está relacionada também a questões
dos elementos mais relevantes para uma boa inte- de movimentação dos produtos, dos serviços e das
gração. Aqui entrariam também outros aspectos, informações, está relacionada também a tempo e
como a gestão da informação e as tecnologias de a custo. Os componentes do sistema logístico in-
apoio, para que tudo possa ser o mais integrado cluem: (a) a área comercial — que juntamente com
e sincronizado possível. a área de marketing é responsável por captar as
E por que essa preocupação? Porque tempo é necessidades ou desejos dos consumidores a fim de
dinheiro e espaço é dinheiro também. Mercadoria torná-los realidade por meio da atividade organiza-
parada em estoque é prejuízo, ela tem um custo cional; (b) operação industrial — que implica a es-
de armazenamento. Uma peça que não chega a colha dos recursos tecnológicos mais apropriados,
tempo pode parar uma cadeia produtiva inteira, quando for o caso; (c) fornecedores — cujo papel
afetar o prazo de entrega do produto final e as- dentro da logística é o de parceiros operacionais e
sim por diante. Não é a toa que o termo usado é com quem o relacionamento deve ser franco e de
cadeia. Justamente porque tudo está interligado confiança, pois envolve questões como qualidade e
e uma mudança em um dos processos gera, sim, prazos; (d) administração e finanças — é o suporte
uma reação em cadeia — nesse caso, literalmente. de toda a logística e em certo modo sua razão de
De fato, “o objetivo clássico da cadeia de abaste- ser, pois em última instância o que se busca é o
cimento é possibilitar que os produtos certos, na melhor fluxo operacional ao menor custo possível;
quantidade certa, estejam nos pontos de venda no (e) distribuição física — questões que envolvem a
momento certo, considerando o menor custo possí- localização da empresa em função do mercado a ser
vel” (BERTAGLIA, 2009, p. 11). Isso, é claro, implica atendido e as formas de se fazer chegar aos clientes
também que esse mesmo raciocínio se aplique às o produto ou serviço oferecido.
etapas intermediárias. Considerando todas essas questões relacionadas
Por falar em estoques, há diversos tipos deles: a movimentação dos produtos, serviços e informa-
estoques de materiais, de produtos em proces- ções, um conceito que deve ser central é o de lead
sos, de produtos acabados, estoques em trânsito time, ou seja, o tempo decorrido desde o início até
e estoques em consignação. Em todos os casos o fim de um processo e isso se aplica a qualquer
há custos de estoque, que estão relacionados à tipo de processo, seja ele o de produção ou o de
armazenagem, manuseio, perdas, obsolescência, informação ou de prestação de um serviço. O es-
furtos e roubos. forço é sempre em reduzir ou eliminar as esperas
Há também diversas maneiras de se administrar evitáveis, o que pode ser feito por meio de plane-
os estoques. Um dos sistemas mais utilizados é o jamento, análise de erros/atrasos e também nesse
just-in-time. Trata-se de uma “técnica de adminis- caso o benchmarking pode ajudar.
UNIDADE IV 105
Por essa razão que a terceirização deve ser sempre feita com
moderação e supervisão. Ou seja, é importante que a empresa,
na medida do possível, evite colocar sob a responsabilidade de
uma empresa terceirizada algo que a caracterize ou atividades de
grande relevância e, se for necessário — como muitas vezes é —
que haja contratos claros e acompanhamento do que é realizado.
Outro tema dentro da logística que impacta determinados ti-
pos de empresas é a logística reversa. Segundo Leite (2002, p. 2), a
logística reversa é
““
a área da Logística Empresarial que planeja, opera e controla o
fluxo, e as informações logísticas correspondentes, do retorno
dos bens de pós-venda e de pós - consumo ao ciclo de negócios
ou ao ciclo produtivo, através dos Canais de Distribuição Re-
O Timing na logística versos, agregando-lhes valor de diversas naturezas: econômico,
ecológico, legal, logístico, de imagem corporativa, entre outros.
Depois há o envio do produto,
que envolve tanto a questão do Em tempos de globalização — caminho sem volta, convenhamos
respeito ao prazo combinado —, os desafios da área de administração de operações e logística são
como as condições de transpor- vários, relacionados à extensão geográfica do mercado consumidor,
te para que o produto chegue em à rapidez de informações — que requer gestão eficiente —, consu-
perfeito estado. Geralmente a in- midores informados e com grau de exigência elevado, ao cenário
satisfação não será pelo produto competitivo (que incentiva a busca por menores custos, maior qua-
em si, pois a pessoa o escolheu, lidade, confiabilidade, flexibilidade e agilidade e por inovação) e às
mas se demora para chegar, se preocupações ambientais.
quando chega está avariado e A Figura 1 mostra duas grandes áreas de atuação da logística
assim por diante. reversa:
Cadeia de
LOGÍSTICA REVERSA LOGÍSTICA REVERSA
Distribuição Direta
DE PÓS-CONSUMO DE PÓS-VENDA
UNIDADE IV 107
Administração
de Marketing
Caro(a) aluno(a)!
Bem-vindo(a) a mais um tópico relacionado
às áreas funcionais da administração. Neste, de-
dicaremo-nos ao marketing.
Quando se fala em marketing o que lhe vem
imediatamente à cabeça? Propagandas? Geral-
mente sim e faz parte dele. Contudo, o marketing
vai muito além disso. Há várias definições para
esse termo, cuja origem é do latim e significa co-
mércio. Satisfazer as necessidades das pessoas ou
criar e manter clientes é talvez o objetivo principal
do marketing, que engloba uma série de questões.
Bem, minimamente, é clássico o modelo dos 4
Ps como base para o marketing: produto, preço,
praça e promoção. Então pelo menos tudo isso ele
abrange. Falaremos desse modelo aqui.
Além disso, o marketing se aplica aos mais di-
versos tipos de contexto; somente para citarmos
alguns: marketing político e eleitoral, marketing
de relacionamento, marketing pessoal, marketing
digital, endomarketing, marketing industrial, mar-
keting social, marketing de serviços, marketing de
varejo, marketing para mercados de alta tecnolo-
gia, marketing para inovações, marketing ambien-
tal, marketing cultural, marketing internacional e
a lista poderia ainda prosseguir.
Produto Praça
Variedade Canais
Qualidade Cobertura
Design Sortimentos
Características Locais
Nome da marca Preço Promoção Estoque
Embalagem Preço de lista Promoção de Transporte
Tamanhos Descontos vendas
Serviços Bonificações Propaganda
Garantias Prazo de Força de
Devoluções pagamento vendas
Condições de Relações públicas
financiamento Marketing direto
Bem, como você pode ver, o campo de abrangência do marketing é bastante amplo e
até mesmo seu objetivo pode variar de acordo com o contexto. A geração de receita
por meio da fidelização de clientes, por exemplo, pode ser o objetivo de uma empresa
tradicional, enquanto a conscientização ambiental ou conseguir maior número de votos
podem ser os objetivos do marketing ambiental e do político, por exemplo. São muitas
as configurações possíveis.
Vamos começar, então, pela ideia dos 4 Ps, que se aplica a todos esses contextos,
é claro, de modo adaptado a cada um. Essa ideia foi proposta por Jerome McCarthy
(1996) e depois também desenvolvida por outros autores ao longo dos anos. Trata-se
dos diversos aspectos do marketing contemplados no produto, preço, praça (ou ponto
de venda ou, ainda, distribuição) e promoção.
Vamos começar pelo produto. Aqui, produto representa aquilo que pode ser com-
prado para a solução de uma necessidade ou satisfação de um desejo do consumidor,
o que inclui os serviços, ou seja, pode ser tanto algo tangível quanto intangível. Os
benefícios dele podem ser reais ou percebidos. E ele pode variar de produto núcleo
(aquele que representa o benefício do produto), básico (aquele que acumula o mínimo
de benefícios de um produto), o esperado (a expectativa sobre o produto), ampliado (aos
produtos são atribuídos itens de diferenciação) e potencial (as inovações de produto
ainda não lançadas no mercado, em fase de testes, projetos ou protótipos). Lembrando
que sempre quando falamos aqui de produto, estamos também nos referindo a serviços
(REICHELT, 2013).
Vamos agora ao preço. Tradicionalmente, a precificação é feita utilizando-se a se-
guinte fórmula:
UNIDADE IV 109
P=C+L
Onde:
Esse método de formação de preço é chamado de processo são: “equipe interna e externa de vendas,
mark up, termo que designa o percentual de lucro distribuidores, varejistas, atacadistas, agentes, re-
que é acrescido sobre o produto. Todavia, ele tem presentantes, franqueados, concessionários, entre
sido considerado obsoleto, uma vez que há outros outros” (REICHELT, 2013, p. 91).
elementos a serem considerados na formação de Por fim, a promoção. Essa área é tão ela mes-
preços, como a conjuntura do mercado, os clientes, ma, que conseguiu se autopromover a ponto de
a concorrência e, ainda, outros como valor da mar- muita gente achar que marketing é só ela! Brin-
ca e assim por diante. Na análise da formação de cadeiras à parte, a promoção refere-se a todas
preço, recomenda-se, então, considerar ao menos as formas de comunicação da empresa com seu
os 3 Cs: custos, clientes e concorrentes. Os custos mercado. Propositalmente é o último “P”, pois so-
determinam o preço mínimo a ser cobrado para mente após o produto ter sido realizado, o preço
que não haja prejuízo; os clientes determinam o estipulado e a distribuição determinada é que a
preço máximo que um produto pode ter com base empresa poderá comunicar tudo isso ao mercado.
“
“
na percepção de valor sobre ele; os concorrentes
determinam os diversos níveis intermediários de As principais ferramentas de comunicação
preço possíveis (REICHELT, 2013). disponíveis para que as empresas se comu-
Falando agora em praça. Estranho o termo, né? niquem com os seus clientes fiéis ou em po-
Vem logo à minha mente uma pracinha cheia de tencial são: propaganda, marketing direto,
bancos, crianças brincando e pessoas conversan- promoção de vendas, relações públicas (e
do. Contudo, esqueça essa imagem. Houve uma publicidade), venda pessoal e merchandi-
tentativa em se manter palavras com as mesmas sing (REICHELT, 2013, p. 93).
iniciais do inglês para que continuassem sendo
os “4 Ps”, mas talvez a palavra que melhor poderia Philip Kotler, um dos principais nomes do mar-
se encaixar aqui é distribuição - e vários livros já keting, e Kevin Keller, propuseram uma atualiza-
“abandonaram a praça” e adotaram essa expressão. ção dos 4 Ps. De acordo com os autores, devido à
No entanto, em que consiste a tal praça? É o abrangência e complexidade do marketing, esse
composto de marketing responsável por estabele- modelo já não é capaz de representar todo o ce-
cer o contato entre empresa e cliente, ou seja, fazer nário. Eles adotam, então, o conceito de marke-
os clientes chegarem à empresa ou os produtos ting holístico e propõem como modelo: pessoas,
chegarem aos clientes. Alguns dos agentes desse processos, programas e performance.
Realidades
do marketing Descrição
moderno
Quando se fala em compreender as vidas dos consumidores em toda sua amplitude, parece algo bastante
pretensioso. No entanto, isso já é uma realidade bastante comum. Você digita no google algum termo
e “milagrosamente” começam a aparecer propagandas para você justamente sobre aquele assunto. O
mesmo vale para as propagandas patrocinadas nas redes sociais, de acordo com o que você mais “curte”.
É um marketing silencioso e certeiro.
UNIDADE IV 111
Se pensarmos a fundo, a questão das pessoas é Os programas partem da ideia do todo que
pressuposto em tudo o que se falam sobre marke- envolve o marketing e o pressuposto é que abar-
ting. É a base para os 4 Ps e para quaisquer outras que todas as áreas nele previstas. É semelhante à
tipologias que se queira criar, tanto que você en- ideia de marketing holístico que veremos logo em
contrará muitos livros por aí que fala de compor- seguida. Também a performance está ligada a essa
tamento do consumidor, por exemplo. E o que é o ideia, focando nos resultados que se poderá obter.
comportamento senão a reação a determinados
estímulos de acordo com o tipo de personalidade,
grau de instrução, cultura, idade etc. de cada um?
Sobre o planejamento e a tomada de decisão
não serem ad hoc — de caráter temporário, que O conceito de marketing holístico se baseia em
atende somente a determinado propósito especí- desenvolvimento, estruturação e implementação
fico —, isso pode ser uma mudança de paradigma de programas, processos e atividades de marke-
dentro do campo do marketing. Ele é caracteri- ting, com o reconhecimento da amplitude e das
zado pela adaptabilidade e celeridade, e isso por interdependências de seus efeitos. Ele reconhe-
vezes pode prejudicar a ideia de planejamentos de ce que em marketing ‘tudo é importante’ e que
médio ou longo prazos. É evidente que essa adap- muitas vezes se faz necessária uma perspectiva
tabilidade e celeridade precisa continuar, mas um abrangente e integrada.
conjunto adequado de processos pré-definidos Fonte: Kotler e Keller (2012, p. 17).
também podem ajudar.
Gerência Produtos
Departamento sênior Outros e serviços
de marketing departamentos Comunicações Canais
Marketing Marketing
interno integrado
Marketing
holístico
Marketing de Marketing de
desempenho relacionamento
Legislação Comunidade
Brand e Receita Clientes Parceiros
Canal
customer equity de vendas
Ética Ambiente
UNIDADE IV 113
Administração
de Recursos Humanos
Caro(a) aluno(a)!
Entramos em mais um tópico referente às áreas
funcionais da administração. Falaremos agora da
administração de recursos humanos.
Apesar de já ter falado bastante na Unidade
3 sobre o fator humano nas organizações, falare-
mos agora da parte operacional da administra-
ção de recursos humanos. São atividades que vão
desde o recrutamento e seleção, até a avaliação
e remuneração, passando por treinamento e
administração de cargos e salários. É importante
lembrar, todavia, que nem todas as organizações
possuem essa área departamentalizada e bem
definida. Muitas vezes as funções previstas nela
são feitas pelo próprio dono ou por pessoas às
quais essas tarefas são confiadas.
Essa é uma área que é altamente influenciada
pela abordagem de gestão adotada pela organiza-
ção. Se, por exemplo, é adotado o sistema de gestão
por competências, desde o processo de recruta-
mento os conhecimentos, habilidades e atitudes
dos candidatos já são avaliados de acordo com os
cargos e funções que estão propensos a ocupar.
Há casos em que a seleção é feita por indicação,
outros por currículo, entrevista, processo seletivo,
enfim, aquilo que for mais indicado para a empre-
UNIDADE IV 115
pode ser apenas mais um e-mail na caixa de entrada abarrotada e
concorrida do gestor. Pode ver, talvez até se interessar, mas logo em
seguida irá ler os próximos e-mails e talvez aquela mensagem já lida
caia no esquecimento.
Enfim, mais uma vez compartilho com vocês uma experiência pes-
soal que me fez pensar em algumas outras possibilidades. Ao final do
primeiro ano do curso de Economia, tranquei a faculdade e fui morar
um ano na Itália. Quando voltei, retomei o curso e tinha vontade de
trabalhar, paralelamente, em duas atividades: queria dar aulas particu-
lares de matemática em algum centro de aulas particulares e dar aulas
de italiano em escola de idiomas. Na segunda-feira dediquei a tarde
para atualizar meu currículo, destacando as habilidades que tinha
para essas duas funções (formada no Kumon, com diversos prêmios
recebidos e também trabalhei no Kumon diversos anos de minha
adolescência — desde os 12 anos, a pedido meu) e meu ano na Itália,
os cursos que fiz lá etc. (para ser atraente às escolas de idiomas). Isso
foi em 2001, então os meios não eram lá os mais tecnológicos. Peguei
a lista telefônica da cidade, procurei por centros de aulas particulares
e por escolas de línguas, peguei um mapa da cidade e, a partir da
terça-feira, fui a pé de uma a uma, inclusive naquelas escolas que não
ofereciam italiano — quem sabe se interessariam em passar a oferecer?
Resumo da história: na quinta-feira da mesma semana eu consegui
o trabalho como professora de matemática em um centro de aulas
particulares e na sexta-feira o trabalho de professora em uma escola
de línguas. Toquei os dois trabalhos junto com a faculdade até as
aulas de italiano tomarem uma proporção muito grande e eu ter que
abrir mão das de matemática. Contudo, como foi isso? Foi de porta
em porta, presencialmente e diretamente com os donos das empre-
sas. Se o dono não estava na terça-feira, voltava na quarta-feira, mas
era com eles que eu falava. Enfim, foi uma boa experiência. Os dois
empregos que eu queria no intervalo de 5 dias. Eu mal sentia minhas
pernas no final daquela semana. Caminhei quilômetros! Cada metro,
porém, valeu a pena. A partir daí, sempre penso: quando possível, o
melhor talvez seja procurar quem poderá, de fato, lhe dar o emprego
que você quer, seja ele o dono da empresa ou o gestor da área na qual
você almeja ingressar.
Onde você quer trabalhar? Qual a melhor forma de conseguir esse
emprego? Pense primeiro. Pense bem. Trace sua estratégia antes, para
que elas lhe ajudem a chegar lá.
Concluindo a questão do recrutamento, a descrição da função e a
definição do perfil do candidato certamente são duas coisas que pre-
UNIDADE IV 117
dido e pronto; poderíamos ter dispensado toda a parte lúdica. Quando as dinâmicas pressupõem abraços
e contato físico excessivo com quem está ao lado então…. tortura social!
Enfim, trouxe aqui com uma pitada de humor a sensação que muitos funcionários têm em treinamentos.
É importante — imprescindível, eu diria — que o treinamento tenha um objetivo específico, que seja de
interesse tanto do funcionário quanto da empresa e que a forma como ele será feito seja respeitosa e ade-
quada ao público envolvido, de modo que todo o investimento de ambos os lados — financeiro, emocional,
de tempo, cognitivo — seja válido.
Passamos agora à avaliação de recursos humanos. Quando se fala em avaliação de pessoas,
há algumas questões básicas a serem consideradas: 1) a avaliação existe sempre: mesmo que não
pareça existir, ou seja, mesmo que não haja algo estruturado, a entrega do funcionário e/ou sua
conduta é sempre objeto de avaliação, mesmo aquela apenas reativa, ou seja, aquela que acon-
tece somente quando alguma coisa não vai bem; 2) tem certo grau de subjetividade: isso quer
dizer que, quando se trata de pessoas, não se conseguirá facilmente algo objetivo em termos de
avaliação, entretanto, programas formais que deixem claro todos os critérios de avaliação para
ambas as partes podem diminuir essa subjetividade; 3) contém alguma distorção: os programas
formais de avaliação também diminuem essas distorções; algumas delas são a subjetividade, a
unilateralidade, a supervalorização ou desvalorização da avaliação dentre diversas outras (LA-
COMBE; HEILBORN, 2008).
Então em que deveria consistir um bom sistema de avaliação? Algumas características são impor-
tantes para isso, conforme apresentadas no Quadro 2:
Método das escalas “Avalia o desempenho das pessoas por meio de fatores de avaliação pre-
gráficas viamente definidos e graduados. Para tanto, utiliza um formulário de dupla
entrada, no qual as linhas horizontais representam os fatores de avaliação do
desempenho, enquanto as colunas verticais representam os graus de variação
daqueles fatores” (p. 120).
Método da escolha “Consiste em avaliar o desempenho das pessoas por intermédio de frases des-
forçada critivas de alternativas de tipos de desempenho individual. Em cada bloco, ou
conjunto composto de duas, quatro ou mais frases, o avaliador deve escolher
forçosamente pelo menos uma ou duas que mais se aplicam ao desempenho
do empregado avaliado” (p. 128).
Método dos inciden- “Trata-se de uma técnica por meio da qual o gestor observa e registra os fatos
tes críticos excepcionalmente positivos e excepcionalmente negativos do desempenho de
seus subordinados. Assim, o método dos incidentes críticos focaliza as exce-
ções - tanto positivas, como negativas - no desempenho das pessoas” (p. 137).
Método de frases “Este método é diferente do método de escolha forçada apenas por não exigir
descritivas obrigatoriedade na escolha de frases” (p. 140).
Método da autoava- “É o método por meio do qual o próprio empregado faz uma análise de suas
liação próprias características de desempenho” (p. 141).
Método da avaliação “Baseia-se em uma comparação periódica entre os resultados fixados (ou
por resultados esperados) para cada funcionário e os resultados efetivamente alcançados.
As conclusões a respeito dos resultados permitem a identificação dos pontos
fortes e fracos do funcionário, bem como as providências necessárias para o
próximo período” (p. 142-143).
Métodos mistos “Os métodos de avaliação do desempenho são variados, tanto em sua apre-
sentação e em aspectos relacionados com as prioridades envolvidas quanto
em seu funcionamento [...]. Cada organização desenvolve e utiliza sistemas
de avaliação de desempenho adequados às circunstâncias , à sua história e
aos seus objetivos” (p. 145).
Avaliação 360˚ “Cada pessoa é avaliada pelos diversos elementos que compõem seu entorno.
Isso significa que todas as pessoas com as quais ela mantém alguma forma de
interação ou intercâmbio participam da avaliação de seu desempenho” (p. 114).
UNIDADE IV 119
Seja qual for o método escolhido, em geral, as eta- lentos; e, ao demonstrar coerência, que sus-
pas da avaliação de desempenho são compostas tente o comprometimento e estimule ações
de: 1) definição dos objetivos de desempenho hu- que estejam de acordo com os objetivos da
mano; 2) montagem da sistemática de avaliação organização (HIPÓLITO, 2001, p. 75).
desse desempenho; 3) implantação do sistema; 4)
manutenção do sistema e controle dos resultados” De fato, se a prática remuneratória da organização
(CHIAVENATO, 2016, p. 146). tem essa estrutura que contempla tantos aspec-
É evidente que quando se fala em avaliação, tos, isso gerará um sentimento de segurança por
sabe-se que existe um vínculo entre ela e a re- parte dos funcionários, que saberão claramente
muneração e/ou plano de cargos e salários. Em a política da empresa com relação a esse aspecto
algumas abordagens de gestão, isso fica muito tão importante para suas vidas. É a contrapartida
evidente, como na Gestão por Competências. do comprometimento do funcionário e a certeza
Rabaglio (2013, p. 12) define Gestão por Com- de que também a empresa está comprometida
petências como: com ele. Dentro dessa perspectiva, há ainda outros
“
“
objetivos que os sistemas remuneratórios devem
Um conjunto de ferramentas práticas, con- buscar para que sejam, de fato, importantes para
sistentes, objetivas e mensuráveis que torna a alavancagem dos resultados organizacionais,
possível às empresas instrumentalizar RH conforme apresenta Hipólito (2001, p. 75):
“
“
e Gestores para fazerem Gestão de Desen-
volvimento de Pessoas com foco, critério e • Recompensar a contribuição real que o
clareza. Isso é feito através de ferramentas profissional presta à organização.
mensuráveis, personalizadas e construídas •• Estabelecer um equilíbrio salarial tanto
com base nas atribuições dos cargos ou do ponto de vista interno quanto em re-
funções. lação aos padrões vigentes no mercado.
•• Manter as decisões salariais perante
De fato, a avaliação feita com base nas atribui- funcionários, sindicatos ou Justiça do
ções dos cargos ou funções e da entrega da pes- trabalho.
soa é uma das bases para a avaliação e gestão por •• Possibilitar a delegação efetiva de de-
competências como um todo, e a remuneração é cisões salariais sem perder a coerência
consequência imediata dela dentro desse modelo. no todo.
Hipólito (2001) aconselha que a prática re- •• Permitir precisão e controle maiores na
muneratória seja estruturada, que reforce valores, gestão da folha de pagamentos.
crenças e comportamentos alinhados às deman- •• Reforçar a imagem da empresa diante
das atuais da organização e com sua orientação dos profissionais que nela atuam, do
estratégica e, ainda, mercado de trabalho e da sociedade.
“
“
que estimule a busca de aquisição e estru- A remuneração por competências tem como pres-
turação de conhecimento, bem como seu suposto a recompensa a partir do monitoramento
compartilhamento no contexto empresarial; da manifestação real e concreta das competências
que sirva de elemento interveniente na ca- pelo trabalhador dentro da organização, ou seja,
pacidade da organização de atrair e reter ta- de suas entregas (HIPÓLITO, 2001).
O profissional dessa área precisa de uma dose extra de ética. Afinal, ele representa o setor de apoio
ao funcionário, mas ele trabalha é para a empresa! O que já vi acontecer é esse profissional dar toda
a abertura para que o funcionário lhe conte questões pessoais e confidenciais e depois contá-las
ao seu gerente sem sua autorização. Sim, ele trabalha para a empresa, mas a ética deve prevalecer
— e muito — nesse tipo de profissional, para que não traia a confiança das pessoas e desempenhe
bem seu papel.
UNIDADE IV 121
Administração
Financeira
““
A administração financeira compreende o conjunto de atividades relacionadas com a gestão
do fluxo de recursos financeiros na organização e tem a dupla responsabilidade de captar os
recursos necessários às atividades da empresa e alocá-los de forma a alcançar os objetivos
organizacionais (SOBRAL; PECI, 2013, p. 557).
Como se chegar a isso? Bem, é um processo de dentro para fora, geralmente. É mantendo as
finanças saudáveis, admitindo riscos calculados, investindo no que se deve e gastando menos
do que lucra. Alguns pontos são básicos e se aplicam a todo o tipo de administração financeira,
incluindo aquela sua, pessoal.
Você pode imaginar que dentro desse contexto, é importante que haja em uma empresa
um administrador financeiro. Mesmo se for uma microempresa ou até mesmo uma empresa
individual, alguém tem que se responsabilizar por essa tarefa, que não é nada fácil. Exige um
alto grau de organização e também de controle, para que as informações e os recursos não se
percam pelo caminho.
Os administradores financeiros são aqueles que centralizam e mantêm essas informações a
fim de embasar suas decisões acerca de diversos aspectos ligados à gestão financeira. Algumas
das funções típicas do administrador financeiro são apresentadas no Quadro 4:
Função Descrição
Tomada de decisões Trata-se da tomada de decisões que definam a melhor estrutura de ativos
de investimento da organização, considerando uma relação adequada entre o risco e o
retorno dos capitais investidos.
Tomada de decisões Refere-se à tomada de decisões que definam a composição das fontes de
de financiamento recursos financeiros da organização, procurando estabelecer uma estru-
tura adequada em termos de liquidez, custo e risco financeiro.
UNIDADE IV 123
algum grau de autonomia é concedido aos diretores ou gerentes financeiros e nem tudo
precisa passar pelo dono ou por um conselho deliberativo.
O ciclo financeiro de uma empresa tem início quando há o primeiro pagamento e
termina com o recebimento pela venda do produto ou serviço prestado (HOJI, 2014).
Contudo, você pode imaginar que no meio disso tudo há uma série de operações que
acontecem e que requerem decisões financeiras, desde a compra de matérias-primas,
passando pela produção ou necessidades de treinamentos — tudo dependerá da ativida-
de da organização — pelo marketing, logística, até o recebimento. Lembrando que, para
cada tipo de produto ou serviço, há esse ciclo e que muitos ciclos, então, podem ocorrer
simultaneamente, em etapas similares ou diferentes.
E no meio de tudo isso pode aparecer a necessidade de financiamentos. Sobre as de-
cisões de financiamento, trata-se de uma escolha voltada à captação de recursos para a
organização, a fim de promover seu desenvolvimento. Há diversos tipos de recursos e a
escolha por algum deles será condicionada a fatores como liquidez, custo e risco finan-
ceiro. Podem ser classificados, basicamente, como: 1) recursos próprios ou de terceiros;
2) recursos permanentes ou temporários; 3) recursos onerosos ou não onerosos. No
Quadro 5 consta a descrição de cada um deles:
A busca por recursos se dá geralmente para algum tipo de investimento específico que
se torna necessário ou então para capital de giro. Sobre capital de giro, trata-se de um
dos principais elementos financeiros de uma empresa, pois,
“
“
são todos os recursos de que uma empresa precisa para funcionar, ou seja, para que
se mantenha aberta, cumprindo todas as suas obrigações com fornecedores, funcio-
nários e fisco. O capital de giro é todo o dinheiro que a empresa precisa pagar antes
de receber suas vendas, ou seja, são todos os pagamentos que ela terá de realizar para
manter-se em funcionamento até que receba todo o dinheiro das vendas que efetuou,
sejam recebimentos à vista ou parcelados (NASCIMENTO, 2014, p. 3).
““
empresa;
• não produzir corretamente seus produ- •• muitas despesas em suas operações em
tos ou não prestar seus serviços de uma relação à receita, gerando um lucro muito
maneira eficiente; pequeno, ou até mesmo prejuízo, fazendo
•• ter de pagar seus fornecedores em um que a empresa não consiga pagar suas con-
prazo bem menor que o prazo de recebi- tas em dia (NASCIMENTO, 2014, p. 3-4).
UNIDADE IV 125
Conheço muitas empresas que passam por difi- muito dinheiro e a distribuidora de gás estava indo
culdades devido a problemas justamente com o bem, foram tirando dinheiro de lá e colocando
capital de giro. E outras que fecharam cedo por não na loja. Para encurtar a história: insistiram tanto
entenderem que há um tempo entre a abertura da em uma empresa que não se sustentava (a loja),
empresa e o retorno oriundo de um ciclo opera- que comprometeram as finanças da outra empre-
cional já em funcionamento. Explico-me: para se sa (a distribuidora de gás) a ponto de quebrá-la.
abrir uma empresa, é necessário dinheiro. Ele pode Perderam tudo o que tinham e se mudaram para
ser próprio ou emprestado e deve ser suficien- a Inglaterra para trabalharem lá e conseguirem
te não só para abri-la, mas também para fazê-la dinheiro para que o filho que estava na faculdade
funcionar por um tempo, pois em um primeiro pudesse concluir os estudos. Parece conto de inter-
momento será necessário investimento em espa- net, mas não é. É uma história bastante real e que
ço físico, equipamentos, contratação de pessoal, eu já vi acontecer diversas vezes, em proporções
matérias-primas, materiais de escritório, sistemas maiores ou menores que essa. A questão crucial
de informação, divulgação… enfim, tudo aquilo nesse caso seria saber reconhecer quando o ciclo
que é necessário para fazer as primeiras levas de operacional de uma empresa não é sustentável e
produtos ou serviços serem lançadas no mercado. fechá-la enquanto é tempo!
Somente depois que a empresa estiver toda es- Veja, talvez seja uma questão de análise e de
truturada é que ela começará a vender seus produ- equilíbrio. Não se trata de desistir de um empreen-
tos ou serviços. E aí se a receita gerada é suficiente dimento quando na fase inicial de investimento e
para pagar todas as contas, o que sobra pode ser de não retorno e na qual o ciclo operacional ainda
reinvestido na empresa e isso completa o ciclo não está completo, e também, como vimos, não
operacional da empresa, ou ciclo de conversão é o caso de insistir em empresas que não se sus-
de caixa (NASCIMENTO, 2014). tentam. Sabemos, porém, que há outros elementos
Diversas são as questões referentes à adminis- envolvidos, talvez muito mais subjetivos: o apego
tração financeira de uma organização. Uma delas ao sonho, orgulho, teimosia, problemas em mudar
é compreender se o ciclo operacional da empresa de ramo ou atividade… é necessário estar atentos
é sustentável ou não. Já ouviu a expressão “dar a esses sinais e refletir sobre eles e sobre a nossa
murro em ponta de faca”? Pois é, às vezes é o que própria conjuntura de trabalho e financeira, antes
as pessoas fazem quando insistem em manter um que a situação chegue ao ponto de interferir nas
negócio mesmo quando o ciclo operacional dele finanças pessoais e familiares.
se mostra insustentável. Por falar em finanças pessoais, talvez esse seja
Nunca me esqueço de uma colega da época da um ponto também muito importante a ser con-
faculdade que me contou a história dos tios dela. siderado por você. O controle das finanças — ou
Eles tinham uma distribuidora de gás em uma a falta dele —, sejam elas de uma empresa ou as
cidade pequena. A distribuidora ia muito bem, próprias, é muitas vezes, uma questão de modelo
era antiga e uma das únicas da cidade, então tinha mental. Dificilmente alguém desorganizado com
muitos clientes e isso lhes rendeu muito dinheiro. as próprias finanças conseguirá ser um exímio ad-
Moravam em uma casa que ocupava quase um ministrador financeiro de uma organização. E o
quarteirão. Aí um dia a tia resolveu abrir uma loja inverso também procede: um bom administrador
de roupas e não sei maiores detalhes, mas a loja não financeiro de uma empresa provavelmente é bem
emplacou. Só dava prejuízo, mas como eles tinham organizado com suas próprias finanças.
UNIDADE IV 127
Vimos nesta unidade alguns conceitos de adminis- Em termos de administração financeira, o
tração financeira. Propositalmente não entramos ideal é ter um profissional apto para exercer essa
nos detalhes do que isso implica nas organizações, função. Também as demais podem ser bastante
pois não é o propósito deste material e exigiria pelo complexas dependendo da atividade da organiza-
menos mais de 500 páginas — que é o tamanho nor- ção, mas essa, sem dúvida, é a que permite todas as
mal de um bom livro de administração financeira. outras acontecerem, é o que sinaliza a viabilidade
Indico um bom livro no material complementar e de um negócio, então precisa de uma atenção es-
estimulo você a procurar esse conhecimento mais pecial e profissionalizada.
técnico e específico quando precisar dele. Bem, e assim concluímos nossa unidade. Nela
É importante dizer que, em muitas profissões você pôde ter as noções básicas das principais
que nada têm a ver com administração, o áreas funcionais da administração e ter uma ideia
profissional se vê obrigado a tratar dessas um pouco mais ampla do que significa gerir um
questões. Um bom profissional ama o que faz negócio. Pôde perceber, também, que diversas
e resolve abrir o próprio negócio: um chef de questões relacionadas às organizações refletem
cozinha resolve ser proprietário de um restau- ou são reflexos daquelas relacionadas também à
rante; um educador físico, de uma academia; um sua vida pessoal. Sim, não poderia ser diferente.
fotógrafo, de um estúdio; um arquiteto, engenhei- As organizações são feitas por pessoas e certas
ro ou advogado, de um escritório. E sabe o que características são indissociáveis e refletem nos
acontece? Ele não consegue mais fazer o que gosta. ambientes de trabalho.
Passa a cozinhar pouco, a dar poucas instruções, a Espero que esse conhecimento tenha lhe aju-
fotografar menos do que gostaria ou fazer menos dado a compreender um pouco mais do que con-
projetos porque tem que administrar a própria siste a vida organizacional em suas diversas áreas
empresa. Muitas vezes isso acaba em frustração. funcionais.
129
Assinale a alternativa correta:
a) Apenas I e II estão corretas.
b) Apenas II e III estão corretas.
c) Apenas I está correta.
d) Apenas I, III e IV estão corretas.
e) Nenhuma das alternativas está correta.
130
LIVRO
131
ADLMAIER, D.; SELLITTO, M. A. Embalagens retornáveis para transporte de bens manufaturados: um estudo
de caso em logística reversa. Production, v. 17, n. 2, p. 395-406, 2007.
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133
1. B.
2. D.
3. E.
134
135
136
Dra. Cláudia Herrero Martins Menegassi
Gestão Estratégica
PLANO DE ESTUDOS
Análise SWOT e
planejamento estratégico
OBJETIVOS DE APRENDIZAGEM
• Discutir sobre os níveis estratégico, tático e operacional • Descrever a Teoria de análise da estrutura da indústria
das organizações e conceitos de estratégia. e estratégias genéricas de Michael Porter e a Visão da
• Descrever a ferramenta estratégica de análise SWOT e sua Empresa Baseada em Recursos.
importância no planejamento estratégico.
Estratégia e Níveis
Organizacionais
UNIDADE V 139
Contudo, antes disso, vamos falar sobre a fábu- A fábula conta a história de seis homens cegos
la “os cegos e o elefante”, de John Godfrey Saxe do Hindustão que foram conhecer um elefante.
(1816-1887). Mintzberg, Ahlstrand e Lampel Cada um deles tocava em uma parte do elefante
(2000) iniciaram seu livro Safári de Estratégia — e tinha uma percepção acerca do animal. Para o
uma das maiores obras primas da estratégia — primeiro, que tocou o lado do elefante, o animal
com essa fábula, justamente para mostrar que em se assemelhava a um muro. O segundo tocou sua
se tratando de estratégia — assim como em tantas presa, então para ele o animal parecia uma lança.
outras instâncias da vida — há diversas formas de O terceiro tocou sua tromba e achou que se pa-
conceber um mesmo fenômeno, dependendo da recia mesmo era com uma cobra. O quarto tocou
percepção de quem o observa. o áspero joelho do elefante a achou muito seme-
““
Escola do Poder de negociação
somos os cegos e a formulação de estraté-
gia é nosso elefante. Como ninguém teve a Escola Cultural coletivo
UNIDADE V 141
Aqui não será nossa intenção falar sobre cada uma co importante que se origina não de um esforço
delas, pois entraríamos em uma discussão teórica formal de planejamento, nem do alto escalão
bastante aprofundada que não é nosso objetivo. decisório da organização, mas, em vez disso, as
O importante é perceber que há diversas formas estratégias se devem
“
“
de se conceber a estratégia. Inclusive até mesmo
o próprio conceito de estratégia muda de acordo a uma variedade de pequenas ações e decisões
com o pensamento adotado a respeito do tema. tomadas por todos os tipos de pessoas dife-
Vamos, então, para alguns deles. rentes (algumas vezes de forma acidental ou
Segundo a definição do grupo de Harvard, es- por sorte, em nenhuma consideração quanto
tratégia é “um conjunto coerente de objetivos que, às suas consequências estratégicas). Tomadas
ao serem atingidos, promoveria o devido ajuste em conjunto ao longo do tempo, essas peque-
da organização ao seu ambiente” (VIZEU; GON- nas mudanças frequentemente produziam
ÇALVES, 2010, p. 35). Nessa perspectiva, conside- grandes mudanças de direção (MINTZBERG;
ra-se o ambiente e os objetivos organizacionais. AHLSTRAND; LAMPEL, 2000, p. 135).
Para Sobral e Peci (2013, p. 206), estratégia é a
“busca deliberada por um plano de ação que per- Por vezes esse processo gera um outro talvez até
mita desenvolver, e continuamente ajustar, uma mesmo inusitado: estratégias emergentes do pas-
vantagem competitiva da empresa sobre seus con- sado se convertem em estratégias deliberadas para
correntes”. Esse conceito tem como base os planos o futuro. Isso se deve ao processo de aprendizagem
de ação e a ideia de competitividade. que ocorre nas organizações, que faz que reco-
Quando falamos em estratégia, de fato, na nheçam seus padrões em seus próprios compor-
maioria das vezes estamos nos referindo àquilo tamentos, ou seja, aquilo que funciona para elas
que é deliberado, ou seja, intencional, planejado e como fazer isso (MINTZBERG; AHLSTRAND;
propositalmente. Contudo, sabe-se que até mes- LAMPEL, 2000).
mo estratégias não pretendidas são consideradas Gosto muito dessa forma de se conceber a
estratégias! Mintzberg, Ahlstrand e Lampel (2000) estratégia por causa de seu enfoque nas carac-
e Mintzberg (2004) as denominam estratégias terísticas singulares de cada organização. Afinal,
emergentes. E o que são elas? São aquelas em que o aprendizado se dá de forma diferente em cada
“um padrão realizado não foi expressamente ambiente, dependendo de quem são as pessoas en-
pretendido. Foram tomadas providências, uma volvidas, do ramo de atividade ao qual se refere, no
a uma, que convergiram com o tempo para algum mercado e contexto no qual a organização está in-
tipo de consistência ou padrão” (MINTZBERG, serida… enfim, é uma forma de se valorizar tudo
2004, p. 35). Essa concepção é oriunda da Escola isso, toda essa riqueza de experiência e aprendi-
de Aprendizado, que sugere que as organizações zado e agir da melhor forma para aquele contexto
aprendem ao longo do tempo e que há um redi- específico. E quantas vezes isso é ignorado por
mensionamento e redirecionamento estratégi- modelos estratégicos rígidos e pré-definidos!
““
estratégico.
1. A estratégia esforça-se para definir o me-
lhor futuro, não apenas o mais óbvio ou uma
extrapolação do passado.
2. Esse futuro precisa ser algo que se possa
alcançar. [...] o processo da elaboração da estratégia pre-
3. Deve haver um roteiro lógico para al- cisa ser considerado tanto de cima para baixo
cançá-lo. quanto de baixo para cima. Valiosos insights para
4. Por fim, esse futuro deve ser comunica- a formulação de estratégias podem partir tanto
do claramente à empresa para que se torne daqueles que as implementam quanto daque-
realidade (MCKEAN, 2012, p. 26). les que as elaboram (ou assim acreditam). Além
disso, a implementação e quaisquer defeitos ou
O primeiro ponto se refere àquela expressão “pensar novos insights que surjam podem constituir a
fora da caixa”, para que não somente a extrapolação base da estratégia do amanhã. Na verdade, a
do passado seja considerada, mas também coisas implementação vem a ser uma parte do processo
completamente novas — mesmo que seja para co- de formulação de estratégia.
locar tudo em uma balança e verificar que a melhor Fonte: Carter, Clegg e Kornberger (2010, p. 112).
estratégia no momento seja mesmo somente extra-
UNIDADE V 143
Análise Swot e
Planejamento
Estratégico
Análise do
ambiente
externo
Análise de
pontos fortes
e fracos
UNIDADE V 145
O modelo SWOT foi concebido por Kenneth An- as que podem ser desenvolvidas, análise de oferta
drews e o chamado grupo de Harvard do qual ele e demanda, mudanças políticas e legais, relacio-
fazia parte, e namento com sindicatos e até mesmo condições
“
“
de clima e temperatura, dependendo da natureza
[...] corresponde ao ajuste interno através da da atividade (agricultura ou comercialização de
observação das tendências em determinado produtos agrícolas, por exemplo, ou o turismo em
setor. Ou seja, o papel da gerência geral de regiões procuradas por suas características climá-
uma organização seria a ativação das forças ticas). Bom, aqui os exemplos ocupariam o livro
e a eliminação das fraquezas, no sentido de todo, porque afinal de contas cada organização
aproveitar as oportunidades de mercado, mas terá seu próprio ambiente externo, ou seja, terá
também para se proteger das ameaças do am- sua própria gama de elementos que a influenciam
biente (VIZEU; GONÇALVES, 2010, p. 34). ou são influenciados por ela.
A ideia dessa análise é conhecer a organização
Apesar da sigla SWOT ser a mais comumente e seu ambiente do modo mais amplo e realista
usada mesmo em publicações em português, al- possível, para assim poder desenvolver um pla-
guns autores a traduziram como FOFA (forças, nejamento estratégico com mais chances de êxito.
oportunidades, fraquezas e ameaças). Vamos falar um pouco mais de cada uma dessas
Trata-se da análise tanto de dentro quanto de quatro variáveis de análise.
fora da organização, para assim se ter as infor- As forças são aquilo que a empresa faz
mações e a compreensão necessárias para poder de melhor ou tem de potencial. Aqui caberia
começar a se pensar em planejamento estratégico. identificar o que a organização como um todo
Forças e fraquezas é o olhar para dentro. Signifi- e também cada um de seus membros e equipes
ca analisar quais são os pontos fortes e os fracos da fazem bem ou tem o potencial de fazer, de acor-
organização. Isso envolve uma série de elementos do com suas características e conhecimentos.
a serem considerados, tais como localização, Também a análise de quais recursos possui ou
pessoal, estrutura, tecnologia utilizada, carteira tem acesso, quais deles representam diferencial
de clientes, participação de mercado, poder de ou algo que alavanca sua produção ou contribui
barganha, parcerias com fornecedores e tantos e para a oferta de bons serviços. E entraria até mes-
tantos outros aspectos. mo a análise da imagem da organização, ou seja,
Oportunidades e ameaças é o olhar para fora da
organização, ou seja, para o ambiente externo. E
qual ambiente deve ser esse? A região onde
se encontra a empresa? Todo o planeta
Terra? Nem uma coisa nem outra.
Significa tudo aquilo que é exte-
rior à organização e que de algum
modo a influencia ou pode vir a
influenciar, o que inclui: a conjuntura
econômica e social, os concorrentes, as pers-
pectivas de inserção no mercado de determinado
produto ou serviço, as tecnologias disponíveis e
UNIDADE V 147
Em termos pessoais, o planejamento estraté-
Informação gico ajuda muito também em termos de prepa-
ro. Se quero daqui a dez anos morar na Itália e
trabalhar com engenharia, é importante que eu
faça o curso de engenharia, que me informe sobre
Definição Execução o modo de validar meu diploma lá e comece desde
Estratégia agora a aprender italiano. “O tempo voa”, não é
mesmo? Olha aí outra máxima popular — e muito
verdadeira! Se o planejamento não incluir os pla-
nos de ação, ou seja, aquilo que vou fazer de fato
Integração para atingir o meu objetivo, os dez anos chegam
da mesma forma e a oportunidade poderá não es-
tar lá — pela falta do meu preparo. Falta de sorte?
Isso tudo se aplica também em termos
Figura 2 - Informação e estratégia competitiva organizacionais. Os recursos de uma empresa,
Fonte: McGee e Prusak (1993, p. 10).
os investimentos que devem ser realizados, os
Você já deve ter ouvido aquela famosa definição contatos a serem estabelecidos, as pessoas a
de sorte. Não tenho como colocar a fonte dela serem contratadas — ou mantidas, ou desligadas
aqui porque já li e ouvi de um bocado de lados —, tudo isso e muito mais são questões a serem
diferentes essa mesma máxima, então seu autor pensadas diante do objetivo estratégico da orga-
primeiro deve ter se perdido no tempo já... A má- nização. Queremos chegar lá e o que fazer nesse
xima é: “sorte é o encontro da oportunidade com o meio tempo para estarmos preparados?
preparo”. Bem, há controvérsias em determinados As oportunidades também podem aparecer
aspectos. Algumas coisas podem ser apenas pura inesperadamente. Sendo assim, talvez não haja —
sorte mesmo, interpretadas como obras do acaso, pelo menos até o momento — preparo suficiente
ou presentes de Deus. Outras — a maioria esma- para aproveitá-las. Contudo, aí entra a análise de
gadora — requer também nossa parte: o preparo. riscos e de retornos que a oportunidade ofere-
Receber uma ótima proposta de emprego nos Es- ce. Para aproveitar essa oportunidade, a empresa
tados Unidos e não saber falar inglês, pode ser a precisaria comprar uma máquina específica ou
falta de preparo em idiomas e os exemplos aqui contratar mais gente ou estabelecer uma parce-
seriam infinitos. Talvez você tenha tantas opor- ria. Quais são os prós e os contras dessas ações?
tunidades e esteja tão preparado para elas que Caso as vantagens sejam maiores — tendo, é claro,
nem se dê conta mais disso. Nem vê mais como uma visão holística e ética do termo “vantagens”
sorte, mas como coisas legais que acontecem na —, pode se tratar mesmo de uma oportunidade
sua vida. Talvez o sentimento ainda seja de que para a qual valha a pena “ajustar o preparo”. Se as
faltam algumas coisas e que novas oportunida- desvantagens forem maiores, talvez não se trate
des podem aparecer se você estiver preparado exatamente de uma verdadeira oportunidade e
para coisas específicas: acho que você está aqui, seja melhor não seguir por esse caminho. Análise
fazendo este curso e lendo neste momento este de risco e de impacto dentro e fora da organização
material justamente por essa razão. é fundamental nesse processo.
Análise Análise
externa interna
Avaliação subjetiva
e implementação Estratégia
estratégica
Modelo básico do grupo de Harvard
UNIDADE V 149
O que Ansoff acrescentou à ideia do grupo de pecificação do responsável pelo processo; a con-
Harvard foram “as operações que cada setor da sideração da missão, visão e valores da organiza-
organização deverá desempenhar no curto e no ção; a avaliação do ambiente interno e externo; a
médio prazo para concretizar estes objetivos de identificação de questões estratégicas relevantes
longo prazo” (VIZEU; GONÇALVES, 2010, p. 45). à organização; e a formulação das estratégias em
Bem, em se tratando de planejamento estraté- si (BRYSON, 1988).
gico, é evidente que não somente a análise SWOT O que todos eles têm em comum? A análise
é importante. Há outros instrumentos, como a SWOT, que serve de base para a qualquer planeja-
análise de portfólio proposta pelo Boston Con- mento estratégico e, a partir dela, o planejamento
sulting Group — a famosa matriz BCG — entre detalhado dos planos de ação específicos, con-
diversos outros. É importante lembrar que as fer- tendo equipe executora, custos, prazos, recursos
ramentas são fundamentais, mas não possuem necessários e resultados esperados. O segredo é
um fim em si mesmas. Elas são a base para todo reservar um tempo para isso, e não somente uma
o planejamento estratégico que advém delas, con- vez, mas um espaço semanal na agenda do gestor
siderando tempo, recursos, investimentos, formas e talvez também da equipe para se pensar sobre
de se realizar as ações e assim por diante. aonde a organização pretende chegar e os meios
Há vários modelos de planejamento estraté- para isso, com metas viáveis, de curta, média e
gico, muitos mesmo. A tese de Coral (2002) traz longa exequibilidade e mensuráveis.
muitos desses modelos, inclusive sistematizando- Talvez hoje o trabalho dos coaches tenha tan-
-os em um extenso quadro. Alguns dão ênfase ao to sucesso nem tanto pelo que acrescentam em
mix de produto ou mercado (modelos de Ansoff; termos de conteúdo ou insights, mas porque, de
Ackoff; e Gracioso, por exemplo), outros à van- certo modo, “obrigam” as pessoas a pararem suas
tagem competitiva (como os de Cunha; Certo e atividades e pensarem a respeito das metas e do
Peter; Tavares; e Oliveira), valores da alta gestão e planejamento para cumpri-las, tanto em termos
processo de planejamento (como Andrews) e até organizacionais como pessoais. Desafio você a se
mesmo planejamento em ambientes turbulentos organizar para reservar esse tempinho semanal
(Rasmussen). Veja que há modelos de planeja- (meia hora talvez já seja suficiente), sem inter-
mento estratégico para diversas finalidades e cada rupções e dedicado à profunda reflexão sobre o
um deles propõe um caminho a ser seguido, al- que você quer para sua vida e para sua carreira
guns dando ênfase ao controle (como os modelos ou sua empresa, com base na análise das forças,
de Cunha; e Certo e Peter), outros ao processo de fraquezas, oportunidades e ameaças, e traçando
implantação do planejamento estratégico (como os planos de ação específicos para essa finalidade.
Ackoff) e assim por diante (CORAL, 2002). Tendo compreendido a análise SWOT e alguns
Há até mesmo modelos de planejamento es- elementos básicos de planejamento estratégico,
tratégico para organizações que não visam lucro. vamos conhecer agora duas das principais cor-
Inclui elementos como a concordância a respeito rentes estratégicas existentes: o modelo de Porter
da realização do planejamento estratégico; a es- e a Resource-Based View.
UNIDADE V 151
O modelo de Porter tem como foco o ambiente indústria depende de cinco forças competitivas
no qual a empresa está inserida. Ambiente no básicas: i) a ameaça de novos entrantes; ii) o poder
sentido de espaço de competição e relacionar a de negociação dos compradores; iii) a ameaça de
empresa ao seu ambiente é a essência da formu- produtos ou serviços substitutos; iv) o poder de
lação de uma estratégia competitiva, segundo negociação dos fornecedores; e v) a rivalidade
Porter (2004). entre as empresas existentes. Estas cinco forças
O grau de concorrência em uma determinada estão representadas na Figura 4.
ENTRANTES
POTENCIAIS
Ameaça de novos
entrantes
FORNECEDORES COMPRADORES
Rivalidade entre as
empresas existentes
Ameaça de produtos
ou serviços substitutos
SUBSTITUTOS
Figura 4 - Forças que dirigem a concorrência na indústria As cinco forças competitivas em conjunto deter-
Fonte: Porter (2004, p. 4). minam a intensidade da concorrência na indústria
e, consequentemente, sua rentabilidade. E por que
essa preocupação com a concorrência? Porque “a
concorrência em uma indústria age continuamen-
te no sentido de diminuir a taxa de retorno sobre
o capital investido na direção da taxa competitiva
Indústria na teoria de Porter significa: “o grupo básica de retorno” (PORTER, 2004, p. 5).
de empresas fabricantes de produtos que são Vamos falar sobre cada uma das cinco forças.
substitutos bastante próximos entre si” (PORTER, É importante destacar que essa análise pode ser
2004, p. 5). feita por ambos os interessados: as empresas que
E quando se fala em produto, é no sentido de já estão na indústria e também aquelas que pre-
produto final de uma indústria, que pode ser tendem nela entrar. Ou seja, se estou na indústria,
tanto um produto de fato quanto um serviço preciso analisar a nova configuração quando um
(PORTER, 2004). novo concorrente entra ou, ainda, me prevenir
para o caso disso acontecer (por meio de produtos
Economias de escala Referem-se aos declínios nos custos unitários de um produto à medida que
o volume absoluto por período aumenta. É uma barreira de entrada porque
força a empresa entrante a ingressar em larga escala e arriscar-se a uma
forte reação das empresas existentes ou a ingressar em pequena escala e
sujeitar-se a uma desvantagem de custo.
Diferenciação Significa que as empresas estabelecidas têm sua marca identificada e de-
do produto senvolvem um sentimento de lealdade em seus clientes. A diferenciação
cria uma barreira à entrada, forçando os entrantes a efetuarem pesados
investimentos para superar os vínculos estabelecidos entre os clientes e as
empresas já existentes.
Custos de mudança É o custo com que se depara o comprador quando muda de um fornecedor
de produto para outro. Se esses custos são altos, os entrantes precisam
oferecer algo que faça que o comprador deixe um produtor já estabelecido
para optar pelo novo.
Acesso aos canais de Os canais de distribuição lógicos provavelmente já são usados pelas em-
distribuição presas existentes. É um desafio à entrante conseguir espaço nesses canais
ou criar outros, se for o caso.
Política O governo pode limitar ou mesmo impedir a entrada em indústrias com con-
governamental troles como licenças de funcionamento e limites ao acesso a matérias-primas.
UNIDADE V 153
“
“
Você pode perceber que essa primeira análise os fornecedores podem exercer poder de
da indústria é fundamental para quem pretende negociação sobre os participantes de uma
iniciar um novo negócio. Pode poupar muitos indústria ameaçando elevar preços ou re-
prejuízos! duzir a qualidade dos bens e serviços for-
Vamos falar agora sobre o poder de negociação necidos. Fornecedores poderosos podem
dos compradores. Segundo Porter (2004, p. 26), consequentemente sugar a rentabilidade
“
“
de uma indústria capaz de repassar os au-
os compradores competem com a indústria mentos de custos em seus próprios preços
forçando os preços para baixo, barganhando (PORTER, 2004, p. 28-29).
por melhor qualidade ou mais serviços e
jogando os concorrentes uns contra os ou- Um grupo de fornecedores exerce demasiada
tros - tudo à custa da rentabilidade da in- influência sobre a empresa ou a indústria, quan-
dústria. O poder de cada grupo importante do: é dominado por poucas companhias e é mais
de compradores da indústria depende de concentrado do que a indústria para a qual vende,
certas características quanto à sua situação a indústria não é um cliente importante para o
no mercado e da importância relativa de fornecedor, os produtos dos fornecedores são in-
suas compras da indústria em comparação sumos fundamentais para o negócio do compra-
com seus negócios totais. dor, os produtos do fornecedor são diferenciados
ou há custos elevados de mudança, entre outros
O grupo de compradores terá maior poder de in- (PORTER, 2004).
fluência conforme algumas características estejam Por fim, a rivalidade entre as empresas existen-
presentes, tais como: estar concentrado ou adqui- tes. Porter (2004) compreende essa relação entre
rir grandes volumes em relação às vendas do ven- concorrentes como aquela que assume geralmente
dedor; impactar no orçamento do comprador; o a forma de disputa por posição, com táticas rela-
comprador ter total informação; enfrentar poucos cionadas a preço, publicidade, garantias e imagem
custos de mudança, entre outros (PORTER, 2004). da empresa com relação aos clientes e assim por
Sobre a ameaça de produtos ou serviços subs- diante. Há vários fatores que influenciam essa
titutos: Aqui se trata da relação custo/benefício relação. Porter (2004) elenca alguns deles, mas o
do substituto e da indústria analisada; o nível e que chama a atenção é esse pressuposto do autor
o impacto da ação coletiva tanto do substituto de que a empresa quer sempre que a concorrente
quanto da indústria analisada e o lucro médio se dê mal. Esse pode ser o objetivo de muitas delas,
do substituto (VIZEU; GONÇALVES, 2010). Es- mas há também tantas outras — talvez cuja gestão
ses pontos compõem a análise mínima a ser feita esteja influenciada por valores diferentes — em
acerca dos produtos ou serviços substitutos. que os concorrentes não são vistos como inimigos,
A respeito do poder de negociação dos for- mas como parceiros de um mesmo segmento e
necedores, seu poder de barganha ou de nego- que podem, inclusive, se ajudarem em caso de
ciação também é bastante relevante na análise necessidade. Veremos alguns casos de gestão di-
da indústria: ferenciada pautada em valores na Unidade VIII.
VANTAGEM ESTRATÉGICA
No âmbito
LIDERANÇA NO
ALVO ESTRATÉGICO
de toda a DIFERENCIAÇÃO
CUSTO TOTAL
indústria
Apenas um
segmento ENFOQUE
particular
Esse é o coração da visão estratégica Porteriana. mesma teoria com outros nomes: Resource-Ba-
É claro que sua análise se estende e se desenvolve sed Model (RBM), Resource-Based Perspective
para diversos contextos, inclusive para países, mas (RBP), e Resource-Based Theory (RBT). E, ainda,
aqui focaremos no conhecimento desse núcleo em português, como Visão da Empresa Baseada
básico da teoria de Porter, tão relevante para o em Recursos (VBR). O termo mais utilizado na
estudo da estratégia. literatura, mesmo em publicações nacionais, é Re-
Passamos agora para a Resource-Based View source-Based View (RBV), por isso, usaremos aqui
(RBV). Você também poderá encontrar essa essa nomenclatura (MENEGASSI, 2013).
UNIDADE V 155
Você perceberá que a RBV não tem a clareza No entanto, a autora ainda traz algo bastante
conceitual que tem a teoria de Porter. E por que importante a respeito da análise dos recursos das
isso? Porque Porter sozinho criou aquela teoria, firmas: os serviços prestados pelos recursos. Trago
então ela tem todo um sentido lógico das coisas, suas palavras para explicar melhor essa ideia:
“
“
enquanto a RBV é uma teoria construída a partir
de diversos autores que nem estavam exatamente em termos estritos, nunca são os recursos
ligados entre si, mas que se inspiraram no anterior em si que constituem os insumos do pro-
para fornecerem um insight a mais. E nesse pro- cesso produtivo, mas apenas os serviços
cesso há, é claro, diferentes formas de interpreta- que eles podem prestar. Os serviços pro-
ção e de condução da trajetória da teoria. porcionados pelos recursos são função do
O início de tudo, dizem as boas línguas (arti- modo pelo qual eles são utilizados, com
gos científicos), deu-se na obra de Edith Penrose, exatamente o mesmo recurso podendo ser
economista, em sua obra originalmente de 1959, usado para diversos fins ou de modos dife-
que foi traduzida como “A teoria do crescimen- rentes, e em combinação com vários tipos
to da firma”, publicada no Brasil em 2006. Nessa ou várias quantidades de outros, podendo
obra, a autora — lembrando: economista — foi proporcionar diferentes serviços ou conjun-
além daquilo que se caracterizava como análise tos de serviços. A importante distinção entre
econômica até a época, que pouco considerava o os recursos e os serviços não reside em suas
interior das “firmas” (entenderemos aqui firmas durabilidades respectivas, mas no fato de
como empresas ou organizações) e procurou que os recursos constituem um conjunto de
analisar “se havia algo inerente na natureza delas serviços potenciais, podendo em sua maio-
que tanto promovia o seu crescimento como ria ser definidos independentemente do seu
limitava seu ritmo” (PENROSE, 2006, p. 12). uso, enquanto a própria palavra “serviço”
Como muitos estudos já existiam a respeito da já implica uma função ou uma atividade
análise do ambiente externo, em termos econômi- específica (PENROSE, 2006, p. 62-63).
cos, a perspectiva de Penrose (1959) foi de trazer a
ideia de que para que a firma pudesse responder Essa análise nos permite compreender uma pers-
positivamente a uma oportunidade ou conjuntura pectiva fundamental de análise para a teoria que
externa, precisaria ter recursos internos disponíveis dela adveio (a Resource-Based View), que:
“
“
para isso, e aí lançou sua teoria a respeito do cresci-
mento das firmas: “argumentamos que a expansão para a autora, portanto, os serviços são as
das firmas se baseia em boa parte nas oportunidades contribuições que os recursos podem pro-
de usarem mais eficientemente os recursos produ- porcionar às atividades produtivas da firma,
tivos de que dispõem” (PENROSE, 2006, p. 147). o que faz com que todo recurso seja visto
Como recursos internos das firmas, a autora com- como um conjunto de possíveis serviços.
preende os “serviços produtivos de que elas dispõem Desse modo, não é a análise dos recursos em
com base em seus próprios recursos” (PENROSE, si que dá os resultados esperados, mas sim a
2006, p. 36). E esses recursos podem ser tanto os que análise dos serviços que são de fato presta-
fazem parte da própria empresa quanto os que possam dos por cada recurso material ou humano,
ser adquiridos ou herdados, e podem ser tanto mate- ou seja, daquilo que eles podem proporcio-
riais quanto humanos, ou seja, tangíveis ou intangíveis. nar às firmas (MENEGASSI, 2013, p. 40).
UNIDADE V 157
Sendo assim, a análise dos recursos precisa ser mas causam diferença de desempenho; [2] as fir-
minuciosa, ou seja, deve-se considerar também mas procuram aumentar (se não necessariamente
como eles são adquiridos, o custo deles, a relação maximizar) seu desempenho econômico” (FOSS,
dos novos recursos com aqueles que já existem 1997, p. 4, tradução nossa).
nas empresas, a combinação entre eles, quanti- O que isso tudo quer dizer? Que cada organi-
dade, qualidade, defasagem, prazo de aquisição e zação terá sua própria configuração de recursos
disponibilidade de cada recurso (BRUSH; GREE- mediante suas perspectivas estratégicas e que
NE; HART, 2002). isso não muda muito com o tempo. Claro! Ima-
Uma análise fundamental quando se pensa gine que a cada ano a empresa quisesse focar
em recursos é a combinação daqueles recursos em outra coisa e fazer tudo diferente — o que
que já existem na organização com os possíveis necessitaria de novos recursos. Isso não seria
novos recursos. Você já comprou uma linda peça viável. Vamos lembrar: não se trata de renovar
de roupa que depois não conseguiu usar com nada o guarda-roupas inteiro, mas de adquirir peças
que você já tinha no guarda roupas? Pois é, aqui a que combinem com aquelas que você já tem.
lógica é semelhante. Não adianta parecer um óti- Assim também nas organizações. Isso evita
mo recurso a ser adquirido. Se ele não “combinar” custos desnecessários.
com aqueles que a organização já possui, pode ser Sobre as suposições, é evidente que a maneira
um investimento em vão. como uma organização alocará seus recursos
De fato, uma organização não é um amontoa- influenciará diretamente no seu desempenho e
do de recursos, mas uma combinação de recur- que o que as organizações procuram é a melhor
sos complementares que fazem dela algo viável forma para aumentar esse desempenho econô-
e sustentável. Além disso, quando se trata de mico.
vantagem competitiva e de análise dos recursos Grant (1991) afirma que são os recursos das
para esse fim, Wernerfelt (1995) chama a aten- organizações que sustentam suas estratégias no
ção para uma realidade: não dá para ganhar em longo prazo e isso ocorre porque “primeiramente,
todas as frentes: é necessário escolher “as lutas” recursos internos e capacidades proporcionam a
em que a organização pretende se empenhar; orientação básica para a estratégia de uma empre-
assim, procurará investir nos recursos necessários sa; segundo, recursos e capacidades são a principal
para essas atividades específicas em que quer se fonte de lucro para a empresa” (GRANT, 1991, p.
destacar da concorrência. 116, tradução nossa). Desse modo, o autor pro-
Nicolai Foss (1997) traz importantes conceitos põe um modelo de cinco etapas para a utilização
sobre a Resource-Based View, por ele chamada de da Resource-Based View para a formulação de
Resource-Based Perspective, ou RBP. O autor afir- estratégias:
“
“
ma que a RBP tem duas generalizações empíricas
de base: “[1] há diferenças sistemáticas entre as a análise dos recursos básicos da empresa, a
firmas na medida em que elas controlam os recur- avaliação das capacidades presentes nela, a
sos que são necessários para a implementação de análise do alcance da lucratividade poten-
estratégias; [2] essas diferenças são relativamen- cial dos recursos e capacidades da empresa
te estáveis” (FOSS, 1997, p. 4, tradução nossa). E e a ampliação e modernização do conjunto
acrescenta a essas generalizações, duas suposições: de recursos e capacidades da empresa (ME-
“[1] diferenças nas alocações de recursos das fir- NEGASSI, 2013, p. 47).
““
a respeito do investimento em recursos:
“
“
(a) deve ser valioso, no sentido de que ele
explora oportunidades e/ou neutraliza Barney (1989) defende a importância da
ameaças no ambiente da firma, (b) deve ser análise do custo de aquisição dos recursos,
raro dentre os concorrentes atuais e poten- uma vez que o recurso se torna estratégico
ciais da empresa, (c) devem ser imperfei- somente quando seu custo de oportunida-
tos quando imitados, e (d) não pode haver de é menor do que o retorno que ele pode
substitutos estratégicos equivalentes para trazer à empresa (MENEGASSI, 2013, p. 50).
esse recurso que sejam valiosos nem raros
ou imperfeitos quando imitados (BARNEY, Collins e Montgomery (1995) seguem nessa mes-
1991, p. 105-106, tradução nossa). ma linha, propondo que se façam alguns “testes”
além daquele de mercado (se no mercado o re-
Aqui abro um parênteses sobre meu fascínio por curso é considerado ou não como valioso) para
essa teoria. Primeiramente: os gestores de fato in- compreender se um determinado recurso poderá
serem em suas atividades cotidianas uma análise ser a base para uma estratégia efetiva. Os autores
sobre os recursos que já existem na organização sugerem que sejam feitos ao menos os seguintes
e na forma como podem ser utilizados e, ainda, testes a respeito do recurso:
UNIDADE V 159
““
“(1) o teste da não imitabilidade: o recurso é
difícil de ser copiado? [...]; (2) O teste da du-
rabilidade: quão rapidamente esse recurso
se deprecia? [...]; (3) O teste da apropriação:
quem detém o valor que o recurso cria? [...];
(4) O teste da substituibilidade: um recurso
único pode ser superado por um recurso
diferente? [...]; (5) O teste da superioridade
competitiva: os recursos de quem são real-
mente melhores? (COLLINS; MONTGO-
MERY, 1995, p. 120-123, tradução nossa).
160 Gestão estratégica
Sem dúvidas, cada um desses testes é fundamen- utilizados em uma certa configuração ou combi-
tal para a análise de um recurso. Essas questões nação com demais recursos e o resultado disso foi
podem ser a base de importantes decisões acerca analisado. Então, é difícil também identificar com
de investimentos a serem feitos em recursos e de exatidão se um recurso será ou não fonte de van-
possíveis combinações entre eles. tagem competitiva antes de adquiri-lo e utilizá-lo.
É claro que, como toda teoria, a Resource-Ba- Bem, conforme podemos notar, a Resource-
sed View tem também suas fraquezas conceituais. -Based View se trata de uma teoria bastante rea-
Uma das maiores críticas referentes a ela é a am- lística por um lado (todas as empresas possuem
biguidade causal. O que seria isso? recursos e é legítimo analisá-los sob a ótica da
Bem, “em algum nível, tudo na empresa se vantagem competitiva, pois eles são parte fun-
torna um recurso e, portanto, recursos perdem damental desse processo) e subjetiva por outro
poder de explicação” (CONNER, 1991, p. 145), (difícil ter exatidão sobre as relações causais que
não é verdade? Diericks e Cool (1989 apud ME- os envolvem).
NEGASSI, 2013, p. 55) explicam essa questão da O que podemos tirar de aprendizado dessas duas
ambiguidade causal da seguinte forma: teorias principais da estratégia que abordamos aqui
““
— a de Porter e a RBV — é que existe mais de uma
A ambiguidade causal é tida na RBV como maneira de se conceber a estratégia e que é possível
um problema de ordem gerencial, uma vez e desejável que sejam feitas análises considerando
que, havendo um desempenho superior da ambas as perspectivas: a que analisa a indústria e as
empresa, esse desempenho é conseguido forças competitivas externas e os recursos de que
através da articulação de recursos, mas uma empresa dispõe ou pode vir a dispor.
não se sabe ao certo em função de quais O que se espera é justamente isto: visão estraté-
recursos. O conceito de ambiguidade cau- gica. E o que isso significa? Um olhar mais amplo
sal refere-se à impossibilidade dos próprios possível a respeito de todos os elementos relacio-
gestores e também dos concorrentes, em nados à organização e sua atividade, bem como a
distinguir qual recurso ou qual combinação conjuntura em que seu ambiente se encontra e os
exata de recursos levaram determinada em- recursos disponíveis.
presa a obter vantagem competitiva, dada a Com essa visão, é possível pensar estrategica-
complexidade da combinação dos recursos. mente todos os tipos de organização: um escritório
de engenharia ou arquitetura, uma loja de atacado
Reed e DeFillippi (1990) trazem alguns elementos ou varejo, uma universidade, uma empresa de lo-
que, segundo eles, colaboram para o problema gística, indústrias, organizações não governamen-
da ambiguidade causal: o conhecimento tácito, a tais…. enfim, todas elas. Até mesmo em termos
complexidade dos recursos e suas especificidades. pessoais se pode ter esta mesma perspectiva!
De fato, por serem elementos de difícil mensura- Finalizamos, então, esta unidade sobre estra-
ção e análise, é difícil compreender objetivamente tégia. Tenho certeza de que seu conhecimento
a relação causal deles com a vantagem competitiva sobre esse tema tão fascinante e tão importante
sustentável de uma empresa. para qualquer tipo de organização se elevou e sua
Outra crítica à RBV é que geralmente os recursos visão sobre todos os elementos que fazem parte
só são classificados como importantes para a vanta- direta ou indiretamente de uma empresa nunca
gem competitiva ex post, ou seja, depois que já foram mais será a mesma.
UNIDADE V 161
Você pode utilizar seu diário de bordo para a resolução.
162
Assinale a alternativa correta:
a) Apenas I e II estão corretas.
b) Apenas II e III estão corretas.
c) Apenas I está correta.
d) Apenas II, III e IV estão corretas.
e) Nenhuma das alternativas está correta.
163
LIVRO
FILME
164
WEB
WEB
E este que faz uma crítica à sua tipologia: “Porter revisitado: análise crítica da
tipologia estratégica do mestre”, dos autores: Jorge Manoel Teixeira Carneiro;
Maria Alice Ferreira Deschamps Cavalcanti; Jorge Ferreira da Silva.
Para acessar, use seu leitor de QR Code.
165
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167
1. A.
2. D.
3. A.
168
169
170
Dra. Cláudia Herrero Martins Menegassi
Gestão de Projetos
PLANO DE ESTUDOS
O fator humano e a
gerência nos projetos
OBJETIVOS DE APRENDIZAGEM
• Discutir sobre o que constitui um projeto e a gestão de • Discutir sobre a análise ambiental e a viabilidade dos pro-
projetos em suas diversas etapas. jetos em suas diversas dimensões.
• Discutir sobre as questões referentes às pessoas envol-
vidas no projeto, tanto com relação à equipe executora
quanto à gerência do projeto.
Características
de Projetos
Caro(a) aluno(a)!
Dedicaremo-nos a falar sobre gestão de pro-
jetos nesta unidade. Compreenderemos projetos
de um modo amplo, pois há diversos tipos deles,
alguns bastante técnicos que, é claro, demanda-
riam outros tipos de gestão. Outros, ainda, que
envolvem equipes muito numerosas ou que não
se encontram no mesmo espaço geográfico. En-
fim, para cada projeto, uma gestão customizada
e apropriada.
Sendo assim, nesta unidade dedicaremo-nos
aos aspectos gerais e comuns a todos os tipos de
projetos — ou da maioria deles. Isso envolve ques-
tões relacionadas às características comuns de um
projeto, o fator humano nessa gestão, o papel da
gerência de projetos e a importância da análise
do ambiente e de viabilidade.
Começamos a unidade, então, buscando dis-
correr sobre o que constitui um projeto e a ges-
tão de projetos em suas diversas etapas. Keeling
e Branco (2014, p. 2) trazem uma definição de
projeto do Project Management Institute (PMI),
considerada a maior associação mundial de ge-
renciamento de projetos:
““
em poucas palavras: ‘um esforço temporário E vamos lembrar que projeto é caracterizado
empreendido para criar um produto, ser- como tal porque também tem um fim previsto. O
viço ou resultado único’. Isso implica um encerramento de um projeto se dá quando:
prazo limitado, uma data estipulada para • as metas são alcançadas;
conclusão e um resultado diferente daquele • por decisão o projeto não é mais viável (ex:
produzido no curso da rotina operacional. tecnicamente ou economicamente); e
• as necessidades que o motivaram não exis-
A ideia é antiquíssima! Aplica-se desde a constru- tem mais (KEELING; BRANCO, 2014, p. 3).
ção de qualquer coisa já feita pela humanidade até
o projeto de um Estado ou nação dominar outro A primeira razão, é claro, é a mais previsível de
território. Para tudo foi necessário planejamento todas; é aquela que expressa o fim que se espera
e gestão de todo o processo envolvido. de um projeto: seu objetivo alcançado. As outras
Há projetos de curto, médio e longo prazos, duas são igualmente importantes, mas mais difi-
que envolvem recursos financeiros, materiais e cilmente identificadas. Entretanto, repito: igual-
humanos e estrutura de gestão. Keeling e Branco mente importantes ou, ainda, talvez até MAIS
(2014, p. 3) destacam algumas características co- importantes que a primeira.
muns aos projetos: Por que digo isso? Porque a primeira é o curso
• são empreendimentos independentes; normal das coisas e não é necessário tanto esforço
• possuem propósito e objetivos específicos; para reconhecê-la. Por outro lado, a segunda e a
• têm duração limitada (início e fim bem terceira requerem atenção, sensibilidade, análise,
definidos); reflexão e tudo o mais que se puder empregar
• entregam um resultado único; para conseguir tomar a decisão correta a tempo.
• recursos próprios (incluindo financeiros Tratam-se de situações muitas vezes que envol-
e humanos) e vem frustrações. Quando um projeto é desenha-
• administração e estrutura administrativa do, há envolvimento de pessoas que colocaram ali
próprias. suas ideias, suas aspirações, seus conhecimentos,
suas capacidades, seu tempo e seu dinheiro. En-
Quando vi essas características achei estranha a tender que é hora de finalizar o projeto mesmo
de “recursos próprios”, porque em uma primeira sem ter alcançado seu objetivo inicialmente tra-
olhadela me parecia que o autor estava dizendo çado porque ele não é mais viável é um desafio
que os recursos teriam que ser de posse da empresa, muito grande, por ter todos esses elementos en-
por exemplo, que estava fazendo o projeto e não volvidos.
de terceiros (como um investidor ou então obti- Reconhecer que as necessidades que motiva-
dos por meio de empréstimos ou financiamentos) ram o projeto não existem mais também é um
e isso me pareceu absurdo. Bem, talvez você não exercício desafiador. Em alguns casos, isso pode
tenha “viajado” no pensamento como eu e tenha se apresentar de forma clara, como o cancelamen-
entendido logo de cara o que o autor quis dizer: re- to de um contrato que dava base ao projeto, por
cursos próprios no sentido de recursos reservados/ exemplo. Em outros casos, pode ser algo mais
destinados especificamente para o projeto. Então, sutil e que requer análise aprofundada, como
são “próprios” nesse sentido, sejam eles recursos de perspectivas de demanda, mudanças no cenário
posse de quem está realizando o projeto ou não. econômico etc.
UNIDADE VI 173
O importante é saber que existe necessaria-
mente um ciclo de vida para o projeto e que ele
pode, inclusive, ser interrompido pelas várias ra-
zões sobre as quais já discutimos. Em geral, po-
rém, o ciclo compreende uma fase conceitual, de
planejamento, de execução e de conclusão.
A fase conceitual é aquela inicial, é a fase da
ideia do projeto, do nascimento dele até a aprova-
ção da primeira proposta. Algumas das atividades
típicas desta fase são:
• identificação de necessidades e/ou opor-
tunidades;
• tradução dessas necessidades e/ou opor-
tunidades em um problema;
• equacionamento e definição do problema;
• determinação dos objetivos e metas a se-
rem alcançados;
• análise do ambiente do problema;
• análise das potencialidades ou recursos
disponíveis;
• avaliação da viabilidade de atingimento
dos objetivos;
• estimativa dos recursos necessários;
• elaboração da proposta e venda da ideia;
• avaliação e seleção com base na proposta
submetida;
• decisão quanto à aprovação do projeto
(MENEZES, 2009, p. 48).
UNIDADE VI 175
Os stakeholders principais são estes definidos no Quadro 1:
Pessoas que compõem a equipe do projeto. Não são apenas aquelas ligadas
Membros
hierarquicamente ao gerente, são também os níveis hierárquicos superiores.
da equipe
Estes últimos possuem grande influência sobre a condução do projeto.
Caro(a) aluno(a)!
Iniciamos agora o segundo tópico da nossa
unidade, destacando pontos fundamentais da ges-
tão de projetos relacionados a um de seus princi-
pais elementos: o fator humano.
É claro que essa análise envolve também a
pessoa responsável pela gerência do projeto, pois
as decisões dela impactam tudo aquilo que diz
respeito a um projeto e às pessoas a ele vinculadas.
Primeiramente, só para alinharmos os termos,
o que é um gestor de projetos?
“
“
Um gestor de projetos é a pessoa que tem a
responsabilidade de entregar todos os com-
ponentes de um projeto. Essa pode ser uma
função de tempo integral ou uma atribuição
em determinada situação. O trabalho de um
gestor de projetos varia de um projeto para
outro, mas basicamente ele é responsável por
estabelecer o escopo do trabalho, planejá-lo
e determinar quais recursos são exigidos,
obter os recursos a serem alocados e então
gerenciar a conclusão das tarefas exigidas e
garantir a resolução de riscos ou problemas
antes que adiem ou interrompam qualquer
atividade (NEWTON, 2011, p. 3).
UNIDADE VI 179
Temos aqui uma questão bastante polêmica, Muito tempo pode ser poupado com isso e
ainda mais nos dias atuais: reuniões! também muito trabalho deixará de ser interrom-
Para alguns profissionais de agenda cheia, que pido por reuniões quando diversas coisas forem
sabem o que precisam fazer e que passam o seu resolvidas assim: rápida e eficazmente.
tempo, de fato, trabalhando, as reuniões podem Vamos nos lembrar, em meio a tudo o que en-
ser encaradas como grandes pesadelos, onde se volve pessoas, que estamos falando geralmente de
perde tempo e energia. Contudo, às vezes reuniões relações com certo grau de complicação. Pessoas
são necessárias. são diferentes, têm suas histórias de vida e expe-
Bem, nesses casos — e somente nesses casos riências que as influencia em seu modo de pensar
— elas se justificam e podem ser mais produtivas e de conviver com as demais pessoas; há também
quando alguns pontos são observados: 1) forem diferentes níveis de conhecimento técnico entre
agendadas com antecedência; 2) com horário para elas, de acordo com a formação de cada uma; há
começar E para terminar; 3) terem pauta pré-defi- também traços de personalidade que certamente
nida e pré-comunicada aos participantes, que te- é uma das coisas que mais se destaca quando as
rão a chance também com antecedência de propôr pessoas convivem em grupos.
itens para a pauta que forem necessários; 4) terem Enfim, é claro que em grupos de pessoas adul-
os assuntos tratados com objetividade; 5) tentar tas é importante que cada uma se comporte como
estabelecer a cultura do ouvir o outro com atenção tal e seja responsável por suas ações, por sua fala,
e até o fim, sem interrupções; 6) assuntos que dizem seu comportamento e assim por diante. Que cada
respeito somente a alguns membros da equipe de- um seja também responsável por melhorar como
vem ser tratados em momento separado, somente pessoa e como parte de um grupo social (seja
com a presença das partes interessadas; 7) ter uma ele uma equipe, uma organização ou a própria
pessoa responsável por registrar a ata da reunião família). Essa seria sem dúvida a situação ideal.
— importante para membros ausentes saberem o Todavia, é também papel do(a) gestor(a) inter-
que foi tratado e também para deixar documen- vir e orientar as pessoas no ambiente de trabalho
tadas as decisões tomadas; 8) que seja promovido quando há problemas de conduta ou comunica-
o clima de respeito e empatia entre as pessoas; 9) ção, com o propósito de garantir um ambiente
que informações importantes sobre o projeto sejam propício ao bom andamento das atividades.
repassadas a todos; e 10) que a próxima reunião E aqui entra a questão dos conflitos. Há vários
seja ainda mais fiel a esses pontos estabelecidos, a tipos de possíveis conflitos que podem aconte-
fim de serem cada vez mais produtivas! cer ao longo do desenvolvimento de um proje-
E atualmente, com tantas ferramentas de co- to. Podem envolver o patrocinador, o gerente, os
municação que podem ser utilizadas dentro de especialistas, a equipe em si… E para cada caso
uma organização — e-mail e grupos de whatsapp haverá uma forma diferente para solucionar a
para citar apenas duas ferramentas extremamente questão. Como há disciplinas no curso que tra-
simples e acessíveis a quase todas as organizações tam de comunicação e de relacionamentos entre
— é importante que se repense a real necessidade membros de equipes, não nos aprofundaremos
das reuniões. Talvez a ocorrência delas se reduza à nessas questões, mas lembramos que são extre-
metade ou menos que isso até, haja vista que mui- mamente importantes.
tas coisas podem ser resolvidas rapidamente por Trabalhar com pessoas será sempre um desa-
algum desses ou outros canais de comunicação. fio, não é? Newton (2011) traz alguns estereótipos
UNIDADE VI 181
“eu já tenho um projeto pronto para vocês” e O cliente de um projeto é alguém com expecta-
nos deu nas mãos um projeto. Sentimo-nos pro- tivas. Isso para dizer o mínimo. Dependendo de
fundamente desrespeitados. E nossos sonhos? que tipo de projeto estamos falando, há também
Nossos gostos? Nossa concepção de casa? Nada sonhos envolvidos, sentimentos, investimentos
foi perguntado, nada foi considerado. Ele já “ti- pesados frutos de sacrifícios… enfim, é necessária
nha nosso projeto pronto”. Sequer perguntou as primeiramente uma posição de respeito frente a
dimensões do terreno! Para sermos educados, tudo isso e a empatia é o próximo passo.
dissemos que se tratava de um excelente projeto, Além de todas essas características e compe-
certamente, mas que tínhamos uma concepção tências desejáveis elencadas, também pode ser de
de casa diferente e mais adequada ao nosso ter- grande valia o conhecimento do gestor de projetos
reno e dei um exemplo do que eu não queria a respeito da metodologia utilizada ou até mesmo
naquele projeto. Sua resposta: “ah, você vai querer da concepção que se tem de projetos e que irá cer-
sim! Porque assim fica muito melhor! Eu tenho tamente refletir na equipe, no modo de trabalhar
experiência de muitos anos nisso!”. Empatia zero, e também nos resultados.
não é? Nem todo mundo quer sobrados e pis- Já falamos sobre o PMBOK® e ele propõe nove
cinas e nem todos os terrenos são retangulares! áreas de conhecimento do gerenciamento de pro-
E quem faz dois tipos de esporte precisa de um jeto que deveriam sempre ser observadas: escopo,
espaço para guardar os muitos apetrechos deles. tempo, custos, qualidade, recursos humanos, co-
Enfim, nem preciso contar o final da história: municações, riscos, aquisições e integração, con-
não foi ele o escolhido para ser o nosso arquiteto. forme expresso na Figura 1:
RH
CUSTOS TEMPO
ESCOPO QUALIDADE
RISCOS
UNIDADE VI 183
dade de documentar tudo. Certamente isso exige uma disciplina toda só sobre isso no seu curso,
um grande senso de organização e de responsabi- dada a importância do que representa.
lidade de todos e em casos de empresas maiores Em suma, o que precisamos destacar neste tó-
e/ou mais complexas, a tendência é que se volte pico é a importância do fator humano nos proje-
à formalidade para não se perder ao longo dos tos — o que envolve a consideração sobre o cliente,
diversos processos (CARNEIRO, 2015). as equipes, suas características e desafios e o papel
Por fim, excelência comportamental. Aqui do gestor de projetos.
entram diversos fatores como motivação, boas Quanto ao gestor de projetos, certamente seu
relações interpessoais, comprometimento, ética, trabalho é muito mais amplo do que se imagina,
respeito, boa comunicação, entre tantos outros. pois o foco está tanto nos stakeholders, conside-
Quando há excelência comportamental em uma rando cada um deles, suas exigências e seu bem
equipe (será que isso existe no mundo real?) as estar, quanto na equipe do projeto em si, consi-
coisas certamente fluem muito melhor, pois o foco derando todas as suas nuances, necessidades e
passa a ser o projeto em si e não os problemas desafios e, ainda, a ponte com a alta gerência, para
comportamentais. Essa excelência talvez seja a poder conseguir os recursos necessários e para
mais difícil de se conseguir, mas pode ser bus- quem precisa dar retorno ao final do projeto.
cada e aprimorada, desde o processo de seleção Enfim, trata-se de um papel amplo, complexo
dos funcionários de uma empresa — ou de quem e decisivo na carreira de um gestor. O estilo de
fará parte do projeto específico — que já poderá liderança em casos como este em que o gestor
considerar traços de personalidade ou habilida- está envolvido em todas as frentes é peculiar e
des sociais desejáveis. Talvez seja também a mais exige dele preparo tanto técnico quanto relacional.
difícil de ser gerida pelo gestor de projetos, pois No próximo tópico, falaremos sobre um tópi-
exige muitas vezes intervenção desconfortável, co que está diretamente relacionado ao papel da
mas necessária da parte dele. Quando se trata de gerência de projeto também, que é a análise do
pessoas, é sempre um desafio à parte. Você terá ambiente e viabilidade.
UNIDADE VI 185
• Problemas de comunicação. listas! Além de realistas, bem definidos. Quando
• Escopo mal definido. o objetivo é vago, será confuso traçar as ações
• Falta de apoio dos patrocinadores. necessárias para alcançá-lo e o projeto poderá cair
• Patrocinadores fracos. no descrédito ou até no esquecimento.
• Definição insuficiente dos requisitos do Sobre os patrocinadores. Aqui caberia uma re-
produto do projeto. flexão aprofundada sobre eles. Como também são
• Estimativas fracas de prazo e/ou custo. pessoas (mesmo que às vezes por trás de organi-
• Falhas de planejamento. zações), também eles possuem diversos tipos de
• Falhas de projeto. “personalidade” ou comportamento. Há aqueles
• Despreparo da equipe. que se colocam em posição de constante controle,
• Falhas de fiscalização/controle. ou seja, querem saber detalhadamente como seu
• Inexistência de um sistema formal de con- dinheiro está sendo empregado. Outros são tão
trole de mudanças. ausentes que perdem até mesmo o interesse pelo
• Administração inadequada das expectativas projeto — o que é o primeiro passo para cancelar o
das partes interessadas. patrocínio. A relação com esse stakeholder especí-
• Conflitos de interesse entre membros da fico necessita de atenção. É gerenciar essa relação a
equipe do projeto. fim de que sua presença não seja nem tão próxima
• Conflitos com outros projetos da empresa. a ponto de interferir em detalhes e na estabilidade
• Administração ineficiente de recursos críticos. e equilíbrio da equipe e nem tão distante a ponto
• O não gerenciamento ou gerenciamento de esquecer do projeto ou desinteressar-se dele.
ineficaz dos riscos. Sobre as falhas de planejamento ou de projeto,
é evidente que elas podem existir, mas a ideia é que
E tantas outras coisas poderiam compor essa o planejamento seja feito de tal forma e abran-
lista! Vamos falar um pouco mais sobre alguns gente ao ponto de minimizá-las. Além disso, com
pontos dela. Alguns aspectos já foram tratados mudanças no ambiente ou em qualquer elemento
no tópico sobre o fator humano e a gerência nos que se relacione com o projeto, o planejamento
projetos, então vamos falar um pouco mais sobre inicial pode precisar ser alterado e nesse ponto
outros aspectos. a flexibilidade e a abertura à mudança pode ser
Problemas com o escopo do projeto. Sem dúvi- fundamental para a viabilidade do projeto.
da é um dos primeiros pontos de viabilidade a ser Bem, aqui podemos entrar no ponto de análise do
analisado. Esse é o momento sonhador da coisa, ambiente. O que quer dizer isso exatamente? Bem,
certo? Em muitos casos sim, mas não deveria ser. estamos falando de tudo o que influencia ou possa
É claro que uma boa dose de entusiasmo pode ser vir a influenciar de algum modo o projeto e aí vai
motivador para todos nessa definição, mas… pés depender muito de que projeto específico se trata.
no chão, por favor! Aqui entram diversas questões Quase todos os projetos passam de certo modo
como o estabelecimento de um escopo/objetivo/ pela questão legal, normativa ou regimental. Por
meta realista, que considere os recursos disponí- exemplo: um projeto para construção de casa em
veis (recursos de todos os tipos, desde financeiros um condomínio segue tanto as normas estabele-
até tempo, pessoas e espaço físico). É muito baca- cidas pela prefeitura quanto pelo próprio condo-
na “pensar alto”, mas é também muito frustrante mínio com relação a recuos, área permeável, até
não alcançar o que se pensou, então, escopos rea- mesmo altura em algumas cidades e assim por
UNIDADE VI 187
Sobre planejar como responder aos riscos anali- • aumento do custo dos diversos materiais
sados e aos riscos não identificados, Lima (2009) por conta de um eventual aquecimento
traz um exemplo bastante prático e que pode ser de mercado;
estendido a vários outros tipos de projeto: a cons- • aumento do custo total do projeto por
trução da própria casa. Um possível risco neste conta do aumento dos custos fixos e va-
caso seria: riáveis;
• Nome do risco: perda do controle finan- • diminuição do padrão de qualidade
ceiro da construção da casa. planejado por estar forçado a comprar
• Descrição: a perda do controle financeiro materiais de qualidade abaixo da es-
pode gerar indisponibilidade de dinheiro pecificada para fazer frente à falta de
para concluir a construção da casa. recursos.
• Causas possíveis: • Estimativa de impacto:
• falta de uma linha de base de custos; • nos custos: muito alto;
• falta de um orçamento confiável e de- • no cronograma: muito alto;
talhado; • no escopo: moderado;
• falta de um método de controle eficiente; • na qualidade: alto.
• falta de conhecimento sobre como con- • Nome do responsável pelo risco.
trolar custos de um projeto; • Urgência: alta. As ações de respostas devem
• indisciplina na aplicação de um método ser iniciadas dentro de no máximo duas
de controle; semanas.
• desorganização do processo de compras; • Ações de resposta:
• desorganização da papelada do projeto; • obter um orçamento detalhado;
• orçamento não detalhado o suficiente • obter um cronograma físico detalhado;
para orientar a compra de materiais; • obter uma linha de base de custos;
• orçamento não detalhado o suficiente • concentrar as compras em poucos forne-
para orientar a contratação de serviços; cedores para obter economia de escala;
• Probabilidade de ocorrência: alta. • comprar os materiais antecipadamente
• Descrição dos impactos: a falta de recursos para evitar eventuais aumentos;
financeiros poderá gerar: • respeitar as especificações dos materiais
• interrupção da construção; orçados;
• atraso na conclusão da casa; • a cada relatório de acompanhamento,
• aumento dos custos fixos por conta do atualizar os custos do que falta ser fei-
atraso na conclusão; to e comparar com o saldo de dinheiro
• aumento dos custos variáveis por falta disponível.
de verba para concentrar as compras em • Responsável por empreender as compras.
poucos fornecedores para buscar econo- • Prazo de implementação para cada ação
mia de escala; (adaptado de LIMA, 2009, p. 71-73).
UNIDADE VI 189
• Escrever quais são os objetivos do projeto. estudou mais profundamente sobre organizações,
• Buscar sempre ter acesso à ajuda especia- certamente já se deparou com seus artigos. Bem,
lizada. uma vez eu me propus a ler um bocado de coisas
• Buscar aprender sobre o produto do projeto. nas férias de julho e trazer a ele uma resposta a al-
• Gerar dúvidas ao se perguntar sobre o tra- guns questionamentos que ele me fez. Eu era super
balho que terá para administrar o projeto bem intencionada, mas acontece que eram milhares
(compras, pagamentos, entregas, pessoas de páginas e todas em inglês (o que tornava minha
envolvidas, prazos a cumprir, reuniões etc.). leitura um pouco mais lenta). Eu genuinamente
• Buscar as respostas às dúvidas geradas. acreditava que conseguiria ler tudo — eu iria me
• Planejar a implementação e o acompanha- empenhar muito para isso! — mas foi aí que ele me
mento do projeto em um horizonte de tem- olhou bem nos olhos e disse: “Cláudia, você precisa
po não muito longo. ter uma noção realista do seu tempo. É humana-
• Ser detalhista. mente impossível ler tudo isso em vinte dias. Im-
• Rever periodicamente o andamento do pro- possível! Reveja seu planejamento dentro de uma
jeto para avaliar se as metas estabelecidas noção mais realista do tempo”. Aquilo foi impac-
estão sendo atingidas, e a qual custo finan- tante para mim! Quantas vezes eu mesma tinha me
ceiro e pessoal. colocado em compromissos com prazos insanos
• Ter em mãos um orçamento e um crono- porque achava que sempre daria conta, já que sou
grama bem detalhados. bastante comprometida, responsável e esforçada.
Contudo, o tempo é o que é e o resto da vida não
E sabe uma coisa a qual talvez não seja dada a para quando temos um projeto ao qual temos que
devida importância que se deveria? A gestão do nos dedicar. E, ainda, o dia continua tendo 24 horas.
tempo! Enfim, essa experiência me fez ter uma noção
Vamos pensar o seguinte: vimos já no início mais realista do meu tempo e do que é possível
da nossa unidade que um projeto tem como ca- fazer, considerando também os diversos outros
racterística ter início e fim, correto? Ele também aspectos da minha vida e também as possíveis
é algo que não faz parte do cotidiano, ou seja, eventualidades, interrupções etc. (quantas vezes
trata-se de uma empreitada à parte, diferente e você já leu sobre gestão do tempo e se deparou
paralela à rotina normal de atividades. Por isso, com o conselho de não fazer sua agenda lotada
recursos e pessoas precisam ser alocadas para ele, de compromissos, pois qualquer eventualidade ou
lembrando, é claro, que a vida não parou e que há interrupção irá provocar uma reação em cadeia e
tantas outras coisas de rotina que ainda precisam você não conseguirá realizar tudo o que precisa-
ser feitas. va? Horários livres são necessários e faz parte da
E aí entra a questão tão importante da gestão gestão realista do tempo).
do tempo. Um passo anterior a ela ainda seria a Bem, aqui estou falando um pouco em termos
consciência temporal. Isso aprendi com um caro pessoais, mas é claro que o elemento tempo e sua
professor do meu doutorado, já falecido, que foi gestão também se aplica e muito na gestão de
um grande intelectual do qual me orgulho de ter projetos. O PMBOK® também traz um checklist
sido orientanda mesmo que por tão pouco tempo: a respeito da gestão do tempo, contendo sete gran-
o professor Clóvis Machado da Silva. Se você já des processos:
Tenha sua dose extra de conhecimento assistindo ao vídeo. Para acessar, use
seu leitor de QR Code.
UNIDADE VI 191
Você pode utilizar seu diário de bordo para a resolução.
192
3. O guia Project Management Body of Knowledge (PMBOK®) “define riscos como
sendo eventos futuros e de ocorrência incerta e que, se ocorrerem, podem
trazer impactos positivos ou negativos aos objetivos do projeto” (LIMA, 2009, p.
60). Sendo assim, a ideia é tomar alguns cuidados e seguir boas práticas a fim
de estar da melhor forma preparados se os eventos de fato ocorrerem. Veri-
ficando as alternativas que correspondem a alguns desses cuidados, assinale
Verdadeiro (V) ou Falso (F):
(( ) Planejar como os riscos serão gerenciados.
(( ) Ter em mãos os objetivos e as metas do projeto.
(( ) Planejar como responder aos riscos analisados e aos riscos não identificados.
193
LIVRO
194
AUGUSTINE, S. Managing Agile Projects. Virginia: Prentice Hall PTR, 2005.
KEELING, R.; BRANCO, R. H. F. Gestão de projetos: uma abordagem global. 3. ed. São Paulo: Saraiva, 2014.
KERZNER, H. Gestão de Projetos: as melhores práticas. 2. ed. Porto Alegre: Bookman, 2006.
LIMA, G. P. Gestão de projetos: como estruturar logicamente as ações futuras. Rio de Janeiro: LTC, 2009.
NEWTON, R. O gestor de projetos. 2. ed. São Paulo: Pearson Prentice Hall, 2011.
XAVIER, C. M. S. Gerenciamento de projetos: como definir e controlar o escopo do projeto. 2. ed. São Paulo:
Saraiva, 2009.
195
1. D.
2. E.
3. A.
196
197
198
Dra. Cláudia Herrero Martins Menegassi
Tendências no
Campo da Administração
PLANO DE ESTUDOS
Gestão da Inovação e
qualidade sustentabilidade
do negócio
Gestão do
Conhecimento Reengenharia
OBJETIVOS DE APRENDIZAGEM
• Discutir sobre os conceitos de Gestão do Conhecimento, • Discutir sobre os conceitos e implicações da reengenharia
bem como os seus modelos, ciclos, práticas e ferramentas. nas organizações.
• Discutir sobre os conceitos e implicações da gestão da • Discutir sobre inovação e a sustentabilidade das organi-
qualidade no campo organizacional. zações em sentido amplo.
Gestão do Conhecimento
“
“
sempre se dá um jeito até para as relações mais
estranhas. Por isso que encontramos não somente processos sistemáticos, articulados e inten-
um conceito institucionalizado e um modelo ou cionais, apoiados na identificação, geração,
um ciclo, ou um conjunto específico de práticas compartilhamento e aplicação do conhe-
e ferramentas. Não: encontramos um monte de cimento organizacional, com objetivo de
cada um deles. Isso bagunça de certa forma a teo- maximizar a eficiência e o retorno sobre
rização do tema, mas, por outro lado, expressa os ativos de conhecimento da organização.
talvez a própria natureza das organizações, esta
sobre a qual conversamos há pouco, que não segue O esforço da GC é justamente esse: por meio de
um padrão tão rígido, que tem diversas formas e processos articulados (modelos, práticas e ferra-
modus operandi e que por isso também tem mui- mentas) apoiados no ciclo de GC, buscar maxi-
tas maneiras de se conceber e gerir conhecimento. mizar o conhecimento existente na organização e
Então, vamos começar pela origem e conceitos torná-lo disponível, a fim de obter maior retorno
de Gestão do Conhecimento. sobre os ativos de conhecimento ali existentes.
Quando surgiu o conhecimento? Muito difícil É claro que a GC também implica a busca pelo
responder a essa pergunta, não é? Talvez com o pri- conhecimento necessário que ainda não existe
meiro ser humano que surgiu sobre a Terra! E quan- dentro das organizações, sempre com o intuito
do surgiu a gestão? A resposta provavelmente é a de fazer do conhecimento um ativo.
mesma. De alguma maneira o ser humano precisou Sendo assim, surgiram ao longo das décadas
descobrir as coisas — talvez primeiramente por ex- certa sistematização desses aspectos menciona-
perimentação — aprender suas conexões, construir dos, salvaguardando as características da própria
conhecimento a partir disso e fazer novas desco- área, conforme já falamos. Vamos começar pelos
bertas, novas conexões e incrementar seu conhe- ciclos da Gestão do Conhecimento.
Sua natureza intuitiva e subjetiva dificulta o pro- Natureza objetiva, de fácil transmissão por meios
cesso de transmissão do conhecimento por lógicos e sistematizados.
meios lógicos e sistematizados.
Pode ser Técnica – know-how Pode ser facilmente compreendido por meio de
compreendido concreto, técnicas e manuais, treinamentos.
segundo duas habilidades.
dimensões:
Cognitiva – reflete a
imagem que o indiví-
duo tem da realidade
e sua visão do futu-
ro, o que influencia
diretamente na per-
cepção da pessoa.
São exemplos os
“esquemas, modelos
mentais, crenças e
percepções tão ar-
raigados que os to-
mamos como certos.”
(NONAKA; TAKEUCHI,
1997, p. 7).
conhecimento
Socialização Externalização
tácito
para
conhecimento
Internalização Combinação
explícito
““
ção. A ideia é fazer que o conhecimento existente
a criação do conhecimento organizacional, seja representado de forma a poder ser acessado
pois, deve ser entendida como um processo que e transferido; colocar o conhecimento de forma
amplia ‘organizacionalmente’ o conhecimento estruturada em repositórios também faz parte
criado pelos indivíduos, cristalizando-o como dessa etapa do ciclo da Gestão do Conhecimento
parte da rede de conhecimentos da organiza- (MILTON; CLARKE; SHADBOLT, 2006).
ção” (NONAKA; TAKEUCHI, 1997, p. 65). O armazenamento ou codificação é uma das etapas
mais importantes da Gestão do Conhecimento, por
Os autores sugerem ainda a formação de uma ser aquela que torna possível que o conhecimento
equipe de criação do conhecimento, composta individual seja estruturado de forma a poder ser
de profissionais do conhecimento (os da linha utilizado nas organizações e aí deixa de ser apenas
de frente, que tem como tarefa saber “o que é”), individual para transformar-se em conhecimento
de gerentes do conhecimento (altos gerentes e organizacional acessível e sistematizado.
gerentes seniores, que tem como tarefa saber “o Em algumas empresas, o armazenamento do
que deve ser”) e de engenheiros do conhecimento conhecimento é centralizado no computador e
(gerentes de nível médio, que se fixam na realida- o conhecimento é cuidadosamente codificado e
de e buscam o equilíbrio entre “o que é” e “o que armazenado em bancos de dados que podem ser
deve ser”). facilmente acessados e utilizados por qualquer
Bem, em se tratando de captura e criação do pessoa na empresa. Em outras, o conhecimento
conhecimento, certamente o modelo de Nonaka está atrelado às pessoas e seu compartilhamen-
e Takeuchi é um dos mais relevantes na literatura to se dá principalmente por meio de contatos
sobre GC. pessoais. A estratégia de codificação abre a pos-
Passamos agora para o armazenamento, compar- sibilidade de se obter escala na reutilização do
tilhamento e disseminação do conhecimento, que conhecimento, o que auxilia no crescimento do
são etapas da Gestão do Conhecimento difíceis de negócio (HANSEN; NOHRIA; TIERNEY, 1999).
serem dissociadas umas das outras, uma vez que
pressupõe uma à outra e também se sobrepõem
em certo sentido. De fato, o que se busca na GC
nessa fase é armazenar o conhecimento a fim de
que seja sistematizado e possa assim ser compar-
tilhado e disseminado dentro das organizações.
Podemos também compreender de uma outra
forma, trazendo como primeiro passo o com-
partilhamento do conhecimento, que depois é
armazenado e disseminado. Enfim, seja qual for a
ordem do processo, o que importa é que é impos-
sível falar de armazenamento sem falar também
em compartilhamento e disseminação, pois são
processos muito próximos.
Fase do processo de
compartilhamento de Principais
conhecimento e suas dificuldades
características
Prática de
Destinatário
conhecimento
Localização de assimila
Exercitamento / assimilado
fontes de Interação
prática
conhecimento fonte x destinatário
orientada
Destinatário
não assimila
Na Figura 2, é possível visualizar as quatro fases do efetiva do novo conhecimento criado, armaze-
compartilhamento de conhecimento no trabalho nado e compartilhado. Se as fases anteriores são
dentro de um fluxo com as principais ações que realizadas conforme devem ser, essa última etapa
caracterizam cada fase (TONET; PAZ, 2006). será o resultado do esforço anterior, ou seja, do
É importante destacar que este modelo consi- empenho de ter feito bem cada fase da GC.
dera alguns elementos como a base do processo Clarke (2006) aponta que a utilização do co-
de compartilhamento: “a fonte do conhecimento, nhecimento diz respeito ao tipo de conhecimento
o seu destinatário, o conhecimento em si, que é que é utilizado e como é utilizado. Lembrando
alvo da ação de compartilhar, e o contexto em que um dos objetivos da GC é alcançar vantagens
que o compartilhamento ocorre” (TONET; PAZ, competitivas para as organizações, então também
2006, p. 88). o uso do conhecimento vai por essa linha.
Há diversas práticas e ferramentas de Gestão
do Conhecimento que podem servir a esse fim,
mas falaremos sobre elas um pouco mais adiante.
Vamos falar agora do terceiro grupo de pro-
cessos do ciclo da Gestão do Conhecimento: Geralmente a Gestão do Conhecimento é consi-
aquisição e aplicação do conhecimento. Dalkir derada como sendo composta e sustentada por
(2011) interpreta a fase de aquisição/aplicação do três pilares: pessoas, processos (ou estrutura) e
conhecimento como sendo aquela em que, após tecnologias (ou sistemas). A ideia por trás disso é
a avaliação e validação do conhecimento como que não é possível criar, compartilhar ou utilizar
relevante, ele é então adotado nas ações e nas conhecimentos nas organizações sem as pessoas
práticas individuais e organizacionais. É aquele — por razões óbvias — e nem sem uma estrutura
conhecimento considerado útil e que comporá e aparatos tecnológicos que dê condições para
a memória da organização. É, ainda, o momento que isso ocorra ou que ao menos facilite de certa
em que todo o ciclo da Gestão do Conhecimento forma esses processos.
traz seu resultado de fato, ou seja, a contribuição
Data mining
“São instrumentos com alta capacidade de associação
de termos, permitindo-lhes ‘garimpar’ assuntos ou temas
específicos” (BATISTA, 2012, p. 58).
Data warehouse
e Data mining
Caro(a) aluno(a)!
Neste tópico, falaremos um pouco sobre a ges-
tão da qualidade. Esse é um tema que deveria ser
mais observado pelas organizações.
Ouço com frequência a frase “o que deve ser
feito, merece ser bem feito”. Confesso que fui
procurar na internet seu autor e encontrei vários
(dentre eles, um dos mais citados foi Nicholas
Poussin, então atribuo a ele o crédito), então não
sei com toda a certeza quem disse isso, mas que
faz muito sentido faz, não é mesmo? Esse poderia
até mesmo ser o lema da gestão da qualidade nas
organizações.
“
“
essas propriedades, mas são igualmente “bens” e
fundamentais para a sociedade. pode-se definir a avaliação do serviço como
Enquanto no caso dos produtos — bens tangí- a análise do valor que o serviço confere ao
veis — a qualidade (ou a falta dela) pode ser mais usuário. Esse valor é sempre estruturado na
facilmente observada porque possui característi- visão do usuário e depende dos referenciais
cas físicas, no caso dos serviços — bens intangíveis que ele determina. A avaliação do serviço
— a percepção de qualidade pode ser bem mais dimensiona o quanto o benefício desse ser-
subjetiva, mas é igualmente importante. viço é considerado como valor pelo usuário
Como denominar um serviço como sendo de (PALADINI; BRIDI, 2013, p. 29).
2 observação
P
3 análise para descobrir causas
4 plano de ação
Método de análise
D 5 ação para eliminar as causas
e solução de problemas
6 verificação da eficácia da ação
C
? bloqueio foi efetivo
7 padronização
A
8 conclusão
Continuando sobre modelos e ferramentas para A ISO tem como objetivo principal aprovar nor-
gestão da qualidade, é claro que temos que lem- mas internacionais em todos os campos técnicos,
brar das ISO. As normas internacionais da série como normas técnicas, normas de procedimen-
ISO “representam um conjunto de diretrizes mun- tos e processos etc. e promove a normatização de
dialmente conhecidas e implantadas que estabele- empresas e produtos, para manter a qualidade
cem a gestão e a garantia da qualidade, podendo permanente. Elas dizem respeito a diversos seg-
ser aplicadas a produtos e serviços, independente- mentos e finalidades e suas normas mais conhe-
mente do porte ou setor da organização” (PINTO; cidas são a ISO 9000, ISO 9001 (sistema de gestão
CARVALHO; HOO, 2009, p. 173-174). de qualidade aplicado em empresas), ISO 14000
e ISO 14064 (um sistema de gestão ambiental).
O Six Sigma, por sua vez, é uma importante
ferramenta de gestão da qualidade, considerado
por alguns autores como mais do que isso: uma
ISO é a sigla de International Organization for estratégia de negócios.
“
“
Standardization, ou Organização Internacional
para Padronização, em português. É uma enti- O Six Sigma tem vindo a ser descrito inten-
dade de padronização e normatização, criada sivamente desde a década de 1980, quando
em Genebra (Suíça) em 1947. A sigla deveria foi desenvolvido, como uma abordagem que
ser IOS e não ISO. No entanto, como em cada permite melhorar a qualidade dos produtos
país de línguas diferentes existiria uma sigla e processos elevando o grau de satisfação dos
diferente, os fundadores decidiram escolher clientes e a performance global das organi-
uma só sigla para todos os países: ISO. Foi a zações. Para tal, referem os seus defensores,
sigla escolhida porque em grego isos significa recorre a ferramentas estatísticas que visam
“igual”, o que se enquadra com o propósito da reduzir a variabilidade na qualidade dos
organização em questão. produtos e processos e a redução de desper-
Fonte: adaptado de Significados ([2017], on-line)1. dícios, privilegiando os produtos e processos
que acrescentam valor para a empresa e que
““
Um sistema de qualidade total é uma forma
de trabalho, operando em toda a empresa
e documentada em procedimentos, inte-
grados de forma técnica e gerencial, para
orientar as ações coordenadas da força de
trabalho, das máquinas e das informações
da empresa nas formas melhores e mais
práticas, com a finalidade de assegurar a
satisfação ao cliente em relação à qualida-
de e custos compatíveis com essa qualidade
(FEIGENBAUM, 1961 apud LACOMBE;
HEILBORN, 2008, p. 463).
Caro(a) aluno(a)!
Quando falamos em tendências no campo
da administração, estamos falando de coisas que
podem ser tendência para um determinado setor,
mas não para outro, ou até mesmo para determi-
nado tipo de empresa de um setor, mas não para
outro do mesmo setor.
De fato, conforme já dissemos anteriormente,
se tem uma característica comum às organizações,
é que elas nunca serão exatamente uma igual a ou-
tra e o que serve para algumas poderá não servir
para outras.
Assim é com o conceito de reengenharia. Ser-
ve para todas as organizações? Ah, com certeza
não! É uma importante decisão para alguns tipos
de organização? Sem dúvida! Pode trazer im-
portantes benefícios. Então vamos falar dela, de
modo mais sucinto do que os tópicos anteriores
(que eram de certo modo mais abrangentes em
sua utilização), mas igualmente presente por ser
importante pelo menos para um relevante grupo
de organizações.
Começaremos, é claro, com o próprio con-
ceito de reengenharia. Afinal de contas, o que
é isso?
“
“
não teria sido capaz nem de imaginá-lo assim
considerando como base a visão que tinha da a reengenharia passa necessariamente por
primeira proposta (justamente porque o segun- duas fases. Na primeira, identificam-se os pro-
do não partiu dela!). Esse é um exemplo claro e cessos ineficazes e os métodos mais adequados
concreto de reengenharia, mesmo se aplicado a para executar esses processos. Na segunda fase,
um único projeto. esses processos são simplificados e redesenha-
Em termos gerais, pode-se dizer que a reen- dos para tornarem-se mais eficientes (MATO-
genharia trata-se de uma análise honesta que se SO, CORAIOLA; ROGLIO, 2016, p. 37).
Downsizing significa reduzir o tamanho de uma organização, especialmente pela redução planejada
do número de empregados e de níveis hierárquicos, para reduzir custos e aumentar a flexibilidade
e adaptabilidade da organização.
Fonte: Lacombe (2009, p. 274).
Caro(a) aluno(a)!
Concluiremos nossa unidade falando sobre
inovação e sustentabilidade do negócio.
Trataremos esses dois temas de modo amplo.
Inovação, por exemplo, se aplica também à ino-
vação de processos dentro de uma organização
e sustentabilidade do negócio é tudo aquilo que
contribui para a organização se sustentar ao longo
do tempo, ou seja, não fechar suas portas (sejam
elas físicas ou virtuais).
Vamos começar falando de inovação.
Primeiramente, vamos fazer algumas distinções.
231
Assinale a alternativa que corresponda à ordem correta:
a) E, E, T, E, E.
b) E, T, T, T, E.
c) T, T, E, E, E.
d) E, E, T, T, T.
e) T, E, T, E, T.
232
LIVRO
233
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236
1. E.
2. D.
3. C.
237
238
Dra. Cláudia Herrero Martins Menegassi
Abordagens Alternativas
de Gestão
PLANO DE ESTUDOS
OBJETIVOS DE APRENDIZAGEM
Caro(a) aluno(a)!
Estamos na penúltima unidade do nosso livro
e aqui você vai ter a oportunidade de conhecer
coisas talvez muito diferentes de tudo o que você
já conhece em termos de conceitos de administra-
ção, gestão de organizações e até de organizações
em si!
Isso porque fugiremos um pouco do modelo
tradicional de gestão para trazer algumas outras
visões. Algumas delas não são exatamente uma
ruptura aos modelos tradicionais, mas acrescen-
tam algo a eles, como a Responsabilidade Social, a
Economia de Comunhão e a própria gestão de or-
ganizações do Terceiro Setor; outras representam
uma nova forma de pensar as relações produtivas
e a própria configuração das organizações — é o
caso dos empreendimentos econômicos solidários.
A importância de conhecer isso tudo? Enorme!
Há um mundo além do nosso cotidiano, daquilo
que é comum à maioria e isso se reflete também
no mundo organizacional, afinal de contas, orga-
nizações servem para responder a alguma neces-
sidade e essa necessidade nem sempre é o simples
sucesso financeiro. Pode ser a melhoria de vida de
uma comunidade, dos próprios funcionários, da
relação com os stakeholders e assim por diante.
Vamos começar pela abordagem que talvez Dow Jones Sustainability, em 1999, nos Estados
seja uma das mais conhecidas: a Responsabilidade Unidos que definia a sustentabilidade de acordo
Social. Primeiramente vamos fazer uma distinção: com critérios econômicos, sociais e ambientais
trataremos da Responsabilidade Social Empresa- e, ainda, podemos elencar como marco da RSE
rial (RSE) como um fenômeno específico, que tem a criação e o desenvolvimento do instituto Ethos
origem, desenvolvimento, enfim, histórico. Não de Responsabilidade Social (RODRIGUES, 2002).
trataremos da responsabilidade social como algo A principal entidade mundial de Responsabi-
do senso comum (e por isso escrita aqui proposi- lidade Social é a Business Social Responsability
talmente em letras minúsculas, para diferenciar). (BSR), que existe desde 1992. Trata-se de uma
A responsabilidade que temos perante a sociedade organização global sem fins lucrativos que traba-
é igualmente importante e essa ideia deveria ser lha com uma rede de mais de 250 empresas mem-
cada vez mais presente em nossas vidas e atitudes, bros e outras parceiras e que tem como missão
mas só para não haver confusão, aqui trataremos trabalhar em prol da construção de um mundo
da Responsabilidade Social Empresarial (RSE) mais justo e sustentável. Tem escritórios na Ásia,
como uma prática diferenciada aplicada à gestão. Europa e América do Norte e deles desenvolve
Entretanto, o que é Responsabilidade Social? estratégias e soluções de negócios sustentáveis
Bem, não há um conceito único ou totalmente através de consultorias, pesquisas e colaboração
consolidado. Cada autor ou fundação cria seu entre setores (ABOUT US, 2017, on-line)1.
próprio conceito, o que é uma das razões pelas No Brasil, o Instituto Ethos de Empresas e Res-
quais as empresas têm posturas e concepções ponsabilidade Social representa uma importante
tão diferenciadas entre si em termos de RSE instituição “cuja missão é mobilizar, sensibilizar e
(HAAGSMA; TAVARES, 2010). ajudar as empresas a gerir seus negócios de forma
Responsabilidade Social é uma prática que sur- socialmente responsável, tornando-as parceiras
giu em meio a diversos acontecimentos relevantes na construção de uma sociedade justa e susten-
no mundo, como a Constituição de Weimar, de tável” (INSTITUTO ETHOS, [2017], on-line)2. É
1929, na Alemanha, que lançou o conceito de “fun- uma Organização da Sociedade Civil de Interesse
ção social da propriedade”. Foi a primeira semente Público (OSCIP) e foi criada em 1998 por um
de RSE, cujos movimentos mais intensos se deram grupo de empresários e executivos da iniciativa
nos Estados Unidos na década de 1960, seguidos privada, sendo
“
“
pelo código de conduta proposto pela Organização
das Nações Unidas (ONU) em 1972 às empresas um polo de organização de conhecimento,
transnacionais. Outros marcos foram o surgimento troca de experiências e desenvolvimento
dos balanços sociais, a realização da Eco 92 (em de ferramentas para auxiliar as empresas a
que foi proposta a Agenda 21 — documento que analisar suas práticas de gestão e aprofundar
propunha mudanças nos padrões de desenvolvi- seu compromisso com a responsabilidade
mento), a ISO 14000 (que trata de questões rela- social e o desenvolvimento sustentável”
cionadas ao meio ambiente), a criação do índice (INSTITUTO ETHOS, [2017], on-line)2.
““
na prática, agir com Responsabilidade
Social consiste na valorização da força de
trabalho, através de sistemas de avaliação
de desempenho justos, de premiações e re-
conhecimentos e de programas de educa-
ção e treinamento. As empresas socialmente
responsáveis ainda participam de projetos
comunitários, de parcerias educacionais,
de programas de preservação ambiental e
de conservação de patrimônios públicos.
Além disso, fabrica produtos de qualidade
e seguros e prestam bons serviços, pois isto
significa respeito ao consumidor.
“
“
melhorando a vida de alguém, não está? E relem-
Inicialmente, as empresas estipulam sua brando: a empresa não é obrigada a isso. Sendo
missão, ou seja, especificam os princípios assim, o que considero é que não há problemas
nos quais procurará agir, tendo como base em lucrar a partir de ações de melhoria para a
a ética e responsabilidade frente a todos os sociedade. Melhor buscar o lucro pela via da aju-
agentes envolvidos na empresa. A partir daí, da às pessoas e ações ambientais que por outros
fazem um planejamento estratégico baseado modos, não é? Não estamos dentro da cabeça de
nestes novos critérios e procuram adaptar- nenhum empresário para sabermos com total
-se gradativamente a eles, transformando o certeza suas intenções, mas podemos visualizar
modo de gestão tradicional em socialmente ações que são feitas e que podem ao menos
responsável (MARTINS, 2005, p. 61). melhorar em alguns aspectos a vida de uma
comunidade. Em resumo: independentemente
A ideia parece muito bacana, não é mesmo? da questão da intencionalidade, acho as ações
No entanto, se você soubesse quantas críticas igualmente válidas.
há à Responsabilidade Social… de fato muitos Há diversas empresas que atuam dentro da
pesquisadores são enfáticos em dizer que se proposta da RSE com variadas ações. Geralmente
trata de uma falácia utilizada para o fim exclu- as empresas divulgam isso em seus sites como
sivo dos interesses próprios das empresas que “empresa socialmente responsável”. Você certa-
ganham com funcionários mais colaborativos e mente conhece muitas delas e quem sabe também
com boa imagem perante a mídia e o mercado se interesse por esses princípios e os adote quando
consumidor, ou seja, a RSE seria um instru- tiver a própria empresa! Afinal de contas, tornar
mento para finalidades capitalistas disfarçada o mundo pelo menos um pouco melhor sempre
de boas ações e intenções. é uma boa coisa a se fazer.
Concretamente e de modo amplo, a EdC propõe parte de seus lucros, mas deveria também ser um
a quem quer dela fazer parte: viver e difundir espaço propício ao bem da sociedade como um
uma nova cultura econômica e civil baseada na todo, o que significava começar pelos próprios
partilha; formar empresários para a proposta de funcionários, oferecendo a eles condições dignas
livremente doarem parte dos lucros de seus em- de trabalho, pagando salários justos e com auxílios
preendimentos para apoiar os objetivos da EdC e, pontuais quando necessário. A mesma postura éti-
ainda, propõe que os empresários concebam suas ca e de respeito se aplicava ao relacionamento com
empresas como um espaço de serviço ao bem co- os stakeholders, ou seja, com todos os agentes que
mum. A EdC busca combater as várias formas de de certa forma estão relacionados com a empresa
pobreza, exclusão e miséria (EdC, [2017], on-line)5. Sobre as três partes do lucro mencionadas, va-
Na 55ª Sessão da Comissão para o Desen- mos falar um pouco mais. As pessoas que se en-
volvimento Social, promovida em 2012 pela contram em estado de vulnerabilidade econômica
Organização das Nações Unidas (ONU), foi recebem o recurso oriundo da parte destinada aos
apresentada uma ampla definição da Econo- necessitados. São pessoas que entram em contato
mia de Comunhão, que demonstra sua proposta, com alguém ligado à EdC ou são pessoas que co-
princípios e motivações. nhecem a EdC e que conhecem também aquele
““
que tem determinada necessidade, e colocam a
A Economia de Comunhão propõe que as pessoa em contato com a comissão local de EdC
economias e as empresas deveriam adotar, ou com a Associação Nacional por uma Economia
juntamente com os princípios de liberdade de Comunhão (ANPECOM), para que a partir daí
e igualdade, o princípio da fraternidade. Ao seja possível analisar o que pode ser feito.
fazer isso, a atividade empresarial e econô- As pessoas que aceitam esse auxílio da EdC
mica pode contribuir para a realização de passam a conhecer a EdC e seus princípios e rece-
cada pessoa humana, respondendo ao nosso bem formação para a partilha e responsabilidade:
profundo desejo de felicidade e um senso usam as doações para chegar a uma vida digna e
de propósito (STATEMENT, 2012 apud comunicam quando não precisam mais para que
MENEGASSI; FERNANDES, 2016, p. 260.). possam ser destinadas a outras pessoas (MENE-
GASSI, 2007). Os necessitados são vistos como
Em seguida, essa proposta passou a ser desenvol- agentes do projeto, agentes no sentido colocado
vida também em outros aspectos. O que se per- por Sen (2000), ou seja, como o indivíduo em seu
cebeu é que não bastaria que a empresa doasse papel ativo de propulsor de mudanças em seu meio.
Caro(a) aluno(a)!
Neste tópico, trataremos sobre a Economia
Solidária (ES). Certamente você já ouviu falar de
Economia Solidária e talvez até conheça algum
empreendimento que se caracterize como tal.
Neste tópico, você terá a oportunidade de conhe-
cer melhor a origem desse movimento que tomou
proporções intercontinentais e cujos propósitos
e princípios possuem um sólido alicerce. Vere-
mos também os princípios básicos da Economia
Solidária e os fundamentos que caracterizam os
empreendimentos econômicos solidários e seus
diversos tipos.
Em termos de conceito, não há uma única de-
finição para Economia Solidária e, segundo di-
versos autores, trata-se de um conceito ainda em
construção. Isso de deve à adequação que existe
aos princípios e valores das comunidades locais
e isso também justifica a variedade de atividades
que são consideradas de ES. Segundo Paul Singer
(2005), é na própria ação que o conceito vai sendo
construído e é nela também que ele se transforma.
Entretanto, vamos trazer pelo menos algumas
tentativas de conceitualização de autores reno-
mados na área.
“
“
Gutierrez (2003), segundo o qual, a Economia
Solidária é um movimento de natureza políti- remetem o início da Economia Solidária
ca que nasce da insatisfação de certos grupos como sendo contemporâneo do capitalismo
com relação às formas mais comuns de or- industrial na Grã-Bretanha, pela influência
ganização do trabalho presentes no sistema dos socialistas utópicos, entre eles Owen,
capitalista. Segundo França Filho e Laville Fourier, Buchez e Proudhon, justamente
(2004, p. 161), as atividades consideradas de pela onda de desemprego que a indus-
Economia solidária são as “iniciativas que ar- trialização causou na época. Estes autores,
ticulam sua finalidade social e política com o portanto, fazem referência às origens da ES
desenvolvimento de atividades econômicas, como sendo coincidentes com a origem do
introduzindo ainda a solidariedade no centro cooperativismo. [...] No Brasil, a ES come-
da elaboração dos seus projetos”. França Filho çou a surgir na década de 1980, tomando
(2003, p.13) conceitua ainda a ES como sendo força maior a partir de meados da década
“uma série de experiências organizacionais de 1990 (MARTINS; CRUCIOL; ARAÚJO,
inscritas numa dinâmica atual em torno das 2006, p. 8-9) .
chamadas novas formas de solidariedade”,
compreendendo uma busca de novas formas A Economia Solidária tomou tal dimensão no
de regulação da sociedade (MARTINS; CRU- Brasil que há uma secretaria dentro do Ministério
CIOL; ARAÚJO, 2006, p. 5). do Trabalho dedicada somente a ela, a Secretaria
Nacional de Economia Solidária (SENAES). Na
Arruda e Mariani (2013) trazem duas interpreta- página do Ministério do Trabalho, há a definição
ções sobre a Economia Solidária. Segundo alguns da ES, descrita a seguir.
“
“
autores, Novaes (2010), Benini e Benini (2010) en-
tre outros, a ES pode ser definida como “um novo A Economia Solidária é um jeito diferente
modo de produção, passível de uma abordagem de produzir, vender, comprar e trocar o que
revolucionária de superação dos desígnios acu- é preciso para viver. Enquanto na econo-
mulativos/excludentes inerentes ao sistema capi- mia convencional existe a separação entre
talistas” (ARRUDA; MARIANI, 2013, p. 101). Por os donos do negócio e os empregados, na
outro lado, outros autores, como Barbosa (2007), economia solidária os próprios trabalhado-
Coriolano (2008) entre outros, definem a ES como res também são donos. São eles quem to-
“
“
mam as decisões de como tocar o negócio,
um mecanismo de política pública; ou como dividir o trabalho e repartir os resultados.
a síntese de ações que visam à inserção so- São milhares de iniciativas econômicas, no
cial ativa dos indivíduos/trabalhadores no campo e na cidade, em que os trabalhadores
capitalismo, uma clara demonstração de estão organizados coletivamente: associa-
‘humanização’ do sistema capitalista e, por ções e grupos de produtores; cooperativas de
conseguinte, da economia (ARRUDA; MA- agricultura familiar; cooperativas de coleta
RIANI, 2013, p. 101). e reciclagem; empresas recuperadas assumi-
““
contraposição à lógica capitalista em termos de
Cooperação: ao invés de competir, todos seus princípios — mesmo estando praticamente
devem trabalhar de forma colaborativa, bus- todas as iniciativas dentro do sistema capitalista.
cando os interesses e objetivos em comum, Com relação aos tipos de empreendimentos
a união dos esforços e capacidades, a pro- econômicos solidários, podemos encontrar di-
priedade coletiva e a partilha dos resultados. versos deles. Traremos aqui os mais comuns, ou
Autogestão: as decisões nos empreen- seja, os que estão mais difundidas no âmbito da
dimentos são tomadas de forma coletiva, ES, lembrando que os tipos não se esgotam nesses,
privilegiando as contribuições do grupo ao pois há muitas iniciativas diferentes que podem
invés de ficarem concentradas em um indi- ser caracterizadas como Economia Solidária, des-
víduo. Todos devem ter voz e voto. Os apoios de que sigam seus princípios.
externos não devem substituir nem impe- Cooperativismo. Trata-se, certamente, da for-
dir o papel dos verdadeiros sujeitos da ação, ma mais comum de Economia Solidária. Boa-
aqueles que formam os empreendimentos. ventura de Souza Santos (2002) e Singer (2003)
Ação Econômica: sem abrir mão dos reforçam essa afirmação, considerando a coope-
outros princípios, a economia solidá- rativa de produção como a modalidade básica da
ria é formada por iniciativas com mo- Economia Solidária. No entendimento de Haddad
tivação econômica, como a produ- (2005, p. 27),
“
“
ção, a comercialização, a prestação de
serviços, as trocas, o crédito e o consumo. o cooperativismo é um empreendimento, só
Solidariedade: a preocupação com o outro que não é um empreendimento meramente
está presente de várias formas na economia econômico, não é um empreendimento que
solidária, como na distribuição justa dos re- visa lucro, é um empreendimento que visa
sultados alcançados, na preocupação com emancipação, que visa emancipar o indiví-
o bem-estar de todos os envolvidos, nas re- duo das atuais relações sociais.
lações com a comunidade, na atuação em
movimentos sociais e populares, na busca Nem todas as cooperativas são de Economia So-
de um meio ambiente saudável e de um de- lidária, isso é importante destacar. Com relação
senvolvimento sustentável (BRASIL, 2015, àquelas que se enquadram como ES, Singer (2003,
on-line, grifo nosso). p. 13) destaca alguns princípios que as regem:
“
“
to, a finança solidária, a economia sem dinheiro,
as empresas sociais entre outras. Vamos falar um [...] facilitam o acesso ao crédito para pes-
pouquinho sobre cada uma delas. soas que estariam excluídas do sistema
Comércio justo. É uma das iniciativas que vem bancário convencional, para que estas
ganhando bastante destaque nos últimos anos. pessoas tenham a possibilidade de criar
“
“
o próprio negócio. Entre elas estão: o mi-
É uma parceria comercial entre pessoas crocrédito, a poupança solidária, micro-
de baixa renda – geralmente artesãos – e finança, finança de proximidade, fundos
organizações internacionais que importam de aplicação éticos ou solidários – nos
estes produtos justamente por seu cunho quais os poupadores renunciam a uma
social, propiciando a estes trabalhadores parte da remuneração de seu capital para
melhores condições de troca, pois o preço que sejam destinados a investimentos de
que pagam pelos produtos é muito superior utilidade social (MARTINS; CRUCIOL;
ao preço de mercado interno. Além dos be- ARAÚJO, 2006, p. 8).
““
são organizações privadas que desenvolvem
atividades comerciais cuja finalidade é so-
cial, ou seja, seu empenho principal não é
o de maximizar lucro, mas o de satisfazer
necessidades econômicas e sociais por meio
da produção de bens e serviços que possam
contribuir para a utilidade social (MAR-
TINS; CRUCIOL; ARAÚJO, 2006, p. 8).
Caro(a) aluno(a)!
Concluiremos nossa unidade com este tópico
sobre gestão de organizações do Terceiro Setor.
As organizações do Terceiro Setor são respon-
sáveis por relevantes atividades que propiciam a
melhoria na qualidade de vida de pessoas que de
outra maneira talvez não conseguissem alcançar
esse propósito. Elas existem para muitas finalida-
des diferentes: algumas com finalidades filantrópi-
cas, outras para fomento de atividades produtivas
e desenvolvimento humano, outras para a preser-
vação do meio ambiente entre tantos outras.
A relevância desse tipo de organização para a
sociedade é imensa. Elas atuam onde muitas vezes
o governo e o setor privado deixam a desejar. Elas
atendem necessidades latentes que não podem
esperar que um dia o governo, por exemplo, atue
naquela determinada demanda, apesar de ser sem
dúvida a situação ideal. Contudo, estamos falando
do mundo real, não é mesmo? Nele nem sempre
as coisas são da forma ideal.
Primeiramente, o que é o Terceiro Setor?
Se existe um terceiro, é porque provavelmente
existem também um primeiro e segundo, não é?
Sim, exatamente. Em termos jurídicos, o Primei-
ro Setor é o Estado, o Segundo Setor as empresas
“
“
podem ser a satisfação por si só em contribuir
A parceria vai além da troca e da satisfação com algo bom para a sociedade — e podem até
de interesse mútuo. Há certamente uma mesmo pedir o anonimato —, como pode tam-
dimensão de complementaridade, isto é, bém ser um elemento de marketing, por exemplo,
busca no outro os recursos e capacidades divulgando que a empresa tal apoia a OTS tal.
de que não se dispõe, mas que são neces- Em ambos os casos, trata-se de algo legítimo se
sários para atingir seus propósitos. Po- previamente acordado.
rém, a diferença reside no fato de que esta De fato, as motivações podem ser muitas. Você
troca ou complementariedade tem como já se perguntou por que uma pessoa doa algo a
motivação o cumprimento de objetivos outra ou a uma instituição ou organização espe-
compartilhados e externos a cada uma. Os cífica? Você já doou algo em sua vida? Você pode
objetivos da parceria tendem a ser relativos se impressionar em saber que mais de 77% dos
a um impacto mais profundo na realidade brasileiros realizam algum tipo de doação. Esses
na qual as organizações envolvidas atuam. dados são de 2015, o que nos mostra que mesmo
Por isso, ela apenas não supre necessidades, em períodos de crise econômica as pessoas ain-
mas converte-se tanto numa forma de am- da assim realizam doações (IDIS, 2015, on-line10;
pliar e irradiar os efeitos de um trabalho LOPES, 2016, on-line11).
É de suma importância a sustentabilidade do Terceiro Setor. “As organizações vêm sendo pressio-
nadas para se tornarem auto-sustentáveis; ou seja, conseguir recursos financeiros de outras fontes
para que não fiquem dependentes de um único doador ou uma única fonte de renda… Como o social
é apenas visto como gasto financeiro, e não se mensuram os benefícios econômicos e sociais das
intervenções, os profissionais da área se veem pressionados a também dar uma resposta pela ótica
financeira da sustentabilidade”.
Fonte: Fontes (2008, p. 138).
“
“
Além disso, há a necessidade de profissio-
A necessidade de captar recursos e aprimo- nais especializados em Terceiro Setor mesmo,
rar a qualidade dos serviços oferecidos à so- afinal, há diversas coisas importantes para a
ciedade desencadeou um processo de aper- gestão dessas organizações que precisam de
feiçoamento e profissionalização gerencial, pessoal capacitado, como o conhecimento da
orientando para o aumento da eficiência e legislação, de como se faz projetos sociais, um
da eficácia nas atividades realizadas. marketing adequado, gestão de toda a organi-
zação em suas diversas áreas, quais as possíveis
De fato, segundo Bose (2004), são muitos os de- formas de captação de recursos, as maneiras
safios das OTS, mas praticamente todos passam adequadas de fazê-lo, a gestão de pessoal com
pela competência gerencial e a profissionaliza- vínculo empregatício e voluntários trabalhando
ção. Em termos de gestão de pessoas, a autora conjuntamente e uma série de outras questões
destaca que ao longo dos anos o caráter de mi- que necessitam de pessoas capacitadas para tal.
litância e a adesão aos valores da organização Atualmente no Brasil existem diversos cursos
tem sido suficiente para manter as pessoas que de especialização voltados a essa capacitação e
ali trabalham engajadas, sejam elas voluntárias na Unicesumar há inclusive o Curso de Tecno-
ou remuneradas para o desempenho da tarefa. logia em Gestão de Organizações do Terceiro
Todavia, a necessidade por eficiência e eficácia Setor, oferecido na modalidade de Educação
dentre tantas outras trouxe consigo essa necessi- a Distância. Ou seja, formas de se preparar já
dade de uma maior profissionalização. existem e é fundamental que a gestão das orga-
Como essa adesão aos valores continua sendo nizações do Terceiro Setor seja levada a sério e
importante, por vezes feita por pessoas preparadas para tal.
264
I) viver e difundir uma nova cultura econômica e civil baseada na partilha.
II) formar empresários para a proposta de livremente doarem parte dos lucros
de seus empreendimentos para apoiar os objetivos da EdC.
III) propõe que os empresários concebam suas empresas como um espaço de
serviço ao bem comum.
265
LIVRO
WEB
266
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270
1. A.
2. E.
3. C.
271
272
Dra. Cláudia Herrero Martins Menegassi
Ética Empresarial
PLANO DE ESTUDOS
OBJETIVOS DE APRENDIZAGEM
• Apresentar os conceitos de ética e de moral e a concepção • Descrever ações que podem ser tomadas nas organiza-
de ética no âmbito organizacional. ções a fim de institucionalizar padrões éticos de conduta.
• Apresentar os diversos princípios éticos aplicáveis às ati-
vidades organizacionais.
Conceitos de Ética
Aplicados ao Âmbito
Organizacional
Caro(a) aluno(a)!
Aqui estamos nós em nossa última unidade. E
por que colocamos ética justamente aqui no final?
Porque é menos importante? Não, justamente o
contrário: para fechar com chave de ouro!
A ética, na realidade perpassa — ou deveria
perpassar — tudo o que vimos até agora no nosso
livro, ou seja, tudo aquilo que diz respeito à vida
das pessoas em sociedade e, por conseguinte, tam-
bém nas organizações.
Primeiramente, é claro, precisamos do conceito
de ética.
O dicionário de filosofia Abbagnano (2007)
define ética da página 380 à página 387 (em le-
tras minúsculas de dicionário), então imagine
você o quanto o conceito é complexo e repleto
de concepções que ora concordam entre si, ora
se complementam e ora distinguem-se. Bem, ge-
ralmente em dicionários a primeira definição é a
mais amplamente aceita e nesse caso é a que diz
que ética é: “em geral, ciência da conduta” (AB-
BAGNANO, 2007, p. 380).
O termo ética vem do grego ethos que designa “modo de ser” ou “caráter”. Aristóteles a definia como
“ciência do costume”, e pouco se tem acrescentado a esta definição. Vázquez (1999, p. 23) acrescenta
que “ética é a teoria ou ciência do comportamento moral dos homens em sociedade” e, em uma
visão mais ampla, Cury (1997, p. 19) diz que “a ética pode ser entendida como um estudo ou uma
reflexão, científica ou filosófica, e eventualmente até teológica, a respeito dos costumes ou ações
humanas, com desdobramentos diretos sobre o indivíduo e a própria sociedade”.
Fonte: Chaves (2006, p. 20).
Segundo o conceito de Vázquez (1999, p. 23), por- Sendo assim, “a ética não cria ou determina a
tanto,“ética é a teoria ou ciência do comportamen- moral. Esta pressupõe determinados princípios,
to moral dos homens em sociedade”. determinadas normas ou regras de comporta-
Essa definição nos ajuda logo a compreender o mento, mas não é determinante, no sentido de
que confunde muita gente: que ética e moral estão que não impõe ou estabelece no âmbito de cada
estreitamente relacionadas, mas não são a mesma sociedade” (CHAVES, 2006, p. 21). De fato,
“
“
coisa. Segundo o mesmo dicionário de filosofia, a
moral é “objeto da ética, conduta dirigida ou disci- para Vázquez (1999), a ética enfrenta e até
plinada por normas” (ABBAGNANO, 2007, p. 682). certo ponto se mescla com as experiências
Nesse sentido, filosofando aqui um pouquinho histórico-sociais no âmbito da moral. Isto é,
com você, podemos pensar o seguinte: se a moral a partir de uma série de práticas morais em
é a conduta dirigida ou disciplinada por normas, vigor, busca determinar a essência, sua ori-
há uma infinidade de “morais” aí pelo mundo, cor- gem, as condições objetivas e subjetivas do
reto? Afinal as normas que disciplinam a conduta ato moral, as fontes de avaliação a natureza
aqui no Brasil, por exemplo, são muito diferentes dos juízos morais, os critérios de justificação
daquelas dos países do Oriente Médio, para fazer- de tais juízos e o princípio que rege a mudan-
mos uma comparação extrema. ça e a sucessão dos sistemas morais distintos.
Moral, do latim mos ou mores, quer dizer hábitos e costumes. Ambos os termos, ética e moral, reme-
tem à ideia de costumes. Isso porque, originariamente, ethos e mos, caráter e costume, assentam-se
num modo de comportamento que não corresponde a uma disposição natural, mas é adquirido ou
conquistado por hábito.
Mas Vázquez (1999) distingue os dois termos, afirmando que, ao passo que ética é a ciência, a moral
é o objeto de estudo dessa ciência. Enquanto a primeira está relacionada com questões teóricas que
fundamentam o comportamento humano, a segunda se volta para questões práticas.
Fonte: Chaves (2006, p. 20-21).
UNIDADE IX 275
“
“
Veja você que interessante e paradoxal: quando a A empresa ética é definida, pelos nossos
gente pensa em ética segundo o senso comum, nos padrões, como aquela que conquistou o
vem em mente imediatamente algo bom, certo, respeito e a confiança de seus empregados,
justo. No entanto, aí vem essa questão: bom, certo clientes, fornecedores, investidores e outros,
e justo para quem? Para determinada sociedade estabelecendo um equilíbrio aceitável entre
somente, que tem tais práticas (atos morais) como seus interesses econômicos e os interesses
boas, certas e justas. de todas as partes afetadas, quando toma
“
“
decisões ou empreende ações.
Montaigne, filósofo moderno, questiona:
“que bondade será essa, que da banda de Lembrando que quando o autor fala da “empre-
lá do rio é delito? Os céticos defendem a sa ética que conquistou” determinada coisa, está
ideia de que somente aqueles conceitos que falando da conduta dos gestores por trás dessa
são derivados da própria natureza podem empresa que ao longo dos anos estabeleceu uma
ser elevados à categoria de universal: doce cultura tão forte a ponto de se tornar cultura da
e amargo, quente e frio. Isso não acontece, empresa e patrimônio dela; a ponto de caracteri-
por exemplo, com os conceitos de ética e zá-la. Por isso se fala em empresa como “um ser
justiça (CHAVES, 2006, p. 22). que age”, nesse sentido.
E por que uma empresa deveria ser ética? O que
Bem, a discussão aqui seria longa, muito longa! ela ganha com isso? Lacombe (2009) lança esses ques-
E é uma delícia parar para pensar em tudo isso, tionamentos e traz alguns insights a respeito. Em pri-
não é? Quando o fazemos? Praticamente nunca! meiro lugar, segundo o autor, não são só os recursos
Vivemos em uma sociedade onde a moral já foi materiais que importam na vida e isso se aplica in-
institucionalizada e a seguimos — ou não — e clusive às empresas. Ele cita exemplos de outros valo-
pronto, sem muito questionamento. Seria muito res, como prestígio, respeito de todos os stakeholders,
produtivo se começássemos a pensar mais a fundo confiança, e poderíamos acrescentar muitos outros.
na ética, de fato, nos motivos da ações. Esses valores, no longo prazo, contribuem para os
Podemos deduzir, então, “que a ética analisa resultados financeiros da própria empresa.
as escolhas que os agentes fazem em situações Em segundo lugar, Lacombe (2009) mencio-
concretas, verificando as opções de conformida- na que empresas éticas atraem e retém emprega-
de aos padrões sociais estabelecidos” (PINTO; dos, fornecedores e clientes éticos e responsáveis,
FARIA, 2004, p. 2). sendo assim uma via de mão dupla em que essa
Vamos agora falar de ética no âmbito organi- relação virtuosa se estabelece.
zacional. E vamos entender ética em seu sentido Em terceiro lugar, o autor chama a atenção so-
científico já explorado, mas também em seu sen- bre o fato de que a empresa faz parte da sociedade
tido de senso comum — de conduta adequada como um todo e que, para que prospere, também
ao bem social. essa sociedade precisa prosperar em termos éti-
Vamos, então, tentar uma definição de ética cos. Sendo assim, essa escolha da empresa a faz
para organizações. Aguilar (1996, p. 26) traz um contribuir com essa sociedade que será benéfica
conceito bastante claro de empresa ética: para ela mesma e para todos os que nela vivem.
UNIDADE IX 277
Princípios Éticos nas
Atividades Organizacionais
Caro(a) aluno(a)!
Já vimos os conceitos de ética e moral e a con-
cepção de ética no âmbito organizacional. Agora
neste tópico falaremos sobre os diversos princípios
éticos aplicáveis às atividades organizacionais.
Bem, vamos nos lembrar primeiramente que
a empresa é o resultado de uma rede de relações
com diversos agentes e o próprio ambiente em que
atua — são os stakeholders, lembra desse concei-
to? Então poderíamos elencar como stakeholders
os acionistas, os funcionários, os concorrentes, os
fornecedores, os distribuidores, as comunidades lo-
cais, os meios de comunicação, os sindicatos, o go-
verno, os clientes, as entidades de crédito… e a lista
poderia ainda se estender, pois são muitos mesmos
os agentes que de algum modo são afetados pelas
atividades de uma empresa ou organização.
A ética nas organizações, para que exista de
fato, é necessário que esteja presente em todas as
relações com cada um de seus stakeholders. A em-
presa ética é um conjunto de ações pautadas em
valores éticos que formam a cultura da empresa a
ponto de caracterizá-la, então não haveria como
ser ética com relação aos funcionários, mas sone-
gar impostos, por exemplo, ou então ser ética com
os fornecedores e enganar seus clientes ou ainda
ser ética com a comunidade local e desleal com
“
“
Então, a livre concorrência seria o cenário ideal
desejado e, dentro dela, a concorrência leal. O que Os concorrentes deixam de ser encarados
seria uma concorrência desleal? Mattar (2004, p. como inimigos potenciais e passam a re-
319) define concorrência desleal como os “atos presentar operadores de um mesmo setor
praticados pela indústria ou pelo comércio para com os quais é possível estabelecer relacio-
prejudicar os concorrentes”. namentos de colaboração tendo em vista
Ontem mesmo ouvi de um amigo uma história interesses comuns. Procuram também
desse tipo. Ele me contou que estava feliz porque apresentar a qualidade dos próprios pro-
tinha mobiliado o quarto todo dos filhos dele por dutos, privando-se de ressaltar os defeitos
R$ 1.300,00. Contudo, ele me confessou que, se dos produtos e serviços dos outros (LIMA,
por um lado estava feliz com a oportunidade que 1999 apud MENEGASSI, 2007, p. 51).
UNIDADE IX 279
A proposta da Economia de Comunhão exempli- atendente te transfere para outro setor em que a
fica bem o que significa a ética com relação aos contagem recomeça. Confesso que já deixei pra lá
concorrentes. Passamos agora a outro stakeholder: muitas vezes meus direitos por não ter tempo de
o consumidor. encarar essa longa trajetória cheia de obstáculos
A ética na relação com o consumidor e os que certas empresas colocam para o atendimento
clientes. Aqui nós poderíamos conversar uma ao consumidor. Será ético dificultar os canais de
semana inteira sobre as experiências que cada atendimento ao cliente?
um de nós já passou na vida com relação à ética Há diversos princípios que se seguidos con-
ou à falta dela como consumidores. duzem à ética na relação entre empresa e con-
Muitos são os exemplos de posturas antiéti- sumidor. Dentre eles, Nash (2001) destaca: atuar
cas na relação entre empresa e consumidor. Uma sempre no âmbito da lei; manter a qualidade do
delas é a propaganda enganosa ou que induz à produto; evitar produtos que oferecem perigo à
interpretação equivocada. Tive uma experiência saúde ou à segurança das pessoas ou danos ao
há poucos minutos exatamente nesse sentido: ao meio ambiente; oferecer atendimento cortês e so-
comprar livros pela internet me deparei com uma lícito e respeitar a liberdade de escolha do cliente.
proposta muito bacana, que era fazer o cadas- Poderíamos acrescentar tantos outros, como for-
tro do site e ganhar R$ 30,00 na minha próxima necer informações verdadeiras e completas sobre
compra. Bacana, não? Achei ótima a proposta e os produtos ou serviços oferecidos e seguir à risca
fui preencher o cadastro. Aí lá pelas tantas eles o que prevê o Código de Defesa do Consumidor,
pediram os dados do cartão de crédito. Achei que foi criado certamente porque a ética não é
estranho porque afinal eu estaria ganhando um algo praticado por todas as empresas.
desconto na próxima compra e não aderindo a Vamos falar agora sobre a ética no relaciona-
nada. Mas não: olhei os passos seguintes e pedia a mento com empregados. Aqui poderíamos pensar
autorização de debitar cerca de R$ 20,00 por mês em três momentos: a contratação, a permanência
no meu cartão e isso geraria um desconto de R$ e o desligamento.
30,00 na próxima compra. Ou seja, esse “desconto” O processo de seleção para contratação de pes-
estava atrelado à adesão a um plano mensal em soas em algumas empresas ou organizações se-
que eu deveria gastar pelo menos R$ 20,00 em guem padrões isonômicos, ou seja, os candidatos
produtos naquele site. Não continuei o cadastro, possuem condições de equidade para concorrer a
obviamente, e a sensação como cliente foi que a uma determinada vaga de emprego. Nesses casos,
empresa usou de má fé, induzindo por meio de a postura ética é seguir à risca os padrões deter-
sua propaganda a uma interpretação equivocada minados para todos, sem exceções ou privilégios.
do que estavam oferecendo. A empresa certamen- Nos casos de empresas que não possuem es-
te perdeu muitos pontos comigo em termos de ses padrões pré-determinados, a escolha do novo
credibilidade e confiança. funcionário pode ocorrer de diferentes maneiras,
Outro aspecto é o atendimento ao consumidor. como indicações, competência técnica ou rela-
Quantos canais nos vencem pela canseira? Digite cional específica, por entrevistas, provas, enfim,
2, depois digite 5, 7, 9, 6, 4… 40 minutos depois as formas são as mais variadas. Quando não há
está você lá, ainda digitando números, ouvindo padrões definidos, a atenção com a ética deve ser
musiquinhas de espera e isso quando a ligação ainda maior, pois podem acontecer deslizes em
não cai no meio dessa novela de números ou o diversos pontos do processo. Arruda, Whitaker
O Código de Defesa do Consumidor traz em seu Capítulo III — Dos Direitos Básicos do Consumidor
— dentre outros, os seguintes itens:
I - a proteção da vida, saúde e segurança contra os riscos provocados por práticas no fornecimento
de produtos e serviços considerados perigosos ou nocivos;
II - a educação e divulgação sobre o consumo adequado dos produtos e serviços, asseguradas a
liberdade de escolha e a igualdade nas contratações;
III - a informação adequada e clara sobre os diferentes produtos e serviços, com especificação cor-
reta de quantidade, características, composição, qualidade, tributos incidentes e preço, bem como
sobre os riscos que apresentem;
IV - a proteção contra a publicidade enganosa e abusiva, métodos comerciais coercitivos ou desleais,
bem como contra práticas e cláusulas abusivas ou impostas no fornecimento de produtos e serviços;
V - a modificação das cláusulas contratuais que estabeleçam prestações desproporcionais ou sua
revisão em razão de fatos supervenientes que as tornem excessivamente onerosas.
Fonte: Código de Defesa do Consumidor (BRASIL, 1990).
UNIDADE IX 281
A permanência dos empregados em uma or- cadeiras. Os estagiários estão nas empresas para
ganização trará sem dúvidas dilemas constantes tarefas específicas e não cabe a ninguém desviá-
relacionados à posturas éticas, tanto deles com -los de suas atribuições. Devem ser respeitados
relação à empresa quanto da empresa com relação por todos.
a eles. Cabe a cada um buscar ter o melhor dis- A ética perpassa, evidentemente, todos os de-
cernimento possível a fim de que a contribuição mais stakeholders. O pagamento de impostos, por
singular do indivíduo contribua para a formação e exemplo, em vez da sonegação é uma postura ética
manutenção de uma cultura organizacional ética. da empresa com relação ao governo e à socieda-
Por fim, a ética no desligamento de empre- de; a redução de qualquer impacto negativo às
gados. Arruda, Whitaker e Ramos (2005) desta- comunidades locais e meio ambiente também é
cam que a saída não desejada de um funcionário uma postura ética; a precisão contábil e transpa-
requer muita compreensão e respeito e ressalta rência financeira para com os acionistas também
que “quando os processos não são claros, com é uma postura ética e assim com relação a todos
frequência surgem atitudes pouco éticas por os outros stakeholders.
parte do empregado que não deseja sair: pressão,
ameaça, trabalho mal feito, boicote” (ARRUDA;
WHITAKER; RAMOS, 2005, p. 122). Se a parceria
foi ética durante todo o tempo do empregado na
empresa, é de se esperar que também depois do Tenha sua dose extra de
seu desligamento essa relação continue. Aqui en- conhecimento assistindo ao
tram questões como guardar segredos industriais, vídeo. Para acessar, use seu
não difamar a empresa e tantos outros. Por parte leitor de QR Code.
Caro(a) aluno(a)!
Estamos aqui no último tópico da última
unidade do nosso livro! Já falamos sobre mui-
tos assuntos do mundo organizacional e agora
fechamos com um objetivo que não poderia ser
mais apropriado: descrever ações que podem ser
tomadas nas organizações a fim de instituciona-
lizar padrões éticos de conduta.
Falamos já no tópico anterior que a organiza-
ção ou a empresa é um pedacinho de sociedade e,
se ela é ética, está contribuindo para que a socieda-
de também o seja. Falamos também nessa unidade
que isso só se consegue por meio de cultura, cul-
tura ética, estabelecimento ou institucionalização
de cultura ética.
Sendo assim, neste último tópico falaremos
justamente sobre as ações que podem levar à ins-
titucionalização da ética nas organizações, o que
levará à formação de cultura que, por sua vez, ca-
racterizará uma organização como ética de fato.
Marinho (2016) descreve alguns elementos
da cultura da empresa que pretende trilhar o ca-
minho da ética: com relação ao público interno,
externo e à comunidade. Com relação ao público
interno, a autora salienta as relações de compro-
misso e confiança com os funcionários, bem como
UNIDADE IX 283
saúde, segurança e qualidade no ambiente de tra- tático e operacional). O segundo passo seria o
balho. Com relação ao público externo, entraria a treinamento para a aceitação dos valores deste
qualidade dos produtos ou serviços ofertados pela código — nesse aspecto o autor sugere que seja
organização, o relacionamento honesto com os feito pela chefia direta do funcionário para que
clientes e parceiros, a proteção ao meio ambiente seja efetivo. Por fim, o autor salienta a importância
e o cumprimento de todas as responsabilidades do compromisso com o código de ética que deve
legais, fiscais e sociais que dizem respeito à orga- ser de todos na organização.
nização. Por fim, com relação à comunidade, a
autora traz dois grandes caminhos: exercer a ci-
dadania e contribuir para uma sociedade melhor
para todos. Perceba que em ambos está implícito
o exemplo que a própria organização deve dar e Weaver (1993) define código de ética como docu-
isso geralmente parte dos líderes ou gestores e que mento formal distinto, que especifica obrigações
pode — e deve — ser difundido na empresa de di- éticas conscientes para a conduta organizacional,
versas formas — pelo próprio exemplo dos líderes, só existindo se for formulado com o propósito
por palestras de conscientização, por códigos de único de ser guiado por padrões morais para
conduta ou de ética e muitos outros. condutas éticas.
E como é possível disseminar valores dentro Fonte: Cherman e Tomei (2005, p. 101).
das organizações de modo que se tornem cultura
e caracterizem a empresa como ética? Bem, vamos
lembrar primeiramente que “a empresa é uma or- As pessoas muitas vezes têm entendimentos dife-
ganização em que as pessoas influenciam umas rentes sobre os fatos da vida, acho que isso não é
às outras na definição e na aceitação de valores e nenhuma novidade, não é mesmo? Bem, é essa di-
práticas” (ANDREWS, 2005, p. 67). Sendo assim, ferença de entendimento e percepção que faz que
o cotidiano de cada organização poderia inspirar seja tão necessários nas organizações os códigos de
dezenas de respostas diferentes a essa questão, ética — que podemos também chamar de códigos
com base nos diferentes contextos específicos de conduta ou códigos morais (MOREIRA, 1999).
existentes, mas vamos trazer aqui a visão de alguns O objetivo de um código de ética é “padroni-
autores a respeito de práticas que talvez possam zar e formalizar o entendimento da organização
ser adequadas para a maioria das organizações. empresarial em seus diversos relacionamentos e
Moreira (1999), por exemplo, sugere alguns operações” (MOREIRA, 1999, p. 33).
passos para a implantação de um programa de E qual o teor desses códigos? O que é contem-
ética nas organizações: o primeiro seria a criação plado neles exatamente? Bem, não há uma norma
de um código de ética, mas que essa criação fosse ou um padrão rigoroso a ser seguido, mas um
realizada com a participação de pessoas de todos levantamento realizado por Srour (2013) apontou
os níveis da organização (vimos isso também em temas recorrentes nos códigos de conduta moral,
nosso livro, se lembra? São os níveis estratégico, tais como:
“
“
parte dos colaboradores a fornecedores,
prestadores de serviços, clientes ou con- Não obstante a importância dos códigos de
correntes. ética, das normas morais referentes a vulne-
• Uso do tempo de trabalho para assuntos rabilidades específicas e da execução disci-
pessoais. plinada das políticas vigentes, esses requi-
• Discriminação de pessoas por quaisquer sitos não contém em si o poder emocional
razões ou atributos pessoais. definitivo do comprometimento pessoal.
• Assédio moral e sexual. O engajamento com os objetivos de quali-
• Uso de drogas ilícitas, ingestão de bebidas dade - entre eles o cumprimento da lei e a
alcoólicas. observância de altos padrões morais - é uma
• Relações de apadrinhamento. conquista da organização.
• Privacidade dos colaboradores.
• Difusão interna de fofocas. Matos (2011, p. 149) corrobora essa visão afirman-
• Proibição da comercialização interna de do que “certamente não se estabelece ética corpora-
produtos ou serviços por colaboradores. tiva por meio de códigos, mas da conscientização
• Utilização dos equipamentos e das instala- de valores, corporificados em diretrizes éticas que
ções da empresa para uso pessoal. traduzem cultura, estilos de liderança e estratégias”.
UNIDADE IX 285
O mesmo autor propõe algumas diretrizes para o estabelecimento de um modelo de gestão da ética,
tais como: definir a filosofia da empresa, definir as diretrizes éticas, criar os instrumentos institucionais
para a gestão da ética e desenvolver continuamente a consciência ética por meio da educação. O
Quadro 1 traz essas diretrizes e suas descrições:
Diretrizes Descrição
Definir a filosofia da É imprescindível que todos na empresa tenham plena consciência dos
empresa valores fundamentais que orientam os comportamentos. Significa tornar
palpáveis os traços fundamentais da cultura corporativa.
O ideal para que tudo isso se institucionalize é que haja na empresa um comitê estratégico de ética
corporativa, que procura constantemente refletir, discutir, avaliar, promover e acompanhar as con-
dutas e ações na empresa de modo a serem éticas. Cabe a um comitê como esse realizar eventos de
conscientização e reforço acerca da ética, tais como seminários, convenções, debates… enfim, o que
for apropriado para os objetivos propostos. A grande importância de um comitê de ética corporativa
é seu caráter pragmático e sistêmico, o que garante a continuidade e perenidade da cultura ética e não
somente ações isoladas ou esporádicas (MATOS, 2011).
Outra ação conjunta para a institucionalização de padrões éticos de conduta é a observação, refle-
xão e ações relacionadas a algumas dimensões essenciais para se chegar a essa finalidade, tais como
as apresentadas no Quadro 2:
2. Consciência ética Valores como a base da conduta Desenvolver meios para efetivar
ética. a ética nas relações de trabalho.
6. Responsabilidade social Ter uma efetiva atitude pública Buscar formas de promover
ética coerente e não apenas a preten- ações solidárias.
são de passar uma imagem ética.
Em suma a ideia é que sejam elaboradas estratégias de interatividade que promovam e motivem a
participação criativa e que se busque a conscientização coletiva dos valores éticos, determinantes na
formação de uma cultura ética madura na organização (MATOS, 2011).
Matos (2011) propõe, por fim, algumas etapas para a formulação de um modelo de ética corpora-
tiva que envolve lideranças em todos os níveis. A sequência de ações que compõem esse modelo está
descrita no Quadro 3:
UNIDADE IX 287
Etapas Descrição
4. Auditoria de cultura e clima Pesquisa realizada com todo o público interno com ênfase
organizacional / ética na empresa nos aspectos relacionados à cultura corporativa e à ética.
““
profissional, social… Em cada
a situação está encoberta pela ambiguidade, pela falta de infor- uma delas, sejamos essa pessoa
mações, pela diversidade de pontos de vista e pelo conflito de que age pensando também no
atribuições. Nessas situações — com que os gerentes convivem outro, conforme a chamada “re-
o tempo todo — as decisões éticas dependem tanto do processo gra de ouro” que é “fazer aos ou-
decisório em si quanto da experiência, da inteligência e da inte- tros o que gostaria que fosse feito
gridade do decididor (ANDREWS, 2005, p. 64). a mim e não fazer aos outros o
que não gostaria que fosse feito a
Andrews (2005, p. 74) complementa essa ideia dizendo que “em último mim”. Certamente as muitas “pe-
caso, os executivos resolvem questões conflitantes com base em seus quenas coisas” somadas é o que
próprios ditames emocionais e racionais”. A partir disso podemos constrói a sociedade mais ética,
concluir que a escolha das pessoas que ocuparão os cargos estratégicos justa e solidária.
de decisão é um dos aspectos mais importantes quando se quer fazer Vamos lá! Vamos fazer de
da organização um espaço ético. cada uma de nossas ações um
Nash (2001) elenca quatro traços essenciais de caráter que juntos tijolinho a mais na construção
representam um caminho para o atingimento de padrões éticos em dessa sociedade em que todos
uma organização: 1) habilidade para reconhecer e articular a ética nós sonhamos viver.
de um problema; 2) coragem pessoal para não racionalizar a má
ética; 3) respeito inato pelos outros; e 4) o valor pessoal derivado do
comportamento ético.
Haveria diversas outras características a serem somadas a essas,
entretanto, talvez essas englobem grande parte daquilo que leva um
líder a agir em conformidade com padrões éticos e promover em sua
organização essa cultura.
Em suma, a institucionalização da ética corporativa depende de
uma cultura voltada à ética que, por sua vez, se faz por meio de valores
incorporados e difundidos na organização, por exemplos de líderes,
por condições e ambiente favorável à ética, por explicitação daquilo
que se espera por meio de códigos de ética e, por fim, por meio da
adesão convicta de cada membro da organização a ser um indivíduo
ético em seu dia a dia, em suas ações cotidianas a fim de construir
todos juntos a ética corporativa.
Conforme já dissemos, toda organização é um “pedaço de socie-
dade” e, trabalhando para que esse “pedaço” seja um ambiente onde Modelo de ética corporativa
UNIDADE IX 289
Você pode utilizar seu diário de bordo para a resolução.
1. A empresa ética é definida, pelos nossos padrões, como aquela que conquistou o
respeito e a confiança de seus empregados, clientes, fornecedores, investidores e
outros, estabelecendo um equilíbrio aceitável entre seus interesses econômicos e
os interesses de todas as partes afetadas, quando toma decisões ou empreende
ações. Sobre a ética no âmbito organizacional, leia as afirmações abaixo:
I) A ética é algo que não influencia a vida organizacional ou a reputação da
empresa frente aos seus stakeholders. É somente uma escolha pessoal dos
gestores.
II) Valores comuns a uma empresa ética no longo prazo contribuem também
para os resultados financeiros da própria empresa.
III) O fato de uma empresa se propor a ser um espaço onde se vivencia a ética é
uma forma de contribuição também para a sociedade prosperar em termos
éticos.
IV) Empresas éticas atraem e retém empregados, fornecedores e clientes éticos
e responsáveis, sendo assim uma via de mão dupla em que essa relação se
estabelece.
290
(( ) Atuar sempre no âmbito da lei; manter a qualidade do produto; evitar produtos
que oferecem perigo à saúde ou à segurança das pessoas ou danos ao meio
ambiente; oferecer atendimento cortês e solícito e respeitar a liberdade de
escolha do cliente.
(( ) Seguir o que prevê o Código de Defesa do Consumidor.
(( ) Pagar corretamente os impostos.
291
LIVRO
FILME
292
ABBAGNANO, N. Dicionário de Filosofia. 5. ed. São Paulo: Martins Fontes, 2007.
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WEAVER, G. R. Corporate Codes of Ethics: Purpose, Process and Content Issues. Business and Society. CA,
v. 32, n. 1, p. 44-58, Spring 1993.
294
1. D.
2. A.
3. D.
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303
CONCLUSÃO
Caro(a) aluno(a)!
E chegamos ao final desta nossa jornada! Será?
Se por um lado concluímos este estudo, por outro lado ele nos abriu as por-
tas para uma nova visão de mundo e você percebe que agora não enxerga
mais as organizações, as pessoas, as relações entre elas e a sociedade como
antes. E quer mais, muito mais! Que bom!!! Atingi assim todos os objetivos
que tinha ao escrever para você este livro!
Como o próprio título do livro diz, aqui temos “conceitos de administração
e ética empresarial” e para cada um deles necessitaria outro livro inteiro
para tratar com mais profundidade — quando não até mesmo outro curso.
Todavia, você dispôs aqui de um compêndio sobre o mundo organizacional
elaborado com todo o cuidado para que você tivesse acesso àquilo de que
necessitará de imediato em sua vida profissional — e com pitadas para sua
vida pessoal e estudantil também.
Organizações existem por todos os lados em todos os âmbitos da nossa
vida. São elas que compõem a sociedade e por isso tratamos muito mais
delas de modo abrangente do que somente empresas — um tipo específico,
mas não único, de organização.
Desse modo, nosso livro abordou as organizações como um todo, seus
diversos tipos, os conceitos de administração e de organizações, as funções
da administração, suas áreas funcionais e suas teorias; deu destaque ao fator
humano nas organizações, abordou também elementos fundamentais de
gestão estratégica, gestão de projetos e de tendências no campo da admi-
nistração. Por fim, trouxe uma discussão específica sobre ética empresarial,
tão relevante para nossa sociedade e nosso país.
Espero que essa jornada tenha sido de fato somente o começo para você.
Sua escolha por este curso já demonstra o quanto você, caro(a) aluno(a), é
ávido por conhecimento e uma vez tendo “as portas da mente” abertas, elas
nunca mais serão como antes. Obrigada por termos caminhado juntos até
aqui e muito sucesso para a continuação de seu caminho!