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HELMUT H.

KRAMER

Tradução de
Francisco Alves de Pontes

Casa Publicadora Brasileira


T atu i — São Paulo
Título do original em inglês:
THE SEVENTH-DAY ADVENTIST REFORM
MOVEMENT

Direitos de tradução e publicação em


Língua Portuguesa reservados para a
Casa Publicadora Brasileira
Rodovia SP 127 — km 106
Caixa Postal 34
18270 - Tatuí, SP
Primeira edição
Cinco mil exemplares
1991

Editores: Almir A. Fonseca e Ivacy F. Oliveira


Programação Visual: Manoel A. Silva e
Vilma Piergentile
Capa: Luiz Gesini

IMPRESSO NO BRASIL
Printed in Brazil

8480-3
Nota do Editor
autor deste livreto cresceu em uma família

O devotada aos ensinos do Movimento Adven-


tista do Sétimo Dia da Reforma. O pai dele serviu
em seu ministério nos Estados Unidos. O próprio
Pastor Iíram er subseqüentemente ingressou no
corpo de obreiros do Movimento de Reforma e,
juntamente com sua esposa, consagrou muitos
anos de dedicado serviço ministerial no campo e
posteriormente em cargos administrativos de res­
ponsabilidade.
Nestas páginas, o Pastor Kramer narra sua pe­
regrinação de fé que finalmente o levou, bem co­
mo a sua família, a deixar a igreja da sua infância
e dos seus ativos labores e tornar-se Adventista
do Sétimo Dia. Ao contar sua experiência, ele exa­
mina de um modo amável e honesto as doutrinas
básicas que separam o Movimento da Reforma da
Igreja Adventista do Sétimo Dia.
Se, depois de ler este livreto, você ouvir o cha­
mado do Senhor para mudar a direção que tomou
no passado — mesmo que seja apenas para dizer:
Senhor, eu quero estudar mais estes assuntos —
o Pastor Kramer gostaria de ouvir isto de você.
Você pode entrar em contato com ele escrevendo-
lhe aos cuidados do Instituto de Pesquisas Bíbli­
cas, Associação Geral dos Adventistas do Sétimo
Dia, 6840 Eastern Avenue, NW, Washington, DC
20012 .
índice
Nota do Editor ......................................... 7
Ao Leitor ................................................... 9
Capítulo 1
Quem São Esses R eform istas?................. 13
Reformistas V italícios............................... 13
Adventistas Descontentes ....................... 15
Novos M em bros......................................... 19
Espírito de Crítica ................................... 20
Capítulo 2
Origem do Movimento da R eform a........ 22
O Adventismo na Alemanha Antes e
Durante a Primeira Guerra Mundial . . . 23
Desenvolvimento do Protesto ................ 27
Tentativas Para Resolver a Situação
Alemã .......................................................... 32
Mentalidade do Movimento da Reforma 39
Capítulo 3
História do Movimento da Reforma . . . . 43
Um Lema Incorretamente Aplicado . . . . 45
O Grande Cisma da R e fo rm a ................ 51
Atitudes Para Com a E d u cação ............ 56
Curso de Estudos da R e fo rm a .............. 58
Frutos do Movimento ............................... 59
Capítulo 4
Do Sinai ao Calvário ................................. 65
Os Anos no L a r ......................................... 65
Serviço no Movimento da Reforma . . . . 70
Diferenças Doutrinárias ........................... 78
S ep aração................................................... 87

Capítulo 5
Conceitos Equivocados — 12 P a r t e ........ 92
Espírito de F arisaísm o ............................. 92
Atitudes Para Com o Serviço Militar . . . 96
Marcha dos Acontecimentos Depois da
Guerra Civil A m ericana...........................112
Capítulo 6
Conceitos Equivocados — 2- P a r t e ........ 120
Liberdade de Consciência .......................120
Divórcio e Novo Casamento ...................124
Viver Saudável ......................................... 127
Capítulo 7
Doutrinas D iv e rg e n te s...............................133
A Mensagem de 1888 ............................... 133
Os 144.000 ................................................. 140
Comunhão Fechada ............................... 143
A Comissão Evangélica ........................... 145
O Remanescente e a Mensagem de
Laodicéia ................................................... 150
Natureza da D ivindade.............................154
Capítulo 8
O Trigo e o J o i o ......................................... 159
Capítulo 9
Conclusão ......................................................166
Ao Leitor

magine o seguinte cenário: Um sábado na igre­

/ ja você vê um visitante, que por todas as apa­


rências exteriores é um Adventista conservador,
aparentemente bem versado nas Escrituras e no
Espírito de Profecia.
Para ser hospitaleiro, você o convida à sua casa
para o almoço. Ao conversar com ele, torna-se evi­
dente que esse visitante não é membro da Igreja
Adventista. Pertence a outra organização que ele
descreve como um movimento que sustenta os pa­
drões originais da Igreja Adventista do Sétimo Dia.
Ele informa a você que esse movimento come­
çou quando a Igreja Adventista subverteu os man­
damentos de Deus e ordenou a seus membros que
se tornassem combatentes na luta armada no iní­
cio da Primeira Guerra Mundial. Ele expressa sua
convicção de que a Igreja Adventista deixou de
ser a igreja de Deus como resultado desta trans­
gressão. Pode até mesmo exibir documentos que
pareçam indicar que os dirigentes da Associação
Geral aprovaram essa ação imprópria, incorreta,
e dirá que toda a igreja se tornou cuipada da trans­
gressão dos mandamentos de Deus.
Você é tomado de surpresa por estes assuntos.
Naturalmente, você pergunta por que nunca ou­
viu antes a respeito destas coisas. Seu visitante
lhe diz que, compreensivelmente, a administração
da igreja tenta ocultar isto o máximo possível. Eles
não querem que os membros ouçam acerca do que
ocorreu.
Seu visitante apela para o seu senso de eqüida­
de. Anima-o a estudar seus ensinos de grupo e a
declarar-se a favor dos poucos perseguidos de Deus
em oposição àqueles líderes que apóiam a trans­
gressão aberta da lei de Deus. Faz parecer que os
verdadeiros crentes adventistas da Europa durante
a Primeira Guerra Mundial foram desligados da co­
munhão da igreja por causa da sua fidelidade ao
Senhor e que foram perseguidos por isto.
Ele descreve a organização da qual é membro,
como um movimento internacional que preserva
o movimento adventista em seus objetivos origi­
nais e convida o povo a “voltar para as veredas
antigas” . Pode também lhe expressar a idéia de
que este grupo não se organizou antes que fossem
tentados todos os meios possíveis para conciliação
com a Igreja Adventista.
Em seguida, o seu visitante chama-lhe a aten­
ção para as declarações do Espírito de Profecia,
que falam de uma reforma profetizada. Ele indi­
ca que estas profecias antecipam o estabelecimen­
to de outro movimento e que o “Movimento da Re­
forma” , do qual ele faz parte, é este movimento.
Declara que, a fim de tornar-se um verdadeiro fi­
lho de Deus, você deve deixar a Igreja Adventis­
ta do Sétimo Dia apóstata e fazer parte do verda­
deiro povo remanescente de Deus — o Movimen­
to Adventista do Sétimo Dia da Reforma — “ os
poucos fiéis de Deus” .
Quem são essas pessoas que se intitulam mem­
bros do Movimento Adventista do Sétimo Dia da
Reforma? Qual é a origem dessa organização, e
qual é a sua história? São eles o que afirmam ser,
ou são impostores? Poderia ser que eles constituam
um povo que esteja honestamente enganado, pen­
sando que está fazendo a vontade de Deus, sendo
que realmente não conhece todos os fatos?
Este livreto tentará responder as perguntas
que acabamos de citar. O autor foi criado desde
0 nascimento como membro do Movimento da Re­
forma. Serviu 20 anos na organização como col-
portor evangelista, pastor e administrador. So­
mente quando ele começou a ver as discrepâncias
entre o que a organização professava e como atua­
va, iniciou o reexame de alguns dos seus ensinos
<' práticas.
I)epois de tentar mudar o rumo no qual ele viu
(iue o movimento estava indo, chegou à conclusão
de que suas reivindicações fundamentais eram fa­
lhas. Seu direito fundamental à existência não su-
1><»i taria a prova da investigação. Alguns dos seus
ensinos se baseavam no raciocínio humano em vez
de em um “assim diz o Senhor” . Como resultado
dessa investigação, ele abandonou o Movimento
da Reforma e uniu-se à Igreja Adventista do Sé-
lirno Dia, onde agora serve como pastor.
0 propósito deste livreto é revelar de um mo­
do amável as falácias de alguns ensinos e atitu­
des do Movimento de Reforma. Salientaremos im­
portantes equívocos. A maioria dos crentes da Re­
forma são pessoas queridas que amam ao Senhor
e nada mais desejam do que fazer o que é correto.
Muitos não permaneceriam na organização se es­
tudassem os fatos com uma mente receptiva, im­
parcial, removendo todos os raciocínios humanos
preconcebidos.
O membro comum do Movimento da Reforma
não compreende as operações internas da lideran­
ça de sua organização. Ele enxerga, de certo mo­
do, apenas um quadro que tem sido polido. Os
membros têm sido de tal modo envenenados con­
tra a Igreja Adventista, que prefeririam não fre­
qüentar nenhuma igreja a ir a um culto adventis­
ta. Isso é muito triste. Se eles freqüentassem as
reuniões e se associassem com alguns fiéis cren­
tes adventistas, perceberiam que têm recebido
muitos conceitos errôneos a respeito do que os ad­
ventistas crêem e como vivem. Infelizmente, quan­
do visitam, é apenas com a finalidade de pôr os
adventistas em contato com sua mensagem ou cri­
ticá-los.
Os reformistas, portanto, como este livro de­
monstrará, são um povo que necessita de esclare­
cimento quanto à sua verdadeira condição. Neces­
sitam ser atraídos pelo exemplo de um cristão
amoroso para a união com o verdadeiro Movimen­
to Adventista de Deus.
Quem São
1 Esses
Reformistas?

ue espécie de povo constitui o Movimento


Adventista do Sétimo Dia da Reforma? Em­
bora possamos apenas generalizar, há certas coi­
sas, que aparentemente servem como denomina­
dor comum, que atraem tal grupo para a comu­
nhão. Certos conceitos influenciam essas pessoas,
bem como outros movimentos periféricos seme­
lhantes, para se manterem separados da Igreja
Adventista. Podemos identificar três classes ge­
rais que são atraídas para o movimento.

Reformistas Vitalícios

Uma grande percentagem dos membros é com­


posta de pessoas que nasceram e foram criadas
na organização. As crianças são doutrinadas des­
de a infância na história do movimento, por seus
pais e dirigentes da igreja. Como resultado, os re-
13
0 Movimento Adventista da Reforma

formistas vitalícios tendem a aceitar apenas aquela


informação que confirma o seu primeiro aprendi­
zado. Sendo que em sua mente a Igreja Adventis­
ta é uma “igreja caída” , tudo que procede desta
fonte é olhado com suspeita.
Os reformistas crêem que os escritos de Ellen
White que foram impressos após a sua morte têm
sido alterados pela liderança adventista. Por este
motivo, as declarações publicadas postumamen­
te, que refutam qualquer ensino que eles amam,
são rejeitadas. Por exemplo, sendo que os refor­
mistas crêem que o serviço militar em qualquer
forma é pecaminoso, eles descartam as afirmações
que apresentam outro ponto de vista, tais como
aquela que se encontra em Mensagens Escolhidas
concernente ã obrigação militar na Suíça (livro 2,
pág. 335).
Mesmo quando se tra ta da posição primitiva
dos adventistas pioneiros, no que tange ao servi­
ço militar, eles aceitam aquelas declarações que
concordam com sua opinião, e rejeitam as outras
que não concordam. Em essência, tentam reescre­
ver a história adventista. A história é reconstruí­
da de acordo com sua crença no que deve ter ocor­
rido, ao invés de segundo os registros indicam que
realmente aconteceu. Pelo fato de que os mem­
bros do Movimento da Reforma não são encora­
jados a ler qualquer outro material além do que
é provido para eles, seu pensamento, em grande
medida, tornou-se “inato” . Devemos ter grande
compaixão dessas pessoas por causa da sua igno­
rância produzida por opiniões preconcebidas.
14
Quem São Esses Reformistas?

Bastante amor é demonstrado aos seus pró­


prios membros. Se, porém, um deles pensar em
abandonar a comunhão, é imediatamente conside­
rado como um apostatado da verdade. 0 membro
não é mais digno da comunhão dos “santos”, sendo
excluído de toda amizade.
Aquele que deixa o Movimento da Reforma po­
de tornar-se muito solitário. Nossa família expe­
rimentou tal atitude quando nos retiramos da sua
comunhão. Esta atitude talvez seja responsável pe­
la permanência de alguns no movimento, apesar
da evidência de que estão sendo enganados. Al­
guns pastores tendem a permanecer depois de per­
ceberem as falácias da organização, porque não
estão dispostos a admitir que estavam enganados.
Outros temem a perda da sua pensão. Os estatu­
tos do trabalho afirmam isto claramente:
“Por decisão da Comissão da União America­
na, o ministro que permanecer em boa situação,
depois de ter completado dez anos de serviço, re­
ceberá 40% do seu salário no tempo da sua termi­
nação de serviço como pensão em caso de aposen­
tadoria ou incapacidade. Esta pensão só será pa­
ga àqueles que foram leais efiéis à verdade e à or­
ganização e assim permanecerem depois da sua
a,posentadoria. Em caso de dúvida, cabe à Comis­
são da União Americana tomar a decisão final.”1

Adventistas Descontentes

Outro segmento de membros provém daque­


les que por algum motivo se tornaram desapon­
15
0 Movimento Adventista da Reforma

tados na Igreja Adventista. Podem ver algo com


que não concordam, ou sentem que foram negli­
genciados, ou partilham da mentalidade daqueles
que estão no Movimento da Reforma, de que a Igre­
ja Adventista deveria tomar uma posição mais fir­
me em alguns assuntos que concernem ao estilo
de vida. Realmente, o Movimento da Reforma é
mais uma questão de mentalidade do que de dou­
trina.
Por exemplo, há um sentimento geral de que
a direção da igreja deve estabelecer normas de
conduta para todas as circunstâncias da vida. Uma
vez tomada a decisão, os membros são obrigados
a conformar-se com ela, a despeito da ausência de
apoio na Bíblia ou no Espírito de Profecia. Geral­
mente a liderança está disposta a estabelecer re­
gras para o povo. Podemos citar prescrições tais
como: É pecado fazer a barba no sábado, ou: É
pecado possuir um aparelho de televisão. (Os mem­
bros não estão inteiramente de acordo neste últi­
mo tema.)
Alguns dirigentes locais vão a grandes extre­
mos nestes assuntos. Em Porto Rico, por exem­
plo, descobri que o líder local tinha recusado bati­
zar uma pessoa porque sua família possuía um rá­
dio. Isto aconteceu apesar do fato de que a Asso­
ciação Geral do movimento não havia assumido tal
posição. Muito freqüentemente os líderes regio­
nais se tornam pequenos ditadores sobre o povo.
Os reformistas tendem a adotar o conceito ca­
tólico romano de autoridade da igreja. Embora re­
jeitem as decisões da Associação Geral da Igreja
16
Quem São Esses Reformistas?

Adventista do Sétimo Dia, aceitam as decisões da


sua Associação Geral, indo aos maiores extremos.
Lançam mão da seguinte declaração do Espírito
de Profecia como dando ã sua Associação Geral
autoridade ilimitada:
“ Às vezes, quando um pequeno grupo de ho­
mens a quem é confiada a administração geral da
obra tem procurado, em nome da Associação Ge­
ral, levar a cabo planos insensatos a fim de res­
tringir a obra de Deus, tenho dito que eu não po­
deria mais considerar a voz da Associação Geral,
representada por esses poucos homens, como sen­
do a voz de Deus. Mas isto não é afirmar que as
decisões de uma Associação Geral composta por
uma assembléia de homens devidamente nomea­
dos, representativos de todas as partes do campo
não devem ser respeitadas. Deus ordenou que os
representantes da Sua Igreja de todas as partes
da Terra, quando reunidos em uma Associação Ge­
ral, tenham autoridade. O erro que alguns estão
cm perigo de cometer consiste em conferir à mente
e juízo de um só homem, ou de um pequeno grupo
de homens, toda a medida de autoridade e influên­
cia com que Deus investiu Sua Igreja no julgamen­
to e voz da Associação Geral reunida a fim de pla­
nejar para a prosperidade e avanço da Sua obra.”2
Esta declaração tem sido mal empregada pela
direção da Reforma devido a uma tradução defi­
ciente do inglês para o alemão no ponto em que
a expressão “Associação Geral reunida” registra
apenas “Associação Geral” .3 Ampliam então o
significado desta declaração para ensinar que a As-
17
0 Movimento Adventista da Reforma

sociação Geral deve ser considerada como a voz


de Deus ao povo, tendo autoridade ilimitada. Em­
bora esta declaração no contexto venha indicar que
a Associação Geral em sessão tem autoridade pa­
ra decidir sobre o avanço da obra, outras declara­
ções esclarecem que tal autoridade em assuntos
doutrinários tem certos limites. Por exemplo:
Na comissão dada aos discípulos, Cristo não so­
mente lhes delineou a obra, mas lhes deu a men­
sagem. Ensinai o povo, disse, “a guardar todas
as coisas que Eu vos tenho mandado” . Os discí­
pulos deviam ensinar o que Cristo ensinara. 0 que
Ele falara, não só em pessoa, mas através de to­
dos os profetas e mestres do Velho Testamento,
aí se inclui. É excluído o ensino humano. Não há
lugar para a tradição, para as teorias e conclusões
dos homens, nem para a legislação da igreja. Ne­
nhuma das leis ordenadas por autoridade eclesiás­
tica se acha incluída na comissão. Nenhuma des­
sas têm os servos de Cristo de ensinar. “A lei e
os profetas” com a narração de Suas próprias pa­
lavras e atos, eis os tesouros confiados aos discí­
pulos para serem dados ao mundo. 0 nome de Cris­
to é-lhes senha, distintivo, traço de união, autori­
dade para seu modo de proceder, bem como fon­
te de êxito. Coisa alguma que não traga a autori­
dade dEle há de ser reconhecida em Seu reino.”4
Este conceito é ampliado ainda mais na seguin­
te declaração:
“Mas lembremo-nos de que a unidade cristã
não significa que a identidade de uma pessoa de­
va ser submergida na de outra; nem significa que
18
Quem São Esses Reformistas?

a mente de uma deva ser controlada pela mente


de outra. Deus não outorgou a qualquer homem
a autoridade que alguns, por palavra e ação, pro­
curam reivindicar. Deus requer que todos os ho­
mens permaneçam livres para seguir as instruções
da Palavra.6

Novos Membros

O terceiro grupo geral que compõe as fileiras


do Movimento da Reforma provém diretamente
de outras igrejas ou do mundo. Essas pessoas des­
conhecem a verdadeira história do Movimento Ad­
ventista e assim podem ser doutrinadas no ponto
de vista da Reforma quanto a esta mesma histó­
ria. Esta classe forma uma grande porção dos no­
vos conversos.
Durante anos, enquanto servia como pastor e
administrador do movimento, eu indagava por que
era tão difícil obter conversos da Igreja Adven­
tista aqui na América. O motivo agora me é cla­
ro. Os adventistas americanos têm pleno acesso
aos escritos do Espírito de Profecia e à história
da sua igreja. Conseqüentemente, com muita pro­
babilidade não crêem na imagem distorcida apre­
sentada pelos reformistas.
Na maioria dos casos, é mais fácil os reformis­
tas ganharem pessoas do “mundo” , que não pos­
suem uma formação adventista. Isto talvez não se­
ja igualmente verdade em países onde as pessoas
provêm de um ambiente católico e estão mais sa­
tisfeitas com o autoritarismo. Algumas dessas pes-
19
0 Movimento Adventista da Reforma

soas podem sentir-se um pouco desconfortáveis


com a liberdade de consciência e com a ênfase so­
bre responsabilidade pessoal que conduzem ao ver­
dadeiro crescimento cristão, conforme se encon­
tra na Igreja Adventista.
Como foi afirmado anteriormente, os reformis­
tas em geral ignoram a verdadeira história do Mo­
vimento Adventista. Inventaram o seu próprio
conceito desta história a fim de apoiar idéias pre­
concebidas quanto ao que deveria ter ocorrido. E
então saem à procura de evidência para confirmar
essas opiniões. Muitos estão honestamente enga­
nados, mas não obstante enganados.

Espírito de Crítica

Uma característica comum, encontrada entre


todas as classes de reformistas, é a disposição de
criticar a todos, especialmente a Igreja Adventis­
ta. Tal atitude permeia o movimento e afeta até
mesmo alguns dos seus ensinos. Freqüentemen­
te é expresso o pensamento: “Não aceitemos es­
ta doutrina, visto que ela nos tornaria muito se­
melhantes à Igreja Adventista. Por muitos anos,
o autor deste livreto assinou a Adventist Review
a fim de encontrar algo que pudesse ser utilizado
para provar que a Igreja Adventista ulteriormente
havia caído em apostasia. A seguinte declaração
da pena inspirada se aplica vigorosamente a este
espírito de crítica:
“ Satanás é o acusador de nossos irmãos” , e é
o seu espírito que inspira os homens a espreitar
20
Quem São Esses Reformistas?

os erros e defeitos do povo do Senhor, conservan-


do-o sob observação, enquanto deixa ignoradas
suas boas ações.6
Quanto melhor seria se os reformistas tomas­
sem como lema a instrução encontrada em Fili-
penses 4:8 —
“ Finalmente, irmãos, tudo o que é verdadei­
ro, tudo o que é respeitável, tudo o que é justo,
tudo o que é puro, tudo o que é amável, tudo o que
é de boa fama, se alguma virtude há e se algum
louvor existe, seja isso o que ocupe o vosso pen­
samento.”
Referências:
1. Working Policy of the International Missionary Society of Seventh-day Ad­
ventists, Reform Movement, American Union Conference, pág. 11 (ênfase
acrescentada).
Ellen G. White, Testimonies for the Church, vol. 9 (Mountain View, CA:
Pacific Press Publishing Assn., 1948): págs. 260 e 261.
.'I. Schatzkammer, Band 3, Seite 353-54.
I Ellen G. White, O Desejado de Todas as Nações, págs. 789 e 790.
• Testimonies for the Church, vol. 8, pág. 212
<■ Ellen G. White, 0 Grande Conflito, pág. 395.

21
Origem do
2 Movimento
da Reforma

J y m muitas partes do campo mundial, os ad-


M J ventistas de hoje se defrontam com uma or­
ganização hostil, que se intitula Movimento Ad-
ventista do Sétimo Dia da Reforma. As vezes es­
te grupo é designado como o “Movimento Alemão
da Reforma” porque se originou na Alemanha. Em
realidade, há atualmente duas grandes organiza­
ções, devido à ruptura que ocorreu em 1951. Des­
de essa separação, muito tempo tem sido gasto pe­
las facções opostas em luta uma com a outra e em
lidar com a dissensão nas fileiras. Como resulta­
do, eles têm tido menos tempo e energia para com­
bater a Igreja Adventista.
Ambas as organizações usam nomes quase
idênticos. Todavia, uma das facções se refere a si
mesma como a Sociedade Missionária Internacio­
nal. Sua origem comum é proveniente dos erros
cometidos por certos líderes da Igreja Adventis-
22
Origem do Movimento da Reforma

ta na Europa, no início da Primeira Guerra Mun­


dial. Para facilidade de identificação, usarei as ini­
ciais SMI para a facção da Sociedade Missionária
Internacional, e Movimento de 51 para a facção
que se separou da SMI durante uma luta pelo po­
der, ocorrida em 1951.

O Adventismo na Alemanha Antes


e Durante a Primeira Guerra Mundial

A fim de compreender a origem do Movimen­


to da Reforma em seu devido contexto, durante a
Primeira Guerra Mundial, é necessário saber um
pouco a respeito da Obra Adventista na Europa,
em contraste com a mesma obra na América. E
também necessário compreender a direção toma­
da pela liderança da igreja na Europa, ao aproxi­
mar-se o início da Primeira Guerra Mundial. Ou-
t.rossim, é proveitoso comparar a mentalidade dos
europeus com a mentalidade americana, a fim de
compreender como esse movimento pôde vir à

O Pastor L. R. Conradi (1856-1939), um mi­


grante alemão para a América, aceitou a mensa­
gem Adventista do Sétimo Dia em Iowa (1878).
Oito anos mais tarde (1886), a denominação o en­
viou para trabalhar na Europa, onde ele fomen­
tou um rápido avanço da igreja na Alemanha. Tor-
nou-se a principal coluna do adventismo alemão,
bem como em outras regiões da Europa. Sua for­
te liderança continuou por cerca de 35 anos. Sob
sua administração, a obra parecia prosperar. Até
23
0 Movimento Adventista da Reforma

mesmo Ellen White testificou, em 1901, que Con-


radi “estivera fazendo a obra de vários homens”.1
Embora na aparência exterior tudo parecesse ir
bem, estavam em operação influências sutis que,
posteriormente, afetariam de forma negativa a igre­
ja na Europa durante muitos anos. Parece prová­
vel que algum nacionalismo alemão começou a en­
trar furtivamente na obra de Conradi. Ele come­
çou a depreciar o movimento milerita da América,
bem como a importância do Espírito de Profecia.
“Enquanto estava traduzindo e revisando His-
tory ofthe Sabbath [História do Sábado] de J. N.
Andrews, Conradi se aprofundou nos escritos dos
reformadores protestantes. Ficou cada vez mais
empolgado com a idéia de que Lutero foi realmente
o arauto das três mensagens angélicas. Isto o le­
vou a depreciar todo o movimento milerita da
América. Parece possível que suas opiniões se es­
tivessem revestindo de alguma coloração naciona­
lista alemã, tão prevalecente em sua área de tra ­
balho durante o período que antecedeu a Primei­
ra Guerra Mundial. Alguns acreditam que o seu
desencanto com Ellen White foi devido ao fato de
que ela não se ajustava ao papel da boa alemã hous-
fra u [ama, dona-de-casa, mulher], que se conten­
tava em desempenhar uma função subordinada
nos negócios da igreja.”2
Nesse ínterim, dificuldades estavam sendo en­
frentadas na Europa, que não existiam na Amé­
rica, especialmente na esfera da observância do
sábado e do serviço militar. A lei exigia que as
crianças freqüentassem a escola no sábado. A me­
24
Origem do Movimento da Reforma

lhor exceção que os dirigentes da igreja puderam


obter em um acordo com o governo, permitia que
as crianças estudassem a Bíblia na escola no sá­
bado; porém a freqüência era obrigatória.3 Os re­
gistros indicam que os jovens adventistas agiam
de acordo com o exigido dever militar em tempo
de paz, mas freqüentemente eram aprisionados
por recusarem trabalhar e cumprir o dever no sá­
bado.4
Enquanto esteve na Europa, até mesmo Ellen
White, conforme aludimos anteriormente, teve de
enfrentar a situação de um recrutamento militar
dos irmãos da Suíça em tempo de paz. Isto pode­
ria surpreender a alguns, mas ela não falou con­
tra os irmãos que estavam indo para o serviço mi­
litar, mas de preferência os encorajou a serem
fiéis. Este assunto será abrangido com mais de­
talhes em um capítulo posterior.
Ellen White estava de pleno acordo com o en­
sino de João Batista, quando foi interrogado pe­
los soldados romanos. Eles lhe pediram informa­
ção concernente ao seu dever. “Também soldados
lhe perguntaram: E nós, que faremos? E ele lhes
disse: A ninguém maltrateis, não deis denúncia fal­
sa, e contentai-vos com o vosso soldo” (Lucas
.'5:14). Note que ele não lhes disse que deveriam
renunciar ao serviço militar.
No início da Primeira Guerra Mundial, quan­
do o governo exerceu pressão adicional sobre nos­
sos dirigentes, alguns se curvaram e instruíram
os membros da igreja a servir nas forças arma­
das no sábado, como fazem os outros soldados no
25
0 Movimento Adventista da Reforma

domingo. Em uma carta dirigida ao Ministério da


Guerra em Berlim a 4 de agosto de 1914, foi feita
a seguinte declaração:
“Mui Ilustre Senhor General e Ministro da
Guerra: Sendo que freqüentemente nosso ponto
de vista concernente ao nosso dever para com o
Governo, bem como nossa posição no serviço mi­
litar em geral; e especialmente, sendo que nossa
recusa de servir, em tempo de paz, no sábado é
considerada fanática, tomo portanto a liberdade
de apresentar a Vossa Excelência, a seguir, os
princípios dos Adventistas do Sétimo Dia na Ale­
manha, especialmente agora, na presente situa­
ção de guerra.
“ Conquanto permaneçamos nos fundamentos
das Sagradas Escrituras, e procuremos cumprir
os preceitos do Cristianismo, guardando o Dia de
Repouso (Sábado) que Deus estabeleceu no prin­
cípio, tentando pôr de lado todo trabalho nesse dia,
todavia nestes tempos de tensão, nos unimos em
defesa da Pátria, e sob estas circunstâncias tam­
bém portaremos armas no sábado. Neste ponto to­
mamos nossa posição na passagem encontrada em
I Pedro 2:13-17.” (Assinado) H. F. Schuberth, Pre­
sidente.
Em março do ano seguinte (1915), vários líde­
res da Divisão, inclusive L. R. Conradi, assinaram
uma carta adicional que ratificava a sua confor­
midade com essa posição. Conquanto esta última
declaração fosse enviada em nome da Divisão Eu­
ropéia, ela não tinha o apoio de todos os membros
da Comissão da Divisão. Alguns desses membros
26
Origem do Movimento da Reforma

se opuseram fortemente ao que consideravam uma


posição incorreta.

Desenvolvimento do Protesto

E sta postura em relação ao serviço de comba­


tente, bem como ao dever no sábado, estava cla­
ramente em oposição à atitude tomada pelos ad-
ventistas durante a Guerra Civil nos Estados Uni­
dos. Quando nossos membros na Alemanha se de­
frontaram com essa nova posição, muitos come­
çaram a protestar, exatamente como muitos pro­
testaram contra uma sugestão semelhante feita
por Tiago White durante a Guerra Civil na Amé­
rica. Ao invés de orar calmamente sobre o assun­
to e buscar sabedoria do Senhor, eles seguiram o
exemplo de alguns crentes do tempo da Guerra
('ivil. Ellen White descreveu a situação de então:
“Em Iowa eles levaram as coisas a grandes ex­
tremos e caíram em fanatismo. Confundiram ze­
lo e fanatismo com consciência. Em vez de serem
guiados pela razão e o são juízo, permitiram que
os sentimentos tomassem a direção. Estavam
prontos a se tornar mártires por sua fé. Todo es-
te sentimento os conduzia a Deus? A maior humil­
dade diante dEle? Isso os levara a confiar em Seu
poder para livrá-los da situação penosa à qual po­
deriam ser levados? Oh, não! Em vez de fazer suas
petições ao Deus do Céu e confiar unicamente em
Seu poder, apresentaram seus pedidos à legisla­
tura e foram recusados. Mostraram sua fraqueza
e expuseram sua falta de fé. Tudo isso serviu ape­
27
0 Movimento Adventista da Reforma

nas para levar essa classe peculiar, os observado­


res do sábado, a ser especialmente notada, e expô-
los a ser metidos em situações difíceis por aque­
les que não tinham nenhuma simpatia por eles.”5
Foi assim que alguns membros que se opunham
a essa posição nova e incorreta, tomada por alguns
dirigentes na Europa no início da Primeira Guer­
ra Mundial, começaram a protestar vigorosamen­
te. Esse protesto parece ter sido especialmente
forte em Bremen, Alemanha. A oposição nessa ci­
dade tornou-se muito vocal contra a direção da
igreja. Os protestos eram tão fortes que a dire­
ção da Associação teve de ser convocada para su­
focar o descontentamento que se generalizava.
Reuniões da igreja eram interrompidas por esses
protestos. Não podiam nem mesmo ser finaliza­
das com hino e oração.6
Esses protestadores, sem dúvida eram bem-
intencionados; não obstante, sua dissensão inter­
rompia os serviços de adoração na igreja. Como
aconteceu durante a Guerra Civil Americana, es­
ses membros que protestavam “confundiram zelo
e fanatismo com consciência”. Esta situação levou
a direção da igreja a reagir com outras ações in­
corretas, separando da comunhão os protestado­
res sem o devido procedimento. Isto, por sua vez,
produziu mais alienação e maus sentimentos, jun­
tamente com um espírito de antagonismo e perse­
guição de ambos os lados do problema. Quão me­
lhor teria sido se todos os crentes tivessem dado
ouvidos à injunção do Espírito de Profecia dada aos
adventistas americanos durante a Guerra Civil:
28
Origem do Movimento da Reforma

“Aqueles que estariam melhor preparados para


sacrificar até mesmo a vida, se lhes fosse exigi­
do, de preferência a colocar-se em uma posição em
que não pudessem obedecer a Deus, teriam o mí­
nimo a dizer. Não teriam nenhum motivo de jac­
tância. Sentiriam profundamente, e meditariam
muito, e suas orações subiriam ao Céu em busca
de sabedoria para agir e graça para permanecer
firmes. Aqueles que sentem que no temor de Deus
não podem conscienciosamente empenhar-se nesta
guerra, estarão muito calmos; e, quando forem in­
terrogados, declararão simplesmente o que são
obrigados a dizer a fim de responder ao inquiri­
dor, dando então a entender que não têm nenhu­
ma simpatia pela Rebelião.”7
Os membros desligados da comunhão iniciaram
então uma guerra aberta contra a Igreja Adventis-
la, “guerra” que às vezes se tornou muito cruel. Os
que se opunham à participação no conflito militar ~:
voltaram agora suas armas contra a igreja e pro-' "
curaram desacreditar sua liderança e o seu povo.
Sendo que naquele tempo os excomungados
não se tinham ainda organizado, surgiram vários
iiH1ivíduos sinceros, afirmando fazer parte do gru­
po. Logo se tornou difícil saber quem estava ou .,
não associado aos dissidentes. Como resultado das
ações fanáticas de alguns que pretendiam ser re­
formadores, a direção da Igreja Adventista ficou
ainda mais alienada e concluiu que todo o movi­
mento era composto de tais pessoas. É claro que
i:;l,o enfraqueceu as possibilidades de conciliação
posterior.
29
0 Movimento Adventista da Reforma

Certas pessoas afirmavam ter recebido visões


acerca do tempo para o término da graça. Os re­
formistas de hoje, porém, desconsideram total­
mente e negam que essas pessoas fizessem parte
do seu movimento. Se elas fizeram, não é realmen­
te a questão. O que importa é que foram percebi­
dos pela direção da igreja como sendo parte do mo­
vimento.
Ações muito insensatas e malignas foram pra­
ticadas por alguns desses dissidentes que impri­
miram folhetos controvertidos e deram a impres­
são de que estes eram editados pela casa publi-
cadora adventista. Outros foram tão longe a pon­
to de exigir que as propriedades da igreja lhes fos­
sem entregues.
O homem que posteriormente se tornou o prin
cipal porta-voz do movimento, Edmond Doers-
chler, apresentou a alegação de que os oficiais da
igreja tinham furtado as jpropriedades da igreja
dos verdadeiros crentes. E de interesse notar que
ele foi a própria pessoa escolhida para represen­
tar os membros que foram desligados da comu­
nhão da igreja diante dos irmãos da Associação
Geral em 1920.8 Por ser ele o porta-voz do gru­
po, suas palavras foram consideradas pela lideran­
ça da igreja como representando os sentimentos
de todo o movimento.
Em 1919, antes que os membros separados ti­
vessem determinado que posição a Associação Ge­
ral Adventista havia tomado nesse assunto do ser­
viço militar, eles publicaram 10.000 cópias de um
panfleto, descrevendo a Igreja Adventista como
30
Origem do Movimento da Reforma

a grande mulher apóstata. Esse panfleto continha


figuras ou ilustrações da verdadeira igreja de Apo­
calipse 12 e da igreja apóstata de Apocalipse 17.
No documento, eles tentavam provar, através dos
escritos de Ellen White, que as palavras “Caiu Ba­
bilônia” se aplicavam aos Adventistas do Sétimo
Dia.9 Isto foi feito apesar do fato de que ela de­
clarara expressamente que tal acusação nunca de­
veria ser feita.
“ Quando se levanta alguém, de nosso meio ou
fora de nós, tendo a preocupação de proclamar
uma mensagem que declare que o povo de Deus
pertence ao número dos de Babilônia, e que pre­
tenda que o alto clamor é um chamado para sair
dela, podereis saber que esse tal não é portador
ila mensagem da verdade. Não o recebais, não lhe
desejeis bom êxito; pois Deus não falou por ele,
nem lhe confiou uma mensagem, mas ele correu
ml,es de ser enviado.” 10
Evidentemente, os primeiros reformistas des­
conheciam essa declaração. Defrontando-se com es-
i c outras declarações semelhantes, da pena ins­
pirada, em anos recentes eles têm sido mais cui­
dadosos com sua terminologia. Contudo, a linha
de fundo da sua mensagem é ainda a mesma: “A
igreja caiu, e nós somos agora os verdadeiros ad-
venfistas. Sua salvação depende de você fazer par-
le dos ‘Poucos Fiéis’. Vão até ao ponto de racio­
nalizar a declaração citada anteriormente, enfa-
Ii/.ando as palavras “ele correu antes de ser en­
viado” . Para eles esta frase significa que viria o
leinpo em que tal declaração seria dada. Tiram tal
31
0 Movimento Adventista da Reforma

conclusão a despeito da clara mensagem subjacen­


te indicando o contrário.
Em 1919, os membros excomungados organiza-
ram-se em uma corporação eclesiástica sob o no­
me (numa tradução livre) de “ Sociedade Missio­
nária Internacional dos Adventistas do Sétimo
Dia, em funcionamento e sob direção firme e per­
manente desde 1844, União Alemã em funciona­
ria mento desde 1844” . 0 título em si revelava a ig­
norância dos dissidentes no tocante à história Ad­
ventista. Posteriormente, quando foram encontra­
das as declarações do Espírito de Profecia que fa - .
lavam de um’(movimento reformato rio.leles se vi-
., ram como o cumprimento de tal profecia. Por es-
^ ,te motivo, a nova organização mudou o seu nome
1^ para Adventista do Sétimo Dia do Movimento da
>^ R e fo rm a .

Tentativas Para Resolver a Situação Alemã

Quando o presidente da Associação Geral Ad­


ventista, Pastor A. G. Daniells, chegou à Alema- i
nha em 1920 a fim de examinar as questões em
conflito, não encontrou um grupo dissidente de
crentes que tinham permanecido fiéis à igreja e
suas doutrinas. Por esse tempo ele foi obrigado
a enfrentar uma organização desenvolvida que já
havia começado a trabalhar em oposição à igreja
e sua liderança. Além disso, o movimento já esta­
va sob a direção de certos homens inconstantes
e desarrazoados.
Ambos os representantes do grupo dissidente
32
Origem do Movimento da Reforma

na reunião de 1920 deixaram depois o Movimento


da Reforma. Edmond Doerschler, o principal porta-
voz, estabeleceu o seu próprio movimento na Ho­
landa um ano mais tarde. Ali ele agiu como um prín­
cipe sobre seus membros e de um modo muito an-
Iicristão, e finalmente morreu em uma instituição
de doentes mentais. O outro porta-voz, H. Spank-
nobel, posteriormente se tornou um nazista.
As discussões mantidas com o Pastor Daniells,
iw elaram que os dirigentes do grupo da reforma
Iinham estado cometendo muitos outros erros de
i|ue haviam acusado seus líderes adventistas de co­
meterem. Isto era verdade, especialmente em re-
l.ição ã conduta arbitrária contra os membros que
não concordavam com seus líderes. Houve vários
exemplos em que reformistas tinham sido sepa-
i.idos da comunhão do seu próprio movimento sem
0 devido processo, por uma comissão, em vez de
1iela igreja, segundo a ordem apropriada. Parecia,
entretanto, que os reformistas eram orgulhosos
demais para admitir que pudessem ter feito algo
errado.
Kssa posição é ainda hoje a sua divisa. A dire-
i :io da reforma ainda recusa admitir que possa co­
m e te r erros. O presidente da Associação Geral da
I;hvão SMI do movimento assume uma posição que
dista apenas um passo da infalibilidade. A discor­
de ncia com qualquer uma das suas decisões, sim­
plesmente prepara o caminho para exclusão da
ir.roja, especialmente quando se tra ta de obreiro.
I'or gentileza, anote alguns pronunciamentos re-
«•eiites com relação a isso:
33
0 Movimento Adventista da Reforma

Na carta da Associação Geral do Movimento


da Reforma (SMI) que foi refeita e registrada em
1973, existe a seguinte declaração:
“ Se um membro do Conselho, mencionado em
P. 5 (Corpo de diretores), ou um delegado da so­
ciedade, violar os princípios bíblicos, ou colocar-
se contra a ordem escrita e não escrita de nossa
denominação, o culpado pode, por uma pluralida­
de simples de votos da reunião da sociedade, ser
afastado do cargo e excluído da igreja.11
Como aprendi por experiência, a ordem não es­
crita era obedecer sem questionar a todos os de­
sejos do presidente da Associação Geral.
Na Sessão da Associação Geral de 1983 (SMI)
uma série de condições foi estabelecida pelo pre­
sidente da Associação Geral da Reforma, que in­
cluía: “Cada membro da Comissão da Associação
Geral se compromete a viver fielmente de acordo
com os Princípios, a pôr em prática as instruções
do presidente, e a não fomentar uma rebelião.12
Anteriormente, quando um membro da Comissão
da Associação Geral perguntou ao presidente por
que ele tinha agido diretamente contrário às de­
cisões tomadas pela Comissão, ele respondeu que
a Comissão era apenas consultiva.
Os reformistas da Alemanha se apegavam aos
conceitos europeus de autoritarismo. Não podiam
compreender a abordagem de trabalhar de um mo­
do amoroso com um membro errante, em vez de
separá-lo imediatamente da comunhão se ele não
seguisse incondicionalmente as decisões da lide­
rança da igreja. Ficaram ofendidos pelo fato de
34
Origem do Movimento da Reforma

(|ue a Associação Geral Adventista, depois de de­


clarar que os membros deveriam ser não-comba-
Ientes, não condenou nem excluiu aqueles que não
viram o assunto sob a mesma luz durante a Pri­
meira Guerra Mundial.
Sendo que a Associação Geral Adventista não
desligou imediatamente a Divisão, nem separou
da comunhão os dirigentes como punição pelos
cus pecados, os reformistas asseveram que a As-
ociação Geral se tornou responsável e, na reali­
dade, aprovou os seus erros. Nisto, eles são igno­
rantes da simples ordem e organização. Isso é cla­
ramente ressaltado pelo Pastor L. H. Christian:
“Uma Divisão da Associação Geral era, naquele
lempo, um organismo regularmente incorporado
(constituído em pessoa jurídica) com uma consti-
iilição (estatuto) e um eleitorado. Tal Divisão só
poderia ser organizada ou desfeita em uma assem­
bléia quadrienal da Associação Geral. A primeira
issembléia da Associação Geral dessa natureza,
iprts o início da Primeira Guerra Mundial, reuniu-
c em São Francisco, em 1918.13
A Divisão Européia foi depois terminada, na-
i|Uele ano. A direção da Associação Geral do Mo-
vimento da Reforma crê que tem o direito de subs-
Iituir um presidente de União se ele comete o que
consideram um erro, sem mesmo consultar o elei-
i (>rado. Não somente crêem nesta prática, mas têm
freqüentemente exercido esta suposta autorida­
de. Negligenciam a instrução do Espírito de Pro-
íecia, que declara: “0 fato de os homens comete­
rem erros, não é razão para pensarmos que não
35
0 Movimento Adventista da Reforma

estão habilitados para assumir responsabilida­


des.14 Deus reclamaria.
Quando o Pastor Daniells e vários outros ir­
mãos da Associação Geral Adventista da Améri­
ca se encontraram com os representantes do grupo
do Movimento da Reforma, os últimos lhes fize­
ram quatro perguntas. Os reformistas afirmaram
posteriormente que, por não terem recebido ne­
nhuma resposta satisfatória às suas perguntas, ne­
nhuma reconciliação poderia ocorrer.
Apresentando apenas a metade da história, os
reformistas fizeram parecer que o fracasso da re­
conciliação estava com o Pastor Daniells. A ver­
dade é que eles mesmos eram grandemente res­
ponsáveis. O Pastor Daniells e seus coobreiros fi­
zeram aos reformistas muitas perguntas importan­
tes, das quais, é triste dizer, a maioria dos refor­
mistas não estavam cientes. Eu, pessoalmente, não
sabia a respeito dessas perguntas, apesar do fato
de que nasci e fui criado no Movimento da Refor­
ma. Foi somente depois de deixar o movimento que
pesquisei esses assuntos por mim mesmo.
Essas perguntas foram um embaraço para os
porta-vozes da Reforma. As perguntas feitas pe­
la liderança adventista incluíam aquelas que pe­
diam fundamento lógico, ou base racional, para al­
gumas das terríveis acusações feitas pelos refor­
mistas contra a igreja. Uma pergunta enunciada
pelo Pastor Daniells foi: “ É vossa idéia que esta
ilustração da verdadeira igreja representa vossa
organização e que esta outra ilustração da igreja
apóstata representa nossa organização?” A esta
36
Origem do Movimento da Reforma

pergunta os representantes do Movimento da Re­


forma, depois de admitir que não sabiam que po­
sição os irmãos americanos tinham tomado na re­
cente guerra, responderam: “Aqui na Alemanha...
representamos a igreja verdadeira e eles repre­
sentam a apóstata.” 15
Os reformistas assumiram a posição de que
mesmo fazer a obra médica no exército era “ser­
viço do diabo” . O Pastor Daniells não podia acei­
tar essa posição radical à luz da posição histórica
dos adventistas durante a Guerra Civil. O regis-
I ro indica que eles estavam dispostos a participar
do serviço militar, contanto que não tivessem de
violar a consciência. Esta foi também a posição
tomada pelos irmãos americanos durante a Pri­
meira Guerra Mundial.
O Pastor Daniells ressaltou que, no recente
conflito, alguns irmãos na América tiveram difi­
culdade em determinar a devida posição a assu­
mir, como tinha sido o caso na Guerra Civil. De­
pois de prolongada discussão, eles decidiram so­
bre a mesma posição que a igreja tinha tomado
na Guerra Civil, e se declararam não-combatentes.
Kle prosseguiu declarando que, entretanto, hou-
ve honestas diferenças de opinião quanto aos li­
mites adequados no cumprimento de tal posição.
() líder adventista então declarou que, a determi­
nação final quanto ao que era certo e ao que era
errado, deveria ser deixada com a consciência in­
dividual do membro.
Essa última declaração ofendeu profundamen­
te os reformistas, que achavam que a igreja deve­
37
0 Movimento Adventista da Reforma

ria assumir a responsabilidade pela consciência de


cada um dos seus membros. No pensamento do
Movimento da Reforma não há lugar para a res­
ponsabilidade individual em relação a Deus. Ao
contrário, deve ser exercida responsabilidade cor­
porativa da parte da igreja por cada membro. Mui­
tos querem que todo dever seja determinado pela
direção da igreja. Esta posição deixa de tomar em
consideração declarações como as seguintes:
“Em questões de consciência, a alma deve ser
deixada livre. Ninguém deve controlar o espírito de
outro, julgar por outro, ou prescrever-lhe o dever.
Deus dá a toda alma liberdade de pensar, e seguir
suas próprias convicções. Cada um de nós dará con­
tas de si mesmo a Deus. Romanos 14:12. Ninguém
tem o direito de imergir sua individualidade na de
outro. Em tudo quanto envolve princípios, cada um
esteja inteiramente seguro em seu próprio ânimo.
Romanos 14:5. No reino de Cristo não há nenhu­
ma orgulhosa opressão, nenhuma obrigatoriedade
de costumes. Os anjos do Céu não vêm à Terra pa­
ra mandar e exigir homenagens, mas como mensa­
geiros da misericórdia, a fím de cooperar com os
homens em erguer a humanidade.” 16
“Como um povo, precisam nossa fé e prática
ser vitalizadas pelo Espírito Santo. Não se deve
exercer nenhum poder governativo que compeli­
ria o homem a obedecer aos ditames que a mente
finita exercesse. Deixai-vos pois do homem cujo
fôlego está no seu nariz, ordena o Senhor. Des­
viando a mente dos homens para que se apóiem
na sabedoria humana, pomos um véu entre Deus
38
Origem do Movimento da Reforma

e o homem, de modo que não pode ser visto Aquele


que é invisível.” 17
A direção do Movimento da Reforma geralmen-
l.e está disposta a fornecer orientação para seus
membros em cada detalhe da vida. A direção da
Associação Geral exige que todo material prepa­
rado para publicação, em qualquer parte do mun­
do, seja primeiro aprovado por eles. Deste modo,
alguns homens que estão no ápice controlam o que
todos crêem. Não há lugar para originalidade de
pensamento ou pesquisa por parte dos membros
ou mesmo dos obreiros. A direção não confia em
ninguém, nem mesmo nas comissões de literatu­
ra devidamente eleitas nos diferentes países. Os
líderes da Associação Geral não gostam de per­
mitir que essas comissões escolham o que é publi­
cado. Note a instrução da Pena Inspirada, concer­
nente a esse assunto:
“Quando os homens, em qualquer ramo da obra
de Deus, procuram trazer a mente e os talentos
dos agentes humanos do Senhor sob seu domínio,
.-issumiram uma jurisdição sobre seus semelhan­
tes que não poderão manter sem praticar injusti­
ça ou iniqüidade. O Senhor não colocou a nenhum
liomem como juiz, seja da pena ou da voz, dos obrei­
ros de Deus.” 18

Mentalidade do Movimento da Reforma

A mentalidade do Movimento da Reforma tem


t ornado impossível o trabalho em prol da unidade
entre essa organização e a Igreja Adventista. É
39
0 Movimento Adventista da Reforma

esta mentalidade, mais do que qualquer outra coi­


sa, que separa as duas organizações. A Igreja Ad­
ventista segue a instrução do Espírito de Profe­
cia de que para cada doutrina devemos exigir um
claro “Assim diz o Senhor” . (Veja O Grande Con­
flito, pág. 601). O Movimento da Reforma sustenta
o direito de legislar para o povo nos casos em que
a Palavra de Deus silencia, bem como em outras
situações, mesmo quando o Espírito de Profecia
declara exatamente o contrário. Assumindo essa
posição, a organização retornou ao autoritarismo
da Igreja Romana.
“Roma privou o povo da Escritura Sagrada e exi­
giu que todos os homens aceitassem seus ensinos em
lugar da própria Bíblia. Foi obra da Reforma resti­
tuir a Palavra de Deus aos homens; não é, porém,
sobejamente verdade que nas igrejas modernas os
homens são ensinados a depositar fé no credo e dog-
mas de sua igreja, em vez de nas Escrituras?”19
E um triste fato que os reformistas depositem
maior confiança nos “Princípios de Fé” , sua de­
claração fundamental de crença, do que na Bíblia.
Esse livreto se tornou um credo inflexível.
Crêem firmemente que sua organização cons­
titui o povo especial de Deus e que o movimento
não pode errar. Em uma ocasião, relatei ao presi­
dente da Associação Geral sobre uma visita cor­
dial que fiz a um alto oficial da Igreja Adventista.
Ele respondeu: “Há algumas pessoas fiéis na Igre­
ja Adventista, e elas finalmente se unirão ao Mo­
vimento da Reforma.” É demais para o orgulho
espiritual dos reformistas.
40
Origem do Movimento da Reforma

Desde a separação entre os reformistas e a


Igreja Adventista do Sétimo Dia em 1914, foram
feitas várias tentativas de reconciliação. A primei­
ra, que já foi mencionada, ocorreu em 1920, quan­
do o Pastor Daniells se encontrou com os repre­
sentantes do Movimento da Reforma. Em 1922,
•>s reformistas solicitaram uma audiência na Ses­
são da Associação Geral, em São Francisco. Es-
Ia não foi concedida pelo Pastor Daniells, devido
i sua experiência infrutífera em 1920. Pensando
bem, isso talvez tenha sido um erro da sua parte,
mas a decisão é compreensível à luz da sua expe­
riência anterior. Depois disso, houve outras reu­
niões. Estas, igualmente, resultaram em fracas­
so, devido ao espírito irredutível e farisaico dos
dirigentes do Movimento da Reforma, que pensam
()ue os adventistas devem ceder e aceitar o ponto
lie vista deles a fim de estar em ordem à vista de
I)eus.
Os reformistas assumiram a posição de que eles
foram chamados por Deus para promover seu mo­
vimento, e que a Igreja Adventista apostatou da
verdade. Como resultado, até mesmo os livros do
Kspírito de Profecia, publicados após a morte de
Kllen White, são suspeitos. Dessa maneira, eles
se excluem da instrução que poderia corrigir suas
idéias equivocadas.
Mesmo que o assunto do serviço militar pudesse
ser resolvido em harmonia com a posição dos re­
formistas, de total objeção consciente (recusa de
I»articipação no exército em todos os sentidos), a
maioria dos reformistas ainda rejeitaria unifica­
41
0 Movimento Adventista da Reforma

ção com a Igreja Adventista. Achariam outros mo­


tivos para serem um movimento separado. Os
membros estão constantemente cheios de maus re­
latórios concernentes às ações dos adventistas em
várias partes do mundo. Eles são, sem dúvida, ar­
dorosos batalhadores pela separação da Igreja
Adventista.
Através dos anos, desde a separação em 1914,
o movimento tem adotado outros ensinos que se
afastam das crenças adventistas. Hoje a direção
se apega tenazmente a essas doutrinas, a despei­
to de todas as provas da Bíblia e do Espírito de
Profecia em contrário. Este assunto será tratado
em outro capítulo.
Referências:
1. R. W. Schwarz, Light Bearers to the Remnant (Mountain View, CA: Paci­
fic Press Publishing Association, 1979), pág. 475.
2. Ibid.
3. Idem., pág. 220.
4. Idem, pág. 219; também, presenciado por 0. Kramer (meu pai).
5. Testimonies for the Church, vol. 1; págs. 356 e 357
6. Este testemunho é de 0. Kramer, meu pai, que estava ali quando era
jovem.
7. Testimonies for the Church, vol. 1, pág. 357
8. Report of a Meeting With the Opposition Movement, July 21-23, 1920,
in Friedensau, pág. 21.
9. Idem, pág. 23.
10. Ellen G. White, Testemunhos para Ministros, 1? edição, pág. 41.
11. Charter of the International Missionary Society of the Seventh-day Ad­
ventists, Reform Movement, General Conference — 1973 (ênfase acres­
centada).
12. The Sabbath Watchman, janeiro/fevereiro, 1984. 13. L. H. Christian, The
Aftermath of Fanaticism or a Counterfeit Reformation, pág. 21.
14. Testemunhos Para Ministros, pág. 304.
15. Report of a Meeting With the Opposition Movement, July 21-23, in Frie­
densau, pág. 32.
16. O Desejado de Todas as Nações, pág. 525.
17. Testemunhos Para Ministros, pág. 483.
18. Idem, pág. 293.
19. O Grande Conflito, pág. 388.

42
História do
3 Movimento
da Reforma

omo diretriz para a verificação de preten­

C sões espirituais, Jesus legou Seu bem-conhe-


r.ido “teste do pomar” — “pelos seus frutos os co
nhecereis” (Mat. 7:20). O leitor pode aplicar por
si mesmo o teste ao voltarmos agora a traçar a
história posterior do Movimento da Reforma.
Já vimos que o Movimento Adventista do Sé­
timo Dia da Reforma originou-se no que pode pa­
recer um bem fundado protesto contra a posição
errônea, tomada por alguns dos dirigentes da Igre­
ja Adventista na Europa, por ocasião do irrompi-
mento da Primeira Guerra Mundial. Também já
observamos que o movimento agiu presunçosa­
mente ao organizar-se em uma força ativa contra
sua igreja-mãe antes que se pudessem fazer ten­
tativas para conciliação.
O orgulho espiritual, manifestado por seus lí­
deres, impediu a reconciliação em 1920, e em to-
43
0 Movimento Adventista da Reforma

das as tentativas subseqüentes. Surge, naturalmen­


te, a pergunta: Qual tem sido a história do movimen­
to desde aquele momentoso tempo de separação
(1914) até o presente? Vemos evidência de que o Mo­
vimento da Reforma tem um chamado especial de
Deus e que tem recebido Sua bênção especial?
Os reformistas crêem que o seu movimento é
um cumprimento da profecia, e que eles são cha­
mados por Deus para dar a última mensagem de
advertência ao mundo. Consideram a Igreja Ad­
ventista como apostatada. Presumem que o seu
movimento é o cumprimento da reforma profeti­
zada de que falam os Testemunhos:
“ Em visões da noite, passaram diante de mim
representações de um grande movimento refor-
matório entre o povo de Deus. Muitos estavam lou­
vando a Deus. Os enfermos eram curados, e se ope­
ravam outros milagres. Via-se um espírito de in­
tercessão como foi manifestado antes do grande
Dia de Pentecostes. Foram vistos centenas e mi­
lhares visitando famílias e abrindo diante delas a
Palavra de Deus. Corações eram convencidos pe­
lo poder do Espírito Santo e se manifestava um
espírito de genuína conversão. Portas se abriam
em todas as partes para a proclamação da verda­
de. O mundo parecia iluminado pela influência ce­
lestial. Grandes bênçãos eram recebidas pelo fiel
e humilde povo de Deus. Ouvi vozes de louvor e
ação de graças, e parecia haver uma reforma tal
como testemunhamos em 1844.
Até mesmo os reformistas mais otimistas per­
cebem que esta descrição em nenhum sentido re-
44
História do Movimento da Reforma

presenta a verdadeira condição do Movimento da


Iteforma de hoje, ou de qualquer época de sua his-
I(iria. Esperam que tal condição virá a ser fruída
algum tempo no futuro.
Depois dos malfadados esforços para reconci-
liação com a Igreja Adventista em 1920 e 1922,
<>s reformistas saíram para levar sua mensagem
ao mundo. Organizaram uma Associação Geral em
l'.)25, época em que registraram as crenças fun-
ilamentais e normas organizacionais do movimento
• m um livreto intitulado The Princivles ofFaith
itud Church By-laws (Princípios de Fé e Estatutos
da Igreja). A escrita foi feita, sem dúvida em boa
fé, segundo a informação a eles disponível. Os re­
formistas tinham acesso limitado aos Testemunhos
do Espírito de Profecia, porque lhes faltava conhe­
ci mento adequado da língua inglesa. Somente um
pequeno número dos escritos de Ellen White era
disponível em alemão. Conseqüentemente, vários
■nsinamentos que não estavam em harmonia com
as crenças fundamentais adventistas ou com o Es­
pírito de Profecia, foram adotados nessa época.
Isto é compreensível e perdoável. O que não é com-
Iireensível, porém, é o que tem acontecido quan­
do mais Testemunhos se tornaram acessíveis a eles
c luz adicional tem sido revelada. O motivo jaz no
lema básico dos reformistas.

Um Lema Incorretamente Aplicado

Uma das divisas do Movimento da Reforma é


"Perguntai pelas veredas antigas”. (Veja Jeremias
45
0 Movimento Adventista da Reforma

6:16.) O problema é que eles freqüentemente não


sabem o que são as veredas antigas. Ao tentarem
manter-se fiéis às ‘’veredas antigas” através dos
anos, também assimilaram antigos erros e se ape­
garam tenazmente a eles, apesar de toda evidên­
cia em contrário.
Alguns líderes do Movimento da Reforma sus­
tentam erros ensinados pelos primeiros adventis­
tas. Um exemplo é a posição que certos líderes
mantêm, no que concerne à natureza de Cristo.
Sendo que pioneiros como Uriah Smith, ao menos
em um momento de sua experiência, acreditaram
que Cristo foi um ser criado, alguns reformistas
igualmente se apegam a este ensino. Para eles, es­
ta é a vereda antiga dos pioneiros adventistas e
deve estar certa. Agindo assim, eles rejeitam as
claras afirmações do Espírito de Profecia, concer­
nentes a este assunto.
No primeiro nome organizacional que adotaram,
eles fizeram a afirmação de que se mantinham fiéis
aos ensinos do Movimento Adventista em 1844.
Ainda fazem esta afirmação, demonstrando que
não possuem nem mesmo um conhecimento cor­
reto da história da Igreja Adventista. Apegar-se
aos ensinos de 1844, significaria que seus membros
deveriam ser observadores do domingo, consumi­
dores de carne de porco e fumantes.
A afirmação omite o fato de que a verdade pa­
ra o povo do advento foi e deve ser progressiva.
Como resultado desta concepção errônea, os en­
sinos do Movimento da Reforma se tornaram pe­
trificados, limitando-se às opiniões dos seus pri-
46
História do Movimento da Reforma

rneiros líderes, não dispondo de nenhum espaço


para ulterior expansão espiritual. Obreiros têm si­
do demitidos por ensinarem que Cristo possuía di­
vindade enquanto esteve na Terra, apesar do fa­
lo de que a Bíblia, bem como o Espírito de Profe­
cia, é extremamente clara neste assunto. Volta­
remos a falar sobre isto.
O lema dos reformistas, “perguntai pelas ve­
redas antigas” , impede a correção dos “Princípios
de Fé” . Os dirigentes percebem que existem er­
ros explícitos nesse livreto, mas não querem ad­
mitir que seus antepassados pudessem ter come-
I ido qualquer erro. Conseqüentemente, o livreto
permanece como foi a princípio adotado, não ten­
do nem mesmo correções editoriais.
Por exemplo, a direção tem recusado corrigir
i l.é mesmo erros tipográficos, tais como a citação
de passagens bíblicas que não existem. Em outro
caso, o livreto cita incorretamente o Espírito de
Profecia. Declara o livreto “Princípios” :
“ Concernente a isto escreve a Irmã White. Os
volumes do S p irit of Prophecy e também dos Tes­
timonies deveriam ser introduzidos em cada famí­
lia de observadores do sábado. Igualmente, os li­
vros deveriam ser oferecidos a todos pela igreja
a um preço baixo, e também ser encontrados nas
bibliotecas.”2
Quando lemos o original, é dada uma mensa­
gem inteiramente oposta:
“Os volumes do S p irit of Prophecy e também
dos Testimonies devem ser introduzidos em cada
lamília de observadores do sábado, e os irmãos de-
47
0 Movimento Adventista da Reforma

vem conhecer o seu valor e ser estimulados a lê-


los. Não é um plano sábio colocar estes livros a
um baixo custo e ter apenas uma série na igreja.
Eles devem estar na biblioteca de cada família e
ser lidos muitas vezes. Que sejam colocados onde
possam ser lidos por muitos, e que sejam gastos
de tanto ser lidos por todos os vizinhos.”3
Mesmo o conhecimento de tão evidentes erros
não vence o temor dos dirigentes do Movimento
da Reforma de fazer qualquer mudança nesse im­
portante documento.
Em 1978, os delegados em sessão da Associa­
ção Geral da Reforma (SMI) votaram por unani­
midade uma nova redação desse livreto. Quando
se fez a tentativa de tal revisão na Comissão da
Associação Geral, logo tornou-se evidente que tal
reescrita seria impossível. Alguns líderes, que pos­
suíam grande autoridade, pareciam acreditar que
a mudança mesmo de uma vírgula seria aposta­
sia da fé.
Em 1983, exigiu-se dos membros da Comissão
da Associação Geral a aquiescência a certas con­
dições. Uma declaração está assim redigida: “Ele
se compromete a viver fielmente de acordo com
os Princípios.”4 Desse modo, os reformistas rati­
ficam seu credo e recusam desentender-e com os
erros encontrados no documento. As seguintes de­
clarações de Ellen White, descrevem apropriada­
mente sua atitude:
‘■
‘Temem alguns que, se reconhecerem estar em
erro, ainda que seja num simples ponto, outros es­
píritos serão levados a duvidar de toda a teoria da
48
História do Movimento da Reforma

verdade. Têm, portanto, achado que não se deve


permitir a investigação; que ela tenderia para a dis­
sensão e a desunião. Mas se tal é o resultado da
investigação, quanto mais depressa vier, melhor.
Se há aqueles cuja fé na Palavra de Deus não su­
portará a prova de uma investigação das Escritu­
ras, quanto mais depressa forem revelados, melhor;
pois então estará aberto o caminho para lhes mos­
trar seu erro. Não podemos manter a opinião de
que uma posição uma vez assumida, uma vez ad­
vogada a idéia, não deve, sob qualquer circunstân­
cia ser abandonada. Há apenas Um que é infalível:
Aquele que é o Caminho, a Verdade e a Vida.”5
“Os que professam ser servos do Deus vivo,
precisam estar dispostos a ser servos de todos, em
vez de se exaltarem sobre os seus irmãos, e preci­
sam possuir um espírito bondoso, cortês. Se erra­
rem, devem estar prontos a confessá-lo por intei­
ro. A honestidade da intenção não pode ser tida
como escusa para não confessar o erro. A confis­
são não diminui a confiança da igreja no mensa­
geiro, e ele estaria dando um bom exemplo; seria
encorajado o espírito de confissão na igreja, e o
resultado seria agradável união.”6
Após a organização do Movimento da Reforma
em 1925, diferentes obreiros foram enviados ao
campo mundial a fim de levar a mensagem refor­
mista aos vários continentes. Um obreiro foi para
.i América do Sul com a finalidade de estabelecer
ili a obra. Vários viajaram para os Estados Uni­
dos e, finalmente, organizaram a União America-
iia. Mas, através dos anos, a União Americana tem
49
O Movimento Adventista da Reforma

sido uma área conturbada para a liderança ditato­


rial do movimento, sediada na Alemanha.
Parece que apesar de os obreiros enviados pa­
ra a América serem alemães, eles logo começaram
a respirar o ar livre dos Estados Unidos, e não se
sujeitaram mais à ditadura. Ao aprenderem a lín­
gua inglesa e serem capazes de ler extensamente
no Espírito de Profecia, começaram a nutrir opi­
niões que diferiam de seus líderes alemães. Repe­
tidas vezes foram feitas tentativas para forçar o
movimento americano a conformar-se com a As­
sociação Geral da Alemanha. Tenho em mãos do­
cumentos que revelam uma luta pelo poder, que
durou cerca de 40 anos, até que os americanos fi­
nalmente se submeteram a essa incontrolável di­
tadura, em 1982.
Não é o propósito do escritor desvendar todos
os terríveis detalhes do espírito que tem atuado
no movimento desde o seu início até o presente
dia. Tal revelação comprometedora não serviria
para a edificação espiritual de ninguém. Todavia,
os fatos demonstram que, ao longo dos anos, tem
havido uma batalha constante pela direção do mo­
vimento, com uma insurreição após outra.
Como base para uma elucidação posterior, po-
de-se afirmar que uma das mais negras manchas
da história do Movimento da Reforma ocorreu em
conexão com um dos presidentes da Associação
Geral. Esse homem publicou um livro em que in­
cluía declarações do Espírito de Profecia por ele
alteradas a fim de se ajustarem às suas supostas
idéias mais elevadas de moralidade sexual. Mais
50
História do Movimento da Reforma

tarde descobriu-se que o presidente era culpado


de cometer adultério.
É claro que não podemos julgar um movimen­
to por apenas um dos seus líderes. Somos todos
pecadores e todos nós necessitamos da graça e do
perdão de Deus. Entretanto, há ainda alguns ad­
ministradores no movimento que defendem os pre­
tensos altos padrões do viver familiar desse ex-
dirigente, a saber, que marido e esposa devem vi­
ver “como irmão e irmã” .
Sendo que os dirigentes da Reforma na Amé­
rica se opunham a esta posição antibíblica, eles fo­
ram estigmatizados como rebeldes e opositores à
ordem da igreja. Esta qualificação iníqua lançou
o fundamento da separação que ocorreu no Movi­
mento da Reforma, a qual se iniciou em 1948 e cul­
minou em 1951.

() Grande Cisma da Reforma

Em 1948, a direção da Associação Geral na Ale­


manha resolveu agir decisivamente a fim de do­
minar a União Americana e transferir a sede do
movimento para os Estados Unidos. Um obreiro,
interiormente conhecido por suas ações arrogan­
tes na Austrália, foi designado para os Estados
11ii idos, com a finalidade de reorganizar a obra na
11ii ião Americana. Tendo os líderes americanos re-
«•usado entregar a direção, conforme era exigido,
i-sse oficial, com uma penada, com uma simples
assinatura, dissolveu toda a União Americana e
excluiu seus dirigentes. Esse ato arbitrário susci­
51
0 Movimento Adventista da Reforma

tou um conflito que levou a maioria dos membros


na América a se retirar totalmente do movimen­
to. Alguns retornaram para a Igreja Adventista
do Sétimo Dia, enquanto outros renunciaram com­
pletamente a sua fé.
Em 1951, em outra sessão da Associação Ge­
ral da Reforma, o mesmo oficial, que com sua pró­
pria e suposta autoridade havia dissolvido a União
Americana, encenou uma rebelião, numa tentati­
va de tornar-se presidente da Associação Geral.
Não tendo sido satisfeitos os seus desejos, ele se
retirou com cerca de 45 por cento dos delegados
e organizou um novo movimento. Já havia conse­
guido, de maneira sinuosa, um controle sobre a
maior parte da propriedade. Estas ações ousadas
resultaram em uma causa judicial em que os dois
grupos se digladiaram pelo direito ao uso do no­
me e das propriedades. O caso foi resolvido ami­
gavelmente com o acordo de que não haveria mais
litígio no tocante ao nome. Por este motivo, há hoje
dois “Movimentos da Reforma” , cada um preten­
dendo ser o original.
Como foi declarado anteriormente, a fim de fa­
cilitar uma clara identificação das duas principais
facções que resultaram do “ Grande Cisma” de
1951, referir-me-ei a eles da seguinte maneira: (1)
SMI — (“ Sociedade Missionária Internacional”).
Este é o movimento original do qual eu fui mem­
bro. Este grupo tem sua sede da Associação Ge­
ral na Alemanha Ocidental. (2) O Movimento de
51. Este é o grupo que se separou do SMI em 1951.
Suponho que sua Associação Geral esteja atual-
52
História do Movimento da Reforma

mente localizada em Roanoke, Virgínia, Estados


Unidos. É necessário diferenciar entre esses dois
grupos, porque têm uma origem comum e ambos
usam o mesmo nome, “ Adventista do Sétimo Dia
do Movimento da Reforma” , ou alguma variação
desse nome.
Tem havido várias tentativas infrutíferas para
reconciliar essas duas facções do Movimento da Re­
forma. 0 esforço mais notável ocorreu em 1967, em
uma sessão da Associação Geral do Movimento da
Reforma de 51 no Brasil. Uma nomeada “comis-
:;ão de paz”, depois de examinar todos os documen-
Ios e entrevistar os dirigentes de sua facção que es-
lavam envolvidos na cisão de 1951, chegou à con­
clusão de que “não há nenhuma diferença entre nós
em princípios de fé.”7 Apesar de tal conclusão, a
reconciliação não aconteceu. Alguns líderes te­
miam que perderiam suas posições de autoridade;
Iambém não estavam dispostos a admitir que ha­
viam cometido algum erro. Contudo, é evidente
que ambos os movimentos se apegam tenazmen-
II■aos mesmos falsos ensinos revistos neste livro.
A separação de 1951 ocorreu como resultado
<1«• uma luta pela direção do movimento. Ainda hoje
■ada faccão tenta tirar membros da outra. Unica­
mente o seu antagonismo mútuo sobrepuja seus
entimentos contra a Igreja Adventista. Em 1952,
i 1Inião Americana, que nominalmente havia si­
lo desmembrada do movimento, foi novamente
'Inida à Associação Geral da facção denominada
Sociedade Missionária Internacional” do Movi­
mento da Reforma. Em anos posteriores, a luta
53
0 Movimento Adventista da Reforma

pela supremacia entre a União Americana e a As­


sociação Geral (SMI) veio mais uma vez ao primei­
ro plano. Em 1982 o presidente da Associação Ge­
ral, com ações arbitrárias e ilegais, tentou forçar
a União Americana a submeter-se completamen­
te ao seu domínio.
0 movimento experimentou dificuldades não s
mente nos Estados Unidos mas também em outras
regiões. Em 1978, fui eleito para servir como pre­
sidente da Divisão Norte-Americana do Movimento
Adventista do Sétimo Dia da Reforma (SMI). Es­
ta Divisão incluía toda a área desde o Canadá até
o Panamá. Recebi instrução da direção da Asso­
ciação Geral (SMI) para “limpar a sujeira” na Amé­
rica Central e no México. A condição que eu en­
contrei ali ainda me faz arrepiar até hoje.
Descobri líderes retendo propriedades da igreja
em seu nome pessoal. Havia uma ausência total
de guarda de registros. Um presidente de Asso­
ciação fora infiel à sua esposa e não tinha sido so­
licitado a demitir-se. O fanatismo era desmedido.
Cada dirigente impunha sobre os membros seu es­
tigma de reforma da saúde e do vestuário sem
qualquer prova da Bíblia, do Espírito de Profecia
ou evidência científica.
No México, por exemplo, a própria essência da
mensagem da saúde era não misturar alimentos
doces e salgados às refeições. 0 presidente da
União ensinava que este conselho era provenien­
te dos escritos do Espírito de Profecia que, é cla­
ro, não era o caso. A doutrina predominante, en­
sinada ao povo, relacionava-se com vestuário. 0
54
História do Movimento da Reforma

povo adotava os padrões defendidos pelo dirigen­


te local. Os membros estavam muito mais preo­
cupados com exterioridades do que com a condi­
ção do coração e um espírito amoroso para com
seus semelhantes.
Eu poderia falar também a respeito da Asso­
ciação onde os delegados acharam necessário afas­
tar de seus cargos os dirigentes anteriores. Eles
a nularam suas credenciais por causa de má con­
duta e atitudes não cristãs, e porque recusavam
' ntregar as propriedades da igreja aos oficiais de­
vidamente eleitos. O presidente recém-eleito era
um humilde servo do Senhor.
Pouco tempo depois, os antigos dirigentes or­
ganizaram uma revolta, e outra vez se apodera­
ram da direção da igreja. Quando isto se tornou
conhecido, a direção da Associação Geral (SMI)
preferiu não fazer nada, porque não era politica­
mente vantajoso. Isto aconteceu apesar do fato de
<|ue os dirigentes da Associação Geral sabiam tu-
•I" a respeito da corrupção desses homens. Prefe­
riram permitir que os membros sofressem abuso,
ao invés de tomar medidas em seu favor.
Quando isso ocorreu, renunciei ao cargo de pre-
Klente da Divisão. Eu não podia aceitar esse ím­
p io procedimento por parte daqueles que alardea-
\ .mi tão altas pretensões. Os reformistas constan-
i emente afirmam que mantêm elevados padrões,
mas no que concerne aos assuntos organizacionais
•lo movimento, o caos é total. O que importa é a
obrevivência dos mais poderosos.
E m uma Associação, conforme foi relatado pe-
55
0 Movimento Adventista da Reforma

los membros, raramente se havia celebrado a Ceia


do Senhor. Tinha havido poucos ou nenhum ba­
tismo. Mas o presidente havia excluído muitos
membros por ele considerados subversivos. Na
maioria dos casos o líder tinha feito isto sem mes­
mo levar o assunto perante a igreja.
Fazendo justiça a esse líder, eu diria que suas
ações arbitrárias não devem ser atribuídas a mau
procedimento premeditado. Na minha opinião,
seus erros foram devidos à falta de educação. Ele
fora enviado para a obra nesse campo com pouca
ou nenhuma instrução e nenhum salário. Fez o me­
lhor que pôde com as limitações que lhe eram im­
postas. Isto traz à baila outro ponto importante
— o assunto da educação.

Atitudes Para Com a Educação

Ellen White muito fala acerca da importância


da educação apropriada. Como resultado, os ad­
ventistas em geral são mais instruídos do que a
maioria da população. Com o Movimento da Re­
forma acontece exatamente o contrário. Em anos
recentes eles têm desencorajado seus jovens de ob­
terem uma educação, especialmente educação su­
perior. Em um país da América Central, descobri
que o dirigente havia aconselhado até mesmo aque­
les que estavam na escola primária a desistir, pois
segundo ele, a educação poderia ser prejudicial à
sua vida espiritual. Durante muitos anos, o Movi­
mento da Reforma (SMI) teve apenas uma escola
para obreiros missionários na Alemanha. Para fre-
56
História do Movimento da Reforma

qiientar essa escola, o estudante tinha de ser ver­


sado em alemão. Na América do Sul havia algu­
mas escolas primárias.
A União Americana estabeleceu sua primeira
escola primária nos Estados Unidos por volta de
l!*79. Desde então ela se tem desintegrado devi­
do à falta de interesse dos membros da Comissão
da União e ao ciúme por parte dos membros de
■iiitras regiões onde não há nenhuma escola. Os
reformistas raramente enviam seus filhos para as
i'scolas adventistas, pois crêem que elas represen-
Ium um perigo para os filhos do Movimento da Re-
l’<irma, A verdade talvez seja outra: os filhos se­
riam capazes de verificar que muitas das acusa-
<;òes feitas contra a Igreja Adventista, por seus
Ii.i is e dirigentes, são falsas.
A maioria dos reformistas simplesmente não
<l. i nenhuma prioridade à educação de seus filhos,
■om respeito a um ambiente cristão. Isto não faz
parte do seu pensamento. Quando se defrontam
<om as claras afirmações do Espírito de Profecia,
concernentes à importância da educação cristã,
implesmente respondem que estamos perto de­
mais do fim do tempo para estabelecer tais esco­
las. Como resultado, seus filhos estão sujeitos às
influências não cristãs das escolas públicas.
()s problemas existentes nas escolas adventis-
i.c. provêem outra desculpa para os reformistas
n;io operarem instituições educacionais. Arrazoam
<!»»«■as escolas públicas são precisamente tão boas
quanto as nossas. Quando foi iniciada uma escola
na sede da União Americana, cada despesa para
57
O Movimento Adventista da Reforma

expandir este projeto foi considerada como desper-|


dício por alguns membros da Comissão da União. S
Esta crítica foi feita, embora pouca ou nenhuma
despesa de funcionamento fosse exigida. A igreja
provia apenas o edifício utilizado pela escola.

Curso de Estudos da Reforma

Em 1972, a União Americana do Movimento da


Reforma (SMI) preparou uma série de estudos em
uma tentativa de justificar sua posição por ser uma
organização separada. As primeiras lições do Curso
de Estudos da Reforma foram enviadas a todos os !
obreiros adventistas do campo mundial, na espe-1
rança de ganhar novos conversos. Foi bem-sucedido
em difundir a obra do movimento, em alguns paí- j
ses adicionais, especialmente na índia, onde não
tinha existido nenhuma obra anteriormente.
Em minha compreensão, tem ocorrido recen-J
temente uma grande convulsão na obra ali, devi-1
do, novamente, às providências arbitrárias to-1
madas pela direção da Associação Geral. Por es- 1
te motivo, não é possível a esta altura saber quan-
tos membros o movimento pode ainda te r naque-i
le país.
O “Curso de Estudos da Reforma” está repl
to de muitas suposições falsas e desencaminhado-j
ras. Deixem-me apresentar apenas uma destas. A
lição 16 traz a seguinte declaração:
“Ao estudarmos os precedentes anjos de Apo­
calipse 14, descobrimos que cada um representa­
va um grupo especial de pessoas com uma men-
58
História do Movimento da Reforma

agem específica e com líderes exclusivamente


eus. Guilherme Miller se destacou na mensagem
do primeiro anjo, mas na mensagem do segundo
.ui jo ele não foi tão preeminente; e se uniu ao cla­
mor da meia-noite em 1844 apenas no final. Cada
vez diferentes líderes tomaram a obra e a levaram
avante. Deste modo, o terceiro anjo fo i outra vez
u ui grupo de pessoas com nova direção, nova or-
i/anização e uma nova mensagem. Cada novo anjo
trouxe uma sacudidura e nova luz.”9
Os autores fazem esta declaração para justifi­
car o Movimento da Reforma como um movimen­
t o separado, sendo que eles o vêem como “o ou­
t r o anjo de Apocalipse 18” .
Vejamos agora o que diz o Espírito de Profe-
■ia sobre isto:
“ Depois da passagem do tempo, Deus confiou
i Seus fiéis seguidores os princípios preciosos da
' idade presente.
“ Esses princípios não foram dados aos que não
i n r ram parte na proclamação da prim eira e da
nfiinda mensagens angélicas. Eles foram dados
mi:: obreiros que haviam tomado parte na obra des-
ih a começo.”9
Aqui está novamente um exemplo de como os
icft irrnistas distorcem a história do movimento ad-
'u i ista, a fim de provar que são o povo de Deus.

I i iitos do Movimento

Na sessão da Associação Geral de 1978, o Mo-


imonto da Reforma (SMI) reivindicou um núme­
59
O Movimento Adventista da Reforma

ro mundial de membros de cerca de 12.000, que


incluía uma estimativa de 3.000 membros na Rús­
sia. Posteriormente, o número para a Rússia foi
revisto para uma posição inferior de aproximada­
mente 100 membros. Em algumas regiões, sua
obra tem avançado; em outras, declinado. Na
América tem permanecido estática por muitos
anos, com possivelmente um pequeno acréscimo
por alguns anos, e seguido de um decréscimo. Em
1983, por exemplo, cerca de 10 por cento do nú­
mero de membros da União Americana deixaram
a igreja aproximadamente ao mesmo tempo. Isto
incluía cerca de dois terços dos obreiros empre­
gados pela União no ano anterior.
Não sou capaz de dar os números exatos de
membros para a facção do Movimento de 51. Mas
acho que eles têm um número semelhante ao do
SMI, ou apenas um pouco mais.
Infelizmente, os frutos do Movimento da Re­
forma não revelam a bênção especial de Deus so­
bre ele. Isto certamente não diz que tudo ali é mau.
O Senhor tem almas fiéis na comunhão do Movi­
mento da Reforma, pessoas que ignoram os fatos
ou que têm noções equivocadas a respeito de cer­
tos assuntos da verdade. Tenho grande compai­
xão e amor por essas pessoas.
Fui outrora enganado pelos ensinamentos do
Movimento da Reforma, e oro para que o Senhor
abra os olhos de outros membros, como abriu os
meus. Tendo nascido e me criado no movimento,
posso dizer que acreditei honestamente que aqui­
lo que me ensinaram era a verdade total. Minha
60
História do Movimento da Reforma

mente estava tão cheia de má vontade para com


os adventistas, que tudo o que eu testemunhava
que me levasse a duvidar do Movimento da Re­
forma era considerado como tentação de Satanás.
Tal é o espírito de adoração que é fomentado.
K lamentável, mas é real. Oremos por essas almas
iludidas. Somente o poder do Espírito Santo po­
de transpor o preconceito desenvolvido ao longo
de muitos anos. Os membros crêem honestamen­
te que todos os que abandonam o Movimento da
Iteforma estarão perdidos, visto que devem ter
abandonado o Senhor.
Testemunhando o espírito que hoje existe no
movimento, sou levado a pensar em uma narrati­
va que li muitos anos atrás. Ela me perturbou en-
tão, e continuou a me perturbar enquanto eu era
membro e obreiro no movimento. E a experiên­
cia pessoal de Stephen Smith, que recusou ler um
t estemunho que lhe foi enviado por Ellen White.
Km vez disto, ele se uniu a vários movimentos dis­
sidentes, até que finalmente o Espírito Santo
abrandou o seu coração, e ele confessou o seu er-
i <>e se reconciliou com a igreja remanescente. Par­
le de sua confissão diz o seguinte:
“Os fatos são coisas inflexíveis. Mas os fatos
demonstram que aqueles que se têm oposto a es-
i a obra foram reduzidos a nada, e aqueles que têm
estado de acordo com ela têm prosperado, têm-
i' tornado melhores, mais consagrados e piedosos.
Aqueles que a ela se têm oposto, só têm apren­
dido a lutar e a debater, e perderam toda a sua
i eligião. Nenhum homem honesto pode deixar de
61
O Movimento Adventista da Reforma

ver que Deus está com o Movimento do Advento


e contra nós que nos opusemos a ele. Quero es­
tar em comunhão com este povo no coração e na
igreja.” 10
Esta experiência se aplica muito apropriada­
mente ao movimento dissidente em discussão.
Conquanto seja verdade que algumas queridas al­
mas tenham crescido espiritualmente no Movimen­
to da Reforma, os frutos dos dirigentes e dos mem­
bros em geral são os frutos da crítica, do debate,
da separação e das lutas pelo poder e autoridade.
Está faltando a evidência para mostrar que es­
te movimento está “iluminando o mundo com a
influência celestial” , conforme foi profetizado do
movimento reformatório de que fala o Espírito de
Profecia. Conquanto os reformistas pretendam ser
o anjo de Apocalipse 18, a verdade é que, depois
de 75 anos de existência, eles constituem apenas
uma presença insignificante em algumas cidades
da América do Norte e um esparso número de
membros em outros países. Embora os reformis­
tas gostem de acreditar que os ministros adven-
tistas os temem, a realidade é que poucos minis­
tros já ouviram falar do Movimento da Reforma.
Toda a história do Movimento da Reforma é
uma deprimente história de lutas, devido à perse­
guição de fora e, mais ainda, dos problemas inter­
nos. Mesmo a mais viva imaginação é incapaz de
afirmar que o Senhor tem mostrado Suas ricas
bênçãos a este movimento religioso.
Atualmente, os reformistas levam avante uma
pequena obra em muitas partes do mundo. Seu re-
62
História do Movimento da Reforma

(luto não está mais na Alemanha, onde se iniciou


o movimento e onde a Associação Geral de uma
das facções (SMI) ainda está localizada. Uma obra
mais ampla se desenvolveu na América do Sul, em
países onde o povo ainda está disposto a aceitar
o controle ditatorial e os conceitos católico-roma-
nos de autoritarismo.
Neste livreto, falo principalmente a respeito da
facção “Sociedade Missionária Internacional” do
movimento, porque dela fui membro. Mas o que
('■dito aqui se aplica a ambos os grupos, visto que
eles têm origem comum e se apegam aos mesmos
casinos básicos. Quando mais não seja, a outra fac­
ção do movimento (’51) é ainda mais radical, e seus
dirigentes são ainda mais enganadores do que o
grupo do qual fui membro.
Os reformistas ainda gastam a maior parte do
seu tempo quer seja criticando a Igreja Adventis-
ta, quer seja se justificando como uma organização
separada, dissidente, ou ridicularizando a outra fac­
ção do Movimento de Reforma e o seu povo. Tal
eriticismo, infelizmente, se tornou sua religião.
“ Satanás é o ‘acusador de nossos irmãos’, e é
o seu espírito que inspira os homens a espreita­
rem os erros e defeitos do povo do Senhor, conser­
vando-o sob observação, enquanto deixa ignora­
das suas boas ações.”11
Referencias:
I Testimonies for the Church, vol. 9, pág. 126.
The Principies ofF aithof the Seventh-day Adventist Church, “ReformMo-
iiement”, págs. 10 e 11 (ênfase suprida).
i Testimonies for the Church, vol. 4, pág. 390 (ênfase suprida).

63
0 Movimento Adventista da Reforma

4. The Sabbath Watchman, janeiro/fevereiro, 1984.


5. Testemunhas Para Ministros, pág. 105.
6. Ellen G. White, Primeiros Escritos, págs. 102 e 103.
7. Peace Committee Report (‘51 Movement), São Paulo, 4 de setembro de
1967.
8. Reformation Study Course, Lesson 16 (ênfase suprida).
9. Ellen G. White, Mensagens Escolhidas, vol. 2, pág. 389 (ênfase suprida).
10. Spirit of Prophecy Treasure Chest: An Advent Source Collection of Ma­
terials Relating to the Gift of Prophecy in the Remnant Church and the
Life and Ministry of Ellen G. White (Washington, DC: Review & Herald
Publishing Assn. for Prophetic Guidance School of the Voice of Prophecy, ;
1960), pág. 48 (ênfase suprida).
11. O Grande Conflito, pág. 395.

64
Do Sinai
4 ao Calvário

jornada dos filhos de Israel do Monte Sinai

A para a Terra Prometida foi longa. Por cau­


sa da incredulidade, a nação vagueou no deserto
durante 40 anos. Se tivessem estado dispostos a
seguir as instruções do Senhor, teriam entrado
muito antes na Terra Prometida.
O apóstolo Paulo, no livro de Hebreus, discer­
ne o problema. Israel tentou ganhar a Terra Pro­
metida do mesmo modo que outros têm procura­
do ganhar o Céu. Contaram com suas próprias
obras para obter seu livramento, ao invés de con-
Tiar no Senhor e em Sua perfeita salvação. “Por­
que aquele que entrou no descanso de Deus, tam ­
bém ele mesmo descansou de suas obras, como
Deus das Suas” (Heb. 4:10).
On Anos no Lar
Muitos outros fizeram antes a jornada do Si-
65
O Movimento Adventista da Reforma

nai ao Calvário, mas este relato é acerca de mi­


nha jornada pessoal. Nasci em um lar cristão on­
de se enfatizava a estrita obediência a Deus e Sua
Palavra. A penalidade da desobediência era cla­
ramente retratada, como era a recompensa da obe­
diência. Pareço lembrar-me mais da ênfase sobre
a justiça de Deus do que do amor que Ele mani­
festou para com os filhos dos homens. Fui levado
a considerar a Deus o Pai como um juiz severo —
a imagem do pai severo — e Jesus como a ima­
gem da mãe condescendente, aquela que protege
o filho contra a austeridade excessiva do Pai.
Meu propósito, ao escrever, é retratar o que
me transformou de um ardoroso membro e obrei­
ro do Movimento da Reforma em um membro e
obreiro da Igreja Adventista do Sétimo Dia. Aque­
les que me conheceram não podem questionar o
fato de que antes de 1982 eu era um crente tão
firme na autenticidade do Movimento da Refor­
ma como ninguém poderia ser.
O lar de meus pais era muito exclusivo, não em
opulência, mas na opinião de que éramos o povo
escolhido de Deus. Todos os estranhos eram con­
siderados agentes de Satanás. Nós, filhos, éramos
proibidos de nos associar com outros jovens a fim
de evitar que eles, como filhos do maligno, nos con­
taminassem.
Sendo que nossa igreja não tinha escolas, eu
freqüentava a escola pública, juntamente com um
irmão e três irmãs. Não tínhamos permissão de
participar de nenhuma atividade extra-classe. Nem
nos engajávamos nos programas de educação fí-
66
Do Sinai ao Calvário

:;ica dentro da escola. Os últimos envolviam com-


11*‘tição que meu pai acreditava firmemente serem
pecaminosas e proibidas pelo Senhor.
Conseqüentemente, lembro-me de ter-me sen-
I ido um estranho entre meus iguais. Em nenhuma
ocasião tive amigos íntimos, nem mesmo nos anos
da escola secundária. Eu tinha medo de associar-
me com outros, porque, afinal, isto era “nós e eles”
“o povo de Deus em oposição aos filhos do dia­
bo”. 0 lema, o “slogan” era sempre: “separai-vos”,
a maneira em que o povo judeu se mantinha afas­
tado dos “gentios” que os rodeavam.
Com a idade aproximada de 13 anos, fui bati­
zado na igreja de meus pais, a Adventista do Sé­
timo Dia do Movimento da Reforma (SMI). Não
havia nenhuma dúvida em minha mente de que es­
ta igreja era o único e verdadeiro povo de Deus.
Eu deveria fazer parte deste movimento se qui­
sesse ser salvo. Isto havia sido implantado firme­
mente em minha memória desde a infância. Eu ti­
nha uma compreensão razoavelmente boa das dou­
trinas da igreja, mas ao olhar para trás, indago
:;e eu conhecia realmente o nosso amoroso Senhor
como deveria ter conhecido. Tal relacionamento
não era considerado de maior prioridade para a
aceitação como membro da igreja do que a com­
preensão doutrinal.
Eu tinha apenas 11 anos quando testemunhei
' ).■; primórdios de um terrível conflito entre duas
I icções do Movimento da Reforma. Por um lado,
<:;tava a União Americana, lutando para evitar a
dominação total pela Associação Geral (SMI) da
67
0 Movimento Adventista da Reforma

Alemanha. Por outro lado, estava o dirigente que


fora enviado pela Associação Geral para forçar a
União a submeter-se à sua vontade. Observei de per­
to este conflito, sendo que meu pai era ministro e
oficial da Associação do Movimento de Reforma.
Como resultado desse conflito, vi um número
considerável de membros deixar o Movimento da
Reforma e entrar na Igreja Adventista do Sétimo
Dia. Outros renunciaram totalmente a sua fé. A
batalha entre os reformistas esgotou o tesouro da
União e absorveu até mesmo um fundo especial que
fora reunido para iniciar a obra de saúde nos Es­
tados Unidos. Todos os recursos da igreja foram
consumidos na luta uns contra os outros, ao invés
de dar a última mensagem de advertência ao mun­
do ou expandir a obra em outros sentidos.
A luta entre essas duas facções atingiu o auge
em 1951, quando o Movimento da Reforma se di­
vidiu. D. Nicolici, com um grupo de partidários,
estabeleceu sua própria Associação Geral e come­
çou a batalhar contra o movimento original. Ago­
ra havia duas Associações Gerais do Movimento
da Reforma. Cada uma declarava que a outra es­
tava em rebelião e se excomungaram mutuamen­
te. Cada uma acusava a outra de tentar mudar os
“Princípios” do Movimento.
Esta luta tem continuado desde aquele dia até
o presente. Quando quer que uma facção estabe­
leça um grupo de crentes, a outra procura ganhar
os novos membros para si mesma.
Enquanto a SMI tentava combater estas ba­
talhas baseada nos fatos da situação, a outra fac-
68
Do Sinai ao Calvário

ção distribuía documentos de acusação contra nos­


sos líderes. Repetidas vezes, como jovem fui for­
rado a testemunhar uma batalha carnal que esta­
va sendo levada a efeito por pessoas que faziam
uma alta profissão de piedade, mas que estavam
apenas lutando para sua própria glória e honra.
Com muita freqüência, testemunhei mentiras sen-
<lo perpetradas pela facção oposta, a fim de con­
fundir pessoas simples, levando-as a apoiar sua or­
ganização e liderança.
Desde a mais tenra infância, eu havia sido dou-
I finado a crer que o Movimento da Reforma era to-
lalmente correto, e que a Igreja Adventista era uma
organização totalmente apostatada. Sempre que
ocorria algo que abalasse a confiança de uma pes­
soa (tal como a contenda pela liderança que resul­
tou no cisma da Reforma em 1951), diziam-lhe que
isto era prova de que o movimento deveria ser de
Deus. Se o Movimento não fosse a obra de Deus,
Satanás não tentaria destruí-lo tão implacavelmente.
Posteriormente, vim a perceber que tais bata­
lhas pela supremacia não eram novas no Movimen­
to de Reforma. E ra um fato natural desde o pró­
prio início. As lutas eram ocultas do povo, exceto
onde isto se tornava impossível, como as que ocor­
reram durante os anos de 1948-1952.
Estando intimamente associado com a obra,
porque meu pai era um ministro no movimento,
cu não era totalmente ignorante quanto ao que es­
tava ocorrendo. Ao mesmo tempo, expressar dú­
vidas a respeito da direção que o movimento es­
tava seguindo era considerado pecaminoso. Isto
69
0 Movimento Adventista da Reforma

implicava em dúvida de que o Senhor estava diri­


gindo. Afinal, sendo que a Igreja Adventista era
considerada “uma igreja caída” , para onde mais
poderia alguém ir?
É apenas natural que pessoas que estão em mo­
vimentos dissidentes que se separam da Igreja Ad­
ventista (tais como o Movimento da Reforma), de­
vam ter a maior parte dos seus contatos com ou­
tros de crença semelhante. Talvez tenham tam­
bém algumas coisas em comum com aqueles que
experimentaram agravos pessoais na Igreja Ad­
ventista. Relembrando muitos dos relatos que cir­
culavam entre os membros do movimento da Re­
forma, percebo agora que eles eram seriamente
distorcidos pelas fontes que os levavam.
Como crianças, éramos ensinados a olhar com
suspeita para tudo o que era feito pelos líderes e
o povo da “igreja-mãe”. Tudo que eles faziam e es­
creviam, deveria estar distorcido. Não tinham eles
tomado o lado de Satanás “subvertendo a posição
original dos pioneiros”? Finalmente, descobri que
nem mesmo conhecíamos a posição original dos pio­
neiros. Na realidade, os reformistas, consciente ou
inconscientemente, estavam tentando reescrever
a história adventista para se ajustar às suas pró­
prias idéias de como deveria ela ter sido.

Serviço no Movimento da Reforma

Depois de concluir a escola secundária e tra­


balhar por alguns anos como desenhista arquite­
tônico, senti o chamado do Senhor para ingressar
70
Do Sinai ao Calvário

no serviço missionário. Eu estava convencido de


<|ue a vinda do Senhor não poderia estar muito lon-
£e. Ao ver a pequenez do Movimento da Reforma
(' perceber quanta obra precisava ser feita para
advertir o mundo que ainda jazia em trevas, vi a
necessidade de fazer minha parte, a fim de apres­
sar a vinda do Senhor.
A princípio, comecei a trabalhar à base de meio
expediente, como colportor evangelista. Sendo que
a única escola missionária que o Movimento da Re­
forma tinha, estava na Alemanha (com instrução
somente em alemão), obtive meu preparo na es­
cola da experiência — através da colportagem e
dando estudos bíblicos. Além disso, obtive algum
preparo trabalhando no campo com obreiros mais
experientes. Depois, comecei a trabalhar em re­
gime de tempo integral no esforço missionário; a
IJnião Americana instituiu seminários a fim de
prover preparo adicional para seus obreiros.
Minha esposa e eu casamos em 1962, e come­
çamos a trabalhar juntos a fim de ganhar almas
para o Senhor, ou para a igreja (na mentalidade
dos reformistas os dois são sinônimos). Adquiri­
mos perícia em dar estudos bíblicos sobre assun­
tos doutrinários. Mas nunca fomos ensinados a le­
var uma alma ao pé da cruz. Como resultado, ga­
nhamos muito poucas pessoas. Subseqüentemen­
te a esses labores, respondemos a um chamado pa­
ra fazer serviço missionário de tempo integral em
Richmond, Virgínia. Ali, em grande parte, come­
çou a sério minha peregrinação.
Ao trabalhar de porta em porta, freqüentemen­
71
0 Movimento Adventista da Reforma

te me deparava com a pergunta feita por alguns


daqueles queridos batistas do Sul: “Você está sal­
vo?” Para eles esta era uma pergunta importan­
te. Contudo, eu não podia dar uma resposta clara
e honesta. Minha resposta íntima era: Espero es­
tar; ou: Se eu for fiel, estarei; ou: Estou trabalhan­
do neste sentido. Dentro do coração, eu sabia que
tal resposta não seria aceitável para essas pessoas
sinceras, nem eram tais respostas aceitáveis pa­
ra mim mesmo. Este dilema me levou às Escritu­
ras e ao Espírito de Profecia em busca de respos­
tas. Ao estudar, começou a raiar em minha men­
te obscurecida que, enquanto eu não aceitasse a
opinião batista de “uma vez salvo, salvo para sem­
pre” , não poderia e não deveria ter hoje a certe­
za da salvação como filho de Deus.
Os filhos de Israel gastaram muitos anos em
sua viagem para a Terra Prometida. Minha pere­
grinação, semelhantemente, levou muitos anos.
Passo a passo, através de muito estudo e da orien­
tação do Senhor, o processo foi adiante em minha
vida. Enquanto trabalhava com a Igreja da Refor­
ma local em Richmond, fui capaz de experimen­
tar de primeira mão os terríveis resultados do le-
galismo. Membros que eu sabia que nem por um
esforço da imaginação estavam vivendo a vida cris­
tã, eram muito fortes em obedecer à letra da lei
e em condenar àqueles que não viam as coisas co­
mo eles.
Depois de ser ordenado ao ministério, fui trans­
ferido para o Canadá, a fim de tomar conta de um
distrito de três igrejas. Ali encontrei os membros
72
Do Sinai ao Calvário

divididos por opiniões legalistas. Às vezes, eu era


obrigado a me assentar nas reuniões de comissão
.ité às 2:00 horas da manhã, ouvindo acusações
contra os membros da igreja e pedidos de puni­
rão. Por exemplo, um membro que estourasse pi­
poca sábado à tarde, deveria ser punido. Dever-
se-ia permitir aos membros ter um aparelho de te­
levisão? Estava o cabelo da organista suficiente­
mente comprido? Deveria ela ser afastada da fun­
ção por ter mandado cortar o cabelo? Comecei a
ver a verdadeira calamidade do legalismo. Vi igre­
jas e famílias separadas por atitudes não cristãs,
tudo em nome de fazer a “vontade de Deus” . Is­
to intensificou o meu desejo por algo melhor.
Nesse ínterim, continuei a cumprir minha ta ­
refa tão bem quanto podia. Isto me levou a visi-
!ar a reunião de oração da Igreja Adventista a fim
de encontrar pessoas que eu pudesse interessar
no Movimento da Reforma. Não obtive nenhum
converso com este método, mas vi muitas coisas
a respeito da Igreja Adventista, que comecei a ad­
mirar. Em uma igreja, o pastor dirigia classes de
testemunhos, nas quais aprendi a levar a mensa­
gem de salvação ao povo mais eficientemente. Ao
empregar estes princípios, meu ministério come­
çou lentamente a produzir fruto, e almas foram
ganhas para Cristo bem como para a igreja.
Em meu estudo, cheguei a obter concepções
mais claras da mensagem de justificação pela fé,
conforme foram apresentadas pelos irmãos Jones
e Waggoner à Igreja Adventista em 1888. Mas mi­
nha doutrinação passada nos ensinamentos da Re-
73
0 Movimento Adventista da Reforma

forma predispôs-me a crer que esta maravilhosa


mensagem tinha sido rejeitada pela Igreja Adven­
tista. Eis por que, eu tinha sido ensinado, havia
necessidade do Movimento da Reforma.
Às vezes eu tinha algumas dúvidas quanto à
realidade desta “rejeição” . Parecia-me que a men­
sagem estava sendo proclamada mais claramen­
te pela Igreja Adventista do que pelo Movimento
da Reforma. Em minha mente ainda não havia ne­
nhuma dúvida de que o Movimento da Reforma
compreendia o povo de Deus. Cumprindo meu “de­
ver” como bom reformista, eu procurava todo si­
nal de apostasia em meus contatos com a “igreja-
mãe” . Quando testemunhava problemas no Mo­
vimento da Reforma, isto apenas confirmava mi­
nha convicção de que este deveria ser o povo de
Deus, ou senão Satanás não estaria tão irado e ten­
tando destruir o Movimento. Apenas vagamente*
entrava em minha cabeça o pensamento de que tal­
vez estivéssemos construindo sobre um fundamen­
to arenoso de divagações humanas.
Enquanto trabalhava no Canadá e na parte
oriental dos Estados Unidos, tive de batalhar re­
petidamente contra os obreiros da facção rebelde
(‘51). Em uma ocasião, achei necessário passar vá­
rios dias em Boston e em Nova Iorque debatendo
com alguns dos seus dirigentes, porque eles esta­
vam tentando assumir a direção dos membros do
nosso grupo.
Embora percebesse que os líderes do grupo que
eu representava não eram perfeitos, a força do
meu argumento era que ao menos eles não tenta-
74
Do Sinai ao Calvário

vam enganar o povo. Testemunhei repetidas ve­


zes a terrível propensão dos dirigentes desse grupo
rebelde para mentir e torcer os fatos a fím de ten­
tar vencer uma discussão, um debate. Até aquele
tempo, eu nunca havia testemunhado a mesma fra­
queza nos líderes do meu grupo. Isto logo deveria
mudar.
Enquanto trabalhava na Califórnia, durante os
anos de 1975 a 1977, ajudei a fundar um novo gru­
po, que posteriormente se organizou em igreja. En­
tão, em 1977 aceitei um chamado para servir co­
mo presidente da União Americana (SMI) em Den­
ver, Colorado. No ano seguinte (1978), fui eleito
para servir também como presidente da Divisão
Norte-Americana. Estas pesadas responsabilidades
me afastavam da minha família por extensos pe­
ríodos. Minha esposa assumiu o fardo extra de edu­
car nossos dois filhos adolescentes na ausência de
um esposo/pai, enquanto trabalhava em regime de
tempo integral na obra de publicações.
Os novos desafios, contudo, eram estimulan­
tes, e eu colocava toda a minha energia em trans­
formar esses campos em entidades reais. No iní­
cio, os líderes da Associação Geral (SMI) me in­
formaram que esses campos eram “campos enfer­
mos” que necessitavam ser completamente reor­
ganizados. Descobri que a enfermidade era mui­
to mais do que superficial ou simplesmente orga­
nizacional.
Todo o Movimento da Reforma (SMI) no Méxi­
co e na América Central, estava dilacerado pelo le-
galismo e a corrupção. As almas não estavam sen-
75
0 Movimento Adventista da Reforma

do cuidadas por amorosos pastores, mas eram for­


çadas à submissão por miniditadores que com elas
não se preocupavam. Os dirigentes mantinham as
propriedades da igreja em seu próprio nome, e, em
alguns casos, viviam como reis, enquanto os mem­
bros viviam na pobreza. Membros eram excluídos
ou disciplinados por nenhum motivo maior do que
iniciar uma obra de saúde como esforço leigo, sem
a permissão do dirigente da igreja.
Trabalhei arduamente para deter a maré de
corrupção nessas regiões, apenas para descobrir
posteriormente que coisas idênticas estavam sendo
feitas em nível de Associação Geral. Como mem­
bro da Comissão da Associação Geral, logo des­
cobri que os fundos do dízimo estavam sendo uti­
lizados para outros propósitos que não aquele que
a mensageira do Senhor declarou. Em vez de pro­
ver sustento para os obreiros missionários, o dízi­
mo estava sendo usado para a compra de proprie­
dades em várias partes do mundo. Tudo isto esta­
va ocorrendo sem a aprovação, ou mesmo o co­
nhecimento, da Comissão da Associação Geral.
As ofertas arrecadadas para propósitos espe­
ciais não eram distribuídas para aqueles declara­
dos propósitos, mas eram despendidas segundo os
caprichos do presidente e do tesoureiro. A fim de
obter qualquer fundo previamente fixado para um
projeto em sua área, era necessário gozar das suas
boas graças.
Desaprovei tal atitude, e declarei que os mem­
bros não concordariam com esta prática de des­
viar fundos do propósito para o qual eram doados. i
76
Do Sinai ao Calvário

Fui informado de que os membros não tinham o


direito de saber como os fundos estavam sendo
gastos. Pela primeira vez, tive a experiência de
ver meus próprios dirigentes e coobreiros propo-
sitalmente engendrando falsidades. Isto me desi­
ludiu grandemente, e começaram a vir à tona dú­
vidas quanto à genuinidade do movimento.
Logo ficou claro que o objetivo dos dirigentes
da Associação Geral (SMI) era suplantar os mini-
ditadores locais do campo mundial com sua própria
autoridade. Exigiram, por exemplo, que cada pro­
priedade da igreja na América Central fosse trans­
ferida por meio de escritura para a Associação Ge­
ral (SMI), sendo o presidente e o tesoureiro admi­
nistradores efetivos. Descobri que isto já tinha si­
do feito na América do Sul e em Porto Rico.
Como presidente da Divisão, resisti a tais mu­
danças. Eu estava convencido de que na eventua­
lidade de uma insurreição comunista em qualquer
desses países, as primeiras propriedades a serem
confiscadas seriam aquelas possuídas por organi­
zações estrangeiras. A Comissão da União da
América Central concordou plenamente com es­
ta posição e recusou se render àquelas exigências
inconvenientes e arbitrárias.
Posteriormente, quando a União Americana,
com o estímulo da Associação Geral (SMI), com­
prou terra para estabelecer a obra de saúde nos
Estados Unidos, o auxílio financeiro, que antes ha­
via sido prometido, tornou-se então dependente
dessa propriedade que estava sendo transferida
para a Associação Geral. Esta situação fez-me
77
0 Movimento Adventista da Reforma

ciente da trilha perigosa que a direção do Movi­


mento da Reforma estava palmilhando ao estabe­
lecer “poder real” contra o que Ellen White ha­
via advertido tão fortemente.
Ao voltar-me para o Espírito de Profecia em
busca de iluminação, algumas declarações muito
salientes mostravam que uma situação semelhante
ocorrera anos antes na Igreja Adventista. A ser­
va do Senhor tinha falado claramente em oposi­
ção a tal situação:
“Quando é considerado conveniente inverter
meios em prédios escolares, sanatório ou em lares
para os pobres de qualquer país, a fim de ali esta­
belecer a obra, quer o Senhor que os que moram
nessa localidade andem humildemente diante dE-
le, e demonstrem reconhecer sua dependência pes­
soal dEle, e que crêem em Sua boa vontade de aju­
dá-los a planejar, idear a fazer arranjos inteligen­
tes para o seu trabalho. Está Ele tão disposto a dar
sabedoria aos que sentem o valor da graça divina,
como a dar sabedoria a qualquer outro espírito, que
então, com grandes despesas, vos comunique a mes­
ma coisa. Onde está vossa fé? Afastar-se-ão os ho­
mens do Deus da sabedoria para procurá-la entre
os homens finitos, mandando buscar homens a lon­
ga distância para que venham ajudá-los a sair das
perplexidades? Como considera isto o Senhor?1

Diferenças Doutrinárias

Foi somente depois que fui eleito para servir


como presidente da Divisão Norte-Americana e co-
78
Do Sinai ao Calvário

mo membro da Comissão da Associação Geral do


Movimento da Reforma (SMI), que comecei a ver
sérios problemas na organização. Primeiramente,
comecei a ver diferenças doutrinárias entre o que
eu havia aprendido dos líderes da Reforma na
América (e o meu próprio estudo da Bíblia e dos
Testemunhos) e o que era ensinado pelos líderes
europeus. Muito rapidamente comecei a notar a
desonestidade de alguns líderes na administração
diária da organização. Isto me levou a indagar se
o engano era praticado também em outras regiões.
Durante muitos anos, eu havia percebido que
o movimento tinha problemas com o livreto “Prin­
cípios” que estabelece as “Crenças Fundamentais”
do movimento. A maioria dos obreiros e muitos
membros percebiam que existiam assuntos no li­
vreto que não concordavam com as claras afirma­
ções da Bíblia e dos escritos da profetisa de Deus.
Mesmo assim, todos tinham medo de corrigir es­
se livreto, pelo temor de que o Movimento de Re­
forma oposto (a facção ‘51) usasse tais mudanças
em proveito próprio. Seus dirigentes seriam en­
tão capazes de afirmar que tínhamos mudado, de
sorte que eles poderiam pretender ser o movimen­
to original, aqueles que se apegavam às crenças
fundamentais do Movimento da Reforma.
Apesar desse temor, os delegados da Associa­
ção Geral (SMI), em 1978, votaram reescrever o
livreto. Quando, entretanto, a Comissão da Asso­
ciação Geral tentou iniciar essa obra, logo se tor­
nou evidente que qualquer correção ou mudança
seria impossível. Ao ponderar este impasse, voltei-
79
0 Movimento Adventista da Reforma

me novamente para a Bíblia, e especialmente pa­


ra o Espírito de Profecia, para ver o que a serva
do Senhor tinha a dizer em tais assuntos.
Fiz em meu coração a pergunta: Senhor, co­
mo chegamos a este beco sem saída, em que sa­
bemos que nossa declaração fundamental de fé é
incorreta, e, contudo, não somos capazes de mudá-
la? O que encontrei no Espírito de Profecia,
deixou-me sobressaltado. Antes desse tempo, eu
jamais questionei a necessidade de nossa declara­
ção doutrinária. Subitamente, percebi que o Mo­
vimento da Reforma, que amava profundamente,
havia caído em uma armadilha de Satanás, esta­
belecendo um credo imóvel, inalterável. Um “as­
sim diz o Senhor” tinha sido substituído por um
“assim diz a igreja” em oposição direta à instru­
ção do Senhor. As seguintes declarações me fize­
ram dar uma segunda olhada para o que anterior­
mente me haviam ensinado.
“Muitos hoje se apegam de modo idêntico aos
costumes e tradições de seus pais. Quando o Se­
nhor lhes envia mais luz, recusam-se a aceitá-la
porque, não havendo ela sido concedida a seus pais,
não foi por estes acolhida. Não estamos colocados
onde nossos pais se achavam; conseqüentemente,
nossos deveres e responsabilidades não são os mes­
mos. Não seremos aprovados por Deus olhando pa­
ra o exemplo de nossos pais a fim de determinar
nosso dever, em vez de pesquisar por nós mesmos
a Palavra da verdade. Nossa responsabilidade é
maior do que foi a de nossos antepassados. Somos
responsáveis pela luz que receberam, e que nos foi
80
Do Sinai ao Calvário

entregue como herança; somos também respon­


sáveis pela luz adicional que hoje, da Palavra de
Deus, está a brilhar sobre nós.”2
“Mas Deus terá sobre a Terra um povo que
mantenha a Bíblia, e a Bíblia só, como norma de
todas as doutrinas e base de todas as reformas. As
opiniões de homens ilustrados, as deduções da ciên­
cia, os credos ou decisões dos concílios eclesiásti­
cos, tão numerosos e discordantes como são as igre­
jas que representam, a voz da maioria — nenhu­
ma destas coisas, nem todas em conjunto, deveriam
considerar-se como prova, em favor ou contra qual­
quer ponto de fé religiosa. Antes de aceitar qual­
quer doutrina ou preceito, devemos pedir em seu
apoio um claro — ‘Assim diz o Senhor.”3
A Igreja Romana defende o conceito de que a
igreja tem o direito de determinar a doutrina, a
despeito do que a Palavra de Deus possa dizer. Em
oposição a este ponto de vista, está a insistência
protestante de que toda doutrina deve estar ba­
seada na Bíblia e na Bíblia somente. Cheguei à per­
cepção de que o Movimento da Reforma se apega
à opinião católica deste assunto, em vez de defen­
der a opinião protestante.
O Movimento da Reforma ensina que a igreja
tem autoridade para promulgar legislação religio­
sa, apesar das claras afirmações em contrário, fei­
tas pela Bíblia e o Espírito de Profecia. Por exem­
plo, o Movimento da Reforma fez do assunto do
vegetarianismo uma prova de comunhão, a des­
peito da clara afirmação da Pena Inspirada de que
tal posição não deveria ser tomada: “Não deve-
81
0 Movimento Adventista da Reforma

mos fazer do uso do alimento cárneo uma prova


de comunhão.”4 Os reformistas desculpam sua
posição, afirmando que a luz progrediu, chegan­
do ao ponto em que a declaração precedente não
é mais aplicável. Embora os reformistas dificilmen­
te queiram admitir, suas atitudes em relação à au­
toridade da igreja são mais católicas do que pro­
testantes.
Comecei a perceber que o Movimento da Re­
forma estava cheio de muitas normas forjadas pelo
homem. A Palavra de Deus toma o segundo lugar
para um “assim diz a igreja” . Quando comecei
a entender este fato, percebi que algo estava es­
sencialmente errado com o movimento que eu
amava e ao qual tinha dado 20 anos da minha
vida.
Uma noite, assisti a uma reunião evangelísti-
ca em uma igreja adventista perto da minha ca­
sa, no Colorado. Foi exibido o filme “Enganados”.
Esse filme documenta a história de Jim Jones e
Jonestown. Ele me levou a uma profunda e sóbria
reflexão. Ressaltava que quando a princípio o “Tem­
plo do Povo” começou, parecia ser um lugar on­
de o amor de Cristo irradiava. Os membros se em­
penharam em uma grande obra a fim de estender
a mão em assistência aos seus semelhantes. As
pessoas eram atraídas para essa igreja por causa
da comunhão e das bênçãos que recebiam.
Todavia, a situação mudava à medida que Jim
Jones gradualmente se tornava um ditador sobre
o povo. Agora, conhecemos o resultado final des­
sa lavagem cerebral. Os noticiários revelaram o
82
Do Sinai ao Calvário

horror quando várias centenas de pessoas segui­


ram cegamente o seu líder para a morte. Ao ver
esse filme, veio-me a assustadora percepção de que
muitas situações semelhantes estavam ocorrendo
na igreja que era a minha vida. Poderia ser que
minha igreja, iniciada por uma boa causa, tivesse-
se desviado dos seus objetivos e estivesse seguin­
do uma direção semelhante à do “Templo do Po­
vo”? Esta experiência me levou a procurar saber
o que o Senhor desejava realmente que Sua igre­
ja fosse.
Por volta do mesmo tempo, o Senhor colocou
em minhas mãos vários livros que despertaram
ainda mais o meu pensamento. Em 1981, os Ad-
ventistas publicaram o “Early Elmshaven Years”
[Primeiros Anos em Elmshaven (volume 5 em uma
biografia de 6 volumes de Ellen G. White). Ao ler
esse livro, recapitulei as experiências pelas quais
a Igreja Adventista havia passado naqueles dias.
Percebi que o Movimento da Reforma tinha em
seu meio os mesmos problemas contra os quais El­
len White havia falado tão veementemente. Um
dia, enquanto visitava a Califórnia, entrei por cu­
riosidade no Adventist Book Center e me depa­
rei com um livro sobre a história Adventista,
“Light Bearers to the Remnant” [Portadores de
Luz para os Remanescentes], de R. W. Schwarz.
Comprei este livro com a intenção de usar o ma­
terial nele contido contra a Igreja Adventista. Ele
documentava muitas coisas das quais eu nunca
dantes havia tomado conhecimento.
Em outra ocasião, enquanto visitava parentes
83
0 Movimento Adventista da Reforma

em Berrien Springs, Michigan, comprei outro li­


vro que documentava a falácia da idéia de que a
mensagem de justificação pela fé tinha sido rejei­
tada pela Igreja Adventista em 1888. Este livro,
“Thirteen Crisis Years” [Treze Anos de Crise], do
Pastor A. V. Olson, revela o fato de que embora
muitos dos principais homens no início rejeitassem
a mensagem, posteriormente se arrependeram e
a aceitaram. Adicionalmente, o fato é que a igre­
ja não tomou qualquer medida oficial sobre este
assunto em 1888.
Eu vi agora que a pretensão do Movimento da
Reforma — de que esta mensagem enviada pelo
Céu foi rejeitada, e como resultado nasceu o Mo­
vimento da Reforma — era falsa. Assim, sua rei­
vindicação de ser representada pelo anjo de Apo­
calipse 18 não poderia ter nenhuma base nos fa­
tos. Verifiquei que realmente eram os reformis­
tas os que se estavam apegando aos ensinos e ati­
tudes que tinham produzido a necessidade dessa
mensagem. Eles mesmos nunca haviam aceitado
a mensagem; sequer a compreendiam.
Ao começar a compreender estas novas idéias,
senti que era meu dever partilhar este conhecimen­
to com meus companheiros de fé. Era evidente que
havíamos seguido um caminho falso. E ra meu de­
sejo ajudar o povo a ver que necessitava de corre­
ção para que pudéssemos colocar-nos na posição
em que o Senhor desejava que estivéssemos.
Tentei mudar a direção do movimento, apelan­
do para os membros da Comissão da Associação
Geral, mas sem sucesso. Eu escrevia e falava sem
84
Do Sinai ao Calvário

rodeios contra as muitas posições errôneas defen­


didas pelo movimento, que o meu estudo do Espí­
rito de Profecia tinha revelado. Finalmente, con­
tudo, fui forçado a verificar que, para ser fiel à
Bíblia e ao Espírito de Profecia, eu deveria sepa­
rar-me desse falso movimento.
Tinha havido muita controvérsia entre mim e
os dirigentes da Associação Geral da Reforma
(SMI), especialmente quanto ao uso do dinheiro.
Em primeiro lugar, a direção achava que o povo
não tinha nenhum direito de saber como os dízi­
mos e ofertas estavam sendo usados. Segundo,
eles esperavam que o meu salário e as despesas
de viagem para todas as partes da Divisão Norte-
Americana fossem pagos pela União Americana.
Ao mesmo tempo, estavam coletando fundos de
todas as partes da Divisão e não os repassavam
para aquela Divisão. Eu não tinha nenhum orça­
mento para operações, até que pressionei ao má­
ximo os dirigentes da Associação Geral. Foi en­
tão votado que eu receberia tal orçamento, mas
ele nunca chegou.
Como a gota d’água, a última coisa tolerável,
eles permitiram que os antigos dirigentes no Mé­
xico retomassem a direção da União, depois de os
delegados terem votado o seu afastamento e anu­
lado suas credenciais. Isto foi feito apesar do fato
de que a própria direção da Associação Geral ti­
nha anteriormente declarado que esses homens
eram corruptos, e não eram mais dignos de qual­
quer cargo na igreja. Como resultado, renunciei
à presidência da Divisão no final de dezembro de
85
0 Movimento Adventista da Reforma

1981, mas continuei como presidente da União


Americana.
Sendo que a direção da Associação Geral (SMI)
agora percebia que eu não era um lacaio, estava
decidida a se livrar de mim. Em resposta a uma
carta que eu tinha escrito ao presidente da Asso­
ciação Geral, recebi dele um curto bilhete que, en­
tre outras coisas, simplesmente citava um texto bí­
blico: “0 homem, pois que se houver soberbamen-
te, não dando ouvidos ao sacerdote, que está ali pa­
ra servir ao Senhor teu Deus, nem ao juiz, esse mor­
rerá: e eliminarás o mal de Israel” (Deut. 17:12).
Percebi que isto era um pronunciamente de juízo
contra mim pelo presidente. Mais tarde os aconte­
cimentos provaram que isto era verdade.
Na primavera de 1982, escrevi um pequeno li-
vreto, “Our Comission” , em que eu salientava al­
guns dos problemas que eu via no Movimento da
Reforma. Esse livreto era composto principalmen­
te de declarações da Pena da Inspiração. Ao es­
crever esse livreto, percebia muito bem que alguns
não gostariam do que era exposto. Antes da pu­
blicação, o manuscrito foi lido por quase todos os
membros da Comissão de Literatura da União
Americana. Eles concordaram em que o livro de­
veria ser impresso, não como uma publicação ofi­
cial da igreja, mas simplesmente como proveniente
de mim, um líder da igreja.
0 livreto despertou a ira de alguns membros
da igreja, especialmente da direção da Associação
Geral. Como distrital da Associação na Pensilvã-
nia em agosto de 1982, os dirigentes da Associa-
86
Do Sinai ao Calvário

ção Geral exigiram que eu me retratasse de tudo


o que disse no livreto e depois sofresse a devida
punição por tê-lo escrito. Pedi que mostrassem o
meu erro e assegurei-lhes que me retrataria do que
eu tinha escrito se me pudessem mostrar a discor­
dância da Bíblia e dos Testemunhos. Somente um
irmão tentou mostrar-me um erro. 0 que ele con­
siderava incorreto, na realidade nada mais era do
que uma paráfrase de vários textos bíblicos.
De agosto até dezembro daquele ano, orei e es­
tudei muito. Comecei a reexaminar algumas das
diferenças entre os ensinos do Movimento da Re­
forma e os da Igreja Adventista. Convenci-me de
que, quando as diferenças doutrinárias são estu­
dadas sem preconceito, aceitando-se apenas o que
está escrito na Palavra de Deus, os ensinos da
Igreja Adventista são mais corretos.

Separação

Ainda não me era possível imaginar que o mo­


vimento que eu tinha apoiado tão vigorosamente
não constituía o verdadeiro povo de Deus. Eu acre­
ditava que eles se tinham apenas desviado, mas
que seriam chamados de volta pelo Senhor. Orei
ardentemente ao Senhor para que, se o Movimento
da Reforma não fosse o povo de Deus, Ele me mos­
trasse claramente pelo espírito revelado nas reu­
niões dos delegados da União-Associação da Cali­
fórnia. A sessão iria ocorrer em dezembro. Pedi
ao Senhor que me revelasse pessoalmente a ver­
dadeira natureza do movimento. Em todo senti­
87
O Movimento Adventista da Reforma

do possível, tentei trabalhar pela paz nessas reu­


niões sem sacrificar princípios.
O Senhor me fez ver com muita clareza que ha­
via um espírito falso e satânico na reunião. Havia
um espírito que eu jamais tinha observado antes.
Em dado momento, saí da reunião a fim de falar
por um instante com o presidente da Associação
Geral a respeito de algumas preocupações que eu
tinha, e dois delegados saíram gritando como de­
mônios, porque o seu caminho tinha sido cruzado.
A essa altura, constatei que minhas orações ti­
nham sido respondidas. Precisamente como Mar-
tinho Lutero se ergueu dos degraus da ‘’escada
de Pilatos” e saiu apressadamente de Roma (veja
0 Grande Conflito, pág. 122), achei necessário
retirar-me do Movimento da Reforma. Ainda as­
sim, recebi repetidos apelos para permanecer co­
mo pastor da Igreja da Reforma no distrito de
Denver, Colorado.
Em dezembro de 1982, minha esposa e eu re­
nunciamos a todo cargo no Movimento da Refor­
ma, como fizeram vários outros obreiros da União
Americana. Isto foi um ato de fé da nossa parte,
e foi feito contra o conselho de amigos. Minha que­
rida esposa, que permaneceu fielmente ao meu la­
do ao longo de toda esta agitação, tinha ocupado
a importante posição de coordenar a casa publi-
cadora da União Americana.
Nossos amigos nos aconselharam a continuar
no movimento, embora não crêssemos que ele era
o povo de Deus, até que pudéssemos achar outro
emprego. Isto não podíamos fazer conscienciosa­
88
Do Sinai ao Calvário

mente. Sendo que não podíamos mais pagar um


dízimo fiel a tal organização, também não podía­
mos aceitar pagamento proveniente de dízimos.
Louvado seja o Senhor que cuidou de nós duran­
te aqueles primeiros meses probantes! Ele nunca
permitiu que passássemos fome, apesar de seis me­
ses sem nenhuma renda.
Depois de romper o emprego com o Movimen­
to da Reforma, comecei a estudar resolutamen­
te, recapitulando em detalhes as diferenças entre
os ensinos do Movimento da Reforma e os da Igre­
ja Adventista. Percebi que outros no Movimento
ainda me estavam procurando, em busca de orien­
tação espiritual. Meus estudos eram agora condu­
zidos de um modo diferente de outrora. Como re­
formista, eu ia à Palavra de Deus com o desejo de
provar que minha posição era correta. Agora eu
recorria à Palavra, pedindo ao Senhor que remo­
vesse todas as minhas idéias preconcebidas e me
revelasse Sua verdade. Isto me levou à percepção
de que os ensinos da Igreja Adventista, contra os
quais eu havia lutado todos aqueles anos, eram cor­
retos, e os meus conceitos anteriores, falsos.
Minha mente, porém, achava difícil vencer a
doutrinação de muitos anos contra a Igreja Ad­
ventista. Como reformistas, víamos a Igreja Ad­
ventista como estando em uma “terrível condição
de apostasia” . Agora eu queria saber como os en­
sinos eram postos em prática.
Comecei a visitar a Igreja Adventista de Little-
ton, Colorado. O que eu testemunhei ali me conven­
ceu de que desde a infância eu havia sido grande-
89
0 Movimento Adventista da Reforma

mente iludido quanto a este movimento que Deus


chamou a fim de dar Sua mensagem para os últi­
mos dias. Percebi que esse era o lugar para onde
o Senhor desejava conduzir-me. O Senhor operou
de tal maneira que minha esposa e os filhos tam­
bém começaram a visitar a igreja adventista. Lo­
go, toda a família era aceita como membros. En­
quanto minha esposa e eu estudávamos as “Cren­
ças Fundamentais” adventistas, descobrimos a ver­
dade na qual havíamos acreditado por anos.
Devido ao amor e consideração de alguns pas­
tores e dirigentes da Igreja Adventista, recebi
mais uma vez a oportunidade de trabalhar para
o Senhpr em regime de tempo integral. Nunca dei­
xei de me maravilhar ante a amorosa aceitação a
nós mostrada, ex-inimigos da causa do Senhor.
Nunca nos fizeram sentir como inimigos, ou de al­
gum modo desprezados ou criticados.
Agora louvo ao Senhor pela oportunidade de
pregar a mensagem da Bíblia sem ser forçado a
ensinar requisitos de invenção humana. Quando
almas são conduzidas ao pé da cruz, é belo teste­
munhar o que o Espírito Santo faz em suas vidas.
No Movimento de Reforma, sentíamos o dever de
fazer a obra do Espírito Santo forçando sobre o
povo as exigências da igreja. Mas chegamos a
constatar que o Senhor mesmo é capaz de fazer
a obra de transform ar vidas.
Sou muito grato pela orientação do Senhor em
minha peregrinação do legalismo do Sinai à liber­
dade em Cristo. Para que algum erro não afete
o significado de tal liberdade, deve-se dizer que es­
90
Do Sinai ao Calvário

ta liberdade não é uma licença para a transgres­


são, mas torna possível um andar mais íntimo e
mais obediente com o Senhor. É libertação da
opressão das normas e regulamentos humanos. É
a aceitação da Palavra de Deus, incluindo as men­
sagens dadas através do dom profético, como sen­
do aplicáveis a mim pessoalmente e resistindo ao
impulso de torná-las adequadas somente para os
outros.
Incentivo àqueles que venham a ler esta expe­
riência que, se ainda estiverem ao pé do Sinai, fa­
çam a viagem ao Calvário. 0 Senhor vos guiará
nesta jornada, assim como fez comigo. Desprendei-
vos dos grilhões do legalismo e descobri a verda­
deira alegria de servir ao Senhor!
Referências:
1. Testemunhos Para Ministros, pág. 324.
2. 0 Grande Conflito, pág. 159
3. Idem, pág. 601.
I. Testimonies fo r the Church, vol. 9, pág. 159

91
Conceitos
5 Equivocados
1%Parte

\ fim de relacionar-se eficazmente com os


i l membros do Movimento Adventista do Sé­
timo Dia da Reforma, é necessário estar ciente dos
conceitos que afetam o seu pensamento.

Espírito de Farisaísmo

Primeiramente está o seu conceito de um Deus


vingativo, que está pronto a destruir a todos os que
saiam da linha. Conseqüentemente, insistem em
que a infidelidade dos dirigentes da igreja na Eu­
ropa, durante a Primeira Guerra Mundial, os des­
qualifica como obreiros de Deus. Mas os reformis­
tas arrazoam ainda mais. Sendo que os dirigentes
da Igreja Adventista cometeram este terrível er­
ro na guerra, Deus rejeitou toda a igreja. Como no­
vos dirigentes, os reformistas crêem que eles fo­
ram chamados para levar avante a obra do Senhor.
92
Conceitos Equivocados — 1- Parte

Esta visão das coisas, distorce e representa mal


o caráter de Deus a quem servimos. Em assinalado
contraste com o retrato do Deus misericordioso, re­
velado tanto no Antigo quanto no Novo Testamen­
to, e especialmente na vida de Jesus, o mesmo Je­
sus repreendeu os discípulos que desejavam fazer
descer fogo do céu sobre aqueles que O rejeitaram.
Podemos considerar a paciência de Deus exer­
cida para com o antigo Israel, apesar do fato de
que se rebelaram contra Ele reiteradas vezes. To­
da a sua história é uma contínua flutuação da apos­
tasia para a reforma e, novamente, para flagran­
te apostasia. Esses tempos de apostasia foram en­
tremeados de juízos corretivos de Deus por seus
pecados. Mas a rejeição final só veio depois de cen­
tenas de anos e depois de terem falhado todos os
esforços possíveis da parte de Deus para levá-los
ao arrependimento.
O cativeiro em Babilônia resultou de anos de
males. Eles adoravam imagens e ofereciam seus
próprios filhos como sacrifícios humanos. A des­
peito dessas horríveis ações, o Deus longânimo a
quem servimos ainda lhes deu outra oportunida­
de. Ele continuou a procurar o Seu povo como um
pastor procura uma ovelha perdida. Este amor era
o aposto do conceito rabínico.
“Os rabinos tinham um dito, segundo o qual há
alegria no Céu, quando alguém que pecou contra
Deus é destruído; contudo, Jesus ensinava que a
obra de destruição é estranha a Deus. Aquilo em
que todo o Céu se compraz é a restauração da ima­
gem de Deus nas almas por Ele criadas.”1
93
O Movimento Adventista da Reforma

Após o término da Primeira Guerra Mundial,


os irmãos adventistas na Europa se defrontaram
com o fato de que sua atitude em relação ao ser­
viço militar não estava em harmonia com a posi­
ção adventista tradicional. “Durante a subseqüen­
te reunião de- obreiros, os três líderes Adventis­
tas do Sétimo Dia que tinham feito publicamente
a declaração, reconheceram que tinham cometi­
do um erro e expressaram seu sincero pesar por
terem agido assim.”2
No tocante a esta confissão, registrada na SDA
Enayclopedia, um escritor posterior do Movimento
da Reforma faz o seguinte comentário:
“Notem bem! Esta confissão foi feita ‘subse­
qüentemente’ em uma reunião de obreiros, o que
indica que foi feita entre eles, não diante daque­
les a quem eles tão terrivelmente haviam preju­
dicado. Isto é semelhante a um assaltante que, du­
rante um assalto a mão armada, alveja a tiros e
mutila o proprietário de uma loja, depois se arre­
pende e faz plena confissão à sua própria família.
Será que isto põe as coisas outra vez em ordem?
E stá agora a culpa eliminada e esquecida? E cla­
ro que não! Se nenhuma restituição é feita, sua
confissão à família é sem validade. Em Frieden-
sau, em 1920, nenhuma tentativa foi feita para re­
compensar os poucos que permaneceram fiéis à sua
convicção e que sofreram e morreram por isto. Na­
da foi reparado; não foi reintegrado; nada foi cor­
rigido.”3
Note que a principal preocupação reformista
é que eles deveriam ter sido honrados por sua fi­
94
Conceitos Equivocados — la Parte

delidade, ao passo que os líderes que estiveram em


erro deveriam ter sido humilhados até o pó. Isto
preenche a atitude do fariseu, conforme é descri­
ta por Ellen White:
“Quando alguém que vagou longe no pecado
procura voltar para Deus, encontrará suspeita e
crítica. Há os que duvidarão de que o arrependi­
mento seja genuíno, ou insinuarão: ‘Ele não tem
estabilidade; não creio que resista’. Tais pessoas
não fazem a obra de Deus, porém a de Satanás,
que é o acusador dos irmãos. Por suas críticas, o
maligno espera desencorajar aquela alma, afastá-la
ainda mais da esperança e de Deus.”4
O Deus a quem servimos Se deleita em perdoar
o pecador. “Quem, ó Deus, é semelhante a Ti, que
perdoas a iniqüidade, e Te esqueces da transgres­
são do restante da Tua herança? O Senhor não re­
tém a Sua ira para sempre, porque tem prazer na
misericórdia” (Miq. 7:18).
“Estas almas que vós desprezais, dizia Jesus,
são propriedade de Deus. Pertencem-Lhe pela
criação e redenção, e são de valor à Sua vista. Co­
mo o pastor ama suas ovelhas e não pode descan­
sar enquanto uma única lhe falta, também Deus,
em grau infinitamente mais alto, ama toda alma
perdida. Os homens podem negar as reivindica­
ções de Seu amor. Podem dEle desviar-se, podem
escolher outro mestre; contudo, pertencem a Deus,
e Ele anela recuperar Sua propriedade.”6
Se os primeiros reformistas tivessem possuí­
do tal amor aos errantes, teriam desejado a res­
tauração em vez da punição dos irmãos.
95
O Movimento Adventista da Reforma

Atitudes Para Com o Serviço Militar

Outro conceito equivocado, defendido pelos re­


formistas, refere-se à posição que os pioneiros Ad-
ventistas tomaram, concernente ao serviço mili­
tar no tempo da Guerra Civil Americana. Os re­
formistas estão convencidos de que os pioneiros
se opuseram a qualquer espécie de participação no
serviço militar durante aquela guerra. Crêem que
os pioneiros adventistas não tinham nenhuma dú­
vida quanto à verdadeira posição a seguir.
Este assunto é tão simples para os reformis­
tas que eles acham que nenhum verdadeiro cren­
te poderia participar de qualquer tipo de serviço
militar, mesmo na obra médica. A história desse
assunto, porém, revela um quadro diferente. Os
pioneiros adventistas realmente achavam esse pro­
blema muito difícil de ser resolvido conveniente­
mente.
Não está dentro do escopo deste capítulo en­
tra r em detalhes no que concerne ao assunto, mas
é importante obter uma visão geral da discussão
que ocorreu durante aquela terrível Guerra Civil.
Os reformistas consideram a declaração de Tes-
timoniesfor the Church, vol. 1, pág. 361, como a
posição única e final concernente ao serviço mili­
tar em todos os tempos e em todos os lugares. Mas
eles esquecem muitos outros fatores importantes.
“Foi-me mostrado que o povo de Deus, que é
o Seu tesouro peculiar, não pode empenhar-se nes­
ta desconcertante guerra, porque isto é contrário
a todo princípio da sua fé. No exército eles não
96
Conceitos Equivocados — 1? Parte

podem obedecer à verdade e ao mesmo tempo obe­


decer às exigências de seus oficiais. Haveria uma
contínua violação da consciência.”
Tomando literalmente esta declaração, eles ne­
gligenciam e racionalizam a expressão “esta des­
concertante guerra” . Negligenciando descobrir o
que significava a frase, os reformistas raciocinam
que, sendo que o propósito da Guerra Civil era li­
bertar os escravos, deve ter sido uma guerra mais
justa do que a maioria. Sendo este o caso, argu­
mentam, a declaração se aplica ainda mais vigo­
rosamente a outras situações de guerra, bem co­
mo ao recrutamento em tempo de paz. Outras de­
clarações do mesmo capítulo são desprezadas. Es­
tas revelam por que essa guerra era tão descon­
certante.
“informação enviada a Washington por nossos
generais, concernentes ao movimento dos nossos
exércitos, poderiam quase tão bem ser telegrafa­
das diretamente para as forças rebeldes. Existem
simpatizantes com os rebeldes precisamente no co­
ração das autoridades da União. Esta guerra é di­
ferente de qualqwer outra. A grande falta de união
de sentimento e ação, a faz parecer sombria e de-
sanimadora. Muitos dos soldados lançaram de si
a restrição e se afundaram em um alarmante es­
tado de degradação. Como pode Deus sair com tão
corrupto exército? Como pode Ele, em conformi­
dade com Sua honra, derrotar seus inimigos e
conduzi-los à vitória? Há dissensão e luta por hon­
ra, enquanto os pobres soldados estão morrendo
aos milhares no campo de batalha ou dos seus fe-
97
0 Movimento Adventista da Reforma

rimentos, e devido ao abandono às intempéries e


agruras.
“E sta é uma guerra muito singular e ao mes­
mo tempo um conflito horrível e deprimente. Ou­
tras nações estão olhando com repugnância para
as operações dos exércitos do Norte e do Sul.
Vêem tão decidido esforço para alongar a guerra
a um enorme sacrifício de vidas e dinheiro, ao mes­
mo tempo que nada realmente se ganha, o que lhes
parece uma competição para ver quem é capaz de
m atar o maior número de homens. Elas estão in­
dignadas.”7
A serva do Senhor salientou o terrível fato de
que os generais do Norte simpatizavam com o prin­
cípio da escravidão e não estavam realmente pro­
curando pôr um fim àquele grande pecado. Este
era um motivo para os crentes adventistas não to­
marem maior interesse no conflito.
Quando se iniciou a Guerra Civil em 24 de maio
de 1861, o povo esperava que o conflito passasse
rapidamente. A maioria dos crentes adventistas
pensou muito pouco na possibilidade de te r de en­
frentar o problema do serviço militar. As fileiras
militares eram constituídas em grande parte de
voluntários. Os adventistas estavam tão ocupados,
proclamando a breve volta do Senhor, que viram
a guerra apenas como um sinal dos últimos dias.
Alguns meses após o início do conflito, em outu­
bro de 1861, os adventistas organizaram sua pri­
meira Associação.
Com a continuação da guerra e a perda de mais
homens, tornou-se evidente que a luta seria alon-
98
Conceitos Equivocados — 12 Parte

gada. Em breve, as forças armadas estavam com


falta de voluntários, e o país reconheceu a neces­
sidade de tropas recrutadas. Esse novo evento le­
vou os crentes adventistas a ficar em alerta. Co­
meçaram a indagar que posição deveriam tomar,
se fosse decretado um alistamento.
Na Review andHerald de 12 de agosto de 1862,
Tiago White escreveu um artigo intitulado “A Na­
ção”, no qual tratou do assunto do alistamento pro­
posto. Declarou que aqueles adventistas votaram
na eleição anterior “em um homem sugerido por
Abraão Lincoln.” Então prosseguiu fazendo uma
declaração que provocou muita discussão entre os
crentes.
White observou que o povo acreditava firme­
mente no caráter sagrado da lei de Deus, um có­
digo que “não estava em harmonia com todos os
requisitos da guerra” . Afirmou em seguida:
“Mas no caso do recrutamento, o governo as­
sume a responsabilidade da violação da lei de Deus,
e seria loucura resistir. Aquele que resistisse até
que, na administração da lei militar, fosse abatido
com um tiro, indo longe demais, achamos que te­
ria de assumir a responsabilidade por suicídio.”8
Esta posição suscitou uma violenta manifesta­
ção de protesto de alguns irmãos, mas outros dis­
pensaram a isto atenciosa consideração. 0 Pastor
White não considerou sua posição como sendo a
última palavra sobre o assunto. Na edição da Re­
view andHerald de 16 de setembro, ele declarou
que seu objetivo era, “se possível, impedir a pre­
cipitação fanática em que muitos são propensos
99
0 Movimento Adventista da Reforma

a cair, e desonrar a causa da verdade”. Acrescen­


tou: “Uma coisa é certa, os verdadeiros crentes
na terceira mensagem constituiriam soldados de­
ficientes, a menos que primeiro perdessem o es­
pírito da verdade.”
O Pastor White e outros estavam desorienta­
dos quanto à posição que deveriam tomar. Solici­
tou que outros se aplicassem ao problema.
“Temos falado francamente sobre alguns pon­
tos, e agora gostaríamos de convidar os irmãos S.
Pierce, Hutchins, O. Nichols, Bourdeau, Cornell,
Andrews, Aldrich, Waggoner, Loughborough,
Hull, Ingraham, Snook, Brinkerhoof, ou quaisquer
outros, para comunicar aos irmãos luz sobre o as­
sunto.”9
Vários desses irmãos se aplicaram a isto, bem
como ao assunto de pagar pela isenção. Escreveu
J. H. Waggoner:
“Minha presente convicção é que eu sofreria
antes o resultado de um recrutamento e confiaria
em Deus quanto às conseqüências, de preferência
a aceitar uma avaliação de cem dólares da minha
consciência.... Nem um em uma centena, se tan­
tos, poderia beneficiar-se de suas provisões, en­
quanto os pobres, a grande massa de nossos ir­
mãos, cuja consciência é tão sensível e tão valio­
sa quanto a dos ricos, se encontram precisamen­
te onde estariam sem isto.”10
Outros falaram ainda mais energicamente:
“Deve o cristão, afinal de contas, que está eiti
tão grande débito para com o governo por seu cui­
dado protetor no passado, deve o cristão esque­
100
Conceitos Equivocados — IS Parte

cer o seu país na hora do perigo? Pensem nisto.


É homicídio enforcar ou balear um traidor? Não!
Não! Quando os homens se rebelam contra leis jus­
tas e boas, a morte é o que lhes pertence por jus­
tiça, e o executor fica sem culpa. Não está o exér­
cito do Sr. Lincoln entre nós e um despotismo mi­
litar pior do que o de Faraó? Devemos nós, então,
nos retrair da requisição de um recrutamento mi­
litar? Ainda mais, não devemos nós, cristãos, ter
nenhum amor ao país que nos adotou? Gosto mui­
to das observações do Irmão White sobre este as­
sunto. Não deveríamos envergonhar a memória
de Washington e de outros heróis a quem Deus
abençoou no campo de batalha....
“Mas, conquanto empenhados em uma cruza­
da contra os traidores, que apreciemos os homens
bons e verdadeiros, que prestam estrita obediên­
cia às leis.” 11
Declarou outro escritor: “Mas esta guerra não
tem diretamente como seu objetivo o extermínio
da escravidão; se assim fosse, eu não teria objeção
em lutar.”12 Declarou outro preeminente irmão:
“Não compreendo que guerra civilizada ou pu­
nição capital sejam contra o sexto mandamento....
Devemos fazer tudo o que está ao nosso alcance para
evitar a transgressão da santa lei de Deus. Se faze­
mos isto, não nos estaremos colocando volunta­
riamente onde não podemos guardar o sábado, o
que podemos evitar sendo recrutados, e para que
possamos obter maiores recompensas. As obser­
vações do Irmão White sobre a condição de obser­
vadores do sábado recrutados são satisfatórias na
101
O Movimento Adventista da Reforma

minha compreensão, e tenciono aderir a elas até que


tenha motivos para crer que são incorretas.”13
Parece que a questão que alguns dos irmãos
tentavam levar ao povo, era que seria errado alis­
tar-se voluntariamente, mas aceitar um recruta­
mento seria um assunto diferente. Havia também
a preocupação de que a situação presente pudes­
se causar uma rachadura entre os crentes adven­
tistas.
Disse outro escritor:
“Não há necessidade de os irmãos irem à guer­
ra uns com os outros sobre princípios de paz [ên­
fase do escritor]. Todavia, desejamos luz quanto ao
nosso dever — a verdadeira luz — e de maneira sen­
sata esperamos tê-la.... De modo algum é certo que
a vida de um homem seja tirada por ter ele decli­
nado de lutar por motivo de consciência. Mas se to­
das as exposições de razões falharem e, obviamen­
te, se chegar a isto, eu recomendaria seguir o con­
selho dado, até que mais luz seja extraída da Pala­
vra, ou concedida do Alto.... Quero a verdadeira luz
sobre o assunto, e creio que a teremos.”14
É bonito ver como muitos dos irmãos tinham
mente aberta para estudar estes assuntos e mes­
mo reconsiderar suas idéias quando parecia haver
luz em certa direção. Considere o seguinte racio­
cínio por parte de um irmão:
“Quase desde a minha mocidade, acreditei que
todas as espécies de guerra fossem contrárias aos
ensinos do Novo Testamento. Mas depois de mui­
ta oração e séria investigação creio agora que ocu­
pei uma posição extremista. Sou forçado a concluir
102
Conceitos Equivocados — 1- Parte

que a doutrina da não-resistência universal é um


extremismo indefensável.”
Prosseguindo, ele usa o exemplo de Neemias
ao defender Jerusalém dos seus inimigos:
“Este testemunho prova que a luta em legíti­
ma defesa era autorizada por Deus. E onde, per­
gunto, disse Ele o inverso? Em lugar nenhum.
Deus jamais disse que devemos ficar quietos e ser
assassinados, ou ver nossas famílias massacradas
pelas mãos cruéis de rebeldes profanos e ímpios.
Como a presente guerra de nossa nação é em au­
todefesa, certamente não pode haver erro em aju­
dar a esmagar os rebeldes que estão tentando sub­
vertê-la....
“Se Deus permitir que a sorte caia sobre nós,
vamos e combatamos em Seu nome.” 15
O Pastor White não concordou totalmente com
esta posição como pode ser visto por sua declara­
ção: “Achamos que os Irmãos Bourdeau e Cottrell,
na Review desta semana, falam com sabedoria so­
bre o assunto da guerra. Tememos que os Irmãos
Snook e Waggoner estejam se inclinando para o
outro extremo.”16 Todavia, White não recusou
publicar a convicção desses irmãos.
Outro irmão advertiu contra a tomada de qual­
quer posição extremista:
“Com referência ao dever dos observadores do
sábado, em relação à presente guerra, os extre­
mos devem ser evitados.
“A causa do Norte é justa, mas existem mui­
tos Acãs no acampamento. O orgulho da nação es­
tá sendo humilhado. ‘Tequel’ está escrito sobre a
103
0 Movimento Adventista da Reforma

prosperidade deste governo, e esperamos tempos


agitados.
“Há algumas objeções muito sérias quanto a um
serviço voluntário nesta guerra.... Sem uma reve­
lação especial do Céu, parece loucura e presunção
tentar resistir às autoridades. Em um caso, duzen­
tos homens armados, em Indiana, uniram-se para
resistir ao recrutamento, mas foram subjugados e,
em ignomínia, tiveram de submetèr-se”.17
E desnecessário dizer que nem todos concor­
davam com a posição do Irmão White. Henry E.
Carver discordou dele:
“Mas, diz o Irmão White: ‘Em caso de recru­
tamento, o governo assume a responsabilidade pe­
la violação da lei de Deus.’ Isto me parece ser um
pretexto insustentável e perigoso; porque se o go­
verno pode agora assumir a responsabilidade pe­
la violação de dois daqueles santos preceitos, e fi­
camos inculpáveis, por que não pode o mesmo go­
verno assumir a responsabilidade pela violação do
mandamento sabático e ficarmos sem culpa, quan­
do sair o decreto de que todos devem observar o
primeiro dia da semana?” 18
Na mesma edição da Review and Herald, Tiago
White respondeu a alguns dos argumentos do Ir­
mão Carver mas então acrescentou rapidamente:
“Não aconselhamos ninguém a ir para a guer­
ra. Temos atacado o fanatismo que provém do ex­
tremo da não-resistência, e temos trabalhado pa­
ra levar nosso povo a buscar ao Senhor e confiar
nEle quanto ao livramento. Como poderá isto vir,
não temos nenhuma luz no presente.” 19
104
Conceitos Equivocados — is Parte

Alguns dos observadores do sábado estavam


confusos quanto ao que deviam fazer sob as cir­
cunstâncias existentes. 0 Irmão Martin Kittle es­
creveu ao Irmão White:
“Fui recrutado para as forças armadas dos Es­
tados Unidos.... Eu pensava que era errado ir pa­
ra a guerra, porém as composições literárias da
Review sobre este assunto me fizeram mudar de
idéia, e fizeram o dever parecer claro.”20
Ponderou Stephen Pierce:
“Não penseis por isto que o espírito de guerra
deve ser acariciado; ele deve ser totalmente re­
primido em nosso coração. E, se formos obriga­
dos, devemos envolver-nos nela como o dever mais
penoso ou revoltante. Doutro modo, enfrentare­
mos a condenação do transgressor: Visto que não
aborreceste o sangue, o sangue te perseguirá.”
Ezeq. 35:6.21
O. Nichols discordou de alguns dos argumen­
tos anteriormente publicados, declarando que nos­
sa presente condição não pode ser comparada com
aquela do Antigo Testamento. Escreveu ele:
“O evangelho de Cristo é uma nova dispensa-
ção.... A guerra se tem prolongado por mais de
um ano e meio. O país deu ao governo mais de um
milhão de homens, e todo o dinheiro que eles por­
ventura possam usar; porém não fizemos quase ne­
nhum progresso quanto ao esmagamento da re­
belião. Os exércitos rebeldes ainda ameaçam a ca­
pital; seus corsários desafiam nossa marinha de
guerra.
“Durante esse período, temos incapacitado e
105
0 Movimento Adventista da Reforma

perdido quase quatrocentos mil dos nossos ho­


mens. É evidente que Deus está contra nossos
exércitos e está dirigindo esta guerra para punir
nossa nação. Deve o nosso povo que acredita que
a vinda de .Cristo está ‘às portas’ empenhar-se nes­
ta guerra?”22
Alguns irmãos tentaram sugerir um curso de
reconciliação entre as diferentes opiniões. Escre­
veu J. M. Aldrich:
“Ainda estou inclinado a ficar do lado não-
combatente da questão. Mas, ao tomar tal posi­
ção, desejo dizer que gostaria de ser despojado de
todo fanatismo, e não desejaria, em minhas rela­
ções com o mundo, exercer zelo indevido no as­
sunto.... Não obstante tudo o que se tem dito pró
e contra a resistência a um recrutamento, estou
inclinado a pensar que nossa divergência de opi­
niões é mais aparente do que real.”
Depois de discorrer sobre a experiência dos três
dignos hebreus em Babilônia, disse ele:
“Estou um tanto inclinado a pensar que em ca­
so de um recrutamento militar, eu modificaria um
pouco sua linguagem e diria não posso, em vez de
não farei.”23
É bom comparar a imparcialidade com que es­
te assunto foi tratado pelos pioneiros, com a vio­
lenta e inflexível posição tomada pelos protesta-
dores na Europa em 1914. Estou convencido de
que se esses irmãos tivessem raciocinado juntos
em amor e compreensão cristã como aconteceu du­
rante o tempo da Guerra Civil, nenhuma separa­
ção teria ocorrido. A obra de Deus poderia ter
106
Conceitos Equivocados — 1- Parte

avançado unida, e não teria sido atrasada por mui­


tos anos de luta uns contra os outros. No prin­
cípio de 1863, o problema do serviço militar na
Guerra Civil foi resolvido por uma declaração
da pena de Ellen White, que pode ser lida em Tes-
timoniesfor the Church, vol. 1, págs. 355-368. Nes­
te testemunho ela advertia contra quaisquer ações
fanáticas, tais como aquelas em que alguns dos
crentes em Iowa tinham participado. Repreen­
deu aqueles que tinham criticado as sugestões
do seu esposo e admoestou os crentes a perma­
necerem silentes quanto a estes assuntos. Tam­
bém advertiu um irmão que havia tomado o par­
tido do Sul, de que a menos que ele mudasse de
opinião, teria de ser excluído da igreja. Ellen Whi­
te percebeu que a pessoa deve tomar uma deci­
são pessoal concernente ao seu serviço para o go­
verno:
“Aqueles que acham que no temor de Deus não
podem conscienciosamente se empenhar nesta
guerra, estarão muito calmos e, quando forem in­
terrogados, declararão simplesmente o que são
obrigados a dizer a fim de responder ao inquiri­
dor, e então dar a entender que não têm nenhu­
ma simpatia para com a Rebelião.”24
Ellen White enterra a questão básica declaran­
do que,
“O povo de Deus, que é o Seu tesouro pecu­
liar, não pode empenhar-se nesta guerra descon­
certante, porque ela se opõe a todo princípio de
sua fé. No exército eles não podem obedecer à ver­
dade e, ao mesmo tempo, obedecer às exigências
107
0 Movimento Adventista da Reforma

dos seus oficiais. Haveria uma contínua violação


da consciência.”25
Ela então estabeleceu as diretrizes para deter­
minar quando seria necessário desobedecer às leis
do país:
“Os dez preceitos de Jeová são o fundamento
de todas as leis justas e boas. Aqueles que amam
os mandamentos de Deus se conformarão com to­
das as boas leis do país. Mas se as exigências dos
governantes são de tal modo que entram em con­
flito com as leis de Deus, a única questão a ser re­
solvida é: Obedeceremos a Deus ou ao homem?”26
Esta declaração pareceu refrear por um perío­
do de tempo a firme corrente da discussão con­
cernente ao assunto na “Review and Herald”. O
Senhor dominou a situação para o Seu povo. Quan­
do a primeira lei de recrutamento foi promulga­
da, a 3 de março de 1863, fazia provisões para
aqueles que não quisessem obedecer à convocação.
Poderiam pagar 300 dólares e ser isentos do re­
crutamento. A maior parte dos adventistas tomou
esta direção até que a lei de recrutamento foi mu­
dada.27
Sendo que esta opção se aplicava a todos, quer
tivessem convicções religiosas quer não, os cren­
tes adventistas não sentiram nenhuma necessida­
de de fazer qualquer declaração pública de suas
crenças relativas ao porte de armas. Todavia, de­
pois que esta opção foi removida pela lei de recru­
tamento de 4 de julho de 1864, a liderança adven­
tista achou necessário fazer uma declaração pú­
blica de suas crenças. A primeira das várias de-
108
Conceitos Equivocados — is Parte

clarações oficiais entregues aos governadores de


Estado e ao Governo Federal foi endereçada ao
Governador de Michigan. Diz ela em parte:
“A mudança na lei torna necessário que tome­
mos uma posição mais pública em relação ao as­
sunto. Por este motivo, pomos agora diante de
Vossa Excelência [Austin Blair, Governador do
Estado de Michigan] o parecer dos Adventistas do
Sétimo Dia, como uma corporação, relativo ao por­
te de armas, confiando em que Vossa Excelência
não terá nenhuma hesitação em endossar nossa
reivindicação que, como um povo, nos incluímos
no intento da ação anterior do Congresso concer­
nente àqueles que por motivo de consciência se
opõem ao porte de armas e estão habilitados aos
benefícios das ditas leis.”28
A nova lei oferecia três provisões para isentar
pessoas que tinham princípios religiosos contra a
participação na guerra: (1) guarda de escravos li­
bertos, (2) trabalho em hospitais militares, ou (3)
pagamento de 300 dólares ao governo. Sendo que
300 dólares naquele tempo eram uma soma bastan­
te grande, o caminho estava agora aberto para eco­
nomizar este dinheiro e servir em ofício onde não
haveria nenhum conflito com a consciência.
Vários artigos e novas informações apareceram
durante esse tempo na Review, descrevendo os de­
veres do trabalho nos hospitais e a condição dos
escravos libertos. Como prefácio para um desses,
foi feita a seguinte declaração:
“Como aqueles que conscienciosamente se
opõem ao porte de armas podem ser designados
109
0 Movimento Adventista da Reforma

para cuidar dos libertos, se o preferirem, em vez


de pagar os 300 dólares ou ir cumprir o dever nos
hospitais, qualquer informação concernente a es­
ses libertos é de interesse. A seguinte descrição
que extraímos de um artigo da American Missio-
nary de setembro, mostra em que condição eles
vêm para nossas fileiras, e dá uma idéia do que
deve ser feito no cuidado deles.”29
Evidentemente, a direção da igreja acredita­
va que estas alternativas deveriam ser aceitáveis,
e de acordo com a luz a eles dada pelo Senhor.
Vários irmãos que foram recrutados, logo após
esse tempo, tiveram dificuldade em obter a isen­
ção provida pela nova lei. Muitos dos comandan­
tes militares não compreendiam como deveriam
lidar com a situação. Com este problema em men­
te, bem como o dos ministros que estavam sendo
chamados para o serviço militar, o Irmão White
fez uma proposta:
“ [Sendo] que o próximo recrutamento tomará
cerca de um em três dos homens fisicamente ca­
pazes, sujeitos ao recrutamento.... Somos a favor
de que seja criado um fundo para o benefício de
nossos eficientes pregadores que são passíveis de
um recrutamento. E estabeleceríamos a soma de
100 dólares que cada um deve pagar na tesoura­
ria. Aqueles fiéis e verdadeiros obreiros que não
possuem os 100 dólares, têm amigos em Cristo que
alegremente lhes doariam essa quantia. O interes­
se que temos neste assunto, especialmente por
nossos coobreiros, é suficiente para nos induzir a
penhorar 100 dólares para tal fundo, em benefí-
110
I______Conceitos Equivocados — 1- Parte______

jfcio daqueles únicos que pagam na tesouraria, ou


Iseus amigos por eles, a importância de 100 dóla­
res cada.” 30
Por favor, note que esta proposta era especi­
ficamente para obreiros na Causa de Deus e não
visava os membros como um todo. Também ha­
via preocupação pelos membros, mas de outra ma­
neira:
“ Se esta guerra continuar, só Deus sabe o que
ela fará até mesmo pelos não-combatentes. A me­
nos que o Céu se interponha, eles talvez não se­
jam sempre tratados com aquele respeito e mise­
ricórdia que agora recebem.”31
Muitos artigos adicionais apareceram, instruin­
do os crentes quanto à obtenção da isenção neces­
sária do serviço de combatente. A fim de deixar
o assunto mais claro na mente do povo, apareceu
uma série de artigos da pena de R. F. Cottrell, in­
titulada “Deve o Cristão Lutar?” Nesses artigos
ele mostrava que o cristão deve obedecer às leis
do país até ao ponto em que tal obediência não re­
queira desobediência à lei de Deus. Advertia con­
tra a participação em qualquer ato de deslealda­
de ao governo:
“ Se eles não fazem, mas favorecem oposição
ou rebelião, por seus votos ou de qualquer outra
maneira, a igreja tem o direito de reclamar deles
explicação.... Se persistirem e não derem ouvidos
à disciplina da igreja, ela pode infligir sua pena
capital — o afastamento da comunhão.
“ Se, por outro lado, eles forem além da disci­
plina — a Bíblia — pegando em armas em defesa
111
O Movimento Adventista da Reforma

do governo civil, a igreja tem o mesmo reméc


e estão ligados pela lei de Cristo, e não são n r
cidamente culpáveis do crime de deslealdade
Este princípio já estava operando na igrejí.
tes desse tempo.
r “Como o alistamento voluntário no serviço r
í guerra é contrário aos princípios de fé e práticc
dos Adventistas do Sétimo Dia, conforme estão
contidos nos mandamentos de Deus e na fé de Je­
sus, eles não podem reter dentro da sua comunhão
aqueles que assim se alistam. Enoch Hayes foi,
portanto, excluído do quadro de membros da igreja
\ de Battle Creek por um voto unânime da igreja,
em 4 de março de 1865.”33
É evidente que os líderes da igreja tomaram
a posição de não beligerância durante a Guerra
Civil, mas não a posição de total objeção conscien­
ciosa como afirma o Movimento da Reforma.

Marcha dos Acontecimentos Depois da


Guerra Civil Americana

A Guerra Civil terminou logo depois disso, bem


como o problema do serviço militar para os adven­
tistas americanos. Todavia, com a expansão da
Obra além das fronteiras dos Estados Unidos, sur­
giram novamente as dificuldades, especialmente
na Europa. Naqueles países em que o serviço mi­
litar era exigido de todas as pessoas do sexo mas­
culino, mesmo em tempo de paz, apresentou-se um
nova situação.
Ellen White não parecia muito preocupada com *
112
Conceitos Equivocados — 15 Parte

Recrutamento para o serviço militar em tempo


faz. Escreveu ela de Basiléia, Suíça, a 2 de se-
hbro de 1886:
/Acabamos de despedir-nos de três de nossos
iiens de responsabilidade no escritório, os quais
iram convocados pelo governo para servir por três
^■emanas em manobras militares. E ra uma impor­
tante etapa de nosso trabalho na casa publicado-
ra, mas os chamados do governo não se acomodam
às nossas conveniências. Exigem que os jovens a
quem aceitaram como soldados não negligenciem
o exercício e treino essencial para o serviço mili­
tar. Alegramo-nos por ver que esses homens com
suas fardas, tinham condecorações por sua fideli­
dade no trabalho. Eram jovens fidedignos.
“ Esses não foram por sua livre vontade, mas
porque as leis de seu país assim exigiram. Demos-
lhes uma palavra de animação a que fossem acha­
dos soldados fiéis da cruz de Cristo. Nossas ora­
ções seguirão esses rapazes, para que os anjos de
Deus os acompanhem e os guardem de toda ten­
tação.”'14
Esta situação lançou o fundamento de dificul­
dades posteriores. É um fato que os adventistas
na Alemanha eram recrutados para o serviço mi­
litar em tempo de paz, e que recusavam servir ape­
nas no sábado, mas não em todos os serviços mi­
litares como tais.35
“Os líderes da igreja na Europa não tinham fei­
to nenhum esforço combinado a fim de pôr seus
respectivos governos a par das objeções adventis-
cas ao porte de armas ou ao desempenho do tra-
113
0 Movimento Adventista da Reforma

balho de rotina no sábado. O curso rápido dos even­


tos que precederam imediatamente o irrompimen-
to das hostilidades, impediu-os de trocar idéias com
os membros sobre o que seria com certeza pontos
de divergência com os oficiais do exército. Gover­
nos autocráticos, como os da Alemanha e da Rús­
sia, esperavam obediência implícita de seus súdi­
tos; suas leis de recrutamento não faziam nenhuma
provisão de serviço não-combatente para objeto-
res conscienciosos.
“A falha quanto ao preparo para os problemas
propostos pelo recrutamento, tornou-se aguda na
Alemanha. Ali, em 4 de agosto de 1914, o presi­
dente da União-Associação dos alemães orientais,
depois de aconselhar-se com vários associados, in­
formou por escrito ao Ministro da Guerra na Ale­
manha... que os Adventistas do Sétimo Dia recru­
tados portariam armas como combatentes e pres­
tariam serviço no sábado em defesa do seu país.
Embora isto fosse diretamente contrário à posi­
ção tomada pelos fundadores do adventismo cin­
qüenta anos antes, muitos membros da igreja na
Alemanha agiram de acordo com a política anun­
ciada por seu líder....
“Vários anos depois do término da guerra, di­
rigentes adventistas de toda a Europa reuniram-
se em concílio em Gland, Suíça. Ali, em 2 de ja­
neiro de 1923, eles declararam oficialmente que
se opunham a todo serviço combatente e trabalho
no sábado, que não fosse de natureza humanitá­
ria. Essa declaração teve a concordância dos lí­
deres alemães, que reconheceram que haviam co-
114
Conceitos Equivocados — IS Parte

metido um erro de julgamento em 1914. Conquan­


to a declaração de Gland especificasse os motivos
para a posição Adventista do Sétimo Dia, também
reconhecia que cada membro da igreja possuía li­
berdade absoluta para servir o seu país, em todos
os tempos e em todos os lugares, de acordo com os
ditames de sua conscienciosa convicção pessoal.”36
A última parte desta declaração não agradou
os membros do Movimento da Reforma, porquan­
to eles não aceitam o conceito de responsabilidade
individual. Os reformistas acham que se for dada
qualquer liberdade de consciência aos membros, a
igreja não está cumprindo sua responsabilidade.
Nos Estados Unidos, o problema do serviço mi­
litar na Primeira Guerra Mundial se desenvolveu
mais lentamente. Isto permitiu que a direção da
igreja dedicasse mais estudo a esses assuntos. Em
5 de junho de 1917, exigiu-se que todo homem en­
tre as idades de 21 e 30 anos se inscrevesse para
o recrutamento. A lei não fazia nenhuma provi­
são para aqueles que recusavam todas as formas
de serviço militar, mas somente para aqueles que
tinham crenças religiosas contrárias à combatên-
cia. Tais homens tinham permissão de desempe­
nhar outros deveres, de acordo com o que o Pre­
sidente definia como trabalho não-combatente.
Sendo que os homens deveriam ser designados
segundo suas aptidões, os adventistas americanos
concluíram que eles teriam o menos possível de
dificuldades se servissem no serviço de saúde. Com
a finalidade de tornar a aceitação mais provável
nesse serviço, a igreja instituiu programas de trei-
115
0 Movimento Adventista da Reforma

namento para esse fim. Em julho de 1918, o con­


cílio da Associação Geral reunido em Washington,
“resolveu prover os fundos para a organização
de escolas para. o preparo intensivo de jovens Ad­
ventistas do Sétimo Dia em idade de alistamento,
que não tenham tido preparo anterior de enfer­
magem, a fim de prepará-los para assumir a obra
no serviço de saúde quando ingressar no serviço
efetivo” .37
Foi assim que começou a prática adventista da
obra médica no serviço militar. Mas a posição ad­
ventista é totalmente inaceitável aos olhos dos re­
formistas. Estão convencidos de que até mesmo
o uso do uniforme militar equivale a tomar parte
em uma instituição designada para matar, e tor­
na a pessoa participante na destruição humana.
Estão convencidos de que o desempenho da obra
médica no serviço militar ajuda o esforço da guerra
e o ato de tirar a vida, sendo assim uma violação
dos mandamentos de Deus.
Sendo que a declaração do princípio de não-
combatência foi feita pelos adventistas pioneiros,
durante a Guerra Civil, o princípio básico de ação
tem permanecido o mesmo. Este princípio é coo­
perar com o governo de todas as maneiras possí­
veis enquanto as ordens do governo não entrarem
em conflito com a lei de Deus. A direção desacon­
selha o alistamento.38 A igreja encoraja clara­
mente a posição de não-combatente para todos os
seus membros.
Durante a Guerra Civil a igreja não tomou me­
dida disciplinar no caso de seus membros que se
116
Conceitos Equivocados — 15 Parte

haviam alistado para o serviço militar, e não faz


isto hoje. Jamais a igreja, quer durante a Guerra
Civil ou posteriormente, tomou a posição (que os
reformistas afirmam que foi tomada) de recusar
o serviço de não-combatente. A igreja nunca to­
mou a posição de total objeção conscienciosa (re­
cusando qualquer serviço militar).
Há somente uma diferença real na posição da
igreja entre a Guerra Civil e o tempo presente. Em
vez de excluir aqueles que se alistam, a igreja tenta
trabalhar com amor a fim de recuperar esses er­
rantes para o lugar onde o Senhor desejaria tê-
los. Percebe-se — como se pôde ver pelas diferen­
ças de opinião expressas nas páginas da “Review”
durante a Guerra Civil — que o povo se encontra
em diferentes estágios de crescimento espiritual,
e precisa ser ajudado em vez de condenado. A igre­
ja não aprova o serviço de combatente por seus
membros. Por outro lado, ela reconhece que não
foi comissionada pelo Senhor para condenar, mas
para trabalhar pela salvação dos pecadores.
Os reformistas não podem estar em falta quan­
do afirmam que tomaram uma posição que eles
consideram como sendo mais estrita do que a po­
sição da Igreja Adventista. Mas quando tentam
provar que estão tomando a posição dos pionei­
ros, estão perpetrando uma falsidade. Apontam
para os erros cometidos por alguns dirigentes da
igreja na Europa, durante a Primeira Guerra Mun­
dial, como prova de que a igreja rejeitou o Senhor
e foi rejeitada por Ele. Ao mesmo tempo, não con­
denam a igreja pela posição tomada por alguns lí­
117
0 Movimento Adventista da Reforma

deres durante a Guerra Civil. O triste fato é que


a maioria dos reformistas nem mesmo sabem que
posição foi tomada naquele tempo.
A posição do Movimento de Reforma é muito
mais dogmática, porém não necessariamente cor­
reta à luz da mensagem da Bíblia e dos Testemu­
nhos. Quando eles acusam a igreja de haver ‘’caí­
do” por causa dos erros da literança na Europa,
durante a Primeira Guerra Mundial, que eles não
se esqueçam de que os líderes pioneiros durante
a Guerra Civil Americana também não foram to­
dos inocentes quanto ao assunto. Rejeitou o Se­
nhor a igreja naquele tempo? Errou Ellen White
por não condenar os irmãos que cumpriram seu
exigido exercício militar na Suíça depois de suas
declarações em Testimonies fo r the Church, vol.
I, durante a Guerra Civil? Este é um ponto que
todo reformista deveria considerar.
Referências:

1. Ellen G. White, Parábolas de Jesus, pág. 190.


2. SDA Encyclopedia, Comentary Reference Series, vol. 10, art. “SDA Re­
form Movement”, ed. rev. (Washington, DC: Review & Herald Publishing
Assn., 1976), pág. 1333.
3. Commenting on the Commentary (International Missionary Society,
Seventh-day Adventist Reform Movement).
4. Parábolas de Jesus, pág. 190.
5. Idem, pág. 187.
6. Testimonies for the Church, vol. 1, pág. 361
7. Idem, pág. 367 (ênfase suprida).
8. Tiago White, “The Nation”, The Review and Herald (12 de agosto de 1862).
9. “Our Duty in Reference to the War” , The Review and Herald (16 de se­
tembro de 1862).
10. J. H. Waggoner, “ Our Duty and the Nation”, The Review and Herald (23
de setembro de 1862),
II. Joseph Clarke, “The Sword vs. Fanaticism”, The Review and Herald (23
de setembro de 1862).
12. J. N. Loughborough, “Do Violence to No Man” , The Review and Herald
(30 de setembro de 1862).

118
Conceitos Equivocados — IS Parte

13. D.T.Bordeau, “The Present War” , The Review and Herald (14 de outu­
bro de 1862).
14. R. F. Cottrell, “Non-resistance” , The Review and Herald (14 de outubro
de 1862).
15. B. F. Snook, “The War and Our Duty” , The Review and Herald (14 de
outubro dé 1862).
16. Tiago White, “The War Question”, The Review and Herald (14 de outu­
bro de 1862).
17. M. E. Cornell, “Extremes” , The Review and Herald (21 de outubro de
1862).
18. Henry Carver, “The War” , The Review and Herald (21 de outubro de
1862).
19. Tiago White, “Letter to Bro. Carver”, The Review and Herald (21 de
outubro de 1862).
20. Martin Kittle, “From Bro. Kittle” , The Review and Herald (21 de outu­
bro de 1862).
21. Stephen Pierce, “Obligation to Human Governments”, The Review and
Herald (28 de outubro de 1862).
22. 0. Nichols, “Our Duty Relative to the War” , The Remew and Herald (16
de dezembro de 1862).
23. J. M. Aldrich, “The War”, The Review and Herald (23 de outubro de 1862).
24. Testimonies for the Church, vol. 1, pág. 357 (ênfase suprida).
25. Idem, pág. 361.
26. Idem, págs. 361 e 362.
27. Francis M. Wilcox, Seventh-day Adventists in Time of War (Washington,
DC: Review and Herald Publishing Assn., 1936), pág. 58.
28. The Review and Herald, 23 de agosto de 1864; veja também SDA Ency­
clopedia, “Noncombatancy” (Washington, DC: Review & Herald Publis­
hing Assn., 1976), pág. 978.
29. “Freedmen”, The Review and Herald (13 de setembro de 1864).
30. Tiago White, The Review and Herald (24 de janeiro de 1865).
31. Ibidem.
32. R. F. Cottrell, “ Should Christians Fight?” The Review and Herald (30
de maio de 1865).
33. The Review and Herald (7 de março de 1865).
34. Mensagens Escolhidas, livro 2, pág. 335.
35. Personal account of 0. Kramer’s experiences in Germany at the begin­
ning of World War I (tape, “Rise and Progress”). [Relato pessoal das ex­
periências de 0. Kramer no início da Primeira Guerra Mundial].
36. Light Bearers to the Remnant, págs. 424 e 425.
37. Seventh-day Adventists in Time of War, pág. 144.
38. The Review and Herald (7 de junho de 1864).

119
Conceitos
6 Equivocados
Parte

conceito de responsabilidade individual e li­

O berdade de consciência tem causado mui­


to desentendimento entre os reformistas e a Igreja
Adventista. Os reformistas insistem em que a igre­
ja deve apresentar estritos padrões para o povo
seguir. Em muitos casos, os próprios membros es­
peram que a igreja especifique cada detalhe sobre
como eles devem agir em determinada situação.
Pouco espaço é dado para alguém tomar decisões
por si mesmo.

Liberdade de Consciência

A Igreja Adventista tem dado mais amplitude


aos seus membros encorajando-os a examinar as
Escrituras por si mesmos. Tem enfatizado a ne­
cessidade de cada pessoa tomar decisões morais
de acordo com a compreensão que obteve do es-
120
Conceitos Equivocados — 25 Parte

tudo pessoal da Bíblia e do Espírito de Profecia.


Esta abordagem diferente tem levado os reformis-
I as a crerem que os adventistas baixaram a nor­
ma do viver cristão. Nada poderia estar mais lon­
ge da verdade. A norma é dada ao homem na Pa­
lavra de Deus. Ninguém precisa ficar na incerte­
za quanto ao que é requerido. Consideremos o que
está escrito para nós nos Testemunhos:
“Deus trata os homens como indivíduos, dan­
do a cada um a sua obra. Todos devem ser ensi­
nados por Deus. Pela graça de Cristo, deve cada
a Iina operar a sua própria justiça, mantendo viva
ligação com o Pai e o Filho. Esta é uma genuína
experiência que é de valor.” 1
“ Deus não determinou que nenhum homem fos-
ae consciência para seu semelhante... Durante
.inos, tem havido a crescente tendência de homens
(me estão colocados em posições de responsabili­
dade governarem despoticamente sobre a heran­
ça de Deus, removendo assim dos membros da igre-
ia o seu vivo senso da necessidade de instrução di­
vina (>de apreciar o privilégio de buscar o conse­
lho di' Deus quanto a seu dever. Tal ordem de coi-
a d e v e mudar. Deve haver uma reforma.”2
“ Como um povo, precisam nossa fé e prática
::<t vitalizadas pelo Espírito Santo. Não se deve
e x e r c e r nenhum poder governativo que compeli­
ria o homem a obedecer aos ditames que a mente
f in it a exercesse. Deixai-vos pois do homem cujo
IVilego está no seu nariz, ordena o Senhor. Des-
\ iando a mente dos homens para que se apóiem
n i sabedoria humana, pomos um véu entre Deus
121
O Movimento Adventista da Reforma

e o homem, de modo que não pode ser visto Aquele


que é invisível.3
“A Terra obscureceu-se devido à má compreen­
são de Deus. Para que as tristes sombras se pu­
dessem iluminar, para que o mundo pudesse vol­
ver ao Criador, era preciso que se derribasse o po­
der enganador de Satanás. Isso não se podia fa­
zer pela força. O exercício da força é contrário aos
princípios do governo de Deus. Ele deseja unica­
mente o serviço de amor; e o amor não se pode
impor; não pode ser conquistado pela força ou pela
autoridade. Só o amor desperta o amor. Conhe­
cer a Deus é amá-Lo; Seu caráter deve ser mani­
festado em contraste com o de Satanás. Essa obra,
unicamente um Ser, em todo o Universo, era ca­
paz de realizar. Somente Aquele que conhecia a
altura e a profundidade do amor de Deus, podia
torná-lo conhecido. Sobre a negra noite do mun­
do, devia erguer-Se o Sol da Justiça, trazendo sal­
vação sob as Suas asas.” Malaquias 4:2.4
“Essa mensagem é dada a nossa igreja em to­
da parte. Na falsa experiência que está penetran­
do, está em operação uma decidida influência pa­
ra exaltar os agentes humanos, e levar muitas pes­
soas a dependerem do julgamento humano e a se­
guirem o domínio de mentes humanas. Essa in­
fluência está afastando de Deus a mente. Permi­
ta Deus que nenhuma experiência assim se apro­
funde e cresça em nossas fileiras de adventistas
do sétimo dia. Devem nossas petições alcançar
muito mais alto que o homem sujeito ao erro: al­
cançar a Deus. Deus não Se limita a lugar ou pes-
122
Conceitos Equivocados — 25 Parte

:.<>;i. Fie contempla dos Céus os filhos dos homens;


ve suas perplexidades e está familiarizado com as
circunstâncias de cada experiência da vida. Com­
preende Seu próprio trabalho no coração huma­
no, e não necessita de que qualquer homem dirija
:i operação de Seu Espírito.” 5
Kste conceito de responsabilidade pessoal é es-
I ranho para a maioria dos membros do Movimen-
l,o da Reforma. Foram ensinados a obedecer sem
»111< ilionar os ditames da igreja. Quando surge um
problema, em vez de irem à Fonte de toda sabe­
d o r ia , e le s enviam uma carta aos dirigentes da As-
■ ■<i ii.-.H» (Jeral. A resposta da direção é então usa-
<l,i para deter toda discussão ulterior sobre o as­
sunto em consideração,
•.»11.irt<I. i d i■i eiiI e percebo que sua responsabi-
11d id< liti.il ( com I )ens, ele viverá realmente de
iicoi do com um padrão mais elevado do que qual-
'lu. i u m e i il" Ir,ido por uma corporação eclesiás­
tica, A confiança nas decisões de corpos eclesiás-
heo , ,m :ii a muito hipocrisia. 0 povo viverá ã al-
I i i i . i des.s.a,:; normas apenas enquanto for vigiado.
Temera«» as pessoas, não a Deus.
A liberdade pessoal e o amor a Deus se combi-
...... para tornar uma unidade congregacional mais
t o i i e do que aquilo que se pode conseguir por for-
■ i irliil r.iriu. Note o seguinte comentário do Es-
pn ilc) de Profecia:
"Quando os homens se ligam entre si, não pe-
la i' Mça do interesse pessoal, mas pelo amor, mos-
I I a m ao[ K!ração de uma influência que é superior
a toda influência humana. Onde existe esta uni-
123
0 Movimento Adventista da Reforma

dade, é evidente que a imagem de Deus está sen­


do restaurada na humanidade, que foi implanta­
da nova vida. Mostra que há na natureza divina
poder para deter os sobrenaturais agentes do mal,
e que a graça de Deus subjuga o egoísmo ineren­
te ao coração natural.”6

Divórcio e Novo Casamento

Outro assunto, acerca do qual o Movimento da


Reforma recusa aceitar os claros ensinos da Bí­
blia e do Espírito de Profecia, é o assunto do di­
vórcio e segundas núpcias. Disse Jesus: “Eu, po­
rém, vos digo: Quem repudiar sua mulher, não sen­
do por causa de relações sexuais ilícitas, e casar
com outra, comete adultério [e o que casar com
a repudiada comete adultério]” (Mat. 19:9).
O ensino dos reformistas é: “Qualquer que re­
pudiar sua mulher, mesmo que seja por fornica­
ção, e casar com outra, comete adultério.” Esta
posição não é apenas uma perversão da Bíblia, mas
também da instrução clara do Espírito de Profe­
cia. Note o seguinte:
“Uma mulher pode estar legalmente divorcia­
da do marido pelas leis do país, mas não divorcia­
da à vista de Deus e de acordo com a lei mais al­
ta. Só há um pecado, o adultério, que pode pôr o
esposo e a esposa em posição de sentirem-se livres
do voto matrimonial à vista de Deus. Embora as
leis do país possam permitir o divórcio, à luz da
Bíblia continuam como marido e esposa, segundo
as leis de Deus.
124
Conceitos Equivocados — 2- Parte

“ Vi que a irm ã........ , por ora, não tem direito


<le desposar outro homem; mas se ela, ou qualquer
outra mulher, obtiver um divórcio legal na base
de adultério por parte do marido, então está livre
para casar com quem quiser.”
A posição tomada pelo Movimento da Refor­
ma sobre este assunto é que não importa o que te­
nha ocorrido em uma separação conjugal, a parte
inocente não tem nenhuma possibilidade de ser
r<,il aurada à condição de membro da igreja se tor­
na f a casar. Muitas injustiças e iniqüidades têm
urgido por causa de tal posição, e, como resulta­
do, muitas almas têm sido expulsas da igreja.
() divórcio com novas núpcias é considerado um
i»( a,do que não pode ser perdoado. Conheço pes-
< >;ilrnente muitas pessoas que foram excluídas por
l itiiaa de uma situação de divórcio e novo casamen-
io |<Yeqüentaram fielmente a igreja durante anos,
pagavam o dízimo regularmente e eram obedien-
i <• .1: normas da igreja em outros assuntos. Con-
I udo, mio podiam ser restaurados à condição de
membro, embora tivessem sido ap arte inocente.
A s e r v a de Deus não tomou esta posição. Mui-
......... declarações poderiam ser apresentadas
p.ii a um irai como Ellen White endossava o direi-
i<• da parle íiiocenlr de tornar a casar. Os dirigentes
■ u i . n i n i c n l o da Reforma não ignoram essas de-
i l.iiiii oe , jinpli-Miicnie recusam aceitá-las. Repe-
iolfMimuh i In ui nulo diíicuitdo nas sessões dos
•1«I* |M<|o <1.1 An m iai ao ( ienil da lielorma (SMI).
A Iih i i iciouiil | mii i a reciiíía dcHHas deolara-
■III lem ido ciHprc Mc aceilarmoH isto, não se­
125
O Movimento Adventista da Reforma

remos melhores do que a Igreja Adventista. Às


vezes o tema é coberto pela desculpa de que tal
plano de ação seria demasiado difícil de adminis­
trar. Como delegado à sessão dos delegados de
1978, também racionalizei que: “É muito difícil de­
terminar quem é realmente inocente.” Conquan­
to isto possa ser verdade, é apenas uma desculpa
da igreja para não aceitar o que está escrito; em
vez disto, “[ensinam] doutrinas que são preceitos
de homens” .
Muitos reformistas continuam a ter uma opi­
nião muito negativa da relação matrimonial. No
passado, alguns líderes ensinavam que marido e
esposa deviam viver como “irmão e irmã” . Esta
opinião, embora não seja mais ensinada publica­
mente, ainda influencia a vida de alguns dos líde­
res e membros.
Sem dúvida, a relação matrimonial está sob ata­
que neste presente mundo mau. O divórcio nunca
foi plano de Deus. Por outro lado, não concluire­
mos a comissão evangélica seguindo uma opinião
extremista sobre o assunto. Nossa única seguran­
ça está em pesquisar a Palavra de Deus e então
ensinar os crentes a levarem a vida de acordo com
seus princípios. Não nos esqueçamos de que o pro­
pósito da igreja não é condenar, mas salvar.
A posição tomada atualmente no Movimento
da Reforma pode ser comparada com a dos líde­
res da igreja no tempo de Cristo. “Os escribas e
fariseus trouxeram à Sua presença uma mulher
surpreendida em adultério e, fazendo-a ficar em
pé no meio de todos, disseram a Jesus: Mestre,
126
Conceitos Equivocados — 2- Parte

•'sl,a mulher foi apanhada em flagrante adultério.


K na lei nos mandou Moisés que tais mulheres se-
iam apedrejadas; Tu, pois, que dizes?” (João 8:3-5).
Suspeito que a maioria dos reformistas não te­
riam dado as boas-vindas às palavras do Salvador.
I’oderiam tê-Lo rejeitado como o Filho de Deus por
causa delas. Afinal, Ele parecia não estar apoian­
do a lei. “Erguendo-Se Jesus e não vendo a nin-
1'iicm mais além da mulher, perguntou-lhe: Mulher,
onde estão aqueles teus acusadores? ninguém te
condenou? Respondeu ela: Ninguém, Senhor. En-
la o lhe disse Jesus: Nem Eu tão pouco te conde­
no; vai, e não peques mais” (João 8:10 e 11). Ela
.jamais foi punida por seu mau procedimento.
Sou grato pelas palavras de Jesus! Nenhuma
IKssoa se aprofundou tanto no pecado que não pos-
a obter perdão ao pé da cruz. Há esperança para
cada um de nós. Louvado seja Deus por esta ver­
dade! Quão maravilhoso seria se cada um de nós
meditasse na admoestação de Cristo: “Aquele que
<l<•11t.re vós estiver sem pecado, seja o primeiro que
llie atire pedra” (João 8:7).

Viver Saudável

A mensagem do viver saudável é uma das gran-


dr:; verdades outorgadas ao povo do Advento. O
■ nlior deu esta mensagem a fim de preparar um
IM•v<>para resistir na última irrande crise. Segun-
<lo o Espírito de Profecia, a doutrina da saúde é
i ■ira a igreja o que o braço direito é para o corpo.
Ninj.Miém pode questionar os benefícios que se ob-
127
0 Movimento Adventista da Reforma

têm seguindo as orientações do Espírito de Pro­


fecia sobre este assunto. Devidamente compreen­
dida e vivida, pode trazer saúde e um aumento na
duração da vida, conforme tem demonstrado a pes­
quisa médica.
Quando a mensagem é pervertida, porém, po­
de resultar em fanatismo, enfermidade, ou mor­
te. O Movimento da Reforma tem enfatizado a
mensagem da saúde, mas freqüentemente sem a
devida orientação ou verdadeira compreensão. Es­
sencialmente, toda a mensagem da saúde se cen­
traliza na dieta. Muito pouco é mencionado a res­
peito do exercício e da necessidade de repouso su­
ficiente.
O povo que vive naquelas regiões do mundo on
de se tomam as posições mais extremistas sobre
dieta, pouco ou nada sabe acerca de simples sa­
neamento. Por exemplo, lembro-me de uma expe­
riência por que passei enquanto visitava um dos
países da América Central. A Missão operava uma
padaria em seu terreno. Os obreiros, supostamen­
te, preparavam pão bom e saudável. Para minha
surpresa e horror, os pães em crescimento eram
cobertos de moscas. Um gato corria livremente pe­
la panificadora, e um papagaio pousava em uma
janela aberta que havia por perto. O diretor não
via nenhum problema nessas condições, embora
fosse demasiadamente estrito em outras áreas do
viver saudável.
A verdadeira reforma da saúde lida com todas
as áreas da vida, não apenas uma. Onde estão os
programas dirigidos pelo Movimento da Reforma
128
Conceitos Equivocados — 2- Parte

Ia r a ajudar o povo a alcançar a vitória sobre o há-


Iiito do fumo, por exemplo, ou programas para aju­
dar o povo a começar um novo e mais saudável
■: !ilo de vida? A Reforma (SMI) tem apenas uma
111: l.ituição na Alemanha e poucas salas de trata­
mento em alguns países que tentem empreender
tal obra.
O Espírito de Profecia apela ao povo para vi­
v e r à altura da luz que o Senhor tem dado em re-
l.ição ao viver saudável. Se negligenciarem ou des­
considerarem a mensagem, sofrerão os resultados,
nao apenas física mas também espiritualmente.
<'(>ntudo, a igreja não foi autorizada a forçar seus
membros em submissão aos seus ideais dietéticos.
< il arei apenas uma das muitas declarações sobre
este assunto, especialmente aplicada ao assunto
dos alimentos cárneos.
“ Não demarcamos qualquer linha divisória a
;er seguida na dieta; mas dizemos que em países
<mde haja frutas, cereais e nozes em abundância,
0 alimento cárneo não é o alimento adequado pa­
ra o povo de Deus. Fui instruída de que o alimen-
1o cárneo tem a tendência de animalizar a natu­
reza, de roubar os homens e mulheres do amor e
impatia que devem sentir por todos e de confe­
rir às paixões mais baixas o domínio sobre as fa­
culdades mais elevadas do ser. Se comer carne já
foi saudável, não é seguro agora. Cânceres, tumo-
i es e doenças pulmonares são largamente causa-
ilo s pelo alimento cárneo.”8
Baseado nesta e noutras declarações semelhan-
o Movimento de Reforma fez disto um teste
129
0 Movimento Adventista da Reforma

mundial de comunhão, determinando que nenhu­


ma carne deve ser comida por seus membros. Es­
ta posição, embora bem-intencionada, bloqueia a
proclamação da última mensagem em países on­
de outros alimentos além da carne não estão pron­
tamente disponíveis. Como seria possível os refor­
mistas levarem a mensagem para os esquimós, por
exemplo? Apesar do fato de que eu sou vegetariano
confirmado, vejo que esta posição rígida limita o
avanço do evangelho. Além disso, coloca os ensi­
nos da igreja acima dos ensinos da Bíblia e do Es­
pírito de Profecia.
Em um seminário no qual ensinei na América
Central, alguns dos estudantes me pediram que
confirmasse sua convicção de que Cristo, enquanto
esteve na Terra, não comeu carne. Em vez de res­
ponder a esta pergunta com um Sim ou Não, su­
geri que recorrêssemos às Escrituras. A Bíblia
afirma claramente que Cristo comeu peixe junta­
mente com os discípulos. Mesmo após a Sua res­
surreição Ele comeu peixe. “Então Lhe apresen­
taram um pedaço de peixe assado [e um favo de
mel], E Ele comeu na presença deles” (Lucas 24:42
e 43). Isto chocou de tal modo os estudantes que
eu temi que eles perdessem a fé em Cristo. A re­
forma da saúde tornou-se tão distorcida em sua
mente que assumiu a precedência sobre o exem­
plo de Jesus.
Nem a Bíblia nem o Espírito de Profecia pro­
move tais distorções da verdadeira mensagem pa­
ra estes últimos dias. Seguindo imediatamente a
declaração já citada, encontramos o seguinte:
130
Conceitos Equivocados — 2- Parte

“Não devemos fazer o uso do alimento cár-


iim um teste de comunhão, mas deveríamos con-
.idorar a influência que crentes professos que
iram tais alimentos têm.sobre os outros. Como
mensageiros de Deus, não deveríamos dizer ao po­
vo: i 'ortanto, quer comais, quer bebais, ou façais
oiit.ra coisa qualquer, fazei tudo para a glória
de í)eus’? I Coríntios 10:31. Não daremos um tes-
lemunho decidido contra a condescendência com
0 apetite pervertido? Será que aqueles que são
ministros do evangelho, que proclamam a mais
olene verdade que já foi dada aos mortais, da-
1:\o um exemplo voltando às panelas de carne do
Kgito?”9
I lá uma grande diferença entre dar um teste­
munho decidido e impor uma prova de comunhão.
Kxiste uma grande diferença entre controlar o po­
vo no caminho que deve seguir, e o que é designa­
do na comissão evangélica. “Ide, portanto, fazei
discípulos de todas as nações, batizando-as em no­
me do Pai e do Filho e do Espírito Santo; ensinan­
do-as a guardar todas as coisas que vos tenho or-
(lenado. E eis que estou convosco todos os dias até
i consumação do século” (Mat. 28:19 e 20). Não
liã nenhuma comissão para forçar os conversos a
:.ejíuirem os ditames da igreja.
Este assunto foi discutido em uma comissão do
IVi«iv im ento da Reforma (SMI). Foi declarado que
>m b o ra o Espírito de Profecia proibisse fazer uso
l<>alimento cárneo uma prova de comunhão, a As-
ociação Geral tinha autoridade para fazer do seu
i o um a prova. Tal posição é um insulto ao p rin -
131
0 Movimento Adventista da Reforma

cípio de que todas as doutrinas devem ser basea­


das em um claro “Assim diz o Senhor” .
Fazendo do assunto do consumo de carne um
teste de comunhão, os reformistas estão em vio­
lação direta dos escritos da serva do Senhor. Sua
atitude virtualmente veda a entrada no reino da­
queles que talvez não sejam capazes, por causa das
circunstâncias, de viver plenamente esta parte da
mensagem. Deste modo, a mensagem do viver sau­
dável se tornou em uma maldição ao invés de em
uma bênção.
Em muitas regiões do mundo, os reformistas
perverteram a mensagem da saúde, dando-lhe pre­
cedência sobre as três mensagens angélicas e mes­
mo sobre os Dez Mandamentos. Naquelas regiões,
a mensagem da saúde deixou de ser o braço direi­
to para ser o corpo todo. Nunca foi esta a inten­
ção do Senhor.
Exorto cada um a estudar a luz dada e a pôr
a vida em conformidade com essa luz. Não olhe pa­
ra os outros. Você não terá de responder por eles.
Teremos de responder por nós mesmos diante do
Senhor pelo uso que fazemos da luz dada. Que ve­
nhamos a perceber nossa responsabilidade pessoal.
Referências:
1. Testemunhos Para Ministros, pág. 488.
2. Idem, págs. 477 e 478.
3. Idem, pág. 483.
4. O Desejado de Todas as Nações, pág. 17 (ênfase suprida).
5. Testemunhos Para Ministros, págs. 483 e 484.
6. O Desejado de Todas as Nações, pág. 653.
7. Ellen G. White, O Lar Adventista, pág. 344 (ênfase suprida).
8. Testimonies for the Church, vol. 9, pág. 159.
9. Idem, págs. 159 e 160 (ênfase suprida).

132
7 Doutrinas
Divergentes

W endo que o Movimento Adventista do Séti-


0 mo Dia da Reforma pretende ser o verdadei­
ro movimento do Advento, é importante compreen­
dermos em que áreas seus ensinos divergem das
doutrinas comumente defendidas pelos adventis-
1as. Já tocamos em algumas destas. Neste capítu­
lo exploraremos pontos adicionais de diferença.

A Mensagem de 1888

Os reformistas crêem firmemente que Deus cha­


mou seu movimento à existência e que foi profeti­
zada a sua vinda. Devem, portanto, fornecer evi-
(lência para esta posição. São citados dois eventos.
Primeiro, asseveram que, visto que a lideran­
ça adventista “subverteu os mandamentos de Deus
em 1914” , eles têm o direito de existir como um
movimento separado. Todavia, há alguma percep-
133
0 Movimento Adventista da Reforma

ção de que apenas este único evento é uma base


muito frágil para se estabelecer um novo movi­
mento em oposição à igreja suscitada por Deus no
grande despertamento adventista. Em segundo lu­
gar, os reformistas procuram justificação adicio­
nal nos eventos de 1888. Aqui, afirmam eles, es­
tão as verdadeiras origens do movimento.
No Curso de Estudo da Reforma eles citam de­
clarações negativas dos Testemunhos concernentes
à condição da igreja, antes e depois daquela Assem­
bléia. Enaltecem a mensagem trazida pelos irmãos
Jones e Waggoner como uma mensagem especial
de Deus, o que realmente foi. Os reformistas insis­
tem em que a igreja rejeitou essa mensagem.
Ellen G. White se referiu a essa mensagem so­
bre justiça pela fé como sendo o princípio do alto
clamor:
“O tempo de prova está justamente diante de
nós, porque o alto clamor do terceiro anjo já co­
meçou na revelação da justiça de Cristo, o Reden­
tor que perdoa o pecado. Este é o princípio da luz
do anjo cuja glória encherá toda a Terra.” 1
Sendo que alguns líderes da igreja se opuse­
ram a esta mensagem e aos mensageiros em 1888,
arrazoam os reformistas, o Senhor teve que dar
a mensagem a outros para que pudesse ser pro­
clamada com clareza. Consideram-se como aque­
les que foram chamados para cumprir esta tare­
fa. Na lição 16 do Curso de Estudo da Reforma
eles arrazoam que a mensagem para sair de Ba­
bilônia agora inclui o chamado de pessoas da “Igre­
ja Adventista caída” .
134
Doutrinas Divergentes

A título de comparação, citarei seu raciocínio


«•, em seguida, a luz que nos foi dada nas páginas
■1«' Espírito de Profecia. Primeiro, a declaração re-
Inr mista:
“O segundo anjo em 1844 proclamou a queda
ilr Iodas as igrejas existentes. Ele declarou que
••las se tornaram Babilônia, que significa confu-
i<>. Esta mensagem será proclamada continua-
mente até ao fim do tempo. Todavia, o anjo de
Apocalipse 18 repete a mesma mensagem. Per­
mutamos: Por que é isto necessário? A resposta
■ l’orque alguma coisa que não havia ainda caído
'•111 1844 é agora declarada caída. A comunidade
«|ue é chamada Babilônia, na mensagem do segun-
<lo anjo, evidentemente aumentou ou ampliou-se.
Nao é simplesmente que sua queda não tinha atin-
r.ulo ainda a culminância, mas principalmente por-
<|ue algumas corporações de cristãos que não es-
1avam incluídas na mensagem de denúncia do se-
(Vundo anjo em 1844, estão agora incluídas neste
l'.rupo pela força da mensagem do outro anjo.”2
Compare a declaração que acabamos de citar
com a idéia do Espírito de Profecia:
A mensagem do segundo anjo de Apocalipse,
capítulo 14, foi primeiramente pregada no verão
de 1844, e teve naquele tempo uma aplicação mais
direta às igrejas dos Estados Unidos, onde a ad­
vertência do juízo tinha sido mais amplamente pro­
clamada e em geral rejeitada, e onde a decadên­
cia das igreja havia sido mais rápida. A mensa-
c.em do segundo anjo, porém, não alcançou 0 com­
pleto cumprimento em 1844. As igrejas experi-
135
O Movimento Adventista da Reforma

mentaram então uma queda moral, em conseqüên­


cia de recusarem a luz da mensagem do advento;
mas essa queda não foi completa. Continuando a
rejeitar as verdades especiais para este tempo, têm
elas caído mais e mais. Contudo, não se pode ain­
da dizer que “caiu Babilônia,... que a todas as na­
ções deu a beber do vinho da ira da sua prostitui­
ção” . Ainda não deu de beber a todas as nações.
0 espírito de conformação com o mundo e de in­
diferença às probantes verdades para nosso tem­
po existe e está a ganhar terreno nas igrejas de
fé protestante, em todos os países da cristanda­
de; e estas igrejas estão incluídas na solene e ter­
rível denúncia do segundo anjo. Mas a obra da
apostasia não atingiu ainda a culminância.
Afastando-se estas corporações mais e mais da
verdade, e aliando-se mais intimamente com o
mundo, a diferença entre as duas classes aumen­
tará, resultando, por fim, em separação.”3
E stá claro que Ellen White se refere às igre­
jas caídas como atingindo um estágio adicional de
apostasia que necessita da saída do segundo cha­
mado. Ela não está em nenhum sentido aplican­
do o chamado de Apocalipse 18 a um chamado para
sair da Igreja Adventista do Sétimo Dia. Uma ou­
tra declaração ressalta esta.
Na Review and Herald, 17 de outubro de 1893
— por bondade, note que isto foi depois da Assem­
bléia de 1888 — Ellen White faz a seguinte de­
claração:
“Como é que estes folhetos que denunciam a
Igreja Adventista do Sétimo Dia como Babilônia
136
Doutrinas Divergentes

.".r espalharam por toda a parte, ao mesmo tempo


■■mque a igreja estava recebendo o derramamen­
toi do Espírito de Deus? Como é que os homens po-
dem ser tão enganados que imaginem consistir o
ul to clamor em retirar o povo de Deus da comu­
n h ã o de uma igreja que está gozando um período
ili • refrigério? Oh! que essas almas enganadas en-
11 em na corrente, e recebam a bênção e sejam do-
i;idus do poder do Alto.”4
“Os que acolhem os Testemunhos como a men­
agem de Deus, são por eles abençoados e auxi­
liados; mas os que os fragmentam, simplesmente
pa ra apoiar alguma teoria ou idéia pessoal, para
defender um procedimento errado, não serão
abençoados e beneficiados por aquilo que ensinam.
I“retender que a Igreja Adventista do Sétimo Dia
:;<‘ja Babilônia, é fazer a mesma declaração que faz
Satanás, que é um acusador dos irmãos, acusando-
o s dia e noite perante Deus.”5
É estranho que os reformistas pareçam conhe­
cer que o Senhor rejeitou a Igreja Adventista por
causa dos eventos da Assembléia de Mineápolis
em 1888. Contudo, a profetisa do Senhor não pa­
recia conhecer nada de tal rejeição. Escreveu ela
em dezembro de 1892:
“Ao recapitular a nossa história passada, ha­
vendo percorrido todos os passos de nosso progres­
so até ao nosso estado atual, posso dizer: Louva­
do seja Deus! Quando vejo o que Deus tem exe­
cutado, encho-me de admiração e de confiança na
liderança de Cristo. Nada temos que recear quanto
ao futuro, a menos que esqueçamos a maneira em
137
O Movimento Adventista da Reforma

que o Senhor nos tem guiado, e os ensinos que nos


ministrou no passado. Somos agora um povo for­
te, se pusermos nossa confiança no Senhor; pois
estamos lidando com as poderosas verdades da Pa­
lavra de Deus. Tudo temos a agradecer.”6
Os reformistas perdem o caminho ao discutir
os assuntos de 1888. Em geral não compreendem
qual foi o tema central naquela importante Assem­
bléia. Chegam a uma suposição coletiva de que
toda a igreja rejeitou a mensagem. Mas isto não
combina com os fatos.
Primeiramente, nenhuma posição foi jamais
votada pelos delegados à Assembléia. Isto nem
mesmo foi um assunto de votação. As mensagens
foram apresentadas no instituto ministerial em vez
de na sessão dos delegados à Associação Geral.
Em segundo lugar, conquanto ninguém possa
negar que alguns dos preeminentes irmãos rejei­
taram a mensagem, muitos outros se regozijaram
na luz dada. Em vez de ser suprimida nos anos se­
guintes, a mensagem foi vigorosamente promo­
vida pelos irmãos Jones e Waggoner, com a coo­
peração de Ellen White. A mensagem da justiça
pela fé foi apresentada em uma reunião campal
e em um instituto ministerial após outro, até que
sua glória permeou a igreja.
Após um período de tempo, muitos daqueles
irmãos de destaque que tinham rejeitado a men­
sagem se arrependeram. Em 1893 o Pastor Geor-
ge I. Butler, que havia sido o Presidente da Asso­
ciação Geral até 1888 e que vigorosamente se opu­
sera à apresentação da mensagem, se arrependeu
138
Doutrinas Divergentes

r <■<ilocou-se inteiramente do lado da verdade e pe-


■liu | ter dão por sua conduta anterior.
< )utro opositor à mensagem de 1888 foi o Pas-
inr Uriah Smith. Ellen White regozijou-se quan-
-1<>foi capaz de escrever a 12 de janeiro de 1891:
“ Eu soube que no sábado o Pastor Smith fez
■nu fissões muito amplas e que o Irmão Rubert
i imbém confessou. Eles voltaram em suas confis-
oes ã reunião de Mineápolis, e confessaram seus
i í t o s , em sua cegueira, e que seu espírito e atitu­

de naquela ocasião estavam errados. O Senhor ti­


nha revelado verdade preciosa ao Seu povo que
■los, estando cheios de descrença e preconceito,
não puderam apreciar, e trabalharam contra o Es­
pirito de Deus.”8
Em vez de utilizar o limitado espaço para ci-
lar documentação adicional quanto à retificação
i'in curso, feita pelos líderes da Igreja Adventista
ilepois de 1888, insisto com o leitor a estudar o li­
vro de A. V. Olson, que já mencionei antes, Thir-
l.aen Crisis Years (anteriormente publicado sob o
Iít.ulo de Through Crisis to Victory).
Concluindo, devemos fazer outra pergunta. Os
reformistas afirmam que a Igreja Adventista re­
jeitou a mensagem da Justificação pela Fé em 1888
i1assim se preparam para serem transtornados pe­
lo Senhor. Perguntamos: Têm os reformistas acei­
tado plenamente esta mensagem e a estão procla­
mando ao mundo? Isto pode ser respondido com
um enfático NÃO!
Alguns reformistas em anos recentes começa­
ram a proclamar esta mensagem. Mas ao consi­
139
0 Movimento Adventista da Reforma

derar alguém a situação no cenário mundial, per­


cebe um quadro inteiramente diferente. Quando
me tornei presidente da Divisão e comecei a via­
jar na América Central, encontrei ignorância em
relação a esta mui importante verdade. Em cada
localidade o Movimento de Reforma estava mer­
gulhado em total legalismo. Quando foi apresen­
tada a mensagem de justificação pela fé, ela sur­
giu como uma doutrina totalmente desconhecida,
e os dirigentes do Movimento de Reforma nesses
países a ela se opuseram.
Convido os reformistas a reconhecer que en­
quanto eles têm acusado o povo do Advento de re­
jeitar uma importante mensagem, eles têm sido
aqueles que realmente a rejeitaram. Com o devi­
do respeito àqueles que foram desencaminhados
por outros, eles devem perceber que a direção do
Movimento de Reforma tem tomado a posição do
“acusador dos irmãos” .
Apelo para os membros dos Movimentos de Re­
forma a que estudem os fatos. Vocês verão como
seus líderes construíram uma falsa história a fim
de se justificarem e “ arrastar os discípulos atrás
deles” . Insisto com vocês a que estudem detalha­
damente a mensagem que foi apresentada pelos
irmãos em 1888 e que o coração de vocês seja aque­
cido. Vocês experimentarão um amor mais pro­
fundo ao Senhor e começarão a desfrutar a expe­
riência cristã como nunca dantes.
Os 144.000
Outra área em que os reformistas seguem um
140
Doutrinas Divergentes

l ionLo de vista doutrinário divergente é o assunto


<I" 144.000. Enquanto na Igreja Adventista este
i iunto se tornou quase um problema sem impor-
Iane.ia, para os reformistas a matéria é muito im-
ix»rtante. Eles se apegam à opinião (expressa pe-
I" l’;istor J. N. Loughborough) de que o número
I 11.000 é um número literal em vez de simbólico,
■ que inclui todos aqueles que morreram sob as
i ccs mensagens angélicas. Ao tentar provar este
ponto, citam várias declarações de alguns dos ad-
'•ntistas pioneiros, bem como algumas das primei-
ii declarações de Ellen White. Acariciam espe-
i.ilmente uma declaração de sua primeira visão:
'(>:. santos vivos, em número de 144.000, reconhe-
' ' i am e entenderam a voz.”9
I’ara eles, esta afirmação é definitiva. Contu-
■I' i pa roce que quanto mais perto a profetisa che-
i*m m fim de sua vida, mais incerteza parece ela
i. 111' ii i: i rar em relação aos que comporão este gru-
p" i■ pecial. Em declarações alternadas, ela sim­
plesmente se refere a este número como uma clas-
«• especial, sem especificar se ele deve ser consi-
•l< i a do um número literal ou apenas simbólico da­
quele grupo especial de pessoas que estará vivo
< pi i'parado para o encontro com o Senhor quan­
do lOÍe vier.
Km I90 1, ela fez a seguinte e significativa de­
claração:
" ( Visto diz que haverá na igreja pessoas que
ipi <:.c nlarao fábulas e suposições, quando Deus
I, ii vrrdade:; grandes, inspiradoras e de molde a
■nobrecer, as (juais devem ser sempre conserva­
141
0 Movimento Adventista da Reforma

das no tesouro da memória. Quando os homens


apanham esta e aquela teoria, quando são curio-l
sos de saber alguma coisa que não lhes é necessá­
rio saber, Deus não os está conduzindo. Não é pla­
no dEle que Seu povo apresente alguma coisa que
supõe, a qual não é ensinada na Palavra de Deus.
Não é Sua vontade que eles se metam em discus­
sões acerca de questões que os não ajudam espiri­
tualmente, tais como: Que pessoas vão constituir
os cento e quarenta e quatro mil? Isto, aqueles que
forem os eleitos de Deus hão de sem dúvida, sa­
ber em breve.”10
O Curso de Estudo da Reforma racionaliza que
embora não devamos entrar em controvérsia so­
bre quem é este grupo, podemos estar certos de
que esta é a soma total de todos os redimidos sob
a tríplice mensagem angélica. Assim, os autores
do Curso de Estudo desconsideram totalmente a
declaração já citada. Isto mostra a falácia de ten­
tar racionalizar nossas posições ou de fazer adi­
ções ao que a Palavra de Deus revela. Precisamos
aceitar o que o Senhor achou por bem desdobrar
à compreensão do Seu povo e estar dispostos a nos
submetermos ao fato de que há alguns assuntos
que não estão claramente revelados.
Façamos agora um sumário do ensino da Re­
forma sobre os 144.000:
1. Somente 144.000 pessoas serão redimidas
por intermédio da pregação das três mensagens
angélicas em um período que se estende de 1844
até ao fim do tempo.
2. A maior parte dessas pessoas redimidas, po-
142
Doutrinas Divergentes

iv m, está atualmente nas igrejas de Babilônia e


.uni. durante a chuva serôdia.
A pergunta mais significativa é: Como este en-
.iim aleta o crescimento espiritual do Movimento
li lie forma? A resposta logo se torna eviden-
I■ Ne aIguém acreditar nisto, terá pouco entusias-
.... pelo evangelismo ativo. Os membros podem
Imm' ui.ir-se complacentemente, e dizer: Logo o Se­
ul" 'I derramará o Seu Espírito sobre nós, e a obra
' M"d .1 mente será concluída.
I l.i doutrina é uma escusa para os pequenos
............. e ('xplica satisfatoriamente os muitos de-
I*11111 do Movimento. Os reformistas arrazoam:
AI in.d intiilo poucos serão salvos; de sorte que se
......... IMH.i:: (‘stiver no navio da Reforma, tudo es-
Ittiii I..... Kalta principalmente aos reformistas
............ npi eensão da comissão evangélica e fun-
i.i‘ 11 li■!< |.i de Deus nesta obra.

* HiHiiiiliiio Fvohada

! 1»ui in ei.......... prática que distingue o Movi-


M p iilt i 1Ni lormado pensamento adventista é a
|Mtx......... . mio à observância da Comunhão.
O» *# I*«..... In li leniam que sendo que Cristo ce­
lt I ........ I II im.I <’eia sozinho com os discípulos,
•• >• M li o du ( "iiiunliao estó reservado apenas para
HM memlnM d. I igreja (|iie se e n c o n tr am em boa
\ I>i ,il ica a dv e nt is ta da Comunhão aber-
l»o.ft< . i. .
t*i Im in ' I íI eien o u t r a “ pr ov a ” de que a ijíiejn
* m titi I li I' I m / í i e i i o c a í d a ” . Al^ri) di.MSO, ele: d r
* I h i In in d o nun d. I I g r e ja A d v e n t itsl :i de cfi Im t n>

14.1
0 Movimento Adventista da Reforma

dividuais no serviço da Comunhão. Baseiam sua


posição no relato bíblico de que Jesus “tomou um
cálice [singular] e, tendo dado graças, o deu aos
Seus discípulos; e todos beberam dele” (Marcos
14:23).
Devido à sua alta consideração para com o seu
próprio corpo eclesiástico, eles consideram que o
serviço da Comunhão deve ser uma comunhão uns
com os outros, tanto quanto com o Senhor. Omi­
tir o uso de um único cálice, significa deixar de
ter comunhão com os irmãos e irmãs.
Os reformistas usam raciocínio muito intrinca­
do para provar que somente os membros da igre­
ja podem tomar parte. Nem mesmo os adventis-
tas visitantes têm permissão de participar da dis­
tribuição do pão e do vinho, sendo que eles, aos
olhos dos reformistas, realmente não pertencem
à família de Deus. Assumindo esta posição, eles
negligenciam a clara injunção do Espírito de Pro­
fecia, que professam ter em tão grande estima.
“O exemplo de Cristo proíbe exclusão da ceia
do Senhor. Verdade é que o pecado aberto exclui
o culpado. Isto ensina plenamente o Espírito San­
to. I Coríntios 5:11. Além disso, porém, ninguém
deve julgar. Deus não deixou aos homens dizer
quem se apresentará nessas ocasiões. Pois quem
pode ler o coração? ... Examine-se pois o homem
a si mesmo, e assim coma deste pão e beba deste
cálice. Pois qualquer que comer este pão, ou be­
ber o cálice do Senhor indignamente, será culpa­
do do corpo e do sangue do Senhor. Porque o que
come e bebe indignamente, come e bebe para sua
144
Doutrinas Divergentes

própria condenação, não discernindo o corpo do


irnhor. I Coríntios 11:28, 27 e 29.” n
No livro Evangelismo págs. 276 e 277, Ellen Whi-
!«■ relata uma experiência em que um ministro de
■uit.ra igreja assistiu em uma igreja adventista num
iliado, quando era celebrado o serviço da Comu­
nhão. Ele foi convidado a tomar parte na Comunhão
• iui Kira não desejasse participar do lava-pés. A ser-
um lo Senhor claramente aprovou isto. 0 Senhor deu
ui 11‘iição adicional por intermédio da Sua serva:
I’odem chegar a relacionar-se convosco pes-
"i i|ue não estejam de coração unidas à verda-
•1« <■a santidade, mas queiram participar desses
ui" Não as impeçais.” 12

\ « om issão Evangélica
1’o r n o parte de Sua última mensagem aos dis-
tapiil" .11 sus lhes deu sua comissão, registrada
tfm Miilrn.", 28:19 e 20: “Ide, portanto, fazei discí-
PhImH «Io Iodas as nações, batizando-os em nome
lo l'ni '■ilo Filho e do Espírito Santo; ensinando-
H* t h mm lar todas as coisas que vos tenho orde-
MMii‘■ E ris que estou convosco todos os dias até
I #........nação do século.”
N" i.......s. (]ue a comissão era ensinar, batizar,
t* • o mai algo mais a fim de que os crentes pu-
m ipK‘inl(>r a observar tudo o que o Senhor
iim• m 1<|iie eles conhecessem. Não há nenhuma
i 1- ui p.ira que a igreja impusesse ao povo anis
>l<t|tmn sob pena ilr exclusão se ‘.s mio os <
i ui «’Ml ao pr da Irl.ra.
l i r>
0 Movimento Adventista da Reforma

Por outro lado, os reformistas crêem que a úni­


ca maneira de mostrar desprezo ao pecado é ex­
cluir os membros por qualquer ação má, (à parte
das menores infrações). Visto que a direção adven­
tista não excluiu Conradi e seus coobreiros como
punição pelos seus erros na Primeira Guerra Mun­
dial, eles argumentam que a própria Associação
Geral se tornou culpada de cometer o pecado. To­
mam esta posição baseados em sua compreensão
de várias declarações do Espírito de Profecia, tais
como a seguinte:
“Ele queria ensinar ao Seu povo que a deso­
bediência e o pecado Lhe são excessivamente ofen­
sivos e que não devem ser considerados leviana­
mente. Ele nos mostra que quando o Seu povo se
acha em pecado, devem tomar imediatamente me­
didas decisivas para afastar deles o pecado, para
que o Seu desagrado não pouse sobre todos. Mas
se os pecados do povo forem ignorados por aque­
les que estão em posições de responsabilidade, Seu
desagrado cairá sobre eles, e o povo de Deus, co­
mo um corpo, será considerado responsável por
esses pecados.... Quando o povo percebe que as
trevas estão descendo sobre eles e não sabem a
causa, devem buscar sinceramente a Deus, em
grande humildade e humilhação própria, até que
as ofensas que contristam o Seu Espírito sejam
procuradas e afastadas.” 13
Devemos notar que as ofensas devem ser afas­
tadas, não o pecador. Infelizmente, nossa nature­
za humana nos impele a odiar o pecador e amar
o pecado. Deveríamos antes amar o pecador a des­
146
Doutrinas Divergentes

peito do nosso ódio ao pecado. Não há nenhuma


<1ii vida de que a transgressão aberta e contínua
contra os mandamentos de Deus não pode ser to­
lerada pela igreja. Ao mesmo tempo, nunca deve­
mos esquecer que o nosso objetivo primário é aju-
<lar o pecador a encontrar uma nova experiência
com o Senhor em vez de puni-lo pelo mau nome
' |ue ele pode ter dado à igreja. Jesus deu instru­
ções claras sobre como a igreja deve lidar com
membros errantes em Mateus 18:11-17.
“ | Porque o Filho do homem veio salvar o que
■ .lava perdido.] Que vos parece? Se um homem
I iver cem ovelhas, e uma delas se extraviar, não
ileixará ele nos montes as noventa e nove, indo
procurar a que se extraviou? E, se porventura a
encontra, em verdade vos digo que maior prazer
«tilirá por causa desta, do que pelas noventa e
ih 've, que não se extraviaram. Assim, pois, não
c (l.i vontade de vossso Pai celeste que pereça um
île:,l es pequeninos. Se teu irmão pecar [contra ti],
víh argüi-lo entre ti e ele só. Se ele te ouvir, ga-
nli:i:;(,e a teu irmão. Se, porém, não te ouvir, to-
'II i h nda contigo uma ou duas pessoas, para que,
p e l o <Icpoimento de duas ou três testemunhas, toda
p.ilnvra se estabeleça. E, se ele não os atender, di-
‘ <.. i igreja; e, se recusar ouvir também a igreja,
■onsidera-o como gentio e publicano.”
<'hegamos então ao verso que tão freqüente-
.... .. tem sido usado mal pela Igreja Romana:
Km verdade vos digo que tudo o que ligardes na
i <»li, terá sido ligado no Céu, e tudo o que desli-
m les na Terra, terá sido desligado no Céu” (ver-
147
0 Movimento Adventista da Reforma

so 18). A Igreja Romana compreendeu isto com


o significado de que a igreja tem plenos poderes
para lidar com a alma humana, e que o Céu con­
cordará com toda decisão assim tomada. Eles não
percebem que toda decisão tomada pela igreja de­
veria ser tomada em vista de como o Céu agiria
na situação.
Infelizmente, os reformistas tomam a posição
romana neste assunto. Mas note: Somente depois
de serem dados todos os passos possíveis para
efetuar a restauração, deve a igreja desligar um
membro da comunhão. Isto deveria ser feito com
o discernimento de que mesmo então o objeti­
vo de tal medida é despertar o pecador para sua
necessidade, e esperançosamente operar sua res­
tauração. Como devemos tratar “um gentio e pu-
blicano”? Deveríamos tentar ganhá-lo para Cris­
to. No mesmo capítulo, Pedro é admoestado pe­
lo próprio Jesus a estar disposto a perdoar um
irmão tantas vezes quantas ele se arrependa (Mat.
18:22).
Atitude tão longânima não está de acordo com
o espírito subjacente dos reformistas. Crêem que
a fim de livrar a igreja do pecado devem remover
todo “pecador”. Quando é seguida esta espécie de
procedimento, então a igreja está cumprindo ade­
quadamente o seu dever. Em vez de trabalhar no
problema tendo em vista a salvação do pecador,
os reformistas geralmente “resolvem” o proble­
ma, afastando o pecador da comunhão. Mui fre­
qüentemente há uma ameaça, velada ou não mui­
to velada, de que a menos que você ponha a vida
148
Doutrinas Divergentes

<-m ordem, a igreja terá de lidar com você. Quão


■lifcrentemente Cristo opera:
“O pastor oriental não tange as ovelhas. Não
< vale da força nem do temor; mas indo na fren-
i«'. chama-as. Elas lhe conhecem a voz e obede-
i eiii ao chamado. Assim faz o Pastor-Salvador com
: •ii.i:; ovelhas.... Não é o temor do castigo, ou a es-
i" i .i nça da recompensa eterna, que leva os dis-
H| ui los de Cristo a segui-Lo. Contemplam o incom-
p.n .ivel amor do Salvador revelado em Sua pere-
i■M11;ição na Terra, da manjedoura de Belém à cruz
d<i ( 'al vário, e essa visão dEle atrai, abranda e sub-
1111 *. i o coração. O amor desperta na alma dos que
...... tiLemplam. Ouvem-Lhe a voz e seguem-nO.”14
Iv.ta abordagem dos líderes com respeito aos
i•<<. Hlores na congregação, favorece a idéia de que
i al vação vem somente através do Movimento da
Neli u ma. Além disso, é a direção da igreja que de-
• ide quem deve permanecer como membro e quem
niii mleve. Conseqüentemente, a direção detém um
i eri ivel poder controlador sobre a consciência do
povo.
I Jm dirigente da Associação Geral, advertin-
di i (>s obreiros contra a ação muito precipitada na
■ i lusão de pessoas, disse: “Lembrai-vos de que
mi 11 alidade, quando uma pessoa é desligada da
iUTeja, estais pronunciando a pena de morte con-
11 i ela.” Esta é a mesma espécie de poder auto-
' d ico que Roma mantém sobre seu povo. Os
uh mbros do Movimento da Reforma acreditam
•In<• :;er excluído da comunhão da igreja é ser des-
ii' ido do Senhor.
149
O Movimento Adventista da Reforma

O Remanescente e a Mensagem de Laodicéia I


Sendo que o Movimento da Reforma se consi
dera o verdadeiro povo de Deus, o verdadeiro re
manescente de Apocalipse 12:17, alguns dirigen­
tes têm desenvolvido uma interpretação fantasiosí
desta passagem. Ensina-se que há três entidades
neste verso: a mulher, a semente e o remanescen­
te. A mulher é identificada como sendo as igrejas
protestantes. “ Sua semente” é dito representai
a Igreja Adventista; o “remanescente” é afirma
do ser o Movimento da Reforma. Deste modo, é
feita a tentativa para justificá-lo como uma orgaj
nização separada.
Todavia, fragmentar a frase “o restante da sua
semente” ou “os restantes da sua descendência”
e argumentar que ela simboliza duas organizações
separadas, é distorcer a passagem. A cláusula se­
guinte (“os que guardam os mandamentos... e têm
o testemunho”) demonstra claramente que a ex-J
pressão (“os restantes da sua descendência”) está-
se referindo a uma só entidade que tem duas gran- ]
des características.
Semelhantemente, os reformistas arrazoam
que as advertências dadas ã igreja de laodicéia são ?
dirigidas à liderança da Associação Geral Adven­
tista e indicam que Deus rejeitou a Igreja Adven­
tista. Em uma tentativa de descobrir um funda­
mento bíblico para este ponto de vista, eles obser­
vam que a mensagem é dirigida “ao anjo da igre­
ja ” , que eles presumem que se trate da direção
da igreja.
150
Doutrinas Divergentes

l’ara que esta mensagem seja devidamente


«empreendida e se possa ver a quem é dirigida,
>.irias coisas precisam ser tomadas em conside-
i íi<;a<>:
I. Nem toda “igreja” considerada nestas men-
;i)V‘ns foi uma única corporação organizada. Por
• ■■inplo, a igreja de Sardes deve ser compreen-
<11-1.i como um complexo de todas as várias deno-
ações protestantes. A mensagem foi dirigida
i Indo crente em Cristo que vivesse nesse perío-
ilu da igreja.
::. 0 mesmo poderia ser dito da igreja de Fila-
■li llïa, sob cujo símbolo são retratados os tempos
•I" "(irande Despertamento Adventista” . Nova-
ii m111c aqui, a mensagem se aplicava aos crentes
de Iodas as denominações protestantes que man-
Iinliam uma única coisa em comum: a breve vin-
■I i <|e Cristo.
Semelhantemente, a mensagem de Laodi-
ci■i.i se aplica ao último período de tempo da his-
IIma da igreja e a todo crente em Cristo que vive
iH íc tempo independente da afiliação denomina-
i lonal.
Notemos cuidadosamente como Ellen White
l< algumas aplicações específicas da mensagem
<I. I ,aodicéia. Ela aplicou a mensagem de Laodi-
i••i;i a,o povo de Deus, mesmo antes de ser a Igre
11 Adventista organizada ou nomeada:
"Na primavera de 1857, ... 0 testemunho à
ici cj;i de Laodicéia foi geralmente recebido; mas
ii"uns no Leste estavam fazendo mau uso dele.
i ui vez de aplicá-lo ao seu próprio coração, benofi
151
0 Movimento Adventista da Reforma

ciando-se assim dele, estavam usando o testemu­


nho para oprimir outros.” 16 i
São mencionadas aqui três coisas importantes
com relação a esse testemunho:
1. O nome Adventista do Sétimo Dia não foi
adotado antes de 1860, três anos depois que El­
len White aplicou a mensagem ao povo de Deus.
2. A Associação Geral só foi organizada em
1863, seis anos depois de ter Ellen White aplica­
do esta mensagem ao povo de Deus. De sorte que
a mensagem de Laodicéia não individualizava a di­
reção da Associação Geral como afirmam os re­
formistas.
3. A mensagem deve ser aplicada a cada um
de nós pessoalmente a fim de que possa efetuar
sua obra. Não deve ser usada para denunciar os
outros.
“Tenho visto que não era o desígnio da men­
sagem levar irmão a sentar-se em juízo contra seu
irmão, prescrever-lhe o que deve fazer e até onde
ir; mas para que cada pessoa esquadrinhasse o pró­
prio coração e cuidasse da sua própria obra indi­
vidual.” 16
A carta à igreja de Laodicéia, portanto, traz
sobre si, de certo modo, nosso próprio nome indi­
vidual. Lembre-se de que há duas classes de lao-
diceanos: aqueles que permanecem em sua condi­
ção deplorável e aqueles que dão ouvidos ao con­
selho da Testemunha Verdadeira. Tentar usar a
mensagem a Laodicéia de tal modo que “prove”
a rejeição da Igreja Adventista é usar mal as Es­
crituras. Tais tentativas iá estavam sendo feitas
152
Doutrinas Divergentes

nos dias de Ellen White e são compreendidas na


eguinte declaração:
“Eles desejam derrubar aquilo que Deus deseja
i 1 a u r a r pela mensagem de Laodicéia. Ele só fere
p.ira poder curar e não para fazer perecer. O Se­
nhor não confere a nenhum homem uma mensa-
r.ein que desanimará e desacoroçoará a igreja. Ele
i <‘prova, censura, castiga; mas é apenas para po­
der restaurar e aprovar afinal.” 17
A cura para o laodiceanismo torna-se uma rea-
lnlade, quando cada crente percebe sua condição es­
piritual pessoal e aceita do Senhor o remédio ne-
i■<•: sário. O remédio é a percepção de que toda a nos-
i justiça é inaceitável diante do Senhor, e que nossa
iinic.-i esperança consiste em receber Sua justiça. No-
!<■ a seguinte idéia do Espírito de Profecia:
“A mensagem a Laodicéia tem estado soando.
Tome esta mensagem em todas as suas fases e
I k a-a ressoar ao povo onde quer que a providên-
<i.i abra o caminho. Justificação pela fé e a justi-
■ i de Cristo são os temas que devem ser apresen--
lados a um mundo que perece.” 18
A autoglorificação e o legalismo, correm direta-
111<rite contra a mensagem de justificação pela fé. Co­
mo temos notado, foi o Movimento da Reforma quem
II jeitou a mensagem de justificação pela fé. Adicio-
ii.indo regra após regra para que o seu povo siga,
■>:. reformistas descambaram para o formalismo e o
I' y.alismo. Em vez de apontar o dedo acusador para
i>s adventistas, eles precisam compreender que tam
l ><in são parte do período de tempo de Laodicéia e
Hcvem aplicar a mensagem também a si mesmos.
153
0 Movimento Adventista da Reforma

Natureza da Divindade
O Movimento da Reforma nunca teve uma com
preensão clara da natureza da Divindade. Em seuj
livreto Princípios de Fé eles ainda declaram quej
o Espírito Santo é um poder. Não se faz nenhu­
ma menção de que Ele é também um Ser pessoal.
Foi só na sessão da Associação Geral de 1978
(SMI) que foi reconhecido pela primeira vez que
o Espírito Santo é realmente uma Pessoa. Ape­
sar da decisão neste sentido, há ainda homens de
destaque que discutem fortemente este ensino.
Ainda mais triste é a crença e ensino de alguns
dos dirigentes da Associação Geral, concernente
à divindade de Cristo. Até recentemente, o Aria­
nismo, a doutrina de que Cristo é um ser criado,
era ensinado na escola missionária para obreiros
em potencial. Ainda na sessão da Comissão da As­
sociação Geral de 1980 (SMI), os obreiros foram
solicitados a ensinar que Cristo, enquanto esteve
na Terra, era totalmente humano sem qualquer
divindade.
Tendo alguns dos obreiros resistido a esta exi­
gência com muitas afirmações claras do Espírito
de Profecia bem como da Bíblia, a questão foi en­
cerrada. Contudo, alguns meses depois apareceu
um artigo no órgão oficial da Associação Geral
(SMI), Der Sabbatwachter and, Heroldder Refor­
mation [O Atalaia do Sábado e Arauto da Refor­
ma], que apresentava este mesmo ensino.
Para muitos que se apegam a estas idéias, pa­
rece não fazer diferença quanta evidência exista
154
Doutrinas Divergentes

■ui contrário. Sua opinião não pode ser mudada.


A defesa sempre é: Os pioneiros criam deste mo-
d.. de sorte que isto deve ser verdade. Infelizmen-
i< parece que muitos dos líderes do Movimento
d. i Reforma estão seguindo as pegadas dos judeus
dr outrora. “ Em vão Me adoram, ensinando dou-
i ri nas que são preceitos de homens” (Mat. 15:9).
( '-onsideremos ligeiramente o que a Bíblia e o
I. pfrito de Profecia ensinam sobre este assunto.
.Ic:;us enquanto esteve na Terra reivindicou uni-
dadü com Deus o Pai: “Eu e o Pai somos um” (João
10:30). Igualmente, o prólogo do Evangelho de
.l<>;io assevera Sua divindade eterna:
“No princípio era o Verbo, e o Verbo estava
ccmi Deus, e o Verbo era Deus. Ele estava no prin-
. ipio com Deus. Todas as coisas foram feitas por
intermédio dEle, e sem Ele nada do que foi feito
e lez. A vida estava nEle, e a vida era a luz dos
homens.... E o Verbo Se fez carne, e habitou en-
l.to nós, cheio de graça e de verdade, e vimos a
; 11a glória, glória como do unigénito do Pai (João
I 1-4 e 14).
Nenhum aspecto da divindade de Cristo causa
mais confusão do que o da ressurreição.
Os irmãos de destaque do Movimento da Re-
lorma ensinam que tendo em vista o fato de que
<i anjo que veio à tumba de Cristo declarou: “Teu
i ’ai Te chama” (0 Desejado de Todas as Nações,
l>ag. 753), deve ser verdade que o Pai ressuscitou
■■Filho. Contudo, quando continuamos a leitura
d(* O Desejado de Todas as Nações, um quadro di-
ícrente é dado.
155
0 Movimento Adventista da Reforma

“Quando foi ouvido no túmulo de Cristo a voz


do poderoso anjo, dizendo: “Teu Pai Te chama”,
o Salvador saiu do sepulcro pela vida que havia
em Si mesmo. Provou-se então a verdade de Suas
palavras: Dou a Minha vida para tornar a tomá-
la. (...) Tenho poder para a dar, e poder para tor­
nar a tomá-la. Então se cumpriu a profecia que
fizera aos sacerdotes e príncipes: Derribai este
templo, e em três dias o levantarei. S. João 10:17
e 18; 2:19.
“ Sobre o fendido sepulcro de José, Cristo pro­
clamara triunfante: Eu sou a ressurreição e a vi­
da. Estas palavras só podiam ser proferidas pela
Divindade. Todos os seres criados vivem pela von­
tade e poder de Deus. São subordinados recipien­
tes da vida de Deus. Do mais alto serafim ao mais
humilde dos seres animados, todos são providos
da Fonte da vida. Unicamente Aquele que era um
com Deus, podia dizer: Tenho poder para dar Mi­
nha Vida, e poder para tornar a tomá-la. Em Sua
divindade possuía Cristo o poder de quebrar as al­
gemas da m orte.” 19
O Espírito de Profecia declara reiteradamen
que durante Sua vida na Terra, “a divindade fluía
através da humanidade”. Adicionalmente, lemos:
“Em Cristo há vida original, não emprestada,
não derivada. Quem tem o Filho tem a vida! I S.
João 5:12. A divindade de Cristo é a certeza de
vida eterna para o crente.”20
Com todas as evidências concernentes à divin­
dade de Cristo, por que os dirigentes da Reforma
acham tão difícil aceitar esta verdade? Por que ne-
156
Doutrinas Divergentes

i'.;im eles Sua igualdade com o Pai? Tem muito a


ver com a formação cultural da maioria dos líde­
res do Movimento da Reforma.
A criança alemã é ensinada desde os primei-
n is anos a reconhecer uma linha de autoridade pro­
veniente de uma pessoa que está no ponto mais
;ilto. Espera-se de todos os que estão abaixo que
rendam perfeita obediência a essa única pessoa.
1«; fácil, portanto, arrazoar que o Céu também tem
i.il linha de autoridade. Deus o Pai está na posi­
ção mais elevada. Cristo está abaixo dEle em au-
l oridade, e o Espírito Santo está abaixo de Jesus.
1’ara alguns é incompreensível acreditar que os
I rês trabalham juntos como uma unidade. Mas
aceitar os ensinos dos mais altos dirigentes do Mo­
vimento da Reforma no tocante à natureza da Di­
vindade faria necessário rejeitar as palavras da Bí-
hlia bem como o testemunho do Espírito de Pro­
fecia.
Esta espécie de pensamento persiste também
nas funções da administração da igreja. Por exem­
plo, sendo que segundo esta mentalidade os ofi­
ciais eleitos estão acima da comissão, muito pou­
ca consideração é dada aos atos da comissão.
Referências:
I The Review and Herald (22 de novembro de 1892), citado em Christ Our
Righteousness, de A. G. Daniells (Washington, DC: Review & Herald Pu­
blishing Assn., 1941), pág. 56.
Reformation Study Course, Lesson 16, International Missionary Society,
S.D.A. Reform Movement (ênfase suprida).
0 Grande Conflito, pág. 389 (ênfase suprida).
<1. Testemunhos Para Ministros, pág. 23 (ênfase suprida).
f>. Idem, pág. 42.
li. Mensagens Escolhidas, livro 2, pág. 162.

157
0 Movimento Adventista da Reforma

7. A. V. Olson, Thirteen Crisis Years, 1888-1901 (Washington, DC: Review


& Herald Publishing Assn., 1891), págs. 92 e 93.
8. Manuscrito 40, 1891 (citado em Thirteen Crisis Years, págs. 102-3).
9. Primeiros Escritos, pág. 15.
10. Mensagens Escolhidas, vol. 1, pág. 174.
11. O Desejado de Todas as Nações, pág. 633.
12. Ellen G. White, Evangelismo, pág. 277.
13. Testimonies for the Church, vol. 3, pág. 265 (ênfase suprida).
14. O Desejado de Todas as Nações, págs. 464 e 465.
15. Ellen G. White, Spiritual Gifts, vol. 2 (Washington, DC: Review and He­
rald, 1945 [primeiramente publicado em Battle Creek, 1858]: 222-23.
16. Ibid., pág. 223.
17. Testemunhos Para Ministros, pág. 23 (ênfase suprida).
18. Ellen G. White Comments, The SDA Bible Commentary 7 (Washington,
DC: Review & Herald Publishing Assn., 1957): 964.
19. O Desejado de Todas as Nações, págs. 753 e 754 (ênfase suprida).
20. Idem, pág. 507.

158
0 Trigo
8 e o Joio

utra parábola lhes propôs, dizendo: O reino


O dos Céus é semelhante a um homem que se­
meou boa semente no seu campo; mas, enquan
os homens dormiam, veio o inimigo dele, semeou
o joio no meio do trigo, e retirou-se. E, quando a
erva cresceu e produziu fruto, apareceu também
o joio. Então, vindo os servos do dono da casa, lhe
disseram: Senhor, não semeaste boa semente no
teu campo? Donde vem, pois, o joio? Ele, porém,
lhes respondeu: Um inimigo fez isso. Mas os ser­
vos lhe perguntaram: Queres que vamos e arran­
quemos o joio? Não! replicou ele, para que, ao se­
parar o joio, não arranqueis também com ele o tri­
go. Deixai-os crescer juntos até à colheita, e, no
tempo da colheita, direi aos ceifeiros: Ajuntai pri
meiro o joio, atai-o em feixes para ser queimado;
mas o trigo, recolhei-o no meu celeiro” (Mal.
13:24-30).
159
0 Movimento Adventista da Reforma

Uma compreensão correta desta parábola é


muito importante no atual estágio da história do
mundo e da igreja. Não devemos usar esta pará­
bola para desculpar o pecado em nossa vida; nem
devemos tentar desempenhar o trabalho designado
aos anjos na separação do trigo do joio.
Foi-nos dada muita instrução do Espírito de
Profecia para ajudar-nos a compreender esta sig­
nificativa parábola. Estudemos algumas dessas de­
clarações e descubramos como se aplicam à igre­
ja de hoje.
“No oriente, os homens vingavam-se muitas ve­
zes do inimigo, espalhando sementes de qualquer
erva daninha, muito semelhante ao trigo, em cres­
cimento, em seu campo recém-semeado. Crescen­
do com o trigo, prejudicava a colheita, e causava
fadigas e prejuízos ao proprietário do campo. As­
sim Satanás, induzido por sua inimizade a Cristo,
espalha a má semente entre o bom trigo do reino.
O fruto de sua semeadura atribui ele ao Filho de
Deus. Introduzindo na igreja aqueles que levam
o nome de Cristo, conquanto Lhe neguem o cará­
ter, faz o maligno que Deus seja desonrado, a obra
da salvação mal representada e almas postas em
perigo.
“Dói aos servos de Cristo ver misturados na
congregação crentes falsos e verdadeiros. Anseiam
fazer alguma coisa para purificar a igreja. Como
os servos do pai de família, estão dispostos a ar­
rancar a cizânia. Mas Cristo lhes diz: Não, para que
ao colher o joio não arranqueis também o trigo com
ele. Deixai crescer ambos juntos até à ceifa.
160
0 Trigo e o Joio

“Cristo ensinou claramente que aqueles que


perseveram em pecado declarado devem ser des­
ligados da igreja; mas não nos confiou a tarefa de
ajuizar sobre caracteres e motivos. Conhece de­
masiado bem nossa natureza para que nos dele­
gasse esta obra. Se tentássemos desarraigar da
igreja os que supomos serem cristãos espúrios, cer­
tamente cometeríamos erro. Muitas vezes consi­
deramos casos perdidos justamente aqueles que
( Cristo está atraindo a Si. Se devêssemos proce­
der com essas almas segundo nosso parecer im­
perfeito, extinguir-se-ia talvez sua última esperan­
ça. Muitos que se julgam cristãos serão finalmen­
te achados em falta. Haverá muitos no Céu, os
quais seus vizinhos supunham que lá não entra­
riam. O homem julga segundo a aparência; mas
I )eus vê o coração. O joio e o trigo devem crescer
juntos até à ceifa; e a colheita é o fim do tempo
da graça.”1
Outras almas das quais se tem a noção de que
estejam em erro, são tratadas asperamente, por­
que os outros membros querem declarar suas opi­
niões em público de que suas ações não são acei­
táveis. Querem que a igreja pareça pura. É este
um motivo adequado?
“Por haver na igreja membros indignos, não
tem o mundo o direito de duvidar da verdade do
cristianismo, nem devem os cristãos desanimar por
causa destes falsos irmãos. Como foi com a igreja
primtiva? Ananias e Safira uniram-se aos discípu­
los. Simão Mago foi batizado. Demas, que aban­
donou a Paulo, era considerado crente. Judas Is-
161
O Movimento Adventista da Reforma

cariotes foi um dos apóstolos. 0 Redentor não quer


perder uma única alma. Sua experiência com Ju­
das é relatada para mostrar Sua longanimidade
com a corrompida natureza humana; e nos orde­
na a ser pacientes como Ele o foi. Disse que até
ao fim do tempo haveria falsos irmãos na igreja.
“Apesar da advertência de Cristo, têm os ho­
mens procurado arrancar o joio. Para punir os que
foram considerados malfeitores, tem a igreja re­
corrido ao poder civil. Os que divergiram das dou­
trinas dominantes foram encarcerados, martiriza­
dos e mortos por instigação de homens que pre­
tendiam agir sob a sanção de Cristo. Mas atos tais
são inspirados pelo espírito de Satanás, não pelo
Espírito de Cristo. Esse é o método peculiar de
Satanás de submeter o mundo a seu domínio. Por
esta maneira de proceder com os supostos here­
ges, Deus tem sido mal representado pela igreja....
É permitido ao joio crescer entre o trigo, go­
zar os mesmos privilégios de sol e chuva; mas no
tempo da ceifa será vista a diferença entre o jus­
to e o ímpio; entre o que serve a Deus e o que O
não serve. Mal. 3:18. Cristo mesmo decidirá quem
é digno de ser membro da família celestial. Julga­
rá cada homem segundo suas palavras e obras. A
profissão nada pesa na balança. O caráter é que
decide o destino.”2
Jesus interpretou os detalhes de Sua parábola
para os discípulos:
“O que semeia a boa semente é o Filho do ho­
mem; o campo é o mundo; a boa semente são os
filhos do reino; o joio são os filhos do maligno; o
162
0 Trigo e o Joio

inimigo que o semeou é o diabo; a ceifa é a consu­


mação do século, e os ceifeiros são os anjos. Pois,
assim como o joio é colhido e lançado ao fogo, as-
: im será na consumação do século. Mandará o Fi­
lho do homem os Seus anjos que ajuntarão do Seu
reino todos os escândalos e os que praticam a ini­
qüidade, e os lançarão na fornalha acesa; ali ha­
verá choro e ranger de dentes (Mat. 13:37-42).
Sejamos claros em notar que é o Senhor, por
intermédio dos Seus anjos, quem efetua a separa­
ção entre o trigo e o joio, não os membros ou os
ilirigentes da igreja. Não devemos limitar o Senhor
em como Ele operará esta limpeza. O Espírito de
I ’rofecia nos informa a respeito de um processo que
separa o falso do verdadeiro mesmo agora no tem­
po da graça. Note a seguinte declaração:
“O fato de não haver controvérsias ou agita­
ções entre o povo de Deus, não deveria ser olha­
do como prova concludente de que eles estão man­
tendo com firmeza a sã doutrina. Há razão para
temer que não estejam discernindo claramente en­
tre a verdade e o erro. Quando não surgem novas
questões em resultado de investigação das Escri­
turas, quando não aparecem divergências de opi­
nião que instiguem os homens a examinar a Bí­
blia por si mesmos, para se certificarem de que
possuem a verdade, haverá muitos agora, como
antigamente, que se apegarão às tradições e as cul­
tuarão sem saber o quê....
“Deus despertará Seu povo; se outros meios
falharem, introduzir-se-ão entre eles heresias, as
iluais os hão de peneirar, separando a palha do tri­
163
0 Movimento Adventista da Reforma

go. 0 Senhor chama todos os que crêem em Sua


palavra, para que despertem do sono. Tem vindo
uma preciosa luz, apropriada aos nossos dias. É a
verdade bíblica, mostrando os perigos que se acham
mesmo impendentes sobre nós. Essa luz nos deve
levar ao estudo diligente das Escrituras, e a mais
atento exame crítico das crenças que mantemos.... j
“Agitai, agitai, agitai! Os assuntos que apre­
sentamos ao mundo devem ser-nos uma realida­
de viva. É importante que, ao defender as doutri­
nas que consideramos artigos fundamentais de fé,
nunca nos permitamos o emprego de argumentos
que não sejam inteiramente retos. Eles podem fa­
zer calar um adversário, mas não honram a ver­
dade. Devemos apresentar argumentos legítimos,
que não somente façam silenciar os oponentes,
mas apresentem a mais acurada e perscrutadora
investigação” .3
Segundo estas idéias o Senhor dirigirá a apre­
sentação de falsas doutrinas para purificar o Seu
povo. Aqueles que se apegam à tradição, serão
igualmente achados em falta. Quão lamentável é
que os dirigentes e os membros do Movimento da
Reforma recusem pesquisar mais para que não ve­
nham a descobrir algo em seus ensinos que não
esteja em plena harmonia com a Bíblia e o Espíri­
to de Profecia! Consideram-se seguros em apegar-
se aos ensinos dos seus pioneiros sem admitir ne­
nhuma mudança. Isto permite que as heresias per­
maneçam na igreja. Estão de tal modo preocupa­
dos em salientar as faltas da Igreja Adventista,
que não podem enxergar as suas próprias.
164
O Trigo e o Joio

Sem dúvida há muito joio dentro da Igreja Ad-


ventista, como há no Movimento da Reforma.
Kxistem membros que não estão realmente con­
vertidos. Podemos afligir-nos com isto; mas, não
nos foi confiada a obra de arrancar o joio. Conti­
nuarão a ser encontrados na igreja até que o Se­
nhor opere para removê-los. A obrigação que nos
cabe é examinar a nós mesmos e mudar a nossa
própria vida, para que não venhamos a sofrer a
sorte final do “joio” .
Referencias:

1. Parábolas de Jesus, págs. 71 e 72 (ênfase suprida).


2. Idem, págs. 72 e 74 (ênfase suprida).
:i. Ellen G. White, Obreiros Evangélicos, págs. 298 e 299.

165
Conclusão

amigo que o convida a separar-se da Igreja

O Adventista do Sétimo Dia e tornar-se mem­


bro do Movimento da Reforma, pode ser um bom
cristão e ter boas intenções. Pode assegurar-lhe
que ao unir-se ao Movimento da Reforma você es­
tará preservando os ensinos originais do Movimen­
to Adventista. Não importa quão sincero ele pos­
sa parecer, ou quão honestamente possa estar en­
ganado, contudo ele ainda está enganado. Está
promovendo uma porção de teorias enganosas que
simplesmente não livram.
Embora o Movimento da Reforma tivesse iní­
cio com um protesto aparentemente lógico contra
o procedimento errôneo da liderança Adventista
na Europa, baseia-se em muitas suposições falsas.
Uma importante suposição é que Deus renunciou
ao Seu caráter longânimo e Se tornou irritadiço
por causa da brevidade do tempo. Como resulta­
166
Conclusão

do, Ele agora rejeitou o movimento adventista que


Ele chamou por causa de um erro cometido por
alguns homens na Europa, no início da Primeira
Guerra Mundial!
Este conceito torna Deus um mentiroso. Diz
Ele: “Porque Eu, o Senhor, não mudo” (Mal. 3:6).
Ele suportou pacientemente as repetidas aposta-
sias do antigo Israel e não os rejeitou como Seu
povo escolhido até três anos e meio depois que eles
condenaram Seu Filho unigénito à morte.
Ficamos maravilhados ante Sua longanimida­
de para com o Seu povo escolhido. Ao mesmo tem­
po, podemos ser tão gratos por este maravilhoso
atributo para com a nossa condição inconstante.
0 Senhor ainda estava com o Seu povo por oca­
sião da morte de Sua mensageira especial aos re­
manescentes em 1915. Por intermédio desses mes­
mos escritos do dom profético, Deus indica que es­
tará com o povo do Advento até ao fim do tempo.
Conquanto os reformistas tentem usar os Tes­
temunhos de modo a indicar que Ellen White “pro­
fetizou” que viria outra organização, os escritos
da sua pena declaram exatamente o contrário:
“O Senhor declarou que a história do passado
repetir-se-á ao entrarmos na obra finalizadora. To­
da verdade que Ele deu para estes últimos dias
deve ser proclamada ao mundo. Toda coluna por
Fie estabelecida deve ser avigorada. Não podemos
desviar-nos agora do fundamento estabelecido por
1)eus. Não podemos agora entrar em nenhuma no­
va organização; pois isto significaria apostasia da
verdade [1905].” ‘
167
0 Movimento Adventista da Reforma

“ Sou animada e beneficiada ao compreender


que o Deus de Israel ainda guia Seu povo, e que
continuará a ser com eles, até ao fim [1913].”2
Embora os reformistas façam uma confissão
de fé muito elevada, e afirmem ser o povo esco­
lhido e especial de Deus, Seu remanescente, esta
profissão de fé não corresponde à realidade. To­
do o movimento está cheio de egotismo farisaico,
passando a maioria por uma lavagem cerebral para
crer que são os únicos seguidores fiéis de Jesus.
Não há nenhum pecado direto envolvido em ser­
mos enganados, porém as atitudes tornam-se pe­
caminosas quando fechamos a mente para não re­
ceber mais instrução.
Descrevendo a rejeição no juízo final, daque­
les a quem o Senhor dirá: “Nunca vos conheci” ,
escreve a serva do Senhor:
“Aqui está o maior engano que pode afetar a
mente humana; essas pessoas acreditam que estão
certas, quando estão erradas. Pensam que estão fa­
zendo uma grande obra em sua vida religiosa, mas
Jesus arrancará finalmente sua cobertura de justi:
ça própria e apresentará vivamente diante deles o
seu verdadeiro quadro em todos os seus erros e de­
formidade de caráter religioso. Serão achados em
falta quando será para sempre tarde demais para
ter suas necessidades supridas. Deus proveu meios
para corrigir o errante; contudo, se aqueles que er­
ram preferem seguir o seu próprio juízo e despre­
zam os meios que Ele ordenou para corrigi-los e uni-
los à verdade, serão levados à condição descrita pe­
las palavras de nosso Senhor citadas acima.”3
168
Conclusão

“ Deus a ninguém condenará no Juízo por ho­


nestamente haver crido numa mentira, ou cons­
cienciosamente alimentado um erro; mas por ter
negligenciado as oportunidades de se familiarizar
com a verdade. O descrente será condenado não
por ser descrente, mas porque não aproveitou os
meios que Deus colocou ao seu alcance para habi-
litá-lo a se tornar cristão.”4
Apelo a todo membro do Movimento da Refor­
ma que venha a ler este livreto. Abri os olhos pa­
ra as realidades do movimento que estais apoian­
do. Olhai para sua condição dividida e para os mui-
I os obreiros que acharam necessário demitir-se a
fim de viver em paz com a consciência. Abri a Bí­
blia e estudai o exemplo a nós deixado por nosso
.imoroso Senhor. Vede a beleza do Seu caráter in­
comparável. Escutai Suas palavras de piedoso
amor ao falar à mulher apanhada em adultério:
" Nem Eu tão pouco te condeno; vai, e não peques
mais.” Vossos dirigentes teriam condenado a Je-
■us precisamente como fizeram os líderes judeus
quando Ele esteve na Terra. Ao virdes o incom­
parável amor do Salvador pelos pecadores, com-
Itarai Sua compaixão com as medidas tomadas no
movimento do qual sois membros.
Em segundo lugar, começai a estudar o Espí-
ri lo de Profecia com a mente aberta para com­
preender o que o Senhor está dizendo ao Seu po-
vii por intermédio da Sua serva. Procurai toda de-
■la ração que tendes usado para provar vossa po-
içao como um movimento separado e lede-a em
■ii contexto. Podereis ficar surpresos ante o que
169
0 Movimento Adventista da Reforma

vos será revelado pelo Senhor. Ao estudardes com


mente aberta, pedindo ao Senhor que vos guie, no­
vas perspectivas se abrirão diante de vós. Novas
idéias sobre o amor de Jesus iluminarão vossa
mente obscurecida. Creio que o Senhor vos reve­
lará o dever precisamente como fez comigo.
Abri o coração e permiti, como nunca dantes,
que o Salvador entre. Ele está aguardando entrada
para dar-vos a verdadeira paz e certeza da salva­
ção. Tereis um novo cântico no coração. Vós que
ainda estais satisfeitos em vosso orgulho farisai­
co, dizendo: “ Senhor, graças Te dou porque não
sou como estes adventistas” , pensai a respeito do
que aconteceu com aquelas pessoas enfatuadas do
passado. Em vez de seguir as suas pegadas, abri
a porta do coração a Jesus.
Diz o Salvador: “Eis que estou à porta, e ba­
to; se alguém ouvir a Minha voz, e abrir a porta,
entrarei em sua casa, e cearei com ele e ele comi­
go” (Apoc. 3:20). Este chamado é para cada um
de nós. Em vez de combater contra aquela igreja
que o Senhor estabeleceu para levar a última men­
sagem até aos confins da Terra, fazei bom uso de
vossas energias, ajudando a finalizar esta obra a
fim de que todos possamos ir para o lar.
“Perguntais: Que preciso fazer para ser salvo?
Deveis depor à porta da investigação as opiniões
preconcebidas, as idéias herdadas e cultivadas. Se
examinais as Escrituras para vindicar vossas opi­
niões próprias, nunca alcançareis a verdade. In­
vestigai para aprender o que o Senhor diz. Se vos
vier a convicção ao investigardes, se virdes que
170
Conclusão

vossas opiniões acariciadas não estão em harmo­


nia com a verdade, não mal-interpreteis a verda­
de para acomodá-la à vossa própria crença, antes
aceitai a luz concedida. Abri a mente e o coração,
para que possais contemplar as maravilhas da Pa­
lavra de Deus.”5
Somente quando removerdes a venda que foi
colocada sobre vossos olhos por dirigentes e com­
panheiros, freqüentemente bem-intencionados,
mas não obstante enganados, sereis capazes de
ver a luz do amor de Cristo. Não creiais em to­
das as histórias que vos têm sido contadas acer­
ca de vossos irmãos e irmãs da Igreja Adventis-
ta. Embora, sem dúvida, alguns que afirmem ser
adventistas não estejam vivendo a verdade co­
mo achais que deveriam, também é verdade que
somos todos pecadores salvos pela graça de Je­
sus Cristo. Ele veio a este mundo a fim de sal­
var pecadores. Permiti que o amor substitua a con­
denação. Uni-vos aos vossos fiéis irmãos que es­
tão levando a mensagem de Cristo aos confins da
'Perra, em vez de dar o vosso dinheiro para pro­
mover a discórdia entre vós mesmos e os vossos
irmãos.
A família de Deus vos está aguardando com
amor e compreensão. Por que não retornais? Fi­
nalizo com o apelo que não poderia ter sido fei­
to por ninguém outro se não o próprio Jesus: “O
Espírito e a noiva dizem: Vem. Aquele que ou­
ve diga: Vem. Aquele que tem sede, venha, e quem
<|uiser receba de graça a água da vida” (Apoc.
22: 17).
171
O Movimento Adventista da Reforma

Referências:
1. Mensagens Escolhidas, livro 2, pág. 390 (ênfase suprida).
2. Idem, pág. 406.
3. Testimonies for the Church, vol. 1, pág. 417.
4. Testemunhos Para Ministros, pág. 437.
5. Parábolas de Jesus, pág. 112.

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