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TEOLOGIA DA
ORDENAÇÃO
Relatório da Comissão de Estudo Junho de 2014
2
SEÇÃO I
TERMOS DE REFERÊNCIA
4
INTRODUÇÃO E ORIENTAÇÕES
TERMOS DE REFERÊNCIA
MEMBROS DO COMITÊ
SEÇÃO II
HISTÓRIA DA TOSC
3
ESCOPO DA COMISSÃO
Duas apresentações foram feitas, uma de cada ponto de vista, sobre 1 Timóteo 3:2
(“marido de uma só mulher”), com tempo para discussões em grupos pequenos sobre
esse assunto.
Um artigo da síntese da posição de cada lado foi apresentado.
O grupo favorável fez uma exegese sobre 1 Coríntios 11.
O grupo contrário fez uma apresentação sobre hermenêutica.
Foram feitas apresentações de cada grupo sobre a questão: “Para onde o nosso
posicionamento irá nos levar?”.
Os que tinham uma posição contrária ao ordenamento de mulheres ao ministério
evangélico fizeram avaliações sobre essas apresentações.
Grupos pequenos se reuniram para responder as avaliações das posições através do
estudo de Gênesis 1-3 e 1 Timóteo 2 e 3, e sugerir caminhos para se avançar.
No pôr do sol de sexta feira foi feita uma apresentação, “Sendo Pacificadores”, por
uma igreja local, e um devocional por Artur A. Stele.
No sábado, Mark A. Finley desafiou o grupo em seu sermão sobre ações para seguir o
método da igreja primitiva em lidar com questões difíceis, e grupos pequenos se
reuniram e se ocuparam com o desafio feito pelo pastor Finley.
Grupos pequenos se reuniram novamente sábado à tarde para discutir as seguintes
passagens: 1 Coríntios 11; Gálatas 3:26-28 e Joel 2:28-32.
A reunião se encerrou com um apelo de Geoffrey G. Mbwana para construir pontes e
avançar juntos, unidos em Cristo.
VISÕES DE CONSENSO
Primeira 32 40 22
opção
Segunda 0 12 19
opção
Terceira opção 2 0 0
SEÇÃO III
APRESENTAÇÕES SOBRE ESTE TEMA
8
DECLARAÇÕES
Declaração de Consenso sobre uma Teologia da Ordenação Adventista do Sétimo Dia
“The Problem of Ordination: Lessons From Early Christian History”, de Darius Jankiewicz.
“Women’s Status and Ordination as Elders or Bishops in the Early Church, Reformation, and
Post-Reformation Eras”, de P. Gerard Damsteegt.
“Paul, Woman, and the Ephesian Church: An Examination of 1 Timothy 2:8-15”, de Carl
Cosaert.
“Man and Woman in Genesis 1-3: Ontological Equality and Role Differentiation”, de Paul S.
Ratsara e Daniel K. Bediako.
“Issues Relating to the Ordination of Women with Special Emphasis on 1 Peter 2:9, 10 and
Galatians 3:28”, de Stephen Bohr.
“Ellen White, Women in Ministry and the Ordination of Women”, de Denis Fortin.
“1 Corinthians 11:2-16 and the Ordination of Women to Pastoral Ministry”, de Teresa Reeve.
“Evaluation of the Arguments Used by Those Opposing the Ordination of Women to the
Ministry”, de Ángel M. Rodríguez.
Síntese da Posição #1
Síntese da Posição #2
Síntese da Posição #3
SEÇÃO IV
DECLARAÇÃO DE CONSENSO SOBRE A
TEOLOGIA DA ORDENAÇÃO
12
Em um mundo alienado de Deus, a igreja é composta por aqueles que Deus conciliou
consigo e uns para com os outros. Através da obra salvadora de Cristo, eles são unidos a Ele
pela fé através do batismo (Ef 4:4-6), se tornando assim um sacerdócio real cuja missão é
“anunciar as virtudes dAquele que vos chamou das trevas para a Sua maravilhosa luz” (1Pe
2:9). Aos crentes é dado o ministério da reconciliação (2Co 5:18-20), chamados e capacitados
através do poder do Espírito e dos dons que Ele lhes confere para anunciar a Comissão
Evangélica (Mt 28:18-20).
Ainda que todos os crentes sejam chamados a usar seus dons espirituais para o
Evangelho, as Escrituras identificam certas posições de liderança específicas que são
acompanhadas pelo aval público da igreja, de pessoas que correspondem às qualificações
bíblicas (Nm 11:16-17; At 6:1-6; 13:1-3; 14:23; 1Tm 3:1-12; Tt 1:5-9). Frequentemente tal
reconhecimento é demonstrado pela “imposição das mãos”. Algumas traduções da Bíblia
usam a palavra “ordenação” para traduzir diversas palavras em grego e hebraico que possuem
a ideia básica de selecionar ou apontar que descrevem a atribuição dessas pessoas em seus
respectivos ofícios. Através da história cristã, o termo “ordenação” adquiriu sentidos além do
que essas palavras significavam originalmente. Sob tal pano de fundo, os adventistas do
sétimo dia compreendem a ordenação, em um sentido bíblico, como a ação da igreja em
reconhecimento público ao ministério local e global daqueles a quem Deus chamou e
capacitou.
Além da função única dos apóstolos, o Novo Testamento identifica as seguintes
categorias de líderes ordenados: o ancião/ancião supervisor (At 14:23; 20:17, 28; 1Tm 3:2-7;
4:14; 2Tm 4:1-5; 1Pe 5:1) e o diácono (Fp 1:1; 1Tm 3:8-10). Embora a maioria dos anciãos e
diáconos ministrassem em lugares determinados, alguns anciãos eram itinerantes e
supervisionavam territórios maiores com múltiplas congregações, o que pode ser o caso de
ministérios de indivíduos como Timóteo e Tito (1Tm 1:3-4; Tt 1:5).
No ato da ordenação, a igreja confere autoridade representativa a indivíduos para a
obra específica do ministério ao qual eles foram designados (At 6:1-3; 13:1-3; 1Tm 5:17; Tt
2:15). Isso pode incluir representar a igreja; proclamar o evangelho; administrar a ceia do
Senhor e batizar; semear e organizar igrejas; guiar e nutrir membros; ensinar contra falsas
doutrinas; e prover serviços gerais à congregação (cf. At 6:3; 20:28‑29; 1Tm 3:2, 4-5; 2Tm
1:13-14; 2:2; 4:5; Tt 1:5, 9). Embora a ordenação contribua para a ordem da igreja, ela nunca
atribui qualidades especiais às pessoas ordenadas nem introduz uma hierarquia régia à
comunidade de fé. Os exemplos bíblicos de ordenação incluem a distribuição de
incumbências, a imposição das mãos, oração e jejum, e se empenhar com aqueles que se
afastaram da graça de Deus (Dt 3:28; At 6:6; 14:26; 15:40).
13
Indivíduos ordenados dedicam seus talentos ao Senhor e à Sua igreja num serviço
vitalício. O modelo de fundação da ordenação é o chamado de Jesus aos doze apóstolos (Mt
10:1‑4; Mc 3:13-19; Lc 6:12-16), e o modelo absoluto de ministério cristão é a vida e serviço
de nosso Senhor, que não veio para ser servido, mas para servir (Mc 10:45; Lc 22:25-27; Jo
13:1-17).
14
SEÇÃO V
SÍNTESES DAS POSIÇÕES
15
RESUMO DA POSIÇÃO #1
DECLARAÇÃO DO RESUMO
INTRODUÇÃO
Deus chama as mulheres ao ministério. Seu serviço precisa do trabalho delas, e Ele é
honrado quando elas devotam seus talentos para ministrar às necessidades de outros em Seu
nome. Elas são parte essencial das forças espirituais que Jesus Cristo implementou no mundo
para conquistá-lo para Si.
A Bíblia menciona, pelo nome, outras mulheres que trabalharam nas igrejas locais:
Priscila (At 18:1, 18, 26; 1Co 16:9; Rm 16:3), Febe (Rm 16:1; cf. 15:25-32) e Maria (16:6).
Junia, com Andrônico, foram “bem conhecidos pelos apóstolos” (v. 7, ESV); Trifena, Trifosa
e Pérside “trabalharam arduamente no Senhor” (v. 12).1 Porém, não há evidência clara de que
quaisquer dessas mulheres alguma vez exerceram uma função de liderança na igreja. Seus
trabalhos parecem ter sido o de apoio ao trabalho realizado pelos apóstolos e outros homens a
quem Deus chamou para liderar Sua igreja. Cada obreiro tem um papel importante a cumprir,
1 Salvo por indicação contrária, as citações bíblicas foram extraídas da Nova Versão Internacional.
17
mas o fato de que é Deus quem o capacita ao trabalho faz com que um indivíduo não se torne
mais importante do que o outro. A igualdade no serviço não é incompatível com a diferença
de funções; todos somos servos de Cristo e a glória pertence a Deus pelo crescimento da
igreja e pela abundante colheita final.
2 OE 452.
3 FD 86.
4 BS 145.
5 Ev, 491
6 OE 452-453; Ev 492.
7 Ev 491.
8 Ibidem, 472.
9 Ibidem, 493.
10 “Não há nada que mostre que os primeiros adventistas discutiram o direito de as mulheres batizarem, ministrarem as ordenanças,
organizarem igrejas locais – nenhuma evidência de qualquer compromisso para com a ordenação.” David Trim, “The Ordination of Women in
Seventh-day Adventist Policy and Practice, up to 1972,” 7, http://www.adventistarchives.org/the-ordination-of-women-in-seventh-day-adventist-
policy-and-practice.pdf.
18
Há três motivos vitais para a posição que mantemos. Primeiro, a Bíblia parece ser
bem clara na questão da ordenação das mulheres. Segundo, cremos que deveríamos seguir
tendo a Bíblia como nossa autoridade suprema em todas as questões da fé e da prática.
Terceiro, se formos influenciados pela cultura e nos afastarmos de um fundamento bíblico
para nossa prática nesta área, teremos a tendência de nos afastarmos da Escritura em outras
áreas.
Essa instrução foi dada em dois ambientes diferentes, então não pode ser apenas a
resposta para um problema local que não se aplica a outras partes. Antes, é a instrução para a
igreja como um todo e para todos os tempos (1Tm 3:15). Ainda, em 1 Timóteo, essa
especificação ocorre apenas cinco versos depois da instrução de impedir as mulheres de certa
autoridade de ensino na igreja (1Tm 2:12). Visto que o líder da igreja descrito em 3:2
também deve ser “capaz de ensinar”, a proibição e o requerimento parecem estar
relacionados. Paulo restringe a liderança das mulheres na igreja com base na prioridade de
Adão na Criação, bem como os respectivos papéis de Adão e Eva antes e depois da Queda
(2:13, 14). O fundamentar sua instrução nos primeiros capítulos de Gênesis indica que a
questão se relaciona ao plano original de Deus para os seres humanos e não apenas à Sua
resposta ao problema do pecado. Há algo fundamental aqui que não devemos rejeitar ou
ignorar.
Embora o ímpeto de mudar a prática de nossa Igreja possa parecer ter surgido no final
dos anos 40 ou por aí, na verdade, ele remonta às mudanças sociais na América que iniciaram
na metade do século 19 – mudanças que levaram muitas igrejas protestantes a começar a
ordenar mulheres ao ministério durante esse período.11 Essa campanha foi decididamente
rejeitada pelo movimento do advento.12 Nossa igreja, pela primeira vez, se ocupou da questão
da ordenação das mulheres na Assembleia da Associação Geral em 1881, mas se recusou a
11 O movimento dos direitos das mulheres, na América, normalmente, é reconhecido por uma conferência realizada no Condado de Seneca,
Nova Iorque, em 1848. Uma de suas resoluções apelava para mulheres no clero. A primeira mulher ordenada conhecida na América foi Antoinett
Louisa Brown, ordenada ao ministério congregacional, em 1853, e muitas outras se seguiram em muitas denominações (uma lista parcial: 1853,
Primeira Igreja Congregacional; 1863, Igreja Metodista Wesleyana; 1865, Exército da Salvação; 1888, Discípulos da Igreja de Cristo; 1895,
Convenção Nacional Batista). Embora os documentos de nossa igreja tenham discutido o papel das mulheres no culto, apoiando o direito de as
mulheres falarem e participarem no culto, nenhum artigo, durante a vida de Ellen White, advogou a ordenação das mulheres como anciãs ou
pastoras. Alguns artigos, explicitamente rejeitaram que as mulheres ocupassem essas funções. Nossos pioneiros reconheceram que agir assim
não era bíblico (ver, ex., D. T. Bourdeau, “Spiritual Gifts,” RH 21/1, 2 de dezembro de 1862: 6; [J. H. Waggoner,] SOT 4/48, 19 de dezembro de
1878: 380). Nos anos recentes, porém, alguns adventistas assumiram posições alinhadas com o que muitas outras igrejas fizeram. A Igreja
Adventista deve agora decidir se essa é, de fato, uma nova luz que deve ser seguida.
12 “O parecer de que nenhuma mulher foi ordenada com a sanção da denominação organizada vai contra a tendência de muita da historiografia
recente sobre a ordenação das mulheres na história adventista, a qual é escrita por proponentes da ordenação das mulheres ao ministério
evangélico. O volume completo pode parecer impressivo. Porém, esse corpo de erudição, na verdade, não prova seu caso devido à má
interpretação do que os primeiros adventistas apoiaram quanto ao envolvimento das mulheres na igreja.” David Trim, “The Ordination of
Women,” apresentado na segunda seção do TOSC, p. 4, http://www.adventistarchives.org/the-ordination-of-women-in-seventh-day-adventist-
policy-and-practice. pdf.
19
fazer uma mudança. Isso não significou que as mulheres adventistas do sétimo dia não
tivessem parte na obra do evangelho. Antes de 1881, bem como depois, as mulheres
adventistas estavam trabalhando ativamente para Deus em áreas como evangelismo, obra
médico-missionária e ministério da beneficência social. Alegre e entusiasticamente elas
atuaram nessas funções sem serem ordenadas.
Ademais, o relatório afirma: “Uma estratégia de leitura clara e literal seria suficiente
para compreender a maior parte da Bíblia. Não obstante, a comissão crê que há ocasiões
quando deveríamos empregar a leitura baseada em princípios, porque a passagem requer uma
compreensão do contexto histórico e contextual.”16 De acordo com o MBS, sempre que
interpretamos ou fazemos exegese de um texto, devemos levar em consideração o contexto e
13 Ellen G. White, “The Faith that Will Stand the Test,” Review and Herald, 10 de janeiro de 1888, par. 11.
14 Esta seção foi adaptada de Gerhard Pfandl, “Evaluation of Egalitarian Papers” (apresentado na Comissão de Estudo da Teologia da
Ordenação, 22-24 de julho de 2013), 10-11, http://www.adventistarchives.org/evaluation-of-egalitarian-papers.pdf.
15 Ver Theology of Ordination Study Committee Report (Silver Spring, MD: North American Division of Seventh-day Adventists, 2013), 8; ver
também Kyoshin Ahn, “Hermeneutics and the Ordination of Women,” in NADTOSC Report, 25.7
16 Ibidem.
20
Com respeito às questões culturais, a Bíblia em si nos provê a chave quanto a como
lidar com elas. Por exemplo, embora alguns cristãos evangélicos classifiquem o sábado como
uma instituição temporária cultural, Gênesis 2:1-3 e Êxodo 20:11 mostram que ele se
originou como parte do plano perfeito de Deus para a humanidade e, portanto, se aplica a
todas as culturas e a todos os tempos. A circuncisão iniciou com a ordem de Deus a Abraão.
Assim como a presença do templo, ela não era uma garantia do favor de Deus sem um devido
relacionamento de aliança (Jr 4:4; cf. 21:10-12; 22:5). Na verdade, chegaria o tempo em que
Deus trataria os circuncisos como os incircuncisos (Jr 9:25; cf. 1Co 7:18, 19). O Novo
Testamento ensina que o batismo (Jo 3:3-8; Cl 2:11-13) representa a realidade simbolizada
pela circuncisão (Dt 30:6; 10:6) – uma mudança de coração e o dom do Espírito Santo (At
15:7-11; Rm 2:28, 29). Diferentemente da circuncisão, o batismo é para ambos os gêneros.
Ele simboliza o crente sendo lavado do pecado, identificando-se com a morte e a ressurreição
de Jesus Cristo e aceitando-O como Salvador (Rm 6). Além disso, a ordem para batizar é
dada em um ambiente universal (“todas as nações”, Mt 28:19), indicando sua aplicabilidade
mundial ao longo da história. Por contraste, a circuncisão era o sinal de identidade judaica.
Em acréscimo, instituições como a escravidão e a poligamia, embora toleradas na Escritura,
nunca foram ordenadas. Em vez disso, com base nos princípios bíblicos, essas práticas foram,
posteriormente rejeitadas pela igreja.
17 Ibidem 8.
21
para a correção e para a instrução na justiça, para que o homem de Deus seja apto e
plenamente preparado para toda boa obra” (2Tm 3:16-17).
Ellen G. White afirma que “A Bíblia deve ser nosso padrão para toda doutrina [...] É a
Palavra do Deus vivo que deve decidir todas as controvérsias.”18 Visto que a Bíblia é o
padrão para cada prática, isso não nos deixa espaço para perguntar quem deve ser ordenado
para as funções de liderança bíblica e se as mulheres se qualificam para os ofícios de anciã e
ministra.
A BÍBLIA FOI ESCRITA PARA TODOS. Ao estudar a questão da ordenação, é
importante conhecer o propósito e a audiência da Bíblia. Ellen White escreve: “A Bíblia foi
dada para fins práticos.”19 Ela “foi escrita para as pessoas simples, bem como para as eruditas
e é acessível à compreensão de todos.”20 A Bíblia “destina-se ao povo comum; e a
interpretação que lhe dá o povo comum, quando auxiliado pelo Espírito Santo, harmoniza-se
melhor com a verdade como é em Jesus.”21
DEVEMOS ACEITAR A BÍBLIA TAL COMO ELA É. Quando os oponentes discutiam com
Jesus, Ele os questionava a respeito das Escrituras: “‘O que está escrito na Lei?’, respondeu
Jesus. ‘Como você a lê?’” (Lucas 10:26). Jesus destacou que a forma de lermos as Escrituras
é importante para a compreensão de suas verdades. Ellen White expressa pensamentos
similares, mostrando como determinar se devemos tomar a palavra, texto ou passagem
literalmente ou simbolicamente. “A linguagem da Bíblia deve ser explicada de acordo com o
seu óbvio sentido, a menos que seja empregado um símbolo ou figura”. 22 O MBS diz:
“Buscar captar o significado simples e mais óbvio da passagem que está sendo estudada”.23
Os adventistas interpretam a Bíblia pautados por sua compreensão das três mensagens
angélicas de Apocalipse 14:6-12. Em 1844, as igrejas protestantes na Américas rejeitaram a
mensagem do primeiro anjo com sua advertência para se prepararem para o Segundo
Advento. Como resultado dessa rejeição, Jesus direcionou os adventistas para a mensagem do
segundo anjo e deixou-os saber que Babilônia havia caído, indicando que a queda moral das
igrejas não adventistas tinha se tornado uma realidade.2424 Desde 1844, quando as igrejas
rejeitaram a verdade presente, houve um aumento do método crítico-histórico do estudo da
18 CT 365.
19 ME1 20.
20 RH, 27 janeiro de 1885; CES 23
21 T5 331.
22 GC 599.
23 MBS, seção 4c9.
24 PE 235, 237-240, 247; GC 381, 388-390.
22
Bíblia entre os cristãos. Por conseguinte, essas igrejas caídas se afastaram, progressivamente,
mais e mais da Palavra de Deus.25
Uma área desse afastamento envolve uma campanha que surgiu para as mulheres no
clero, na América, como parte do movimento maior dos direitos da mulher, iniciado em 1848,
que já mencionamos. Esses fatos históricos, bem como o conselho de Ellen White acima
mencionado devem ser uma advertência aos adventistas quanto a serem muito cautelosos para
adotar ensinos e práticas de fontes não bíblicas. Ellen White adverte: “Satanás usará todas as
vantagens que puder obter para causar perplexidade e obscurecimento às pessoas em relação
[1] ao trabalho da igreja, [2] à obra de Deus e [3] às palavras de advertência que têm sido
dadas através dos testemunhos do Seu Espírito, para proteger Seu pequeno rebanho das
sutilezas do inimigo.”26 A questão da ordenação da mulher afeta todas essas três áreas, pondo
em perigo a missão da igreja remanescente. A gravidade dessa questão é ilustrada pelo fato
de que todos os lados da questão reivindicam o apoio da Bíblia e dos escritos de Ellen G.
White para seus pontos de vista. Essa alegação de igual validade tem o efeito neutralizador
dessas fontes divinamente inspiradas, levando-nos a pensar que não podemos buscá-las como
solução. Não obstante, como Ellen White nos lembra, a Palavra de Deus “deve decidir todas
as controvérsias”.27
INTERPRETAÇÃO DE 1 TIMÓTEO 2 E 3
1 TIMÓTEO 2.
Paulo inicia 1 Timóteo 2 indicando que a oração deve ser oferecida por
todas as pessoas. Ele apresenta vários motivos: Deus é o Salvador de todos; Ele deseja que
todas as pessoas sejam salvas; e Cristo Se entregou como resgate de todos (2:1-6; 4:10). Essa
linguagem inclusiva de gênero mostra que em outras partes, quando Paulo discute os
respectivos papéis de homens e mulheres, seu uso dos termos específicos de gênero “homem”
(anēr) e “mulher” (gynē) é deliberado. Os homens devem liderar a oração e o culto (1Tm
2:8); as mulheres devem se submeter à providência de Deus, segundo a qual não devem estar
acima dos homens como autoridade de ensino na igreja (1Tm 2:11, 12). Essas instruções se
destinam a promover a harmonia no culto ao seguirem a ordem de Deus para a igreja.
A estrutura de 1 Timóteo 2 e 3 inclui claramente seções específicas quanto à questão
de gênero: homens (2:8), mulheres (2:9-15), anciãos (3:1-7), diáconos (3:8-10), mulheres
(3:11), diáconos (3:12, 13). A ordem de Paulo em 2:11 é específica de gênero: “A mulher
deve aprender em silêncio, com toda a sujeição”. Em Atos 22:2 e 2 Tessalonicenses 3:12,
“silêncio” ou “tranquilidade” enfatiza o respeito e a humilde busca de paz e harmonia no
relacionamento. Aqui e em outras partes nos escritos de Paulo (1Co 14:34; Ef 5:21; Cl 3:18;
Tt 2:5), a “sujeição” sensivelmente governa as relações entre homens e mulheres. No
contexto, ela sempre ocorre na estrutura da autoridade divina e na submissão a Deus; não se
refere à submissão abusiva de todas as mulheres a todos os homens.
Paulo então expande sua ordem: “Não permito que a mulher ensine, nem que tenha
autoridade sobre o homem. Esteja, porém, em silêncio” (1Tm 2:12). Em vez de prover
instrução apenas para uma suposta situação local isolada (em Efésios, onde Timóteo estava
trabalhando), as palavras de Paulo (“Não permito”) revelam a natureza universal da ordem do
apóstolo. Essa proibição contra as mulheres ensinarem não tinha por alvo falsos ensinos,
como em 1 Timóteo 6:3, que usa o termo específico heterodidaskaleō, “ensinar algo
diferente”. Nas cartas de Paulo, o ensino significa instrução positiva (1Tm 3:2; 4:11; 6:2;
2Tm 2:2). Paulo não está requerendo o silêncio total. As mulheres podem orar e profetizar
(1Co 11:5) e engajar-se no ministério pessoal muito necessário (ex.: Áquila e Priscila, At
18:26). Elas também são encorajadas a criar filhos religiosos (1Tm 5:10, 14), e as mulheres
idosas devem instruir as jovens (Tt 2:3-5).
Visto que a frase grega traduzida como “tenha autoridade sobre o homem” (1Tm
2:12) é usada apenas uma vez na Bíblia, não pode ser definida ao se examinar as ocorrências
em outras partes. Mas o contexto imediato deixa claro seu significado:
Não tem como objetivo o falso ensino, como em 1 Timóteo 6:3, que usa o termo
específico heterodidaskaleō, “ensinar algo diferente”. Nas cartas de Paulo, o ensino significa
24
instrução positiva (1Tm 3:2; 4:11; 6:2; 2Tm 2:2). Ele indica que as mulheres podem orar e
profetizar (1Co 11:5) e se envolver no ministério pessoal muito necessário (ex.: Áquila e
Priscila, At 18:26). Assim, elas não são proibidas de toda forma de ensino.28
Paulo fundamenta os pontos-chave de sua instrução na informação de Gênesis 2 e 3,
apresentando dois motivos para a liderança dos homens na igreja:
1. A ordem da criação: “Porque primeiro foi formado Adão, e depois Eva” (1Tm
2:13). Ao ir para Gênesis 1 e 2, Paulo baseia seu argumento no princípio universal da
criação, não na cultura ou na preocupação com a missão. Embora ambos, homem e
mulher, tenham sido criados à imagem de Deus e, portanto, sejam iguais em natureza
(Gn 1:26, 27), Adão foi criado primeiro (Gn 2:7, 18-24). A mulher foi levada ao
homem (Gn 2:22) e, subsequentemente, é o homem quem deve iniciar a entidade de
uma nova família (Gn 2:24). Deus apresenta Eva a Adão como auxiliadora, e não a
ordem inversa (Gn 2:18). As dinâmicas da criação designadas por Deus traçam as
distinções entre o homem e a mulher e, de acordo com essas distinções, a diferença de
papéis.29 A igualdade da pessoa nunca esteve em questão, nem tampouco o homem
recebeu licença para abusar de sua autoridade.
2. A natureza do engano: “E Adão não foi enganado, mas sim a mulher, que,
tendo sido enganada, tornou-se transgressora” (1Tm 2:14). Gênesis 3, ao relatar a
triste história da Queda, descreve a derrocada da liderança altruísta masculina: a
serpente fala à mulher como se ela fosse a cabeça e representante da família; a mulher
aceita o papel acordado pela serpente.30 Significativamente, foi um questionamento da
palavra de Deus – “Foi isto mesmo que Deus disse.” (Gn 3:1) – que a levou a ser
enganada. A atividade e iniciativa do homem foram o foco em Gênesis 2, mas agora,
no capítulo 3, a mulher assume a iniciativa. Ela toma uma decisão, pega o fruto
proibido, come-o e o dá a Adão (v. 6). Resumindo, há uma total inversão do princípio
de liderança com base na ordem da criação. O homem come o fruto em segundo
lugar, seguindo a iniciativa e exemplo da mulher. Paulo destaca os respectivos papéis
de homens e mulheres estabelecidos na criação e as consequências decorrentes da
inversão desse papel de liderança como o fundamento da Escritura para preservar a
autoridade de ensino do homem na igreja.
28 Elas também são encorajadas a criarem filhos religiosos (1Tm 5:10, 14), e as mulheres idosas devem instruir as jovens (Tt 2:3-5).
29 T6 236: “Abaixo de Deus, deveria Adão desempenhar o papel de cabeça da família humana”.
30 Cf. Con 13-14, amplificando Gênesis 3:5, inclui a questão mais profunda do poder entre as tentações: a serpente alegou que a proibição “foi
dada para mantê-los [Adão e Eva] nesse estado de subordinação a fim de que não obtivessem conhecimento, que é poder.”
25
permanecem intactas: “pois o marido é o cabeça da mulher, como também Cristo é o cabeça
da igreja, que é o seu corpo, do qual ele é o Salvador. Assim como a igreja está sujeita a
Cristo, também as mulheres estejam em tudo sujeitas a seus maridos” (Ef 5:23, 24). O fato de
que Paulo fundamenta essa instrução com relação ao homem e à mulher antes da Queda
mostra sua validade também para nós hoje.
A instrução de Paulo salvaguarda a família. No contexto da fé em Cristo e da
submissão à vontade de Deus, o homem deve exercer um importante papel como
líderespiritual do lar. Seu ensino e exemplo devem ter uma influência positiva; ele não deve
ser ditatorial, aviltante ou indulgente. É por isso que Paulo insiste que a elegibilidade do
homem para a liderança da igreja se baseie nas qualidades-chave do caráter e em sua
liderança espiritual bem-sucedida no lar (1Tm 3:2-5). Em uma época em que a cultura está
rapidamente redefinindo o gênero e desafiando exatamente a estrutura da família, a igreja
faria bem em seguir as sábias orientações da Palavra de Deus nas relações entre homens e
mulheres, bem como em todas as outras questões de fé e prática.
1 TIMÓTEO 3. Com base nessa compreensão de Gênesis, em 1 Timóteo 3, Paulo volta
à questão dos bispos. Esse era um tema importante para ele e mais especialmente para a
igreja. Em outro lugar, Paulo escreveu a Tito que ele “pusesse em ordem o que ainda faltava
e constituísse presbíteros em cada cidade, como eu o instruí” (Tito 1:5). Foram dadas
instruções detalhadas a Timóteo e a Tito quanto às qualificações do bispo, que é mordomo de
Deus (Tito 1:7).
Com respeito ao antecedente histórico dessas instruções, não há evidência na epístola
em si ou nas fontes históricas do primeiro século para crer que a situação da igreja que
Timóteo enfrentava em Éfeso era algo único ou que 1 Timóteo, principalmente, trata de um
problema na igreja local. Diferentemente de outras epístolas de Paulo, que claramente são
endereçadas a igrejas individuais e sua situação local, as epístolas a Timóteo e a Tito são
endereçadas aos ministros. Esses homens não permaneceram em um lugar para servir a uma
única congregação; Paulo esperava que eles aplicassem essas instruções a quaisquer igrejas
que fossem estabelecidas (Tito 1:5). Se quaisquer das epístolas se destinam a instruções
gerais para a igreja como um todo, são estas – especialmente em vista das orientações que
Paulo deu de que sua vida poderia em breve ser tirada (2Tm 4:6).
Ao longo da discussão sobre os oficiais da igreja em 1 Timóteo 3, Paulo usa uma
linguagem muito específica. Ele emprega termos técnicos “supervisor” (episkopos) e
“diácono” (diakonos). Ele também usa as palavras “homem” e “mulher” em seu sentido mais
específico de “marido” e “mulher”. Portanto, uma clara progressão pode ser vista em 1
Timóteo 2-3 dos termos gerais (“por todos”) em 2:1-6 a termos mais específicos (“homens” e
“mulheres”) em 2:8-15, a ainda mais específicos (“marido de uma só mulher”) em 3:2, 12 (cf.
Tito 1:6). O supervisor/bispo “deve ser” (dei . . . einai) o marido de uma só mulher porque ele
é responsável pela supervisão do ensino e da instrução na palavra (3:2; Tito 1:7).
O uso do genérico “alguém” (tis) no verso 1 não nega a especificação; antes, a
especificação de gênero “marido de uma só mulher” limita quem se qualifica. Primeiro,
Timóteo 3:1 fala de um ofício (episcopē) a ser ocupado. Os versos seguintes revelam que
apenas o homem que satisfaz qualificações especiais pode ocupar essa posição. A mulher não
satisfaz a qualificação de gênero e, assim sendo, não pode ser ordenada para o ofício de
26
presbítero ou bispo (termos que Paulo usou alternadamente em Tito 1:5-9).31 Se Paulo tivesse
a intenção de permitir que as mulheres fossem incluídas entre os bispos, ele poderia ter
especificado ambas as possibilidades, como o vemos fazendo, extensivamente, em outras
partes em termos do relacionamento de marido-mulher (1Co 7:1-16). Portanto, “marido de
uma só mulher” significa exatamente o que ele diz: que o bispo deve ser homem casado com
uma única mulher, conforme mostram 56 de 61 traduções inglesas consultadas (incluindo as
mais recentes).32 O reconhecimento desse elemento masculino por tantas equipes de
tradutores ao longo dos anos até o presente é um eloquente testemunho de que nesse ponto
Paulo é claro e inequívoco. Apenas quatro traduções, pretendendo a neutralidade de gênero,
se afastam do significado amplamente aceito e estabelecido da frase “marido de uma
mulher”.
As qualificações dadas para o ancião em 1 Timóteo 3:2-5 se concentram no tipo de
pessoa que ele é em casa, na igreja e na sociedade. Paulo destaca que somente aqueles que
satisfazem as qualificações que ele expõe devem liderar a igreja de Deus. Essas qualificações
são as de que um líder da igreja, especificamente um presbítero ou bispo, deve ser um marido
fiel de uma só mulher que dá evidência de liderança bem-sucedida em sua família, o que o
qualifica para cumprir o cargo de liderança na “casa de Deus”, a igreja (1Tm 3:15), que é
formada por muitas famílias. Ainda, ele deve ser irrepreensível, temperante, sóbrio, de bom
comportamento, hospitaleiro, apto para ensinar, exortar e convencer pela sólida doutrina
aqueles que contradizem, e ter boa reputação entre os de fora, entre outras qualificações
apresentadas (1Tm 3:1-7; Tt 1:5-7). É óbvio que nem todos se qualificam para o sagrado
chamado de liderança de uma congregação da igreja, mas somente homens que têm registro
comprovado de liderança bem-sucedida no lar e que têm um elevado compromisso espiritual
e um estilo de vida moral e religioso. A adequação de um homem para a liderança na igreja
se baseia em quão bem ele tem administrado seu lar. A menção dos filhos, no final do verso 4
(“tendo os filhos sujeitos a ele, com toda a dignidade”) diz à igreja onde buscar evidência
para apoiar a qualificação na primeira metade do verso (“Ele deve governar bem sua própria
família”). Isso é importante porque “se alguém não sabe governar sua própria família, como
poderá cuidar da igreja de Deus?” (v. 5).
É verdade que vivemos em um mundo em nada ideal. Isso nos leva a eleger anciãos
que talvez não satisfaçam o ideal das qualificações bíblicas. Alguns são menos “temperantes”
que outros; alguns se envolvem mais ou menos em “bom comportamento”; alguns são mais
ou menos “hospitaleiros”; etc. Essas qualificações são avaliadas em graus. Onde estão
envolvidos graus, não nos é seguro traçar linhas arbitrárias quando a Escritura não nos deu
orientação. Mas isso não se refere ao requerimento fundamental de gênero. Os homens não
são mais ou menos masculinos. O gênero não é medido em graus. É um requerimento claro e
sem ambiguidade que não nos deixa espaço para conclusões errôneas ou má interpretação.
IMPLICAÇÕES. Embora 1 Timóteo 3:2 exclua as mulheres do ofício de presbítero ou
bispo, nada as impede de seguir servindo à igreja em muitas funções diferentes, presumindo
que estejam dispostas a trabalhar em cooperação com a autoridade de liderança que Deus
estabeleceu para a igreja e não a minar ou questioná-la. O princípio bíblico da liderança
piedosa do homem, quer no lar quer na igreja, deve ser exercido em serviço amoroso sob o
senhorio de Cristo “como convém a quem está no Senhor” (Cl 3:18).
lar, mas fala de homens e mulheres em geral, visto que o marido não vem à existência através
da esposa, mas o homem vem à existência através de sua mãe.
Alguns capítulos depois, Paulo discute a conduta desordenada na igreja. Devido aos
que desejam debater sua instrução, ele acrescenta: “Se alguém pensa que é profeta ou
espiritual, reconheça que o que lhes estou escrevendo é mandamento do Senhor. Se ignorar
isso, ele mesmo será ignorado” (14:37, 38). Dessa forma, Paulo exclui qualquer base para
desafiar seu ensino.
GÁLATAS 3:26-29
Gálatas 3:26-29 trata do relacionamento entre Deus e Seu povo. Cada verso foca
nessa conexão: “Todos vocês são filhos de Deus mediante a fé em Cristo Jesus (v. 26). Pois
os que em Cristo foram batizados, de Cristo se revestiram (v. 27). Não há judeu nem grego,
escravo nem livre, homem nem mulher; pois todos são um em Cristo Jesus (v. 28). E, se
vocês são de Cristo, são descendência de Abraão e herdeiros segundo a promessa (v. 29).” 33
Paulo não escreve que em Cristo “o homem não mais é o cabeça da mulher” ou que
“homens e mulheres podem agora servir como bispos/presbíteros na igreja”. Essas
declarações estariam em conflito com seu próprio testemunho em 1 Coríntios 11:3; Efésios
5:22-33; 1 Timóteo 3:1-7 e Tito 1:5-9. A questão de Paulo é clara: a etnia, as circunstâncias
econômicas e o gênero não concedem a alguém um status privilegiado sobre os demais diante
de Deus.
Ademais, a cruz não apagou as distinções funcionais estabelecidas por Deus antes do
pecado. O homem ainda deve cumprir o papel de pai e marido, e a mulher, o papel de mãe. A
esposa ainda deve se submeter à liderança amorosa de seu marido “no Senhor”, e os maridos
ainda devem amar as esposas (Ef 5:22-25). Não há alusão em Gálatas 3:28 ou em seu
contexto indicando que Paulo estava tratando dos papéis no lar ou na igreja.
O contexto de Gálatas 3 indica que Paulo estava tratando das questões da justificação,
do batismo em Cristo e do recebimento do Espírito no início da vida cristã, não dos ofícios ou
posições de liderança na igreja. Se desejarmos saber o que Paulo tinha a dizer a respeito das
qualificações para as funções de liderança da igreja, devemos ir aos lugares onde ele trata
dessas questões específicas nas epístolas pastorais de Primeira Timóteo e Tito.
As passagens do Novo Testamento sobre liderança e as relações homem-mulher na
igreja, consistentemente, indicam um plano apontado por Deus para que homens qualificados
liderem a igreja. Como Ellen White afirma: “As Escrituras são claras sobre as relações e
direitos de homens e mulheres”.34
Como vimos, Paulo estabelece sua compreensão de liderança no lar e na igreja com
base nos primeiros capítulos de Gênesis. Sua interpretação revela uma compreensão inspirada
quanto ao significado dessas passagens. No reino de Deus, os relacionamentos entre os seres
33 Ênfase acrescentada.
34 T1 421.
29
humanos se destinam a refletir os relacionamentos entre a Divindade e entre os anjos, que são
caracterizados por igualdade, bem como por diferenças funcionais.35
Esta declaração mostra que a mulher deve estar ao lado do homem como igual – não
ser inferior ou superior, mas igual ao homem. Ellen White, ademais, acrescenta: “O santo par
não devia ter nenhum interesse independente um do outro; e não obstante cada um possuía
individualidade de pensamento e de ação”.38
35 PE 167. Para essas diferenças funcionais, ver Jerry Moon, “Ellen White, Ordination, and Authority” (documento apresentado na Comissão de
Estudo da Teologia da Ordenação, 22-24 de julho de 2013), 3- 6, http://www.adventistarchives.org/ellen-white,-ordination,-and-authority.pdf;
Damsteegt, “Headship, Gender, and Ordination in the Writings of Ellen G. White” (documento apresentado na Comissão de Estudo da Teologia
da Ordenação, 22-24 de julho de 2013), 10-14, http://www.adventistarchives.org/headship,-gender,-and-ordination-in-the-writings-of-ellen-g.-
white.pdf.
36 Para uma exposição sobre Gálatas 2:28, ver Stephen Bohr, “A Study of 1 Peter 2:9, 10 and Galatians 3:28” (apresentado na Comissão de
Estudo da Teologia da Ordenação, 22-24 de julho de 2013), http://www.adventistarchives.org/a-study-of-i-peter-2.9,-10-and-galatians-3.28.pdf.
37 PP 18, 19.
38 T3 484.
30
39 PP 19.
40 A respeito de suas diferenças físicas, Ellen White Escreve: “Eva não era tão alta quanto Adão. Sua cabeça alcançava pouco acima dos seus
ombros.” (HR 20).
41 LA 215.
42 Ev 579.
31
Com respeito à ordem na igreja, a “casa de Deus, que é a igreja do Deus vivo, coluna e
fundamento da verdade” (1Tm 3:15), Paulo escreve que ele não permite que a mulher ensine
ou “tenha autoridade [ARC, nem use de autoridade] sobre o homem” (1Tm 2:12), “Porque
primeiro foi formado Adão, e depois Eva” (1Tm 2:13).
A explanação do Novo Testamento para o relacionamento entre o homem e a mulher
antes do pecado claramente ensina que o homem recebeu a função de liderança no lar e na
igreja. Visto que a autoridade e a submissão são princípios no Céu (1Co 11:3), de igual forma
os seres humanos na Terra foram criados para refletir a imagem de Deus.
Nas seguintes declarações, Ellen White confirma o papel de Adão no Jardim do Éden:
“Sob o controle divino, Adão deveria ser o líder da família terrestre, para manter os
princípios da família celestial”.43 “Adão foi nomeado por Deus como o soberano do mundo,
sob a supervisão do Criador:”44 “O sábado foi confiado a Adão, pai e representante de toda a
família humana.”45 “Adão era senhor em seu belo domínio.”46
Embora ambos tivessem recebido o domínio da terra (Gn 1:26, 27), a liderança nesse
relacionamento foi dada a Adão. “Adão foi corado rei no Éden. A ele foi dado o domínio
sobre cada ser vivo que Deus criara. O Senhor abençoou Adão e Eva com inteligência tal que
não dera a qualquer outra criatura. Ele fez Adão o legítimo soberano sobre todas as obras de
Suas mãos.”47 Os papéis e títulos de liderança iguais de Adão e Eva são completamente
ausentes dos escritos inspirados. Somente Adão é designado como o cabeça.48
Tanto a Bíblia quanto os escritos de Ellen White apresentam Adão como exercendo o
papel de liderança em termos do relacionamento homem-mulher e mesmo em termos de seu
domínio sobre a terra antes da Queda. O que os escritos inspirados nos dizem a respeito de
seu relacionamento depois da Queda?
Depois da Queda, o papel de autoridade de Adão se tornou ainda mais destacado. Foi
somente depois que Adão, como líder, seguiu sua esposa na senda da desobediência e do
pecado, que seus olhos foram abertos, e eles entenderam sua condição pecaminosa e a
resultante nudez (Gn 3:7). Em seguida, Deus vem e pergunta a Adão (não a Eva) como o
líder responsável (3:9-12). Então, Ele se dirige à mulher (3:13). Finalmente, Deus pronuncia
o juízo sobre cada parte, iniciando com a serpente e sua derrota final (3:14, 15). Adão
recebeu a pena de morte, que consequentemente afetou cada ser vivo (Rm 5:12). Então ele foi
expulso do Jardim, e sua esposa o seguiu.
A Queda de Adão e Eva trouxe uma mudança no relacionamento entre eles. A
punição de Deus sobre a mulher foi a dor no parto e a de que “seu desejo será para o seu
marido, e ele a dominará” (Gn 3:16). Assim como a dor entrou na experiência do parto como
resultado do pecado, assim observamos mudança na forma de funcionamento do princípio da
autoridade. Antes da Queda, havia um relacionamento harmonioso no qual Eva alegre e
ORDENAÇÃO BÍBLICA
49 Paul Ratsara e Daniel K. Bediako, “Man and Woman in Genesis 1-3: Ontological Equality and Role Differentiation” (documento apresentado
na Comissão de Estudo da Teologia da Ordenação, 22-24 de julho de 2013), http://www.adventistarchives.org/man-and-woman-in-genesis-one-
thru-three. pdf.
50 PP 93.
51 Ibidem.
33
ANTIGO TESTAMENTO
NOVO TESTAMENTO
52 Na Escritura, os profetas, tanto homens quanto mulheres, surgem intermitentemente, por ação de Deus, a fim de transmitir Sua palavra
inspirada ao povo. Como mensageiros do Senhor, não ocupavam um cargo como tal nem foram ordenados por mãos humanas. Deus os
chamou e enviou em determinados períodos da história de Seu povo, quando havia necessidade de orientação divina mais direta. De igual
forma, nos tempos modernos, Deus suscitou Ellen White como Sua mensageira. De acordo com o Ellen G. White Estate, embora as credenciais
ministeriais tenham sido votadas para ela pela Associação de Michigan e, posteriormente, pela Associação Geral, “jamais foi ordenada por mãos
humanas, não tendo, tampouco, realizado casamentos, organizado igrejas ou oficiado batismos” (FD 200). Ellen White, em 1911, referindo-se a
seu chamado ao serviço, escreveu o seguinte: “Na cidade de Portland, o Senhor me ordenou como Sua mensageira, e aqui meus primeiros
labores foram dedicados à causa da verdade presente” (Ibidem, 203). O White Estate acrescenta: “Ellen White recebeu sua primeira visão em
Dezembro de 1844, em Portland, Maine. Pouco depois, foi impelida pelo Senhor a contar aos outros o que vira” (Ibidem).
53 “Débora “julgava” (hebraico mishpāt) o povo, especialmente quando a procuravam pessoalmente. Quando o texto diz que ‘Débora [...] julgava
a Israel naquele tempo’ (Juízes 4:4), o verbo hebraico shāphat, ‘para julgar’, nesse contexto, não significa ‘mandar ou governar’, antes tem o
sentido de ‘decidir controvérsias, fazer distinção entre pessoas nas questões civis, políticas, domésticas e religiosas.’ Isso é evidente porque o
verso seguinte fala de como ela ‘julgava’: ela “habitava debaixo das palmeiras de Débora, [...] e os filhos de Israel subiam a ela a juízo.’ Esse não
é um retrato de liderança pública, como a de um rei ou rainha, mas um ambiente particular para estabelecer as disputas mediante arbitragem e
decisões judiciais. Se decidirmos usar isso como um exemplo para os nossos dias, podemos ver nisso justificativa para que as mulheres atuem
como conselheiras e juízas civis. Mas o texto da Escritura não diz que Débora governava sobre o povo de Deus’.” Laurel Damsteegt, “Women of
Influence” (documento apresentado na Comissão de Estudo da Teologia da Ordenação, 21-25 de janeiro de 2014), 14-15 (citado em Wayne
Grudem, Evangelical Feminism and Biblical Truth [Sisters, OR: Multnomah Publishers Inc., 2004], 133 [os itálicos são de Grudem]),
http://www.adventistarchives.org/women-of-the-old-testament.pdf.
34
54 Edwin E. Reynolds e Clinton Wahlen, “The Minority Report,” in the North American Division Theology of Ordination Study Committee Report
(novembro de 2013), 203,http://static.squarespace.com/static/50d0ebebe4b0ceb6af5fdd33/t/527970c2e4b039a2e8329354/1383690 434980/nad-
ordination-14-minority.pdf.
55 SC 56.
56 White, “The Regions Beyond,” PUR 4 dezembro de 1902.
57 DTN 202, 203, itálico acrescentado.
35
58 Visto que “diácono” (diakonos em grego) deve ser marido de uma mulher (1Tm 3:12), Febe, embora mencionada como uma diakonos (Rm
16:1), não poderia ter servido nesse ofício. A palavra diáconos é usada no Novo Testamento apenas raramente no sentido de “diácono” (Fp 1:1;
1Tm 3:8, 12). Normalmente ela tem um significado mais geral de “servo” (ex.: Mat 22:13; Mc 9:35; Rm 15:8, etc.), sendo o motivo porque na
maioria das traduções de Romanos 16:1 Febe é mencionada como uma “serva” da igreja em Cencreia.
59 Ibidem.
60 AA 49.
61 Ibidem, 50.
62 Ibidem, 89.
63 Ibidem.
64 Ibidem.
65 Ibidem, 90.
66 Ibidem, 91.
36
OFÍCIOS E DONS
O DOM DE PASTOREAR
No Novo Testamento, não há o ofício de “pastor”. Em Efésios 4:8, 11, 12, “pastor” é
dito como o dom do ministério. Paulo se referiu a esse dom espiritual em sua comissão aos
anciãos da igreja em Éfeso. “Cuidem de vocês mesmos e de todo o rebanho sobre o qual o
Espírito Santo os colocou como bispos, para pastorearem a igreja de Deus, que ele comprou
com o seu próprio sangue” (At 20:28). O apóstolo Pedro, que se considerava também um
ancião, se referiu a esse dom de forma semelhante, dizendo: “Portanto, apelo para os
presbíteros que há entre vocês, e o faço na qualidade de presbítero [...] Pastoreiem o rebanho
de Deus que está aos seus cuidados. Olhem por ele, não por obrigação, mas de livre vontade,
como Deus quer. Não façam isso por ganância, mas com o desejo de servir. Não ajam como
dominadores dos que lhes foram confiados, mas como exemplos para o rebanho” (1Pe 5:1-3).
Dentre as tarefas dos anciãos está a responsabilidade de pastorear, nutrir e proteger os
membros da igreja. A menos que um de seus dons seja o de pastorear, eles não se qualificam
para este ofício. Não obstante, esse dom não se restringe ao ofício de um ancião ou ministro.
O dom de pastorear pode se manifestar em pessoas que trabalham em outros chamados,
profissões ou ministérios e que são beneficiadas pelos aspectos do cuidado.
Ellen White usou “pastor” e “pastores do rebanho” dessa forma, quando escreveu que
essas “responsabilidades precisam ser passadas aos membros da igreja. O espírito
missionário deveria ser despertado como nunca antes e os obreiros apontados como
necessários, os quais devem agir como pastores do rebanho, empreendendo esforços pessoais
para elevar a igreja a uma condição onde a vida espiritual e a atividade sejam vistas em todas
as suas fronteiras”.68
Parece que foi isso que ela quis dizer em sua declaração bem conhecida sobre os
colportores: “É a assistência do Espírito Santo de Deus que prepara os obreiros, homens e
mulheres, para se tornarem pastores do Seu rebanho”.69 Ela não está dizendo para a igreja
abrir o caminho para que as mulheres atuem como ministros assim como os homens, visto
67 Damsteegt, “Women’s Status and Ordination as Elders or Bishops in the Early Church, Reformation and Post-Reformation Eras” (documento
apresentado na Comissão de Estudo da Teologia da Ordenação, 22- 24 de julho de 2013), http://www.adventistarchives.org/womens-
status-and-ordination-as-elders-or-bishops-in-the-early-church.pdf.
68 T5 723, itálico acrescentado.
69 T6 322.
37
que um pouco mais adiante, no mesmo volume, várias vezes ela instou os “moços” a
ingressarem no ministério, sem mencionar que as mulheres também deviam fazê-lo.70
70 Ibidem, 411-416.
71 Embora a Escritura não mencione o ofício de “diaconisa”, o fato de Paulo se referir às “mulheres” enquanto discute o ofício de diácono (1Tm
3:11) sugere que algumas mulheres receberam um papel na igreja primitiva não diferente do da diaconisa de hoje. Em vez de serem ordenadas
para um ofício oficial da igreja, elas parecem ter sido designadas para auxiliar os diáconos em sua obra, especialmente em relação à ajuda a
outras mulheres (21MR 97).
72 Esta lista foi adaptada de Harold W. Hoehner, “Can a Woman be a Pastor-Teacher?” Journal of the Evangelical Theological Society 50/4
(dezembro de 2007): 763, 764. Ver também Pfandl, “Evaluation of Egalitarian Papers,” 10, 11, http://www.adventistarchives.org/evaluation-of-
egalitarian-papers.pdf
73 FD 78.
38
Alguns interpretam esse texto no sentido de que as mulheres deveriam ser ordenadas
ao ministério. Porém, Ellen White não fala sobre a ordenação, mas sobre separar essas
mulheres para um determinado trabalho ou ministério. Elas são obreiras de meio período que
foram nomeadas para “visitar os enfermos, cuidar dos jovens e ministrar às necessidades dos
pobres”. Essa nomeação não as torna oficiais da igreja porque, como diz Ellen White, “em
alguns casos, necessitarão aconselhar-se com os oficiais da igreja ou o ministro”. Os líderes
da igreja são aconselhados a separá-las para esse trabalho específico “pela oração e imposição
das mãos”. O propósito dessa cerimônia é reconhecer e capacitar “outro meio de fortalecer e
edificar a igreja”.74 Essa cerimônia, então, não é ordenação a um dos cargos do Novo
Testamento, mas a imposição das mãos para separar essas mulheres para um ministério
específico que fortalecerá a igreja.75
Este exemplo deixa claro que a imposição das mãos pode ser usada para nomear os
membros da igreja para tarefas ou ministérios específicos, afirmando suas habilidades,
talentos ou dons ímpares que Deus lhes concedeu, mas não devem ser igualados à ordenação
para o ofício de liderança bíblico específico de um ancião ou ministro.
ORDENAÇÃO E AUTORIDADE
Em nossos dias, os ministros que supervisionam e servem a várias igrejas podem ser
comparados a Timóteo e Tito, cujo ministério evangélico não se restringia a uma igreja. Os
ministros que atuam como mestres da palavra e da doutrina têm um lugar especial na igreja
de Deus na Terra. A instrução de Paulo a Timóteo dá alguma ideia da autoridade a eles
confiada: “Pregue a palavra, [...] repreenda, corrija, exorte com toda a paciência e doutrina.
Pois virá o tempo em que não suportarão a sã doutrina” (2Tm 4:2, 3). Tito foi instruído a pôr
“em ordem o que ainda faltava”, e, com respeito aos que subvertiam a fé, a repreendê-los
“severamente” (Tt 1:5, 13). Ele devia falar “o que está de acordo com a sã doutrina” e
encorajar “os jovens a serem prudentes”, entre outras coisas (2:1, 6). “É isso que você deve
ensinar, exortando-os e repreendendo-os com toda a autoridade. Ninguém o despreze” (2:15).
74 Ibidem, itálico acrescentado. Outro exemplo às vezes mencionado é o médico missionário, sobre quem Ellen White disse: “portanto ele deve
ser separado para sua obra de maneira tão sagrada como o ministro do evangelho” (Ev 546). Nesse caso, porém, ela não menciona
explicitamente a imposição das mãos como parte do serviço, embora possa ter tido isso em mente. Qualquer que seja o caso, sua declaração
deixa claro que esse serviço não era ordenação ao ministério evangélico.
75 Ellen White escreveu de mulheres que “embora não lhe hajam sido impostas as mãos da ordenação”, estavam “realizando uma obra que
pertence ao ramo do ministério” (OE 452).
39
Uma parte importante da última oração de Jesus por Seus discípulos, em João 17, diz
respeito à sua futura unidade. Ele orou para que eles fossem “santificados pela verdade” para
que “todos sejam um, Pai, como tu estás em mim e eu em ti. Que eles também estejam em
nós, para que o mundo creia que tu me enviaste” (v. 19, 21). A unidade se baseia na união
com Jesus e na aceitação de Sua verdade, que vem pelo ouvir Suas palavras, conforme
reveladas nas Escrituras (Jo 5:39; Rm 10:17). Essa unidade é em si um poderoso testemunho,
tendo como seu propósito que “o mundo creia que tu me enviaste” (Jo 17:21). Portanto, uma
unidade fundamentada na Bíblia é vital para o cumprimento da missão da igreja.
Desde os nossos primeiros dias como adventistas, a importância de se escolher
sabiamente os ministros tem sido fortemente realçada pela inspiração, como sendo essencial
para a nossa unidade.80 Embora cada um de nós seja chamado a declarar “a razão da
esperança” que há em nós (1Pe 3:15), os anciãos e os ministros, “cujo trabalho é a pregação e
o ensino” (1Tm 5:17), são especialmente incumbidos de proclamar e ensinar a palavra de
Deus com precisão (2Tm 2:15; Tt 1:9). Eles foram separados para seu trabalho mediante o
rito da ordenação, com base no chamado de Deus e no reconhecimento da igreja regional (At
81 PAF 43.
41
Deus e dos membros deve ser “marido de uma só mulher”. No presente tempo de
reavivamento e reforma, como parte de sua missão divinamente ordenada, a Igreja Adventista
do Sétimo Dia deve chamar pessoas para saírem da Babilônia e se voltarem para a Bíblia,
como a Palavra de Deus e a norma de fé e prática. Todos os ensinamentos da igreja
remanescente da profecia bíblica devem estar firmemente estabelecidos na clara mensagem
da Bíblia, em preparação para a chuva serôdia e a iminente volta de Cristo.
A força da igreja está em sua obediência à Bíblia. Não deveríamos temer fazer o que a
Bíblia nos chama a fazer, mesmo se a cultura ao redor não aprovar. Isso é o que chamamos os
outros a fazer quanto à observância do sábado, à dieta e outras questões, e deveríamos estar
dispostos a fazer o mesmo nessa questão. Como sabemos, aproxima-se rapidamente o tempo
quando o falso dia de culto será obrigatório e a observância do sábado se tornará mais difícil.
Será que Deus está nos provando em pontos de menor importância a fim de desenvolvermos
lições de fé necessárias para enfrentarmos provas mais difíceis no futuro? Deus honrará os
que Lhe são fiéis e à Sua Palavra. Que Ele nos encontre dispostos, como indivíduos e como
igreja, a permanecer ao Seu lado em um tempo quando o mundo e muitos cristãos se tornarão
cada vez mais hostis às verdades vitais e eternas da Escritura. Jesus nos anima dizendo: “Seja
fiel até a morte, e eu lhe darei a coroa da vida” (Ap 2:10). Que possamos viver de maneira tal
para ouvi-Lo dizer: “Muito bem, servo bom e fiel!” (Mt 25:21).
Embora Pedro chame os cristãos de “sacerdócio real”, isso não significa que todos –
adultos e crianças, homens e mulheres – devem servir como sacerdotes ou como ministros
ordenados. Assim como Deus chamou o antigo Israel como “reino de sacerdotes”, embora
tenha estabelecido o sacerdócio de Arão e seus filhos como líderes espirituais, de igual forma,
na igreja cristã os apóstolos e os anciãos foram estabelecidos como líderes e todos eles eram
homens.
Israel era um sacerdócio real, porque cada israelita era um membro da comunidade de
aliança e devia mediar o evangelho ao mundo e prepará-lo para a chegada do Messias. Em
outras palavras, o objetivo do chamado de Deus para cada membro de Israel era evangelizar o
mundo, e os sacerdotes e levitas foram chamados para liderar e ensinar o povo a fazer isso.
De igual forma, todos os cristãos são um sacerdócio real, chamados para anunciar ao mundo
o que Jesus fez e que Ele voltará, mas é o papel dos anciãos/supervisores liderar e ensinar o
povo a fazer isso. O conceito de “sacerdócio real” apoia a liderança de anciãos e diáconos, e
não abre a porta para que mulheres sejam ordenadas como anciãs/ministras.
“Jesus os chamou e disse: ‘Vocês sabem que aqueles que são considerados
governantes das nações as dominam, e as pessoas importantes exercem poder sobre elas. Não
será assim entre vocês. Pelo contrário, quem quiser tornar-se importante entre vocês deverá
ser servo; e quem quiser ser o primeiro deverá ser escravo de todos’” (Mc 10:42-44).
Dizer que as palavras de Jesus, em Marcos 10:43, constituem uma total rejeição ou
inversão do modelo hierárquico é enganoso. Jesus condenou o uso egoísta, interesseiro ou de
exaltação própria da autoridade, mas Ele não condena uma estrutura de autoridade em si.
Quando Jesus diz: “Não será assim entre vocês”, estava especialmente falando aos doze.
Cada um deles desejava ser o “primeiro” no reino que todos esperavam que o Senhor
estabelecesse em breve (Mt 20:26). Eles se esqueceram de que a verdadeira grandeza requer a
renúncia da grandeza como um objetivo de vida. Os doze eram colegas um do outro em cada
sentido da palavra. Jesus os advertiu a não “dominar” um sobre o outro, não buscar o
primeiro lugar ou exercer poder sobre seus pares. Não obstante, a igreja do Novo Testamento
foi claramente estruturada com níveis de autoridade (apóstolos, anciãos, diáconos). Nem
todos poderiam ser apóstolos, anciãos ou diáconos. O apostolado era um dom espiritual
distribuído pelo Espírito Santo, de acordo com Sua vontade (1Co 16:15, 16; Hb 13:17; 1Tm
5:17). Os anciãos tinham autoridade na igreja. Paulo escreveu a Tito: “É isso que você deve
ensinar, exortando-os e repreendendo-os com toda a autoridade. Ninguém o despreze” (Tt
2:15).
Portanto, Jesus não proibiu o exercício da boa autoridade. Ele Se opunha ao exercício
egocêntrico da autoridade. A Igreja do Novo Testamento foi claramente organizada com
níveis de autoridade. Nem todos receberam a mesma autoridade, mas cada um devia respeitar
e se submeter aos de maior autoridade; e cada um era responsável por servir com
responsabilidade, humildade e amor aos que tinham menor autoridade. Todavia, os níveis de
autoridade apontam para uma hierarquia.
Paulo inicia seu conselho ao afirmar o princípio bíblico de que “o cabeça de todo
homem é Cristo, e o cabeça da mulher é o homem, e o cabeça de Cristo é Deus” (v. 3).
A reivindicação de que a autoridade é muitas vezes entendida como poder governante
e de que isso não é normal na linguagem grega é incorreta. O Greek Lexicon de Walter
Bauer, sob o uso figurativo de kephalē (cabeça) diz que cabeça “no caso de seres humanos”
denota “posição superior”, e cita exemplos de textos tanto da Escritura como fora dela.83
Nenhuma referência é dada a kephalē como fonte; na verdade, na última edição do Lexicon,
83 Frederick William Danker, W. F. Arndt, e F. W. Gingrich, A Greek-English Lexicon of the New Testament, terceira edição (Chicago: University
of Chicago Press, 2000), 542.
43
“Sujeitem-se uns aos outros, por temor a Cristo” (Ef 5:21) – As pessoas têm usado
esse verso para mostrar que maridos e mulheres precisam se submeter uns ao outros. Elas
dizem que o texto convida todos nós a estarmos sujeitos uns aos outros e não apenas as
mulheres a seus maridos. Elas concluem que não há mais a liderança masculina na família e
na igreja.
Ao lermos mais adiante em Efésios, vemos três agrupamentos de relacionamentos que
mostram como as pessoas precisam se relacionar umas com as outras. Primeiro, lida com os
relacionamentos entre marido e mulher (Ef 5:22-33), em seguida, entre pais e filhos (Ef 6:1-
4), e, por fim, entre escravos e senhores (Ef 6:5-9). Nesse contexto, como a mútua submissão
funciona nessas relações?
Realmente, Deus chama todos nós para nos submetermos uns aos outros, mas não nos
pede para nos submetermos uns aos outros da mesma forma. Em parte alguma na Bíblia os
maridos são incitados a obedecerem às esposas. Antes, os maridos são chamados a se
sacrificarem por suas esposas. O marido é também chamado a servir como “cabeça da
esposa”, a quem a esposa é convidada a se submeter. É autoridade do marido, não ditadura.
Como cabeça, o marido deve ser o líder da família; mas ele deve liderar assim como Cristo
84 Ibid., citando Joseph A. Fitzmyer, “Another Look at Kephalē in 1 Corinthians 11.3,” NTS 35 (1989): 503-11. Ver também, mais
recentemente, Fitzmyer, “Kephalē in 1 Corinthians 11:3,” Interpretation 47 (1993): 52-59, esp. 57: “Aqueles que reivindicavam que ‘fonte’ é o significado
pretendido por Paulo não apresentaram outro argumento do que sua reivindicação de que kephalē não tinha o significado de ‘governante, líder, alguém que tem
autoridade sobre’ nos dias de Paulo. A evidência apresentada acima mostra que certamente era possível para um escritor judeu helenista, como Paulo, usar a
palavra nesse sentido [“governante”]. Consequentemente, o argumento deles ruiu, e a compreensão tradicional foi mantida.”
44
É verdade que Jesus faz distinção entre os pesos de várias instruções divinas. Ele
disse aos fariseus que, a despeito de serem escrupulosos a respeito do dízimo, eles haviam
negligenciado “os preceitos mais importantes da lei: a justiça, a misericórdia e a fidelidade”
(Mt 23:23) Mas devemos lembrar o que Ele disse em seguida: “Vocês devem praticar estas
coisas, sem omitir aquelas”. Só porque uma ordem bíblica não é tão fundamental quanto as
outras não nos dá autoridade para alterá-la como se fosse flexível, dependendo da situação. A
Bíblia tem muitos exemplos daqueles que presumiram que uma ordem de Deus era flexível
quando não era. Adão e Eva foram punidos por comerem um pedaço de uma fruta – um ato
que certamente não é errado na maioria das circunstâncias. A oferta de Caim foi rejeitada
devido a uma modificação do que Deus lhe pediu para usar no culto, e Uzá foi punido
meramente por apoiar a arca – em ambos os casos transgressões de ordens não relacionadas à
lei moral. Nadabe e Abiú foram punidos quando ofereceram fogo diferente daquele que o
Senhor ordenara fosse usado no santuário – novamente apenas uma ordem que não se
encontra na lei moral de Deus. Então há os casos de Miriam e Corá – duas pessoas que
desafiaram a estrutura de liderança do povo de Deus. Miriam desafiou o lugar de liderança de
Moisés e foi punida pelo Senhor. Corá, Datã e Abirão e 250 líderes de Israel vieram a Moisés
pedindo uma posição superior nos postos organizacionais dos levitas. Quase toda a
congregação ficou do lado de Corá, crendo que ele e seus companheiros deveriam ter
permissão para servir como sacerdotes. O que se seguiu foi uma recusa de fazer uma
85Adaptado de C. Mervyn Maxwell, “Mutual Submission: What is it?” Adventists Affirm, Outono de
1987, 23-27.
45
Visto que Paulo proíbe que as mulheres ensinem e vemos, como igreja, mulheres
sendo professoras, alguns enxergam nisso evidência de que a Igreja Adventista já adaptou
ordens divinas não essenciais. Mas a Bíblia não proíbe as mulheres de todo o ensino. Pelo
contrário, ela menciona mulheres envolvidas no ensino e no ato de profetizar, e Ellen White
concorda ao incentivar as mulheres dizendo: “Dirigi-vos à multidão sempre que vos for
possível” (Evangelismo, p. 473). Paulo, consequentemente, não poderia ter dado uma
proibição total de ensino. Ao dizer: “Não permito que a mulher ensine, nem que tenha
autoridade sobre o homem” (1Tm 2:12), ele associa a proibição do ensino à autoridade sobre
os homens. Poucos versos depois, ele diz que o cargo oficial de ancião na igreja deve ser
realizado por um homem que seja “capaz de ensinar”. Portanto, a proibição dada às mulheres
foi que não poderiam assumir a autoridade de ensino que pertence ao ancião de igreja. Não
precisamos pensar que temos “adaptado” a instrução de Paulo quando as mulheres são
incentivadas a ensinar ou pregar em vários ambientes; elas podem fazê-lo desde que não
estejam exercendo a autoridade que pertence ao ancião ou ministro ordenado.
Contrário à alegação de que nesses versos Paulo tratou apenas de uma questão
específica em Efésios, onde as mulheres são influenciadas por falsos ensinos gnósticos, o que
Paulo diz em 1 Timóteo 2 e 3, é claramente destinado à igreja universal, não apenas à igreja
em Éfeso. No capítulo dois, ele discute a universalidade do culto cristão (2:1-15):
a. Orações pelas pessoas que exercem autoridade (2:1-3) devem ser feitas em
todas as igrejas, não apenas em Éfeso.
b. Deus deseja que todos os seres humanos sejam salvos (2:4-7), visto que todas
as igrejas devem trabalhar pela salvação das almas, não apenas a igreja em Éfeso.
c. Os procedimentos de culto 2:8-15 são para todas as igrejas, não apenas para
Éfeso.
a. O caráter dos bispos (3:1-17) se refere aos bispos em todas as igrejas, não
apenas em Éfeso.
b. O caráter dos diáconos (3:8-13) se refere aos diáconos em todas as igrejas, não
apenas em Éfeso.
Portanto, alegar que 2:12-14 se refere apenas à igreja local é ignorar o contexto, que é
claramente universal. O contexto imediato dos versos 12-14 inicia no verso 8, com as
palavras: “Quero, pois, que os homens orem em todo lugar, levantando mãos santas, sem ira e
sem discussões”, indicando que Paulo está falando à igreja universal e não apenas à igreja
local em Éfeso. No verso 9, onde Paulo inicia sua admoestação às mulheres com as palavras:
“Da mesma forma” (ex.: falando às mulheres e todas as partes), ele trata da questão do
adorno e das boas obras. O capítulo dois, na íntegra, é destinado à igreja universal.
No texto: “Não permito que a mulher ensine, nem que tenha autoridade sobre o
homem” (v. 12), a palavra grega didaskō (ensinar) se refere à instrução bem fundamentada.
Não se refere ao falso ensino, para o qual Paulo usa a palavra heterodidaskaleō (ensinar algo
diferente, ex.: falsa doutrina) em 1 Timóteo 1:3 e 6:3. Paulo diz que as mulheres nunca
podem falar na igreja? Certamente não. Ele tem mulheres orando e profetizando (pregando?)
na igreja (1Co 11:5). O que é proibido às mulheres é a autoridade no ensino que é parte do
ofício eclesiástico do ministro/ancião, que envolve o exercício da autoridade espiritual. Em
outras palavras, ensinar combinado com ter “autoridade sobre” se refere ao ensino com
autoridade de ministro/ancião ordenado.
O fato de Paulo falar de certos ensinamentos falsos em sua carta a Timóteo não
significa que tudo o que ele diz tem sentido apenas para a situação local em Éfeso. Por
exemplo, o que ele diz no capítulo 3 a respeito dos anciãos e diáconos é repetido em Tito 1,
indicando que seu conselho se destina a todas as igrejas, não apenas aos efésios. De igual
forma, o que Paulo diz a respeito da vestimenta das mulheres em 1 Timóteo 2:9, 10 é também
enfatizado em 1 Pedro 3, novamente, mostrando seu sentido universal, não apenas para a
igreja em Éfeso.
O Novo Testamento segue ensinando a liderança dos homens no lar e na igreja. Isso é
especialmente claro nos escritos de Paulo em 1 Coríntios 11, 1 Timóteo 2 e 3 e Tito 1, onde,
no fim de sua vida, ele advogou a liderança masculina na igreja cristã. As discussões acima
sobre essas passagens mostram que as distinções na função entre homem e mulher
prosseguiram depois do Primeiro Advento de Cristo, sem qualquer provisão para que as
mulheres atuassem como anciãs ou ministros. Somente uma interpretação incorreta do texto
pode eliminar a liderança masculina. A recriação dos seres humanos para a condição antes da
Queda, o que quer que isso represente, ocorre no Segundo Advento, não no Primeiro
Advento.
Declaração Resumo
Introdução
Hermenêutica bíblica
Uso do devido
Estudo da linguagem, gramática e contexto
Foco teológico
Uso dos princípios teológicos bíblicos
Texto, teologia e ordenação
Ordem no reino cósmico de Deus
Deus, mulheres e homens no Antigo Testamento
Adão e Eva antes da queda
Criados à imagem de Deus
A Precedência de Adão
Adão e a lei
Criada da costela de Adão e para ele
A Mulher recebe um nome
Casamento
Homem e mulher após a queda
Adão e Eva
Mulheres em papéis de liderança em Israel
Deus, mulheres e homens no Novo Testamento
Maridos e mulheres: autoridade
Efésios 5:21-33
1 Coríntios 11:2-16
Assunto principal da passagem
Prática cultural
Uso do termo “cabeça” (kephale)
Conexão com Gênesis 1
1 Timóteo 2:9-14
Contexto
Aprender em silêncio e ser submissa
Mulheres proibidas de ensinar
Ter autoridade sobre
Adão e Eva
Natureza do ministério cristão
Jesus e o ministério cristão
Ministros na igreja
A dádiva do Espírito
O Espírito para homens e mulheres
Dons são inclusivos de gênero
Membros e ministros: sem diferença essencial
Dons e Ofícios
Deus toma a iniciativa
Os doze apóstolos
49
Dons especiais
O início da nomeação de líderes
Diáconos e anciãos
Imposição das mãos na escritura
Imposição das mãos no Antigo Testamento
Imposição das mãos no Novo Testamento
Importância do rito
Qualificações para a liderança
Diaconisas
Mulheres como anciãs
Conclusão
Ellen White e as mulheres no ministério
Silêncio
Inclusão
Variedade
Comissionar
Missão
Nomeação a ofícios na Igreja Adventista do Sétimo Dia
Conclusão
Respostas à algumas perguntas sobre ordenação
50
RESUMO DA POSIÇÃO #2
DECLARAÇÃO RESUMO
A ordem no reino cósmico de Deus se baseia no amor que define Sua própria natureza
e se expressa no serviço a Deus e aos outros. Em Seu amor, Ele dá capacidades e habilidades
a Suas criaturas inteligentes e, com base em seu desenvolvimento e seu serviço amoroso,
responsabilidades específicas lhes foram designadas. Visto que Deus lhes garantiu a
liberdade, eles não foram arbitrariamente restringidos em seu desenvolvimento ao designar-
lhes um determinado papel para ser exercido por toda a eternidade sem a possibilidade de
desempenhar outros papéis. Deus não os restringiu arbitrariamente em sua expressão de
serviço amoroso aos outros.
Adão e Eva eram membros do reino cósmico de Deus. Eles foram criados à imagem
de Deus, como iguais. Ninguém foi colocado sob a autoridade do outro, com base no gênero
ou na ordem da criação. Eva não foi criada para ser, por natureza, sujeita a Adão. Foi
somente depois da Queda que, a fim de preservar a ordem no lar, ela ficou sujeita a seu
marido. Mas isso se restringiu ao relacionamento marido-mulher.
Em Israel, a liderança estava, principalmente, sob o domínio de homens. Mas essa
prática comum não nos deveria cegar para o fato de que Deus estava interessado em usar as
mulheres como líderes de Seu povo. A prática comum nunca se tornou lei em Israel ou uma
ordem divina direta. Deus queria que Seu povo compreendesse que homens e mulheres
deveriam trabalhar juntos, como iguais, no serviço a Ele e a Seu povo. Ele proveu a Seu povo
profetas e profetisas (os líderes espirituais mais elevados e mais “importantes” em Israel) e as
juízas, que também eram profetisas, detiveram o papel mais importante de liderança em
Israel, durante o período dos juízes. Da perspectiva divina, a liderança entre Seu povo não se
baseia nas diferenciações de gênero.
No NT, a norma comum da liderança dos homens é continuada, mas a liderança das
mulheres se torna muito visível. As mulheres poderiam agora ocupar posições de liderança
iguais às dos homens. Elas também receberam o dom do Espírito que as equipava, bem como
aos homens, para estabelecer a igreja. Visto que os dons são inclusivos de gênero, as
mulheres com os dons necessários para atuarem como diaconisas foram nomeadas e
ordenadas como tal. Imediatamente, isso revela que embora as qualificações para os ofícios
de diácono e ancião são específicos de gêneros, eles não são exclusivos de gênero. Ambos,
homens e mulheres membros da igreja, podem atuar como anciãos e diáconos, desde que
tenham os devidos dons e a igreja reconheça o chamado divino. O fato de o NT não
mencionar explicitamente as mulheres como anciãs não significa que elas não atuaram como
tal. As qualificações dos anciãos e diáconos são muito similares e sabemos que havia
diaconisas no NT. Há apoio bíblico suficiente para que a igreja proceda com a ordenação das
mulheres ao ministério.
Ellen G. White, como a Bíblia, não proíbe nem afirma explicitamente a ordenação de
mulheres ao ministério. Porém, ela abriu a porta para que as mulheres qualificadas
ocupassem qualquer posição de liderança na igreja. Ela incentivou as jovens a estudarem e a
desenvolverem seus dons concedidos por Deus a fim de estarem prontas para servirem à
51
igreja em qualquer posição. A evidência bíblica é clara: não há nada espiritual, ética ou
moralmente errado com ordenar as mulheres ao ministério evangélico.
INTRODUÇÃO
HERMENÊUTICA BÍBLICA
1 GC 595.
1 GC 595.
2 Este documento foi publicado na Adventist Review, 22 de janeiro de 1987, e está disponível on-line em
https://adventistbiblicalresearch.org/materials/bible-interpretation-hermeneutics/methods-bible-study. Usaremos sua publicação em George E.
Reid, ed., Understanding Scripture: An Adventist Approach (Silver Spring, MD: Biblical Research Institute, 2005), 329-337.
52
FOCO TEOLÓGICO
3 MBSC, 333.
4 Ibidem, 335-336.
53
Conforme sugerido acima, embora não haja uma declaração bíblica explícita e direta
comandando a ordenação de mulheres ao ministério, tampouco há qualquer impedimento
bíblico para tal. Pelo contrário, uma análise cuidadosa e bíblico-teológica aponta na direção
da plena inclusão e afirmação das mulheres em todas as posições ministeriais. Essa
abordagem é usada por todas as partes envolvidas na discussão da ordenação das mulheres ao
ministério. Na falta de uma ordem explícita, temos de buscar os ensinamentos bíblicos sobre
o relacionamento entre homem e mulher. É apenas ao ouvir atentamente o que a Bíblia
ensina, bem como sua ênfase teológica, que podemos chegar a uma sólida conclusão.
54
5 PP 9.
6 Ver Ed 103.
7 Special Testimonies on Education, 57.
8 Por exemplo, Gabriel não era o querubim cobridor, mas recebeu essa função depois da queda de Lúcifer. Ellen White descreve Gabriel como o
"anjo que ocupa, em honra, o lugar logo abaixo do Filho de Deus” (DTN, 58). Essa era a posição de Lúcifer antes de sua rebelião (cf. 4BC 1162;
conf. 9; GC 495; 4BC 1143).
55
Usando nossa abordagem hermenêutica iremos agora passar para o estudo do papel
das mulheres na Bíblia, iniciando no AT. Isso é indispensável, devido ao fato de que não
temos uma ordem explícita bíblica para ordenar ou não as mulheres ao ministério.
9 Ed 20; PP 22.
10 Cf. YI, 27 de fevereiro de 1902 par. 1.
11 ST, 8 de outubro de 1894, par. 2, 3.
56
jardim.12 Deus deu instruções específicas a ambos e fez com que Lhe prestassem contas. Ele
12
12 Ibidem, par. 1
13 PP 19
14 T3 484 itálico acrescentado. Cf. PP 29: “Na criação Deus a fizera igual a Adão.” Fica claro na sentença seguinte que Ellen White implica
igualdade funcional (papel) sem hierarquia, bem como igualdade ontológica, na qual a sujeição/submissão da esposa ao marido é apresentada
apenas depois da Queda: “Se houvessem eles permanecido obedientes a Deus — em harmonia com Sua grande lei de amor — sempre
estariam em harmonia um com o outro”. Tal contraste deixa claro que esse papel hierárquico, envolvendo autoridade/submissão não existia
antes da Queda
57
desconsiderado é o fato de que são poucos os profetas no Antigo Testamento que são
chamados juízes e profetas. Esses dois papéis foram atribuídos a Moisés (Êx 18:16) e a
Samuel (1Sm 7:6, 15-17). Isso sugere que ela foi a líder máxima de Israel naquele período,
como profetisa e juíza. Não há dúvida de que os juízes eram líderes antes da monarquia em
Israel (Jz 2:11-19) e que também tinham funções judiciais. No momento de crise, ela foi o
instrumento de Deus para livrar Seu povo.16 Esse era o trabalho dos juízes durante o período
dos juízes (2:16). Guiada pelo Senhor, ela tinha autoridade sobre os homens como profetisa e
juíza. Seu papel de liderança é tão impressivo que quando Baraque hesita e deseja que ela o
acompanhe na batalha, ela salienta que isso seria contra o papel tradicional da mulher e que
culturalmente lhe seria prejudicial; ele passaria envergonha. Mas ele não se importa, porque
deseja que a melhor líder de Israel o acompanhe. Ao escolher Débora como líder em Israel,
com autoridade sobre Seu povo, Deus demonstrou que não havia nada moral ou
espiritualmente errado com o ter uma mulher nas principais funções de liderança entre o povo
de Deus.
Concluindo, o Deus do AT não discrimina, arbitrariamente, os seres humanos com
base no gênero. Sempre que desejou usar uma mulher como líder em Israel Ele o fez. Isso
mostra que o padrão comum ou a prática da liderança masculina – seguida em todas as partes
no antigo Oriente Próximo e não apenas em Israel – não era única para Deus. Se formos falar
a respeito dos ideais divinos, isso ficaria claro. O ideal não era que os homens ocupassem as
posições de liderança mais significativas, mas que tanto homens quanto mulheres, como
iguais, liderassem o povo de Deus. Esse ideal remonta ao que Deus instituiu no Jardim do
Éden.
16 Ellen White escreve: “Habitava em Israel uma mulher, famosa por sua religiosidade, e por meio dela o Senhor escolheu livrar o Seu povo.”
(FD, 25)
59
abandono do conselho da Escritura, antes foi feito pelo motivo oposto – estar plenamente
atento e obediente às preocupações culturais fundamentais reveladas na passagem.
Explicitamente, Paulo afirma nos versos 4-6 que sua preocupação com relação à
cobertura da cabeça é a questão de trazer desonra em vez de honra sobre a cabeça.
Certamente, a preocupação com a honra é mais desenvolvida nos versos 7-9, onde Paulo fala
da mulher como a glória do homem. É a essa percepções que ele volta nos versos finais,
apelando ao que geralmente era considerado “próprio” a uma mulher, “natural” ao homem e,
geralmente, praticado pelas igrejas (v. 13-16). As instruções de Paulo de que é “vergonhoso”
para a mulher ter a cabeça raspada (v. 6) deve ser entendida de acordo com o elevado valor
dado à honra na sociedade greco-romana. Nessa sociedade, a mulher com a cabeça descoberta
ou raspada corria o risco de ser considerada adúltera ou prostituta, e a mulher que falava em
público, em um ambiente casual a homens que não fossem seu marido, era considerado como
buscando seduzi-los.
Uso do termo “Cabeça” (kephalē). Paulo inicia seu argumento referente a cobrir a
cabeça, no verso 3, usando uma descrição verbal, uma metáfora, para falar a respeito da
honra/vergonha nessa cultura, do que é “próprio” e “vergonhoso” que homens e mulheres
façam no ambiente público da igreja. Ele usa a metáfora da “cabeça” para demonstrar que
aquilo que um crente individualmente faz com sua cabeça física exerce também impacto em
sua cabeça metafórica. Assim sendo, a escolha de um homem quanto a cobrir a cabeça não é
simplesmente a respeito de sua liberdade de escolha, mas impacta a honra com a qual os
outros verão a Cristo, seu cabeça. De igual forma, a livre escolha da mulher com respeito a
cobrir a cabeça ou não afeta não apenas a si mesma, mas também a seu marido/“cabeça” e,
por fim, a Deus, o “cabeça” absoluto.
A palavra cabeça (kephalē) era usada pelos judeus e gentios para transmitir uma
variedade de ideias relacionadas ao lugar da cabeça física em relação ao corpo, incluindo a
proeminência, representação do todo, ser o primeiro ou fonte. Nessa passagem, Paulo está
focando a ideia metafórica de Adão como sendo o primeiro a ser criado e, certamente, a fonte
da qual a mulher foi criada (v. 8, 9). Esse uso faz total sentido com o verso 3 e, certamente, o
melhor sentido cronológico. Então, ele está dizendo que Cristo foi o primeiro ou a fonte, com
relação ao homem (abrangendo toda a humanidade, como em Rm 4:8; Ef 4:13); que o
homem, Adão, foi o primeiro ou a fonte, em relação à sua esposa Eva; e que Deus foi o
primeiro ou a fonte, com relação a Cristo (o Messias) ao enviá-Lo para redimir a
humanidade.
Conexão com Gênesis. Nos versos 7-9, Paulo elabora sobre a metáfora da “cabeça”
ao acrescentar vários motivos de Gênesis 1-3 pelos quais as mulheres devem preocupar-se
para não desonrar o marido. Embora, assim como o homem, a mulher tenha sido criada à
imagem de Deus, Paulo foca aqui no fato de que ela teve o privilégio adicional de ter sido
criada para satisfazer a necessidade do homem e para ser sua glória. Paulo cita Gênesis 2 e
provê uma excelente leitura desse texto. Ele nota que em Gênesis a mulher foi criada do
homem – essa é sua origem imediata – e não o homem da mulher. Esses são os fatos. De
acordo com Paulo, a mulher veio para enriquecer o homem e, nesse sentido, ela acrescentou
honra/glória a ele. Ela foi criada para o benefício do homem, não o homem para seu
benefício, porque ele foi criado antes que ela fosse criada. Para Paulo e o livro de Gênesis
esse é o exato fundamento para a diferenciação de gênero. Esse argumento é usado por Paulo
61
para indicar que quando uma mulher participa no culto, ela deve cobrir seu cabelo a fim de
dar glória a Deus, não ao homem. Ao fazer isso ela também evita a glorificação pessoal,
porque seu cabelo é sua glória (v. 15).
Na cultura do primeiro século a compreensão tradicional era de que a “glória” da
mulher, e especialmente seu cabelo, deveriam ser cobertos em público a fim de evitar trazer
vergonha pela falta de modéstia, mostrando-o a pessoas de fora de sua família. Nessas
circunstâncias, isso era especialmente importante no culto, para evitar distração de dar a
glória e culto somente a Deus. Note que, ao seguir o resumo de sua instrução no verso 10,
Paulo equilibra sua argumentação nos versos 11-12 ao deixar claro que, desde a criação, foi a
mulher quem Deus colocou em primeiro lugar como fonte, pois foi ela quem deu à luz cada
homem desde Adão.
Resumindo, 1 Coríntios 11:2-16 deixa claro a diferença entre homem e mulher na
forma do vestuário, em harmonia com Deuteronômio 22:5, e pede às esposas para agirem de
forma a não desonrar seu marido. Essa passagem não diz respeito à proibição das mulheres
servirem em funções de liderança, nem tampouco à autoridade universal dos homens sobre as
mulheres. Paulo não relê em Gênesis 1-3 um princípio que nunca foi notado ou expressado.
Ele usa a passagem para demonstrar que, desde o início, a esposa enriqueceu a vida do
marido e lhe trouxe honra e que isso deve continuar durante o culto e no contexto do mundo
caído. Paulo está usando a referência à criação como uma explanação de seu argumento, não
como a razão para um padrão universal de relacionamento entre homens e mulheres. Não há
nada no contexto que apoie a ideia de que na igreja o ancião é o cabeça da mulher.
1 TIMÓTEO 2:9-14. Esta é uma das passagens mais disputadas no debate da
ordenação das mulheres. Visto que essa passagem específica lida com questões relacionadas
às mulheres, daremos especial atenção ao que seu contexto imediato (a epístola de Timóteo)
diz a respeito delas.
Contexto. A leitura atenta de 1 Timóteo demostra que a carta de Paulo foi escrita em
resposta a falsos ensinamentos que ameaçavam destruir a obra de Deus em Éfeso. Desde o
início de sua carta Paulo instrui Timóteo a se opor aos falsos mestres, cujas doutrinas mal
orientadas estavam minando a verdadeira obra do evangelho (1:3). Em vez de proclamar o
poder do Cristo Ressurreto, que transforma vidas humanas (cf. 1:5, 12-16), esses indivíduos
estavam proclamando um evangelho exclusivo, que consistia em nada mais do que ideias
sensacionalistas (cf. 1:3-4; Tito 1:14; 3:9). Na segunda parte da carta, Paulo descreve ainda
mais a natureza dos falsos ensinos (4:1-5; 6:3-10) e os contrasta com o tipo de
comportamento que deve caracterizar a vida vivida em harmonia com a verdade do
evangelho. A carta então encerra com um apelo para permanecer firme contra a falsa doutrina
(6:20-21).
Os falsos ensinos também estavam tendo grande impacto entre um certo número de
mulheres crentes. A extensão da influência negativa desses falsos ensinos sobre elas é
indicado pela atenção proeminente que Paulo dá às mulheres em sua discussão contra os
falsos ensinos. Ele está preocupado com a conduta das mulheres no culto (2:10-15), com as
viúvas (5:5-6, 10-11, 14), e com as mulheres que estão indo de casa em casa “falando coisas
que não devem” (5:13). O fato de que Paulo descreve essas mulheres como “falando coisas
que não devem” sugere que elas estavam associadas, de alguma forma, a “certas pessoas” as
quais Timóteo foi instruído a impedi-las de ensinar “doutrinas falsas” (1:3). A conexão dessas
62
mulheres com os falsos mestres pode também ser vista em seu desejo de não se casar e ter
filhos (5:11-16), coincidindo com a advocacia dos falsos mestres quanto ao celibato (4:1-3;
5:9-10). Era a ligação dessas mulheres com os falsos mestres e suas doutrinas heréticas que se
encontrava no coração da proibição de Paulo.
Aprender em silêncio e ser submissa. O contexto da passagem nos dá o motivo para a
declaração de que as mulheres devem aprender em silêncio. Em vez de ouvir os falsos
mestres, elas devem ser ensinadas na igreja por aqueles que são bem-versados na doutrina
cristã. Como boas estudantes, as mulheres devem aprender em silêncio, ou seja, não devem
interferir no processo do ensino. Além disso, elas devem ser submissas aos mestres e aos
ensinamentos cristãos.
Mulheres proibidas de ensinar. As mulheres são proibidas de ensinar devido à
influência que os falsos ensinos tinham sobre elas – uma influência que somente afetou o seu
comportamento, mas que, aparentemente também envolveu a promoção dos falsos
ensinamentos por parte delas. As mulheres, em Éfeso, não eram adequadas para ensinar, não
devido ao fato de serem mulheres, mas porque foram ou estavam sendo enganadas pelos
falsos mestres – assim como Eva tinha sido enganada pelas palavras sedutoras da serpente
(cf. 1Tm 2:14; 2Co 11:3-4). Sob essas circunstâncias, tais mulheres não estavam em posição
de ensinar; elas primeiro necessitavam se tornar aprendizes (2:11).
Ter autoridade sobre. O verbo authentein, em 1 Timóteo 2:12, traduzido “tenha
autoridade sobre”, não se refere à autoridade oficial de ensino. O cuidadoso exame do uso do
verbo mostra “que não há autorização no primeiro século para traduzir authentein como
‘exercer autoridade’”.17 Esse tipo de autoridade é, normalmente, expressado através da forma
verbal da palavra grega comum que Paulo usa para se referir à autoridade – exousia (ex.: Rm
9:21; 13:3; 2Co 13:10; 2Ts 3:9). Antes, ele usa o verbo incomum authentein – apenas
encontrado aqui no Novo Testamento, mas um termo que também tem conotações negativas
associadas a ele. Refere-se a um domínio ou a uma forma de controlar o comportamento. Isso
indica que o problema em Éfeso estava enraizado na forma dominante e controladora na qual
as mulheres estavam ensinando ou, mais provavelmente, em sua atitude para com aqueles que
as estavam instruindo. Paulo proíbe seu comportamento impróprio no verso 12 e então
explica o motivo para a proibição com respeito à ordem da criação, no verso 13.
Adão e Eva. É importante notar que Paulo não explica o que ele quis dizer ao falar:
“Porque primeiro foi formado Adão, e depois Eva. E Adão não foi enganado, mas sim a
mulher, [...]” (v 13, 14). Por conseguinte, foram dadas diferentes explicações a essas palavras
(ex.: Eva usurpou a liderança de Adão). Paulo, no entanto, está contrastando a precedência de
Adão na Criação com a precedência de Eva no pecado, a fim de indicar que o engano não é
inevitável – Adão, embora criado primeiro, não foi enganado. O engano, em ambos os casos,
está associado a falsos mestres e se as mulheres deixassem de ouvi-los não seriam enganadas.
Essa interpretação do texto, conforme seu contexto imediato, é apoiada por 1 Coríntios 11:5,
onde Paulo especificamente reconhece o direito das mulheres de pregar ou profetizar na
igreja – atividades que não apenas eram feitas em voz alta, mas também incluíam um
elemento de ensino público.
17 Linda L. Belleville, “Teaching and Usurping Authority: 1 Timothy 2:11-15,” em Discovering Biblical Equality: Complementarity without Hierarchy
(ed. Ronald W. Pierce and Rebecca M. Groothuis; Downers Grove, Ill.: InterVarsity, 2004), 216.
63
essencial reconhecer que a cultura tem uma poderosa influência para moldar as pessoas. Os
adventistas do sétimo dia creem que toda a autoridade eclesiástica deve ser exercida em
espírito de humilde serviço a Deus e a Seu povo (Mt 20:24-28; 1Pe 5:1-4).
Na Palavra de Deus, o ministério é concebido como serviço e, como tal, é o chamado
a cada pessoa que aceita a Cristo como Salvador e Senhor e se torna parte de Seu corpo.
Todos os seguidores de Cristo são chamados a representá-Lo no mundo, a agirem em Seu
nome, e a ministrarem aos outros, de acordo com seus dons (2Co 5:20; 1Pe 4:10). Portanto,
no NT, não se vê distinção entre o ministério espiritual (ou clero) e um leigo secular. Cada
seguidor de Cristo é um ministro ou servo e é chamado a cumprir um ministério de acordo
com a vontade do Espírito Santo.
A DÁDIVA DO ESPÍRITO
DONS E OFÍCIOS
Embora Cristo não tenha provido informações detalhadas sobre como a igreja deve
ser organizada, Ele permitiu que a igreja, com a orientação do Espírito e da Escritura, se
organizasse e encontrasse formas de melhor cumprir sua missão.
DEUS TOMA A INICIATIVA. O testemunho bíblico é claro de que para cumprir Sua
missão na Terra Deus escolheu alguns de Seus seguidores para servir e liderar a igreja, de
acordo com o dom espiritual recebido do Espírito Santo (Rm 12:8; Ef 4:7, 11). Em todos os
casos do ministério, foi Deus que iniciou o chamado, qualificando as pessoas para o
ministério e, por meio da igreja, deu-lhes autoridade para cumprir seus deveres e funções. No
AT, esses líderes incluíam os levitas (Nm 8:5-26), Arão e seus filhos (Êx 28-29), os 70
anciãos (Nm 11:10-25), Josué, os juízes e os profetas de Israel.
Assim como no AT, o NT também provê uma variedade de formas pelas quais
alguém foi nomeado a um ofício ou tarefa. Em todos os casos, a iniciativa para um chamado
a qualquer forma de ministério reside em Deus. Aqueles que dedicaram seu tempo integral ao
serviço cristão foram autorizados a receber apoio material da comunidade cristã (Mt 10:10;
1Co 9:3-14; 1Tm 5:17-18).
OS DOZE APÓSTOLOS. Entre os líderes do cristianismo primitivo, os apóstolos
desempenharam um papel especial. Jesus nomeou doze homens de grupos maiores de
discípulos (Mc 3:13-19; Lc 6:12-16) para serem apóstolos (Mt 10:1-4; Mc 3:13-19; Lc 6:12-
16). Ele os escolheu como testemunhas oculares de Seu ministério (At 1:21, 22) e deu-lhes o
ministério de fielmente proclamar e interpretar Suas palavras e testemunho, o evangelho.
Depois de Sua morte e ascensão ao Céu (At 2:1-4; Mc 3:13, 14; Mt 28:18-20), Ele confiou a
esses indivíduos o exercício da autoridade na igreja (cf. Mt 16:19; 18:18). Como testemunhas
oculares, diretamente nomeadas por Cristo, os apóstolos ocupam uma posição ímpar na
igreja. Como Paulo diz, eles são, com os profetas, o fundamento sobre o qual a igreja é
construída (Ef 2:20). Seu ministério é único e não replicável na igreja. A nomeação dos Doze
é considerada como o início da igreja cristã e do ministério cristão. Posteriormente, depois da
ascensão de Jesus, os discípulos escolheram, dentre eles, outro apóstolo, Matias, para
substituir Judas. Essa nomeação também foi feita em espírito de oração, e o lançar da sorte
entre Matias e José Barsabás foi visto como a vontade de Deus (At 1:15-26). No NT, o termo
“apóstolo” também é usado para designar o que parece ser missionários (ex.: At 14:14; 1Co
4:6, 9; 1Ts 1:1, 2:6).
DONS ESPECIALIZADOS. No início do cristianismo, encontramos vários indivíduos
chamados e dotados por Deus com certos dons do Espírito Santo que lhes permitiam trabalhar
66
e lhes impuseram as mãos” (v. 6). Infelizmente, não fica claro quem eram esse “eles”.
Poderia ter sido toda a comunidade ou poderiam ter sido apenas os apóstolos. Se a igreja
estivesse seguindo o precedente do AT, de Nm 8:10 (“e os israelitas imporão as mãos sobre
eles”) isso apoiaria a primeira interpretação.
IMPORTÂNCIA DO RITO. Quer os apóstolos ou toda congregação tenham imposto as
mãos sobre os Sete, a imposição das mãos não transmitiu, sacramentalmente, um dom que
eles já não tivessem. Eles já estavam “cheios do Espírito e de sabedoria” (At 6:3) e assim
tinham os dons espirituais necessários para cumprir o ministério ao qual foram chamados. Foi
por isso que foram escolhidos. A mesma interpretação também é válida para o
comissionamento de Barnabé e de Paulo. O gesto significava que em suas novas
responsabilidades os sete homens, Barnabé e Paulo tinham o pleno apoio, bênção e afirmação
da igreja; seu novo ministério e autoridade eram exercidos em nome da igreja. Por esse ritual,
essas comunidades do NT reconheceram a presença do chamado do Espírito Santo e deram
aos Sete, a Barnabé e a Paulo, e posteriormente a outros líderes na igreja, a autorização para
servir em suas funções.
Quais, então, são as implicações do nosso estudo da imposição das mãos para a
questão da ordenação das mulheres? Pelo menos, deve-se dizer que a Igreja pode,
legitimamente e com base na Escritura, escolher impor as mãos sobre (ou “ordenar”) aqueles
que são reconhecidos como tendo recebido o chamado de Deus e os devidos dons espirituais
para o ministério pastoral, sem levar em conta o gênero. O fato de que dificilmente há
quaisquer diferenças significativas entre os dons e os ofícios (os dons equipam a pessoa para
o ofício) indica que considerar os dons como inclusivos de gênero, mas não de ofícios –
excluindo assim as mulheres dos ofícios – não tem apoio no NT.
Embora se espere que os líderes sejam mais maduros no caráter cristão, muitas das
qualificações para o ministério da liderança, descritas em 1 Timóteo 3:1-13 são, na verdade,
as mesmas esperadas de todos os cristãos. Como veremos, essas qualificações de liderança
não são exclusivas de gênero. Esse fato bíblico é muitas vezes passado por alto devido ao uso
inclusivo de linguagem na Escritura, como em muitas línguas e sociedades e mesmo nos
tempos modernos, em relação ao sexo (normalmente masculina) para se referir tanto a
homens quanto a mulheres. A lista de Paulo das qualificações para a liderança, estruturada no
gênero masculino, não exclui as mulheres do serviço nesses ministérios e cargos, mais do que
o gênero masculino em todos os Dez Mandamentos e em outras leis do AT (Êx 20; ver
especialmente o v. 17), não isenta as mulheres de sua obediência.
DIACONISAS. O NT menciona dois cargos específicos na igreja cristã, ou seja,
anciãos e diáconos. Como no caso dos anciãos, os diáconos ocupavam responsabilidades
muito importantes de liderança na igreja apostólica. É também importante observar que
embora as qualificações para o diaconato sejam específicas de gênero, elas não são exclusivas
de gênero (1Tm 3:8-10, 12, 13). Há evidência, ou pelo menos sugestões, no NT indicando
que havia diaconisas na igreja apostólica (1Tm 3:11; Rm 16:1). Primeiro, na discussão das
qualificações para o diaconato, Paulo insere uma breve lista de qualificações para as
“esposas” dos diáconos (1Tm 3:11, NVI), que em grego diz: “As mulheres igualmente sejam
69
dignas, [...]”. Parece que Paulo aqui se está referindo a mulheres que eram diaconisas.
Segundo, uma diaconisa é explicitamente mencionada por Paulo em Romanos 16:1:
“Recomendo-lhes nossa irmã Febe, serva [diakonos] da igreja em Cencreia”. Temos aqui os
elementos comuns da recomendação epistolar greco-romana:18 Isso inclui o nome da pessoa 18
que está sendo recomendada (Febe), o relacionamento com a pessoa (“nossa irmã”), o
status/papel da pessoa (“um diáconos da igreja em Cencreia”), e uma solicitação “recebê-la e
lhe prestar ajuda”.
Terceiro, Ellen G. White apoia a leitura dessas passagens como se referindo à
diaconisas que eram ordenadas mediante a imposição das mãos para esse cargo. Ela escreve:
Mulheres que estejam dispostas a consagrar algo do seu tempo ao serviço do Senhor
devem ser designadas para visitar os enfermos, cuidar dos jovens e ministrar às
necessidades dos pobres. Devem ser separadas para esse serviço pela oração e
imposição das mãos. Em alguns casos, necessitarão aconselhar-se com os oficiais da
igreja ou o ministro, mas, se forem mulheres devotadas, mantendo uma ligação vital
com Deus, serão um poder para o bem na igreja. Esse é outro meio de fortalecer e
edificar a igreja.19
18 Ver Robert Jewett e Roy David Kotansky, Romans: A Commentary (Hermeneia—A Critical and Historical Commentary on the Bible,
Minneapolis, Min: Fortress Press, 2006), 941-942.
19 FD 78.
20 “Várias mulheres foram ordenadas como diaconisas durante o ministério de Ellen White na Austrália. Em 10 de agosto de 1895, a comissão de nomeações da
Igreja Ashfield, em Sydney, apresentou seu relatório, que foi aprovado. A ata do secretário da comissão de nomeações diz: ‘Imediatamente após a eleição, os
oficiais foram chamados à frente onde os pastores Corliss e McCullagh separaram o ancião, diáconos, [e] diaconisas mediante a oração e pela imposição das
mãos’. Vários anos depois, na mesma igreja, W. C. White oficializou a ordenação dos oficiais da igreja. As atas da igreja de Ashfield de 7 de janeiro de 1900
dizem: ‘Os oficiais anteriores foram nomeados e aceitos para o ano atual, e hoje o Pastor White ordenou e impôs as mãos sobre os anciãos, diáconos e
diaconisas – Adventist Review, 16 de janeiro de 1986.” (“Exhibits Relating to the Ordination of Women,” documento apresentado na reunião ministerial da
Assembleia da Associação Geral de 1990. Preparado pelo pessoal do White Estate).
Jerry Moon comentou a declaração de Ellen White: “Três respostas a esse apelo são conhecidas. Pouco depois que isso foi escrito, a igreja de Ashfield, em
Sydney, Austrália, não muito distante de onde Ellen White trabalhava então, realizou uma cerimônia de ordenação para os oficiais da igreja recém-eleitos. “Os
pastores Corliss e McCullagh da Associação Australiana separaram o ancião, diáconos, [e] diaconisas pela oração e pela imposição das mãos.” (Atas da IASD
de Ashfield, Sydney, Austrália, 10 de agosto de 1895, citado por A. Patrick; cf. FD 201). Note que terminologia idêntica é usada para todos os três ofícios. Outro
registro da mesma igreja, cinco anos depois, (1900) informa a ordenação de dois anciãos, um diácono e duas diaconisas. Dessa vez, quem oficiou o ministério
foi W. C. White, cujo diário corrobora os registros da igreja (ver Patrick). Um terceiro exemplo vem do início de 1916, quando E. E. Andross, então presidente
da Associação União do Pacífico, oficiou uma cerimônia de ordenação de mulheres e citou o artigo da Review de 1895, de Ellen White, como sua autoridade
(FD 204-206). Tanto a evidência interna do artigo da Review de 1895 de Ellen White como as respostas das pessoas ligadas a ela naquele tempo – a igreja de
Ashfield; seu filho W. C. White; e E. E. Andross, presidente da União-Associação União do Pacífico, durante seus anos em Elmshaven – confirmam que Ellen
White aprovou aqui a ordenação de mulheres a papéis então associados ao cargo de diaconisa na igreja local” (Jerry Moon, “Ellen White, Ordination, and
Authority,” [Comissão de Estudo da Teologia da Ordenação, julho de 2013], 33).
70
que, como tal, não está interessado na definição de gênero. O uso desse pronome indica que
Paulo não está interessado em gênero, mas que ele está recomendando o ofício de bispo como
digno de ser anelado. Isso encontra apoio no fato de que o apóstolo está principalmente
interessado no caráter do supervisor (bispo) como um líder espiritual, em vez de em seus
deveres. Portanto, quando Paulo diz “alguém”, ele quer dizer “qualquer pessoa”. Esse é o
significado claro do texto. É verdade que o substantivo “ancião” em grego é masculino, mas
este também é o caso com o termo grego diakonos. Portanto, embora ambos os termos sejam
específicos de gênero, eles não são exclusivos de gênero.
Segundo, a frase “marido de uma só mulher” (literalmente “homem de uma mulher”)
não significa que apenas o homem pode ser ancião. A mesma frase é usada para se referir
tanto aos diáconos quanto aos anciãos (1Tm 3:1, 12) e está claro que a mulher pode ocupar o
ofício de um diácono. Portanto, embora a frase certamente seja específica de gênero, não é
exclusiva de gênero, porque havia mulheres no diaconato. A ênfase da frase está na pureza
moral em vez do gênero (cf. 5:9). Em um contexto cultural predominante de prostituição
cultual, Paulo usa linguagem masculina para apresentar a pureza sexual e a monogamia como
uma qualificação dos diáconos e dos anciãos, quer fossem homens quer mulheres. Os anciãos
e diáconos devem ser sexualmente puros. Novamente, essa instrução identifica um tributo
moral que também qualifica as mulheres, visto que Paulo também ensina que uma viúva
idosa fiel é uma “esposa de um marido” ou “uma mulher de um homem” (1Tm 5:2, 9).
Terceiro, que se espera que os anciãos administrem sua casa bem, e isso não exclui as
mulheres desse ofício. A mesma qualificação é requerida dos diáconos (3:12), e como vimos
uma mulher pode atuar como um diácono. As mulheres devem administrar bem sua casa
também (5:14). Encontramos um bom exemplo disso na experiência de Lídia (At 16:15). O
principal objetivo desta exigência é assegurar que o ancião e o diácono tenham boa
experiência administrativa. É claro que nenhuma das outras qualificações para diáconos e
ancião se destinava a excluir as mulheres desses papéis.
Resumindo, Paulo usa linguagem de gênero (masculina ou feminina) em situações
específicas para transmitir princípios relevantes para homens e mulheres em ministérios de
liderança. Isso indica que mesmo quando as qualificações são redigidas em linguagem
específica de gênero, elas não são exclusivas de gênero, visto que são as mesmas para todos
os cristãos. Assim sendo, as mulheres podem ocupar posições ou cargos de diáconos e
anciãos, ainda que não encontremos no NT qualquer mulher nomeada como anciã na igreja.
O texto bíblico permite isso, indicando novamente que Deus não discrimina qualquer ser
humano. Qualquer pessoa que tenha recebido e desenvolvido os dons do Espírito pode ser
usada por Ele em qualquer posição na igreja.
CONCLUSÃO
exclusivamente nos dons dados pelo Espírito Santo a membros individuais do corpo de
Cristo. As antigas formas de relacionamento uns com os outros são substituídas por uma nova
relação em Cristo (Gl 3:28, 29; Cl 3:11). Deus deseja restaurar na terra a mesma ordem
cósmica que Ele estabeleceu na terra no princípio. Nessa comunidade, todos têm valor igual
como membros do corpo de Cristo, porque todos experimentaram o Cristo ressurreto. Todos
são dotados com uma variedade de dons espirituais, incluindo os dons do ministério e
liderança, que devem ser usados para o benefício dos crentes, para a missão global da igreja e
para a manutenção dos ofícios de diáconos e anciãos (Rm 12:1-8).
Ao esta missão se aproximar de seu cumprimento, homens e mulheres na igreja perseguida do
tempo do fim são declarados por Cristo como sendo “reis e sacerdotes” de seu Deus (Ap 5:10; cf. 1:6;
20:6; Êx 19:5, 6; 1Pe 2:9, 10). Essa ordem de um ministério sacerdotal inclusivo servindo a Deus na
igreja caracteriza o livro de Apocalipse como um todo (como um cumprimento de Is 61:6). Sem
distinção de gênero, Cristo salvou homens e mulheres (Ap 1:5-6; 5:9-10), chamou-os para ministrar e
proclamar o reino de Deus até a Sua vinda (14:6-13), e prometeu que eles reinariam sobre o mundo
com Ele, como reis sacerdotais (20:4-6). Portanto, o “sacerdócio” de homens e mulheres é uma
característica da igreja remanescente.
SILÊNCIO
contudo, comentaram esses textos e, às vezes, usaram Gálatas 3:28 para afirmar que o que
Paulo escreveu sobre as mulheres não falarem em público era num contexto cultural que não
tem aplicação universal hoje. Eles também se referiram a muitas colaboradoras de Paulo para
afirmar a conclusão óbvia de que Paulo, portanto, não estava falando contra as mulheres no
ministério. Uma das respostas mais claras vem de G. C. Tenney, presidente da Associação
Australiana, em 1892.
INCLUSIVIDADE
21 G. C. Tenney, “Woman’s Relation to the Cause of Christ,” RH, 24 de maio de 1892, p. 328-329.29.
22 FD, 81; Ev, 472.
23 Ellen G. White to Brother Johnson, n.d. (Carta 33), 1879, 19MR 56. [Tradução livre.]
24 T4, 390.
73
assistência do Espírito Santo de Deus que prepara os obreiros, homens e mulheres, para se
tornarem pastores do Seu rebanho”.25 Em 1887, enquanto discutia a necessidade de prover
boa educação ao jovem adventista em nossas escolas, ela exortou os administradores a fazer o
seu melhor para treinar as jovens “com uma educação para adequá-las a qualquer posição de
confiança...” 26
Embora ela estivesse ciente de que, em seus dias, havia restrições sobre o que as
mulheres podiam fazer ou em que podiam ser empregadas pela igreja, ela não limitou as
opções disponíveis para as mulheres e nunca usou o conceito da autoridade masculina para
limitar as mulheres no ministério. Se, de alguma forma, Ellen White cresse que deveria haver
limites nas opções do ministério para as mulheres, ela teve inúmeras oportunidades para
esclarecer seu pensamento. Ela nunca o fez. Em vez disso, seus encorajamentos às jovens são
consistentemente abertos e inclusivos.
E quanto à ordenação?
VARIEDADE
Mulheres que estejam dispostas a consagrar algo do seu tempo ao serviço do Senhor
devem ser designadas para visitar os enfermos, cuidar dos jovens e ministrar às
necessidades dos pobres. Devem ser separadas para esse serviço pela oração e
imposição das mãos. Em alguns casos, necessitarão aconselhar-se com os oficiais da
igreja ou o ministro, mas, se forem mulheres devotadas, mantendo uma ligação vital
com Deus, serão um poder para o bem na igreja. Esse é outro meio de fortalecer e
edificar a igreja. Precisamos distribuir-nos mais em nossos métodos de trabalho.28
Aqui ela diz que Deus está conduzindo a igreja a separar mulheres para essas formas
de ministério.
25 T6, 322
26 FCE, 117-118 (itálico acrescentado). [Tradução livre.]
27 Ev. 546.
28 FD 78.
74
COMISSIONAR
… tem sido um grande erro que homens saiam, sabendo que são filhos de Deus, como
o Irmão Tay, que foi às Ilhas Pitcairn como missionário para trabalhar, [mas] não se
sentiu à vontade para batizar, porque não fora ordenado. Isso não é um arranjo de
Deus; é uma adaptação dos homens. Quando homens saem com o fardo da obra e
para trazer almas para a verdade, esses homens são ordenados por Deus, ainda que
nunca tenham passado pela cerimônia da ordenação. Dizer que eles não podem batizar
quando não há outra pessoa é um erro. Se houver um ministro que pode ser contatado,
tudo bem, então, eles devem buscar o pastor ordenado para realizar o batismo, mas
quando o Senhor trabalha com um homem para trazer uma alma aqui e ali, e eles não
sabem quando haverá uma oportunidade dessas preciosas almas serem batizadas, ele
nem deveria questionar sobre o assunto, deveria batizar essas almas.30
É instrutivo que Ellen White diga que a ideia de que um leigo não pode realizar um
batismo em circunstâncias especiais porque não é ministro ordenado “não é um arranjo de
Deus; é uma adaptação dos homens”. Talvez alguns podem dizer que ela exagerou sua
resposta ao que aconteceu. Entretanto, há um aspecto de sua compreensão da ordenação que a
leva a dizer isso. A ordenação pela igreja é vista como uma afirmação da ordenação espiritual
29 Cedo na história adventista do sétimo dia, os líderes pioneiros do movimento estavam preocupados quanto à confusão e falsos ensinos que
eram, às vezes, manifestados entre o pequeno grupo de crentes adventistas sabatistas. Seguindo o exemplo dos apóstolos do Novo
Testamento, que haviam separado anciãos para supervisionar as congregações locais contra os falsos ensinos e para administrar as
ordenanças do batismo e da Ceia do Senhor, esses primeiros líderes adventistas escolheram homens promissores e os separaram com oração
e imposição das mãos. O critério para sua ordenação era a “plena prova”, evidência “de que receberam o chamado de Deus”. Ao ordená-los, o
grupo de crentes “mostraria a sanção da igreja a sua saída como mensageiros para levarem a mais solene mensagem já dada aos homens”
(PE, 100-101). A ordenação desses primeiros pregadores adventistas itinerantes serviu como um rito para autorizá-los a falar em nome da igreja
e para preservar a ordem na igreja que se desenvolvia. É interessante notar que nessa passagem Ellen White não usa a palavra ordenação,
mas se refere a esse rito como uma separação e comissão. Isso indica que ela usa essas palavras e conceitos de forma sinônima.
30 “Remarks Concerning the Foreign Mission Work,” Manuscript 75, 1896 (ênfase acrescentada).
75
MISSÃO
Ellen White cria que todos nós temos uma parte na missão adventista mundial. Ela
instou a igreja a reconhecer o chamado de Deus a homens e mulheres pela imposição das
mãos para uma variedade de funções a fim de que a missão da igreja pudesse ser mais
diversificada e completa. Ela era apaixonada por salvar o perdido e cria firmemente que todos
os homens e mulheres adventistas deviam ser ativos no ministério. A história adventista é
também reveladora sobre a prática da ordenação. George Butler se tornou presidente da
Associação de Iowa em junho de 1865, mas só foi ordenado em setembro de 1867. Urias
Smith serviu como editor da Review and Herald a partir de 1855, e secretário da Associação
Geral a partir de 1863. Ele foi ordenado em 1874. Ao longo do tempo, nossa compreensão do
ministério mudou e começamos a ordenar homens que não eram apenas evangelistas. Essa foi
uma forma de reconhecer outros dons do ministério. Expandimos nossa visão do ministério
para incluir mais pessoas que servem em uma variedade de ministérios. Por que não
deveríamos fazer o mesmo pelas mulheres? Ellen White não segue ainda nos instando a
ampliar nossas formas de ministério para alcançar um mundo perdido? Ela incentivou as
mulheres a serem ativas em muitas funções e ministérios e cria que, com a devida educação,
as mulheres poderiam ocupar “qualquer posição de confiança”.
Ellen White estava disposta a encorajar as mulheres em seus dias, em uma sociedade
e contexto nos quais as mulheres não eram encorajadas a ser ativas na sociedade, porque ela
acreditava em um amplo ministério inclusivo de gênero para advertir um mundo a perecer
sobre a breve vinda de Cristo. Se quisermos seguir seu exemplo, a ordenação deve estar
associada à missão e à propagação do evangelho, não ao estabelecimento ou à preservação de
um ministério exclusivamente masculino. Restringir o que as mulheres podem fazer na igreja
hoje às mesmas atividades e funções limitadas permitidas pela igreja no século 19 é deixar
escapar a validade permanente da mensagem de Ellen White. Ela incentivou abordagens
progressivas e inovadoras no ministério e na missão.
Devemos notar que Ellen White não estava interessada em deslocar os homens dos
papéis tradicionais que mantêm na família, igreja e sociedade. Ela pediu à igreja, porém, para
permitir que as mulheres servissem em amplas funções do evangelho e ministério pastoral, e
em qualquer posição de confiança para a qual eram qualificadas, incluindo até mesmo a
administração da igreja. Deste modo, ela apelou à igreja para incluir as mulheres com dons de
liderança, ministério pastoral e ensino (todas as mesmas funções bíblicas ocupadas por
pastores, professores, anciãos e supervisores), e para ordená-las para essas posições, assim
como os homens são ordenados para as mesmas posições.
76
CONCLUSÃO
Nosso estudo mostrou que, embora pareça haver um padrão bíblico de liderança
masculina entre o povo de Deus, Deus sempre esteve disposto a apontar para um melhor
caminho – uma forma que não excluísse as mulheres de posições importantes, com base em
seu gênero. Cremos que nossa tarefa mais importante é manejar “corretamente a palavra da
verdade” (2Tm 2:15), incorporando os princípios bíblicos e aplicando os ensinos da Bíblia à
vida diária. Realizamos essa sagrada tarefa moldada pelos métodos de interpretação que
emergem da própria Palavra de Deus, rejeitando agendas não bíblicas e tendências sociais
impostas sobre o texto. Pelo estudo cuidadoso e sistemático da Palavra, comparando texto
com texto da Escritura, chegamos a uma compreensão mais plena de seu significado,
ajudados pelo discernimento prometido pelo Espírito.
Nosso próprio nome – Adventistas do Sétimo Dia – destaca nosso profundo
compromisso com a Palavra que revela Cristo como Criador, bem como anuncia nossa
esperança do ato recriador pelo qual Ele fará “novas todas as coisas” (Ap 21:5). A partir do
relato de Gênesis da criação do homem e da mulher por Cristo, entendemos a igualdade
essencial pela qual Ele os formou e a reciprocidade para a qual Ele os projetou. Na visão do
apóstolo João acerca do Céu, temos um lampejo dos redimidos – sem distinção de classe,
raça ou gênero – adorando e seguindo o Cordeiro “por onde quer que Ele vá” (Ap 14:4).
77
O NT apoia a ideia de que as mulheres na igreja estão sob a liderança dos anciãos da
igreja?
De acordo com o NT a única cabeça da igreja é Cristo. Ellen G. White escreve: “Que
seja visto que Cristo, não o ministro, é o cabeça da igreja”. 32 É somente no lar, no
relacionamento entre marido e mulher, que o homem é descrito como o cabeça de sua esposa
(ex.: Ef 5:22-23). Essa ideia nunca é transferida para o relacionamento entre os anciãos e as
mulheres na igreja.
1 Timóteo 2:12-14 se aplica apenas à situação local em Éfeso?
31 Ex.: TDNT, 6:673; NIDNTT, 1:157. O significado de “fonte” é muito comum na literatura grega; ver Phillip B. Payne, Man and Woman, One in
Christ: An Exegetical and Theological Study of Paul’s Letters (Grand Rapids, Mich.: Zondervan, 2009), 117-137. Ele provê uma lista de léxicos
gregos desde os tempos remotos ao presente e estabelece o significado de “fonte” para kephalē (123, nota de rodapé 35).
32 ST, 27 de janeiro de 1890. [Tradução livre.]
79
Não. A passagem tem uma aplicação universal e é muito instrutiva para nós hoje.
Paulo, obviamente, está tratando de uma situação local, pois do contrário, a ordem para as
mulheres permanecerem em silêncio não seria apenas universal, mas absoluta. O que
necessitamos estabelecer, depois de um cuidadoso estudo do contexto da passagem, é seu
conteúdo universal. Várias coisas são universais. (1) A igreja deve ensinar a mensagem da
salvação a todos, homens e mulheres. (2) O ensino deve ser feito pelas pessoas devidamente
qualificadas. (3) Os estudantes não devem ter permissão de ensinar ou questionar a
autoridade do instrutor ou o conteúdo do ensino. Não deve ser tolerada a perturbação do
ensino. Pois do contrário, haverá conflitos na igreja. A igreja é um lugar de ordem.
determinado tópico e o que a igreja deve crer. A ordenação das mulheres ao ministério
seguira o que sempre foi entre nós, um tema sobre o qual temos diferentes opiniões (como a
questão da natureza humana de Cristo). Esses pontos de vista diferentes foram tolerados pela
igreja. Nunca houve um consenso sobre o tópico e, consequentemente, nunca foi elevado ao
nível de Crença Fundamental. Esse tópico não deve ser resolvido a qualquer preço.
Delineação de síntese da posição #3
Introdução
Contexto teológico
A natureza da trindade
Papéis do homem e da mulher antes da queda
Liderança familiar após a queda
Liderança eclesiástica masculina
Cristo é a cabeça da igreja
Dons e cargos
Liderança espiritual masculina na igreja
O papel dos argumentos de trajetória
Problemas hermenêuticos
Proposta de caminho a seguir
Expansão de oportunidades para a mulheres no ministério
Responsabilidade e liderança masculina no lar
A função de ancião, o critério de gênero e o mandamento divino/distinção ideal
Um rei em Israel
As filhas de Zelofeade
Débora e Baraque
O rei Davi e a restrição moabita
Davi, os pães da proposição e Cristo
O concílio de Jerusalém: diferenças sobre os ideais divinos
Ideal e variação nos escritos de Ellen White
Determinando quando o padrão divino pode variar
Aplicação e Conclusão
82
INTRODUÇÃO
CONTEXTO TEOLÓGICO
Durante o trajeto das reuniões do TOSC, nós analisamos muitos documentos que oferecem
uma variedade de opiniões nas questões da ordenação ao ministério evangélico. Embora
concordássemos com alguns pontos citados por ambos os grupos, nos achamos incapazes de
empenhar-nos plenamente com qualquer um dos grupos por causa de discordância em pontos
fundamentais.
NATUREZA DA TRINDADE
Acreditamos que Cristo é coexistente e coigual ao Pai e ao Espírito Santo desde a eternidade.
Portanto, não acreditamos na subordinação eterna do Filho, como propuseram alguns expositores que
eram contra a ordenação da mulher (Dt 6:4; Is 9:6; Mq 5:2; Mt 28:19; Jo 8:58; Jo 17:24; Fp 2:6; Hb
1:8-12; 2Co 13:14).
1 Uma discussão mais completa dessas e outras referências bíblicas relevantes para a posição teológica moderada podem ser encontradas em
um documento intitulado “Minority Report on Ministry, Ordination, and Gender of the Seventh-day Adventist Theological Seminary” (Relatório
Minoritário sobre Ministério, Ordenação e Gênero do Seminário Adventista do Sétimo Dia de Teologia”. Este está disponível no site
www.freedom-law.com.
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Depois da Queda, Deus instituiu uma função de liderança masculina na família que,
conquanto amorosa, abnegada, e orientada ao serviço, dá ao homem responsabilidade de supervisão
de sua família e que ainda continua sendo válida até hoje (Gn 3:16; 18:12, 19; 1Pe 3:1, 6; Ef 5:22-24).
Acreditamos que há um modelo de liderança eclesiástica masculina que tem validez através
do tempo e da cultura. Vemos isso na invocação, feita por Paulo, da ordem da criação e da Queda ao
discutir a função de um ancião, no fato de uma liderança espiritual institucional predominante
masculina no AT, no ato de Cristo escolher doze discípulos homens, e nos exemplos no NT de
apóstolos e anciãos (1Tm 2:12-13; Nm 3:10, 38; Mt 27:55; At 1:21-23; Tt 1:6,7).
Nós acreditamos que não há fundamento para sugerir que homens têm uma liderança geral na
igreja, exercendo autoridade de marido ou pai sobre as mulheres ou qualquer outra
pessoa. Apenas Cristo é o cabeça da igreja. Sua declaração “a ninguém chameis vosso pai”
(Mt 23:9) visava prevenir uma liderança humana paternal na igreja (1Co 11:3; Ef 1:22,23).
DONS x CARGOS
Vemos uma importante diferença entre dons espirituais, que são dados pela ação soberana do
Espírito Santo, em que considerações de gênero não são uma preocupação bíblica, e cargos na igreja,
escolhidos pelos membros da igreja segundo qualificações bíblicas, e na qual o gênero é mencionado,
como, por exemplo, na função de ancião (1Co 12:4-11; Ef 4:11,12; At 6:5-7; 1Tm 2:12; 3:1,2; Tt 1:6-
8).
PROBLEMAS HERMENÊUTICOS
Acreditamos que os métodos hermenêuticos usados por alguns que apoiam a ordenação de
mulheres para interpretar os textos que tratam de gênero do Novo Testamento podem criar problemas
ao lidar com passagens sobre padrões sexuais. Todavia, acreditamos que a questão de masculinidade
como uma das qualificações para a ordenação não se encaixa na categoria de absolutos morais, tais
como os Dez Mandamentos ou ordens morais bíblicas consistentes e repetidas muitas vezes, incluindo
aquelas que tratam do comportamento sexual (Êx 10:14; Lv 18:1-30; 20:10-21; At 15:28,29; 1Tm
2:12, 13; Rm 1:18-27; Gl 3:28).
Acreditamos que o melhor caminho a seguir é começar com e construir sobre aquelas coisas
que todas as posições têm em comum. Na TOSC, um consenso surgiu sobre a importância vital de
capacitar mulheres adventistas em todo o mundo para um maior envolvimento em uma extensa
variedade de ministérios, mesmo sem tomar em conta a questão da ordenação. Iniciativas que ao
mesmo tempo afirmem as mulheres no ministério e as apoiem com educação e recursos começariam a
corrigir a nossa falha em não ter feito isso em boa parte do último século, em negligência ao conselho
profético.2
2 Ex. “Se onde hoje existe uma mulher, houvesse vinte que fizessem dessa santa missão sua obra acarinhada,” escreveu Ellen White em 1879,
“veríamos muito mais pessoas convertidas à verdade. A influência enobrecedora, suavizante, de uma mulher cristã, é necessária na grande obra
de pregar a verdade” (Ev, p. 471; veja também DTN 398).
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homem uma função especial de ser responsável pelo lar. “Porque o marido é o cabeça da mulher,
como também Cristo é o cabeça da igreja, sendo este mesmo o salvador do corpo” (Ef 5:23).
Há contínua discussão sobre como entender a extensão e o significado desse cargo de
liderança. Contudo, há uma visão compartilhada por muitos de que homens casados têm a
responsabilidade de cuidar e de manter suas famílias, a qual tem sido negligenciada e é negligenciada
em muitas partes do mundo. Este é um momento oportuno para definir esse papel com cuidado,
enfatizando que deveria ser uma liderança servidora, abnegada e amorosa, como foi a de Cristo.
“Maridos, amai vossa mulher, como também Cristo amou a igreja e a si mesmo se entregou por ela”
(Ef 5:25).
Tal liderança no lar nunca deve ser usada para oprimir ou abusar. Pelo contrário, todos os
homens deveriam esforçar-se para alcançar o ideal de companheirismo e a tomada de
decisões em consenso, e deveria prover liderança espiritual dentro da família, ao invés de
delegar isso a suas esposas.
As esposas deveriam respeitar e incentivar seus maridos nesse papel de liderança e
responsabilidade espiritual. A igreja deve proporcionar mais programas de educação e treinamentos
para ajudar a educar os homens para suas funções de provedores, pais, e líderes espirituais, permitindo
que eles aprendam melhor como usar o modelo de liderança de Cristo em suas famílias.
Agora chegamos ao assunto mais desafiador: a questão de como entender o função do homem
e da mulher em relação à função do ministério pastoral. Não acreditamos que a liderança que o
homem tem no lar se estende sem limites à Igreja. Tal posição implicaria um papel de autoridade para
todos os homens na Igreja sobre todas as mulheres. Simplesmente não encontramos embasamento
para isso na Bíblia.
Na verdade, é o contrário. Cristo ordena que “a ninguém chameis vosso pai”, o que lemos
como negando a qualquer ser humano um papel paternal de autoridade na igreja (Mt 23:9). Colocado
de maneira simples, o único cabeça que a Bíblia identifica na igreja é Cristo (Mt 23:10; Ef 5:23). Por
essa razão, acreditamos que identificar qualquer figura meramente humana como desempenhando o
papel de cabeça na igreja, vai contra nossa herança bíblica e protestante.
Porém, a Bíblia identifica cargos de liderança mais limitados (de autoridade representativa e
delegada) para estabelecer ordem na igreja, sendo o principal delas o cargo de ancião (1Tm 3:1-7).
Um dos muitos critérios citados para esse cargo é o de ser homem (1Tm 2:11-15; 3:1-7). A
preferência por esse gênero não é, em nossa perspectiva, uma implementação de “autoridade
masculina” na igreja. A autoridade que o ancião tem na igreja é diferente, tanto no tipo como na
extensão, daquela que o pai tem dentro de casa. No entanto, ambas as funções de liderança têm suas
bases em princípios semelhantes, enraizados na Criação e na Queda; isso surge das discussões de
Paulo sobre a liderança no lar e na igreja (1Co 11; 1Tm 2).
Não obstante, somos convencidos de que a Bíblia ensina que o cargo de pastor ordenado (o
equivalente operacional a função de ancião no Novo Testamento)3, com sua responsabilidade de
guardião na igreja — supervisionando a implementação de padrões eclesiásticos e de disciplina a
todos os membros — deveria ser, de preferência, ocupado por homens. Isso não impede que mulheres
preguem, ensinem, e forneçam, em distintas maneiras, tanto conselhos espirituais como liderança no
contexto da igreja. Mas a masculinidade é uma qualificação citada para o posto de pastor ordenado, e
3 C.f. “Consensus Statement on a Seventh-day Adventist Theology of Ordination” [Declaração de Consenso sobre uma Teologia Adventista do
Sétimos Dia sobre a Ordenação] (TOSC, votado em 23 de julho de 2013).
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embora seja uma qualidade importante (cf. 1Tm 2:11-14), é apenas uma entre várias outras
qualificações. Não vemos base nesse texto para tratar essa qualificação de maneira soberana, ou
sobrepondo-se sobre todos os outros critérios juntos.
Este entendimento da importância relativa do critério de gênero baseia-se na diferença entre:
1) os mandamentos morais absolutos de Deus e suas verdades eternas, e 2) Seus ideais4 para a
organização de seu povo. O primeiro inclui os Dez Mandamentos, as doutrinais fundamentais do
Cristianismo, e os limites bíblicos consistentemente articulados sobre o comportamento moral de cada
pessoa. O último, acreditamos nós, trata de práticas ou preceitos legais, organizacionais, cerimoniais
ou rituais, cuja intenção é trazer ordem à comunidade de fieis, proteger a identidade do povo de Deus,
e fortalecer a missão da Igreja. Estes ideais são importantes, mas já que têm uma função eclesiástica e
um propósito missional, a Bíblia indica que eles podem, em certas circunstâncias, ser modificados ou
adaptados. Acreditamos que essa distinção entre mandamentos ou verdades eternas e ideais
eclesiológicos proporciona uma percepção fundamental que pode ajudar a Igreja a prosseguir em
unidade, se não uniformidade, nessa questão.
Quando ocorre a adaptação de um ideal divino nas Escrituras para atender as necessidades
locais, para o avanço da missão ou para promover unidade, geralmente acontece de uma dessas três
formas:
i. O próprio Deus endossa a adaptação
ii. Um profeta bíblico confirma a mudança
iii. A comunidade de fieis, a Igreja, concorda com essa variação do padrão divino
É crucial enfatizar que a adaptação nas Escrituras não é a regra, que nunca se aplica às
verdades eternas e aos mandamentos morais absolutos de Deus e que Ele apenas permite isso sob
certas circunstâncias. Mas dentro desses limites, há várias ocasiões na Bíblia nas quais Deus permitiu
uma mudança em Seus planos originais para os Israelitas quando se tratava de questões de liderança
e/ou gênero, como temos discutido atualmente. Uma breve recapitulação de alguns exemplos dessas
adaptações nos ajudaria a entender a importante diferença entre mandamentos e ideais.
Nenhum desses episódios é diretamente análogo à situação na qual nos encontramos
atualmente, e eles não deveriam ser escrutinados para encontrar paralelos exatos com a questão da
ordenação. Pelo contrário, todas essas histórias ilustram dois pontos simples porém cruciais. O
primeiro é que existe uma distinção entre os mandamentos morais absolutos e as verdades eternas de
Deus por um lado, e as normais eclesiásticas e organizacionais divinas de outro lado. O segundo
ponto é que Deus, às vezes, permite variações nesses ideais organizacionais em resposta às
circunstâncias, necessidades e até mesmo, desejos de Seu povo. Como isso acontece difere de caso
para caso, e, portanto, relembrar algumas dessas histórias é importante para ter um panorama
equilibrado de como isso funciona biblicamente.
UM REI EM ISRAEL. As Escrituras deixam claro que o plano ideal de Deus para a nação de
Israel não era a monarquia (1Sm 8:10-20). Ele queria que eles fossem liderados por uma associação
de profetas, juízes, sacerdotes, e anciãos. Ainda assim, no momento quando Israel desejou um rei,
Deus acomodou esse desejo, apesar da escolha ter sido incitada pelas sociedades e culturas ao seu
redor. “Então, o Senhor disse a Samuel: Atende à sua voz e estabelece-lhe um rei” (1Sm 8:23).
Naquele momento, a monarquia não apenas se tornou aceitável para Deus, mas o próprio rei
tornou-se, literalmente, o ungido do Senhor quando Samuel derramou óleo sobre Saul (1Sm 10:1).
4 Usar a palavra “ideal” para descrever essas normas organizacionais prevalecentes não implica que qualquer desvio desse padrão
necessariamente será inferior e secundário. A realidade de que um ideal possa ser modificado por motivo de circunstâncias específicas significa
que outra abordagem possa ser melhor ou até mesmo necessária por um período de tempo. Assim, o desvio do ideal se torna assim o ideal
situacional, e portanto não deveria ser considerado inferior ou secundário. Um exemplo profundo disso é a encarnação de Cristo, que foi uma
resposta situacional para as circunstância não ideais da entrada do pecado e da necessidade de um redentor.
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Dali em diante, reis frequentemente eram ungidos por profetas ou sumo sacerdotes como um sinal da
escolha divina (1Sm 16:13; 1Rs 1:39, 45; 2Rs 9:1-6; 2Cr 23:11; cf. 1Rs 11:35-37).
O fato de que a monarquia muitas vezes foi um fardo para Israel e de que certos reis caíram
em pecado não mudou o endosso de Deus a essa instituição. De fato, a partir daquele momento,
aceitar e apoiar o novo rei tornou-se um sinal de lealdade tanto para com Israel como para com Deus
(ex.: “Também Saul se foi para sua casa, a Gibeá; e foi com ele uma tropa de homens cujo coração
Deus tocara” [1Sm 10:26]). Aqueles que não apoiaram o novo rei foram descritos nas Escrituras
Sagradas como “alguns vadios” que “desprezaram-no e não lhe trouxeram presente algum” (1Sm
10:27, NVI).
Essa história do rei nos é instrutiva em vários pontos. Primeiro: mostra que Deus está disposto
a variar Seu ideal organizacional para acomodar circunstâncias culturais e o desejo de Seu povo,
mesmo quando esses desejos levavam as pessoas a ter “rejeitado” Deus e Sua vontade em um assunto
específico (1Sm 8:7). Já que Deus não estava disposto a rejeitar Seu povo por terem rejeitado um de
Seus ideais organizacionais, isso deveria fazer com que
refletíssemos com seriedade sobre como nos relacionamos uns com os outros quando há
diferenças na compreensão de tais ideais.
Segundo: esses novos planos tornaram-se parte de Seu trabalho e de Sua vontade tanto quanto
havia sido o Seu plano original. O novo líder é o ungido do Senhor tanto como a antiga liderança o
havia sido. Terceiro: se indivíduos israelitas se opusessem à adaptação de Deus do Seu ideal, eles
estavam em perigo de se opor ao próprio Deus.
Como mencionado anteriormente, a adaptação não é possível onde um imperativo moral
universal ou verdade eterna está em risco. Caso fosse uma adaptação dos Dez Mandamentos, uma
doutrina fundamental como a Criação ou o Santuário, ou restrições bíblicas sobre comportamentos
pessoais e morais muitas vezes repetidos e claros, então o povo de Deus deveria resistir e se
necessário, instituir reforma. Mas a escolha de mudar o plano de liderança de Israel e escolher um rei
não justificava tal resposta, muito pelo contrário.
Alguns vão perceber que já no livro de Deuteronômio, o próprio Deus havia permitido a
mudança para a monarquia (Dt 17:14-20). Esse texto realmente fala de Israel ter um rei em algum
momento no futuro. Mas a linguagem usada indica que isso não era plano de Deus, mas do povo. Foi
o povo que disse, “estabelecerei sobre mim um rei, como todas as nações que se acham em redor de
mim” (Dt 17: 14).
A predição de Deus da variação—Sua previsão de que Israel deixaria o modelo teocrático
divino—não faz com que isso deixe de ser uma variação do ideal, como revela sua predição e
cumprimento. A despeito de Deuteronômio, Samuel denunciou os Israelitas, declarando “é grande
vossa maldade... pedindo para vós outros um rei”—e eles aceitaram sua culpa, confessando que “a
todos os nossos males acrescentamos o mal de pedir para nós um rei” (1Sm 12:17-19). Mas a resposta
de Deus para o povo, transmitida por meio de Samuel, é surpreendente: “Não temais”. Samuel revela
que, a despeito de terem se desviado do plano ideal de Deus, “o Senhor ... não desamparará o seu
povo” (1Sm 12:20, 22). Deus aceita até mesmo variações bem significantes dos Seus ideais
organizacionais e nós não deveríamos ser tão rápidos em condenar aqueles que consideramos estar se
distanciando de tais ideais.
A Bíblia também revela que nem todas as variações precisam ser preditas ou reveladas por
Deus com antecedência para que sejam aceitas. Adaptações podem surgir como respostas espontâneas
a circunstâncias e pedidos humanos. Essa capacidade de adaptação inesperada é revelada por uma
história relacionada à modificação das leis de Deus sobre a herança de propriedades.
AS FILHAS DE ZELOFEADE. No antigo Israel, a lei divina estabelecia que os filhos homens
deveriam herdar as posses, com porção dobrada para o primogênito (Dt 21:15-17). Mas as quatro
filhas de Zelofeade não tinham irmãos e, quando seu pai morreu, seu nome e suas posses
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desapareceriam no meio do povo. As filhas pediram a Moisés que, uma vez que não tinham irmãos, se
seria permitido que elas herdassem as posses. Moisés levou essa causa perante o Senhor e Ele disse
que “as filhas de Zelofeade falam o que é justo; certamente, lhes darás possessão de herança entre os
irmãos de seu pai e farás passar a elas a herança de seu pai” (Nm 27:7).
Mais uma vez, nesse caso, o Senhor aprova explicitamente a adaptação, mas Ele faz isso em
reposta a uma necessidade humana e a um pedido humano. Não havia nada na lei antes dessa petição
das filhas que sugerisse que uma adaptação ou variação da lei fosse permitida. Pelo contrário, Deus
modificou a Sua lei, Seus estatutos civis, a pedido não de importantes líderes do povo, mas de jovens
mulheres solteiras em uma cultura muito patriarcal. A história assim indica que a comunidade de fieis
tem um papel importante no processo de adaptação dos planos de Deus para a organização de Seu
povo.
Todavia, além disso, também temos uma história bíblica que mostra que é possível acontecer
uma adaptação e variação de um ideal sem haver um registro explícito de um mandamento divino.
Essa história se encontra em Juízes 4 e 5, e envolve Débora e Baraque.
DÉBORA E BARAQUE. A história de Débora, a juíza, é, muitas vezes, citada no contexto da
discussão sobre a ordenação para provar que mulheres podem ter posições de autoridade espiritual
institucionais, similar às do ancião. Mas a história é mais complexa do que isso e na verdade ajuda a
ilustrar a dicotomia do mandamento/ideal moral no contexto de liderança e gênero. Os juízes no
antigo Israel tinham funções militares, legais e espirituais na comunidade.5 Essas funções podem ser
percebidas na vida de Eúde (o assassino de Eglom, rei de Moabe), Gideão, e Jefté (Jz 3, 6, 7, 11, 12).
Débora “liderava” ou “julgava” Israel, e “atendia” debaixo de uma palmeira, onde ela decidia
as “questões” dos Israelitas (Jz 4:4, 5). Apesar da palavra hebraica usada para descrever Débora como
juíza ser a mesma que foi usada para todos os outros juízes, há indícios na história que mostram que
ter uma juíza era uma ocorrência rara e incomum.
Débora é a única mulher registrada na Bíblia como juíza de Israel6. Esse aparente modelo de
excepcionalidade é justificado pelo comentário de Ellen White de que “na ausência dos costumeiros
juízes, o povo se dirigia a ela [Débora] em busca de conselho e justiça” (Filhas de Deus, p. 25).
E mais, quando o momento chega de montar uma campanha militar contra Sísera e seu
exército, em vez de tomar a liderança como faziam a maioria dos juízes, Débora chamou um
guerreiro, Baraque, para liderar as tropas. Ele não queria assumir o comando a menos que ela viesse
junto para apoiá-lo na batalha. Isso ela concordou em fazer, mas em repreensão a sua relutância para
cumprir seu papel como homem, ela lhe disse que a glória pela vitória seria dada a uma mulher (Jz
4:9). A história de Débora mostra que as mulheres, quando exercendo a função de juízas, tinham uma
função mais limitada do que aquela de um juiz homem. Não era o mais adequado que elas estivessem
envolvidas ou tivessem que liderar o combate.
O papel de Débora como juíza e acompanhante militar foi incomum e foi necessário por
circunstâncias que incluía o fracasso dos homens em aceitar a função que se esperava deles. Portanto,
a história de Débora tem ao mesmo tempo sugestões sobre o ideal bíblico geral para a liderança
espiritual institucional masculina, mas também é uma evidência bíblica de sua variabilidade.
A partir dessa história podemos destacar três pontos importantes sobre ideais e suas exceções.
Primeiro, ela sugere que alguns cargos de liderança são destinados a ser preenchidos por homens.
Segundo, a história também mostra, no entanto, que certas circunstâncias podem exigir o
envolvimento de mulheres em posições que elas geralmente não ocupam, até mesmo tendo que
5 No antigo Israel, os juízes não tinham funções puramente civis. Em uma teocracia, aqueles que tinham uma função de juízes também estavam
intimamente envolvidos em questões religiosas, como visto em sua função de preservar as pessoas da corrupção espiritual (Jz 2:16-19).
Obviamente, a função profética de Débora apenas aumentou o aspecto espiritual de seu trabalho.
6 Alguns têm considerado a profetisa Hulda como sendo uma juíza em Israel, mas a Bíblia não a chama assim. Em vez disso, ela é chamada de
“profetisa”, nabiah no hebraico, o que é a forma feminina de nabi, que é um orador ou profeta. Ela aconselha ao rei Josías, mas esse conselho é
uma mensagem espiritual e profética, e não um tipo de decisão legal que um juiz daria (2Rs 22:14-20).
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participar e observar uma batalha. Esse ideal de mulheres não participarem em cargos militares é
esticando ainda mais, e até mesmo quebrado, quando a história termina com Jael matando o inimigo,
o general Sísera, com um martelo e uma estaca (Jz 4:21, 22). Esse ato recebe louvor posteriormente
em um cântico de Débora, que regozijou: “bendita seja sobre as mulheres Jael” (Jz 5:24). Quer tenha
sido Jael inspirada a fazer isso ou não, não há dúvidas de que Débora foi chamada por Deus para
exercer autoridade espiritual.
Terceiro e último, ao contrário do rei de Israel e das filhas de Zelofeade, a história é silente
quanto a uma ordem dada por Deus com respeito a essas exceções e modificações. No entanto, a
Bíblia é clara no fato de que “o Senhor derrotou a Sísera” e que “Deus subjugou” os inimigos de seu
povo (Jz 4:15, 23) assim demonstrando o endosso divino a liderança atípica de Débora e Baraque.
Portanto, circunstâncias de perigo nacional exigiam uma resposta, que foi
então tomada à luz das necessidades organizacionais e missionárias do povo de Deus, e a
solução que variava do ideal divino, então, recebeu a bênção de Deus. A narrativa da história em si,
junto ao cântico de Débora, revela que a mudança de gênero e liderança registrada na história era
parte do plano providencial de Deus.
O REI DAVI E A RESTRIÇÃO MOABITA. As leis de pureza e organização que Deus
concedeu a Israel poderiam até mesmo ser modificadas para permitir que um estrangeiro banido
exercesse as funções de liderança mais poderosas no país, como demonstrado nos reinos de Davi e
Salomão e na genealogia de Jesus.
Pela razão de que os moabitas tinham seduzido Israel à idolatria, Deus ordenou que “nenhum
amonita ou moabita entrará na assembleia do Senhor; nem ainda a sua décima geração entrará na
assembleia do Senhor, eternamente” (Dt 23:3). Isso era relevante para Davi porque seu bisavô era
Boaz, que se casou com Rute, a moabita (Rt 4:16-20), mas o havia feito em oposição à proibição
mosaica que fora repetida por Josué (Dt 7:3; Js 23:12).
De acordo com uma aplicação estrita do código levítico, o casamento de Boaz com Rute foi
ilegítimo. Ela e seus descendentes deveriam ser proibidos de ter qualquer cargo formal na nação de
Israel até que dez gerações tivessem passado. Isso teria excluído Davi de ser rei. Todo o livro de Rute,
que geralmente tratamos como uma história de amor piedoso, pode ser visto como uma extensa
apologia e um argumento legal da razão por que Rute era realmente uma judia, e não mais uma
moabita.7
Quando se entende esse contexto mais amplo, o seu famoso discurso, “aonde quer que fores,
irei eu e, onde quer que pousares, ali pousarei eu; o teu povo é meu povo, o teu Deus é o meu Deus”
(Rt 1:16), recebe um significado totalmente novo. O mesmo ocorre com a história da redenção por
Boaz, e o seu casamento logo depois. O argumento é feito alternadamente: ela é israelita porque
deixou Moabe e escolheu Israel e o Deus de Israel; ela é israelita porque foi resgatada por um ato de
sacrifício de Boaz, um ato de graça, o qual transfere direitos e identidade; e por último, ela é israelita
porque se casa com um israelita fiel, consciente, e obediente à lei. De modo apropriado, o livro
termina com uma breve descrição da genealogia de Rute terminando em Davi (Rt 4:16-20).
Quando uma pessoa entende a natureza verdadeiramente espiritual da identidade judaica,
todos esses argumentos são aceitos. Obviamente eles deram certo em seu contexto
histórico, pois a maioria de Israel e Judá aceitou Davi como rei. Contudo, um ponto
importante para nossos propósitos é que nenhuma dessas “exceções” à proibição de Moisés pode ser
encontrada na lei! Todas elas foram criadas pelas circunstâncias da história em si, à medida que os
7 Que o propósito do livro de Rute é o de “promover os interesses de Davi e sua dinastia” é a posição de um “grande consenso” de intérpretes
modernos: Robert Hubbard, The Book of Ruth in The New International Commentary on the Old Testament (Grand Rapids, MI: Eerdmans
Publishing, 1988), 37. Além do mais, vários desses intérpretes consideram que o foco central do livro é o lidar com e tornar aceitável a
identidade de Rute como moabita: veja ibid., 40-42; Murray Gow, The Book of Ruth: Its Structure, Theme, and Purpose (Leicester, UK: Appollos,
1992), 132-36 (Gow observa que tanto o Talmúde babilônico e o Midrash sobre Rute fazem referências a antigos argumentos levantados contra
a legitimidade de Davi com base em sua linhagem moabita); Kirsten Nielsen, Ruth: A Commentary (London, Uk: SCM Press Ltd, 1997), 23-28.
90
expositores e líderes legais e espirituais de Israel lutavam com o significado das leis de Deus e do
espírito por detrás delas em um contexto concreto específico.
Deus não lhes deu um atalho. Um profeta poderia ter declarado: “Deus declarou que isso está
bem,” ou “podemos fazer uma exceção para Davi”. Se isso tivesse acontecido, o livro de Rute não
seria necessário. Mas ele foi necessário para que à medida que o povo de Deus buscasse entender,
aplicar, e adaptar os ideais de liderança divina, Deus constantemente pudesse guiar por meio da
oração santificada, do estudo da Bíblia e da discussão com a comunidade de fieis. É notável que a
decisão de aceitar Rute foi tomada pelos anciãos de Belém (Rt 4:9, 11). Essa história demonstra como
Deus e Seu povo eram inclusivos e estavam abertos às questões de missão e regras organizacionais. A
história de Rute e Boaz é um dos antecedentes de Atos 15, onde a comunidade sujeitou ideais
organizacionais menos importantes a questões de missão de maior importância e peso para Deus e
para Sua igreja.
DAVI, OS PÃES DA PROPOSIÇÃO E CRISTO. Às vezes, Deus até mesmo opera por meio
da razão e da fé de indivíduos que se encontram em circunstâncias excepcionais, como fez com Davi e
o pão sagrado (1Sm 21:1-8). O ato de Davi de comer o pão sagrado é um dos exemplos mais
conhecidos de um ideal divino (nesse caso uma ordem cerimonial) ceder ao espírito maior por trás
dessas leis. Ao fugir de Saul, Davi em sua pressa para escapar, não tinha levado comida suficiente ou
armas. Ao chegar a Nobe, ele pediu a Aimeleque, o sacerdote, pão para comer. Aimeleque disse que o
único alimento que tinha disponível eram os pães da proposição, que, por lei, eram reservados para os
sacerdotes (Lv 24:5-9).
Porém, devido à urgente circunstância de Davi, Aimeleque estava disposto a permitir que
Davi e seus homens comessem o pão, conquanto que eles estivessem cerimonialmente limpos de
relações sexuais (1Sm 21:4). É intrigante que Aimeleque estivesse disposto a desobedecer a uma lei
cerimonial — deixar que pessoas que não eram sacerdotes comessem do pão sagrado — mas zeloso
por guardar outra lei: pureza cerimonial de não ter tido relações sexuais.
Essa aplicação parcial é característica geralmente de tentativas individuais e espontâneas de
seres humanos em adaptar ou modificar leis organizacionais ou cerimoniais para circunstâncias novas
ou excepcionais. Uma pessoa apenas altera o original tanto quanto for necessário para lidar com a
circunstância que o exige. É evidente que a exceção concedida foi uma alteração concebida por seres
humanos de maneira espontânea, e não uma que se encontrava na lei original, ou em outra lei vigente
criada legislativamente.
Essa provisão nuançada é o que esperaríamos de um agente humano engajado em uma
reflexão legal/ética, pensando em como ele explicaria sua conduta aos outros: “Bem, eu lhe dei o pão,
mas foi uma emergência, e também me assegurei de que ele estava cerimonialmente puro”. Enfim, a
história mostra que os devidos líderes eclesiásticos, como Aimeleque, devem aplicar os ideais
organizacionais e cerimoniais de Deus usando o bom senso de maneira a promover o avanço de
valores maiores, da missão e da unidade da comunidade.
Surpreendentemente, esse foi o modo como Cristo entendeu essa história, pois a história de
Davi e do pão sagrado faz uma aparição notável no Novo Testamento. Cristo justifica tanto as ações
de Davi assim como as de seus discípulos quando confrontados com a crítica dos Fariseus de que seus
discípulos não guardavam o sábado como deviam porque colheram espigas para comer (Mt 12:3, 4;
Mc 2:25, 26; Lc 6:3, 4).
Embora o contexto das observações feitas pelos fariseus é a guarda do sábado, a lei do sábado
em si não era o problema. Não há nada naquela lei ou em sua aplicação no Torá que proibia as
pessoas de colher espigas e comê-las no sábado. Pelo contrário, os discípulos foram acusados de
violar as leis e tradições dos fariseus e anciãos que foram estabelecidas para proteger o sábado. Ainda
assim, quando responder aos fariseus, Cristo usou outro exemplo que envolvia uma lei incontestável
da Torá: a exclusividade dos pães da proposição para os sacerdotes.
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Cristo disse que Davi foi justificado por comer o pão consagrado, em violação a uma regra
explicitamente divina, para preservar sua vida e saúde. Então, não estariam os Seus discípulos muito
mais justificados por comer espigas no sábado, o que apenas violava uma lei dos fariseus, feita por
homens? O ponto importante para nossos propósitos é que Cristo ratificou a habilidade humana de
adaptar e modificar as regras divinas que garantem a ordem eclesiástica em busca de princípios
maiores para a preservação da vida, da saúde, ou do bem-estar da comunidade e de seus membros.8
O CONCÍLIO DE JERUSALÉM: DIFERENÇAS SOBRE OS IDEAIS DIVINOS. A circuncisão
era um ato vitalmente importante para todo homem israelita. Era um sinal da aliança eterna de Deus
com Abraão, para ser guardado “no decurso de suas gerações”; e, era dito daquele que não fosse
circuncidado que ele “quebrou a minha aliança” (Gn 17:9-14). A falha de Moisés em não circuncidar
seu filho foi vista por Deus como um erro tão grave
que justificaria sua morte (Êx 4:24, 25). Tão essencial era para aliança dos israelitas com
Deus que, depois de 40 anos nos deserto e o fracasso total e prolongado deles em não circuncidar os
filhos homens, Josué sentiu ser essencial circuncidar todos os homens adultos dos filhos de Israel
depois de atravessar o rio Jordão (Js 5:1-7). A circuncisão era considerada essencial para a identidade
de Israel como povo com quem Deus fez uma aliança.
Quando se entende esse contexto, não é difícil entender porque tantos judeus cristãos
argumentavam: “Se não vos circuncidardes segundo o costume de Moisés, não podereis ser salvos”
(At 15:1). Essa estrita obrigação causou uma grande discórdia nas igrejas locais da Antioquia.
Por fim, essa questão foi levada para um concílio de líderes que se reuniu em Jerusalém.
Deliberando juntos, a Igreja chegou à conclusão de que a circuncisão e outras leis cerimoniais do
Antigo Testamento não eram necessárias para os fieis gentios. Foi-lhes dito que se “abstenham de
comida contaminada pelos ídolos, da imoralidade sexual, da carne de animais estrangulados e do
sangue” (At 15:20). À luz da cruz, e para preservar a unidade e a missão da Igreja, o Concílio de
Jerusalém, sob a influência do Espírito Santo, alterou o marcador de identidade/organizacional divino
que havia sido praticado pelo povo de Deus por séculos.
O comentário de Ellen White sobre a atitude prevalecente dos judeus é esclarecedor: “Os
judeus não podiam crer que estivessem obrigados a mudar de costumes que haviam adotado sob a
especial direção de Deus” (AA 106). Foi difícil para esses judeus cristãos permitir que houvesse algo
diferente no que eles acreditavam ser o ideal de Deus para todos os fieis. Ainda assim, no fim das
contas, a unidade da igreja cristã foi preservada em meio à diversidade. Os judeus cristãos
continuaram mantendo os costumes judeus enquanto os cristãos gentios não se sentiam obrigados a
adotá-los. “As decisões amplas e de grande alcance do concílio geral levaram confiança aos crentes
gentios e a causa de Deus prosperou” (AA 109).
Não acreditamos que a circuncisão e a ordenação são o mesmo tipo de problema em todos os
aspectos. A circuncisão era um marcador étnico, instituído durante a época de Abraão, que perdeu seu
significado central quando as fronteiras de Israel foram definidas por aquelas do Israel espiritual. Os
cargos de liderança e as funções de gênero têm seu início no Éden. Acreditamos que o modelo bíblico
ainda deve ser levado em consideração. Mas Paulo indica em outros lugares que os ideais
organizacionais, e até mesmo “ordens” do Senhor que ainda permanecem válidos podem ser
modificados. Em 1 Coríntios 9:14, Paulo reconhece que “o Senhor ordenou àqueles que pregam o
evangelho, que vivam do evangelho”. Todavia, nos
três próximos versículos ele diz: “Mas eu não tenho usado de nenhum desses direitos” (1Co
9:14-15, NVI).
8 A parte da história onde Cristo discute a atividade dos sacerdotes no templo é menos relevante para nossos propósitos. Os sacerdotes
estavam seguindo a lei divina ao ministrar no Sábado, e assim por definição não estavam desonrando o sábado quando eles faziam aquilo que
era ordem de Deus para o sábado. Mas ao comer o pão sagrado, Davi não estava agindo segundo nenhuma ordem divina escrita e explícita.
92
A ordem de prover o sustento dos ministros a partir dos dízimos podia variar de indivíduo
para indivíduo, como mostra Paulo, caso o ministro assim o decidisse fazer. Essa escolha individual,
portanto, não eliminava a regra geral. Outros princípios organizacionais que afetam a igreja de
maneira mais ampla devem ser aprovados de maneira mais ampla. Acreditamos que o Concílio de
Jerusalém destaca quatro princípios extremamente importantes que devem ser levados em
consideração sempre que diretrizes organizacionais de amplo impacto para a igreja, tais como as
qualificações para a ordenação, são aplicadas ou adaptadas pela igreja. Esses princípios são:
Primeiro, uma questão de ordem e organização da igreja que possa quebrar a unidade da
igreja deveria ser decidida por um concílio representativo da igreja. Segundo, a decisão, embora feita
em grupo, talvez não exija uniformidade de ação da parte de todos, assim como o Concílio de
Jerusalém permitiu que judeus e gentios tivessem maneiras diferentes de abordar a circuncisão e os
rituais. Terceiro, a decisão deveria promover a unidade e a missão da igreja dentro dos moldes do
princípio bíblico. Quarto, a decisão deve promover a unidade, assim como a igreja do Novo
Testamento, composta de fieis judeus e gentios, foi unificada em Cristo por meio do Espírito Santo
nas verdades imutáveis e eternas da Palavra de Deus. Eles compartilhavam, como nós deveríamos, um
desejo ardente de alcançar o mundo com a mensagem da graça de Deus. Mas eles nem sempre
estavam unidos nos particulares da prática eclesiástica. De qualquer maneira, em Cristo, eles foram
capazes de conviver com essas diferenças, assim como nós deveríamos.
IDEAIS E VARIAÇÕES NOS ESCRITOS DE ELLEN WHITE. Ellen White mostrou ter
consciência da natureza variável dos ideais organizacionais. Ela apoiava ter ordem na igreja e a
necessidade de ordenação pastoral, mas ela foi muito clara que tais regras organizacionais não
deveriam atrapalhar a missão da Igreja. Em 1896 ela escreveu sobre um trabalhador que não era
ordenado e sobre o seu erro de não estar disposto em batizar quando não tinha nenhum pastor
ordenado disponível:
... tem sido um grande erro que homens saiam, sabendo que são filhos de Deus, como o Irmão
Tay, que foi às Ilhas Pitcairn como missionário para trabalhar, [mas] não se sentiu à vontade
para batizar, porque não fora ordenado. Isso não é um arranjo de Deus; é uma adaptação dos
homens. Quando homens saem com o fardo da obra e para trazer almas para a verdade, esses
homens são ordenados por Deus, ainda que nunca tenham passado pela cerimônia da
ordenação. Dizer que eles não podem batizar quando não há outra pessoa é um erro. Se
houver um ministro que pode ser contatado, tudo bem, então, eles devem buscar o pastor
ordenado para realizar o batismo, mas quando o Senhor trabalha com um homem para trazer
uma alma aqui e ali, e eles não sabem quando haverá uma oportunidade dessas preciosas
almas serem batizadas, ele nem deveria questionar sobre o assunto, deveria batizar essas
almas. (MS 75, Nov. 12, 1896, pp. 1-2)
Nessa única citação temos tanto a menção do ideal (“eles devem buscar o pastor ordenado
para realizar o batismo”) como da variação ou adaptação (“Dizer que eles não podem batizar quando
não há outra pessoa é um erro”). A preocupação clara e urgente que prevalece era pelo ministério e
missão da Igreja. Diretrizes organizacionais têm seu lugar, mas deveriam ceder quando estiverem
impedindo a missão.
Em outra ocasião, Ellen White descreveu como uma de suas declarações, aparentemente
clara, sobre a ordem e restrições na escola deveria ser deixada de lado com base no “raciocínio
movido pelo senso comum”. Ela se encontrou com um grupo de pais e educadores que consideravam
a possibilidade de abrir uma pré-escola. Alguns desses fieis adventistas conscienciosos foram contra,
93
pois haviam lido seu conselho sobre não enviar as crianças para a escola até que tivessem oito ou dez
anos.9
A resposta de Ellen White é bem instrutiva. Ela reconhece suas declarações sobre estudantes e
idade, mas disse que seria muito melhor que as crianças pequenas estivessem em uma boa escola
adventistas do que serem deixadas sem boa supervisão em casa. Ela explicou sua resposta em termos
de um princípio mais abrangente, um que deveria chamar nossa atenção: “Deus quer que todos nós
tenhamos bom senso, e deseja que raciocinemos movidos pelo senso comum. As circunstâncias
alteram as condições. As circunstâncias modificam a relação das coisas” (ME3 217).
Aqui mais uma vez, Ellen White demonstra sua habilidade para distinguir entre os
imperativos morais de Deus — Seus mandamentos divinos — e os ideais divinos, os quais estão
sujeitos à adaptação. O ideal divino dos pais de ensinar seus filhos durante os oito a dez primeiros
anos de vida não proíbe, sob certas circunstâncias, que aquelas crianças frequentem escolas. Também
não proíbe a Igreja de abrir uma pré-escola. Para pais em outras circunstâncias, o ideal continuou ser o
de instruir seus filhos até que tivessem oito ou dez anos. É certamente muito instrutivo que Ellen
White se sentia muito confortável vivendo em uma denominação que pudesse tomar em consideração
as circunstâncias locais quando fosse aplicar esses ideais.
DETERMINANDO QUANDO O PADRÃO DIVINO PODE VARIAR. Nós acreditamos que os
exemplos bíblicos que discutimos aqui mostram em conjunto que qualquer decisão para adaptar as
normas organizacionais ou eclesiásticas divinas não deve ser feito de maneira individual, unilateral,
ou precipitada. Pelo contrário, a Igreja deveria se envolver nessa aplicação e adaptação de forma
conjunta, com cuidado, deliberadamente, guiados por aqueles que foram devidamente nomeados para
exercitar a liderança servidora do povo de Deus. Embora nenhuma dessas histórias aqui discutidas por
si só justificariam a modificação das qualificações para ancião, acreditamos que os princípios
coletivos incorporados nelas, apoiam tal resultado.
Três das histórias — o rei de Israel, Débora, e a herança moabita de Davi — mostram a
disposição de Deus em permitir, e até mesmo endossar, o desvio de normas de liderança na
organização de Seu povo. Duas das histórias — as filhas de Zelofeade e a de Débora — mostram
novamente um ajuste nas regras e práticas normais em conexão com o gênero. Outra história — a de
Davi e a do pão consagrado — mostra a boa vontade de Deus em permitir o ajuste de normas
organizacionais e cerimoniais com base na necessidade e circunstâncias urgentes sem uma revelação
especial de Deus ou de um profeta. Pelo menos duas das histórias — Débora e Davi e o pão sagrado
— mostram que um desvio ou modificação pode acontecer sem eliminar a regra geral fundamental: a
variação não se transforma em “nova norma”. Finalmente, o Concílio de Jerusalém fornece o modelo
básico para como variações e mudanças deveriam acontecer apropriadamente, e com mais frequência,
na era da Igreja, embora a história de Rute também seja relevante nesse caso.
Então, como podemos, hoje, saber quando Deus permite a comunidade a adaptar ou modificar
um ideal? Quando virmos que o Espírito Santo tem guiado os líderes servidores propriamente
autorizados da comunidade religiosa para avançar com base na boa ordem e processo; quando houver
um estudo coletivo das Escrituras; e quando uma decisão é feita por aqueles devidamente escolhidos
para representar a comunidade para fazer mudanças em questões eclesiásticas, organizacionais, e de
liderança; então corrermos o risco de nos opor a Deus se continuarmos a trabalhar aberta e
perturbadoramente contra o que a comunidade de fieis decidiu por meio da ordem e os procedimentos
apropriados.
As histórias como as dos filhos de Arão e do uso de fogo profano no santuário, e a suposição
de Uzá em segurar a arca, revelam que decisões individuais feitas a esmo e com base em preferências
9 Os pais devem ser os únicos mestres dos filhos até que eles cheguem à idade de oito ou dez anos....A única sala de aula para as crianças de oito a dez anos,
deve ser ao ar livre” (FEC 21).
94
pessoas para mudar ordens rituais ou cerimoniais são presunçosas e podem instigar a ira divina (Lv
10:1, 2; 2Sm 6:6-8; 1Cr 13:9-11). Hoje em dia não temos um Moisés, o Urim e Tumin, ou uma arca
com a presença especial de Deus para falar diretamente conosco e aprovar nossa variação de uma
norma organizacional. Hoje, Deus pode validar as adaptações de seus ideais organizacionais não
morais pela maneira pela qual Ele fala e age por meio de Seu povo quando eles oram e estudam
juntos: como fizeram em Jerusalém (Atos 15), como os primeiros adventistas fizeram nas
“Conferências da Bíblia”, e como nós fazemos quando representantes da Igreja mundial se reúnem na
Assembleia da Associação Geral.
APLICAÇÃO E CONCLUSÃO
Como mostram os exemplos acima, Deus em Seu amor e graça acomoda Seu ideal
divino ao longo de todas as Escrituras e da história da salvação. Novamente, esse raciocínio
não se aplica para verdades ou mandamentos morais universais. Nenhum dos exemplos
citados acima — seja o do rei de Israel ou as leis de herança, ou Débora e Baraque, ou Davi e
o pão sagrado, ou o Concílio de Jerusalém, ou o conselho de Ellen White sobre a idade em
que as crianças deveriam começar a estudar — envolviam variações ou desvios das leis
morais de Deus, seja dos Dez Mandamentos ou de proibições contra imoralidade sexual
como adultério ou homossexualidade. Modificações cuidadosas e limitadas dos ideais
eclesiásticos, cerimoniais e organizacionais de Deus não criam precedente para qualquer
tentativa de alterar as leis morais de Deus.
Mas os ideais organizacionais de Deus são de certo modo diferentes. Eles não
deveriam ser negligenciados de maneira óbvia e arrogante. Mas também não devem ser um
obstáculo para a missão da igreja de Deus. Esses tipos de padrões são criados para
promover os desejos básicos de Deus pela unidade de Sua igreja e para que Seu povo esteja
focado em sua função divinamente estabelecida como instrumentos da missão de Deus de
buscar e salvar o perdido (Mt 18:10-12, Lc 19:10, Mt 28:18-20). As normas cerimoniais e
organizacionais, até mesmo aquelas que apontam para os princípios permanentes, algumas
vezes são adaptadas para promover esses objetivos supremos de salvação.
Na família, onde a responsabilidade da liderança masculina se aplica mais
diretamente, o pai pode morrer, ser um pai ausente, sem compromisso com a
espiritualidade, ou irresponsável, e então, a esposa tem de assumir o papel de líder
espiritual. Em uma igreja local, os homens que estão disponíveis, mesmo sendo adventistas
comprometidos, podem não possuir todas as qualificações ou dons necessários para ocupar
a função de ancião local.
Seria sábio colocar um homem no cargo de ancião se ele tivesse apenas uma ou duas
das qualificações listadas, quando há mulheres disponíveis que possuem a maioria das
qualificações necessárias, mas simplesmente não são homens? É possível extrapolar de uma
situação hipotética em uma escala local para uma escala mais ampla da igreja mundial. A
realidade de demografias dentro de certas culturas é tal que o ideal divino sobre gênero e
liderança pode ser um obstáculo para a missão e unidade da Igreja se a masculinidade se
tornar o principal critério ou ideal absoluto para a liderança. Da mesma maneira, a Igreja
95
mundial pode desenvolver uma posição abrangente sobre a ordenação que permitiria que
as devidas autoridades em cada região ou área (tais como associação, união, ou divisão)
recebam a liberdade de buscar a direção do Espírito Santo para aplicar e adaptar o padrão
divino para sua situação local.
Muitos que aderem ao ideal bíblico para liderança espiritual masculina concordam
que às vezes as mulheres precisam assumir o papel de líder espiritual ou de ancião na falta
de homens qualificados. Assim, eles não veem a proibição da liderança feminina como
tendo base em preocupações sacramentais — que as mulheres de alguma forma não seriam
capazes de realizar as cerimônias ou rituais de maneira eficiente (ex. a posição da Igreja
Católica Romana). Há aqueles que geralmente limitariam essa exceção a casos muito
extremos. Mas o fato de que quase todos concordam que as mulheres podem ter uma
função primordial de liderança espiritual sob certas circunstâncias (ex. como está
acontecendo atualmente na China) é significativo. A chave, sem dúvida, é como essas
circunstâncias são entendidas e definidas.
Nós propomos que a Igreja mundial reconheça o princípio geral de liderança
masculina no cargo de pastor ordenado, mas que também permita que mulheres sejam
ordenadas, em lugares onde as circunstâncias locais façam desse ideal algo difícil ou inviável
de se implementar, para dessa maneira promover a união e a missão da Igreja. A Igreja
também deveria reconhecer que os princípios bíblicos de liberdade religiosa significam que
as unidades organizacionais locais e regionais devem ser capazes de lidar com suas culturas
ao aplicar esses princípios de maneira que resulte em um mais eficiente avanço da missão
do evangelho pela Igreja em seus campos.
Esse tipo de abordagem, concordado mutuamente, em espírito de oração e
cuidadosamente analisado, e executado de maneira apropriada, não comprometeria nossa
hermenêutica e teologia. Confirmaria os princípios de unidade e interdependência do
Concílio de Jerusalém de que as decisões da Igreja precisam ser feitas em conjunto, mesmo
quando se permita a diversidade. Levaria em consideração o que Paulo disse sobre o ideal
para a liderança da Igreja, mas reconheceria a natureza missional e a flexibilidade daquele
princípio: não é nem um dos Dez Mandamentos, nem uma questão de salvação, nem um
dos pilares doutrinais identificados por nossos pioneiros.
Alguns podem interpretar e aplicar esses ideais organizacionais de maneira diferente
dos outros, mas sob os princípios bíblicos de mútua liberdade cristã, nós deveríamos
conceder tolerância e paciência uns para com os outros (Gl 2:3-5). Sob esses mesmos
princípios de liberdade, nenhuma unidade organizacional ou funcionário deveria ser
obrigado a apoiar ou promover a liderança pastoral feminina ordenada se eles
conscientemente se opuserem a isso. Se a comunidade de fieis unida concorda tanto em
afirmar o ideal eclesiástico e organizacional divino, e ainda assim permitir sua adaptação
pelo bem da missão e da unidade, então, os membros de igreja deveriam aceitar a
diversidade resultante que foi acordada mutuamente. Deveríamos respeitar as opiniões das
quais discordamos “sujeitando-[nos] uns aos outros no temor de Cristo”, e “suportando uns
96
aos outros e perdoando as queixas que tiverem uns contra os outros” (Ef 5:21, Cl 3:13).
Como escreveu Ellen White:
Lembremo-nos todos de que não estamos lidando com homens ideais, mas com
homens reais designados por Deus. Homens que são exatamente como nós mesmos,
homens que caem nos mesmos erros em que nós caímos, homens com idênticas
ambições e fraquezas. Nenhum homem foi feito um senhor, para governar o espírito
e a consciência de um seu semelhante. Sejamos bem cuidadosos quanto à maneira
em que lidamos com a herança de Deus comprada por sangue... A nosso respeito diz
Ele: Vós sois “cooperadores de Deus; vós sois lavoura de Deus e edifício de Deus”.
Devemos reconhecer essa relação. Se estivermos ligados a Cristo, constantemente
manifestaremos piedosa simpatia e tolerância para com aqueles que estão lutando
com toda a capacidade que Deus lhes deu para levar seus fardos, da mesma forma
que nós nos esforçamos para levar os fardos que nos são designados. (TM 495)
Uma última questão que necessita ser contemplada é aquela da permissão para
ordenação de mulheres para o cargo de anciãos locais em 1984. Voltar a esse ponto seria
muito destrutivo para a Igreja e sua unidade e é inconsistente tanto com a interpretação das
Escrituras citadas acima, assim como com uma leitura conservadora do Novo Testamento. A
posição de ancião, como é hoje exercida na maioria das congregações adventistas do sétimo
dia, é, na prática, mais semelhante à função bíblica do diácono — uma função que a maioria
das pessoas concorda que a Bíblia permite às mulheres exercerem. Na prática eclesiológica
adventista, é o ministro ordenado que mais se assemelha à posição bíblica de “ancião”. 10
Em conclusão, esse não é um chamado para comprometer as crenças bíblicas. Ao
invés disso, é um apelo para escutarmos como a Bíblia aplica seus vários padrões e
ensinamentos. É um apelo para nos unirmos em Cristo nas verdades divinas imutáveis,
aplicadas no espírito da Palavra de Deus, e para focar na missão de alcançar os perdidos para
o Reino de Deus. Também é um convite para seguir os princípios bíblicos de caridade,
submissão mútua, e liberdade cristã dentro da Igreja em quesitos que não são de salvação ou
pilares da fé, para o bem da missão, integridade e unidade do corpo de Cristo.
10 Veja nota de rodapé 3, acima. Embora às vezes o ancião local possa cumprir algumas das funções do ancião do Novo Testamente, nós
acreditamos que poderíamos tratar com o centro do ensinamento de Paulo sobre o ideal de homens liderar em prover responsabilidade espiritual
final e disciplina para outros homens ao recomendar uma diretriz como essa: “Nas ocasiões onde o primeiro ancião é uma mulher, deve haver
um homem como co- ou vice-ancião que possa lidar com as circunstâncias onde o primeiro ancião precisar liderar na disciplina eclesiástica de
um homem”.
SEÇÃO VI
Declarações de
caminho a seguir
98
Deus chama mulheres para ministérios que ocupam todo o tempo e que ocupam
parte do tempo (Filhas de Deus, p. 20, 110; Evangelismo, p. 472). As linhas de
serviço nas quais as mulheres podem trabalhar são amplas e de longo alcance (Êx
15:20; Jz 4, 5; At 9:36, 39; Rm 16:1-12; Tt 2:3-5; Testemunhos para a Igreja v. 9, p.
128, 129; Serviço Cristão, p. 68). Para essa missão, a igreja deve fazer uso total do
indispensável papel da mulher no ministério. Mulheres “podem fazer na família uma
obra que os homens não podem, um trabalho que alcança a vida interior. Elas
podem se aproximar dos corações daqueles que os homens não podem alcançar.
Essa obra é necessária” (Serviço Cristão, p. 27). A igreja deveria emitir uma licença
apropriada com uma compensação razoável para mulheres qualificadas “ainda que
as mãos da ordenação não tenham sido impostas sobre elas (Manuscrito 22, 1892;
Evangelismo, p. 491-493; Manuscript Releases, v. 12, p. 160; Obreiros Evangélicos,
p. 452).
Apesar de homens e mulheres serem chamados para as várias linhas de ministério,
a Bíblia atribui consistentemente o cargo de ancião local ou pastor/ministro a
homens de fé que cumpriam as exigências das Escrituras. Veja o exemplo de Jesus
e da igreja primitiva assim como a instrução de Paulo (Mc 3:14; At 1:21-26; 6:3; 1Tm
3:1-7; Tt 1:5-9). Essa atribuição, em vez de ser baseada na cultura, é confirmada por
Paulo no papel de liderança espiritual masculina estabelecido na criação e
reafirmado após a queda (1Tm 2:13, 14; 1Co 11:3, 8, 9). Ainda que os dons
espirituais incluam cuidado pastoral, isso não é equivalente ao cargo bíblico de
ancião, que é chamado atualmente de “pastor”.
99
prática da ordenação de mulheres irá assegurar que nenhuma entidade será compelida a fazê-
lo contra a vontade de seus representantes reunidos. Como em outras questões, a fidelidade às
Escrituras e o respeito mútuo de uns pelos outros são essenciais para a unidade da igreja.
Portanto, porque aceitamos o chamado bíblico para darmos testemunho da
imparcialidade de Deus e por crermos que a desunidade e fragmentação será resultado
inevitável de se forçar uma só perspectiva em todas as regiões, propomos que:
Cada entidade responsável por chamar pastores seja autorizada a escolher ter
apenas homens como pastores ordenados ou ter homens e mulheres como pastores
ordenados [essa escolha será protegida por garantias nos documentos relevantes a
cada união, divisão e na Associação Geral, de forma que nenhuma entidade possa
ser direcionada contra sua vontade a adotar uma posição diferente da que a
consciência coletiva de seus constituintes defende].
A união, na qual as decisões a nível organizacional para ordenação tem sido
historicamente tomadas na Igreja Adventista do Sétimo Dia, ser autorizada por sua
divisão a fazer a decisão se aprova a ordenação de homens e mulheres para o
ministério evangélico.
Por este meio dedicamos nossas vidas a Deus e declaramos fidelidade à Sua Palavra
conforme cumprimos a grande comissão que o Senhor confiou à Sua igreja. Maranata. Ora,
vem, Senhor Jesus!
102
diversidade (Rm 14; Gl 5:13; Testemunhos para a Igreja, v. 8, p. 236). Essas adaptações
regionais, onde quer que forem permitidas, não devem negar o padrão geral de liderança
ordenada masculina como compreendida e praticada pela igreja mundial.
A administração da Associação Geral, juntamente com a liderança de suas divisões
mundiais, precisará considerar cuidadosamente a implementação dessa proposta, dada a nossa
visão histórica e atual da ordenação como “um chamado santo, não para um campo local
apenas mas para a igreja mundial” (WP L 45 05).
104
SEÇÃO VII
Voto de confirmação
e compromisso
105