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Associação Geral

TEOLOGIA DA
ORDENAÇÃO
Relatório da Comissão de Estudo Junho de 2014
2

Esta tradução tem o objetivo de facilitar o acesso aos que não


têm domínio da língua inglesa. Para os demais, recomenda-se
a consulta do relatório original em inglês, que pode ser baixado
na página: https://www.adventistarchives.org/final-tosc

Utilizou-se uma tradução oficial das declarações das 3


posições. As demais partes foram traduzidas pelos
colaboradores do site
http://teologiadaordenacao.blogspot.com.br/

Foram utilizadas as referências aos livros de Ellen White de


acordo com o site do Centro de Pesquisas Ellen G. White
(Brasil) - http://centrowhite.org.br/ellen-g-white/relacao-de-
titulos-portugues-ingles-dos-livros-de-ellen-g-white/

Em alguns lugares as notas de rodapé foram inseridas no texto


entre colchetes.

PARA MAIS INFORMAÇÕES E ARTIGOS EM PORTUGUÊS


SOBRE A TEOLOGIA DA ORDENAÇÃO E A DISCUSSÃO
SOBRE ORDENAÇÃO DE MULHERES, ACESSE
http://teologiadaordenacao.blogspot.com.br/
3

SEÇÃO I
TERMOS DE REFERÊNCIA
4

INTRODUÇÃO E ORIENTAÇÕES

A Comissão de Estudo da Teologia da Ordenação (TOSC, na sigla em inglês) é o


resultado de um pedido feito por um delegado da assembleia da Associação Geral de 2010. A
administração da Associação Geral encaminhou esse pedido para o Comitê Administrativo da
Associação Geral para a aprovação do processo de estudo da teologia da ordenação em 20 de
setembro de 2011.
O objetivo da Comissão de Estudo da Teologia da Ordenação é seguir
cuidadosamente, e em espírito de oração, os termos de referência com o objetivo de atingir o
consenso no máximo possível de assuntos.
A Comissão de Estudo da Teologia da Ordenação provê para os membros da
comissão uma ampla perspectiva para permitir que o Espírito Santo ajude a trazer consenso,
tanto quanto possível.
Considerando que é uma “comissão de estudos”, o processo normal de “votação” não
é usado para colocar posições ou representantes um contra o outro. Pelo contrário, a
abordagem de estudo é de dar oportunidade para um relatório de consenso nos itens aceitos
por consenso. Nos itens nos quais não é possível chegar a um consenso, vários relatórios são
preparados para apresentar os diferentes pontos de vista e suas réplicas apropriadas. Através
de sessões intensas de oração, estudo da Bíblia, estudo do Espírito de Profecia e das
cuidadosas discussões resultantes, a Comissão de Estudo da Teologia da Ordenação deve
focar em soluções que apoiem a mensagem, missão e unidade da Igreja Adventista do Sétimo
Dia.
Em seu estudo, a Comissão de Estudo da Teologia da Ordenação colabora com as
Comissões de Pesquisa Bíblica estabelecidas (BRC’s, na sigla em inglês) e dá assistência aos
BRC’s com uma agenda abrangente a ser revisada. A Comissão de Estudo da Teologia da
Ordenação recebe relatórios dos BRC’s das divisões e pode atribuir trabalhos de pesquisa e
apresentações aos membros e não membros da comissão para serem revisados pela Comissão
de Estudo da Teologia da Ordenação.
A Comissão de Estudo da Teologia da Ordenação se reuniu aproximadamente quatro
vezes, concluindo seu trabalho em junho de 2014. Um comitê de direção da Comissão de
Estudo da Teologia da Ordenação supervisionou o processo. O trabalho da comissão foi
prover o máximo possível de informação ao tema atribuído para ser reexaminado pela
Administração da Associação Geral em junho de 2014, e então o relatório completo provido
pela Comissão de Estudo da Teologia da Ordenação foi revisado no Concílio Anual de 2014.
O Concílio Anual definiu os itens a serem encaminhados para a assembleia da Associação
Geral de 2015.
5

TERMOS DE REFERÊNCIA

TERMOS DE REFERÊNCIA AUTORIDADE E RESPONSABILIDADE

1. Supervisionar o estudo mundial da Poder para agir.


teologia da ordenação e suas implicações,
revendo e analisando dados da Bíblia e do
Espírito de Profecia.

2. Recapitular a história do estudo da Poder para agir.


ordenação na Igreja Adventista do Sétimo
Dia.

3. Desenvolver uma pauta abrangente no Poder para agir.


assunto da teologia da ordenação e suas
implicações para práticas na Igreja
Adventista do Sétimo Dia, incluindo o tema
da ordenação da mulher para o ministério
evangelístico.

4. Receber (até 31 de dezembro de 2013) e Poder para agir em consulta com as


discutir os relatórios das Comissões de Comissões de Pesquisa Bíblica das
Pesquisa Bíblica das divisões sobre seus divisões
estudos e conclusões, garantindo que as
Comissões de Pesquisa Bíblica das
divisões endossem agendas de estudo
compreensíveis.

5. Requerer estudos ou solicitar relatórios Poder para agir.


dos membros e/ou não membros da
comissão quando estudos adicionais se
mostrarem necessários.

6. Desenvolver uma teologia adventista da Poder para agir.


ordenação para recomendar à
consideração do Concílio Anual de 2014.

7. Enviar ao Concílio Anual de 2014, Poder para agir.


através da administração da Associação
Geral, o relatório completo do estudo
mundial indicando áreas de consenso e
áreas onde não houve consenso com
respeito à teologia da ordenação e suas
implicações para práticas da Igreja
Adventista do Sétimo Dia

8. Em áreas de discordância, focar em Recomendar para o Comitê Administrativo


potenciais soluções que apoiem a da Associação Geral.
mensagem, missão e unidade da Igreja
Adventista do Sétimo Dia.
6

MEMBROS DO COMITÊ

STELE, ARTUR A. - Presidente


Mbwana, Geoffrey G. - Vice-presidente
Porter, Karen J. - Secretário
Trim, Wendy - Relator

Arrais, Jonas Haloviak-Valentine, Paulson, Kevin


Arrais, Raquel C. Kendra Peters, John
Batchelor, Doug Hasel, Michael Pfandl, Gerhard
Bauer, Stephen Holmes, C. Raymond Poirier, Timothy L.
Beardsley-Hardy, Lisa M. Howard, James Prewitt, Eugene
Bischoff, Fred Hucks, Willie Proffitt, Kathryn L.
Bohr, Stephen Jankiewiez, Darius Rafferty, James
Brown, Gina S. Kent, Anthony R. Read, David C.
Brunt, John King, Gregory A. Reeve, Teresa
Ceballos, Mario E. Knott, Esther Reid, George
Chang, Shirley Knott, William M. Roberts, Randall L.
Clark, Chester V. III Koh, Linda Mei Lin Rodríguez, Ángel M.
Costa, Robert Kuntaraf, Kathleen K. H. Scarone, Daniel
Damsteegt, Laurel Mackintosh, Don Silva, Sandra
Damsteegt, P. Gerard McLennan, Patty Slikkers, Dolores E.
Davidson, Jo Ann M. Miller, Nicholas Small, Heather-Dawn K.
Davidson, Richard M. Mills, Phillip Sorke, Ingo
De Sousa, Elias B. Moon, Jerry Timm, Alberto R.
Diop, A. Ganoune Morris, Derek J. Trim, David
Donkor, Kwabena Mueller, Ekkehardt F. R. Tutsch, Cindy
Doss, Cheryl Nelson, Dwight K. Veloso, Mario
Fagal, William A. Nix, James R. Vin Cross, Tara
Finley, Mark A. Oberg, Chris Wahlen, Clinton L.
Fortin, Denis Page, Janet Warden, Ivan Leigh
Gothard, Doris M. Page, Jerry N. Zarska, Carol
2

DOIS REPRESENTANTES DESIGNADOS DE CADA DIVISÃO


Coralie, Alain Musvosvi, Joel Southern
Mathema, Zacchaeus Ratsara, Paul S.
Divisão Centro Leste Africana Divisão Sul Africana Oceano Índico

Biaggi, Guillermo E. Christo, Gordon E.


Zaitsev, Eugene Tlau, Chawngdinpuii
Divisão Euroasiática Divisão Sul-Asiática

Henry, Elie Gayoba, Francisco


Perez, Carmen Sabuin, Richard
Divisão Interamericana Divisão do Pacífico Sul-Asiático

Hasel, Frank Oliver, Barry D.


Magyarosi, Barna Roennfeldt, Ray
Divisão Intereuropeia Divisão do Sul do Pacífico

Bietz, Gordon Barna, Jan


Pollard, Leslie N. Wiklander, Bertil A.
Divisão Norte-Americana Divisão Transeuropeia

Doh, Hyunsok John Bediako, Daniel K.


Higashide, Katsumi Nwaomah, Sampson
Divisão Pacífico Norte-Asiático Divisão Centro Leste Africana

Schmied Padilla, Lilian EX OFFICIO


Siqueira, Reinaldo Wilson, Ted N. C., Presidente
Divisão Sul-Americana Ng, G. T., Secretário
Lemon, Robert E., Tesoureiro

DIREÇÃO DA COMISSÃO DE ESTUDO DA TEOLOGIA DA


ORDENAÇÃO

STELE, ARTUR A., Presidente


Mbwana, Geoffrey G., Vice-presidente
Porter, Karen J., Secretário
Damsteegt, P. Gerard
Davidson, Richard
Fagal, William A.
Rodríguez, Ángel M.
2

SEÇÃO II
HISTÓRIA DA TOSC
3

ESCOPO DA COMISSÃO

A Comissão de Estudo da Teologia da Ordenação (TOSC) é formado por membros de


uma variada gama de opiniões. A Comissão é composta por 106 membros, incluindo o
presidente, vice e secretário; dois representantes de cada uma das 13 divisões mundiais; e 74
membros da Divisão Norte-Americana representando todas as esferas da igreja. A comissão
inclui membros leigos, pastores, administradores e teólogos das principais instituições de
ensino adventistas. Há ainda três oficiais da Associação Geral (AG) que são membros
extraoficiais da comissão.
Um comitê de direção de sete membros foi estabelecido, com três oficiais da
comissão, dois membros representando aqueles que se opõem à ordenação de mulheres e três
representando aqueles a favor da ordenação de mulheres.
Considerando que esse é uma “comissão de estudos”, o processo normal de “votação”
não é utilizado. Em vez disso, a abordagem do estudo resulta em um relatório de consenso
sobre a teologia da ordenação. Nos itens em que não se chegar a um consenso, vários
relatórios serão elaborados para apresentar os diferentes pontos de vista e suas réplicas
apropriadas. Uma inovação significativa que se tornou parte deste processo é a criação de
uma página da internet no site Arquivos, Estatísticas e Pesquisas
(www.adventistarchives.org/about-tosc) para todos os artigos e relatórios apresentados ao
TOSC, assim como ações das sessões da AG, ações dos comitês da AG, artigos e relatórios
das comissões e comitês de estudos e outros relatórios comissionados oficiais. Essa página de
internet, pela primeira vez, torna esses documentos históricos disponíveis ao público.

TAREFAS COMPLETADAS DA COMISSÃO


A TOSC se reuniu quatro vezes, sendo sua última reunião em 2 a 4 de junho de 2014.
Em cada encontro um tempo significativo foi usado em orações e devocionais, elevando os
pensamentos Àquele que tem todas as repostas. Em momentos difíceis nas discussões, o
debate foi interrompido para um período de oração. Ao concentrar novamente os
pensamentos e invocar a presença do Espírito Santo, o tom da reunião se mudava e um
espírito de cordialidade era sentido.
Por todo o processo, pequenos grupos de discussão foram estabelecidos para dar aos
membros a chance de expressar suas convicções, fazer perguntas, discutir tópicos e ouvir as
opiniões dos outros em um ambiente amigável.
4

Primeiro encontro - janeiro de 2013 (três dias)


 Foi discutido sobre como lidar com questões doutrinárias na igreja e que regras
básicas seguir, considerando conselhos das Escrituras e dos escritos de Ellen White.
 Revisitou-se e reafirmou-se o documento intitulado “Estudo da Bíblia:
Pressuposições, Princípios e Métodos” que foi votado no Concílio Anual, no Rio de
Janeiro, em 1986.
 Foi feita a leitura dos artigos sobre a história da ordenação no cristianismo primitivo e
na história da Igreja Adventista do Sétimo Dia.
 Gastou-se um tempo significativo examinando-se a teologia da ordenação atual em si
- independente da questão do gênero. Sentiu-se a necessidade da discussão deste
ponto antes de se discutir a ordenação da mulher.
 A questão da ordenação foi discutida em grupos pequenos.

Sucedendo o primeiro encontro, a comissão de direção elegeu um comitê relator,


coordenado por Geoffrey G. Mbwana, para criar uma declaração de consenso sobre a teologia
da ordenação. Um alto nível de confiança foi criado entre os membros do grupo relator e um
profundo espírito de cooperação e disposição para o trabalho em conjunto foi demonstrado.

Segundo encontro - julho de 2013 (três dias)


 A primeira ação do segundo encontro foi o voto de uma declaração de consenso sobre
a teologia da ordenação.
 A comissão então debruçou-se sobre o tópico da ordenação da mulher.
 Houve diversas apresentações sobre a história da ordenação da mulher sob ambos os
pontos de vista (favorável e contrário).
 Princípios hermenêuticos foram apresentados sob cada ponto de vista, seguido de
apresentações sobre 1 Timóteo sobre como se aplicar esses princípios.
 Uma visão geral sobre a ordenação da mulher foi apresentada em ambas as
perspectivas.
 O segundo encontro foi o mais intenso, com 16 artigos apresentados e pouco tempo
para discussão em grupos pequenos.

Terceiro encontro - janeiro de 2014 (cinco dias)


 Esse encontro foi mais longo, com 2 dias adicionais.
 Relatórios e conclusões foram compartilhados sobre a questão da ordenação da
mulher de todos as treze Comissões de Pesquisa Bíblica das divisões.
 Em uma das noites, um painel de apresentadores respondeu questões acerca de
apresentações de encontros anteriores.
5

 Duas apresentações foram feitas, uma de cada ponto de vista, sobre 1 Timóteo 3:2
(“marido de uma só mulher”), com tempo para discussões em grupos pequenos sobre
esse assunto.
 Um artigo da síntese da posição de cada lado foi apresentado.
 O grupo favorável fez uma exegese sobre 1 Coríntios 11.
 O grupo contrário fez uma apresentação sobre hermenêutica.
 Foram feitas apresentações de cada grupo sobre a questão: “Para onde o nosso
posicionamento irá nos levar?”.
 Os que tinham uma posição contrária ao ordenamento de mulheres ao ministério
evangélico fizeram avaliações sobre essas apresentações.
 Grupos pequenos se reuniram para responder as avaliações das posições através do
estudo de Gênesis 1-3 e 1 Timóteo 2 e 3, e sugerir caminhos para se avançar.
 No pôr do sol de sexta feira foi feita uma apresentação, “Sendo Pacificadores”, por
uma igreja local, e um devocional por Artur A. Stele.
 No sábado, Mark A. Finley desafiou o grupo em seu sermão sobre ações para seguir o
método da igreja primitiva em lidar com questões difíceis, e grupos pequenos se
reuniram e se ocuparam com o desafio feito pelo pastor Finley.
 Grupos pequenos se reuniram novamente sábado à tarde para discutir as seguintes
passagens: 1 Coríntios 11; Gálatas 3:26-28 e Joel 2:28-32.
 A reunião se encerrou com um apelo de Geoffrey G. Mbwana para construir pontes e
avançar juntos, unidos em Cristo.

Quarto encontro - junho de 2014 (três dias)


 Foi dado um tempo para a apresentação de uma terceira posição, representando a
opinião daqueles que têm uma posição mais moderada ou intermediária.
 A maior parte do tempo desses encontros foi gasta em assembleia de grupos, mais do
que sessões em plenário, revisando e refinando as três declarações das sínteses das
posições e declarações de caminhos a seguir.
 Apresentações das declarações de caminhos a seguir, de cada uma das assembleias de
grupos das posições, foram feitas a toda a comissão.
 Um voto unânime foi tomado para afirmar que, apesar das diferenças de opinião em
relação à ordenação de mulheres, os membros da Comissão de Estudo da Teologia da
Ordenação estão comprometidos com a mensagem e a missão da Igreja Adventista do
Sétimo Dia, conforme expressas nas 28 doutrinas fundamentais.
 Uma pesquisa foi feita pedindo a cada membro para que marcasse a posição ou
posições que fossem mais aceitáveis para ele. O resultado da pesquisa é o que segue:
6

VISÕES DE CONSENSO

Votos totais: Ordenar/comissionar Cada entidade A liderança


95; apenas homens responsável pelo denominacional de
abstenções: 1 qualificados para o ofício chamado de cada nível ser
de pastor/ministro na pastores/ministros autorizada a decidir,
igreja mundial ser autorizada a baseada em
escolher se terá princípios bíblicos,
apenas homens se tal adaptação
como pastores [permissão para
ordenados ou ordenar homens e
homens e mulheres mulheres] é
como pastores apropriada para sua
ordenados área ou região

Primeira 32 40 22
opção

Segunda 0 12 19
opção

Terceira opção 2 0 0

 Ted N. C. Wilson agradeceu a comissão por seu trabalho e esboçou o processo


seguinte de levar o relatório a Reunião de Oficiais, PREXAD, Concílio Anual e então
à assembleia da Associação Geral em 2015.
O encontro se encerrou com uma oração de G. T. Ng, secretário da Associação Geral dos
Adventistas do Sétimo Dia.
7

SEÇÃO III
APRESENTAÇÕES SOBRE ESTE TEMA
8

As seguintes apresentações dos encontros da TOSC estão disponíveis


no website dos Arquivos, Estatísticas e Pesquisas da CG. Antigas pesquisas
e todos os relatórios de estudo e artigos das Cominssões de Pesquisa Bíblica
das divisões também estão disponíveis no mesmo website no item do menu
“Teologia da Ordenação”.

DECLARAÇÕES
Declaração de Consenso sobre uma Teologia da Ordenação Adventista do Sétimo Dia

ARTIGOS DE JANEIRO DE 2013


“Dealing With Doctrinal Issues in the Church—Proposal for Ground Rules”, de Paul S.
Ratsara e Richard M. Davidson.

“The Proper Role of Ellen G. White’s Writings in Resolving Church Controversies”, de


William A. Fagal.

“Ellen G. White on Biblical Hermeneutics”, de P. Gerard Damsteegt.

“Ordination in Seventh-day Adventist History”, de David Trim.

“The Problem of Ordination: Lessons From Early Christian History”, de Darius Jankiewicz.

“Magisterial Reformers and Ordination”, de P. Gerard Damsteegt.

“Towards a Theology of Ordination”, de Ángel M. Rodríguez e outros.

“Estudo da Bíblia: Pressuposições, Princípios e Métodos”, Concílio Anual de 1986.

ARTIGOS DE JULHO DE 2013


“The Ordination of Women in Seventh-day Adventist Policy and Practice”, de David Trim.

“Women’s Status and Ordination as Elders or Bishops in the Early Church, Reformation, and
Post-Reformation Eras”, de P. Gerard Damsteegt.

“The Ordination of Women in the American Church”, de Nicholas Miller.

“The Ordination of Women in the American Church — Appendix”, de Nicholas Miller.

“Trajectories of Women’s Ordination in History”, de John W. Reeve.

“Back to Creation: Toward a Consistent Adventist Creation-Fall-Re-Creation Hermeneutic”,


de Jiri Moskala.
9

“Paul, Woman, and the Ephesian Church: An Examination of 1 Timothy 2:8-15”, de Carl
Cosaert.

“Biblical Hermeneutics and Headship in First Corinthians”, de Edwin Reynolds.

“Adam, Where are You?”, de Ingo Sorke.

“Man and Woman in Genesis 1-3: Ontological Equality and Role Differentiation”, de Paul S.
Ratsara e Daniel K. Bediako.

“Women of the Old Testament: Women of Influence”, de Laurel Damsteegt.

“Issues Relating to the Ordination of Women with Special Emphasis on 1 Peter 2:9, 10 and
Galatians 3:28”, de Stephen Bohr.

“Headship, Gender, and Ordination in the Writings of Ellen G. White”, de P. Gerard


Damsteegt.

“Ellen White, Women in Ministry and the Ordination of Women”, de Denis Fortin.

“Ellen White, Ordination, and Authority”, de Jerry Moon.

“Should Women Be Ordained as Pastors? Old Testament Considerations”, de Richard M.


Davidson.

“Shall the Church Ordain Women as Pastors? Thoughts Toward an Integrated NT


Perspective”, de Teresa Reeve.

“Authority of the Christian Leader”, de Darius Jankiewicz.

ARTIGOS DE JANEIRO DE 2014

“Hermeneutics: Interpreting Scripture on the Ordination of Women”, de P. Gerard


Damsteegt, Edwin Reynolds, Gerhard Pfandl, Laurel Damsteegt e Eugene Prewitt.

“1 Corinthians 11:2-16 and the Ordination of Women to Pastoral Ministry”, de Teresa Reeve.

“Leadership and Gender in the Ephesian Church: An Examination of 1 Timothy”, de Carl P.


Cosaert.

“Is ‘Husband of One Wife’ in 1 Timothy 3:2 Gender-Specific?”, de Clinton L. Wahlen.

“Restoration of the Image of God: Headship and Submission”, de John W. Peters.

“My Personal Testimony: Some Pastoral Reflections”, de Dwight K. Nelson.


10

“Evaluation of Egalitarian Papers”, de Gerhard S. Pfandl with Daniel K. Bediako, Steven


Bohr, Laurel e P. Gerard Damsteegt
Jerry Moon, Paul S. Ratsara, Edwin Reynolds, Ingo Sorke e Clinton L. Wahlen

“Evaluation of the Arguments Used by Those Opposing the Ordination of Women to the
Ministry”, de Ángel M. Rodríguez.

“Moving Forward in Unity”, de Barry D. Oliver.

“Women In Ministry: What Should We Do Now?”, de C. Raymond Holmes.

ARTIGOS DE JUNHO DE 2014

Síntese da Posição #1

Síntese da Posição #2

Síntese da Posição #3

Declaração de Caminho a Seguir #1

Declaração de Caminho a Seguir #2

Declaração de Caminho a Seguir #3

ARTIGO COMISSIONADO E ENVIADO MAS NÃO


APRESENTADO

“Seventh-day Adventists On Women’s Ordination: A Brief Historical Overview”, de Alberto R.


Timm.
11

SEÇÃO IV
DECLARAÇÃO DE CONSENSO SOBRE A
TEOLOGIA DA ORDENAÇÃO
12

RECOMENDA-SE A ADOÇÃO DO DOCUMENTO


"DECLARAÇÃO DE CONSENSO SOBRE UMA TEOLOGIA
DA ORDENAÇÃO ADVENTISTA DO SÉTIMO DIA",
CONFORME SE LÊ A SEGUIR:

Em um mundo alienado de Deus, a igreja é composta por aqueles que Deus conciliou
consigo e uns para com os outros. Através da obra salvadora de Cristo, eles são unidos a Ele
pela fé através do batismo (Ef 4:4-6), se tornando assim um sacerdócio real cuja missão é
“anunciar as virtudes dAquele que vos chamou das trevas para a Sua maravilhosa luz” (1Pe
2:9). Aos crentes é dado o ministério da reconciliação (2Co 5:18-20), chamados e capacitados
através do poder do Espírito e dos dons que Ele lhes confere para anunciar a Comissão
Evangélica (Mt 28:18-20).
Ainda que todos os crentes sejam chamados a usar seus dons espirituais para o
Evangelho, as Escrituras identificam certas posições de liderança específicas que são
acompanhadas pelo aval público da igreja, de pessoas que correspondem às qualificações
bíblicas (Nm 11:16-17; At 6:1-6; 13:1-3; 14:23; 1Tm 3:1-12; Tt 1:5-9). Frequentemente tal
reconhecimento é demonstrado pela “imposição das mãos”. Algumas traduções da Bíblia
usam a palavra “ordenação” para traduzir diversas palavras em grego e hebraico que possuem
a ideia básica de selecionar ou apontar que descrevem a atribuição dessas pessoas em seus
respectivos ofícios. Através da história cristã, o termo “ordenação” adquiriu sentidos além do
que essas palavras significavam originalmente. Sob tal pano de fundo, os adventistas do
sétimo dia compreendem a ordenação, em um sentido bíblico, como a ação da igreja em
reconhecimento público ao ministério local e global daqueles a quem Deus chamou e
capacitou.
Além da função única dos apóstolos, o Novo Testamento identifica as seguintes
categorias de líderes ordenados: o ancião/ancião supervisor (At 14:23; 20:17, 28; 1Tm 3:2-7;
4:14; 2Tm 4:1-5; 1Pe 5:1) e o diácono (Fp 1:1; 1Tm 3:8-10). Embora a maioria dos anciãos e
diáconos ministrassem em lugares determinados, alguns anciãos eram itinerantes e
supervisionavam territórios maiores com múltiplas congregações, o que pode ser o caso de
ministérios de indivíduos como Timóteo e Tito (1Tm 1:3-4; Tt 1:5).
No ato da ordenação, a igreja confere autoridade representativa a indivíduos para a
obra específica do ministério ao qual eles foram designados (At 6:1-3; 13:1-3; 1Tm 5:17; Tt
2:15). Isso pode incluir representar a igreja; proclamar o evangelho; administrar a ceia do
Senhor e batizar; semear e organizar igrejas; guiar e nutrir membros; ensinar contra falsas
doutrinas; e prover serviços gerais à congregação (cf. At 6:3; 20:28‑29; 1Tm 3:2, 4-5; 2Tm
1:13-14; 2:2; 4:5; Tt 1:5, 9). Embora a ordenação contribua para a ordem da igreja, ela nunca
atribui qualidades especiais às pessoas ordenadas nem introduz uma hierarquia régia à
comunidade de fé. Os exemplos bíblicos de ordenação incluem a distribuição de
incumbências, a imposição das mãos, oração e jejum, e se empenhar com aqueles que se
afastaram da graça de Deus (Dt 3:28; At 6:6; 14:26; 15:40).
13

Indivíduos ordenados dedicam seus talentos ao Senhor e à Sua igreja num serviço
vitalício. O modelo de fundação da ordenação é o chamado de Jesus aos doze apóstolos (Mt
10:1‑4; Mc 3:13-19; Lc 6:12-16), e o modelo absoluto de ministério cristão é a vida e serviço
de nosso Senhor, que não veio para ser servido, mas para servir (Mc 10:45; Lc 22:25-27; Jo
13:1-17).
14

SEÇÃO V
SÍNTESES DAS POSIÇÕES
15

DELINEAÇÃO DA SÍNTESE DA POSIÇÃO #1


Declaração do resumo
Introdução
Três motivos para nossa posição
Claramente, a Bíblia diz que o ancião deve ser “marido de uma só mulher” (1Tm 3:2;
Tt 1:6)
A Igreja Adventista do Sétimo Dia deve continuar fundamentada na Bíblia em todas
as questões de fé e prática
Permitir métodos concorrents de interpretação das Escrituras traz grande
desunidade
Relacionar a Bíblia com a cultura
Princípios da interpretação bíblica
O padrão de interpretação “a Bíblia, e a Bíblia somente”
A Bíblia foi escrita para todos
Devemos aceitar a Bíblia tal como ela é
Interpretação e as três mensagens angélicas
Aplicação dos princípios bíblicos de interpretação em textos-chaves
Interpretação de 1 Timóteo 2 e 3
1 Timóteo 2
1 Timóteo 3
Implicações
Relaionamento de homens e mulheres em 1 Coríntios 11
Gálatas 3:26-29
Igualdade e Diferença entre homem- mulher em Gênesis 1 e 2
Igualdade entre homem-mulher em Gênesis 1 e 2
Diferença entre homem-mulher em Gênesis 1 e 2
Relacionamento do homem e da mulher após a queda em Gênesis 3
Ordenações bíblicas
Antigo Testamento
Novo Testamento
Ordenação e imposição das mãos
Ordenação e autoridade
A autoridade dos ministros
A autoridade dos anciãos
Ordenação e unidade mundial
Resumo da ordenação bíblica
Respostas a algumas questões sobre a ordenação
16

RESUMO DA POSIÇÃO #1

DECLARAÇÃO DO RESUMO

Este documento apresenta as qualificações bíblicas para a ordenação aos ofícios de


ancião/pastor/ministro e examina se as mulheres no ministério deveriam atuar nesses ofícios.

Primeiro, ele apresenta o motivo fundamental porque compreendemos, a partir da


Escritura, que somente certos homens qualificados podem ocupar esses ofícios. Em seguida,
discute os princípios de como interpretar a Bíblia e como aplicar esses princípios a 1 Timóteo
2 e 3, 1 Coríntios 11, Gálatas 3 e Gênesis 1 a 3. Então, apresenta exemplos bíblicos da
ordenação e sua prática, as diferenças entre os ofícios e os dons e o significado da imposição
das mãos; trata da ordenação e da autoridade, e da ordenação e da unidade da igreja; e oferece
uma resposta a alguns argumentos em favor da ordenação das mulheres.

INTRODUÇÃO

Deus chama as mulheres ao ministério. Seu serviço precisa do trabalho delas, e Ele é
honrado quando elas devotam seus talentos para ministrar às necessidades de outros em Seu
nome. Elas são parte essencial das forças espirituais que Jesus Cristo implementou no mundo
para conquistá-lo para Si.

Tanto na igreja do primeiro século quanto no início do movimento adventista, as


mulheres foram importantes para o funcionamento e o crescimento da igreja. As mulheres
crentes foram chamadas para ocupar papéis significativos no ministério de Jesus: aprender
lições dEle (Lucas 10:39), prover recursos financeiros para o avanço de Seu ministério
(Lucas 8:3) e prover encorajamento moral durante a crucial última semana (João 12:1-8) e,
não menos importante, pela sua determinada presença aos pés da cruz (Marcos 15:40, 41;
João 19:25). Elas também foram Suas testemunhas antes e depois da ressurreição (Lucas 8:1,
2; 24:9, 10). Jesus pediu a Maria Madalena para levar as novas aos outros discípulos (João
20:15-18) e, juntamente com outras mulheres que foram à tumba, ela estava entre as
primeiras testemunhas de Sua ressurreição (Lucas 24:2-10). Apesar das sensibilidades
culturais judaicas, Jesus convidou as mulheres para cumprir essas importantes tarefas.

A Bíblia menciona, pelo nome, outras mulheres que trabalharam nas igrejas locais:
Priscila (At 18:1, 18, 26; 1Co 16:9; Rm 16:3), Febe (Rm 16:1; cf. 15:25-32) e Maria (16:6).
Junia, com Andrônico, foram “bem conhecidos pelos apóstolos” (v. 7, ESV); Trifena, Trifosa
e Pérside “trabalharam arduamente no Senhor” (v. 12).1 Porém, não há evidência clara de que
quaisquer dessas mulheres alguma vez exerceram uma função de liderança na igreja. Seus
trabalhos parecem ter sido o de apoio ao trabalho realizado pelos apóstolos e outros homens a
quem Deus chamou para liderar Sua igreja. Cada obreiro tem um papel importante a cumprir,

1 Salvo por indicação contrária, as citações bíblicas foram extraídas da Nova Versão Internacional.
17

mas o fato de que é Deus quem o capacita ao trabalho faz com que um indivíduo não se torne
mais importante do que o outro. A igualdade no serviço não é incompatível com a diferença
de funções; todos somos servos de Cristo e a glória pertence a Deus pelo crescimento da
igreja e pela abundante colheita final.

No movimento do advento, mulheres como Annie Smith, Ellen Lane, S. M. I. Henry e


Hetty Haskell preencheram papéis importantes na publicação e evangelismo, e muitas outras
serviram em cargos nas associações e em várias linhas de trabalho da igreja local. Ellen
White escreveu que as mulheres “são reconhecidas por Deus como necessárias à obra do
ministério.”2 “Comete-se um erro quando o fardo do trabalho é deixado inteiramente sobre os
ministros.”3 Ela explicou que as mulheres “podem fazer em famílias uma obra que os homens
não podem fazer, obra que alcança o íntimo da vida. Podem aproximar-se do coração
daqueles a quem os homens não podem alcançar.”4 “Pelo exercício do tato feminino e um
sábio emprego de seu conhecimento da verdade bíblica, elas podem remover dificuldades que
nossos irmãos não podem abordar.”5 Ainda, ela advogou que as mulheres que dedicam tempo
integral e talentos no ministério devem ser pagas a partir do dízimo.6 É claro, então, que Ellen
White considerou a participação das mulheres na obra do evangelho não meramente como
uma opção, mas como um mandato divino, cuja negligência resultaria na diminuição da
eficiência ministerial,7 em menos conversões,8 e em “grande perda” à causa,9 comparado com
a frutificação dos dons combinados de homens e mulheres no ministério.

Este documento enaltece o direito e o dever das mulheres de servirem ativa e


plenamente a Deus em vários tipos de ministério, em harmonia com a orientação bíblica para
a liderança da igreja. Essas diretrizes não devem ser postas de lado ou ignoradas. Estamos
convencidos de que podemos permanecer unidos, como igreja mundial, somente se
permanecermos fiéis à posição bíblica de longa data da Igreja.10 Falando de forma simples,
embora a Bíblia e os escritos de Ellen G. White incentivem a participação das mulheres na
obra da igreja, em nenhuma dessas fontes há qualquer apoio claro para a ordenação das
mulheres ao ministério do evangelho. Cremos que a Bíblia é normativa para todas as partes
do mundo; assim sendo, não podemos apoiar os apelos culturais das várias divisões mundiais.
Embora os que mantêm outras posições tenham apresentado argumentos aparentemente
plausíveis, não vemos esses argumentos como bem fundamentados biblicamente. Este
documento explica nossa posição e resume por que não podemos aceitar os argumentos dos
nossos amigos cuja posição é diferente.

2 OE 452.
3 FD 86.
4 BS 145.
5 Ev, 491
6 OE 452-453; Ev 492.
7 Ev 491.
8 Ibidem, 472.
9 Ibidem, 493.
10 “Não há nada que mostre que os primeiros adventistas discutiram o direito de as mulheres batizarem, ministrarem as ordenanças,
organizarem igrejas locais – nenhuma evidência de qualquer compromisso para com a ordenação.” David Trim, “The Ordination of Women in
Seventh-day Adventist Policy and Practice, up to 1972,” 7, http://www.adventistarchives.org/the-ordination-of-women-in-seventh-day-adventist-
policy-and-practice.pdf.
18

TRÊS MOTIVOS PARA A NOSSA POSIÇÃO

Há três motivos vitais para a posição que mantemos. Primeiro, a Bíblia parece ser
bem clara na questão da ordenação das mulheres. Segundo, cremos que deveríamos seguir
tendo a Bíblia como nossa autoridade suprema em todas as questões da fé e da prática.
Terceiro, se formos influenciados pela cultura e nos afastarmos de um fundamento bíblico
para nossa prática nesta área, teremos a tendência de nos afastarmos da Escritura em outras
áreas.

A BÍBLIA CLARAMENTE DIZ QUE O ANCIÃO DEVE SER “MARIDO DE UMA SÓ


MULHER” (1TM 3:2; TT 1:6)

Essa instrução foi dada em dois ambientes diferentes, então não pode ser apenas a
resposta para um problema local que não se aplica a outras partes. Antes, é a instrução para a
igreja como um todo e para todos os tempos (1Tm 3:15). Ainda, em 1 Timóteo, essa
especificação ocorre apenas cinco versos depois da instrução de impedir as mulheres de certa
autoridade de ensino na igreja (1Tm 2:12). Visto que o líder da igreja descrito em 3:2
também deve ser “capaz de ensinar”, a proibição e o requerimento parecem estar
relacionados. Paulo restringe a liderança das mulheres na igreja com base na prioridade de
Adão na Criação, bem como os respectivos papéis de Adão e Eva antes e depois da Queda
(2:13, 14). O fundamentar sua instrução nos primeiros capítulos de Gênesis indica que a
questão se relaciona ao plano original de Deus para os seres humanos e não apenas à Sua
resposta ao problema do pecado. Há algo fundamental aqui que não devemos rejeitar ou
ignorar.

A IGREJA ADVENTISTA DO SÉTIMO DIA DEVE SEGUIR FUNDAMENTADA NA BÍBLIA


EM TODAS AS QUESTÕES DE FÉ E PRÁTICA

Embora o ímpeto de mudar a prática de nossa Igreja possa parecer ter surgido no final
dos anos 40 ou por aí, na verdade, ele remonta às mudanças sociais na América que iniciaram
na metade do século 19 – mudanças que levaram muitas igrejas protestantes a começar a
ordenar mulheres ao ministério durante esse período.11 Essa campanha foi decididamente
rejeitada pelo movimento do advento.12 Nossa igreja, pela primeira vez, se ocupou da questão
da ordenação das mulheres na Assembleia da Associação Geral em 1881, mas se recusou a

11 O movimento dos direitos das mulheres, na América, normalmente, é reconhecido por uma conferência realizada no Condado de Seneca,
Nova Iorque, em 1848. Uma de suas resoluções apelava para mulheres no clero. A primeira mulher ordenada conhecida na América foi Antoinett
Louisa Brown, ordenada ao ministério congregacional, em 1853, e muitas outras se seguiram em muitas denominações (uma lista parcial: 1853,
Primeira Igreja Congregacional; 1863, Igreja Metodista Wesleyana; 1865, Exército da Salvação; 1888, Discípulos da Igreja de Cristo; 1895,
Convenção Nacional Batista). Embora os documentos de nossa igreja tenham discutido o papel das mulheres no culto, apoiando o direito de as
mulheres falarem e participarem no culto, nenhum artigo, durante a vida de Ellen White, advogou a ordenação das mulheres como anciãs ou
pastoras. Alguns artigos, explicitamente rejeitaram que as mulheres ocupassem essas funções. Nossos pioneiros reconheceram que agir assim
não era bíblico (ver, ex., D. T. Bourdeau, “Spiritual Gifts,” RH 21/1, 2 de dezembro de 1862: 6; [J. H. Waggoner,] SOT 4/48, 19 de dezembro de
1878: 380). Nos anos recentes, porém, alguns adventistas assumiram posições alinhadas com o que muitas outras igrejas fizeram. A Igreja
Adventista deve agora decidir se essa é, de fato, uma nova luz que deve ser seguida.
12 “O parecer de que nenhuma mulher foi ordenada com a sanção da denominação organizada vai contra a tendência de muita da historiografia
recente sobre a ordenação das mulheres na história adventista, a qual é escrita por proponentes da ordenação das mulheres ao ministério
evangélico. O volume completo pode parecer impressivo. Porém, esse corpo de erudição, na verdade, não prova seu caso devido à má
interpretação do que os primeiros adventistas apoiaram quanto ao envolvimento das mulheres na igreja.” David Trim, “The Ordination of
Women,” apresentado na segunda seção do TOSC, p. 4, http://www.adventistarchives.org/the-ordination-of-women-in-seventh-day-adventist-
policy-and-practice. pdf.
19

fazer uma mudança. Isso não significou que as mulheres adventistas do sétimo dia não
tivessem parte na obra do evangelho. Antes de 1881, bem como depois, as mulheres
adventistas estavam trabalhando ativamente para Deus em áreas como evangelismo, obra
médico-missionária e ministério da beneficência social. Alegre e entusiasticamente elas
atuaram nessas funções sem serem ordenadas.

Na sociedade ocidental hoje, alguns em nossas fileiras, novamente, sentem a pressão


para estar em sintonia com a cultura circundante. Devemos falar de forma significativa para a
cultura que nos cerca, mas deveria isso nos levar a desconsiderar os princípios bíblicos e o
claro ensinamento da Escritura sobre a liderança da igreja? Cremos que essa mudança teria
sérias implicações para nossa unidade como igreja. Poderia também ter sérias consequências
para nossa ação evangelística, como cristãos que creem na Bíblia e que aceitam a Palavra de
Deus “como a regra infalível de fé e prática”.13

PERMITIR MÉTODOS CONCORRENTES PARA A INTERPRETAÇÃO DA ESCRITURA


TRAZ MAIOR DESUNIÃO

Geralmente, os Adventistas do Sétimo Dia usam o método histórico-gramatical de


interpretação. Em 1986, o Concílio Anual dos Adventistas do Sétimo Dia, no Rio de Janeiro,
aprovou o documento dos Métodos de Estudo da Bíblia (MBS [sigla em inglês]) que
apresenta os componentes do método histórico-gramatical. Ele afirma que o estudante deve
“buscar captar o significado simples e mais óbvio da passagem bíblica que está sendo
estudada” (4c). Ademais, recomenda, “Reconhecer que a Bíblia é sua própria intérprete e que
o significado das palavras, textos e passagens é mais bem determinado ao, diligentemente,
comparar verso com verso” (4e). Os princípios do método histórico-gramatical, como se
encontra no MBS não são novos; eles foram usados pelos protestantes, desde os dias da
Reforma.14

Recentemente, o NAD Theology of Ordination Report [Relatório da Teologia da


Ordenação da Divisão Norte Americana] apresentou um novo método de interpretação da
Bíblia que é descrito como um método “baseado em princípios, contextual, linguístico e
histórico-cultural” ou, abreviando, uma “leitura” da Escritura “baseada em princípios”.15 Um
dos princípios sobre os quais esse método se baseia é da “completa confiabilidade e
integridade da Bíblia em termos de sua mensagem salvífica...”

Ademais, o relatório afirma: “Uma estratégia de leitura clara e literal seria suficiente
para compreender a maior parte da Bíblia. Não obstante, a comissão crê que há ocasiões
quando deveríamos empregar a leitura baseada em princípios, porque a passagem requer uma
compreensão do contexto histórico e contextual.”16 De acordo com o MBS, sempre que
interpretamos ou fazemos exegese de um texto, devemos levar em consideração o contexto e

13 Ellen G. White, “The Faith that Will Stand the Test,” Review and Herald, 10 de janeiro de 1888, par. 11.
14 Esta seção foi adaptada de Gerhard Pfandl, “Evaluation of Egalitarian Papers” (apresentado na Comissão de Estudo da Teologia da
Ordenação, 22-24 de julho de 2013), 10-11, http://www.adventistarchives.org/evaluation-of-egalitarian-papers.pdf.
15 Ver Theology of Ordination Study Committee Report (Silver Spring, MD: North American Division of Seventh-day Adventists, 2013), 8; ver
também Kyoshin Ahn, “Hermeneutics and the Ordination of Women,” in NADTOSC Report, 25.7
16 Ibidem.
20

as circunstâncias históricas. Os adventistas, geralmente, usam esse método quando


interpretam a Escritura. Então, por que há necessidade de um novo método? As diferenças
entre os dois métodos são duplas. Contrastando o método gramatical-histórico, a “leitura” da
Escritura “baseada em princípios” vê a Bíblia como confiável e íntegra apenas nas questões
da salvação e há forte ênfase na Escritura como culturalmente condicionada. Com respeito à
ordenação das mulheres, com a ajuda do método da “leitura baseada em princípios”, todos os
textos usados para apoiar a visão de longa data da igreja são interpretados para permitir a
ordenação das mulheres como anciãs e pastoras/ministras.17 Em outras palavras, a “leitura
baseada em princípios” ajuda a promover o esforço para a ordenação das mulheres. Porém,
ela o faz ao custo da reinterpretação da Escritura em harmonia com as preferências culturais
modernas, o que levanta a questão do relacionar a Bíblia à cultura.

RELACIONAR A BÍBLIA À CULTURA

Com respeito às questões culturais, a Bíblia em si nos provê a chave quanto a como
lidar com elas. Por exemplo, embora alguns cristãos evangélicos classifiquem o sábado como
uma instituição temporária cultural, Gênesis 2:1-3 e Êxodo 20:11 mostram que ele se
originou como parte do plano perfeito de Deus para a humanidade e, portanto, se aplica a
todas as culturas e a todos os tempos. A circuncisão iniciou com a ordem de Deus a Abraão.
Assim como a presença do templo, ela não era uma garantia do favor de Deus sem um devido
relacionamento de aliança (Jr 4:4; cf. 21:10-12; 22:5). Na verdade, chegaria o tempo em que
Deus trataria os circuncisos como os incircuncisos (Jr 9:25; cf. 1Co 7:18, 19). O Novo
Testamento ensina que o batismo (Jo 3:3-8; Cl 2:11-13) representa a realidade simbolizada
pela circuncisão (Dt 30:6; 10:6) – uma mudança de coração e o dom do Espírito Santo (At
15:7-11; Rm 2:28, 29). Diferentemente da circuncisão, o batismo é para ambos os gêneros.
Ele simboliza o crente sendo lavado do pecado, identificando-se com a morte e a ressurreição
de Jesus Cristo e aceitando-O como Salvador (Rm 6). Além disso, a ordem para batizar é
dada em um ambiente universal (“todas as nações”, Mt 28:19), indicando sua aplicabilidade
mundial ao longo da história. Por contraste, a circuncisão era o sinal de identidade judaica.
Em acréscimo, instituições como a escravidão e a poligamia, embora toleradas na Escritura,
nunca foram ordenadas. Em vez disso, com base nos princípios bíblicos, essas práticas foram,
posteriormente rejeitadas pela igreja.

PRINCÍPIOS DE INTERPRETAÇÃO BÍBLICA

A “BÍBLIA E A BÍBLIA SOMENTE” COMO NORMA DE INTERPRETAÇÃO

Desde o início, os adventistas do sétimo dia mantiveram o lema: “a Bíblia e a Bíblia


somente”. Na interpretação da Escritura, estamos em harmonia com os reformadores
protestantes que consideravam a Bíblia como a autoridade final na doutrina e na prática. A
Bíblia diz que “Toda a Escritura é inspirada por Deus e útil para o ensino, para a repreensão,

17 Ibidem 8.
21

para a correção e para a instrução na justiça, para que o homem de Deus seja apto e
plenamente preparado para toda boa obra” (2Tm 3:16-17).

Ellen G. White afirma que “A Bíblia deve ser nosso padrão para toda doutrina [...] É a
Palavra do Deus vivo que deve decidir todas as controvérsias.”18 Visto que a Bíblia é o
padrão para cada prática, isso não nos deixa espaço para perguntar quem deve ser ordenado
para as funções de liderança bíblica e se as mulheres se qualificam para os ofícios de anciã e
ministra.
A BÍBLIA FOI ESCRITA PARA TODOS. Ao estudar a questão da ordenação, é
importante conhecer o propósito e a audiência da Bíblia. Ellen White escreve: “A Bíblia foi
dada para fins práticos.”19 Ela “foi escrita para as pessoas simples, bem como para as eruditas
e é acessível à compreensão de todos.”20 A Bíblia “destina-se ao povo comum; e a
interpretação que lhe dá o povo comum, quando auxiliado pelo Espírito Santo, harmoniza-se
melhor com a verdade como é em Jesus.”21

Certamente, o assunto em questão, referente à liderança na igreja e a ordenação para


ela, está incluído nessas declarações. O sacerdócio de todos os crentes, mencionado por Pedro
(1Pe 2:9), implica pleno acesso à Bíblia por todos os crentes e uma capacidade orientada pelo
Espírito para compreendê-la.

DEVEMOS ACEITAR A BÍBLIA TAL COMO ELA É. Quando os oponentes discutiam com
Jesus, Ele os questionava a respeito das Escrituras: “‘O que está escrito na Lei?’, respondeu
Jesus. ‘Como você a lê?’” (Lucas 10:26). Jesus destacou que a forma de lermos as Escrituras
é importante para a compreensão de suas verdades. Ellen White expressa pensamentos
similares, mostrando como determinar se devemos tomar a palavra, texto ou passagem
literalmente ou simbolicamente. “A linguagem da Bíblia deve ser explicada de acordo com o
seu óbvio sentido, a menos que seja empregado um símbolo ou figura”. 22 O MBS diz:
“Buscar captar o significado simples e mais óbvio da passagem que está sendo estudada”.23

INTERPRETAÇÃO E AS TRÊS MENSAGENS ANGÉLICAS

Os adventistas interpretam a Bíblia pautados por sua compreensão das três mensagens
angélicas de Apocalipse 14:6-12. Em 1844, as igrejas protestantes na Américas rejeitaram a
mensagem do primeiro anjo com sua advertência para se prepararem para o Segundo
Advento. Como resultado dessa rejeição, Jesus direcionou os adventistas para a mensagem do
segundo anjo e deixou-os saber que Babilônia havia caído, indicando que a queda moral das
igrejas não adventistas tinha se tornado uma realidade.2424 Desde 1844, quando as igrejas
rejeitaram a verdade presente, houve um aumento do método crítico-histórico do estudo da

18 CT 365.
19 ME1 20.
20 RH, 27 janeiro de 1885; CES 23
21 T5 331.
22 GC 599.
23 MBS, seção 4c9.
24 PE 235, 237-240, 247; GC 381, 388-390.
22

Bíblia entre os cristãos. Por conseguinte, essas igrejas caídas se afastaram, progressivamente,
mais e mais da Palavra de Deus.25
Uma área desse afastamento envolve uma campanha que surgiu para as mulheres no
clero, na América, como parte do movimento maior dos direitos da mulher, iniciado em 1848,
que já mencionamos. Esses fatos históricos, bem como o conselho de Ellen White acima
mencionado devem ser uma advertência aos adventistas quanto a serem muito cautelosos para
adotar ensinos e práticas de fontes não bíblicas. Ellen White adverte: “Satanás usará todas as
vantagens que puder obter para causar perplexidade e obscurecimento às pessoas em relação
[1] ao trabalho da igreja, [2] à obra de Deus e [3] às palavras de advertência que têm sido
dadas através dos testemunhos do Seu Espírito, para proteger Seu pequeno rebanho das
sutilezas do inimigo.”26 A questão da ordenação da mulher afeta todas essas três áreas, pondo
em perigo a missão da igreja remanescente. A gravidade dessa questão é ilustrada pelo fato
de que todos os lados da questão reivindicam o apoio da Bíblia e dos escritos de Ellen G.
White para seus pontos de vista. Essa alegação de igual validade tem o efeito neutralizador
dessas fontes divinamente inspiradas, levando-nos a pensar que não podemos buscá-las como
solução. Não obstante, como Ellen White nos lembra, a Palavra de Deus “deve decidir todas
as controvérsias”.27

APLICAÇÃO DOS PRINCÍPIOS DA INTERPRETAÇÃO


BÍBLICA DOS TEXTOS-CHAVE

INTERPRETAÇÃO DE 1 TIMÓTEO 2 E 3

No âmago do debate da ordenação, encontra-se o conselho de Paulo específico quanto


ao gênero em 1 Timóteo 2-3. O apóstolo decisivamente afirma o propósito por trás de seu
conselho: “Escrevo-lhe estas coisas... para que saiba como as pessoas devem [grego dei]
comportar-se na casa de Deus, que é a igreja do Deus vivo, coluna e fundamento da verdade”
(1 Timóteo 3:14-15).

1 TIMÓTEO 2.
Paulo inicia 1 Timóteo 2 indicando que a oração deve ser oferecida por
todas as pessoas. Ele apresenta vários motivos: Deus é o Salvador de todos; Ele deseja que
todas as pessoas sejam salvas; e Cristo Se entregou como resgate de todos (2:1-6; 4:10). Essa
linguagem inclusiva de gênero mostra que em outras partes, quando Paulo discute os
respectivos papéis de homens e mulheres, seu uso dos termos específicos de gênero “homem”
(anēr) e “mulher” (gynē) é deliberado. Os homens devem liderar a oração e o culto (1Tm
2:8); as mulheres devem se submeter à providência de Deus, segundo a qual não devem estar
acima dos homens como autoridade de ensino na igreja (1Tm 2:11, 12). Essas instruções se
destinam a promover a harmonia no culto ao seguirem a ordem de Deus para a igreja.
A estrutura de 1 Timóteo 2 e 3 inclui claramente seções específicas quanto à questão
de gênero: homens (2:8), mulheres (2:9-15), anciãos (3:1-7), diáconos (3:8-10), mulheres
(3:11), diáconos (3:12, 13). A ordem de Paulo em 2:11 é específica de gênero: “A mulher

25 Ibidem, 273, 274; GC 389.


26 Manuscrito 72, p. 6; LC 95. Itálico e colchetes numerados acrescentados.
27 1888 45.10.
23

deve aprender em silêncio, com toda a sujeição”. Em Atos 22:2 e 2 Tessalonicenses 3:12,
“silêncio” ou “tranquilidade” enfatiza o respeito e a humilde busca de paz e harmonia no
relacionamento. Aqui e em outras partes nos escritos de Paulo (1Co 14:34; Ef 5:21; Cl 3:18;
Tt 2:5), a “sujeição” sensivelmente governa as relações entre homens e mulheres. No
contexto, ela sempre ocorre na estrutura da autoridade divina e na submissão a Deus; não se
refere à submissão abusiva de todas as mulheres a todos os homens.
Paulo então expande sua ordem: “Não permito que a mulher ensine, nem que tenha
autoridade sobre o homem. Esteja, porém, em silêncio” (1Tm 2:12). Em vez de prover
instrução apenas para uma suposta situação local isolada (em Efésios, onde Timóteo estava
trabalhando), as palavras de Paulo (“Não permito”) revelam a natureza universal da ordem do
apóstolo. Essa proibição contra as mulheres ensinarem não tinha por alvo falsos ensinos,
como em 1 Timóteo 6:3, que usa o termo específico heterodidaskaleō, “ensinar algo
diferente”. Nas cartas de Paulo, o ensino significa instrução positiva (1Tm 3:2; 4:11; 6:2;
2Tm 2:2). Paulo não está requerendo o silêncio total. As mulheres podem orar e profetizar
(1Co 11:5) e engajar-se no ministério pessoal muito necessário (ex.: Áquila e Priscila, At
18:26). Elas também são encorajadas a criar filhos religiosos (1Tm 5:10, 14), e as mulheres
idosas devem instruir as jovens (Tt 2:3-5).
Visto que a frase grega traduzida como “tenha autoridade sobre o homem” (1Tm
2:12) é usada apenas uma vez na Bíblia, não pode ser definida ao se examinar as ocorrências
em outras partes. Mas o contexto imediato deixa claro seu significado:

ENSINO E APRENDIZAGEM SUBMISSÃO E AUTORIDADE


“A mulher deve aprender em silêncio, com toda a sujeição.”
“Não permito que a mulher ensine, nem que tenha autoridade sobre o
homem.
Esteja, porém, em silêncio.”

Ao colocar a proibição de ensinar e exercer autoridade sobre um homem entre as duas


admoestações de silêncio claramente põe essas frases em relação uma com a outra. Aprender
e não ensinar são contrapartes paralelas, como são a “submissão” e não ter “autoridade”. O
complemento lógico do aprendizado das mulheres é o ensino dos homens e,
consequentemente, o complemento da submissão ao plano de Deus para a ordem da igreja é
que as mulheres não tenham autoridade sobre o homem ao ocupar o ofício de ancião.
Aqui e em outras partes nos escritos de Paulo (1Co 14:34; Ef 5:21; Cl 3:18; Tt 2:5), a
“submissão” rege as relações homem-mulher, não apenas no lar, mas também na igreja, que é
a “família de Deus” (1Tm 3:15). Essa submissão deve ser sempre entendida na estrutura da
autoridade divina e submissão a Deus; ela não se refere à subordinação abusiva de todas as
mulheres a todos os homens. Em vez de prover instrução apenas para uma suposta situação
local isolada (em Efésios, onde Timóteo estava trabalhando), a frase de Paulo (“não
permito”) revela sua aplicação universal.

Não tem como objetivo o falso ensino, como em 1 Timóteo 6:3, que usa o termo
específico heterodidaskaleō, “ensinar algo diferente”. Nas cartas de Paulo, o ensino significa
24

instrução positiva (1Tm 3:2; 4:11; 6:2; 2Tm 2:2). Ele indica que as mulheres podem orar e
profetizar (1Co 11:5) e se envolver no ministério pessoal muito necessário (ex.: Áquila e
Priscila, At 18:26). Assim, elas não são proibidas de toda forma de ensino.28
Paulo fundamenta os pontos-chave de sua instrução na informação de Gênesis 2 e 3,
apresentando dois motivos para a liderança dos homens na igreja:

1. A ordem da criação: “Porque primeiro foi formado Adão, e depois Eva” (1Tm
2:13). Ao ir para Gênesis 1 e 2, Paulo baseia seu argumento no princípio universal da
criação, não na cultura ou na preocupação com a missão. Embora ambos, homem e
mulher, tenham sido criados à imagem de Deus e, portanto, sejam iguais em natureza
(Gn 1:26, 27), Adão foi criado primeiro (Gn 2:7, 18-24). A mulher foi levada ao
homem (Gn 2:22) e, subsequentemente, é o homem quem deve iniciar a entidade de
uma nova família (Gn 2:24). Deus apresenta Eva a Adão como auxiliadora, e não a
ordem inversa (Gn 2:18). As dinâmicas da criação designadas por Deus traçam as
distinções entre o homem e a mulher e, de acordo com essas distinções, a diferença de
papéis.29 A igualdade da pessoa nunca esteve em questão, nem tampouco o homem
recebeu licença para abusar de sua autoridade.

2. A natureza do engano: “E Adão não foi enganado, mas sim a mulher, que,
tendo sido enganada, tornou-se transgressora” (1Tm 2:14). Gênesis 3, ao relatar a
triste história da Queda, descreve a derrocada da liderança altruísta masculina: a
serpente fala à mulher como se ela fosse a cabeça e representante da família; a mulher
aceita o papel acordado pela serpente.30 Significativamente, foi um questionamento da
palavra de Deus – “Foi isto mesmo que Deus disse.” (Gn 3:1) – que a levou a ser
enganada. A atividade e iniciativa do homem foram o foco em Gênesis 2, mas agora,
no capítulo 3, a mulher assume a iniciativa. Ela toma uma decisão, pega o fruto
proibido, come-o e o dá a Adão (v. 6). Resumindo, há uma total inversão do princípio
de liderança com base na ordem da criação. O homem come o fruto em segundo
lugar, seguindo a iniciativa e exemplo da mulher. Paulo destaca os respectivos papéis
de homens e mulheres estabelecidos na criação e as consequências decorrentes da
inversão desse papel de liderança como o fundamento da Escritura para preservar a
autoridade de ensino do homem na igreja.

Significativamente, Paulo coloca a responsabilidade pela queda da humanidade sobre


Adão, e não sobre Eva (Rm 5:12-19; 1Co 15:22), confirmando novamente o papel de
liderança de Adão. Vários fatos de Gênesis já apresentam este ponto: a noção da nudez ocorre
ao par somente depois que o homem come o fruto; Deus busca Adão (“Onde está você?”, no
hebraico de Gênesis 3:9, refere-se apenas ao homem); e Deus considera o homem
primeiramente responsável, como Suas perguntas deixam claro (v. 10, 11). O papel de Adão,
como o cabeça do primeiro lar e líder espiritual da família humana, é reafirmado depois da
Queda (Gn 3:16). Mesmo depois da cruz, essas estipulações específicas de gênero

28 Elas também são encorajadas a criarem filhos religiosos (1Tm 5:10, 14), e as mulheres idosas devem instruir as jovens (Tt 2:3-5).
29 T6 236: “Abaixo de Deus, deveria Adão desempenhar o papel de cabeça da família humana”.
30 Cf. Con 13-14, amplificando Gênesis 3:5, inclui a questão mais profunda do poder entre as tentações: a serpente alegou que a proibição “foi
dada para mantê-los [Adão e Eva] nesse estado de subordinação a fim de que não obtivessem conhecimento, que é poder.”
25

permanecem intactas: “pois o marido é o cabeça da mulher, como também Cristo é o cabeça
da igreja, que é o seu corpo, do qual ele é o Salvador. Assim como a igreja está sujeita a
Cristo, também as mulheres estejam em tudo sujeitas a seus maridos” (Ef 5:23, 24). O fato de
que Paulo fundamenta essa instrução com relação ao homem e à mulher antes da Queda
mostra sua validade também para nós hoje.
A instrução de Paulo salvaguarda a família. No contexto da fé em Cristo e da
submissão à vontade de Deus, o homem deve exercer um importante papel como
líderespiritual do lar. Seu ensino e exemplo devem ter uma influência positiva; ele não deve
ser ditatorial, aviltante ou indulgente. É por isso que Paulo insiste que a elegibilidade do
homem para a liderança da igreja se baseie nas qualidades-chave do caráter e em sua
liderança espiritual bem-sucedida no lar (1Tm 3:2-5). Em uma época em que a cultura está
rapidamente redefinindo o gênero e desafiando exatamente a estrutura da família, a igreja
faria bem em seguir as sábias orientações da Palavra de Deus nas relações entre homens e
mulheres, bem como em todas as outras questões de fé e prática.
1 TIMÓTEO 3. Com base nessa compreensão de Gênesis, em 1 Timóteo 3, Paulo volta
à questão dos bispos. Esse era um tema importante para ele e mais especialmente para a
igreja. Em outro lugar, Paulo escreveu a Tito que ele “pusesse em ordem o que ainda faltava
e constituísse presbíteros em cada cidade, como eu o instruí” (Tito 1:5). Foram dadas
instruções detalhadas a Timóteo e a Tito quanto às qualificações do bispo, que é mordomo de
Deus (Tito 1:7).
Com respeito ao antecedente histórico dessas instruções, não há evidência na epístola
em si ou nas fontes históricas do primeiro século para crer que a situação da igreja que
Timóteo enfrentava em Éfeso era algo único ou que 1 Timóteo, principalmente, trata de um
problema na igreja local. Diferentemente de outras epístolas de Paulo, que claramente são
endereçadas a igrejas individuais e sua situação local, as epístolas a Timóteo e a Tito são
endereçadas aos ministros. Esses homens não permaneceram em um lugar para servir a uma
única congregação; Paulo esperava que eles aplicassem essas instruções a quaisquer igrejas
que fossem estabelecidas (Tito 1:5). Se quaisquer das epístolas se destinam a instruções
gerais para a igreja como um todo, são estas – especialmente em vista das orientações que
Paulo deu de que sua vida poderia em breve ser tirada (2Tm 4:6).
Ao longo da discussão sobre os oficiais da igreja em 1 Timóteo 3, Paulo usa uma
linguagem muito específica. Ele emprega termos técnicos “supervisor” (episkopos) e
“diácono” (diakonos). Ele também usa as palavras “homem” e “mulher” em seu sentido mais
específico de “marido” e “mulher”. Portanto, uma clara progressão pode ser vista em 1
Timóteo 2-3 dos termos gerais (“por todos”) em 2:1-6 a termos mais específicos (“homens” e
“mulheres”) em 2:8-15, a ainda mais específicos (“marido de uma só mulher”) em 3:2, 12 (cf.
Tito 1:6). O supervisor/bispo “deve ser” (dei . . . einai) o marido de uma só mulher porque ele
é responsável pela supervisão do ensino e da instrução na palavra (3:2; Tito 1:7).
O uso do genérico “alguém” (tis) no verso 1 não nega a especificação; antes, a
especificação de gênero “marido de uma só mulher” limita quem se qualifica. Primeiro,
Timóteo 3:1 fala de um ofício (episcopē) a ser ocupado. Os versos seguintes revelam que
apenas o homem que satisfaz qualificações especiais pode ocupar essa posição. A mulher não
satisfaz a qualificação de gênero e, assim sendo, não pode ser ordenada para o ofício de
26

presbítero ou bispo (termos que Paulo usou alternadamente em Tito 1:5-9).31 Se Paulo tivesse
a intenção de permitir que as mulheres fossem incluídas entre os bispos, ele poderia ter
especificado ambas as possibilidades, como o vemos fazendo, extensivamente, em outras
partes em termos do relacionamento de marido-mulher (1Co 7:1-16). Portanto, “marido de
uma só mulher” significa exatamente o que ele diz: que o bispo deve ser homem casado com
uma única mulher, conforme mostram 56 de 61 traduções inglesas consultadas (incluindo as
mais recentes).32 O reconhecimento desse elemento masculino por tantas equipes de
tradutores ao longo dos anos até o presente é um eloquente testemunho de que nesse ponto
Paulo é claro e inequívoco. Apenas quatro traduções, pretendendo a neutralidade de gênero,
se afastam do significado amplamente aceito e estabelecido da frase “marido de uma
mulher”.
As qualificações dadas para o ancião em 1 Timóteo 3:2-5 se concentram no tipo de
pessoa que ele é em casa, na igreja e na sociedade. Paulo destaca que somente aqueles que
satisfazem as qualificações que ele expõe devem liderar a igreja de Deus. Essas qualificações
são as de que um líder da igreja, especificamente um presbítero ou bispo, deve ser um marido
fiel de uma só mulher que dá evidência de liderança bem-sucedida em sua família, o que o
qualifica para cumprir o cargo de liderança na “casa de Deus”, a igreja (1Tm 3:15), que é
formada por muitas famílias. Ainda, ele deve ser irrepreensível, temperante, sóbrio, de bom
comportamento, hospitaleiro, apto para ensinar, exortar e convencer pela sólida doutrina
aqueles que contradizem, e ter boa reputação entre os de fora, entre outras qualificações
apresentadas (1Tm 3:1-7; Tt 1:5-7). É óbvio que nem todos se qualificam para o sagrado
chamado de liderança de uma congregação da igreja, mas somente homens que têm registro
comprovado de liderança bem-sucedida no lar e que têm um elevado compromisso espiritual
e um estilo de vida moral e religioso. A adequação de um homem para a liderança na igreja
se baseia em quão bem ele tem administrado seu lar. A menção dos filhos, no final do verso 4
(“tendo os filhos sujeitos a ele, com toda a dignidade”) diz à igreja onde buscar evidência
para apoiar a qualificação na primeira metade do verso (“Ele deve governar bem sua própria
família”). Isso é importante porque “se alguém não sabe governar sua própria família, como
poderá cuidar da igreja de Deus?” (v. 5).
É verdade que vivemos em um mundo em nada ideal. Isso nos leva a eleger anciãos
que talvez não satisfaçam o ideal das qualificações bíblicas. Alguns são menos “temperantes”
que outros; alguns se envolvem mais ou menos em “bom comportamento”; alguns são mais
ou menos “hospitaleiros”; etc. Essas qualificações são avaliadas em graus. Onde estão
envolvidos graus, não nos é seguro traçar linhas arbitrárias quando a Escritura não nos deu
orientação. Mas isso não se refere ao requerimento fundamental de gênero. Os homens não
são mais ou menos masculinos. O gênero não é medido em graus. É um requerimento claro e
sem ambiguidade que não nos deixa espaço para conclusões errôneas ou má interpretação.
IMPLICAÇÕES. Embora 1 Timóteo 3:2 exclua as mulheres do ofício de presbítero ou
bispo, nada as impede de seguir servindo à igreja em muitas funções diferentes, presumindo
que estejam dispostas a trabalhar em cooperação com a autoridade de liderança que Deus
estabeleceu para a igreja e não a minar ou questioná-la. O princípio bíblico da liderança

31 Ver Sorke, “Adam, Where Are You?” 31, 32, http://www.adventistarchives.org/adam,-where-are-you.pdf.


32 Ver Wahlen, “Is ‘Husband of One Wife’ in 1 Timothy 3:2 Gender-Specific?”, 29-30, 35-39.
27

piedosa do homem, quer no lar quer na igreja, deve ser exercido em serviço amoroso sob o
senhorio de Cristo “como convém a quem está no Senhor” (Cl 3:18).

RELACIONAMENTO DE HOMENS E MULHERES EM 1 CORÍNTIOS 11

Outro lugar onde Paulo aborda o relacionamento de homens e mulheres na igreja é em


1 Coríntios 11, onde o contexto é o de divisão e desordem na igreja. Nos capítulos anteriores,
Paulo pede aos coríntios para não serem motivo de tropeço à igreja de Deus (10:32), e cita a
si mesmo como modelo (10:33-11:1).
O verso 3 estabelece o princípio: “Quero, porém, que entendam que o cabeça de todo
homem é Cristo, e o cabeça da mulher é o homem, e o cabeça de Cristo é Deus”. Na
sequência, Paulo coloca o relacionamento de homem e mulher entre a autoridade de Cristo
sobre o homem e a autoridade de Deus (o Pai) sobre Cristo, indicando que é exatamente tão
válida como os outros dois relacionamentos de liderança. Visto que nenhum desses outros
dois relacionamentos pode ser desafiado, o relacionamento que Deus estabeleceu entre os
sexos também não pode ser desafiado. Na verdade, 1 Coríntios 15:28 mostra que a autoridade
de Deus sobre Cristo continua, mesmo na nova criação, muito além do reino do pecado.
Os versos 4 e 5 destacam que esse princípio se aplica à conduta na igreja. Os versos 7-
9 proveem a justificativa bíblica e teológica para este princípio: o homem “é imagem e glória
de Deus; mas a mulher é glória do homem. Pois o homem não se originou da mulher, mas a
mulher do homem”. Paulo está aqui destacando a ordem e o propósito na criação do homem e
da mulher, como o motivo porque o homem é o cabeça da mulher e porque a aplicação do
princípio é diferente para os homens e para as mulheres. O homem foi criado primeiro, para a
glória de Deus, enquanto a mulher foi criada em segundo lugar, para a glória do homem,
como alguém “que o auxilie e lhe corresponda” (Gn 2:18). Portanto, quando as mulheres
aparecem na presença de Deus, elas devem demonstrar sua reverência a Deus de forma
diferente: o cabeça de todo homem é Cristo, mas o cabeça da mulher é o homem e, assim
sendo, o homem não deve cobrir a cabeça, que representa Cristo, mas a mulher deve cobrir a
cabeça, como um símbolo de sua submissão à liderança e autoridade que Deus estabeleceu na
igreja. O texto não provê evidência de motivo local ou cultural para a liderança do homem.
Embora o respeito pela autoridade possa ter sido expressado de forma diferente nos dias de
Adão, em Corinto no tempo de Paulo, ou nas sociedades modernas, sempre que o princípio
for honrado se mostrará respeito para com o plano de Deus para a liderança no lar e na igreja.
O verso 10 acrescenta um fato importante para o raciocínio dos versos 7 a 9 – de que
a cabeça coberta é um símbolo de autoridade: “Por essa razão a mulher deve ter sobre a
cabeça um sinal de autoridade”. Isso esclarece qual é a questão: que a mulher age sob a
autoridade de outra pessoa. O princípio da submissão à liderança piedosa na igreja segue
sendo válido, ainda que o símbolo exterior da submissão da mulher a essa autoridade de
liderança (cobrir a cabeça) possa ser expresso de forma diferente em muitas culturas hoje.
Os versos 11 e 12 advertem contra o abuso dos privilégios da liderança, lembrando os
homens que não são independentes das mulheres, mas apenas que “assim como a mulher
proveio do homem, também o homem nasce da mulher. Mas tudo provém de Deus”. Essa
interdependência é diferente do relacionamento não recíproco da autoridade masculina, e
mostra claramente que Paulo não está limitando sua preocupação com maridos e mulheres, no
28

lar, mas fala de homens e mulheres em geral, visto que o marido não vem à existência através
da esposa, mas o homem vem à existência através de sua mãe.
Alguns capítulos depois, Paulo discute a conduta desordenada na igreja. Devido aos
que desejam debater sua instrução, ele acrescenta: “Se alguém pensa que é profeta ou
espiritual, reconheça que o que lhes estou escrevendo é mandamento do Senhor. Se ignorar
isso, ele mesmo será ignorado” (14:37, 38). Dessa forma, Paulo exclui qualquer base para
desafiar seu ensino.

GÁLATAS 3:26-29

Gálatas 3:26-29 trata do relacionamento entre Deus e Seu povo. Cada verso foca
nessa conexão: “Todos vocês são filhos de Deus mediante a fé em Cristo Jesus (v. 26). Pois
os que em Cristo foram batizados, de Cristo se revestiram (v. 27). Não há judeu nem grego,
escravo nem livre, homem nem mulher; pois todos são um em Cristo Jesus (v. 28). E, se
vocês são de Cristo, são descendência de Abraão e herdeiros segundo a promessa (v. 29).” 33
Paulo não escreve que em Cristo “o homem não mais é o cabeça da mulher” ou que
“homens e mulheres podem agora servir como bispos/presbíteros na igreja”. Essas
declarações estariam em conflito com seu próprio testemunho em 1 Coríntios 11:3; Efésios
5:22-33; 1 Timóteo 3:1-7 e Tito 1:5-9. A questão de Paulo é clara: a etnia, as circunstâncias
econômicas e o gênero não concedem a alguém um status privilegiado sobre os demais diante
de Deus.
Ademais, a cruz não apagou as distinções funcionais estabelecidas por Deus antes do
pecado. O homem ainda deve cumprir o papel de pai e marido, e a mulher, o papel de mãe. A
esposa ainda deve se submeter à liderança amorosa de seu marido “no Senhor”, e os maridos
ainda devem amar as esposas (Ef 5:22-25). Não há alusão em Gálatas 3:28 ou em seu
contexto indicando que Paulo estava tratando dos papéis no lar ou na igreja.
O contexto de Gálatas 3 indica que Paulo estava tratando das questões da justificação,
do batismo em Cristo e do recebimento do Espírito no início da vida cristã, não dos ofícios ou
posições de liderança na igreja. Se desejarmos saber o que Paulo tinha a dizer a respeito das
qualificações para as funções de liderança da igreja, devemos ir aos lugares onde ele trata
dessas questões específicas nas epístolas pastorais de Primeira Timóteo e Tito.
As passagens do Novo Testamento sobre liderança e as relações homem-mulher na
igreja, consistentemente, indicam um plano apontado por Deus para que homens qualificados
liderem a igreja. Como Ellen White afirma: “As Escrituras são claras sobre as relações e
direitos de homens e mulheres”.34

IGUALDADE E DIFERENÇA ENTRE HOMEM-MULHER EM GÊNESIS 1 A 3

Como vimos, Paulo estabelece sua compreensão de liderança no lar e na igreja com
base nos primeiros capítulos de Gênesis. Sua interpretação revela uma compreensão inspirada
quanto ao significado dessas passagens. No reino de Deus, os relacionamentos entre os seres

33 Ênfase acrescentada.
34 T1 421.
29

humanos se destinam a refletir os relacionamentos entre a Divindade e entre os anjos, que são
caracterizados por igualdade, bem como por diferenças funcionais.35

Igualdade entre Homem-Mulher em Gênesis 1 e 2. Os primeiros capítulos da


Bíblia apresentam o propósito divino para os relacionamentos entre homens e mulheres. O
primeiro capítulo do livro de Gênesis revela que ambos - homem e mulher - foram criados à
imagem de Deus. O registro da Escritura afirma: “Então disse Deus: ‘Façamos o homem à
nossa imagem, conforme a nossa semelhança.’ […] Criou Deus o homem à sua imagem, à
imagem de Deus o criou; homem e mulher os criou” (Gn 1:26, 27). Foi-lhes ordenado ser
frutíferos e se multiplicar, povoar a terra e dominá-la, e exercer domínio sobre todas as coisas
vivas (Gn 1:26-28).
Este capítulo mostra que tanto o homem quanto a mulher têm igualdade básica de
natureza, essência ou ser, porque ambos foram criados à imagem de Deus. Essa visão está em
harmonia com o ensino claro do apóstolo Paulo com respeito ao valor igual de homens e
mulheres como herdeiros da salvação (Gl 3:26-29).36
Gênesis 2 se baseia em Gênesis 1, revelando relacionamento entre homens e mulheres
piedosos, derivado da forma pela qual Deus criou primeiro o homem e então criou a mulher
do homem. “Então o Senhor Deus fez o homem cair em profundo sono e, enquanto este
dormia, tirou-lhe uma das costelas, fechando o lugar com carne. Com a costela que havia
tirado do homem, o Senhor Deus fez uma mulher e a trouxe a ele. Disse então o homem:
‘Esta, sim, é osso dos meus ossos e carne da minha carne! Ela será chamada mulher, porque
do homem foi tirada’” (Gn 2:21-23). Ellen White comenta esse evento:
“O próprio Deus deu a Adão uma companheira. Proveu-lhe uma “adjutora” —
ajudadora esta que lhe correspondesse — a qual estava em condições de ser sua
companheira, e que poderia ser um com ele, em amor e simpatia. Eva foi criada de
uma costela tirada do lado de Adão, significando que não o deveria dominar, como a
cabeça, nem ser pisada sob os pés como se fosse inferior, mas estar a seu lado como
igual, e ser amada e protegida por ele. Como parte do homem, osso de seus ossos, e
carne de sua carne, era ela o seu segundo eu, mostrando isto a íntima união e apego
afetivo que deve existir nesta relação. ‘Porque nunca ninguém aborreceu a sua própria
carne; antes a alimenta e sustenta’. Efésios 5:29. ‘Portanto deixará o varão a seu pai e
a sua mãe, e apegar-se-á à sua mulher, e serão ambos uma carne’. Gênesis 2:24.”37

Esta declaração mostra que a mulher deve estar ao lado do homem como igual – não
ser inferior ou superior, mas igual ao homem. Ellen White, ademais, acrescenta: “O santo par
não devia ter nenhum interesse independente um do outro; e não obstante cada um possuía
individualidade de pensamento e de ação”.38

35 PE 167. Para essas diferenças funcionais, ver Jerry Moon, “Ellen White, Ordination, and Authority” (documento apresentado na Comissão de
Estudo da Teologia da Ordenação, 22-24 de julho de 2013), 3- 6, http://www.adventistarchives.org/ellen-white,-ordination,-and-authority.pdf;
Damsteegt, “Headship, Gender, and Ordination in the Writings of Ellen G. White” (documento apresentado na Comissão de Estudo da Teologia
da Ordenação, 22-24 de julho de 2013), 10-14, http://www.adventistarchives.org/headship,-gender,-and-ordination-in-the-writings-of-ellen-g.-
white.pdf.
36 Para uma exposição sobre Gálatas 2:28, ver Stephen Bohr, “A Study of 1 Peter 2:9, 10 and Galatians 3:28” (apresentado na Comissão de
Estudo da Teologia da Ordenação, 22-24 de julho de 2013), http://www.adventistarchives.org/a-study-of-i-peter-2.9,-10-and-galatians-3.28.pdf.
37 PP 18, 19.
38 T3 484.
30

A declaração acima sobre a importância da igualdade também introduz o conceito de


que Adão e Eva tinham diferenças de função. A primeira declaração de Ellen White, acima
citada, indica que mesmo no Éden, antes da Queda, sem qualquer ameaça de dano físico, uma
das tarefas de Adão era proteger sua companheira que devia “ser amada e protegida por
ele”.39 Em parte alguma há a afirmação de que Eva devia proteger Adão. Por conhecer o
futuro, Deus trouxe Eva para Adão porque ela foi criada para ele e dele. Isso indica uma
importante distinção de papéis entre o homem e a mulher.

Diferença entre Homem-Mulher em Gênesis 1 e 2. Embora Gênesis 1 indique que


Deus fez os seres humanos fisicamente diferentes, como “homem e mulher”,40 o segundo
capítulo explica em detalhes como essa criação, com diferenças funcionais, ocorreu e as
responsabilidades dadas ao homem antes da mulher ser criada. Ele descreve a formação do
homem do pó (Gn 2:7), o jardim que Deus preparou e a responsabilidade que deu ao homem
“para cuidar dele e cultivá-lo” (Gn 2:15), a ordem quanto ao que poderia ser comido (2:16), e
a advertência sobre a árvore proibida (2:17). Depois disso, Deus trouxe os animais e as aves e
deu a Adão a responsabilidade de lhes dar nome: “e o nome que o homem desse a cada ser
vivo, esse seria o seu nome” (v. 19). Como resultado, Adão descobriu sua própria
necessidade de uma companheira: “Todavia não se encontrou para o homem alguém que o
auxiliasse e lhe correspondesse” (v. 20). “Então o Senhor Deus fez o homem cair em
profundo sono e, enquanto este dormia, tirou-lhe uma das costelas, fechando o lugar com
carne. Com a costela que havia tirado do homem, o Senhor Deus fez uma mulher e a trouxe a
ele” (v. 21, 22), e deu a Adão o privilégio de também dar nome a sua companheira: “Ela será
chamada mulher, porque do homem foi tirada”, ele disse (2:23).
Com base nesse relacionamento divinamente estabelecido entre Adão e Eva, Deus
indica também que no relacionamento conjugal, o homem deve tomar a iniciativa, deixar sua
família e se unir à sua esposa (Gn 2:24). Neste momento, Eva considera Adão “seu marido”
(Gn 3:6). Ellen White interpreta o termo “marido” como querendo significar que ele é “o laço
de união da família, unindo os membros entre si, da mesma forma que Cristo é a cabeça da
igreja, e o Salvador do corpo místico”.41 Assim, a evidência interna em Gênesis, antes da
queda de Adão, revela seu papel de liderança e sua responsabilidade para com a mulher.
Que tipo de relacionamento havia entre o homem e a mulher nessa ocasião? Aqui
precisamos seguir a importante norma de interpretação ao consultar a Bíblia toda para ver se
há quaisquer outras referências indicando o relacionamento entre o homem e a mulher em
Gênesis 2 antes do pecado, porque “o Novo Testamento explica o Antigo”.42 Voltemos para 1
Coríntios 11, onde Paulo destaca que o relacionamento de Adão e Eva antes da Queda se
baseava no princípio da autoridade/liderança que já existia na Divindade. No contexto da fé,
Paulo deseja que os crentes saibam que “o cabeça de todo homem é Cristo, e o cabeça da
mulher é o homem, e o cabeça de Cristo é Deus” (1Co 11:3).
O Novo Testamento traz mais evidências sobre esses relacionamentos. Em 1 Timóteo,
referindo-se a Gênesis 2, Paulo ilustra o princípio da liderança com a criação do homem.

39 PP 19.
40 A respeito de suas diferenças físicas, Ellen White Escreve: “Eva não era tão alta quanto Adão. Sua cabeça alcançava pouco acima dos seus
ombros.” (HR 20).
41 LA 215.
42 Ev 579.
31

Com respeito à ordem na igreja, a “casa de Deus, que é a igreja do Deus vivo, coluna e
fundamento da verdade” (1Tm 3:15), Paulo escreve que ele não permite que a mulher ensine
ou “tenha autoridade [ARC, nem use de autoridade] sobre o homem” (1Tm 2:12), “Porque
primeiro foi formado Adão, e depois Eva” (1Tm 2:13).
A explanação do Novo Testamento para o relacionamento entre o homem e a mulher
antes do pecado claramente ensina que o homem recebeu a função de liderança no lar e na
igreja. Visto que a autoridade e a submissão são princípios no Céu (1Co 11:3), de igual forma
os seres humanos na Terra foram criados para refletir a imagem de Deus.
Nas seguintes declarações, Ellen White confirma o papel de Adão no Jardim do Éden:
“Sob o controle divino, Adão deveria ser o líder da família terrestre, para manter os
princípios da família celestial”.43 “Adão foi nomeado por Deus como o soberano do mundo,
sob a supervisão do Criador:”44 “O sábado foi confiado a Adão, pai e representante de toda a
família humana.”45 “Adão era senhor em seu belo domínio.”46
Embora ambos tivessem recebido o domínio da terra (Gn 1:26, 27), a liderança nesse
relacionamento foi dada a Adão. “Adão foi corado rei no Éden. A ele foi dado o domínio
sobre cada ser vivo que Deus criara. O Senhor abençoou Adão e Eva com inteligência tal que
não dera a qualquer outra criatura. Ele fez Adão o legítimo soberano sobre todas as obras de
Suas mãos.”47 Os papéis e títulos de liderança iguais de Adão e Eva são completamente
ausentes dos escritos inspirados. Somente Adão é designado como o cabeça.48
Tanto a Bíblia quanto os escritos de Ellen White apresentam Adão como exercendo o
papel de liderança em termos do relacionamento homem-mulher e mesmo em termos de seu
domínio sobre a terra antes da Queda. O que os escritos inspirados nos dizem a respeito de
seu relacionamento depois da Queda?

RELACIONAMENTO DO HOMEM E DA MULHER DEPOIS DA QUEDA EM GÊNESIS 3

Depois da Queda, o papel de autoridade de Adão se tornou ainda mais destacado. Foi
somente depois que Adão, como líder, seguiu sua esposa na senda da desobediência e do
pecado, que seus olhos foram abertos, e eles entenderam sua condição pecaminosa e a
resultante nudez (Gn 3:7). Em seguida, Deus vem e pergunta a Adão (não a Eva) como o
líder responsável (3:9-12). Então, Ele se dirige à mulher (3:13). Finalmente, Deus pronuncia
o juízo sobre cada parte, iniciando com a serpente e sua derrota final (3:14, 15). Adão
recebeu a pena de morte, que consequentemente afetou cada ser vivo (Rm 5:12). Então ele foi
expulso do Jardim, e sua esposa o seguiu.
A Queda de Adão e Eva trouxe uma mudança no relacionamento entre eles. A
punição de Deus sobre a mulher foi a dor no parto e a de que “seu desejo será para o seu
marido, e ele a dominará” (Gn 3:16). Assim como a dor entrou na experiência do parto como
resultado do pecado, assim observamos mudança na forma de funcionamento do princípio da
autoridade. Antes da Queda, havia um relacionamento harmonioso no qual Eva alegre e

43 RC 43; ver também T6 236.


44 White, “Marriage in Galilee,” BE 28 de agosto de 1899 (cf. ST 29 de abril de 1875). Ver também RH 24 de fevereiro de 1874. [Tradução livre.]
45 PP 20.
46 FE 38.
47 White, Redemption; ou a Temptation of Christ, 7; também em 1BC 1082. [Tradução livre.]
48 Ver John W. Peters, “Restoration of the Image of God: Headship and Submission” (apresentado na Comissão de Estudo da Teologia da
Ordenação, 21-25 de janeiro de 2014), 9, http://www.adventistarchives.org/restoration-of-the-image-of-god-headship-and-submission-john-
peters.pdf
32

prontamente aceitava a liderança piedosa de Adão, submetendo-se sem ressentimento ou


coação. Contudo, uma vez que seu relacionamento foi quebrado e distorcido pelo pecado, foi
necessário que Deus impusesse o papel de Adão por meio de comando. O princípio em si não
havia mudado, mas a mulher devia agora aceitar seu “domínio” sobre ela (Gn 3:16), embora
seu novo desejo decorrente do pecado fosse dominar sobre ele (note o significado similar dos
termos em íntimo paralelo alguns versos depois, em Gn 4:7).49 A mudança não foi em termos
de duas cabeças pré-Queda serem reduzidas a uma, mas de passar de uma cooperação
harmoniosa e disposta com a liderança de Adão a um relacionamento diferente que incluiria
tensão na família humana, entre os dois gêneros. Como resultado, a harmonia somente
poderia ser preservada pela submissão (agora não natural) da mulher ao homem, visto que só
pode haver uma autoridade/líder em qualquer relacionamento. Do contrário, haveria conflito
constante e aberto quanto à autoridade.
Essa autoridade no lar (bem como na família da fé) é dada por Deus, mas nunca deve
ser exigida, usada autocraticamente ou de forma abusiva. Antes, ela deve ser expressa em
cuidado amoroso da esposa, “assim como Cristo amou a igreja e entregou-se a si mesmo por
ela” (Ef 5:25). Essa é a natureza da autoridade de liderança, conforme modelada por Deus em
Cristo (1Co 11:3; Ef 5:22, 33).
Para Adão, Deus disse: “Visto que você deu ouvidos à sua mulher” e comeu da árvore
proibida, a terra será amaldiçoada e você morrerá (Gn 3:17,19). Comparando verso com
verso, notamos que o Novo Testamento também ensina que Adão, como líder, foi
responsável pela entrada do pecado na raça humana, não Eva, a despeito de haver sido a
primeira a transgredir a ordem de Deus. “Consequentemente, assim como uma só
transgressão resultou na condenação de todos os homens, assim também um só ato de justiça
resultou na justificação que traz vida a todos os homens” (Rm 5:18). Claramente, o contraste
que Paulo faz do papel de Adão com o de Cristo está fundamentado no fato de que Adão era
o líder responsável. Embora Adão tenha seguido a liderança de sua esposa em desobediência,
a Bíblia segue honrando o papel de Adão como a cabeça da raça humana e de sua família.
Nas gerações subsequentes, seguindo esse desígnio divino de autoridade, os maridos
ocuparam papéis similares de liderança. Ellen White escreve: “Nos tempos primitivos o pai
era o governador e sacerdote de sua família, e exercia autoridade sobre os filhos. [...] Os
descendentes eram ensinados a considerá-lo como seu chefe, tanto em assuntos religiosos
como seculares”.50 Abraão, representante da verdade de Deus e pai dos verdadeiros crentes,
seguiu esse padrão divino. Ellen White acrescenta: “Este sistema de governo patriarcal
Abraão esforçou-se por perpetuar, sendo que o mesmo favorecia a conservar o conhecimento
de Deus”.51 Com o Êxodo de Israel do Egito, Deus estabeleceu a nação de Israel como Seu
reino na Terra e nomeou homens para liderar Seu povo. A partir daí, somos apresentados ao
conceito de ordenação, que significa colocar homens qualificados para o serviço nos ofícios
de liderança a fim de poderem guiar o povo de Deus sob Sua direção.

ORDENAÇÃO BÍBLICA
49 Paul Ratsara e Daniel K. Bediako, “Man and Woman in Genesis 1-3: Ontological Equality and Role Differentiation” (documento apresentado
na Comissão de Estudo da Teologia da Ordenação, 22-24 de julho de 2013), http://www.adventistarchives.org/man-and-woman-in-genesis-one-
thru-three. pdf.
50 PP 93.
51 Ibidem.
33

ANTIGO TESTAMENTO

O Antigo Testamento registra ocasiões de nomeações especiais à liderança. Embora


as traduções recentes da Bíblia não usem os termos “ordenar” e “ordenação”, o conceito está
presente na Escritura. Muitos, incluindo Ellen White, usaram esse termo para se referir a
essas nomeações a cargos de autoridade entre o povo de Deus. Ainda que Moisés (e depois
Josué) desempenhou a responsabilidade principal de liderança em Israel, representando uma
combinação ímpar de papéis de liderança religiosa e civil, o ofício em Israel mais ilustrativo
para nosso entendimento da ordenação é o do sacerdócio. Ao contrário dos ofícios de
liderança civil do juiz e, depois, do rei, o sacerdote era o responsável por liderar Israel em
adoração e instrução religiosa. Portanto, o sacerdote representa o paralelo mais próximo às
funções de liderança na igreja do Novo Testamento.52 Pouco depois do Êxodo do Egito, Deus
escolheu Arão e seus filhos para conduzir os serviços religiosos do santuário. Através de uma
cerimônia especial durante a qual Moisés também foi ungido com óleo, eles foram
santificados ou separados e consagrados para ocupar o cargo de sacerdote (Êx 29:1-37; Lv 8).
Ainda, havia levitas que eram separados pela imposição das mãos (Nm 8:10) e anciãos que
cumpriam papéis um pouco inferiores como líderes religiosos.
Além desses vários papéis de liderança, o Antigo Testamento identifica várias
mulheres que foram influentes em Israel, incluindo as profetisas Miriam, Hulda e Débora
(que também julgavam53 o povo), e a rainha Ester. Embora nenhuma dessas mulheres tenha
atuado no ofício de sacerdotisa ou anciã ou tenha sido ordenada, Deus as usou poderosamente
e elas cumpriram papéis vitais em determinados períodos da história de Israel.

NOVO TESTAMENTO

O Novo Testamento menciona a separação ou ordenação de indivíduos na nomeação


dos doze apóstolos, dos sete diáconos, de Paulo e Barnabé, de Timóteo e de anciãos e
diáconos. Aqui está a origem da prática da ordenação do Novo Testamento na igreja cristã
primitiva. Os escritores do Novo Testamento usavam várias palavras gregas para a nomeação.
Algumas versões da Bíblia as traduzem como “ordenar”, enquanto outras usam palavras

52 Na Escritura, os profetas, tanto homens quanto mulheres, surgem intermitentemente, por ação de Deus, a fim de transmitir Sua palavra
inspirada ao povo. Como mensageiros do Senhor, não ocupavam um cargo como tal nem foram ordenados por mãos humanas. Deus os
chamou e enviou em determinados períodos da história de Seu povo, quando havia necessidade de orientação divina mais direta. De igual
forma, nos tempos modernos, Deus suscitou Ellen White como Sua mensageira. De acordo com o Ellen G. White Estate, embora as credenciais
ministeriais tenham sido votadas para ela pela Associação de Michigan e, posteriormente, pela Associação Geral, “jamais foi ordenada por mãos
humanas, não tendo, tampouco, realizado casamentos, organizado igrejas ou oficiado batismos” (FD 200). Ellen White, em 1911, referindo-se a
seu chamado ao serviço, escreveu o seguinte: “Na cidade de Portland, o Senhor me ordenou como Sua mensageira, e aqui meus primeiros
labores foram dedicados à causa da verdade presente” (Ibidem, 203). O White Estate acrescenta: “Ellen White recebeu sua primeira visão em
Dezembro de 1844, em Portland, Maine. Pouco depois, foi impelida pelo Senhor a contar aos outros o que vira” (Ibidem).
53 “Débora “julgava” (hebraico mishpāt) o povo, especialmente quando a procuravam pessoalmente. Quando o texto diz que ‘Débora [...] julgava
a Israel naquele tempo’ (Juízes 4:4), o verbo hebraico shāphat, ‘para julgar’, nesse contexto, não significa ‘mandar ou governar’, antes tem o
sentido de ‘decidir controvérsias, fazer distinção entre pessoas nas questões civis, políticas, domésticas e religiosas.’ Isso é evidente porque o
verso seguinte fala de como ela ‘julgava’: ela “habitava debaixo das palmeiras de Débora, [...] e os filhos de Israel subiam a ela a juízo.’ Esse não
é um retrato de liderança pública, como a de um rei ou rainha, mas um ambiente particular para estabelecer as disputas mediante arbitragem e
decisões judiciais. Se decidirmos usar isso como um exemplo para os nossos dias, podemos ver nisso justificativa para que as mulheres atuem
como conselheiras e juízas civis. Mas o texto da Escritura não diz que Débora governava sobre o povo de Deus’.” Laurel Damsteegt, “Women of
Influence” (documento apresentado na Comissão de Estudo da Teologia da Ordenação, 21-25 de janeiro de 2014), 14-15 (citado em Wayne
Grudem, Evangelical Feminism and Biblical Truth [Sisters, OR: Multnomah Publishers Inc., 2004], 133 [os itálicos são de Grudem]),
http://www.adventistarchives.org/women-of-the-old-testament.pdf.
34

diferentes, mas a ideia da ordenação, instalação de um ofício específico, permanece no texto


(ex.: Mc 3:14; Tt 1:5).54
O primeiro passo principal na organização da igreja do Novo Testamento foi a
ordenação dos doze apóstolos por Jesus, espelhando o estabelecimento da igreja do Antigo
Testamento e seu fundamento sobre doze patriarcas, os filhos de Jacó. Jesus mostrou a
importância que pôs na ordenação dos apóstolos ao orar a noite toda antes deste
acontecimento. Então Jesus separou os doze apóstolos do grupo maior de discípulos. Ellen
White escreveu: “Foi na ordenação dos doze que se deram os primeiros passos na
organização da igreja, que depois da partida de Cristo devia levar avante Sua obra na Terra. A
respeito dessa ordenação o registro diz: ‘Jesus subiu a um monte e chamou a si aqueles que
ele quis, os quais vieram para junto dele. Escolheu doze, designando-os como apóstolos, para
que estivessem com ele, os enviasse a pregar’ Marcos 3:13, 14”.55 Nessa ocasião, “Cristo
nomeou-os como Seus representantes e deu-lhes seu encargo de ordenação, a sua
comissão.”56 Posteriormente, Jesus explicou que foi Ele quem escolheu esses homens para
sua função específica de liderar no estabelecimento da igreja do Novo Testamento (Jo 15:16).
Aqui fica claro que o chamado de Deus vem em primeiro lugar. Então, depois de o indivíduo
responder, segue-se a nomeação a um ofício específico. Os apóstolos foram selecionados,
nomeados e ordenados para uma obra específica de pregação, expulsão de demônios e cura
(Mt 10:1, 7, 8).
Visto que Jesus muitas vezes impunha Suas mãos sobre as pessoas para curá-las e
abençoá-las, parece natural que Ele tenha feito o mesmo durante a ordenação dos doze. A
Bíblia registra uma prática similar usada na separação dos levitas e de Josué (Nm 8:10;
27:18). Ellen White confirmou que Jesus “[...] reuniu em torno de Si o pequeno grupo, bem
achegado a Ele e, ajoelhando no meio deles e pondo-lhes as mãos sobre a cabeça, fez uma
oração consagrando-os à Sua sagrada obra. Assim foram os discípulos do Senhor ordenados
para o ministério evangélico”.57
O segundo passo principal na organização da igreja ocorreu na ordenação dos sete
“diáconos”. Para resolver as tensões sobre a distribuição equitativa do auxílio às viúvas da
igreja, mediante a instrução dos apóstolos, os crentes escolheram sete homens para
supervisionar a questão e os trouxeram “aos apóstolos, os quais oraram e lhes impuseram as
mãos” (At 6:1-7).
Embora essa passagem não mencione explicitamente o ofício ao qual os sete foram
nomeados, as palavras gregas usadas para “servir” (diakoneō, Atos 6:2) e “ministério” ou
“serviço” (diakonia, Atos 6:1, 4) têm a mesma raiz da palavra para “diácono”(diakonos).
Parece que Lucas, como um cuidadoso historiador, evitou designar esses homens como
“diáconos”, visto que o nome para o ofício surgiu um pouco depois. Paulo dá detalhes das
qualificações para os ofícios ordenados de ancião e diácono em 1 Timóteo 3:1-13. As
qualificações para ancião (bispo) são mencionadas também em Tito 1:5-9.
Em contraste com os apóstolos que tinham a responsabilidade do “ministério da
palavra”, os sete diáconos foram ordenados para cuidar principalmente das necessidades

54 Edwin E. Reynolds e Clinton Wahlen, “The Minority Report,” in the North American Division Theology of Ordination Study Committee Report
(novembro de 2013), 203,http://static.squarespace.com/static/50d0ebebe4b0ceb6af5fdd33/t/527970c2e4b039a2e8329354/1383690 434980/nad-
ordination-14-minority.pdf.
55 SC 56.
56 White, “The Regions Beyond,” PUR 4 dezembro de 1902.
57 DTN 202, 203, itálico acrescentado.
35

materiais da igreja.5858 De acordo com Ellen White, esse desenvolvimento na organização da


igreja foi “conforme a ordem de Deus”.59 Embora os sete tenham sido “ordenados para a obra
especial de olhar pelas necessidades dos pobres, não os excluía do dever de ensinar a fé. Ao
contrário, foram amplamente qualificados para instruir a outros na verdade; e se empenharam
na obra com grande fervor e sucesso”.60 A ordenação dos diáconos era semelhante à
ordenação dos levitas (Nm 8:9, 10). Em ambos os casos, ela incluía a imposição das mãos, a
congregação estava envolvida e os ordenados deviam servir em nome da congregação. Dessa
forma, dois ofícios básicos foram estabelecidos em Jerusalém: apóstolo (e, posteriormente,
ancião) para o ministério da palavra e diácono para o ministério às necessidades materiais e
práticas da igreja. Ellen White escreveu que “a organização da igreja em Jerusalém deveria
servir de modelo para a organização de igrejas em todos os outros lugares em que
mensageiros da verdade conquistassem conversos ao evangelho”.61

A ordenação de Barnabé e Paulo ocorreu na igreja de Antioquia, Síria. Aqui, enquanto


certos profetas e mestres ministravam e jejuavam, o Espírito Santo lhes disse: “‘Separem-me
Barnabé e Saulo para a obra a que os tenho chamado’. Assim, depois de jejuar e orar,
impuseram-lhes as mãos e os enviaram” (At 13:2, 3). Esses homens estavam agora sendo
“enviados pelo Espírito Santo” como missionários (At 13:4).
Ellen White provê ideias adicionais quanto ao significado da ordenação associada ao
ato de separar Paulo e Barnabé. Mediante a ordenação, “foram eles autorizados pela igreja,
não somente para ensinar a verdade, mas para realizar o rito do batismo e organizar igrejas,
achando-se investidos de plena autoridade eclesiástica”.62 Foi “um reconhecimento público
de sua divina designação para levar aos gentios as boas-novas do evangelho”.63 Visto que
Paulo e Barnabé “já haviam recebido sua comissão do próprio Deus” a cerimônia “não
acrescentou graça ou especial qualificação. Era uma forma reconhecida de designação para
um cargo específico, bem como reconhecimento da autoridade conferida à pessoa. Por ela, o
selo da igreja era colocado sobre a obra de Deus”.64 “E quando os dirigentes da igreja de
Antioquia puseram as mãos sobre Paulo e Barnabé, estavam pedindo que Deus concedesse
Sua bênção aos escolhidos apóstolos, ao serem consagrados para a obra específica a que
haviam sido designados.”65 Paulo considerou “sua ordenação formal como assinalando o
início de uma nova e importante época na obra de sua vida” da qual ele “faz datar, depois, o
começo de seu apostolado na igreja cristã” para levar o evangelho aos gentios, assim como
Pedro, Tiago e João foram nomeados para pregar Cristo entre os judeus.66
Durante suas viagens pela Ásia Menor, Paulo e Barnabé organizaram grupos de
crentes em igrejas e “designaram-lhes presbíteros em cada igreja; tendo orado e jejuado, eles
os encomendaram ao Senhor, em quem haviam confiado” (At 14:23). Aqui observamos que o
modelo organizacional da igreja de Jerusalém estava sendo estabelecido no “campo

58 Visto que “diácono” (diakonos em grego) deve ser marido de uma mulher (1Tm 3:12), Febe, embora mencionada como uma diakonos (Rm
16:1), não poderia ter servido nesse ofício. A palavra diáconos é usada no Novo Testamento apenas raramente no sentido de “diácono” (Fp 1:1;
1Tm 3:8, 12). Normalmente ela tem um significado mais geral de “servo” (ex.: Mat 22:13; Mc 9:35; Rm 15:8, etc.), sendo o motivo porque na
maioria das traduções de Romanos 16:1 Febe é mencionada como uma “serva” da igreja em Cencreia.
59 Ibidem.
60 AA 49.
61 Ibidem, 50.
62 Ibidem, 89.
63 Ibidem.
64 Ibidem.
65 Ibidem, 90.
66 Ibidem, 91.
36

missionário”. Posteriormente, quando Paulo viu comportamento desordenado em algumas


das igrejas, ele enviou cartas aos seus associados Timóteo e Tito com orientações estritas
sobre as devidas qualificações para os anciãos e diáconos com o objetivo de restaurar a
ordem nas igrejas e prevenir o surgimento de problemas (1Tm 3:1-14; Tt 1:5-9). Ao longo da
história do cristianismo, quase todas as igrejas cristãs aderiram a essas qualificações.67
As cartas de Paulo contêm duas referências à ordenação de Timóteo (1Tm 4:14, 2Tm
1:6). Pelo envolvimento de Timóteo na missão de Paulo fica claro que Timóteo não era
meramente um ancião local, mas atuava mais no papel de um ancião itinerante ou viajante ou
ministro, representando o cristianismo bíblico às igrejas recém-estabelecidas no Império
Romano.

OFÍCIOS E DONS

O DOM DE PASTOREAR

No Novo Testamento, não há o ofício de “pastor”. Em Efésios 4:8, 11, 12, “pastor” é
dito como o dom do ministério. Paulo se referiu a esse dom espiritual em sua comissão aos
anciãos da igreja em Éfeso. “Cuidem de vocês mesmos e de todo o rebanho sobre o qual o
Espírito Santo os colocou como bispos, para pastorearem a igreja de Deus, que ele comprou
com o seu próprio sangue” (At 20:28). O apóstolo Pedro, que se considerava também um
ancião, se referiu a esse dom de forma semelhante, dizendo: “Portanto, apelo para os
presbíteros que há entre vocês, e o faço na qualidade de presbítero [...] Pastoreiem o rebanho
de Deus que está aos seus cuidados. Olhem por ele, não por obrigação, mas de livre vontade,
como Deus quer. Não façam isso por ganância, mas com o desejo de servir. Não ajam como
dominadores dos que lhes foram confiados, mas como exemplos para o rebanho” (1Pe 5:1-3).
Dentre as tarefas dos anciãos está a responsabilidade de pastorear, nutrir e proteger os
membros da igreja. A menos que um de seus dons seja o de pastorear, eles não se qualificam
para este ofício. Não obstante, esse dom não se restringe ao ofício de um ancião ou ministro.
O dom de pastorear pode se manifestar em pessoas que trabalham em outros chamados,
profissões ou ministérios e que são beneficiadas pelos aspectos do cuidado.
Ellen White usou “pastor” e “pastores do rebanho” dessa forma, quando escreveu que
essas “responsabilidades precisam ser passadas aos membros da igreja. O espírito
missionário deveria ser despertado como nunca antes e os obreiros apontados como
necessários, os quais devem agir como pastores do rebanho, empreendendo esforços pessoais
para elevar a igreja a uma condição onde a vida espiritual e a atividade sejam vistas em todas
as suas fronteiras”.68
Parece que foi isso que ela quis dizer em sua declaração bem conhecida sobre os
colportores: “É a assistência do Espírito Santo de Deus que prepara os obreiros, homens e
mulheres, para se tornarem pastores do Seu rebanho”.69 Ela não está dizendo para a igreja
abrir o caminho para que as mulheres atuem como ministros assim como os homens, visto

67 Damsteegt, “Women’s Status and Ordination as Elders or Bishops in the Early Church, Reformation and Post-Reformation Eras” (documento
apresentado na Comissão de Estudo da Teologia da Ordenação, 22- 24 de julho de 2013), http://www.adventistarchives.org/womens-
status-and-ordination-as-elders-or-bishops-in-the-early-church.pdf.
68 T5 723, itálico acrescentado.
69 T6 322.
37

que um pouco mais adiante, no mesmo volume, várias vezes ela instou os “moços” a
ingressarem no ministério, sem mencionar que as mulheres também deviam fazê-lo.70

OFÍCIOS E DONS DO ESPÍRITO SANTO NA IGREJA DO NOVO TESTAMENTO

Embora os dons espirituais incluam a atenção pastoral, isso não é equivalente ao


ofício bíblico do ancião que hoje, muitas vezes, é mencionado como “pastor”. No Novo
Testamento, podemos fazer distinção entre os ofícios e os dons, como segue: (1) São
mencionados três ofícios na igreja: apóstolos (At 1:21-25), bispos/presbíteros (1Tm 3:1-7; Tt
1:5-9), e diáconos (At 6:1-6; 1Tm 3:8-13). Porém, há muitos dons (1Co 12:8-11; 28-30; Rm
12:6-8; Ef 4:11). Cada crente recebeu, pelo menos, um dom (1Pe 4:10). (2) Aqueles que
ocupam cargos são ordenados, nomeados ou escolhidos com base em qualificações explícitas
(At 6:3; 14:23; 1Tm 3:1-13; Tt 1:5-9). Não obstante, os dons são concedidos de acordo com a
vontade do Espírito Santo, sem quaisquer qualificações declaradas (Ef 4:7; Rm 12:6; 1Co
12:11, 18, 28). (3) Embora cada crente tenha, pelo menos, um dom, nem todo crente tem um
ofício (Ef 4:7; 1Co 12:7, 11; Rm 12:4). (4) O bispo “não pode ser recém-convertido” (1Tm
3:6), mas os dons são concedidos independentemente da idade ou da experiência. (5) Os
ofícios de bispo e diácono se limitam ao “marido de uma só mulher” (1Tm 3:2, 12; Tt 1:6),71
enquanto os dons são dados a homens e mulheres (At 21:9-10; 1Co 11:5).72 Infelizmente, no
debate da ordenação, alguns adventistas estão confundindo o dom de pastorear com o ofício
de ancião/ministro, contrário à norma bíblica.

ORDENAÇÃO E IMPOSIÇÃO DAS MÃOS

A igreja deve escolher indivíduos dotados cujo estilo de vida preencha as


qualificações bíblicas para o cargo de bispo ou diácono. Isso deve ser feito com cuidado, com
muita oração e jejum, pedindo a orientação do Espírito Santo nas escolhas feitas. A cerimônia
de ordenação designa pessoas para esses ofícios mediante a imposição das mãos por líderes
ordenados da igreja – ministros ou anciãos (2Tm 1:6; 1Tm 4:14). Embora a ordenação de
pessoas para o ofício de liderança bíblica do ancião ou do diácono seja acompanhada pela
imposição das mãos, nem todo exemplo de imposição das mãos é comparado à ordenação ao
cargo na igreja. Em um exemplo bem conhecido, Ellen White escreveu: “Mulheres que
estejam dispostas a consagrar algo do seu tempo ao serviço do Senhor devem ser designadas
para visitar os enfermos, cuidar dos jovens e ministrar às necessidades dos pobres. Devem ser
separadas para esse serviço pela oração e imposição das mãos. Em alguns casos, necessitarão
aconselhar-se com os oficiais da igreja ou o ministro, mas, se forem mulheres devotadas,
mantendo uma ligação vital com Deus, serão um poder para o bem na igreja. Esse é outro
meio de fortalecer e edificar a igreja”.73

70 Ibidem, 411-416.
71 Embora a Escritura não mencione o ofício de “diaconisa”, o fato de Paulo se referir às “mulheres” enquanto discute o ofício de diácono (1Tm
3:11) sugere que algumas mulheres receberam um papel na igreja primitiva não diferente do da diaconisa de hoje. Em vez de serem ordenadas
para um ofício oficial da igreja, elas parecem ter sido designadas para auxiliar os diáconos em sua obra, especialmente em relação à ajuda a
outras mulheres (21MR 97).
72 Esta lista foi adaptada de Harold W. Hoehner, “Can a Woman be a Pastor-Teacher?” Journal of the Evangelical Theological Society 50/4
(dezembro de 2007): 763, 764. Ver também Pfandl, “Evaluation of Egalitarian Papers,” 10, 11, http://www.adventistarchives.org/evaluation-of-
egalitarian-papers.pdf
73 FD 78.
38

Alguns interpretam esse texto no sentido de que as mulheres deveriam ser ordenadas
ao ministério. Porém, Ellen White não fala sobre a ordenação, mas sobre separar essas
mulheres para um determinado trabalho ou ministério. Elas são obreiras de meio período que
foram nomeadas para “visitar os enfermos, cuidar dos jovens e ministrar às necessidades dos
pobres”. Essa nomeação não as torna oficiais da igreja porque, como diz Ellen White, “em
alguns casos, necessitarão aconselhar-se com os oficiais da igreja ou o ministro”. Os líderes
da igreja são aconselhados a separá-las para esse trabalho específico “pela oração e imposição
das mãos”. O propósito dessa cerimônia é reconhecer e capacitar “outro meio de fortalecer e
edificar a igreja”.74 Essa cerimônia, então, não é ordenação a um dos cargos do Novo
Testamento, mas a imposição das mãos para separar essas mulheres para um ministério
específico que fortalecerá a igreja.75
Este exemplo deixa claro que a imposição das mãos pode ser usada para nomear os
membros da igreja para tarefas ou ministérios específicos, afirmando suas habilidades,
talentos ou dons ímpares que Deus lhes concedeu, mas não devem ser igualados à ordenação
para o ofício de liderança bíblico específico de um ancião ou ministro.

ORDENAÇÃO E AUTORIDADE

A ordenação funcionou ao longo da história bíblica como um meio de separar e


nomear homens qualificados a um ofício específico de liderança. Nesse papel, eles eram
responsáveis por promover a missão de Deus, proteger os crentes dos falsos ensinos, e
preservar a ordem e a harmonia na igreja. Que tipo de autoridade é posta sobre eles com a
ordenação a esses cargos de liderança?

A AUTORIDADE DOS MINISTROS

Em nossos dias, os ministros que supervisionam e servem a várias igrejas podem ser
comparados a Timóteo e Tito, cujo ministério evangélico não se restringia a uma igreja. Os
ministros que atuam como mestres da palavra e da doutrina têm um lugar especial na igreja
de Deus na Terra. A instrução de Paulo a Timóteo dá alguma ideia da autoridade a eles
confiada: “Pregue a palavra, [...] repreenda, corrija, exorte com toda a paciência e doutrina.
Pois virá o tempo em que não suportarão a sã doutrina” (2Tm 4:2, 3). Tito foi instruído a pôr
“em ordem o que ainda faltava”, e, com respeito aos que subvertiam a fé, a repreendê-los
“severamente” (Tt 1:5, 13). Ele devia falar “o que está de acordo com a sã doutrina” e
encorajar “os jovens a serem prudentes”, entre outras coisas (2:1, 6). “É isso que você deve
ensinar, exortando-os e repreendendo-os com toda a autoridade. Ninguém o despreze” (2:15).

74 Ibidem, itálico acrescentado. Outro exemplo às vezes mencionado é o médico missionário, sobre quem Ellen White disse: “portanto ele deve
ser separado para sua obra de maneira tão sagrada como o ministro do evangelho” (Ev 546). Nesse caso, porém, ela não menciona
explicitamente a imposição das mãos como parte do serviço, embora possa ter tido isso em mente. Qualquer que seja o caso, sua declaração
deixa claro que esse serviço não era ordenação ao ministério evangélico.
75 Ellen White escreveu de mulheres que “embora não lhe hajam sido impostas as mãos da ordenação”, estavam “realizando uma obra que
pertence ao ramo do ministério” (OE 452).
39

A AUTORIDADE DOS ANCIÃOS


A autoridade dos anciãos é outorgada nas Escrituras e na ordenação desses homens
pela igreja. Paulo falou a Tito que o ancião deve ser “capaz de encorajar outros pela sã
doutrina e de refutar os que se opõem a ela. [...] que eles sejam silenciados” (Tt 1:9, 11).
Paulo escreveu a Timóteo: “Os presbíteros que lideram bem a igreja são dignos de dupla
honra, especialmente aqueles cujo trabalho é a pregação e o ensino” (1Tm 5:17). Devido à
importância do papel do ancião, Paulo especificou: “Não aceite acusação contra um
presbítero, se não for apoiada por duas ou três testemunhas” (5:19). Pedro escreveu que os
anciãos devem ser os “supervisores” do rebanho, ordenados para “pastorear” ou “alimentar”
o rebanho sob a supervisão do Supremo Pastor (1Pe 5:2, 4).
Ao tratar da autoridade dos anciãos, Ellen White notou que eles têm a
responsabilidade de educar e treinar os membros para que eles usem seus talentos e dons
espirituais,76 a autoridade para se certificarem de que todos os membros sejam devidos
mordomos e apoiem financeiramente a igreja,77 o dever de lidar com os membros que erram e
procurar os membros fracos e apostatados para tentar ajudá-los,78 e a obrigação de enaltecer
as normas da igreja e ver que os membros respeitem suas decisões.79
Nos dias dos pioneiros adventistas, quando, a despeito do exemplo de muitas outras
denominações, eles seguiram o modelo de liderança de Jesus no Novo Testamento, a
autoridade dos anciãos nas áreas acima se tornou firmemente estabelecida e a igreja cresceu
rapidamente.

ORDENAÇÃO E UNIDADE MUNDIAL

Uma parte importante da última oração de Jesus por Seus discípulos, em João 17, diz
respeito à sua futura unidade. Ele orou para que eles fossem “santificados pela verdade” para
que “todos sejam um, Pai, como tu estás em mim e eu em ti. Que eles também estejam em
nós, para que o mundo creia que tu me enviaste” (v. 19, 21). A unidade se baseia na união
com Jesus e na aceitação de Sua verdade, que vem pelo ouvir Suas palavras, conforme
reveladas nas Escrituras (Jo 5:39; Rm 10:17). Essa unidade é em si um poderoso testemunho,
tendo como seu propósito que “o mundo creia que tu me enviaste” (Jo 17:21). Portanto, uma
unidade fundamentada na Bíblia é vital para o cumprimento da missão da igreja.
Desde os nossos primeiros dias como adventistas, a importância de se escolher
sabiamente os ministros tem sido fortemente realçada pela inspiração, como sendo essencial
para a nossa unidade.80 Embora cada um de nós seja chamado a declarar “a razão da
esperança” que há em nós (1Pe 3:15), os anciãos e os ministros, “cujo trabalho é a pregação e
o ensino” (1Tm 5:17), são especialmente incumbidos de proclamar e ensinar a palavra de
Deus com precisão (2Tm 2:15; Tt 1:9). Eles foram separados para seu trabalho mediante o
rito da ordenação, com base no chamado de Deus e no reconhecimento da igreja regional (At

76 White, “The Church Must Be Quickened,” RH 17 de janeiro de 1893.


77 White, TM 306; SpT“A” Nos. 7, 21.
78 White, “Elder Daniels and the Fresno Church,” Pamphlet 028; ver também 5MR 447, 448.
79 White, 5MR 296; SpT“A” Nos. 1b, 24, 25.
80 Ver PE 97-104.
40

13:3), em harmonia com a igreja global (Mt 28:18-20).81 A proclamação do evangelho no


tempo do fim culmina com pessoas unidas mundialmente “que obedecem aos mandamentos
de Deus e permanecem fiéis a Jesus” (Ap 14:12). Várias propostas para regionalizar a prática
da ordenação podem pôr em perigo nossa unidade organizacional e abrir a porta para a
regionalização da organização da igreja. Não está claro onde esse processo de regionalização
progressiva acabaria. É melhor para a igreja ficar unida para que seu testemunho global seja
mais eficaz.

RESUMO DA ORDENAÇÃO BÍBLICA

A ordenação é o ato de separar homens para um ofício sagrado de liderança na igreja.


Para se qualificar para tal ofício, eles precisam satisfazer as qualificações bíblicas. Jesus foi
quem instituiu esse serviço ao estabelecer a igreja do Novo Testamento. Ao ordenar pessoas
hoje, é importante lembrar que é Deus quem as chama para tal função. E Ele chama apenas os
que satisfazem as qualificações que Ele estabeleceu em Sua palavra. Os líderes da igreja local
devem ordenar homens ao cargo de ancião somente depois de cuidadoso exame, com oração
e jejum, para ver se as qualificações bíblicas para esse cargo foram satisfeitas.
Seguindo a prática do Novo Testamento, aqueles que participam na imposição das
mãos sobre os que estão sendo ordenados como pastores locais devem ser ministros
ordenados ou anciãos da igreja local. Aqueles que dirigem esse serviço representam a igreja,
não a si mesmos. Antes de uma pessoa ser nomeada como ministro, ministros ordenados
também avaliam o estilo de vida e a experiência do candidato, à luz das qualificações
bíblicas. Depois de uma avaliação correta e clara evidência do Espírito Santo em seu
ministério, vida e família, ele também será separado mediante a ordenação, mas desta vez
para um ministério maior. Nessa cerimônia de ordenação, ele será investido de plena
autoridade eclesiástica, que inclui, além do trabalho de pastor local, o treinamento e a
supervisão de várias igrejas, o batismo de novos crentes e o plantio e a organização de novas
igrejas.
Além da região geográfica local, essa ordenação autoriza o ministro a servir à
comunidade mundial dos adventistas do sétimo dia – uma expressão da nossa unidade global.
É por isso que a ordenação não deve ser implementada regionalmente. Permitir a autonomia
regional pode trazer desconfiança e desunião ao campo mundial onde um “ministro
ordenado” é permitido em uma divisão, mas proibido em outra.
Paulo indica que cada membro recebe do Espírito Santo um dom para o bem da igreja
(1Co 12:7) e para a sua unidade (1Co 12:12-27). O dom recebido não é para ostentação, mas
para “preparar os santos para a obra do ministério, para que o corpo de Cristo seja edificado,
até que todos alcancemos a unidade da fé e do conhecimento do Filho de Deus, e cheguemos
à maturidade, atingindo a medida da plenitude de Cristo” (Ef 4:12, 13).
A partir desses dados, podemos concluir que as mulheres podem preencher muitos
papéis de serviço valioso na igreja, em harmonia com os dons espirituais que lhes foram
concedidos. Contudo, as qualificações bíblicas para supervisionar uma ou mais igrejas como
pastor ou ministro inclui a estipulação de que aquele que recebeu a incumbência da igreja de

81 PAF 43.
41

Deus e dos membros deve ser “marido de uma só mulher”. No presente tempo de
reavivamento e reforma, como parte de sua missão divinamente ordenada, a Igreja Adventista
do Sétimo Dia deve chamar pessoas para saírem da Babilônia e se voltarem para a Bíblia,
como a Palavra de Deus e a norma de fé e prática. Todos os ensinamentos da igreja
remanescente da profecia bíblica devem estar firmemente estabelecidos na clara mensagem
da Bíblia, em preparação para a chuva serôdia e a iminente volta de Cristo.

A força da igreja está em sua obediência à Bíblia. Não deveríamos temer fazer o que a
Bíblia nos chama a fazer, mesmo se a cultura ao redor não aprovar. Isso é o que chamamos os
outros a fazer quanto à observância do sábado, à dieta e outras questões, e deveríamos estar
dispostos a fazer o mesmo nessa questão. Como sabemos, aproxima-se rapidamente o tempo
quando o falso dia de culto será obrigatório e a observância do sábado se tornará mais difícil.
Será que Deus está nos provando em pontos de menor importância a fim de desenvolvermos
lições de fé necessárias para enfrentarmos provas mais difíceis no futuro? Deus honrará os
que Lhe são fiéis e à Sua Palavra. Que Ele nos encontre dispostos, como indivíduos e como
igreja, a permanecer ao Seu lado em um tempo quando o mundo e muitos cristãos se tornarão
cada vez mais hostis às verdades vitais e eternas da Escritura. Jesus nos anima dizendo: “Seja
fiel até a morte, e eu lhe darei a coroa da vida” (Ap 2:10). Que possamos viver de maneira tal
para ouvi-Lo dizer: “Muito bem, servo bom e fiel!” (Mt 25:21).

RESPOSTAS A ALGUMAS PERGUNTAS SOBRE A


ORDENAÇÃO8282

O sacerdócio de todos os crentes permite que as mulheres sejam ordenadas como


pastoras?
“Vocês, porém, são geração eleita, sacerdócio real, nação santa, povo exclusivo de
Deus, para anunciar as grandezas daquele que os chamou das trevas para a sua maravilhosa
luz” (1Pe 2:9).

Embora Pedro chame os cristãos de “sacerdócio real”, isso não significa que todos –
adultos e crianças, homens e mulheres – devem servir como sacerdotes ou como ministros
ordenados. Assim como Deus chamou o antigo Israel como “reino de sacerdotes”, embora
tenha estabelecido o sacerdócio de Arão e seus filhos como líderes espirituais, de igual forma,
na igreja cristã os apóstolos e os anciãos foram estabelecidos como líderes e todos eles eram
homens.
Israel era um sacerdócio real, porque cada israelita era um membro da comunidade de
aliança e devia mediar o evangelho ao mundo e prepará-lo para a chegada do Messias. Em
outras palavras, o objetivo do chamado de Deus para cada membro de Israel era evangelizar o
mundo, e os sacerdotes e levitas foram chamados para liderar e ensinar o povo a fazer isso.
De igual forma, todos os cristãos são um sacerdócio real, chamados para anunciar ao mundo
o que Jesus fez e que Ele voltará, mas é o papel dos anciãos/supervisores liderar e ensinar o

82 Esta seção usa Pfandl, “Evaluation of Egalitarian Papers,” http://www.adventistarchives.org/evaluation-of-egalitarian-papers.pdf.


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povo a fazer isso. O conceito de “sacerdócio real” apoia a liderança de anciãos e diáconos, e
não abre a porta para que mulheres sejam ordenadas como anciãs/ministras.

A hierarquia foi abolida por Jesus e pelos apóstolos?

“Jesus os chamou e disse: ‘Vocês sabem que aqueles que são considerados
governantes das nações as dominam, e as pessoas importantes exercem poder sobre elas. Não
será assim entre vocês. Pelo contrário, quem quiser tornar-se importante entre vocês deverá
ser servo; e quem quiser ser o primeiro deverá ser escravo de todos’” (Mc 10:42-44).
Dizer que as palavras de Jesus, em Marcos 10:43, constituem uma total rejeição ou
inversão do modelo hierárquico é enganoso. Jesus condenou o uso egoísta, interesseiro ou de
exaltação própria da autoridade, mas Ele não condena uma estrutura de autoridade em si.
Quando Jesus diz: “Não será assim entre vocês”, estava especialmente falando aos doze.
Cada um deles desejava ser o “primeiro” no reino que todos esperavam que o Senhor
estabelecesse em breve (Mt 20:26). Eles se esqueceram de que a verdadeira grandeza requer a
renúncia da grandeza como um objetivo de vida. Os doze eram colegas um do outro em cada
sentido da palavra. Jesus os advertiu a não “dominar” um sobre o outro, não buscar o
primeiro lugar ou exercer poder sobre seus pares. Não obstante, a igreja do Novo Testamento
foi claramente estruturada com níveis de autoridade (apóstolos, anciãos, diáconos). Nem
todos poderiam ser apóstolos, anciãos ou diáconos. O apostolado era um dom espiritual
distribuído pelo Espírito Santo, de acordo com Sua vontade (1Co 16:15, 16; Hb 13:17; 1Tm
5:17). Os anciãos tinham autoridade na igreja. Paulo escreveu a Tito: “É isso que você deve
ensinar, exortando-os e repreendendo-os com toda a autoridade. Ninguém o despreze” (Tt
2:15).
Portanto, Jesus não proibiu o exercício da boa autoridade. Ele Se opunha ao exercício
egocêntrico da autoridade. A Igreja do Novo Testamento foi claramente organizada com
níveis de autoridade. Nem todos receberam a mesma autoridade, mas cada um devia respeitar
e se submeter aos de maior autoridade; e cada um era responsável por servir com
responsabilidade, humildade e amor aos que tinham menor autoridade. Todavia, os níveis de
autoridade apontam para uma hierarquia.

“Cabeça” em 1 Coríntios 11:2-16 significa “fonte” em vez de autoridade de liderança?

Paulo inicia seu conselho ao afirmar o princípio bíblico de que “o cabeça de todo
homem é Cristo, e o cabeça da mulher é o homem, e o cabeça de Cristo é Deus” (v. 3).
A reivindicação de que a autoridade é muitas vezes entendida como poder governante
e de que isso não é normal na linguagem grega é incorreta. O Greek Lexicon de Walter
Bauer, sob o uso figurativo de kephalē (cabeça) diz que cabeça “no caso de seres humanos”
denota “posição superior”, e cita exemplos de textos tanto da Escritura como fora dela.83
Nenhuma referência é dada a kephalē como fonte; na verdade, na última edição do Lexicon,

83 Frederick William Danker, W. F. Arndt, e F. W. Gingrich, A Greek-English Lexicon of the New Testament, terceira edição (Chicago: University
of Chicago Press, 2000), 542.
43

“fonte” é explicitamente rejeitada como um significado possível de cabeça. 84 Claramente, o


propósito do uso metafórico de “cabeça” é para descrever alguém que detém uma posição
superior como líder, senhor, governante, figura de autoridade ou outra pessoa de status
principal entre os outros.

Necessitamos compreender “cabeça” em 1 Coríntios 11 conforme o uso nas


expressões paralelas que se encontram em outras passagens paulinas, tais como Efésios

5:23: “pois o marido é o cabeça da mulher, como também Cristo é o cabeça da


igreja”. Certamente, o marido não é a fonte da esposa, e seria complicado compreender no
mesmo contexto que Cristo é a fonte da igreja, visto que Ele é descrito não como o Fundador
da igreja, mas como seu Salvador, e o relacionamento é claramente definido no verso
seguinte como o de submissão à cabeça: “Assim como a igreja está sujeita a Cristo, também
as mulheres estejam em tudo sujeitas a seus maridos”. Ainda, em Colossenses 1:18, que
declara que Cristo é “a cabeça do corpo, que é a igreja;” explicitamente, o texto afirma o
propósito: “para que em tudo tenha a supremacia”. A questão é a de posição, não de fonte.
Então, o significado de “cabeça” em 1 Coríntios é autoridade, não fonte. A liderança
que a Escritura aponta como autoridade, e que foi modelada por Cristo, é uma liderança de
amor, fortalecedora e abnegada à qual as mulheres voluntariamente se submetem, como elas
são chamadas a fazer em Efésios 5:22-33 e 1 Pedro 5:2, 3.

A mútua submissão significa que não mais há liderança do homem?

“Sujeitem-se uns aos outros, por temor a Cristo” (Ef 5:21) – As pessoas têm usado
esse verso para mostrar que maridos e mulheres precisam se submeter uns ao outros. Elas
dizem que o texto convida todos nós a estarmos sujeitos uns aos outros e não apenas as
mulheres a seus maridos. Elas concluem que não há mais a liderança masculina na família e
na igreja.
Ao lermos mais adiante em Efésios, vemos três agrupamentos de relacionamentos que
mostram como as pessoas precisam se relacionar umas com as outras. Primeiro, lida com os
relacionamentos entre marido e mulher (Ef 5:22-33), em seguida, entre pais e filhos (Ef 6:1-
4), e, por fim, entre escravos e senhores (Ef 6:5-9). Nesse contexto, como a mútua submissão
funciona nessas relações?
Realmente, Deus chama todos nós para nos submetermos uns aos outros, mas não nos
pede para nos submetermos uns aos outros da mesma forma. Em parte alguma na Bíblia os
maridos são incitados a obedecerem às esposas. Antes, os maridos são chamados a se
sacrificarem por suas esposas. O marido é também chamado a servir como “cabeça da
esposa”, a quem a esposa é convidada a se submeter. É autoridade do marido, não ditadura.
Como cabeça, o marido deve ser o líder da família; mas ele deve liderar assim como Cristo

84 Ibid., citando Joseph A. Fitzmyer, “Another Look at Kephalē in 1 Corinthians 11.3,” NTS 35 (1989): 503-11. Ver também, mais
recentemente, Fitzmyer, “Kephalē in 1 Corinthians 11:3,” Interpretation 47 (1993): 52-59, esp. 57: “Aqueles que reivindicavam que ‘fonte’ é o significado
pretendido por Paulo não apresentaram outro argumento do que sua reivindicação de que kephalē não tinha o significado de ‘governante, líder, alguém que tem
autoridade sobre’ nos dias de Paulo. A evidência apresentada acima mostra que certamente era possível para um escritor judeu helenista, como Paulo, usar a
palavra nesse sentido [“governante”]. Consequentemente, o argumento deles ruiu, e a compreensão tradicional foi mantida.”
44

lidera, como “cabeça da igreja” – compassiva, graciosa, equitativa, aberta, honesta,


responsável e corajosamente. A esposa é solicitada a se submeter ao marido “em tudo” – não
de forma vil ou de má vontade, mas com prazer, com sabedoria, de forma generosa “como ao
Senhor”.
No exemplo seguinte de Paulo, exige-se que os filhos obedeçam ao pais; os pais não
são instados a obedecer aos filhos. A Bíblia pede que os filhos obedeçam aos pais em tudo,
pois isso agrada ao Senhor. Porém, os pais não devem provocar os filhos. Os escravos são
chamados a obedecer a seus senhores em tudo, não como para agradar a homens, mas em
singeleza de coração – como servindo ao Senhor e não a homens. Não se espera que os
senhores recebam ordens de seus escravos, porém, os senhores devem tratar seus escravos de
forma correta e justa, sabendo que “seu Senhor está nos céus”.
A Bíblia requer não apenas que as esposas, mas todos nós, nos sujeitemos uns aos
outros. Ela nos pede para fazermos isso da única forma possível de fazê-lo – com nossos
olhos em Jesus. E ela nos pede para sermos submissos de diferentes formas, adequadas a
nossos diferentes papéis. A Bíblia pede aos maridos para assumir a responsabilidade principal
pela liderança da família, imitando o Senhor. E pede às mulheres para serem sujeitas aos seus
maridos, “como ao Senhor”.85

As mulheres podem ser ordenadas porque a liderança masculina é um ideal, não um


absoluto?

É verdade que Jesus faz distinção entre os pesos de várias instruções divinas. Ele
disse aos fariseus que, a despeito de serem escrupulosos a respeito do dízimo, eles haviam
negligenciado “os preceitos mais importantes da lei: a justiça, a misericórdia e a fidelidade”
(Mt 23:23) Mas devemos lembrar o que Ele disse em seguida: “Vocês devem praticar estas
coisas, sem omitir aquelas”. Só porque uma ordem bíblica não é tão fundamental quanto as
outras não nos dá autoridade para alterá-la como se fosse flexível, dependendo da situação. A
Bíblia tem muitos exemplos daqueles que presumiram que uma ordem de Deus era flexível
quando não era. Adão e Eva foram punidos por comerem um pedaço de uma fruta – um ato
que certamente não é errado na maioria das circunstâncias. A oferta de Caim foi rejeitada
devido a uma modificação do que Deus lhe pediu para usar no culto, e Uzá foi punido
meramente por apoiar a arca – em ambos os casos transgressões de ordens não relacionadas à
lei moral. Nadabe e Abiú foram punidos quando ofereceram fogo diferente daquele que o
Senhor ordenara fosse usado no santuário – novamente apenas uma ordem que não se
encontra na lei moral de Deus. Então há os casos de Miriam e Corá – duas pessoas que
desafiaram a estrutura de liderança do povo de Deus. Miriam desafiou o lugar de liderança de
Moisés e foi punida pelo Senhor. Corá, Datã e Abirão e 250 líderes de Israel vieram a Moisés
pedindo uma posição superior nos postos organizacionais dos levitas. Quase toda a
congregação ficou do lado de Corá, crendo que ele e seus companheiros deveriam ter
permissão para servir como sacerdotes. O que se seguiu foi uma recusa de fazer uma

85Adaptado de C. Mervyn Maxwell, “Mutual Submission: What is it?” Adventists Affirm, Outono de
1987, 23-27.
45

adaptação na “norma funcional, eclesiástica” do sacerdócio de Arão, embora as pessoas


cressem veementemente que esse deveria ser o caminho.
Estamos, realmente, seguros desse novo método de interpretação da instrução bíblica
no qual algumas ordens são consideradas absolutas e outras flexíveis? Como sabermos que
ordens bíblicas são abertas à adaptação? O que dizer do dízimo? Das ordenanças? Dos
ensinos sobre o estilo de vida? Eles também são flexíveis? Deveríamos dar liberdade às
igrejas, individualmente, para batizar por aspersão, para usar pão fermentado na santa ceia,
ou para ingerir bebida alcoólica com moderação? Classificar a instrução bíblica em duas
categorias diferentes é um perigoso declive escorregadio.

Se os adventistas já adaptaram a instrução bíblica, não deveríamos permitir que as


mulheres fossem ordenadas?

Visto que Paulo proíbe que as mulheres ensinem e vemos, como igreja, mulheres
sendo professoras, alguns enxergam nisso evidência de que a Igreja Adventista já adaptou
ordens divinas não essenciais. Mas a Bíblia não proíbe as mulheres de todo o ensino. Pelo
contrário, ela menciona mulheres envolvidas no ensino e no ato de profetizar, e Ellen White
concorda ao incentivar as mulheres dizendo: “Dirigi-vos à multidão sempre que vos for
possível” (Evangelismo, p. 473). Paulo, consequentemente, não poderia ter dado uma
proibição total de ensino. Ao dizer: “Não permito que a mulher ensine, nem que tenha
autoridade sobre o homem” (1Tm 2:12), ele associa a proibição do ensino à autoridade sobre
os homens. Poucos versos depois, ele diz que o cargo oficial de ancião na igreja deve ser
realizado por um homem que seja “capaz de ensinar”. Portanto, a proibição dada às mulheres
foi que não poderiam assumir a autoridade de ensino que pertence ao ancião de igreja. Não
precisamos pensar que temos “adaptado” a instrução de Paulo quando as mulheres são
incentivadas a ensinar ou pregar em vários ambientes; elas podem fazê-lo desde que não
estejam exercendo a autoridade que pertence ao ancião ou ministro ordenado.

1 Timóteo 2:12-14 se aplica apenas a uma situação local e não universal?

Contrário à alegação de que nesses versos Paulo tratou apenas de uma questão
específica em Efésios, onde as mulheres são influenciadas por falsos ensinos gnósticos, o que
Paulo diz em 1 Timóteo 2 e 3, é claramente destinado à igreja universal, não apenas à igreja
em Éfeso. No capítulo dois, ele discute a universalidade do culto cristão (2:1-15):

a. Orações pelas pessoas que exercem autoridade (2:1-3) devem ser feitas em
todas as igrejas, não apenas em Éfeso.
b. Deus deseja que todos os seres humanos sejam salvos (2:4-7), visto que todas
as igrejas devem trabalhar pela salvação das almas, não apenas a igreja em Éfeso.
c. Os procedimentos de culto 2:8-15 são para todas as igrejas, não apenas para
Éfeso.

No capítulo três, Paulo discute os pré-requisitos para os líderes cristãos, em todas as


igrejas, não apenas em Éfeso (3:1-13):
46

a. O caráter dos bispos (3:1-17) se refere aos bispos em todas as igrejas, não
apenas em Éfeso.
b. O caráter dos diáconos (3:8-13) se refere aos diáconos em todas as igrejas, não
apenas em Éfeso.

Portanto, alegar que 2:12-14 se refere apenas à igreja local é ignorar o contexto, que é
claramente universal. O contexto imediato dos versos 12-14 inicia no verso 8, com as
palavras: “Quero, pois, que os homens orem em todo lugar, levantando mãos santas, sem ira e
sem discussões”, indicando que Paulo está falando à igreja universal e não apenas à igreja
local em Éfeso. No verso 9, onde Paulo inicia sua admoestação às mulheres com as palavras:
“Da mesma forma” (ex.: falando às mulheres e todas as partes), ele trata da questão do
adorno e das boas obras. O capítulo dois, na íntegra, é destinado à igreja universal.
No texto: “Não permito que a mulher ensine, nem que tenha autoridade sobre o
homem” (v. 12), a palavra grega didaskō (ensinar) se refere à instrução bem fundamentada.
Não se refere ao falso ensino, para o qual Paulo usa a palavra heterodidaskaleō (ensinar algo
diferente, ex.: falsa doutrina) em 1 Timóteo 1:3 e 6:3. Paulo diz que as mulheres nunca
podem falar na igreja? Certamente não. Ele tem mulheres orando e profetizando (pregando?)
na igreja (1Co 11:5). O que é proibido às mulheres é a autoridade no ensino que é parte do
ofício eclesiástico do ministro/ancião, que envolve o exercício da autoridade espiritual. Em
outras palavras, ensinar combinado com ter “autoridade sobre” se refere ao ensino com
autoridade de ministro/ancião ordenado.
O fato de Paulo falar de certos ensinamentos falsos em sua carta a Timóteo não
significa que tudo o que ele diz tem sentido apenas para a situação local em Éfeso. Por
exemplo, o que ele diz no capítulo 3 a respeito dos anciãos e diáconos é repetido em Tito 1,
indicando que seu conselho se destina a todas as igrejas, não apenas aos efésios. De igual
forma, o que Paulo diz a respeito da vestimenta das mulheres em 1 Timóteo 2:9, 10 é também
enfatizado em 1 Pedro 3, novamente, mostrando seu sentido universal, não apenas para a
igreja em Éfeso.

O fato da criação-queda-recriação estabelecer a igualdade plena de gênero no primeiro


advento e assim permite a ordenação de mulheres?

O Novo Testamento segue ensinando a liderança dos homens no lar e na igreja. Isso é
especialmente claro nos escritos de Paulo em 1 Coríntios 11, 1 Timóteo 2 e 3 e Tito 1, onde,
no fim de sua vida, ele advogou a liderança masculina na igreja cristã. As discussões acima
sobre essas passagens mostram que as distinções na função entre homem e mulher
prosseguiram depois do Primeiro Advento de Cristo, sem qualquer provisão para que as
mulheres atuassem como anciãs ou ministros. Somente uma interpretação incorreta do texto
pode eliminar a liderança masculina. A recriação dos seres humanos para a condição antes da
Queda, o que quer que isso represente, ocorre no Segundo Advento, não no Primeiro
Advento.

A liberdade religiosa exige que permitamos que as mulheres sejam ordenadas?


47

Essa compreensão do conceito de “liberdade religiosa” não tem apoio na Bíblia. A


lealdade da igreja deve ser a Deus e à Sua Palavra, não às diversas convicções individuais de
seus membros. A Bíblia dá exemplos instrutivos de como a liderança da igreja deve
relacionar-se com as convicções individuais de seus membros. Embora toda a congregação
tenha clamado por uma mudança na liderança, o esforço de Arão em atender essa convicção
com um bezerro de ouro foi punido. Embora as pessoas tenham insistido com Saul para que
ele aceitasse uma oferta do rebanho dos amalequitas, quando ele aceitou o plano, Deus o
rejeitou como rei. Embora toda a congregação tenha veementemente se convencido da
necessidade de mudança na estrutura organizacional, Corá e os que com ele estavam tiveram
negadas suas convicções. E embora muitos estivessem convencidos de que a circuncisão
devesse ser requerida dos gentios, o Concílio de Jerusalém rejeitou suas convicções em cada
caso, afirmando que a circuncisão nunca deveria ser requerida dos gentios.
Usar a “liberdade de consciência” para moldar as crenças e práticas da igreja, como
visto em outras igrejas, pode pavimentar o caminho para a promoção da homossexualidade,
para a liberdade acadêmica que ensina a evolução nas escolas adventistas, etc. Muitos dirão,
de forma justa, que essas coisas são para eles uma questão de consciência como é a da
ordenação das mulheres. Ainda que não fossem os membros da igreja, mas as autoridades
civis que requeressem a ordenação como uma questão de igualdade, não compensaria para a
igreja aquiescer. Não devemos temer tomar posição pela verdade bíblica, mesmo agora.
Embora vejamos sinceridade em muitos que tentam manter a Igreja unida enquanto
está atualmente dividida quanto à questão da ordenação das mulheres, não vemos segurança
em abrir as portas para a ordenação das mulheres visto estar em direta contradição às claras
ordens bíblicas. “Deus não pôs em Sua Palavra ordem alguma a que os homens possam
obedecer ou desobedecer à vontade e não sofrer as consequências” (PP 257).
Em vez de simplesmente permitir a todos fazer o que quiserem com respeito à
ordenação das mulheres como ministros, a igreja deve focar em abrir uma gama maior de
ministérios para as mulheres. Deve treinar mulheres abnegadas nas áreas ministeriais nas
quais possam realizar uma obra maior do que a dos homens. “O Salvador fará refletir a luz de
Seu rosto sobre essas abnegadas mulheres, e dar-lhes-á poder que ultrapassa ao dos homens.
Elas podem fazer nas famílias uma obra que os homens não podem fazer, obra que alcança a
vida íntima. Podem chegar bem perto do coração daqueles que estão além do alcance dos
homens. Seu trabalho é necessário” (Ev 464, 465). A igreja também deve dar maior destaque
à promoção do trabalho das mães cristãs. E para as que estão empregadas no ministério,
devemos compensar as mulheres em harmonia com a importância de seu trabalho. Podemos
fazer essas coisas meritórias agora, mas permitir que se aja de forma contrária à Palavra de
Deus só pode resultar em perda para a igreja e para a causa da verdade. Que Deus nos ajude a
permanecer fiéis à Sua Palavra enquanto reafirmamos e promovemos o desenvolvimento dos
papéis das mulheres no ministério.
Delineação da Síntese da Posição #2

Declaração Resumo
Introdução
Hermenêutica bíblica
Uso do devido
Estudo da linguagem, gramática e contexto
Foco teológico
Uso dos princípios teológicos bíblicos
Texto, teologia e ordenação
Ordem no reino cósmico de Deus
Deus, mulheres e homens no Antigo Testamento
Adão e Eva antes da queda
Criados à imagem de Deus
A Precedência de Adão
Adão e a lei
Criada da costela de Adão e para ele
A Mulher recebe um nome
Casamento
Homem e mulher após a queda
Adão e Eva
Mulheres em papéis de liderança em Israel
Deus, mulheres e homens no Novo Testamento
Maridos e mulheres: autoridade
Efésios 5:21-33
1 Coríntios 11:2-16
Assunto principal da passagem
Prática cultural
Uso do termo “cabeça” (kephale)
Conexão com Gênesis 1
1 Timóteo 2:9-14
Contexto
Aprender em silêncio e ser submissa
Mulheres proibidas de ensinar
Ter autoridade sobre
Adão e Eva
Natureza do ministério cristão
Jesus e o ministério cristão
Ministros na igreja
A dádiva do Espírito
O Espírito para homens e mulheres
Dons são inclusivos de gênero
Membros e ministros: sem diferença essencial
Dons e Ofícios
Deus toma a iniciativa
Os doze apóstolos
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Dons especiais
O início da nomeação de líderes
Diáconos e anciãos
Imposição das mãos na escritura
Imposição das mãos no Antigo Testamento
Imposição das mãos no Novo Testamento
Importância do rito
Qualificações para a liderança
Diaconisas
Mulheres como anciãs
Conclusão
Ellen White e as mulheres no ministério
Silêncio
Inclusão
Variedade
Comissionar
Missão
Nomeação a ofícios na Igreja Adventista do Sétimo Dia
Conclusão
Respostas à algumas perguntas sobre ordenação
50

RESUMO DA POSIÇÃO #2

DECLARAÇÃO RESUMO

A ordem no reino cósmico de Deus se baseia no amor que define Sua própria natureza
e se expressa no serviço a Deus e aos outros. Em Seu amor, Ele dá capacidades e habilidades
a Suas criaturas inteligentes e, com base em seu desenvolvimento e seu serviço amoroso,
responsabilidades específicas lhes foram designadas. Visto que Deus lhes garantiu a
liberdade, eles não foram arbitrariamente restringidos em seu desenvolvimento ao designar-
lhes um determinado papel para ser exercido por toda a eternidade sem a possibilidade de
desempenhar outros papéis. Deus não os restringiu arbitrariamente em sua expressão de
serviço amoroso aos outros.
Adão e Eva eram membros do reino cósmico de Deus. Eles foram criados à imagem
de Deus, como iguais. Ninguém foi colocado sob a autoridade do outro, com base no gênero
ou na ordem da criação. Eva não foi criada para ser, por natureza, sujeita a Adão. Foi
somente depois da Queda que, a fim de preservar a ordem no lar, ela ficou sujeita a seu
marido. Mas isso se restringiu ao relacionamento marido-mulher.
Em Israel, a liderança estava, principalmente, sob o domínio de homens. Mas essa
prática comum não nos deveria cegar para o fato de que Deus estava interessado em usar as
mulheres como líderes de Seu povo. A prática comum nunca se tornou lei em Israel ou uma
ordem divina direta. Deus queria que Seu povo compreendesse que homens e mulheres
deveriam trabalhar juntos, como iguais, no serviço a Ele e a Seu povo. Ele proveu a Seu povo
profetas e profetisas (os líderes espirituais mais elevados e mais “importantes” em Israel) e as
juízas, que também eram profetisas, detiveram o papel mais importante de liderança em
Israel, durante o período dos juízes. Da perspectiva divina, a liderança entre Seu povo não se
baseia nas diferenciações de gênero.
No NT, a norma comum da liderança dos homens é continuada, mas a liderança das
mulheres se torna muito visível. As mulheres poderiam agora ocupar posições de liderança
iguais às dos homens. Elas também receberam o dom do Espírito que as equipava, bem como
aos homens, para estabelecer a igreja. Visto que os dons são inclusivos de gênero, as
mulheres com os dons necessários para atuarem como diaconisas foram nomeadas e
ordenadas como tal. Imediatamente, isso revela que embora as qualificações para os ofícios
de diácono e ancião são específicos de gêneros, eles não são exclusivos de gênero. Ambos,
homens e mulheres membros da igreja, podem atuar como anciãos e diáconos, desde que
tenham os devidos dons e a igreja reconheça o chamado divino. O fato de o NT não
mencionar explicitamente as mulheres como anciãs não significa que elas não atuaram como
tal. As qualificações dos anciãos e diáconos são muito similares e sabemos que havia
diaconisas no NT. Há apoio bíblico suficiente para que a igreja proceda com a ordenação das
mulheres ao ministério.
Ellen G. White, como a Bíblia, não proíbe nem afirma explicitamente a ordenação de
mulheres ao ministério. Porém, ela abriu a porta para que as mulheres qualificadas
ocupassem qualquer posição de liderança na igreja. Ela incentivou as jovens a estudarem e a
desenvolverem seus dons concedidos por Deus a fim de estarem prontas para servirem à
51

igreja em qualquer posição. A evidência bíblica é clara: não há nada espiritual, ética ou
moralmente errado com ordenar as mulheres ao ministério evangélico.

INTRODUÇÃO

Cientes de nosso alto chamado como adventistas do sétimo dia, ansiosamente,


aguardamos a breve vinda de nosso Senhor Jesus. Veementemente, cremos que “Deus terá
sobre a Terra um povo que mantenha a Bíblia, e a Bíblia só, como norma de todas as
doutrinas e base de todas as reformas”.1 Esse chamado pede o pleno compromisso para com a
Escritura, em sua totalidade, e para com sua autoridade inquestionável como a única fonte da
fé e prática. Essas convicções são-nos indispensáveis ao examinarmos a história da salvação,
conforme nos foi revelada na Escritura, em nossa busca da vontade de Deus sobre a questão
da ordenação das mulheres ao ministério evangélico.
Ao tratarmos desse tema, a devida compreensão do caráter de Deus, do grande
conflito entre o bem e o mal e do plano da salvação proverão a estrutura para a interpretação.
Por conseguinte, em nosso exame da evidência bíblica para a ordenação das mulheres,
necessitamos fazer perguntas pertinentes a respeito de Deus: Como Deus vê as mulheres e
como Ele comunica isso a nós? Que retrato de Deus resultará em uma interpretação
favorável à ordenação das mulheres? Que retrato de Deus será pintado pela negação da
possibilidade da ordenação das mulheres? Iniciamos nosso estudo com sinceridade de
coração, com oração e disposição de ouvir o que o Espírito tem a dizer à igreja.

HERMENÊUTICA BÍBLICA

A necessidade de iniciar nosso estudo com uma breve discussão da hermenêutica


decorre do fato de que a Bíblia não ordena ou proíbe explicitamente a ordenação de mulheres
ao ministério. Os adventistas, que amam o Senhor e que levam as Escrituras a sério como a
inspirada Palavra de Deus, chegaram a diferentes conclusões, usando a mesma Bíblia sobre o
mesmo tema. Assim sendo, essas diferenças requerem reflexão sobre como interpretamos a
Palavra de Deus (hermenêutica).
Em 1986, no Concílio Anual da Associação Geral, no Rio de Janeiro, Brasil, a
liderança adventista do sétimo dia adotou um documento referente aos métodos da
hermenêutica bíblica:
“Métodos de Estudo da Bíblia: Pressuposições, Princípios e Métodos”2 (MBSC). A
hermenêutica não apenas trata da compreensão da Bíblia, mas também do processo de
pensamento a esse respeito e da avaliação da interpretação bíblica. Os adventistas do sétimo
dia concordam que deveríamos seguir sólidos princípios hermenêuticos. A exegese aplica
esses princípios a determinados textos, e a exposição desses textos transmite a mensagem de
Deus no texto, por meio da pregação ou do ensino.

1 GC 595.

1 GC 595.
2 Este documento foi publicado na Adventist Review, 22 de janeiro de 1987, e está disponível on-line em
https://adventistbiblicalresearch.org/materials/bible-interpretation-hermeneutics/methods-bible-study. Usaremos sua publicação em George E.
Reid, ed., Understanding Scripture: An Adventist Approach (Silver Spring, MD: Biblical Research Institute, 2005), 329-337.
52

USO DO DEVIDO MÉTODO

Reunir diferentes textos e compreender sua importância teológica requer grande


conhecimento do ensino bíblico como um todo. A tarefa deve ser feita sob a guia do Espírito
Santo, caso desejemos compreender a verdade, conforme pretendida pelo Espírito. De acordo
com o documento do Rio, aceitamos o método gramatical histórico de interpretação da Bíblia
como a devida ferramenta para sua compreensão. Firmemente, aceitamos a Bíblia como a
Palavra de Deus e rejeitamos metodologias que minem sua origem e mensagem
sobrenaturais; buscamos seguir o que ela ensina e lhe obedecer. Desejamos estudá-la com
humildade de coração e espírito receptivo, reconhecendo nossas limitações humanas na
compreensão de tudo o que ela tem a nos dizer.

ESTUDO DA LINGUAGEM, GRAMÁTICA E CONTEXTO

Conforme afirma o documento do Rio, também desejamos seguir fielmente os


métodos de estudo da Bíblia que cheguem ao verdadeiro significado do texto bíblico. Isso
requer o estudo dos contextos: “Em conexão com o estudo do texto bíblico, exploramos os
fatores históricos e culturais. A arqueologia, antropologia e a história podem contribuir para a
compreensão do significado do texto”.3 Por conseguinte, devemos considerar, da melhor
forma que pudermos, as línguas originais dos livros da Bíblia, com a ajuda da gramática e da
sintaxe, o contexto das passagens, o gênero literário dos livros e a orientação de Ellen G.
White, quando disponível. O contexto da passagem é seu contexto imediato no livro e na
Bíblia toda. Em alguns casos, o significado de uma passagem é claro ao leitor, mas em
muitos outros, sua compreensão requer análise cuidadosa e oração. Isso requer o estudo da
terminologia, de construções gramaticais, estrutura literária, seu ambiente contextual, etc.

FOCO TEOLÓGICO

O documento do Rio alude a tal abordagem teológica da hermenêutica quando diz:

As Escrituras foram escritas para fins práticos da revelação da vontade de Deus à


família humana. Porém, a fim de que certos tipos de declarações não sejam
interpretadas erroneamente, é importante reconhecer que foram dirigidas a pessoas
das culturas orientais e expressos em seus padrões de pensamento. [...] As Escrituras
registram experiências e declarações de pessoas a quem Deus aceitou, mas que não
estavam em harmonia com os princípios espirituais da Bíblia como um todo – por
exemplo, incidentes relacionados ao uso de álcool, poligamia, divórcio e escravidão.
Embora a condenação desses costumes sociais profundamente enraizados não seja
explícita, Deus não necessariamente endossa ou aprova tudo o que Ele permitiu e
suportou na vida dos patriarcas e [reis] em Israel. [...] O espírito das Escrituras é o de
restauração. Deus trabalha pacientemente para elevar a humanidade caída das
profundezas do pecado para o ideal divino.4

3 MBSC, 333.
4 Ibidem, 335-336.
53

Em outras palavras, uma abordagem teológica aos princípios bíblicos, espirituais e


teológicos que enalteçam o desdobramento da revelação de Deus é parte da hermenêutica
bíblica adventista fiel. É a narrativa da história da salvação: do ideal da criação de Deus,
passando pela queda da humanidade, à restauração através de Cristo ao ideal original de Deus
na nova terra. Os adventistas empregam uma abordagem distintiva em seu método teológico
de Criação-Queda-Recriação. A Criação é um princípio fundamental e abrangente do ensino
adventista e serve como fundamento para as formulações teológicas de nossos ensinos. Esse é
o caso para nossa compreensão do conflito cósmico e para ensinos como abstinência de
bebidas alcoólicas, vegetarianismo e rejeição da poligamia e da escravidão. Essa
hermenêutica adventista se reflete também em nosso nome: somos adventistas (recriação) do
sétimo dia (criação). A história completa da redenção está incluída. Com essa abordagem
distintiva, com base na criação e recriação, somos capazes de ver a perspectiva geral da
revelação de Deus, a unidade das Escrituras e o propósito final do material bíblico como um
todo (uma abordagem canônica) a fim de corretamente discernir o significado da mensagem
de Deus. Nessa tarefa, buscamos descobrir, guiados pelo Espírito, o caráter amoroso de nosso
Deus, conforme manifestado em Seu Filho e no registro de Sua revelação nas Escrituras.

USO DOS PRINCÍPIOS TEOLÓGICOS BÍBLICOS

Assim, princípios hermenêuticos sólidos proveem compreensão equilibrada e


biblicamente informada do texto bíblico. Se tentarmos explicar a verdade bíblica apenas e
simplesmente por citar textos bíblicos ao invés de encontrar e aplicar os princípios bíblicos
providos pelo contexto maior da Bíblia em si, os adventistas não seriam capazes de apoiar
nossas posições contra o fumo ou uso de drogas ou na promoção do vegetarianismo.
Uma hermenêutica que leva a sério os princípios bíblicos e que retraça suas raízes à
criação é consistente também com nossa posição adventista contra o estilo de vida
homossexual, porque o relato bíblico da criação provê o raciocínio para a total oposição a
esse estilo de vida. O ensino bíblico contra a homossexualidade está enraizado na legislação
da criação, que é universal, não temporal, que nunca muda e que é válida em todos os tempos
(ver Gn 1:26-28; 2:22-24; Lv 18:22; 20:13; Rm 1:26-27). Ele também é consistente com a
trajetória bíblica construída sobre o padrão da criação, queda e recriação.

TEXTO, TEOLOGIA E ORDENAÇÃO

Conforme sugerido acima, embora não haja uma declaração bíblica explícita e direta
comandando a ordenação de mulheres ao ministério, tampouco há qualquer impedimento
bíblico para tal. Pelo contrário, uma análise cuidadosa e bíblico-teológica aponta na direção
da plena inclusão e afirmação das mulheres em todas as posições ministeriais. Essa
abordagem é usada por todas as partes envolvidas na discussão da ordenação das mulheres ao
ministério. Na falta de uma ordem explícita, temos de buscar os ensinamentos bíblicos sobre
o relacionamento entre homem e mulher. É apenas ao ouvir atentamente o que a Bíblia
ensina, bem como sua ênfase teológica, que podemos chegar a uma sólida conclusão.
54

ORDEM NO REINO CÓSMICO DE DEUS

A ênfase bíblica na ordenação para o ministério diz respeito principalmente da


questão de ordem na igreja e, como tal, deve refletir os princípios de ordem que regem o
reino cósmico de Deus. O mistério da unidade da Divindade é para nós um mistério
impenetrável. Sabemos que Deus é amor e que os relacionamentos na Trindade são uma
constante expressão e transbordamento desse amor. O que vai além disso não se sabe, resta-
nos apenas nos curvar humildemente diante dEle em silêncio. Esse tipo de ordem caracteriza
a criação de Deus e é indispensável para que funcione devidamente. Em Seu reino cósmico, a
ordem é simplesmente o reflexo do amor de Deus por parte da criação.
Sendo a lei do amor o fundamento do governo de Deus, a felicidade de todos os seres
inteligentes depende da perfeita harmonia, com seus grandes princípios de justiça. Deus
deseja de todas as Suas criaturas o serviço de amor, serviço que brote de uma apreciação de
Seu caráter. [...] e a todos concede vontade livre, para que Lhe possam prestar serviço
voluntário.5
De acordo com essa citação, o amor é o fundamento do governo divino. O caráter de
Deus em si é a lei que rege o universo. Segundo, o bem-estar das criaturas inteligentes
depende de sua submissão a Deus. O próprio Deus é o centro da ordem. Terceiro, as criaturas
inteligentes expressam seu amor no serviço a Deus. Nada é arbitrariamente imposto sobre
elas, pelo contrário, tendo sido criados livres, o Criador apenas espera delas um serviço
voluntário.6
Mediante a lei do serviço, Deus mantém o universo unido. É essa lei de serviço por
amor que prevalece entre os anjos. Ellen White sugere que as posições de liderança entre os
anjos foram-lhes designadas com base no serviço.7
Sabemos que os anjos receberam novas responsabilidades, o que significa que não
foram criados para cumprirem uma determinada responsabilidade sem a possibilidade de
novas oportunidades para o serviço.8 Visto que as posições foram atribuídas por Deus, com
base no serviço, a submissão dos anjos aos novos líderes angélicos era voluntária no sentido
de que eles podiam compreender porque o Criador lhes atribuiu novos papéis de serviço. A
submissão aos líderes angélicos era, na verdade, submissão a Deus. Com o passar do tempo,
as funções poderiam mudar como resultado da concessão de novas honras a outros anjos.
Ninguém estava restrito a um determinado papel no Reino de Deus. Havia uma ordem
harmoniosa na qual cada criatura inteligente podia livremente desenvolver o potencial que
lhes fora dado por Deus sem qualquer restrição predeterminada e arbitrária (como, por
exemplo, a de quem foi criado primeiro; e, certamente, não na base do gênero).

5 PP 9.
6 Ver Ed 103.
7 Special Testimonies on Education, 57.
8 Por exemplo, Gabriel não era o querubim cobridor, mas recebeu essa função depois da queda de Lúcifer. Ellen White descreve Gabriel como o
"anjo que ocupa, em honra, o lugar logo abaixo do Filho de Deus” (DTN, 58). Essa era a posição de Lúcifer antes de sua rebelião (cf. 4BC 1162;
conf. 9; GC 495; 4BC 1143).
55

DEUS, MULHERES E HOMENS NO ANTIGO TESTAMENTO

Usando nossa abordagem hermenêutica iremos agora passar para o estudo do papel
das mulheres na Bíblia, iniciando no AT. Isso é indispensável, devido ao fato de que não
temos uma ordem explícita bíblica para ordenar ou não as mulheres ao ministério.

ADÃO E EVA ANTES DA QUEDA

Voltamos às origens porque aí encontramos, pela primeira vez, a compreensão divina


do relacionamento entre homem e mulher e o que Deus esperava deles. A leitura do texto
claramente indica que eles foram criados iguais e que nenhum deveria impor autoridade sobre
o outro.
CRIADOS À IMAGEM DE DEUS. “Criou Deus o homem [ha’adam, ‘gênero
humano’] à sua imagem, à imagem de Deus o criou; homem e mulher os criou.” (Gn 1:27).
Ambos, homem e mulher, foram feitos à imagem divina, ambos são abençoados, ambos
partilham da responsabilidade da procriação, ambos devem subjugar a terra, ambos devem
dominar sobre o reino animal (Gn 1:26-28). Sua natureza é a mesma e, sujeitos a Deus,
devem desempenhar as mesmas funções. Embora os termos “macho” e “fêmea” impliquem
diferença sexual (biológica) e outros tipos de diferenças, ambos, homem e mulher, sem
qualquer distinção, receberam a mesma ordem de dominar, não um sobre o outro, mas ambos
sobre o restante da criação de Deus. Esses versos explicitam e fortemente indicam a ausência
de qualquer hierarquia de homens sobre as mulheres.
A PRECEDÊNCIA DE ADÃO. O fato de o homem haver sido criado primeiro, antes
da mulher, pode sugerir para alguns que Adão devia ter autoridade sobre Eva, mas
contextualmente esse não é o caso (ex.: os animais foram criados antes de Adão). Pelo
contrário, o relato completo de Gênesis 2 é escrito para mostrar que a criação da mulher, no
final da narrativa, corresponde em importância à criação do homem no início. A mulher é
criada como o clímax da história da criação. O movimento no texto é do incompleto para o
completo. A precedência de Adão significa que a criação dos seres humanos ainda não estava
concluída. Podemos claramente afirmar que o Adão de Gênesis 2 é o macho da unidade
“Adão” de Gênesis 1, que foi criada à imagem de Deus como macho e fêmea. O ’ādam de
Gênesis 2 é o hā’ādam de Gênesis 1 no processo de ser criado. Isso é contextualmente o que
o escritor bíblico tinha a intenção de nos transmitir.
ADÃO E A LEI. A leitura de Gênesis 2:16-17 dá a impressão de que Adão recebeu
uma ordem específica de Deus e que se esperava que ele informasse Eva a respeito, ex.: ele
era seu professor. Primeiro, com respeito a quem era o professor no Jardim do Éden,
podemos apenas saber que Deus e os anjos eram seus instrutores.9 Segundo, é lógico presumir
que assim que Adão foi Criado Deus necessitou adverti-lo contra a transgressão.10 Terceiro,
sabemos que Deus também falou para Eva que não deveria comer da árvore do conhecimento
do bem e do mal.11 Deus também instruiu a ambos quanto a como trabalhar e cuidar do

9 Ed 20; PP 22.
10 Cf. YI, 27 de fevereiro de 1902 par. 1.
11 ST, 8 de outubro de 1894, par. 2, 3.
56

jardim.12 Deus deu instruções específicas a ambos e fez com que Lhe prestassem contas. Ele
12

os tratou como iguais.


CRIADA DA COSTELA DE ADÃO E PARA ELE. A derivação de Eva de Adão
aponta para a igualdade. Usando material natural da costela, Deus escolheu esteticamente
criar uma mulher enquanto Adão dormia. Eva foi criada do lado de Adão (não de sua cabeça
ou pés), para mostrar que devia “estar a seu lado como igual” 13 (Gn 2:21-22). Gênesis 2 fala 13

diretamente sobre a questão dos papéis relativos ou relacionamento funcional entre o


primeiro homem e mulher: Eva devia ser a ajudadora de Adão (‘ezer kenegdo, Gn 2:18). O
termo ‘ezer, muitas vezes traduzido como “ajudadora”, no original não denota uma ajudadora
ou assistente subordinada, como o termo português “ajudador” muitas vezes indica. Usado,
em grande parte para Deus (como em Êx 18:4;Dt 33:7, 26; Sl 33:20; 70:4; 115:9-11), esse
termo relacional na Escritura simplesmente denota um relacionamento benéfico. O termo
kenegdo literalmente significa “como sua contraparte”, e assim a frase toda ‘ezer kenegdo em
Gênesis 2 significa nada menos que uma benfeitora que é sua contraparte – uma “parceira”
igual (Gn 2:18, 22), tanto em natureza quanto em função. Ellen White escreveu: “Ao criar
Eva, Deus pretendia que ela não fosse nem inferior nem superior ao homem, mas em todas as
coisas lhe fosse igual. O santo par não devia ter nenhum interesse independente um do outro;
e não obstante cada um possuía individualidade de pensamento e de ação”.14
A criação de Adão e Eva foi um ato único no qual a separação e reunificação
desempenharam um importante papel. Adão foi criado primeiro e assim seu primeiro
relacionamento social foi com o Criador e não com Eva. Esperando dar a Eva o mesmo
privilégio, Deus fez com que Adão dormisse. O primeiro relacionamento de Eva não foi com
Adão, mas com Deus e então Ele a trouxe para Adão a fim de iniciarem um relacionamento
maravilhoso em união um com o outro e com o Criador. A separação é, em ambos os casos,
seguida por reunificação. Eva é criada da costela de Adão e trazida de volta para ele. Isso é
diferente da forma pela qual Deus criou outros fenômenos. Nesses casos não houve
reunificação porque algo radicalmente diferente foi criado (Gn 1:4, 7, 9; 2:7). A terminologia
“de” e “para” é usada (1Co 11:8, 9) para indicar a igualdade de Adão e Eva bem como a
diferença de gênero. Ela devia ser uma bênção a ele como sua igual.
DAR NOME À MULHER. Quando Adão recebe a mulher do Criador ele exclama:
“Esta, sim, é osso dos meus ossos e carne da minha carne! Ela será chamada mulher [’iššah],
porque do homem [’iš] foi tirada” (2:23). Deveríamos dar especial atenção à linguagem usada
aqui. Adão não está celebrando que Eva está agora sob sua autoridade, mas que agora tem
uma companheira correspondente à sua própria natureza (“osso dos meus ossos”). Na
verdade, o ato de dar nome, no AT, normalmente significa a capacidade de discernimento,
ex.: ele discerne sua verdadeira identidade (cf. Gn 16:13). Além do mais, em Gênesis 2:23
são usados dois “passivos divinos”. O primeiro, ela “foi tirada”, indicando que foi Deus que
realizou a ação. O segundo, “será chamada”, indica que depois de ter sido criada foi Deus
quem a chamou de “Mulher” (“Ela é chamada [pelo Senhor] de Mulher”).

12 Ibidem, par. 1
13 PP 19
14 T3 484 itálico acrescentado. Cf. PP 29: “Na criação Deus a fizera igual a Adão.” Fica claro na sentença seguinte que Ellen White implica
igualdade funcional (papel) sem hierarquia, bem como igualdade ontológica, na qual a sujeição/submissão da esposa ao marido é apresentada
apenas depois da Queda: “Se houvessem eles permanecido obedientes a Deus — em harmonia com Sua grande lei de amor — sempre
estariam em harmonia um com o outro”. Tal contraste deixa claro que esse papel hierárquico, envolvendo autoridade/submissão não existia
antes da Queda
57

CASAMENTO. A igualdade de Adão e Eva é expressa na fórmula do casamento: “Por


essa razão, o homem deixará pai e mãe e se unirá à sua mulher, e eles se tornarão uma só
carne [basar ekhad]” (2:24). O relacionamento de Adão e Eva é enaltecido como o padrão
para todos os relacionamentos conjugais humanos futuros. Esperava-se, em uma sociedade
patriarcal, que a mulher “se apegasse/unisse” a seu marido e, por esta razão, a força dessa
declaração é que ambos, homem e mulher, devem “apegar-se” um ao outro. O “apegar-se”
recíproco indica a ausência de submissão de um sob a autoridade do outro. De igual forma,
no contexto do pacto do casamento, o marido e a esposa se tornam “uma carne” (basar
ekhad). Essa expressão indica a unidade e a intimidade no relacionamento total do marido, na
totalidade de sua pessoa, para com a esposa, e vice-versa; uma harmonia e união um com o
outro em todas as coisas.
Resumindo, Gênesis 2, assim como Gênesis 1, não provê qualquer evidência que
poderia ser usada para apoiar a sujeição da mulher ao marido antes da Queda. Antes, eles
foram apresentados como plenamente iguais, sem qualquer alusão de uma natureza diferente
ou uma hierarquia funcional.

HOMENS E MULHERES DEPOIS DA QUEDA

ADÃO E EVA. A submissão da esposa ao marido ocorreu depois da Queda de Adão e


Eva. “Ele [seu marido] te dominará [mashal]” (Gn 3:16). O verbo hebraico traduzido como
“dominará” (mashal) não é o mesmo usado para “governo/ter o domínio” do casal humano
(radah) sobre os animais (Gn 1:28), mas aponta para um papel de liderança que implica
conforto, proteção, cuidado e amor. É crucial reconhecer que a liderança amorosa de Adão e
a submissão de Eva vêm depois da Queda, introduzida por Deus como uma medida paliativa
para preservar a unidade e a harmonia no casamento. Esse relacionamento não foi
estabelecido na criação, mas ocorre como resultado do pecado: “mas o pecado trouxera a
discórdia, e agora poderia manter-se a sua união e conservar-se a harmonia unicamente pela
submissão por parte de um ou de outro”.15 Finalmente, o papel de liderança amorosa
(mashal) em Gênesis 3:16 se restringe ao relacionamento de marido-mulher, e, portanto, não
envolve uma subordinação geral das mulheres aos homens ou à liderança universal dos
homens sobre as mulheres. Resumindo, não há impedimentos em Gênesis 3 que impossibilite
a mulher de plena e igual participação com o homem em qualquer ministério ao qual Deus a
possa chamar e para o qual Ele a capacite.
MULHERES NOS PAPÉIS DE LIDERANÇA EM ISRAEL. Visto que o texto bíblico
deixa aberta a possibilidade das mulheres exercerem cargos de liderança, há numerosos
exemplos de mulheres que exerceram o dom da liderança e do ministério no AT. Dentre
outras, temos Miriam, uma notável profetisa, líder de Israel, juntamente com seus irmãos (Mq
6:4), e Hulda (2 Reis 22:14-20; 2Cr 34:22-28). Porém, é Débora que merece especial
consideração. No livro de Juízes ela é descrita como uma líder militar com a mesma
autoridade dos generais, e uma juíza a quem os homens israelitas buscavam para obter
conselho e para resolver casos jurídicos. Seria um erro considerar Débora apenas como uma
profetisa que, temporariamente, recebeu poderes judiciais. O que, muitas vezes, é

15 PP 29, itálico acrescentado.


58

desconsiderado é o fato de que são poucos os profetas no Antigo Testamento que são
chamados juízes e profetas. Esses dois papéis foram atribuídos a Moisés (Êx 18:16) e a
Samuel (1Sm 7:6, 15-17). Isso sugere que ela foi a líder máxima de Israel naquele período,
como profetisa e juíza. Não há dúvida de que os juízes eram líderes antes da monarquia em
Israel (Jz 2:11-19) e que também tinham funções judiciais. No momento de crise, ela foi o
instrumento de Deus para livrar Seu povo.16 Esse era o trabalho dos juízes durante o período
dos juízes (2:16). Guiada pelo Senhor, ela tinha autoridade sobre os homens como profetisa e
juíza. Seu papel de liderança é tão impressivo que quando Baraque hesita e deseja que ela o
acompanhe na batalha, ela salienta que isso seria contra o papel tradicional da mulher e que
culturalmente lhe seria prejudicial; ele passaria envergonha. Mas ele não se importa, porque
deseja que a melhor líder de Israel o acompanhe. Ao escolher Débora como líder em Israel,
com autoridade sobre Seu povo, Deus demonstrou que não havia nada moral ou
espiritualmente errado com o ter uma mulher nas principais funções de liderança entre o povo
de Deus.
Concluindo, o Deus do AT não discrimina, arbitrariamente, os seres humanos com
base no gênero. Sempre que desejou usar uma mulher como líder em Israel Ele o fez. Isso
mostra que o padrão comum ou a prática da liderança masculina – seguida em todas as partes
no antigo Oriente Próximo e não apenas em Israel – não era única para Deus. Se formos falar
a respeito dos ideais divinos, isso ficaria claro. O ideal não era que os homens ocupassem as
posições de liderança mais significativas, mas que tanto homens quanto mulheres, como
iguais, liderassem o povo de Deus. Esse ideal remonta ao que Deus instituiu no Jardim do
Éden.

DEUS, MULHERES E HOMENS NO NOVO TESTAMENTO


Nosso estudo do NT mostrará que o que encontramos no AT é igualmente válido para
o NT. A Bíblia revela um Deus que consistentemente ama, cuida e usa os seres humanos,
homens e mulheres, em qualquer posição de responsabilidade entre Seu povo. O padrão de
liderança comum do homem encontrado no NT, também presente no AT, não representa
exclusivamente a vontade de Deus para Seu povo. Examinaremos o relacionamento de
marido e mulher e algumas das passagens mais importantes sobre o tópico no NT, a natureza
do ministério, os dons do Espirito e as qualificações para a liderança da igreja.

MARIDOS E MULHERES: LIDERANÇA (CABEÇA)

O Novo Testamento dá instruções importantes com respeito ao relacionamento entre


maridos e mulheres. Nas epístolas, encontramos sete usos da palavra grega “submeter-se”
(hypotassō; 1Co 14:34; Ef 5:21, 24; Cl 3:18; Tt 2:5; 1Pe 3:1, 5), no contexto do
relacionamento de homem/mulher (anēr/gynē). Há certa ambiguidade na linguagem grega
com respeito a anēr/gynē porque as mesmas palavras podem significar “homem/mulher” ou
“marido/mulher”. Porém, uma consideração mais atenta de cada uma dessas passagens revela

16 Ellen White escreve: “Habitava em Israel uma mulher, famosa por sua religiosidade, e por meio dela o Senhor escolheu livrar o Seu povo.”
(FD, 25)
59

que o contexto é consistentemente o do relacionamento de marido e mulher e não o de


homens e mulheres de forma geral.
EFÉSIOS 5:21–33. Esta é a passagem fundamental do NT que lida com os
relacionamentos de marido-mulher, e a única sobre essa questão que contém ambas as
palavras cabeça (kephalē) e submeter (hypotassō). Ela não diz respeito à obediência
incondicional da esposa ao marido e muito menos submissão coerciva. A referência ao
marido sendo o “cabeça” da esposa (v. 23) deve ser compreendida em relação à natureza da
liderança de Cristo, descrita no mesmo verso. Nos dias de Paulo, a palavra grega para cabeça
(kephalē) podia ser usada de várias formas simbólicas. Aqui não é usada como a autoridade
de Cristo sobre a igreja, mas de Cristo como a fonte da vida e de nutrição para o restante do
corpo (cf. Ef 4:15, 16; Cl 2:19). Os maridos devem emular o amor de Cristo como o
“Salvador” da igreja. O marido deve amá-la, nutri-la e estimá-la, assim como Cristo
“entregou-Se” pela igreja (v. 25, 28). No casamento, o amor é a forma de completa
submissão.
Como em Gênesis, Efésios 5 também deixa claro que o conselho de Paulo para os
maridos e esposas não pode se estender ao relacionamento de homens e mulheres de forma
geral. Embora alguns possam argumentar que a igreja é uma família e, portanto, a liderança
masculina na família deveria ser seguida na igreja, o próprio apóstolo mostra como o
relacionamento do casamento se aplica à igreja. A autoridade do marido no lar não é igual à
autoridade masculina na igreja. Antes, o único Marido/Cabeça da igreja é Cristo, e todos na
igreja – incluindo os homens – são Sua “noiva”, igualmente submissos a Ele (Ef 5:21-23).
1 CORÍNTIOS 11:2-16. Além de Efésios 5:23, a única outra passagem do NT que
utiliza kephalē “cabeça” no contexto do relacionamento de homem/mulher é 1 Coríntios 11:3.
Essa passagem está temática e terminologicamente relacionada a Efésios 5:21-33, e foca nas
esposas se submetendo à autoridade do marido, não à autoridade de homens sobre as
mulheres, de forma geral. Embora muitos argumentos contra a ordenação das mulheres
tenham sido formulados sobre o conselho de Paulo em 1 Coríntios 11, uma simples leitura
dessa passagem revela que Paulo não está falando aqui a respeito da liderança e autoridade da
igreja, nem tampouco da ordenação. Antes, o objetivo dessa passagem é instruir os Coríntios
com respeito ao uso ou não da cobertura da cabeça ao liderar nas reuniões da igreja, e
apresentar a razão para essa instrução.
Assunto principal da passagem. Na verdade, o conselho de Paulo nessa passagem
está em harmonia com outras passagens de suas cartas, onde vemos as mulheres exercendo
liderança no ministério evangélico. Em 1 Coríntios 11:4, 5, Paulo identifica o tópico principal
da passagem, e tanto homens quanto mulheres são retratados como participando e liderando o
culto pela oração e ao profetizar (ou seja, aconselhando e instruindo os crentes reunidos em
nome de Deus; cf. 1Co 14:1-15, 29-33). Essa liderança é aqui descrita exatamente nos
mesmos termos para homem e mulher, sem sugestões de desaprovação ou de diferenciação
entre os dois, quer no tipo ou no nível de liderança no qual estão engajados.
Prática cultural. Por muitas gerações, os adventistas não entenderam essa instrução
como querendo significar que as mulheres deveriam cobrir a cabeça durante o culto enquanto
os homens não deveriam fazê-lo. Isso foi considerado uma instrução cultural específica, em
um determinado contexto. Esse reconhecimento por parte da igreja não é o resultado do
60

abandono do conselho da Escritura, antes foi feito pelo motivo oposto – estar plenamente
atento e obediente às preocupações culturais fundamentais reveladas na passagem.
Explicitamente, Paulo afirma nos versos 4-6 que sua preocupação com relação à
cobertura da cabeça é a questão de trazer desonra em vez de honra sobre a cabeça.
Certamente, a preocupação com a honra é mais desenvolvida nos versos 7-9, onde Paulo fala
da mulher como a glória do homem. É a essa percepções que ele volta nos versos finais,
apelando ao que geralmente era considerado “próprio” a uma mulher, “natural” ao homem e,
geralmente, praticado pelas igrejas (v. 13-16). As instruções de Paulo de que é “vergonhoso”
para a mulher ter a cabeça raspada (v. 6) deve ser entendida de acordo com o elevado valor
dado à honra na sociedade greco-romana. Nessa sociedade, a mulher com a cabeça descoberta
ou raspada corria o risco de ser considerada adúltera ou prostituta, e a mulher que falava em
público, em um ambiente casual a homens que não fossem seu marido, era considerado como
buscando seduzi-los.
Uso do termo “Cabeça” (kephalē). Paulo inicia seu argumento referente a cobrir a
cabeça, no verso 3, usando uma descrição verbal, uma metáfora, para falar a respeito da
honra/vergonha nessa cultura, do que é “próprio” e “vergonhoso” que homens e mulheres
façam no ambiente público da igreja. Ele usa a metáfora da “cabeça” para demonstrar que
aquilo que um crente individualmente faz com sua cabeça física exerce também impacto em
sua cabeça metafórica. Assim sendo, a escolha de um homem quanto a cobrir a cabeça não é
simplesmente a respeito de sua liberdade de escolha, mas impacta a honra com a qual os
outros verão a Cristo, seu cabeça. De igual forma, a livre escolha da mulher com respeito a
cobrir a cabeça ou não afeta não apenas a si mesma, mas também a seu marido/“cabeça” e,
por fim, a Deus, o “cabeça” absoluto.
A palavra cabeça (kephalē) era usada pelos judeus e gentios para transmitir uma
variedade de ideias relacionadas ao lugar da cabeça física em relação ao corpo, incluindo a
proeminência, representação do todo, ser o primeiro ou fonte. Nessa passagem, Paulo está
focando a ideia metafórica de Adão como sendo o primeiro a ser criado e, certamente, a fonte
da qual a mulher foi criada (v. 8, 9). Esse uso faz total sentido com o verso 3 e, certamente, o
melhor sentido cronológico. Então, ele está dizendo que Cristo foi o primeiro ou a fonte, com
relação ao homem (abrangendo toda a humanidade, como em Rm 4:8; Ef 4:13); que o
homem, Adão, foi o primeiro ou a fonte, em relação à sua esposa Eva; e que Deus foi o
primeiro ou a fonte, com relação a Cristo (o Messias) ao enviá-Lo para redimir a
humanidade.
Conexão com Gênesis. Nos versos 7-9, Paulo elabora sobre a metáfora da “cabeça”
ao acrescentar vários motivos de Gênesis 1-3 pelos quais as mulheres devem preocupar-se
para não desonrar o marido. Embora, assim como o homem, a mulher tenha sido criada à
imagem de Deus, Paulo foca aqui no fato de que ela teve o privilégio adicional de ter sido
criada para satisfazer a necessidade do homem e para ser sua glória. Paulo cita Gênesis 2 e
provê uma excelente leitura desse texto. Ele nota que em Gênesis a mulher foi criada do
homem – essa é sua origem imediata – e não o homem da mulher. Esses são os fatos. De
acordo com Paulo, a mulher veio para enriquecer o homem e, nesse sentido, ela acrescentou
honra/glória a ele. Ela foi criada para o benefício do homem, não o homem para seu
benefício, porque ele foi criado antes que ela fosse criada. Para Paulo e o livro de Gênesis
esse é o exato fundamento para a diferenciação de gênero. Esse argumento é usado por Paulo
61

para indicar que quando uma mulher participa no culto, ela deve cobrir seu cabelo a fim de
dar glória a Deus, não ao homem. Ao fazer isso ela também evita a glorificação pessoal,
porque seu cabelo é sua glória (v. 15).
Na cultura do primeiro século a compreensão tradicional era de que a “glória” da
mulher, e especialmente seu cabelo, deveriam ser cobertos em público a fim de evitar trazer
vergonha pela falta de modéstia, mostrando-o a pessoas de fora de sua família. Nessas
circunstâncias, isso era especialmente importante no culto, para evitar distração de dar a
glória e culto somente a Deus. Note que, ao seguir o resumo de sua instrução no verso 10,
Paulo equilibra sua argumentação nos versos 11-12 ao deixar claro que, desde a criação, foi a
mulher quem Deus colocou em primeiro lugar como fonte, pois foi ela quem deu à luz cada
homem desde Adão.
Resumindo, 1 Coríntios 11:2-16 deixa claro a diferença entre homem e mulher na
forma do vestuário, em harmonia com Deuteronômio 22:5, e pede às esposas para agirem de
forma a não desonrar seu marido. Essa passagem não diz respeito à proibição das mulheres
servirem em funções de liderança, nem tampouco à autoridade universal dos homens sobre as
mulheres. Paulo não relê em Gênesis 1-3 um princípio que nunca foi notado ou expressado.
Ele usa a passagem para demonstrar que, desde o início, a esposa enriqueceu a vida do
marido e lhe trouxe honra e que isso deve continuar durante o culto e no contexto do mundo
caído. Paulo está usando a referência à criação como uma explanação de seu argumento, não
como a razão para um padrão universal de relacionamento entre homens e mulheres. Não há
nada no contexto que apoie a ideia de que na igreja o ancião é o cabeça da mulher.
1 TIMÓTEO 2:9-14. Esta é uma das passagens mais disputadas no debate da
ordenação das mulheres. Visto que essa passagem específica lida com questões relacionadas
às mulheres, daremos especial atenção ao que seu contexto imediato (a epístola de Timóteo)
diz a respeito delas.
Contexto. A leitura atenta de 1 Timóteo demostra que a carta de Paulo foi escrita em
resposta a falsos ensinamentos que ameaçavam destruir a obra de Deus em Éfeso. Desde o
início de sua carta Paulo instrui Timóteo a se opor aos falsos mestres, cujas doutrinas mal
orientadas estavam minando a verdadeira obra do evangelho (1:3). Em vez de proclamar o
poder do Cristo Ressurreto, que transforma vidas humanas (cf. 1:5, 12-16), esses indivíduos
estavam proclamando um evangelho exclusivo, que consistia em nada mais do que ideias
sensacionalistas (cf. 1:3-4; Tito 1:14; 3:9). Na segunda parte da carta, Paulo descreve ainda
mais a natureza dos falsos ensinos (4:1-5; 6:3-10) e os contrasta com o tipo de
comportamento que deve caracterizar a vida vivida em harmonia com a verdade do
evangelho. A carta então encerra com um apelo para permanecer firme contra a falsa doutrina
(6:20-21).
Os falsos ensinos também estavam tendo grande impacto entre um certo número de
mulheres crentes. A extensão da influência negativa desses falsos ensinos sobre elas é
indicado pela atenção proeminente que Paulo dá às mulheres em sua discussão contra os
falsos ensinos. Ele está preocupado com a conduta das mulheres no culto (2:10-15), com as
viúvas (5:5-6, 10-11, 14), e com as mulheres que estão indo de casa em casa “falando coisas
que não devem” (5:13). O fato de que Paulo descreve essas mulheres como “falando coisas
que não devem” sugere que elas estavam associadas, de alguma forma, a “certas pessoas” as
quais Timóteo foi instruído a impedi-las de ensinar “doutrinas falsas” (1:3). A conexão dessas
62

mulheres com os falsos mestres pode também ser vista em seu desejo de não se casar e ter
filhos (5:11-16), coincidindo com a advocacia dos falsos mestres quanto ao celibato (4:1-3;
5:9-10). Era a ligação dessas mulheres com os falsos mestres e suas doutrinas heréticas que se
encontrava no coração da proibição de Paulo.
Aprender em silêncio e ser submissa. O contexto da passagem nos dá o motivo para a
declaração de que as mulheres devem aprender em silêncio. Em vez de ouvir os falsos
mestres, elas devem ser ensinadas na igreja por aqueles que são bem-versados na doutrina
cristã. Como boas estudantes, as mulheres devem aprender em silêncio, ou seja, não devem
interferir no processo do ensino. Além disso, elas devem ser submissas aos mestres e aos
ensinamentos cristãos.
Mulheres proibidas de ensinar. As mulheres são proibidas de ensinar devido à
influência que os falsos ensinos tinham sobre elas – uma influência que somente afetou o seu
comportamento, mas que, aparentemente também envolveu a promoção dos falsos
ensinamentos por parte delas. As mulheres, em Éfeso, não eram adequadas para ensinar, não
devido ao fato de serem mulheres, mas porque foram ou estavam sendo enganadas pelos
falsos mestres – assim como Eva tinha sido enganada pelas palavras sedutoras da serpente
(cf. 1Tm 2:14; 2Co 11:3-4). Sob essas circunstâncias, tais mulheres não estavam em posição
de ensinar; elas primeiro necessitavam se tornar aprendizes (2:11).
Ter autoridade sobre. O verbo authentein, em 1 Timóteo 2:12, traduzido “tenha
autoridade sobre”, não se refere à autoridade oficial de ensino. O cuidadoso exame do uso do
verbo mostra “que não há autorização no primeiro século para traduzir authentein como
‘exercer autoridade’”.17 Esse tipo de autoridade é, normalmente, expressado através da forma
verbal da palavra grega comum que Paulo usa para se referir à autoridade – exousia (ex.: Rm
9:21; 13:3; 2Co 13:10; 2Ts 3:9). Antes, ele usa o verbo incomum authentein – apenas
encontrado aqui no Novo Testamento, mas um termo que também tem conotações negativas
associadas a ele. Refere-se a um domínio ou a uma forma de controlar o comportamento. Isso
indica que o problema em Éfeso estava enraizado na forma dominante e controladora na qual
as mulheres estavam ensinando ou, mais provavelmente, em sua atitude para com aqueles que
as estavam instruindo. Paulo proíbe seu comportamento impróprio no verso 12 e então
explica o motivo para a proibição com respeito à ordem da criação, no verso 13.
Adão e Eva. É importante notar que Paulo não explica o que ele quis dizer ao falar:
“Porque primeiro foi formado Adão, e depois Eva. E Adão não foi enganado, mas sim a
mulher, [...]” (v 13, 14). Por conseguinte, foram dadas diferentes explicações a essas palavras
(ex.: Eva usurpou a liderança de Adão). Paulo, no entanto, está contrastando a precedência de
Adão na Criação com a precedência de Eva no pecado, a fim de indicar que o engano não é
inevitável – Adão, embora criado primeiro, não foi enganado. O engano, em ambos os casos,
está associado a falsos mestres e se as mulheres deixassem de ouvi-los não seriam enganadas.
Essa interpretação do texto, conforme seu contexto imediato, é apoiada por 1 Coríntios 11:5,
onde Paulo especificamente reconhece o direito das mulheres de pregar ou profetizar na
igreja – atividades que não apenas eram feitas em voz alta, mas também incluíam um
elemento de ensino público.

17 Linda L. Belleville, “Teaching and Usurping Authority: 1 Timothy 2:11-15,” em Discovering Biblical Equality: Complementarity without Hierarchy
(ed. Ronald W. Pierce and Rebecca M. Groothuis; Downers Grove, Ill.: InterVarsity, 2004), 216.
63

Na compreensão a partir dessa perspectiva, a proibição de Paulo é melhor


compreendida como uma injunção temporária, especificamente relacionada aos falsos ensinos
que estavam perturbando os crentes em Éfeso. Assim como toda a Escritura, a passagem tem
autoridade universal para a igreja hoje. Mas para ser fiel à Escritura, a passagem deve apenas
ser aplicada a situações similares na igreja – situações onde, sob a influência de falsos
ensinos o comportamento de certos indivíduos, quer mulheres ou homens, ameaçam minar a
proclamação do verdadeiro evangelho (Gl 1:7-9). O contexto indica que essa passagem não
diz respeito à ordenação das mulheres ao ministério ou a respeito da autoridade dos anciãos
da igreja sobre as mulheres. Nem tampouco a respeito da autoridade do marido sobre a
mulher.

NATUREZA DO MINISTÉRIO CRISTÃO

JESUS E O MINISTÉRIO CRISTÃO. A natureza do ministério cristão foi manifestada


e estabelecida de maneira inquestionável por Jesus mediante Seu ministério de ensino e
sacrifício: “Pois nem mesmo o Filho do homem veio para ser servido, mas para servir e dar a
sua vida em resgate por muitos” (Mc 10:45). O serviço altruísta é a maior expressão do
ministério cristão, conforme manifestado na encarnação e morte do Filho de Deus. Aquele
que era de natureza divina, Se tornou servo a ponto de entregar Sua vida por nós (Fp 2:5-8).
Sua exaltação se baseou em Seu serviço incomensurável pelos outros. Ele também ensinou
isso aos discípulos quando lhes disse: “Vocês sabem que aqueles que são considerados
governantes das nações as dominam, e as pessoas importantes exercem poder sobre elas. Não
será assim entre vocês. Pelo contrário, quem quiser tornar-se importante entre vocês deverá
ser servo” (10:42, 43).
A teologia do ministério de Jesus se fundamenta no serviço, na abnegação, na
humildade, e não em uma luta pelo poder, pela posição, pelo status ou gênero. Jesus estava
reestabelecendo, em Sua igreja, o princípio divino da ordem que regia Seu reino cósmico
antes da origem do pecado, a saber, o amor divino manifestado no serviço aos outros. As
posições de liderança eram então atribuídas com base na vida de serviço e não com base na
precedência na criação ou gênero. Jesus não qualifica o que Ele diz com base no gênero,
como se o serviço da mulher devesse sempre ser de natureza inferior ao dos homens. As
posições de liderança, Ele diz, são atribuídas a todos com base no serviço.
MINISTÉRIO NA IGREJA. Ao seguir as instruções de Jesus, os escritores do Novo
Testamento visionavam todo o ministério como serviço (diakonia) e aplicavam o termo ao
serviço de todos os crentes, quer dos que exerciam papéis de liderança como dos que
cumpriram outros papéis ministeriais na igreja (Rm 16:1; Fp 2:5-7; Cl 1:7; 1Pe 4:10). Em
suas cartas às igrejas, Paulo usou as mesmas palavras para descrever seu ministério e o de
seus cooperadores, incluindo mulheres (Rm 16:3; 1Ts 3:2). Juntos eles eram servos
(diakonos) e escravos (doulos) do evangelho e de Cristo (Cl 1:7, 4:7, 12; Ef 6:21). O tipo de
autoridade exercido pelos crentes cristãos é, portanto, diferente do visto no mundo como um
todo. Em vez de ser concebido em termos de “dominar sobre”, ou “ter autoridade sobre” (Mc
10:42), o propósito de todo ministério cristão é encorajar, capacitar, habilitar e prover uma
visão “para que o corpo de Cristo seja edificado” (Ef 4:12) e sua missão seja cumprida. Os
princípios bíblicos para exercer autoridade desafiam cada cultura humana de alguma forma. É
64

essencial reconhecer que a cultura tem uma poderosa influência para moldar as pessoas. Os
adventistas do sétimo dia creem que toda a autoridade eclesiástica deve ser exercida em
espírito de humilde serviço a Deus e a Seu povo (Mt 20:24-28; 1Pe 5:1-4).
Na Palavra de Deus, o ministério é concebido como serviço e, como tal, é o chamado
a cada pessoa que aceita a Cristo como Salvador e Senhor e se torna parte de Seu corpo.
Todos os seguidores de Cristo são chamados a representá-Lo no mundo, a agirem em Seu
nome, e a ministrarem aos outros, de acordo com seus dons (2Co 5:20; 1Pe 4:10). Portanto,
no NT, não se vê distinção entre o ministério espiritual (ou clero) e um leigo secular. Cada
seguidor de Cristo é um ministro ou servo e é chamado a cumprir um ministério de acordo
com a vontade do Espírito Santo.

A DÁDIVA DO ESPÍRITO

O ESPÍRITO PARA HOMENS E MULHERES. A fim de estabelecer a ordem na


igreja, com base na ordem cósmica estabelecida por Deus, todos os membros da igreja –
homens e mulheres – receberam, no Pentecostes, o poder do Espírito Santo. Assim foi
inaugurada a missão da igreja. Mediante o Espírito, Cristo fez provisão para que cada crente
participasse em Seu ministério. Ele segue capacitando os crentes ao prover-lhes os dons
espirituais, cujo propósito é edificar e servir a comunidade cristã e facilitar seu empenho
missionário (Rm 12:6-9; 1Co 12:6-11; Ef 4:7, 11-13). Ao prestar serviço amoroso um ao
outro e ao mundo, os crentes demonstram sua obediência à ordem de Jesus (Mt 22:37-39;
28:18-20).
OS DONS SÃO INCLUSIVOS DE GÊNERO. O ensino do Novo Testamento sobre os
dons espirituais indica que o Espírito Santo concede dons a todos os cristãos,
independentemente da raça, gênero ou status social. Todos os crentes recebem alguns dons
para a edificação do corpo de Cristo e para a missão e ministério no mundo. Esse fato é
evidência de que todos os cristãos (homens e mulheres) receberam dons e são encorajados a
desejarem os “melhores dons” (1Co 12:7, 11, 31). Cada seguidor de Cristo, sem exceção,
tem, portanto, uma contribuição única e especial para o bem-estar e a missão da igreja. Visto
que é o Espírito Santo que origina e sanciona todos os ministérios cristãos, os seguidores de
Cristo podem esperar receber Seu chamado e são incentivados a abraçarem o ministério
especial a que foram chamados. Com base nas palavras proféticas de Joel 2 e a reaplicação de
Pedro aos eventos do Pentecostes, os adventistas do sétimo dia, consistentemente, afirmam
que todos os dons espirituais são inclusivos de gênero, incluindo dons como o de liderança,
profecia, evangelismo, ministério pastoral e ensino.
MEMBROS E MINISTROS: NENHUMA DIFERENÇA ESSENCIAL. Finalmente, o
dom espiritual de cada membro sugere que não pode haver qualquer diferença essencial entre
os membros e pastores na igreja. Toda forma de clericalismo, ou seja, a ideia de que há uma
divisão de classe na igreja, onde alguns possuem status espiritual mais elevado do que outros,
é estranho ao pensamento do NT (1Co 12:22-25). Antes, cada crente, sob a guia e liderança
do Espírito Santo, é chamado a cumprir um ministério, de acordo com seu dom espiritual (At
1:6-8; 1Co 12:4, 11). Toda reivindicação de exclusividade a esses dons ou negação com base
na raça, classe ou gênero é negada, porque sua distribuição é determinada pela vontade do
Espírito Santo e não pela dos homens (1Co 12:11).
65

Concluindo, o ministério cristão é inclusivo de gênero e posições de responsabilidade


são dadas com base no chamado divino e na vida de amor manifestada no serviço a Deus e
aos outros. Os adventistas creem que “os dons provêm todas as aptidões e ministérios de que
a Igreja necessita para cumprir suas funções divinamente ordenadas” (Crenças Fundamentais,
17). Porém, o “sacerdócio de todos os crentes” e a dotação espiritual de cada crente não
exclui a ideia de que, a fim de que a igreja cumpra sua missão eficientemente, alguma
estrutura ou organização seja necessária (At 15:1-15; 1Co 14:33, 40). Por isso, o Novo
Testamento também apoia a ideia de ministérios de liderança especializados.

DONS E OFÍCIOS

Embora Cristo não tenha provido informações detalhadas sobre como a igreja deve
ser organizada, Ele permitiu que a igreja, com a orientação do Espírito e da Escritura, se
organizasse e encontrasse formas de melhor cumprir sua missão.
DEUS TOMA A INICIATIVA. O testemunho bíblico é claro de que para cumprir Sua
missão na Terra Deus escolheu alguns de Seus seguidores para servir e liderar a igreja, de
acordo com o dom espiritual recebido do Espírito Santo (Rm 12:8; Ef 4:7, 11). Em todos os
casos do ministério, foi Deus que iniciou o chamado, qualificando as pessoas para o
ministério e, por meio da igreja, deu-lhes autoridade para cumprir seus deveres e funções. No
AT, esses líderes incluíam os levitas (Nm 8:5-26), Arão e seus filhos (Êx 28-29), os 70
anciãos (Nm 11:10-25), Josué, os juízes e os profetas de Israel.
Assim como no AT, o NT também provê uma variedade de formas pelas quais
alguém foi nomeado a um ofício ou tarefa. Em todos os casos, a iniciativa para um chamado
a qualquer forma de ministério reside em Deus. Aqueles que dedicaram seu tempo integral ao
serviço cristão foram autorizados a receber apoio material da comunidade cristã (Mt 10:10;
1Co 9:3-14; 1Tm 5:17-18).
OS DOZE APÓSTOLOS. Entre os líderes do cristianismo primitivo, os apóstolos
desempenharam um papel especial. Jesus nomeou doze homens de grupos maiores de
discípulos (Mc 3:13-19; Lc 6:12-16) para serem apóstolos (Mt 10:1-4; Mc 3:13-19; Lc 6:12-
16). Ele os escolheu como testemunhas oculares de Seu ministério (At 1:21, 22) e deu-lhes o
ministério de fielmente proclamar e interpretar Suas palavras e testemunho, o evangelho.
Depois de Sua morte e ascensão ao Céu (At 2:1-4; Mc 3:13, 14; Mt 28:18-20), Ele confiou a
esses indivíduos o exercício da autoridade na igreja (cf. Mt 16:19; 18:18). Como testemunhas
oculares, diretamente nomeadas por Cristo, os apóstolos ocupam uma posição ímpar na
igreja. Como Paulo diz, eles são, com os profetas, o fundamento sobre o qual a igreja é
construída (Ef 2:20). Seu ministério é único e não replicável na igreja. A nomeação dos Doze
é considerada como o início da igreja cristã e do ministério cristão. Posteriormente, depois da
ascensão de Jesus, os discípulos escolheram, dentre eles, outro apóstolo, Matias, para
substituir Judas. Essa nomeação também foi feita em espírito de oração, e o lançar da sorte
entre Matias e José Barsabás foi visto como a vontade de Deus (At 1:15-26). No NT, o termo
“apóstolo” também é usado para designar o que parece ser missionários (ex.: At 14:14; 1Co
4:6, 9; 1Ts 1:1, 2:6).
DONS ESPECIALIZADOS. No início do cristianismo, encontramos vários indivíduos
chamados e dotados por Deus com certos dons do Espírito Santo que lhes permitiam trabalhar
66

em vias especializadas de liderança. Mencionados como apóstolos, evangelistas, pastores e


mestres (Ef 4:11), esses indivíduos agiam como líderes que ajudavam a jovem igreja cristã a
cumprir sua missão de forma mais eficiente. Eles tinham a responsabilidade de preparar o
povo de Deus para a obra do ministério, “para que o corpo de Cristo seja edificado” (Ef
4:12).
INÍCIO DA NOMEAÇÃO DE LÍDERES. O início da nomeação aos papéis do
ministério na igreja é registrado em Atos 6. Quando os apóstolos viram que estavam sendo
distraídos de sua missão devido a questões administrativas, eles pediram à igreja para eleger
sete homens para assumir a distribuição diária de alimentos. Essa seleção feita por uma
assembleia foi concluída com oração e imposição das mãos, sendo esta a primeira referência
a tal cerimônia no NT (At 6:1-6). Esse evento marca o início de um ministério apontado pela
igreja distinto de um ministério apontado por Jesus ou de outros cujo ministério dependia
apenas de um chamado divino direto (ex.: profetas e mestres). Os apóstolos e os sete foram
mencionados como realizando o serviço ou ministério para a igreja: os apóstolos estavam
realizando o ministério da Palavra, enquanto que os Sete estavam realizando o ministério das
mesas. Essa divisão de trabalho não era absoluta, pois o Espírito Santo usou, pelo menos,
dois dos sete, Estevão e Filipe, para ensinar o evangelho de forma poderosa nos capítulos
subsequentes de Atos (6:8-10; 8:5, 36-40; 21:8).
Embora a palavra diácono (diakonos) não ocorra no livro de Atos, ancião
(presbyteros) aparece várias vezes, ambos aceitando fundos para distribuição (11:30) e
atuando em um papel de liderança com os apóstolos (15:2-4, 22; 21:18). Paulo e Barnabé
eram mestres na igreja de Antioquia e também foram separados para a obra missionária,
mediante oração e imposição de mãos, por sua igreja (At 13:1-3). Durante sua jornada
missionária, eles nomearam anciãos nas igrejas locais que eles estabeleceram (At 14:23).
Contudo, o NT também fala de algumas nomeações para várias funções de forma menos
formal, tal como as filhas de Filipe e de Ágabo (At 21:8-10). A primeira evidência clara de
duas classes de ministérios nomeadas de diáconos e anciãos é a saudação em Filipenses 1:1,
mas a distinção fica mais clara em 1 Timóteo 3:1-13. Através da orientação protetora e da
preocupação amorosa de Deus, os padrões de ministério, fluídos no início, foram assim
estabelecidos na igreja primitiva.
DIÁCONOS E ANCIÃOS. Conforme indicado, o diaconato se originou na nomeação
dos sete, em Atos 6. Provavelmente, foi uma questão de tempo para as igrejas, em diferentes
lugares, nomear seus próprios diáconos como oficiais na igreja. Paulo dá instruções
específicas sobre essa questão (1Tm 3:8-13). Também incluídos entre os que exerciam os
dons de liderança estavam os líderes nomeados – anciãos/supervisores e diáconos – eleitos
pela comunidade e afirmados pelos apóstolos. Reconhecendo o dom de liderança nesses
indivíduos e a atuação do Espírito Santo em suas vidas (At 6:3), a igreja os escolheu para a
tarefa de supervisão espiritual, proteção da comunidade (pastor), ensino e pregação (At
20:28; 1Tm 5:17).
Dons e ofícios não devem ser drasticamente distinguidos visto que os anciãos foram
nomeados para seu ofício com base no recebimento dos dons que os qualificaram para essa
função específica. Por exemplo, dentre os dons do Espírito, encontramos o de pastor (poimēn;
Ef 4:11) que é usado como sinônimo de ancião/supervisor (1Pe 5:1-4; At 20:17, 28). As
funções de ancião e supervisor são também sinônimos uma da outra (At 20:17, 28; Tt 1:5, 7).
67

O dom do ensino também é descrito como uma responsabilidade de um ancião/supervisor


(1Tm 2:2; Tt 1:9). Esses papéis (pastor/mestre, ancião/supervisor) não foram claramente
distinguidos. Os dons espirituais de pastor/mestre, que são inclusivos de gênero no ensino
adventista dos dons espirituais, são, portanto, equivalentes ao da posição nomeada do ancião
ou supervisor.

IMPOSIÇÃO DAS MÃOS NA ESCRITURA

A prática atual de ordenação de líderes da igreja, através do ritual de imposição das


mãos, é amplamente usada nos relatos do NT de Atos 6:1-6 e 13:1-3. A Escritura não provê
uma descrição litúrgica detalhada ou sua teologia, nem restringe o uso desse ritual apenas ao
emposse de líderes da igreja. Assim como muitas outras práticas cristãs, porém, a imposição
das mãos tem suas raízes no AT e no judaísmo.
IMPOSIÇÃO DAS MÃOS NO AT. O rito ocorre no AT em uma variedade de
contextos, tais como nas bênçãos, nos sacrifícios ou no apedrejamento devido à blasfêmia
(Gn 48:14; Lv 4:4; 24:14). Porém, em apenas duas instâncias pode ser interpretado como o
precursor do rito do NT da imposição das mãos sobre os líderes: (1) o emposse dos levitas
(Nm 8:10) e (2) a comissão de Josué (Nm 27:23). Ambas as instâncias utilizam a frase
hebraica samak yad (literalmente, “pressionar as mãos sobre”). Os levitas foram chamados
para realizar um serviço sacerdotal especial em favor do povo. A cerimônia de imposição das
mãos envolvia toda a congregação de Israel e era feita apenas na inauguração de seu serviço
(Nm 8:10). Não há evidência bíblica de que quaisquer gerações posteriores de levitas tenham
sido ordenadas ou que esse evento devia ser repetido. Foi um evento único.
O emposse de Josué (Nm 27:23; Dt 34:9) ocorreu em um momento crítico na história
de Israel e teve um simbolismo significativo. Aos olhos do povo, ele era agora seu pastor e
líder (Nm 27:17), e um homem escolhido por Deus para cumprir uma tarefa crítica. É
importante notar, porém, que embora a imposição das mãos feita por Moisés,
simbolicamente, significava uma dotação de autoridade, Deus já havia dado a Josué todos os
dons espirituais necessários para o cumprimento da tarefa (Nm 27:18). A imposição das mãos
foi uma confirmação da presença do Espírito Santo, o qual garante sabedoria para a liderança
e o reconhecimento da capacidade de Josué de liderar a nação de Israel, juntamente com o
recebimento da autoridade para fazê-lo. Esse foi um evento único, porque antes do período
dos reis, nenhum outro líder foi ungido.
IMPOSIÇÃO DAS MÃOS NO NT. Como no AT, também no NT o ritual da imposição
das mãos foi usado em diversas circunstâncias. Duas frases, epitithein tas cheiras e
epitheseos ton cheiron (imposição da mão/mãos), são usadas mais de 20 vezes para indicar
eventos tais como bênção, cura ou recebimento do Espírito Santo no batismo (ex.: Mt 19:13-
15; Mc 6:5; At 8:17; 9:17; 19:6). Apenas duas instâncias inequívocas da imposição das mãos
se relacionam diretamente ao emposse de crentes nas posições de liderança: a nomeação dos
Sete, em Atos 6, e a “recomendação” de Barnabé e de Saulo, em Atos 13:3, antes de sua
viagem missionária (At 14:26).
No caso dos Sete, em Atos 6, eles foram escolhidos (v. 3, 5) pela comunidade cristã,
de acordo com as qualificações necessárias apresentadas pelos apóstolos: “bom testemunho,
cheios do Espírito e de sabedoria” (v. 3). Ao se colocarem diante dos apóstolos, “eles oraram
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e lhes impuseram as mãos” (v. 6). Infelizmente, não fica claro quem eram esse “eles”.
Poderia ter sido toda a comunidade ou poderiam ter sido apenas os apóstolos. Se a igreja
estivesse seguindo o precedente do AT, de Nm 8:10 (“e os israelitas imporão as mãos sobre
eles”) isso apoiaria a primeira interpretação.
IMPORTÂNCIA DO RITO. Quer os apóstolos ou toda congregação tenham imposto as
mãos sobre os Sete, a imposição das mãos não transmitiu, sacramentalmente, um dom que
eles já não tivessem. Eles já estavam “cheios do Espírito e de sabedoria” (At 6:3) e assim
tinham os dons espirituais necessários para cumprir o ministério ao qual foram chamados. Foi
por isso que foram escolhidos. A mesma interpretação também é válida para o
comissionamento de Barnabé e de Paulo. O gesto significava que em suas novas
responsabilidades os sete homens, Barnabé e Paulo tinham o pleno apoio, bênção e afirmação
da igreja; seu novo ministério e autoridade eram exercidos em nome da igreja. Por esse ritual,
essas comunidades do NT reconheceram a presença do chamado do Espírito Santo e deram
aos Sete, a Barnabé e a Paulo, e posteriormente a outros líderes na igreja, a autorização para
servir em suas funções.
Quais, então, são as implicações do nosso estudo da imposição das mãos para a
questão da ordenação das mulheres? Pelo menos, deve-se dizer que a Igreja pode,
legitimamente e com base na Escritura, escolher impor as mãos sobre (ou “ordenar”) aqueles
que são reconhecidos como tendo recebido o chamado de Deus e os devidos dons espirituais
para o ministério pastoral, sem levar em conta o gênero. O fato de que dificilmente há
quaisquer diferenças significativas entre os dons e os ofícios (os dons equipam a pessoa para
o ofício) indica que considerar os dons como inclusivos de gênero, mas não de ofícios –
excluindo assim as mulheres dos ofícios – não tem apoio no NT.

QUALIFICAÇÕES PARA A LIDERANÇA

Embora se espere que os líderes sejam mais maduros no caráter cristão, muitas das
qualificações para o ministério da liderança, descritas em 1 Timóteo 3:1-13 são, na verdade,
as mesmas esperadas de todos os cristãos. Como veremos, essas qualificações de liderança
não são exclusivas de gênero. Esse fato bíblico é muitas vezes passado por alto devido ao uso
inclusivo de linguagem na Escritura, como em muitas línguas e sociedades e mesmo nos
tempos modernos, em relação ao sexo (normalmente masculina) para se referir tanto a
homens quanto a mulheres. A lista de Paulo das qualificações para a liderança, estruturada no
gênero masculino, não exclui as mulheres do serviço nesses ministérios e cargos, mais do que
o gênero masculino em todos os Dez Mandamentos e em outras leis do AT (Êx 20; ver
especialmente o v. 17), não isenta as mulheres de sua obediência.
DIACONISAS. O NT menciona dois cargos específicos na igreja cristã, ou seja,
anciãos e diáconos. Como no caso dos anciãos, os diáconos ocupavam responsabilidades
muito importantes de liderança na igreja apostólica. É também importante observar que
embora as qualificações para o diaconato sejam específicas de gênero, elas não são exclusivas
de gênero (1Tm 3:8-10, 12, 13). Há evidência, ou pelo menos sugestões, no NT indicando
que havia diaconisas na igreja apostólica (1Tm 3:11; Rm 16:1). Primeiro, na discussão das
qualificações para o diaconato, Paulo insere uma breve lista de qualificações para as
“esposas” dos diáconos (1Tm 3:11, NVI), que em grego diz: “As mulheres igualmente sejam
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dignas, [...]”. Parece que Paulo aqui se está referindo a mulheres que eram diaconisas.
Segundo, uma diaconisa é explicitamente mencionada por Paulo em Romanos 16:1:
“Recomendo-lhes nossa irmã Febe, serva [diakonos] da igreja em Cencreia”. Temos aqui os
elementos comuns da recomendação epistolar greco-romana:18 Isso inclui o nome da pessoa 18

que está sendo recomendada (Febe), o relacionamento com a pessoa (“nossa irmã”), o
status/papel da pessoa (“um diáconos da igreja em Cencreia”), e uma solicitação “recebê-la e
lhe prestar ajuda”.
Terceiro, Ellen G. White apoia a leitura dessas passagens como se referindo à
diaconisas que eram ordenadas mediante a imposição das mãos para esse cargo. Ela escreve:

Mulheres que estejam dispostas a consagrar algo do seu tempo ao serviço do Senhor
devem ser designadas para visitar os enfermos, cuidar dos jovens e ministrar às
necessidades dos pobres. Devem ser separadas para esse serviço pela oração e
imposição das mãos. Em alguns casos, necessitarão aconselhar-se com os oficiais da
igreja ou o ministro, mas, se forem mulheres devotadas, mantendo uma ligação vital
com Deus, serão um poder para o bem na igreja. Esse é outro meio de fortalecer e
edificar a igreja.19

Líderes da igreja, incluindo seu filho W. C. White, interpretaram essa declaração


como significando que as mulheres poderiam ser ordenadas para o ofício de diaconisa. Por
conseguinte, eles começaram a ordenar as mulheres como diaconisas.20 O que foi sugerido no
NT ficou explícito por meio do ministério profético de Ellen G. White. Isso é claramente
apoiado por Ellen G. White e levou alguns de nossos pioneiros a ordenar mulheres como
diaconisas. Essa descoberta, como veremos, é muito significativa.
MULHERES COMO ANCIÃS. Há uma clara evidência indicando que embora a
linguagem usada ao listar as qualificações para o ancionato seja específica de gênero
(masculino), ela não é exclusiva de gênero. Primeiro, o prefácio à lista de qualificações de
Paulo começa com a declaração: “se alguém (no grego tis) deseja ser bispo (episcopē) [...]”,
não: “Se um homem (anēr) deseja [...]” (1Tm 3:1). No grego, tis é um pronome indefinido

18 Ver Robert Jewett e Roy David Kotansky, Romans: A Commentary (Hermeneia—A Critical and Historical Commentary on the Bible,
Minneapolis, Min: Fortress Press, 2006), 941-942.
19 FD 78.
20 “Várias mulheres foram ordenadas como diaconisas durante o ministério de Ellen White na Austrália. Em 10 de agosto de 1895, a comissão de nomeações da
Igreja Ashfield, em Sydney, apresentou seu relatório, que foi aprovado. A ata do secretário da comissão de nomeações diz: ‘Imediatamente após a eleição, os
oficiais foram chamados à frente onde os pastores Corliss e McCullagh separaram o ancião, diáconos, [e] diaconisas mediante a oração e pela imposição das
mãos’. Vários anos depois, na mesma igreja, W. C. White oficializou a ordenação dos oficiais da igreja. As atas da igreja de Ashfield de 7 de janeiro de 1900
dizem: ‘Os oficiais anteriores foram nomeados e aceitos para o ano atual, e hoje o Pastor White ordenou e impôs as mãos sobre os anciãos, diáconos e
diaconisas – Adventist Review, 16 de janeiro de 1986.” (“Exhibits Relating to the Ordination of Women,” documento apresentado na reunião ministerial da
Assembleia da Associação Geral de 1990. Preparado pelo pessoal do White Estate).

Jerry Moon comentou a declaração de Ellen White: “Três respostas a esse apelo são conhecidas. Pouco depois que isso foi escrito, a igreja de Ashfield, em
Sydney, Austrália, não muito distante de onde Ellen White trabalhava então, realizou uma cerimônia de ordenação para os oficiais da igreja recém-eleitos. “Os
pastores Corliss e McCullagh da Associação Australiana separaram o ancião, diáconos, [e] diaconisas pela oração e pela imposição das mãos.” (Atas da IASD
de Ashfield, Sydney, Austrália, 10 de agosto de 1895, citado por A. Patrick; cf. FD 201). Note que terminologia idêntica é usada para todos os três ofícios. Outro
registro da mesma igreja, cinco anos depois, (1900) informa a ordenação de dois anciãos, um diácono e duas diaconisas. Dessa vez, quem oficiou o ministério
foi W. C. White, cujo diário corrobora os registros da igreja (ver Patrick). Um terceiro exemplo vem do início de 1916, quando E. E. Andross, então presidente
da Associação União do Pacífico, oficiou uma cerimônia de ordenação de mulheres e citou o artigo da Review de 1895, de Ellen White, como sua autoridade
(FD 204-206). Tanto a evidência interna do artigo da Review de 1895 de Ellen White como as respostas das pessoas ligadas a ela naquele tempo – a igreja de
Ashfield; seu filho W. C. White; e E. E. Andross, presidente da União-Associação União do Pacífico, durante seus anos em Elmshaven – confirmam que Ellen
White aprovou aqui a ordenação de mulheres a papéis então associados ao cargo de diaconisa na igreja local” (Jerry Moon, “Ellen White, Ordination, and
Authority,” [Comissão de Estudo da Teologia da Ordenação, julho de 2013], 33).
70

que, como tal, não está interessado na definição de gênero. O uso desse pronome indica que
Paulo não está interessado em gênero, mas que ele está recomendando o ofício de bispo como
digno de ser anelado. Isso encontra apoio no fato de que o apóstolo está principalmente
interessado no caráter do supervisor (bispo) como um líder espiritual, em vez de em seus
deveres. Portanto, quando Paulo diz “alguém”, ele quer dizer “qualquer pessoa”. Esse é o
significado claro do texto. É verdade que o substantivo “ancião” em grego é masculino, mas
este também é o caso com o termo grego diakonos. Portanto, embora ambos os termos sejam
específicos de gênero, eles não são exclusivos de gênero.
Segundo, a frase “marido de uma só mulher” (literalmente “homem de uma mulher”)
não significa que apenas o homem pode ser ancião. A mesma frase é usada para se referir
tanto aos diáconos quanto aos anciãos (1Tm 3:1, 12) e está claro que a mulher pode ocupar o
ofício de um diácono. Portanto, embora a frase certamente seja específica de gênero, não é
exclusiva de gênero, porque havia mulheres no diaconato. A ênfase da frase está na pureza
moral em vez do gênero (cf. 5:9). Em um contexto cultural predominante de prostituição
cultual, Paulo usa linguagem masculina para apresentar a pureza sexual e a monogamia como
uma qualificação dos diáconos e dos anciãos, quer fossem homens quer mulheres. Os anciãos
e diáconos devem ser sexualmente puros. Novamente, essa instrução identifica um tributo
moral que também qualifica as mulheres, visto que Paulo também ensina que uma viúva
idosa fiel é uma “esposa de um marido” ou “uma mulher de um homem” (1Tm 5:2, 9).
Terceiro, que se espera que os anciãos administrem sua casa bem, e isso não exclui as
mulheres desse ofício. A mesma qualificação é requerida dos diáconos (3:12), e como vimos
uma mulher pode atuar como um diácono. As mulheres devem administrar bem sua casa
também (5:14). Encontramos um bom exemplo disso na experiência de Lídia (At 16:15). O
principal objetivo desta exigência é assegurar que o ancião e o diácono tenham boa
experiência administrativa. É claro que nenhuma das outras qualificações para diáconos e
ancião se destinava a excluir as mulheres desses papéis.
Resumindo, Paulo usa linguagem de gênero (masculina ou feminina) em situações
específicas para transmitir princípios relevantes para homens e mulheres em ministérios de
liderança. Isso indica que mesmo quando as qualificações são redigidas em linguagem
específica de gênero, elas não são exclusivas de gênero, visto que são as mesmas para todos
os cristãos. Assim sendo, as mulheres podem ocupar posições ou cargos de diáconos e
anciãos, ainda que não encontremos no NT qualquer mulher nomeada como anciã na igreja.
O texto bíblico permite isso, indicando novamente que Deus não discrimina qualquer ser
humano. Qualquer pessoa que tenha recebido e desenvolvido os dons do Espírito pode ser
usada por Ele em qualquer posição na igreja.

CONCLUSÃO

Na comunidade de fé estabelecida por Jesus, as posições de liderança não devem ser


baseadas em raça, classe, cultura ou gênero. O elemento central é a lealdade somente a Cristo
e o cumprimento de Sua missão no mundo, através de um amor que se manifesta em serviço.
Paulo, intencionalmente, desmantela todos os sistemas de ordenação de relacionamentos
construídos nas compreensões herdadas dos valores baseados na origem racial ou cultura, no
status econômico e de gênero e os substitui por um sistema de valores construído
71

exclusivamente nos dons dados pelo Espírito Santo a membros individuais do corpo de
Cristo. As antigas formas de relacionamento uns com os outros são substituídas por uma nova
relação em Cristo (Gl 3:28, 29; Cl 3:11). Deus deseja restaurar na terra a mesma ordem
cósmica que Ele estabeleceu na terra no princípio. Nessa comunidade, todos têm valor igual
como membros do corpo de Cristo, porque todos experimentaram o Cristo ressurreto. Todos
são dotados com uma variedade de dons espirituais, incluindo os dons do ministério e
liderança, que devem ser usados para o benefício dos crentes, para a missão global da igreja e
para a manutenção dos ofícios de diáconos e anciãos (Rm 12:1-8).
Ao esta missão se aproximar de seu cumprimento, homens e mulheres na igreja perseguida do
tempo do fim são declarados por Cristo como sendo “reis e sacerdotes” de seu Deus (Ap 5:10; cf. 1:6;
20:6; Êx 19:5, 6; 1Pe 2:9, 10). Essa ordem de um ministério sacerdotal inclusivo servindo a Deus na
igreja caracteriza o livro de Apocalipse como um todo (como um cumprimento de Is 61:6). Sem
distinção de gênero, Cristo salvou homens e mulheres (Ap 1:5-6; 5:9-10), chamou-os para ministrar e
proclamar o reino de Deus até a Sua vinda (14:6-13), e prometeu que eles reinariam sobre o mundo
com Ele, como reis sacerdotais (20:4-6). Portanto, o “sacerdócio” de homens e mulheres é uma
característica da igreja remanescente.

ELLEN WHITE E AS MULHERES NO MINISTÉRIO

Ellen White, enfática e repetidamente, convidou as mulheres para serem treinadas e


empregadas em várias formas de ministério, e até mesmo para ordenar algumas delas para
esses ministérios. Que ela apoiou o envolvimento das mulheres em várias formas de
ministério é bem conhecido e documentado. Muitas publicações ajudaram os adventistas a se
tornar mais conscientes dos pensamentos dela sobre este tema, e hoje as mulheres estão
envolvidas em todas as formas de ministério em nossa igreja.
Uma cuidadosa consideração aos pensamentos de Ellen White sobre o papel das
mulheres na igreja, extraída em seu contexto do século 19, apoia o caso para a ordenação de
mulheres hoje. A perspectiva que extraímos dos escritos de Ellen White nos anima a avançar
e ampliar os limites da nossa compreensão do ministério e da ordenação, prosseguir com fé e
responder à liderança de Deus na plena participação das mulheres em todos os aspectos do
ministério. Cinco palavras simples podem descrever melhor a perspectiva de Ellen White
sobre as mulheres no ministério e a ordenação de mulheres.

SILÊNCIO

Ellen White é completamente silenciosa sobre alguns textos-chave e conceitos usados


para impedir que as mulheres sirvam no ministério. Histórias do ministério de Ellen White
ilustram que há 150 anos as mulheres não estavam tão envolvidas na vida pública social ou
religiosa como estão hoje. Na verdade, às vezes, era impróprio e indecente ver uma mulher
falando em uma assembleia. E, com base em uma leitura tradicional das admoestações de
Paulo em 1 Coríntios 14:34-35 ou 1 Timóteo 2:12, muitos se opuseram a ouvir as mulheres
falar em reuniões religiosas. Porém, Ellen White nunca comentou esses dois textos-chave.
Seu silêncio sobre esses textos diz muito sobre a importância que devemos lhes dar em nossa
discussão sobre as mulheres no ministério hoje. Seus colegas adventistas do sexo masculino,
72

contudo, comentaram esses textos e, às vezes, usaram Gálatas 3:28 para afirmar que o que
Paulo escreveu sobre as mulheres não falarem em público era num contexto cultural que não
tem aplicação universal hoje. Eles também se referiram a muitas colaboradoras de Paulo para
afirmar a conclusão óbvia de que Paulo, portanto, não estava falando contra as mulheres no
ministério. Uma das respostas mais claras vem de G. C. Tenney, presidente da Associação
Australiana, em 1892.

A dificuldade com esses textos é quase inteiramente devido a conclusões imaturas a


que se chegou a respeito deles. Definitivamente, é ilógico e injusto dar a qualquer
passagem da Escritura um significado radical desqualificado que está em discrepância
com o conteúdo principal da Bíblia e diretamente em conflito com seus claros
ensinos. A Bíblia pode ser harmonizada em todas as suas partes, sem sair das linhas
da interpretação consistente. Mas grande dificuldade, provavelmente, experimentam
aqueles que interpretam passagens isoladas sob uma luz independente, de acordo com
as ideias que eles mantêm. Aqueles que foram levados a crer que é vergonhoso para
as mulheres falar na reunião, não olham além desses textos e lhes dão aplicação
abrangente. Os críticos da Bíblia, críticos do sexo feminino, bem como as mulheres
que estão buscando uma desculpa para a inatividade, buscam essas passagens do
mesmo modo. Por seu mau uso desses textos, muitas pessoas conscienciosas têm uma
concepção errônea do que Paulo queria ensinar.21

INCLUSIVIDADE

Ellen White cria na inclusão das mulheres em todos os aspectos do serviço e


ministério. Em 1893, embora alguns homens não se sentissem confortáveis com as mulheres
servindo no ministério juntamente com seus maridos, e sendo justamente remuneradas por
seu trabalho, ela argumentou: “Essa questão não é para ser estabelecida pelos homens. O
Senhor a determinou”. Deus está chamando as mulheres para se envolverem no ministério e
em alguns casos elas “fariam melhor do que os ministros que negligenciam visitar o rebanho
de Deus”. Enfaticamente ela afirmou: “Há mulheres que devem trabalhar no ministério
evangélico”.22
Em 1879, ela tratou de uma situação difícil em South Lancaster, Massachusetts, e
afirmou: “Nem sempre são os homens os mais apropriados para a administração bem
sucedida de uma igreja. Se mulheres fiéis tiverem mais profunda lealdade e verdadeira
devoção do que os homens, elas poderão, certamente, por suas orações e trabalho, fazer mais
do que os homens não consagrados de coração e na vida”. 23 Nessa declaração inclusiva, sua
compreensão do ministério abrange a administração de uma igreja, um ministério que as
mulheres podem receber.
Em 1880, ela convidou os jovens a se envolver na colportagem porque ela poderia
servir como uma boa educação para “homens e mulheres para fazerem trabalho pastoral”.24
Vinte anos depois, em 1900, ela novamente incentivou as mulheres no ministério: “É a

21 G. C. Tenney, “Woman’s Relation to the Cause of Christ,” RH, 24 de maio de 1892, p. 328-329.29.
22 FD, 81; Ev, 472.
23 Ellen G. White to Brother Johnson, n.d. (Carta 33), 1879, 19MR 56. [Tradução livre.]
24 T4, 390.
73

assistência do Espírito Santo de Deus que prepara os obreiros, homens e mulheres, para se
tornarem pastores do Seu rebanho”.25 Em 1887, enquanto discutia a necessidade de prover
boa educação ao jovem adventista em nossas escolas, ela exortou os administradores a fazer o
seu melhor para treinar as jovens “com uma educação para adequá-las a qualquer posição de
confiança...” 26
Embora ela estivesse ciente de que, em seus dias, havia restrições sobre o que as
mulheres podiam fazer ou em que podiam ser empregadas pela igreja, ela não limitou as
opções disponíveis para as mulheres e nunca usou o conceito da autoridade masculina para
limitar as mulheres no ministério. Se, de alguma forma, Ellen White cresse que deveria haver
limites nas opções do ministério para as mulheres, ela teve inúmeras oportunidades para
esclarecer seu pensamento. Ela nunca o fez. Em vez disso, seus encorajamentos às jovens são
consistentemente abertos e inclusivos.
E quanto à ordenação?

VARIEDADE

Ela compreendia a ordenação como uma variedade de funções. Inúmeras passagens


em seus escritos proveem ilustrações significativas sobre o que ela entendia que a ordenação
e a imposição das mãos significavam. Ellen White sinceramente acreditava que o ministério
pastoral ordenado por si só não é suficiente para cumprir a comissão de Deus, que Deus está
chamando cristãos de todas as profissões para dedicarem sua vida ao serviço de Deus.
Portanto, ela convidou a igreja a diversificar sua compreensão das formas de ministério a fim
de incluir os papéis não tradicionais além do de pastor, ancião e diácono ordenados que
encontramos no NT, a fim de satisfazer as necessidades da igreja. Ela até mesmo advogou a
ordenação de pessoas nesses papéis.
Em 1908, para encorajar a missão das instituições médicas adventistas, Ellen White
escreveu que os missionários médicos deveriam ser separados “para sua obra de maneira tão
sagrada como o ministro do evangelho”.27 Em um contexto similar, em 1895, ela escreveu um
longo artigo sobre o trabalho de leigos nas igrejas locais. Ela aconselhou:

Mulheres que estejam dispostas a consagrar algo do seu tempo ao serviço do Senhor
devem ser designadas para visitar os enfermos, cuidar dos jovens e ministrar às
necessidades dos pobres. Devem ser separadas para esse serviço pela oração e
imposição das mãos. Em alguns casos, necessitarão aconselhar-se com os oficiais da
igreja ou o ministro, mas, se forem mulheres devotadas, mantendo uma ligação vital
com Deus, serão um poder para o bem na igreja. Esse é outro meio de fortalecer e
edificar a igreja. Precisamos distribuir-nos mais em nossos métodos de trabalho.28
Aqui ela diz que Deus está conduzindo a igreja a separar mulheres para essas formas
de ministério.

25 T6, 322
26 FCE, 117-118 (itálico acrescentado). [Tradução livre.]
27 Ev. 546.
28 FD 78.
74

Nessas duas recomendações, Ellen White claramente tinha em mente uma


compreensão mais ampla da ordenação do que alguns em seus dias e via a ordenação como
uma forma de afirmação, servindo a uma variedade de funções e propósitos. Não
encontramos precedentes bíblicos explícitos para essas duas recomendações de ordenação
que ela está advogando. Isso, provavelmente, porque Ellen White não compreendia a
ordenação como uma forma de sacramento limitado apenas a certas funções específicas de
gênero. De uma perspectiva missionária, parece óbvio que, em seus conselhos, todas essas
funções são inclusivas de gênero.

COMISSIONAR

No pensamento de Ellen White, a ordenação é o mesmo que comissionar. Esses dois


últimos exemplos refletem uma compreensão não sacramental da imposição das mãos. A
ordenação é, acima de tudo, uma forma de afirmação e comissão para uma tarefa. Na
verdade, é correto dizer que em seus escritos a ordenação e a comissão são a mesma coisa.29
Em 1873, John Tay se uniu à Igreja Adventista do Sétimo Dia e logo se sentiu
chamado por Deus para dedicar seu tempo como missionário voluntário no Pacífico Sul. Em
1886, ele aportou na Ilha de Pitcairn e teve sucesso, pela graça de Deus, na conversão de toda
população. Por não ser ministro ordenado, porém, ele não se sentiu autorizado a batizar esses
conversos. Dez anos depois, Ellen White comentou esse evento e tinha isto a dizer:

… tem sido um grande erro que homens saiam, sabendo que são filhos de Deus, como
o Irmão Tay, que foi às Ilhas Pitcairn como missionário para trabalhar, [mas] não se
sentiu à vontade para batizar, porque não fora ordenado. Isso não é um arranjo de
Deus; é uma adaptação dos homens. Quando homens saem com o fardo da obra e
para trazer almas para a verdade, esses homens são ordenados por Deus, ainda que
nunca tenham passado pela cerimônia da ordenação. Dizer que eles não podem batizar
quando não há outra pessoa é um erro. Se houver um ministro que pode ser contatado,
tudo bem, então, eles devem buscar o pastor ordenado para realizar o batismo, mas
quando o Senhor trabalha com um homem para trazer uma alma aqui e ali, e eles não
sabem quando haverá uma oportunidade dessas preciosas almas serem batizadas, ele
nem deveria questionar sobre o assunto, deveria batizar essas almas.30

É instrutivo que Ellen White diga que a ideia de que um leigo não pode realizar um
batismo em circunstâncias especiais porque não é ministro ordenado “não é um arranjo de
Deus; é uma adaptação dos homens”. Talvez alguns podem dizer que ela exagerou sua
resposta ao que aconteceu. Entretanto, há um aspecto de sua compreensão da ordenação que a
leva a dizer isso. A ordenação pela igreja é vista como uma afirmação da ordenação espiritual

29 Cedo na história adventista do sétimo dia, os líderes pioneiros do movimento estavam preocupados quanto à confusão e falsos ensinos que
eram, às vezes, manifestados entre o pequeno grupo de crentes adventistas sabatistas. Seguindo o exemplo dos apóstolos do Novo
Testamento, que haviam separado anciãos para supervisionar as congregações locais contra os falsos ensinos e para administrar as
ordenanças do batismo e da Ceia do Senhor, esses primeiros líderes adventistas escolheram homens promissores e os separaram com oração
e imposição das mãos. O critério para sua ordenação era a “plena prova”, evidência “de que receberam o chamado de Deus”. Ao ordená-los, o
grupo de crentes “mostraria a sanção da igreja a sua saída como mensageiros para levarem a mais solene mensagem já dada aos homens”
(PE, 100-101). A ordenação desses primeiros pregadores adventistas itinerantes serviu como um rito para autorizá-los a falar em nome da igreja
e para preservar a ordem na igreja que se desenvolvia. É interessante notar que nessa passagem Ellen White não usa a palavra ordenação,
mas se refere a esse rito como uma separação e comissão. Isso indica que ela usa essas palavras e conceitos de forma sinônima.
30 “Remarks Concerning the Foreign Mission Work,” Manuscript 75, 1896 (ênfase acrescentada).
75

anterior de Deus e do comissionamento ao ministério. Os seres humanos simplesmente


reconhecem o que Deus já abençoou. Na verdade, em 1851, quando escreveu sobre a
ordenação dos primeiros ministros adventistas, ela chamou essa cerimônia de
comissionamento, não de ordenação. Quarenta e cinco anos depois, em 1896, ela ainda
mantinha o mesmo conceito de ordenação.

MISSÃO

Ellen White cria que todos nós temos uma parte na missão adventista mundial. Ela
instou a igreja a reconhecer o chamado de Deus a homens e mulheres pela imposição das
mãos para uma variedade de funções a fim de que a missão da igreja pudesse ser mais
diversificada e completa. Ela era apaixonada por salvar o perdido e cria firmemente que todos
os homens e mulheres adventistas deviam ser ativos no ministério. A história adventista é
também reveladora sobre a prática da ordenação. George Butler se tornou presidente da
Associação de Iowa em junho de 1865, mas só foi ordenado em setembro de 1867. Urias
Smith serviu como editor da Review and Herald a partir de 1855, e secretário da Associação
Geral a partir de 1863. Ele foi ordenado em 1874. Ao longo do tempo, nossa compreensão do
ministério mudou e começamos a ordenar homens que não eram apenas evangelistas. Essa foi
uma forma de reconhecer outros dons do ministério. Expandimos nossa visão do ministério
para incluir mais pessoas que servem em uma variedade de ministérios. Por que não
deveríamos fazer o mesmo pelas mulheres? Ellen White não segue ainda nos instando a
ampliar nossas formas de ministério para alcançar um mundo perdido? Ela incentivou as
mulheres a serem ativas em muitas funções e ministérios e cria que, com a devida educação,
as mulheres poderiam ocupar “qualquer posição de confiança”.
Ellen White estava disposta a encorajar as mulheres em seus dias, em uma sociedade
e contexto nos quais as mulheres não eram encorajadas a ser ativas na sociedade, porque ela
acreditava em um amplo ministério inclusivo de gênero para advertir um mundo a perecer
sobre a breve vinda de Cristo. Se quisermos seguir seu exemplo, a ordenação deve estar
associada à missão e à propagação do evangelho, não ao estabelecimento ou à preservação de
um ministério exclusivamente masculino. Restringir o que as mulheres podem fazer na igreja
hoje às mesmas atividades e funções limitadas permitidas pela igreja no século 19 é deixar
escapar a validade permanente da mensagem de Ellen White. Ela incentivou abordagens
progressivas e inovadoras no ministério e na missão.
Devemos notar que Ellen White não estava interessada em deslocar os homens dos
papéis tradicionais que mantêm na família, igreja e sociedade. Ela pediu à igreja, porém, para
permitir que as mulheres servissem em amplas funções do evangelho e ministério pastoral, e
em qualquer posição de confiança para a qual eram qualificadas, incluindo até mesmo a
administração da igreja. Deste modo, ela apelou à igreja para incluir as mulheres com dons de
liderança, ministério pastoral e ensino (todas as mesmas funções bíblicas ocupadas por
pastores, professores, anciãos e supervisores), e para ordená-las para essas posições, assim
como os homens são ordenados para as mesmas posições.
76

NOMEAÇÃO A CARGOS NA IGREJA ADVENTISTA DO


SÉTIMO DIA

Na Igreja Adventista do Sétimo Dia, a nomeação a cargos e funções combina uma


série de atributos que vemos na Escritura. A maioria das nomeações é feita por meio de um
processo de seleção realizado por comissões que a comunidade da fé indica para fazer ou
recomendar as decisões para as nomeações. A autoridade para exercer essas funções é assim
conferida no momento em que as comissões constitutivas, os conselhos ou assembleias
tomam as decisões para as nomeações. Depois da decisão para nomear alguém para um cargo
ou uma função, pelas respectivas comissões das igrejas ou pelas comissões diretivas das
associações/uniões, alguns oficiais são empossados e ordenados mediante uma cerimônia de
oração e imposição das mãos, como no caso de diáconos, anciãos e pastores. Outros oficiais
são nomeados a seu ministério ou função simplesmente pelo voto de uma comissão ou
conselho (ex.: diretores de departamentos; presidentes de colégios e universidades), e outros
por voto de uma assembleia geral de crentes (ex.: Associação, União, Divisão e Associação
Geral). Durante a ordenação de diáconos, anciãos e pastores, a cerimônia de oração e
imposição das mãos é uma confirmação ou representação simbólica de uma decisão tomada
antes da cerimônia com o objetivo de lhes conferir autoridade.
Os adventistas do sétimo dia não acreditam que a ordenação confira qualquer poder
ou status espiritual. A cerimônia de imposição das mãos é uma forma de bênção na qual a
comunidade reconhece o chamado de Deus na vida do indivíduo. Através da imposição das
mãos, a Igreja age para conceder a autoridade representativa para o exercício do ministério do
diácono/diaconisa, ancião ou pastor.

CONCLUSÃO

Nosso estudo mostrou que, embora pareça haver um padrão bíblico de liderança
masculina entre o povo de Deus, Deus sempre esteve disposto a apontar para um melhor
caminho – uma forma que não excluísse as mulheres de posições importantes, com base em
seu gênero. Cremos que nossa tarefa mais importante é manejar “corretamente a palavra da
verdade” (2Tm 2:15), incorporando os princípios bíblicos e aplicando os ensinos da Bíblia à
vida diária. Realizamos essa sagrada tarefa moldada pelos métodos de interpretação que
emergem da própria Palavra de Deus, rejeitando agendas não bíblicas e tendências sociais
impostas sobre o texto. Pelo estudo cuidadoso e sistemático da Palavra, comparando texto
com texto da Escritura, chegamos a uma compreensão mais plena de seu significado,
ajudados pelo discernimento prometido pelo Espírito.
Nosso próprio nome – Adventistas do Sétimo Dia – destaca nosso profundo
compromisso com a Palavra que revela Cristo como Criador, bem como anuncia nossa
esperança do ato recriador pelo qual Ele fará “novas todas as coisas” (Ap 21:5). A partir do
relato de Gênesis da criação do homem e da mulher por Cristo, entendemos a igualdade
essencial pela qual Ele os formou e a reciprocidade para a qual Ele os projetou. Na visão do
apóstolo João acerca do Céu, temos um lampejo dos redimidos – sem distinção de classe,
raça ou gênero – adorando e seguindo o Cordeiro “por onde quer que Ele vá” (Ap 14:4).
77

A missão de Deus, revelada no Antigo e no Novo Testamentos, ilustra ricamente Sua


disposição de usar todas as pessoas – agora divinamente não classificadas – para edificar Seu
reino e servir Seu povo (Gl 3:28). Tanto os homens quanto as mulheres são chamados,
dotados e equipados pelo Espírito para os ministérios que materializam a missão de Deus de
salvar a humanidade pedida. Nenhum papel no serviço do povo de Deus é categoricamente
excluído de qualquer crente que se entrega a Cristo (cf. Joel 2:28-29), visto que “todas essas
coisas, porém, são realizadas pelo mesmo e único Espírito, e Ele as distribui individualmente,
a cada um, conforme quer” (1Co 12:11). Em tal comunidade, as distinções de raça, classe,
cultura ou gênero se tornam secundárias à lealdade central e principal somente a Cristo e à
Sua missão no mundo. O registro bíblico é, portanto, repleto de exemplos de homens e
mulheres que servem ao povo de Deus como líderes, juízes, testemunhas e profetas.
A clareza do ideal de Deus de capacitar as mulheres e os homens para o serviço e o
ministério é uma chave na interpretação que nos ajuda a colocar corretamente as passagens
difíceis ou obscuras no seu contexto histórico, incluindo certos conselhos de Paulo a
congregações específicas do NT (cf. 1Tm 3:1-13; 1Co 14:26-34). A autoridade de liderança
na igreja é reservada apenas a Cristo, e é dever de Seu povo afirmar os dons uns dos outros
que Ele soberanamente distribuiu. A imposição das mãos ou “ordenação” não transmite
poderes especiais e não implica em aumento de valor. Com elegante simplicidade, essa
afirmação manifesta a harmonia que deve sempre existir entre Jesus e Sua igreja (Mt 18:19).
A história adventista do sétimo dia também testifica amplamente para os dons de
homens e mulheres no serviço ao povo de Deus. Ellen G. White, que exerceu o dom bíblico
de profecia por mais de 70 anos de ministério público, ensinou e instou que tantos homens
quanto mulheres poderiam e deveriam atuar em todos os cargos e papéis no corpo de Cristo.
Instruídos por seu enfático chamado para servir e inspirados por seu exemplo, os homens e as
mulheres adventistas seguem respondendo ao chamado de Deus para o ministério como
pastores, líderes e professores, confiando humildemente que, ao assim agirem, estão sendo
profundamente obedientes à vontade de Deus.
Enquanto os adventistas do sétimo dia concordam sobre o valor igual de mulheres e
homens e seu chamado de representar a imagem de Deus, reconhecemos que outros
adventistas do sétimo dia sinceros podem divergir de nós quanto ao ensino da Bíblia sobre
quem ordenar. Lembramos a todos os crentes da obrigação de fazer “todo o esforço para
conservar a unidade do Espírito pelo vínculo da paz” (Ef 4:3). Para esse fim, instamos que as
decisões sobre a compreensão bíblica da ordenação das mulheres ao ministério não seja feita
pela maioria dos votos. Nos casos em que o Espírito não criou na igreja mundial um consenso
sobre o ensino da Bíblia, uma decisão da maioria poderia resultar na imposição da visão
religiosa da maioria sobre outros que sinceramente creem que a Bíblia ensina o oposto (cf.
Rm 14:5). Na solução de diferenças de opiniões sobre um tema que não faz parte da
mensagem e missão da igreja, reafirmamos nossa constante unidade em Cristo e nosso
compromisso com a mensagem e a missão da igreja (Jo 17:20-23).

RESPOSTAS A ALGUMAS QUESTÕES SOBRE A


ORDENAÇÃO
78

O sacerdócio de todos os crentes permite que mulheres sejam ordenadas como


pastoras?
Primeiro, embora no AT as mulheres fossem excluídas do sacerdócio, o ensino do NT
do sacerdócio de todos os crentes inclui homens e mulheres crentes. A lei levítica é agora
liberada das limitações tribais e étnicas. É verdade que, embora na igreja, todos são
“sacerdotes” nem todos são anciãos ou diáconos. Segundo, deveríamos ter em mente que no
AT o uso do dízimo era exclusivamente usado para os levitas e nenhum outro israelita
deveria recebê-lo – quer homem ou mulher. Na igreja cristã, a lei do dízimo é liberada das
restrições de gênero. Então, como Ellen G. White indicou, “o dízimo deve ir para os que
trabalham com a palavra e a doutrina, sejam homens ou mulheres” (1MR 263) [Tradução
livre.] Isso se baseou no fato de que “é a assistência do Espírito Santo de Deus que prepara os
obreiros, homens e mulheres, para se tornarem pastores do Seu rebanho” (T6 322). O
sacerdócio de todos os crentes permite que as mulheres sejam ordenadas como pastoras.

Jesus estabeleceu uma hierarquia que excluía as mulheres do ministério ordenado?


Não há um único verso nos evangelhos que até mesmo implique que esse foi o caso.
O critério específico estabelecido por Jesus para a atribuição das posições de liderança na
igreja era “quem quiser tornar-se importante entre vocês deverá ser servo” (Mc 10:43).
Ninguém deve ousar sugerir que essa ordem de Jesus se limitava aos apóstolos. Ela tem
aplicação universal na igreja, em qualquer época e lugar. Toda posição de autoridade ou
liderança na igreja está disponível àqueles que, sob a influência do Espírito (quer homem ou
mulher), sejam verdadeiros servos de Cristo e de Sua igreja.

“Cabeça/autoridade” em 1 Coríntios 11:2-16 significa “fonte”?


O uso do termo grego kephalē, clara e inquestionavelmente, indica que pode significar
“fonte”. O fato de que um dicionário grego não inclua esse significado não significa nada.
Outros dicionários o incluem.31 Portanto, ambos os significados são linguisticamente
possíveis em 1Co 11:2-16. A melhor possibilidade é “fonte” porque essa passagem lida com
o conceito de fonte: “Pois o homem não se originou da mulher, mas a mulher do homem; [...]
Pois, assim como a mulher proveio do homem, também o homem nasce da mulher” (v. 8,
12). Paulo os descreve na passagem como sendo interdependentes (v. 11). O contexto dessa
passagem não apoia a ideia de que, na igreja, um ancião da igreja é o cabeça da mulher.

O NT apoia a ideia de que as mulheres na igreja estão sob a liderança dos anciãos da
igreja?
De acordo com o NT a única cabeça da igreja é Cristo. Ellen G. White escreve: “Que
seja visto que Cristo, não o ministro, é o cabeça da igreja”. 32 É somente no lar, no
relacionamento entre marido e mulher, que o homem é descrito como o cabeça de sua esposa
(ex.: Ef 5:22-23). Essa ideia nunca é transferida para o relacionamento entre os anciãos e as
mulheres na igreja.
1 Timóteo 2:12-14 se aplica apenas à situação local em Éfeso?

31 Ex.: TDNT, 6:673; NIDNTT, 1:157. O significado de “fonte” é muito comum na literatura grega; ver Phillip B. Payne, Man and Woman, One in
Christ: An Exegetical and Theological Study of Paul’s Letters (Grand Rapids, Mich.: Zondervan, 2009), 117-137. Ele provê uma lista de léxicos
gregos desde os tempos remotos ao presente e estabelece o significado de “fonte” para kephalē (123, nota de rodapé 35).
32 ST, 27 de janeiro de 1890. [Tradução livre.]
79

Não. A passagem tem uma aplicação universal e é muito instrutiva para nós hoje.
Paulo, obviamente, está tratando de uma situação local, pois do contrário, a ordem para as
mulheres permanecerem em silêncio não seria apenas universal, mas absoluta. O que
necessitamos estabelecer, depois de um cuidadoso estudo do contexto da passagem, é seu
conteúdo universal. Várias coisas são universais. (1) A igreja deve ensinar a mensagem da
salvação a todos, homens e mulheres. (2) O ensino deve ser feito pelas pessoas devidamente
qualificadas. (3) Os estudantes não devem ter permissão de ensinar ou questionar a
autoridade do instrutor ou o conteúdo do ensino. Não deve ser tolerada a perturbação do
ensino. Pois do contrário, haverá conflitos na igreja. A igreja é um lugar de ordem.

O fato de na Bíblia a liderança estar principalmente nas mãos de homens exclui as


mulheres da ordenação ao ministério?
Argumentamos neste documento que esse não é o caso. Não há uma única passagem
bíblica onde é dada uma ordem divina estabelecendo, permanentemente, que somente os
membros do sexo masculino do povo de Deus devem ser ordenados e ocupar as posições
mais elevadas de autoridade. O padrão da liderança masculina foi, muitas vezes, alterado pelo
próprio Senhor, ao indicar algumas mulheres para as posições mais elevadas de autoridade
entre Seu povo (ex.: profetisas e juízas). No NT isso é muito mais visível e abundante (ex.:
encontramos colaboradoras de Paulo; profetisas; e, com respeito aos ofícios da igreja,
encontramos diaconisas). Em outras palavras, a prática comum de ter líderes homens nunca
foi oficialmente instituída pelo Senhor por meio de uma ordem divina. Portanto, Ele nos deu
exemplos que podemos seguir na ordenação das mulheres ao ministério. Ao assim
procedermos, não estaremos violando uma ordem divina, pois ela não existe.

Deveríamos ignorar a questão da liberdade religiosa quando lidamos com o tópico?


Em certo sentido, poderia ser ignorada, porque a questão mais profunda é outra, um
pouco diferente. Ela surge quando a possibilidade de decidir a posição bíblica, pelo voto da
maioria, é posta sobre a mesa. Se isso for feito, a questão não mais seria se deveríamos
ordenar as mulheres ou não, mas se deveríamos ser leais à Crença Fundamental nº 1. A
questão é muito complexa e importante para aqueles de nós que sempre enalteceram a
mensagem e missão da igreja, conforme resumida em nossa Declaração de Crenças
Fundamentais. Nossa mensagem foi estabelecida mediante o estudo da Bíblia e a direção do
Espírito Santo por meio de Ellen G. White. O resultado foi a formulação de um consenso
entre o povo de Deus. Não houve necessidade de voto porque a Bíblia e o Espírito instruíram
a igreja. A Declaração das Crenças Fundamentais é um resumo da mensagem e missão que o
Senhor deu à Sua igreja e ela nos une como um povo. A questão que agora enfrentamos é: O
que deveríamos fazer com o tópico da ordenação das mulheres ao ministério na falta de um
consenso, com base no estudo da Bíblia e a direção do Espírito? Se optarmos pelo voto da
maioria, teríamos negado a Crença Fundamental nº 1. A verdade bíblica não mais seria
definida com base na Bíblia e somente a Bíblia, mas com base no que a maioria dos crentes
crê que a Bíblia ensina sobre o tópico. Então, o voto da maioria poderia ser imposto sobre os
que podem ter, sinceramente, concluído que a Bíblica ensina algo diferente (liberdade de
consciência?). De fato teríamos criado um magistério eclesiástico (uma maioria de delegados
na Assembleia) que decidiria pelo restante da igreja o que quer que a Bíblia ensine sobre um
80

determinado tópico e o que a igreja deve crer. A ordenação das mulheres ao ministério
seguira o que sempre foi entre nós, um tema sobre o qual temos diferentes opiniões (como a
questão da natureza humana de Cristo). Esses pontos de vista diferentes foram tolerados pela
igreja. Nunca houve um consenso sobre o tópico e, consequentemente, nunca foi elevado ao
nível de Crença Fundamental. Esse tópico não deve ser resolvido a qualquer preço.
Delineação de síntese da posição #3

Introdução
Contexto teológico
A natureza da trindade
Papéis do homem e da mulher antes da queda
Liderança familiar após a queda
Liderança eclesiástica masculina
Cristo é a cabeça da igreja
Dons e cargos
Liderança espiritual masculina na igreja
O papel dos argumentos de trajetória
Problemas hermenêuticos
Proposta de caminho a seguir
Expansão de oportunidades para a mulheres no ministério
Responsabilidade e liderança masculina no lar
A função de ancião, o critério de gênero e o mandamento divino/distinção ideal
Um rei em Israel
As filhas de Zelofeade
Débora e Baraque
O rei Davi e a restrição moabita
Davi, os pães da proposição e Cristo
O concílio de Jerusalém: diferenças sobre os ideais divinos
Ideal e variação nos escritos de Ellen White
Determinando quando o padrão divino pode variar
Aplicação e Conclusão
82

INTRODUÇÃO

Nossa Igreja gastou tempo considerável discutindo formalmente a questão da ordenação ao


ministério pastoral e sua relação com gênero. Depois de um ano e meio, tendo concluído seus esforços
e chegado a um consenso sobre uma teologia geral da ordenação, a Comissão de Estudo da Teologia
da Ordenação (TOSC, em inglês) não chegou a um consenso sobre a questão se é aceitável que
mulheres exerçam a função de ministro ordenado. A despeito de ter usado métodos hermenêuticos
semelhantes e de recorrer às Escrituras ao invés de buscar normas culturais humanas, os membros da
Comissão ainda assim chegaram a conclusões muito divergentes.
Agora, nós temos que lidar, como igreja, com a questão de como devemos prosseguir, dada à
diversidade que existe nessas questões fundamentais. O que se segue é uma tentativa de esboçar um
possível caminho a seguir que leva em consideração as principais preocupações identificadas até
agora, e, assim continuar preservando o princípio da autoridade das Escrituras e a unidade da Igreja.
A Bíblia convida cada cristão para a submissão mútua: “sujeitando-vos uns aos outros no
temor de Cristo” (Ef 5:21). Por sua própria natureza, a submissão mútua envolve certo sacrifício de
todos para o bem maior e a união de todos. Com a direção do Espírito Santo, no entanto, acreditamos
que as principais preocupações que surgiram dentro dos vários lados desta discussão sobre a
ordenação podem ser afirmadas sem sacrificar princípios, enquanto mantendo a unidade do corpo de
Cristo.
Começaremos com um breve resumo de nossos princípios teológicos centrais, nos quais
fundamentamos a justificação para nossa proposta de como prosseguir. Esses princípios são expostos
nos nove parágrafos que se seguem, com referências da Bíblia para embasar os pontos teológicos.1 A
segunda e maior parte deste documento esboça nossa proposta de como prosseguir e inclui uma
explicação bíblico-teológica, a qual revela os fundamentos bíblicos para um ponto fundamental em
nossa proposta. A parte final deste documento mostra as conclusões tiradas da exegese bíblica e as
aplica a nossa situação atual.

CONTEXTO TEOLÓGICO
Durante o trajeto das reuniões do TOSC, nós analisamos muitos documentos que oferecem
uma variedade de opiniões nas questões da ordenação ao ministério evangélico. Embora
concordássemos com alguns pontos citados por ambos os grupos, nos achamos incapazes de
empenhar-nos plenamente com qualquer um dos grupos por causa de discordância em pontos
fundamentais.

NATUREZA DA TRINDADE

Acreditamos que Cristo é coexistente e coigual ao Pai e ao Espírito Santo desde a eternidade.
Portanto, não acreditamos na subordinação eterna do Filho, como propuseram alguns expositores que
eram contra a ordenação da mulher (Dt 6:4; Is 9:6; Mq 5:2; Mt 28:19; Jo 8:58; Jo 17:24; Fp 2:6; Hb
1:8-12; 2Co 13:14).

1 Uma discussão mais completa dessas e outras referências bíblicas relevantes para a posição teológica moderada podem ser encontradas em
um documento intitulado “Minority Report on Ministry, Ordination, and Gender of the Seventh-day Adventist Theological Seminary” (Relatório
Minoritário sobre Ministério, Ordenação e Gênero do Seminário Adventista do Sétimo Dia de Teologia”. Este está disponível no site
www.freedom-law.com.
83

FUNÇÕES PARA HOMENS E MULHERES ANTES DA QUEDA


Acreditamos que existiam funções significativas para homens e mulheres antes da Queda que
embora não fossem hierárquicas, envolviam responsabilidades para funções distintas, mas
complementares, de uma liderança servidora. Não acreditamos na ideia de liderança masculina antes
da Queda, no que envolve “autoridade sobre” Eva (Gn 2:15-25; 3:9, 16-20; 1Co 11:8; 15:22).

LIDERANÇA FAMILIAR APÓS A QUEDA

Depois da Queda, Deus instituiu uma função de liderança masculina na família que,
conquanto amorosa, abnegada, e orientada ao serviço, dá ao homem responsabilidade de supervisão
de sua família e que ainda continua sendo válida até hoje (Gn 3:16; 18:12, 19; 1Pe 3:1, 6; Ef 5:22-24).

LIDERANÇA ECLESIÁSTICA MASCULINA

Acreditamos que há um modelo de liderança eclesiástica masculina que tem validez através
do tempo e da cultura. Vemos isso na invocação, feita por Paulo, da ordem da criação e da Queda ao
discutir a função de um ancião, no fato de uma liderança espiritual institucional predominante
masculina no AT, no ato de Cristo escolher doze discípulos homens, e nos exemplos no NT de
apóstolos e anciãos (1Tm 2:12-13; Nm 3:10, 38; Mt 27:55; At 1:21-23; Tt 1:6,7).

CRISTO É O CABEÇA DA IGREJA

Nós acreditamos que não há fundamento para sugerir que homens têm uma liderança geral na
igreja, exercendo autoridade de marido ou pai sobre as mulheres ou qualquer outra
pessoa. Apenas Cristo é o cabeça da igreja. Sua declaração “a ninguém chameis vosso pai”
(Mt 23:9) visava prevenir uma liderança humana paternal na igreja (1Co 11:3; Ef 1:22,23).

DONS x CARGOS

Vemos uma importante diferença entre dons espirituais, que são dados pela ação soberana do
Espírito Santo, em que considerações de gênero não são uma preocupação bíblica, e cargos na igreja,
escolhidos pelos membros da igreja segundo qualificações bíblicas, e na qual o gênero é mencionado,
como, por exemplo, na função de ancião (1Co 12:4-11; Ef 4:11,12; At 6:5-7; 1Tm 2:12; 3:1,2; Tt 1:6-
8).

LIDERANÇA ESPIRITUAL MASCULINA NA IGREJA

Acreditamos que as declarações de Paulo sobre a preferência por um homem na função de


ancião (o equivalente ao atual pastor ordenado) é uma norma operacional, eclesiástica com o
propósito de promover a ordem, a disciplina e a missão da igreja. Vemos, no entanto, a qualificação
por gênero para a função de ancião como uma característica entre muitas outras, e não absoluta sobre
as demais. Não acreditamos que devemos supervalorizar essa questão de ordem eclesiástica
sobrepondo-a acima de outras preocupações doutrinais mais importantes, como a missão e a unidade
do corpo de Cristo (1Tm 2:12-14; 3:1-7; 1Co 11:2-5; Tt 2:2-8).
84

O PAPEL DOS ARGUMENTOS DE TRAJETÓRIA

Acreditamos que posições baseadas em argumentos de trajetória podem ser biblicamente


válidas. Por exemplo, embora as Escrituras regularizem a escravidão para refrear seus males,
nenhuma parte da Bíblia afirma que a escravidão é parte de uma ordem divinamente criada, ou parte
integrante da natureza da humanidade. No entanto, ao contrário da escravidão, a masculinidade como
uma qualificação para o cargo de ancião se deriva do entendimento inspirado de Paulo, e seus
ensinamentos a respeito da criação, da natureza humana, da Queda, e da encarnação (Gn 1:27; Gl
3:28; Tt 2:9, 10; 1Tm 2:12-14; 1Co 11:3-5).

PROBLEMAS HERMENÊUTICOS

Acreditamos que os métodos hermenêuticos usados por alguns que apoiam a ordenação de
mulheres para interpretar os textos que tratam de gênero do Novo Testamento podem criar problemas
ao lidar com passagens sobre padrões sexuais. Todavia, acreditamos que a questão de masculinidade
como uma das qualificações para a ordenação não se encaixa na categoria de absolutos morais, tais
como os Dez Mandamentos ou ordens morais bíblicas consistentes e repetidas muitas vezes, incluindo
aquelas que tratam do comportamento sexual (Êx 10:14; Lv 18:1-30; 20:10-21; At 15:28,29; 1Tm
2:12, 13; Rm 1:18-27; Gl 3:28).

PROPOSTA DE CAMINHO A SEGUIR


Como forma prática de seguir em frente, nós propomos que a Igreja Mundial afirme três
princípios bíblicos como base para a política denominacional sobre o ministério, funções masculinas e
femininas, e o cargo de pastor ordenado. Esses estão interligados porque, como as discussões da
TOSC deixaram claro, os três assuntos são correlacionados. Os dois primeiros princípios se
fundamentam em argumentos apresentados por outros membros da TOSC, mas o último princípio é
nossa contribuição exclusiva. Por essa razão, é um pouco mais extenso e inclui uma explicação de sua
fundamentação bíblica.

EXPANSÃO DE OPORTUNIDADES PARA MULHERES NO MINISTÉRIO

Acreditamos que o melhor caminho a seguir é começar com e construir sobre aquelas coisas
que todas as posições têm em comum. Na TOSC, um consenso surgiu sobre a importância vital de
capacitar mulheres adventistas em todo o mundo para um maior envolvimento em uma extensa
variedade de ministérios, mesmo sem tomar em conta a questão da ordenação. Iniciativas que ao
mesmo tempo afirmem as mulheres no ministério e as apoiem com educação e recursos começariam a
corrigir a nossa falha em não ter feito isso em boa parte do último século, em negligência ao conselho
profético.2

RESPONSABILIDADE DO HOMEM E LIDERANÇA NO LAR

Nós ratificamos o conceito de responsabilidade e liderança espiritual do homem no lar. A


maioria dos membros da TOSC concorda que depois da Queda e da entrada do pecado, foi dado ao

2 Ex. “Se onde hoje existe uma mulher, houvesse vinte que fizessem dessa santa missão sua obra acarinhada,” escreveu Ellen White em 1879,
“veríamos muito mais pessoas convertidas à verdade. A influência enobrecedora, suavizante, de uma mulher cristã, é necessária na grande obra
de pregar a verdade” (Ev, p. 471; veja também DTN 398).
85

homem uma função especial de ser responsável pelo lar. “Porque o marido é o cabeça da mulher,
como também Cristo é o cabeça da igreja, sendo este mesmo o salvador do corpo” (Ef 5:23).
Há contínua discussão sobre como entender a extensão e o significado desse cargo de
liderança. Contudo, há uma visão compartilhada por muitos de que homens casados têm a
responsabilidade de cuidar e de manter suas famílias, a qual tem sido negligenciada e é negligenciada
em muitas partes do mundo. Este é um momento oportuno para definir esse papel com cuidado,
enfatizando que deveria ser uma liderança servidora, abnegada e amorosa, como foi a de Cristo.
“Maridos, amai vossa mulher, como também Cristo amou a igreja e a si mesmo se entregou por ela”
(Ef 5:25).
Tal liderança no lar nunca deve ser usada para oprimir ou abusar. Pelo contrário, todos os
homens deveriam esforçar-se para alcançar o ideal de companheirismo e a tomada de
decisões em consenso, e deveria prover liderança espiritual dentro da família, ao invés de
delegar isso a suas esposas.
As esposas deveriam respeitar e incentivar seus maridos nesse papel de liderança e
responsabilidade espiritual. A igreja deve proporcionar mais programas de educação e treinamentos
para ajudar a educar os homens para suas funções de provedores, pais, e líderes espirituais, permitindo
que eles aprendam melhor como usar o modelo de liderança de Cristo em suas famílias.

A FUNÇÃO DE ANCIÃO, O CRITÉRIO DE GÊNERO, E O MANDAMENTO


DIVINO/DISTINÇÃO IDEAL

Agora chegamos ao assunto mais desafiador: a questão de como entender o função do homem
e da mulher em relação à função do ministério pastoral. Não acreditamos que a liderança que o
homem tem no lar se estende sem limites à Igreja. Tal posição implicaria um papel de autoridade para
todos os homens na Igreja sobre todas as mulheres. Simplesmente não encontramos embasamento
para isso na Bíblia.
Na verdade, é o contrário. Cristo ordena que “a ninguém chameis vosso pai”, o que lemos
como negando a qualquer ser humano um papel paternal de autoridade na igreja (Mt 23:9). Colocado
de maneira simples, o único cabeça que a Bíblia identifica na igreja é Cristo (Mt 23:10; Ef 5:23). Por
essa razão, acreditamos que identificar qualquer figura meramente humana como desempenhando o
papel de cabeça na igreja, vai contra nossa herança bíblica e protestante.
Porém, a Bíblia identifica cargos de liderança mais limitados (de autoridade representativa e
delegada) para estabelecer ordem na igreja, sendo o principal delas o cargo de ancião (1Tm 3:1-7).
Um dos muitos critérios citados para esse cargo é o de ser homem (1Tm 2:11-15; 3:1-7). A
preferência por esse gênero não é, em nossa perspectiva, uma implementação de “autoridade
masculina” na igreja. A autoridade que o ancião tem na igreja é diferente, tanto no tipo como na
extensão, daquela que o pai tem dentro de casa. No entanto, ambas as funções de liderança têm suas
bases em princípios semelhantes, enraizados na Criação e na Queda; isso surge das discussões de
Paulo sobre a liderança no lar e na igreja (1Co 11; 1Tm 2).
Não obstante, somos convencidos de que a Bíblia ensina que o cargo de pastor ordenado (o
equivalente operacional a função de ancião no Novo Testamento)3, com sua responsabilidade de
guardião na igreja — supervisionando a implementação de padrões eclesiásticos e de disciplina a
todos os membros — deveria ser, de preferência, ocupado por homens. Isso não impede que mulheres
preguem, ensinem, e forneçam, em distintas maneiras, tanto conselhos espirituais como liderança no
contexto da igreja. Mas a masculinidade é uma qualificação citada para o posto de pastor ordenado, e

3 C.f. “Consensus Statement on a Seventh-day Adventist Theology of Ordination” [Declaração de Consenso sobre uma Teologia Adventista do
Sétimos Dia sobre a Ordenação] (TOSC, votado em 23 de julho de 2013).
86

embora seja uma qualidade importante (cf. 1Tm 2:11-14), é apenas uma entre várias outras
qualificações. Não vemos base nesse texto para tratar essa qualificação de maneira soberana, ou
sobrepondo-se sobre todos os outros critérios juntos.
Este entendimento da importância relativa do critério de gênero baseia-se na diferença entre:
1) os mandamentos morais absolutos de Deus e suas verdades eternas, e 2) Seus ideais4 para a
organização de seu povo. O primeiro inclui os Dez Mandamentos, as doutrinais fundamentais do
Cristianismo, e os limites bíblicos consistentemente articulados sobre o comportamento moral de cada
pessoa. O último, acreditamos nós, trata de práticas ou preceitos legais, organizacionais, cerimoniais
ou rituais, cuja intenção é trazer ordem à comunidade de fieis, proteger a identidade do povo de Deus,
e fortalecer a missão da Igreja. Estes ideais são importantes, mas já que têm uma função eclesiástica e
um propósito missional, a Bíblia indica que eles podem, em certas circunstâncias, ser modificados ou
adaptados. Acreditamos que essa distinção entre mandamentos ou verdades eternas e ideais
eclesiológicos proporciona uma percepção fundamental que pode ajudar a Igreja a prosseguir em
unidade, se não uniformidade, nessa questão.
Quando ocorre a adaptação de um ideal divino nas Escrituras para atender as necessidades
locais, para o avanço da missão ou para promover unidade, geralmente acontece de uma dessas três
formas:
i. O próprio Deus endossa a adaptação
ii. Um profeta bíblico confirma a mudança
iii. A comunidade de fieis, a Igreja, concorda com essa variação do padrão divino

É crucial enfatizar que a adaptação nas Escrituras não é a regra, que nunca se aplica às
verdades eternas e aos mandamentos morais absolutos de Deus e que Ele apenas permite isso sob
certas circunstâncias. Mas dentro desses limites, há várias ocasiões na Bíblia nas quais Deus permitiu
uma mudança em Seus planos originais para os Israelitas quando se tratava de questões de liderança
e/ou gênero, como temos discutido atualmente. Uma breve recapitulação de alguns exemplos dessas
adaptações nos ajudaria a entender a importante diferença entre mandamentos e ideais.
Nenhum desses episódios é diretamente análogo à situação na qual nos encontramos
atualmente, e eles não deveriam ser escrutinados para encontrar paralelos exatos com a questão da
ordenação. Pelo contrário, todas essas histórias ilustram dois pontos simples porém cruciais. O
primeiro é que existe uma distinção entre os mandamentos morais absolutos e as verdades eternas de
Deus por um lado, e as normais eclesiásticas e organizacionais divinas de outro lado. O segundo
ponto é que Deus, às vezes, permite variações nesses ideais organizacionais em resposta às
circunstâncias, necessidades e até mesmo, desejos de Seu povo. Como isso acontece difere de caso
para caso, e, portanto, relembrar algumas dessas histórias é importante para ter um panorama
equilibrado de como isso funciona biblicamente.
UM REI EM ISRAEL. As Escrituras deixam claro que o plano ideal de Deus para a nação de
Israel não era a monarquia (1Sm 8:10-20). Ele queria que eles fossem liderados por uma associação
de profetas, juízes, sacerdotes, e anciãos. Ainda assim, no momento quando Israel desejou um rei,
Deus acomodou esse desejo, apesar da escolha ter sido incitada pelas sociedades e culturas ao seu
redor. “Então, o Senhor disse a Samuel: Atende à sua voz e estabelece-lhe um rei” (1Sm 8:23).
Naquele momento, a monarquia não apenas se tornou aceitável para Deus, mas o próprio rei
tornou-se, literalmente, o ungido do Senhor quando Samuel derramou óleo sobre Saul (1Sm 10:1).

4 Usar a palavra “ideal” para descrever essas normas organizacionais prevalecentes não implica que qualquer desvio desse padrão
necessariamente será inferior e secundário. A realidade de que um ideal possa ser modificado por motivo de circunstâncias específicas significa
que outra abordagem possa ser melhor ou até mesmo necessária por um período de tempo. Assim, o desvio do ideal se torna assim o ideal
situacional, e portanto não deveria ser considerado inferior ou secundário. Um exemplo profundo disso é a encarnação de Cristo, que foi uma
resposta situacional para as circunstância não ideais da entrada do pecado e da necessidade de um redentor.
87

Dali em diante, reis frequentemente eram ungidos por profetas ou sumo sacerdotes como um sinal da
escolha divina (1Sm 16:13; 1Rs 1:39, 45; 2Rs 9:1-6; 2Cr 23:11; cf. 1Rs 11:35-37).
O fato de que a monarquia muitas vezes foi um fardo para Israel e de que certos reis caíram
em pecado não mudou o endosso de Deus a essa instituição. De fato, a partir daquele momento,
aceitar e apoiar o novo rei tornou-se um sinal de lealdade tanto para com Israel como para com Deus
(ex.: “Também Saul se foi para sua casa, a Gibeá; e foi com ele uma tropa de homens cujo coração
Deus tocara” [1Sm 10:26]). Aqueles que não apoiaram o novo rei foram descritos nas Escrituras
Sagradas como “alguns vadios” que “desprezaram-no e não lhe trouxeram presente algum” (1Sm
10:27, NVI).
Essa história do rei nos é instrutiva em vários pontos. Primeiro: mostra que Deus está disposto
a variar Seu ideal organizacional para acomodar circunstâncias culturais e o desejo de Seu povo,
mesmo quando esses desejos levavam as pessoas a ter “rejeitado” Deus e Sua vontade em um assunto
específico (1Sm 8:7). Já que Deus não estava disposto a rejeitar Seu povo por terem rejeitado um de
Seus ideais organizacionais, isso deveria fazer com que
refletíssemos com seriedade sobre como nos relacionamos uns com os outros quando há
diferenças na compreensão de tais ideais.
Segundo: esses novos planos tornaram-se parte de Seu trabalho e de Sua vontade tanto quanto
havia sido o Seu plano original. O novo líder é o ungido do Senhor tanto como a antiga liderança o
havia sido. Terceiro: se indivíduos israelitas se opusessem à adaptação de Deus do Seu ideal, eles
estavam em perigo de se opor ao próprio Deus.
Como mencionado anteriormente, a adaptação não é possível onde um imperativo moral
universal ou verdade eterna está em risco. Caso fosse uma adaptação dos Dez Mandamentos, uma
doutrina fundamental como a Criação ou o Santuário, ou restrições bíblicas sobre comportamentos
pessoais e morais muitas vezes repetidos e claros, então o povo de Deus deveria resistir e se
necessário, instituir reforma. Mas a escolha de mudar o plano de liderança de Israel e escolher um rei
não justificava tal resposta, muito pelo contrário.
Alguns vão perceber que já no livro de Deuteronômio, o próprio Deus havia permitido a
mudança para a monarquia (Dt 17:14-20). Esse texto realmente fala de Israel ter um rei em algum
momento no futuro. Mas a linguagem usada indica que isso não era plano de Deus, mas do povo. Foi
o povo que disse, “estabelecerei sobre mim um rei, como todas as nações que se acham em redor de
mim” (Dt 17: 14).
A predição de Deus da variação—Sua previsão de que Israel deixaria o modelo teocrático
divino—não faz com que isso deixe de ser uma variação do ideal, como revela sua predição e
cumprimento. A despeito de Deuteronômio, Samuel denunciou os Israelitas, declarando “é grande
vossa maldade... pedindo para vós outros um rei”—e eles aceitaram sua culpa, confessando que “a
todos os nossos males acrescentamos o mal de pedir para nós um rei” (1Sm 12:17-19). Mas a resposta
de Deus para o povo, transmitida por meio de Samuel, é surpreendente: “Não temais”. Samuel revela
que, a despeito de terem se desviado do plano ideal de Deus, “o Senhor ... não desamparará o seu
povo” (1Sm 12:20, 22). Deus aceita até mesmo variações bem significantes dos Seus ideais
organizacionais e nós não deveríamos ser tão rápidos em condenar aqueles que consideramos estar se
distanciando de tais ideais.
A Bíblia também revela que nem todas as variações precisam ser preditas ou reveladas por
Deus com antecedência para que sejam aceitas. Adaptações podem surgir como respostas espontâneas
a circunstâncias e pedidos humanos. Essa capacidade de adaptação inesperada é revelada por uma
história relacionada à modificação das leis de Deus sobre a herança de propriedades.
AS FILHAS DE ZELOFEADE. No antigo Israel, a lei divina estabelecia que os filhos homens
deveriam herdar as posses, com porção dobrada para o primogênito (Dt 21:15-17). Mas as quatro
filhas de Zelofeade não tinham irmãos e, quando seu pai morreu, seu nome e suas posses
88

desapareceriam no meio do povo. As filhas pediram a Moisés que, uma vez que não tinham irmãos, se
seria permitido que elas herdassem as posses. Moisés levou essa causa perante o Senhor e Ele disse
que “as filhas de Zelofeade falam o que é justo; certamente, lhes darás possessão de herança entre os
irmãos de seu pai e farás passar a elas a herança de seu pai” (Nm 27:7).
Mais uma vez, nesse caso, o Senhor aprova explicitamente a adaptação, mas Ele faz isso em
reposta a uma necessidade humana e a um pedido humano. Não havia nada na lei antes dessa petição
das filhas que sugerisse que uma adaptação ou variação da lei fosse permitida. Pelo contrário, Deus
modificou a Sua lei, Seus estatutos civis, a pedido não de importantes líderes do povo, mas de jovens
mulheres solteiras em uma cultura muito patriarcal. A história assim indica que a comunidade de fieis
tem um papel importante no processo de adaptação dos planos de Deus para a organização de Seu
povo.
Todavia, além disso, também temos uma história bíblica que mostra que é possível acontecer
uma adaptação e variação de um ideal sem haver um registro explícito de um mandamento divino.
Essa história se encontra em Juízes 4 e 5, e envolve Débora e Baraque.
DÉBORA E BARAQUE. A história de Débora, a juíza, é, muitas vezes, citada no contexto da
discussão sobre a ordenação para provar que mulheres podem ter posições de autoridade espiritual
institucionais, similar às do ancião. Mas a história é mais complexa do que isso e na verdade ajuda a
ilustrar a dicotomia do mandamento/ideal moral no contexto de liderança e gênero. Os juízes no
antigo Israel tinham funções militares, legais e espirituais na comunidade.5 Essas funções podem ser
percebidas na vida de Eúde (o assassino de Eglom, rei de Moabe), Gideão, e Jefté (Jz 3, 6, 7, 11, 12).
Débora “liderava” ou “julgava” Israel, e “atendia” debaixo de uma palmeira, onde ela decidia
as “questões” dos Israelitas (Jz 4:4, 5). Apesar da palavra hebraica usada para descrever Débora como
juíza ser a mesma que foi usada para todos os outros juízes, há indícios na história que mostram que
ter uma juíza era uma ocorrência rara e incomum.
Débora é a única mulher registrada na Bíblia como juíza de Israel6. Esse aparente modelo de
excepcionalidade é justificado pelo comentário de Ellen White de que “na ausência dos costumeiros
juízes, o povo se dirigia a ela [Débora] em busca de conselho e justiça” (Filhas de Deus, p. 25).
E mais, quando o momento chega de montar uma campanha militar contra Sísera e seu
exército, em vez de tomar a liderança como faziam a maioria dos juízes, Débora chamou um
guerreiro, Baraque, para liderar as tropas. Ele não queria assumir o comando a menos que ela viesse
junto para apoiá-lo na batalha. Isso ela concordou em fazer, mas em repreensão a sua relutância para
cumprir seu papel como homem, ela lhe disse que a glória pela vitória seria dada a uma mulher (Jz
4:9). A história de Débora mostra que as mulheres, quando exercendo a função de juízas, tinham uma
função mais limitada do que aquela de um juiz homem. Não era o mais adequado que elas estivessem
envolvidas ou tivessem que liderar o combate.
O papel de Débora como juíza e acompanhante militar foi incomum e foi necessário por
circunstâncias que incluía o fracasso dos homens em aceitar a função que se esperava deles. Portanto,
a história de Débora tem ao mesmo tempo sugestões sobre o ideal bíblico geral para a liderança
espiritual institucional masculina, mas também é uma evidência bíblica de sua variabilidade.
A partir dessa história podemos destacar três pontos importantes sobre ideais e suas exceções.
Primeiro, ela sugere que alguns cargos de liderança são destinados a ser preenchidos por homens.
Segundo, a história também mostra, no entanto, que certas circunstâncias podem exigir o
envolvimento de mulheres em posições que elas geralmente não ocupam, até mesmo tendo que

5 No antigo Israel, os juízes não tinham funções puramente civis. Em uma teocracia, aqueles que tinham uma função de juízes também estavam
intimamente envolvidos em questões religiosas, como visto em sua função de preservar as pessoas da corrupção espiritual (Jz 2:16-19).
Obviamente, a função profética de Débora apenas aumentou o aspecto espiritual de seu trabalho.
6 Alguns têm considerado a profetisa Hulda como sendo uma juíza em Israel, mas a Bíblia não a chama assim. Em vez disso, ela é chamada de
“profetisa”, nabiah no hebraico, o que é a forma feminina de nabi, que é um orador ou profeta. Ela aconselha ao rei Josías, mas esse conselho é
uma mensagem espiritual e profética, e não um tipo de decisão legal que um juiz daria (2Rs 22:14-20).
89

participar e observar uma batalha. Esse ideal de mulheres não participarem em cargos militares é
esticando ainda mais, e até mesmo quebrado, quando a história termina com Jael matando o inimigo,
o general Sísera, com um martelo e uma estaca (Jz 4:21, 22). Esse ato recebe louvor posteriormente
em um cântico de Débora, que regozijou: “bendita seja sobre as mulheres Jael” (Jz 5:24). Quer tenha
sido Jael inspirada a fazer isso ou não, não há dúvidas de que Débora foi chamada por Deus para
exercer autoridade espiritual.
Terceiro e último, ao contrário do rei de Israel e das filhas de Zelofeade, a história é silente
quanto a uma ordem dada por Deus com respeito a essas exceções e modificações. No entanto, a
Bíblia é clara no fato de que “o Senhor derrotou a Sísera” e que “Deus subjugou” os inimigos de seu
povo (Jz 4:15, 23) assim demonstrando o endosso divino a liderança atípica de Débora e Baraque.
Portanto, circunstâncias de perigo nacional exigiam uma resposta, que foi
então tomada à luz das necessidades organizacionais e missionárias do povo de Deus, e a
solução que variava do ideal divino, então, recebeu a bênção de Deus. A narrativa da história em si,
junto ao cântico de Débora, revela que a mudança de gênero e liderança registrada na história era
parte do plano providencial de Deus.
O REI DAVI E A RESTRIÇÃO MOABITA. As leis de pureza e organização que Deus
concedeu a Israel poderiam até mesmo ser modificadas para permitir que um estrangeiro banido
exercesse as funções de liderança mais poderosas no país, como demonstrado nos reinos de Davi e
Salomão e na genealogia de Jesus.
Pela razão de que os moabitas tinham seduzido Israel à idolatria, Deus ordenou que “nenhum
amonita ou moabita entrará na assembleia do Senhor; nem ainda a sua décima geração entrará na
assembleia do Senhor, eternamente” (Dt 23:3). Isso era relevante para Davi porque seu bisavô era
Boaz, que se casou com Rute, a moabita (Rt 4:16-20), mas o havia feito em oposição à proibição
mosaica que fora repetida por Josué (Dt 7:3; Js 23:12).
De acordo com uma aplicação estrita do código levítico, o casamento de Boaz com Rute foi
ilegítimo. Ela e seus descendentes deveriam ser proibidos de ter qualquer cargo formal na nação de
Israel até que dez gerações tivessem passado. Isso teria excluído Davi de ser rei. Todo o livro de Rute,
que geralmente tratamos como uma história de amor piedoso, pode ser visto como uma extensa
apologia e um argumento legal da razão por que Rute era realmente uma judia, e não mais uma
moabita.7
Quando se entende esse contexto mais amplo, o seu famoso discurso, “aonde quer que fores,
irei eu e, onde quer que pousares, ali pousarei eu; o teu povo é meu povo, o teu Deus é o meu Deus”
(Rt 1:16), recebe um significado totalmente novo. O mesmo ocorre com a história da redenção por
Boaz, e o seu casamento logo depois. O argumento é feito alternadamente: ela é israelita porque
deixou Moabe e escolheu Israel e o Deus de Israel; ela é israelita porque foi resgatada por um ato de
sacrifício de Boaz, um ato de graça, o qual transfere direitos e identidade; e por último, ela é israelita
porque se casa com um israelita fiel, consciente, e obediente à lei. De modo apropriado, o livro
termina com uma breve descrição da genealogia de Rute terminando em Davi (Rt 4:16-20).
Quando uma pessoa entende a natureza verdadeiramente espiritual da identidade judaica,
todos esses argumentos são aceitos. Obviamente eles deram certo em seu contexto
histórico, pois a maioria de Israel e Judá aceitou Davi como rei. Contudo, um ponto
importante para nossos propósitos é que nenhuma dessas “exceções” à proibição de Moisés pode ser
encontrada na lei! Todas elas foram criadas pelas circunstâncias da história em si, à medida que os

7 Que o propósito do livro de Rute é o de “promover os interesses de Davi e sua dinastia” é a posição de um “grande consenso” de intérpretes
modernos: Robert Hubbard, The Book of Ruth in The New International Commentary on the Old Testament (Grand Rapids, MI: Eerdmans
Publishing, 1988), 37. Além do mais, vários desses intérpretes consideram que o foco central do livro é o lidar com e tornar aceitável a
identidade de Rute como moabita: veja ibid., 40-42; Murray Gow, The Book of Ruth: Its Structure, Theme, and Purpose (Leicester, UK: Appollos,
1992), 132-36 (Gow observa que tanto o Talmúde babilônico e o Midrash sobre Rute fazem referências a antigos argumentos levantados contra
a legitimidade de Davi com base em sua linhagem moabita); Kirsten Nielsen, Ruth: A Commentary (London, Uk: SCM Press Ltd, 1997), 23-28.
90

expositores e líderes legais e espirituais de Israel lutavam com o significado das leis de Deus e do
espírito por detrás delas em um contexto concreto específico.
Deus não lhes deu um atalho. Um profeta poderia ter declarado: “Deus declarou que isso está
bem,” ou “podemos fazer uma exceção para Davi”. Se isso tivesse acontecido, o livro de Rute não
seria necessário. Mas ele foi necessário para que à medida que o povo de Deus buscasse entender,
aplicar, e adaptar os ideais de liderança divina, Deus constantemente pudesse guiar por meio da
oração santificada, do estudo da Bíblia e da discussão com a comunidade de fieis. É notável que a
decisão de aceitar Rute foi tomada pelos anciãos de Belém (Rt 4:9, 11). Essa história demonstra como
Deus e Seu povo eram inclusivos e estavam abertos às questões de missão e regras organizacionais. A
história de Rute e Boaz é um dos antecedentes de Atos 15, onde a comunidade sujeitou ideais
organizacionais menos importantes a questões de missão de maior importância e peso para Deus e
para Sua igreja.
DAVI, OS PÃES DA PROPOSIÇÃO E CRISTO. Às vezes, Deus até mesmo opera por meio
da razão e da fé de indivíduos que se encontram em circunstâncias excepcionais, como fez com Davi e
o pão sagrado (1Sm 21:1-8). O ato de Davi de comer o pão sagrado é um dos exemplos mais
conhecidos de um ideal divino (nesse caso uma ordem cerimonial) ceder ao espírito maior por trás
dessas leis. Ao fugir de Saul, Davi em sua pressa para escapar, não tinha levado comida suficiente ou
armas. Ao chegar a Nobe, ele pediu a Aimeleque, o sacerdote, pão para comer. Aimeleque disse que o
único alimento que tinha disponível eram os pães da proposição, que, por lei, eram reservados para os
sacerdotes (Lv 24:5-9).
Porém, devido à urgente circunstância de Davi, Aimeleque estava disposto a permitir que
Davi e seus homens comessem o pão, conquanto que eles estivessem cerimonialmente limpos de
relações sexuais (1Sm 21:4). É intrigante que Aimeleque estivesse disposto a desobedecer a uma lei
cerimonial — deixar que pessoas que não eram sacerdotes comessem do pão sagrado — mas zeloso
por guardar outra lei: pureza cerimonial de não ter tido relações sexuais.
Essa aplicação parcial é característica geralmente de tentativas individuais e espontâneas de
seres humanos em adaptar ou modificar leis organizacionais ou cerimoniais para circunstâncias novas
ou excepcionais. Uma pessoa apenas altera o original tanto quanto for necessário para lidar com a
circunstância que o exige. É evidente que a exceção concedida foi uma alteração concebida por seres
humanos de maneira espontânea, e não uma que se encontrava na lei original, ou em outra lei vigente
criada legislativamente.
Essa provisão nuançada é o que esperaríamos de um agente humano engajado em uma
reflexão legal/ética, pensando em como ele explicaria sua conduta aos outros: “Bem, eu lhe dei o pão,
mas foi uma emergência, e também me assegurei de que ele estava cerimonialmente puro”. Enfim, a
história mostra que os devidos líderes eclesiásticos, como Aimeleque, devem aplicar os ideais
organizacionais e cerimoniais de Deus usando o bom senso de maneira a promover o avanço de
valores maiores, da missão e da unidade da comunidade.
Surpreendentemente, esse foi o modo como Cristo entendeu essa história, pois a história de
Davi e do pão sagrado faz uma aparição notável no Novo Testamento. Cristo justifica tanto as ações
de Davi assim como as de seus discípulos quando confrontados com a crítica dos Fariseus de que seus
discípulos não guardavam o sábado como deviam porque colheram espigas para comer (Mt 12:3, 4;
Mc 2:25, 26; Lc 6:3, 4).
Embora o contexto das observações feitas pelos fariseus é a guarda do sábado, a lei do sábado
em si não era o problema. Não há nada naquela lei ou em sua aplicação no Torá que proibia as
pessoas de colher espigas e comê-las no sábado. Pelo contrário, os discípulos foram acusados de
violar as leis e tradições dos fariseus e anciãos que foram estabelecidas para proteger o sábado. Ainda
assim, quando responder aos fariseus, Cristo usou outro exemplo que envolvia uma lei incontestável
da Torá: a exclusividade dos pães da proposição para os sacerdotes.
91

Cristo disse que Davi foi justificado por comer o pão consagrado, em violação a uma regra
explicitamente divina, para preservar sua vida e saúde. Então, não estariam os Seus discípulos muito
mais justificados por comer espigas no sábado, o que apenas violava uma lei dos fariseus, feita por
homens? O ponto importante para nossos propósitos é que Cristo ratificou a habilidade humana de
adaptar e modificar as regras divinas que garantem a ordem eclesiástica em busca de princípios
maiores para a preservação da vida, da saúde, ou do bem-estar da comunidade e de seus membros.8
O CONCÍLIO DE JERUSALÉM: DIFERENÇAS SOBRE OS IDEAIS DIVINOS. A circuncisão
era um ato vitalmente importante para todo homem israelita. Era um sinal da aliança eterna de Deus
com Abraão, para ser guardado “no decurso de suas gerações”; e, era dito daquele que não fosse
circuncidado que ele “quebrou a minha aliança” (Gn 17:9-14). A falha de Moisés em não circuncidar
seu filho foi vista por Deus como um erro tão grave
que justificaria sua morte (Êx 4:24, 25). Tão essencial era para aliança dos israelitas com
Deus que, depois de 40 anos nos deserto e o fracasso total e prolongado deles em não circuncidar os
filhos homens, Josué sentiu ser essencial circuncidar todos os homens adultos dos filhos de Israel
depois de atravessar o rio Jordão (Js 5:1-7). A circuncisão era considerada essencial para a identidade
de Israel como povo com quem Deus fez uma aliança.
Quando se entende esse contexto, não é difícil entender porque tantos judeus cristãos
argumentavam: “Se não vos circuncidardes segundo o costume de Moisés, não podereis ser salvos”
(At 15:1). Essa estrita obrigação causou uma grande discórdia nas igrejas locais da Antioquia.
Por fim, essa questão foi levada para um concílio de líderes que se reuniu em Jerusalém.
Deliberando juntos, a Igreja chegou à conclusão de que a circuncisão e outras leis cerimoniais do
Antigo Testamento não eram necessárias para os fieis gentios. Foi-lhes dito que se “abstenham de
comida contaminada pelos ídolos, da imoralidade sexual, da carne de animais estrangulados e do
sangue” (At 15:20). À luz da cruz, e para preservar a unidade e a missão da Igreja, o Concílio de
Jerusalém, sob a influência do Espírito Santo, alterou o marcador de identidade/organizacional divino
que havia sido praticado pelo povo de Deus por séculos.
O comentário de Ellen White sobre a atitude prevalecente dos judeus é esclarecedor: “Os
judeus não podiam crer que estivessem obrigados a mudar de costumes que haviam adotado sob a
especial direção de Deus” (AA 106). Foi difícil para esses judeus cristãos permitir que houvesse algo
diferente no que eles acreditavam ser o ideal de Deus para todos os fieis. Ainda assim, no fim das
contas, a unidade da igreja cristã foi preservada em meio à diversidade. Os judeus cristãos
continuaram mantendo os costumes judeus enquanto os cristãos gentios não se sentiam obrigados a
adotá-los. “As decisões amplas e de grande alcance do concílio geral levaram confiança aos crentes
gentios e a causa de Deus prosperou” (AA 109).
Não acreditamos que a circuncisão e a ordenação são o mesmo tipo de problema em todos os
aspectos. A circuncisão era um marcador étnico, instituído durante a época de Abraão, que perdeu seu
significado central quando as fronteiras de Israel foram definidas por aquelas do Israel espiritual. Os
cargos de liderança e as funções de gênero têm seu início no Éden. Acreditamos que o modelo bíblico
ainda deve ser levado em consideração. Mas Paulo indica em outros lugares que os ideais
organizacionais, e até mesmo “ordens” do Senhor que ainda permanecem válidos podem ser
modificados. Em 1 Coríntios 9:14, Paulo reconhece que “o Senhor ordenou àqueles que pregam o
evangelho, que vivam do evangelho”. Todavia, nos
três próximos versículos ele diz: “Mas eu não tenho usado de nenhum desses direitos” (1Co
9:14-15, NVI).

8 A parte da história onde Cristo discute a atividade dos sacerdotes no templo é menos relevante para nossos propósitos. Os sacerdotes
estavam seguindo a lei divina ao ministrar no Sábado, e assim por definição não estavam desonrando o sábado quando eles faziam aquilo que
era ordem de Deus para o sábado. Mas ao comer o pão sagrado, Davi não estava agindo segundo nenhuma ordem divina escrita e explícita.
92

A ordem de prover o sustento dos ministros a partir dos dízimos podia variar de indivíduo
para indivíduo, como mostra Paulo, caso o ministro assim o decidisse fazer. Essa escolha individual,
portanto, não eliminava a regra geral. Outros princípios organizacionais que afetam a igreja de
maneira mais ampla devem ser aprovados de maneira mais ampla. Acreditamos que o Concílio de
Jerusalém destaca quatro princípios extremamente importantes que devem ser levados em
consideração sempre que diretrizes organizacionais de amplo impacto para a igreja, tais como as
qualificações para a ordenação, são aplicadas ou adaptadas pela igreja. Esses princípios são:
Primeiro, uma questão de ordem e organização da igreja que possa quebrar a unidade da
igreja deveria ser decidida por um concílio representativo da igreja. Segundo, a decisão, embora feita
em grupo, talvez não exija uniformidade de ação da parte de todos, assim como o Concílio de
Jerusalém permitiu que judeus e gentios tivessem maneiras diferentes de abordar a circuncisão e os
rituais. Terceiro, a decisão deveria promover a unidade e a missão da igreja dentro dos moldes do
princípio bíblico. Quarto, a decisão deve promover a unidade, assim como a igreja do Novo
Testamento, composta de fieis judeus e gentios, foi unificada em Cristo por meio do Espírito Santo
nas verdades imutáveis e eternas da Palavra de Deus. Eles compartilhavam, como nós deveríamos, um
desejo ardente de alcançar o mundo com a mensagem da graça de Deus. Mas eles nem sempre
estavam unidos nos particulares da prática eclesiástica. De qualquer maneira, em Cristo, eles foram
capazes de conviver com essas diferenças, assim como nós deveríamos.
IDEAIS E VARIAÇÕES NOS ESCRITOS DE ELLEN WHITE. Ellen White mostrou ter
consciência da natureza variável dos ideais organizacionais. Ela apoiava ter ordem na igreja e a
necessidade de ordenação pastoral, mas ela foi muito clara que tais regras organizacionais não
deveriam atrapalhar a missão da Igreja. Em 1896 ela escreveu sobre um trabalhador que não era
ordenado e sobre o seu erro de não estar disposto em batizar quando não tinha nenhum pastor
ordenado disponível:

... tem sido um grande erro que homens saiam, sabendo que são filhos de Deus, como o Irmão
Tay, que foi às Ilhas Pitcairn como missionário para trabalhar, [mas] não se sentiu à vontade
para batizar, porque não fora ordenado. Isso não é um arranjo de Deus; é uma adaptação dos
homens. Quando homens saem com o fardo da obra e para trazer almas para a verdade, esses
homens são ordenados por Deus, ainda que nunca tenham passado pela cerimônia da
ordenação. Dizer que eles não podem batizar quando não há outra pessoa é um erro. Se
houver um ministro que pode ser contatado, tudo bem, então, eles devem buscar o pastor
ordenado para realizar o batismo, mas quando o Senhor trabalha com um homem para trazer
uma alma aqui e ali, e eles não sabem quando haverá uma oportunidade dessas preciosas
almas serem batizadas, ele nem deveria questionar sobre o assunto, deveria batizar essas
almas. (MS 75, Nov. 12, 1896, pp. 1-2)

Nessa única citação temos tanto a menção do ideal (“eles devem buscar o pastor ordenado
para realizar o batismo”) como da variação ou adaptação (“Dizer que eles não podem batizar quando
não há outra pessoa é um erro”). A preocupação clara e urgente que prevalece era pelo ministério e
missão da Igreja. Diretrizes organizacionais têm seu lugar, mas deveriam ceder quando estiverem
impedindo a missão.
Em outra ocasião, Ellen White descreveu como uma de suas declarações, aparentemente
clara, sobre a ordem e restrições na escola deveria ser deixada de lado com base no “raciocínio
movido pelo senso comum”. Ela se encontrou com um grupo de pais e educadores que consideravam
a possibilidade de abrir uma pré-escola. Alguns desses fieis adventistas conscienciosos foram contra,
93

pois haviam lido seu conselho sobre não enviar as crianças para a escola até que tivessem oito ou dez
anos.9
A resposta de Ellen White é bem instrutiva. Ela reconhece suas declarações sobre estudantes e
idade, mas disse que seria muito melhor que as crianças pequenas estivessem em uma boa escola
adventistas do que serem deixadas sem boa supervisão em casa. Ela explicou sua resposta em termos
de um princípio mais abrangente, um que deveria chamar nossa atenção: “Deus quer que todos nós
tenhamos bom senso, e deseja que raciocinemos movidos pelo senso comum. As circunstâncias
alteram as condições. As circunstâncias modificam a relação das coisas” (ME3 217).
Aqui mais uma vez, Ellen White demonstra sua habilidade para distinguir entre os
imperativos morais de Deus — Seus mandamentos divinos — e os ideais divinos, os quais estão
sujeitos à adaptação. O ideal divino dos pais de ensinar seus filhos durante os oito a dez primeiros
anos de vida não proíbe, sob certas circunstâncias, que aquelas crianças frequentem escolas. Também
não proíbe a Igreja de abrir uma pré-escola. Para pais em outras circunstâncias, o ideal continuou ser o
de instruir seus filhos até que tivessem oito ou dez anos. É certamente muito instrutivo que Ellen
White se sentia muito confortável vivendo em uma denominação que pudesse tomar em consideração
as circunstâncias locais quando fosse aplicar esses ideais.
DETERMINANDO QUANDO O PADRÃO DIVINO PODE VARIAR. Nós acreditamos que os
exemplos bíblicos que discutimos aqui mostram em conjunto que qualquer decisão para adaptar as
normas organizacionais ou eclesiásticas divinas não deve ser feito de maneira individual, unilateral,
ou precipitada. Pelo contrário, a Igreja deveria se envolver nessa aplicação e adaptação de forma
conjunta, com cuidado, deliberadamente, guiados por aqueles que foram devidamente nomeados para
exercitar a liderança servidora do povo de Deus. Embora nenhuma dessas histórias aqui discutidas por
si só justificariam a modificação das qualificações para ancião, acreditamos que os princípios
coletivos incorporados nelas, apoiam tal resultado.
Três das histórias — o rei de Israel, Débora, e a herança moabita de Davi — mostram a
disposição de Deus em permitir, e até mesmo endossar, o desvio de normas de liderança na
organização de Seu povo. Duas das histórias — as filhas de Zelofeade e a de Débora — mostram
novamente um ajuste nas regras e práticas normais em conexão com o gênero. Outra história — a de
Davi e a do pão consagrado — mostra a boa vontade de Deus em permitir o ajuste de normas
organizacionais e cerimoniais com base na necessidade e circunstâncias urgentes sem uma revelação
especial de Deus ou de um profeta. Pelo menos duas das histórias — Débora e Davi e o pão sagrado
— mostram que um desvio ou modificação pode acontecer sem eliminar a regra geral fundamental: a
variação não se transforma em “nova norma”. Finalmente, o Concílio de Jerusalém fornece o modelo
básico para como variações e mudanças deveriam acontecer apropriadamente, e com mais frequência,
na era da Igreja, embora a história de Rute também seja relevante nesse caso.
Então, como podemos, hoje, saber quando Deus permite a comunidade a adaptar ou modificar
um ideal? Quando virmos que o Espírito Santo tem guiado os líderes servidores propriamente
autorizados da comunidade religiosa para avançar com base na boa ordem e processo; quando houver
um estudo coletivo das Escrituras; e quando uma decisão é feita por aqueles devidamente escolhidos
para representar a comunidade para fazer mudanças em questões eclesiásticas, organizacionais, e de
liderança; então corrermos o risco de nos opor a Deus se continuarmos a trabalhar aberta e
perturbadoramente contra o que a comunidade de fieis decidiu por meio da ordem e os procedimentos
apropriados.
As histórias como as dos filhos de Arão e do uso de fogo profano no santuário, e a suposição
de Uzá em segurar a arca, revelam que decisões individuais feitas a esmo e com base em preferências

9 Os pais devem ser os únicos mestres dos filhos até que eles cheguem à idade de oito ou dez anos....A única sala de aula para as crianças de oito a dez anos,
deve ser ao ar livre” (FEC 21).
94

pessoas para mudar ordens rituais ou cerimoniais são presunçosas e podem instigar a ira divina (Lv
10:1, 2; 2Sm 6:6-8; 1Cr 13:9-11). Hoje em dia não temos um Moisés, o Urim e Tumin, ou uma arca
com a presença especial de Deus para falar diretamente conosco e aprovar nossa variação de uma
norma organizacional. Hoje, Deus pode validar as adaptações de seus ideais organizacionais não
morais pela maneira pela qual Ele fala e age por meio de Seu povo quando eles oram e estudam
juntos: como fizeram em Jerusalém (Atos 15), como os primeiros adventistas fizeram nas
“Conferências da Bíblia”, e como nós fazemos quando representantes da Igreja mundial se reúnem na
Assembleia da Associação Geral.

APLICAÇÃO E CONCLUSÃO

Como mostram os exemplos acima, Deus em Seu amor e graça acomoda Seu ideal
divino ao longo de todas as Escrituras e da história da salvação. Novamente, esse raciocínio
não se aplica para verdades ou mandamentos morais universais. Nenhum dos exemplos
citados acima — seja o do rei de Israel ou as leis de herança, ou Débora e Baraque, ou Davi e
o pão sagrado, ou o Concílio de Jerusalém, ou o conselho de Ellen White sobre a idade em
que as crianças deveriam começar a estudar — envolviam variações ou desvios das leis
morais de Deus, seja dos Dez Mandamentos ou de proibições contra imoralidade sexual
como adultério ou homossexualidade. Modificações cuidadosas e limitadas dos ideais
eclesiásticos, cerimoniais e organizacionais de Deus não criam precedente para qualquer
tentativa de alterar as leis morais de Deus.
Mas os ideais organizacionais de Deus são de certo modo diferentes. Eles não
deveriam ser negligenciados de maneira óbvia e arrogante. Mas também não devem ser um
obstáculo para a missão da igreja de Deus. Esses tipos de padrões são criados para
promover os desejos básicos de Deus pela unidade de Sua igreja e para que Seu povo esteja
focado em sua função divinamente estabelecida como instrumentos da missão de Deus de
buscar e salvar o perdido (Mt 18:10-12, Lc 19:10, Mt 28:18-20). As normas cerimoniais e
organizacionais, até mesmo aquelas que apontam para os princípios permanentes, algumas
vezes são adaptadas para promover esses objetivos supremos de salvação.
Na família, onde a responsabilidade da liderança masculina se aplica mais
diretamente, o pai pode morrer, ser um pai ausente, sem compromisso com a
espiritualidade, ou irresponsável, e então, a esposa tem de assumir o papel de líder
espiritual. Em uma igreja local, os homens que estão disponíveis, mesmo sendo adventistas
comprometidos, podem não possuir todas as qualificações ou dons necessários para ocupar
a função de ancião local.
Seria sábio colocar um homem no cargo de ancião se ele tivesse apenas uma ou duas
das qualificações listadas, quando há mulheres disponíveis que possuem a maioria das
qualificações necessárias, mas simplesmente não são homens? É possível extrapolar de uma
situação hipotética em uma escala local para uma escala mais ampla da igreja mundial. A
realidade de demografias dentro de certas culturas é tal que o ideal divino sobre gênero e
liderança pode ser um obstáculo para a missão e unidade da Igreja se a masculinidade se
tornar o principal critério ou ideal absoluto para a liderança. Da mesma maneira, a Igreja
95

mundial pode desenvolver uma posição abrangente sobre a ordenação que permitiria que
as devidas autoridades em cada região ou área (tais como associação, união, ou divisão)
recebam a liberdade de buscar a direção do Espírito Santo para aplicar e adaptar o padrão
divino para sua situação local.
Muitos que aderem ao ideal bíblico para liderança espiritual masculina concordam
que às vezes as mulheres precisam assumir o papel de líder espiritual ou de ancião na falta
de homens qualificados. Assim, eles não veem a proibição da liderança feminina como
tendo base em preocupações sacramentais — que as mulheres de alguma forma não seriam
capazes de realizar as cerimônias ou rituais de maneira eficiente (ex. a posição da Igreja
Católica Romana). Há aqueles que geralmente limitariam essa exceção a casos muito
extremos. Mas o fato de que quase todos concordam que as mulheres podem ter uma
função primordial de liderança espiritual sob certas circunstâncias (ex. como está
acontecendo atualmente na China) é significativo. A chave, sem dúvida, é como essas
circunstâncias são entendidas e definidas.
Nós propomos que a Igreja mundial reconheça o princípio geral de liderança
masculina no cargo de pastor ordenado, mas que também permita que mulheres sejam
ordenadas, em lugares onde as circunstâncias locais façam desse ideal algo difícil ou inviável
de se implementar, para dessa maneira promover a união e a missão da Igreja. A Igreja
também deveria reconhecer que os princípios bíblicos de liberdade religiosa significam que
as unidades organizacionais locais e regionais devem ser capazes de lidar com suas culturas
ao aplicar esses princípios de maneira que resulte em um mais eficiente avanço da missão
do evangelho pela Igreja em seus campos.
Esse tipo de abordagem, concordado mutuamente, em espírito de oração e
cuidadosamente analisado, e executado de maneira apropriada, não comprometeria nossa
hermenêutica e teologia. Confirmaria os princípios de unidade e interdependência do
Concílio de Jerusalém de que as decisões da Igreja precisam ser feitas em conjunto, mesmo
quando se permita a diversidade. Levaria em consideração o que Paulo disse sobre o ideal
para a liderança da Igreja, mas reconheceria a natureza missional e a flexibilidade daquele
princípio: não é nem um dos Dez Mandamentos, nem uma questão de salvação, nem um
dos pilares doutrinais identificados por nossos pioneiros.
Alguns podem interpretar e aplicar esses ideais organizacionais de maneira diferente
dos outros, mas sob os princípios bíblicos de mútua liberdade cristã, nós deveríamos
conceder tolerância e paciência uns para com os outros (Gl 2:3-5). Sob esses mesmos
princípios de liberdade, nenhuma unidade organizacional ou funcionário deveria ser
obrigado a apoiar ou promover a liderança pastoral feminina ordenada se eles
conscientemente se opuserem a isso. Se a comunidade de fieis unida concorda tanto em
afirmar o ideal eclesiástico e organizacional divino, e ainda assim permitir sua adaptação
pelo bem da missão e da unidade, então, os membros de igreja deveriam aceitar a
diversidade resultante que foi acordada mutuamente. Deveríamos respeitar as opiniões das
quais discordamos “sujeitando-[nos] uns aos outros no temor de Cristo”, e “suportando uns
96

aos outros e perdoando as queixas que tiverem uns contra os outros” (Ef 5:21, Cl 3:13).
Como escreveu Ellen White:

Lembremo-nos todos de que não estamos lidando com homens ideais, mas com
homens reais designados por Deus. Homens que são exatamente como nós mesmos,
homens que caem nos mesmos erros em que nós caímos, homens com idênticas
ambições e fraquezas. Nenhum homem foi feito um senhor, para governar o espírito
e a consciência de um seu semelhante. Sejamos bem cuidadosos quanto à maneira
em que lidamos com a herança de Deus comprada por sangue... A nosso respeito diz
Ele: Vós sois “cooperadores de Deus; vós sois lavoura de Deus e edifício de Deus”.
Devemos reconhecer essa relação. Se estivermos ligados a Cristo, constantemente
manifestaremos piedosa simpatia e tolerância para com aqueles que estão lutando
com toda a capacidade que Deus lhes deu para levar seus fardos, da mesma forma
que nós nos esforçamos para levar os fardos que nos são designados. (TM 495)

Uma última questão que necessita ser contemplada é aquela da permissão para
ordenação de mulheres para o cargo de anciãos locais em 1984. Voltar a esse ponto seria
muito destrutivo para a Igreja e sua unidade e é inconsistente tanto com a interpretação das
Escrituras citadas acima, assim como com uma leitura conservadora do Novo Testamento. A
posição de ancião, como é hoje exercida na maioria das congregações adventistas do sétimo
dia, é, na prática, mais semelhante à função bíblica do diácono — uma função que a maioria
das pessoas concorda que a Bíblia permite às mulheres exercerem. Na prática eclesiológica
adventista, é o ministro ordenado que mais se assemelha à posição bíblica de “ancião”. 10
Em conclusão, esse não é um chamado para comprometer as crenças bíblicas. Ao
invés disso, é um apelo para escutarmos como a Bíblia aplica seus vários padrões e
ensinamentos. É um apelo para nos unirmos em Cristo nas verdades divinas imutáveis,
aplicadas no espírito da Palavra de Deus, e para focar na missão de alcançar os perdidos para
o Reino de Deus. Também é um convite para seguir os princípios bíblicos de caridade,
submissão mútua, e liberdade cristã dentro da Igreja em quesitos que não são de salvação ou
pilares da fé, para o bem da missão, integridade e unidade do corpo de Cristo.

10 Veja nota de rodapé 3, acima. Embora às vezes o ancião local possa cumprir algumas das funções do ancião do Novo Testamente, nós
acreditamos que poderíamos tratar com o centro do ensinamento de Paulo sobre o ideal de homens liderar em prover responsabilidade espiritual
final e disciplina para outros homens ao recomendar uma diretriz como essa: “Nas ocasiões onde o primeiro ancião é uma mulher, deve haver
um homem como co- ou vice-ancião que possa lidar com as circunstâncias onde o primeiro ancião precisar liderar na disciplina eclesiástica de
um homem”.
SEÇÃO VI
Declarações de
caminho a seguir
98

Declaração de caminho a seguir #1

Para permanecer fiel às Escrituras, reafirmar e promover as mulheres no ministério, e


preservar uma unidade baseada nas Escrituras na igreja, recomendamos o seguinte para a
consideração pela Assembleia Geral em sessão plena: (1) reafirmar e encorajar, com
reconhecimento e licenciamento público, mulheres que Deus chamou para a obra missionária;
(2) prover elevado acesso a oportunidades educacionais para mulheres na obra do evangelho
e assegurar tratamento justo e honesto em seus lugares no ministério; (3) promover o maior
desenvolvimento das várias linhas do ministério para mulheres, de acordo com seus dons
espirituais, inclusive mas não limitado ao evangelismo pessoal e público, ensinamento,
pregação, ministério para famílias, aconselhamento, obra médica missionária, liderança de
departamentos, etc. Enquanto ampliar as oportunidades para mulheres no ministério, também
recomendamos à igreja (4) manter a prática das Escrituras de ordenação e eleição apenas para
homens qualificados ao ofício de pastor e ministro pela igreja mundial em harmonia com o
exemplo consistente de Cristo, dos apóstolos e dos pioneiros adventistas; e (5) retornar a
prática bíblica de eleger e ordenar apenas homens para o cargo de ancião local pela igreja
mundial, enquanto proporcionar às mulheres servir como líderes de igreja não ordenadas sob
certas circunstâncias.

Apoio e outras considerações:

 Deus chama mulheres para ministérios que ocupam todo o tempo e que ocupam
parte do tempo (Filhas de Deus, p. 20, 110; Evangelismo, p. 472). As linhas de
serviço nas quais as mulheres podem trabalhar são amplas e de longo alcance (Êx
15:20; Jz 4, 5; At 9:36, 39; Rm 16:1-12; Tt 2:3-5; Testemunhos para a Igreja v. 9, p.
128, 129; Serviço Cristão, p. 68). Para essa missão, a igreja deve fazer uso total do
indispensável papel da mulher no ministério. Mulheres “podem fazer na família uma
obra que os homens não podem, um trabalho que alcança a vida interior. Elas
podem se aproximar dos corações daqueles que os homens não podem alcançar.
Essa obra é necessária” (Serviço Cristão, p. 27). A igreja deveria emitir uma licença
apropriada com uma compensação razoável para mulheres qualificadas “ainda que
as mãos da ordenação não tenham sido impostas sobre elas (Manuscrito 22, 1892;
Evangelismo, p. 491-493; Manuscript Releases, v. 12, p. 160; Obreiros Evangélicos,
p. 452).
 Apesar de homens e mulheres serem chamados para as várias linhas de ministério,
a Bíblia atribui consistentemente o cargo de ancião local ou pastor/ministro a
homens de fé que cumpriam as exigências das Escrituras. Veja o exemplo de Jesus
e da igreja primitiva assim como a instrução de Paulo (Mc 3:14; At 1:21-26; 6:3; 1Tm
3:1-7; Tt 1:5-9). Essa atribuição, em vez de ser baseada na cultura, é confirmada por
Paulo no papel de liderança espiritual masculina estabelecido na criação e
reafirmado após a queda (1Tm 2:13, 14; 1Co 11:3, 8, 9). Ainda que os dons
espirituais incluam cuidado pastoral, isso não é equivalente ao cargo bíblico de
ancião, que é chamado atualmente de “pastor”.
99

 A ordenação envolve um chamado de Deus (At 13:2) e um reconhecimento da igreja


regional (At 13:3) em harmonia com a igreja global (Paulo, o Apóstolo da Fé e da
Coragem, p. 43). A ordenação ao cargo de pastor/ministro (1Tm 3:1-7; Tt 1:1-9)
concede total autoridade eclesiástica para estabelecer novas igrejas, ordenar
anciãos locais, batizar convertidos e liderar os regulamentos da igreja em
cooperação com a associação local (Atos dos Apóstolos, p. 160). Em certas
circunstâncias, uma mulher pode servir como líder local (O Colportor Evangelista, p.
75, 76) sem ser ordenada como anciã (Manuscript Release, v. 19 p. 56).
 A permissão de crenças ou qualificações para a ordenação estabelecidas
regionalmente racharia a igreja, criaria confusão e desunidade, e abriria um
precedente perigoso. Isso removeria uma importante proteção contra influências
culturais não bíblicas (ver Atos dos Apóstolos, p. 95, 96) e moveria a igreja na
direção de se tornar uma associação de igrejas nacionais em vez de uma igreja
mundial unida.
 A unidade global da igreja pode ser preservada apenas ao se manter no sentido
“claro” e “óbvio” das Escrituras (O Grande Conflito, p. 268, 599, 521, 54), rejeitando-
se a “alta crítica” (Educação, 227) ou outros métodos de estudo da Bíblia que dão ao
leitor autoridade sobre o texto divinamente inspirado (2Tm 3:16; Lc 24:27).
 Jesus é o nosso exemplo de liderança servil. Sua vida expressa a autoridade e
submissão amorosa que existe na família de Deus nos céus e na Terra (1Co 11:3;
15:28; Mt 6:10).
100

Declaração de caminho a seguir #2

Conscientes de nosso alto chamado como adventistas do sétimo dia, queremos


ansiosamente antecipar a breve vinda de nosso Senhor Jesus Cristo. Cremos passionalmente
que “Deus terá um povo sobre a Terra que manterá a Bíblia, e a Bíblia somente, como o
padrão de todas as doutrinas e a base de todas as reformas” (O Grande Conflito, p. 596). A
afirmação das Escrituras de que Deus trata as pessoas com imparcialidade (Gn 1, 2; Gl 3:26-
28; Cl 3:11-17; 1Pe 2:8-10; At 10:34) e a urgência de nossa missão (Mt 28:18-20; 24:14; Ap
14:6-12) nos leva a incluir todos os crentes, homens e mulheres, no uso de seus dons dados
por Deus e os confirmamos apropriadamente em seu ministério. Deus criou homem e mulher
à Sua imagem (Gn 1:26-28) e, ainda que esse ideal tenha sido corrompido pelo pecado, Cristo
restaurou o ideal, e no Novo Testamento vemos homens e mulheres ministrando. Deus
trabalha continuamente para completar essa restauração. Vemos a restauração desse ideal: (1)
na declaração de Paulo sobre a restauração da igualdade (Gl 3; Ef 2:14-22; cf. Ap 5:10); (2)
na participação das mulheres no ministério na igreja primitiva (Lc 8:1-3; Rm 16:1, 2, 7; At
18:2, 26); e (3) no trabalho do Espírito no ministério de mulheres na igreja hoje.
O consenso recentemente adotado sobre ordenação declara que “ordenação é
um ato de eleição que reconhece o chamado de Deus, separa o indivíduo, e aponta a pessoa
para servir a igreja em uma capacidade especial”. Além disso, é uma invocação da “bênção
de Deus sogre os escolhidos para trabalhar no ministério”. Essa compreensão da ordenação é
consistente quer nós ordenemos um diácono, diaconisa, ancião ou pastor.
Através da história adventista, temos frequentemente encarado questões
teológicas e eclesiásticas que tem causado diferenças entre nós. Apesar de debates algumas
vezes acalorados, temos permanecido unidos como um corpo sob Cristo na busca de cumprir
nossa missão única dada por Deus. “Não podemos tomar a posição de que a unidade da igreja
consiste em ver todos os textos das Escrituras sob a mesma luz. Nada pode unir perfeitamente
a igreja a não ser o espírito de busca em se tornar como Cristo” (Manuscript Releases, v.11 p.
266).
A crença fundamental número 14, sobre “Unidade no corpo de Cristo”, declara que
“distinções de raça, cultura e nacionalidade, e diferenças entre altos e baixos, ricos e pobres,
homens e mulheres, não devem ser motivo de dissensões entre nós. Todos somos iguais em
Cristo, o qual por um só Espírito nos uniu numa comunhão com Ele e uns com os outros;
devemos servir e ser servidos sem parcialidade ou restrição”. Com base nessa crença
fundamental, a Associação Geral estabeleceu diretrizes regulamentando as responsabilidades
na igreja incluindo o emprego de práticas que reconhecem a mulher em papéis de liderança
(ver GC Working Policy BA-60). Essas diretrizes refletem nossas convicções sobre a doutrina
dos dons espirituais: que o Espírito chama homens e mulheres ao serviço e que todos os dons
espirituais são inclusivos ao gênero (1Co 12:11; Jl 2:28, 29; At 2:17-21). A igreja agiu para
permitir a ordenação de diaconisas e anciãs e a eleição de pastoras. Apesar dessas diretrizes e
práticas serem implementadas de forma diferente por todo o mundo, a igreja tem
permanecido uma organização mundial unida, junta em missão e mensagem.
Seguindo a Bíblia e os conselhos de Ellen White, a igreja reconhece a necessidade de
adaptar suas práticas às necessidades das pessoas para alcançá-las. A diversidade regional na
101

prática da ordenação de mulheres irá assegurar que nenhuma entidade será compelida a fazê-
lo contra a vontade de seus representantes reunidos. Como em outras questões, a fidelidade às
Escrituras e o respeito mútuo de uns pelos outros são essenciais para a unidade da igreja.
Portanto, porque aceitamos o chamado bíblico para darmos testemunho da
imparcialidade de Deus e por crermos que a desunidade e fragmentação será resultado
inevitável de se forçar uma só perspectiva em todas as regiões, propomos que:

 Cada entidade responsável por chamar pastores seja autorizada a escolher ter
apenas homens como pastores ordenados ou ter homens e mulheres como pastores
ordenados [essa escolha será protegida por garantias nos documentos relevantes a
cada união, divisão e na Associação Geral, de forma que nenhuma entidade possa
ser direcionada contra sua vontade a adotar uma posição diferente da que a
consciência coletiva de seus constituintes defende].
 A união, na qual as decisões a nível organizacional para ordenação tem sido
historicamente tomadas na Igreja Adventista do Sétimo Dia, ser autorizada por sua
divisão a fazer a decisão se aprova a ordenação de homens e mulheres para o
ministério evangélico.

Por este meio dedicamos nossas vidas a Deus e declaramos fidelidade à Sua Palavra
conforme cumprimos a grande comissão que o Senhor confiou à Sua igreja. Maranata. Ora,
vem, Senhor Jesus!
102

Declaração de caminho a seguir #3

1. Reafirmamos a necessidade de se oferecer mais oportunidades e recursos em todo os


lugares do mundo, independente da ordenação, para mulheres no ministério e
liderança, incluindo pregação, evangelização, obra bíblica e ensinamento em todos os
níveis da educação (Nm 11:29; Jl 2:28; Atos 2:4, 6-18; Testemunhos Para a Igreja, v.
6, p. 322; Review and Herald, 19 de dezembro, 1878; Beneficência Social, p. 145;
Evangelismo, p. 471; ver Débora, Hulda, Ana, Maria Madalena e as “outras Marias”,
Priscila, as filhas de Felipe, Febe, e outras [Jz 4-5; 2Rs; 2Cr 34; Lc 2:36-38; Mt 28:1-
7; Atos 18:2, 3, 18, 26, 21:9; Rm 16:1-4, 1Co 16:19; O Desejado de Todas as Nações,
p. 568; O Lar Adventista, p. 204]).
2. Reafirmamos a necessidade de educar todos os membros sobre o papel de liderança
servil amorosa, humilde e de autossacrifício que os homens desde a queda têm sido
chamados a exercer como líderes espirituais em suas casas (Gn 18:19; Ef 5:21-23;
1Pe 3:7).
3. Reafirmamos que Cristo é a única cabeça da igreja (Ef 5:23; Cl 1:18).
4. Reafirmamos o padrão bíblico de liderança masculina, sob a condução de Cristo, no
ofício de ministro ordenado (1Tm 2:12-14; 3:1-5; Tt 1:5, 6). Entretanto, não vemos
esse padrão como moral absoluto ou mandamento divino universal, ou que tenha
significância salvífica ou sacramental. Ainda que baseado em importantes aspectos da
natureza humana, tem objetivo principal de promover ordem na igreja e apressar sua
missão [Nota de rodapé: Em 1 Coríntios 14, Paulo faz uma extensa série de instruções
relativas ao serviço de adoração pública em Corinto, inclusive que as mulheres
deveriam permanecer em silêncio. Ele resume todas as instruções em termos de
ordem da igreja, não como mandamentos absolutos. “Mas faça-se tudo decentemente
e com ordem” (1Cr 14:40)]. Baseado em uma variedade de precedentes bíblicos,
reconhecemos que, em certas circunstâncias, Deus permite que padrões divinos para a
organização eclesiástica sejam adaptados ou modificados para promover a missão,
unidade e bem-estar da igreja (1Sm 8:10-23; Jz 4; 1Sm 21:1-8; 1Cr 9:19-22). Isso em
contraste com mandamentos morais absolutos e verdades eternas, que nunca podem
ser humanamente abrogados ou adaptados.

À luz da prioridade da missão, da importância da unidade da igreja, dos princípios de


liberdade cristã, recomendamos que a liderança denominacional no nível apropriado seja
autorizada a decidir, baseada em princípios bíblicos, se tal adaptação é apropriada para a sua
área ou região [Nota de rodapé: O concílio de Atos 15 não exige uniformidade de prática na
igreja, ainda que a circuncisão não devia ser obrigada aos gentios. Portanto, Paulo circuncida
Timóteo (At 16:3), mas não Tito (Gl 2:3). É significativo que um dos lados da disputa em
Atos 15 via a circuncisão como um moral absoluto e questão de salvação, enquanto a maioria
do concílio não via assim]. Seria necessaria uma decisão coletiva da igreja mundial para
autorizar o princípio de diversidade e prática regional (Manuscript Release, v.15 p. 130).
Também baseado no princípio de liberdade cristã, nenhum pastor, empregado da igreja,
unidade organizacional ou igreja local terá a exigência ou será compelido a apoiar essa
103

diversidade (Rm 14; Gl 5:13; Testemunhos para a Igreja, v. 8, p. 236). Essas adaptações
regionais, onde quer que forem permitidas, não devem negar o padrão geral de liderança
ordenada masculina como compreendida e praticada pela igreja mundial.
A administração da Associação Geral, juntamente com a liderança de suas divisões
mundiais, precisará considerar cuidadosamente a implementação dessa proposta, dada a nossa
visão histórica e atual da ordenação como “um chamado santo, não para um campo local
apenas mas para a igreja mundial” (WP L 45 05).
104

SEÇÃO VII
Voto de confirmação
e compromisso
105

votado, confirmar que, apesar das diferenças de opinião


no assunto da ordenação de mulheres, os membros da
Comissão de Estudo da Teologia da Ordenação estão
comprometidos com a mensagem e a missão da Igreja
Adventista do Sétimo Dia, conforme expressas nas 28
Crenças Fundamentais.

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