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PURITANISMO
Este estudo se baseia, em grande parte, em palestras de Dr. Douglas Kelley sobre o mesmo tema
Foi um período muito difícil, exatamente como o nosso hoje. Nessa época, um
simples monge desconhecido redescobriu a verdade de que somos justificados pela
graça e que não somos salvos por nossas obras mescladas com os sacramentos da
Igreja, mas que o sangue de Jesus, o Filho de Deus, nos purifica de todo pecado; e que o
crente no Senhor Jesus pode chegar a conhecê-Lo sem a mediação da Igreja. Lutero
redescobriu que o cristianismo é na realidade uma experiência direta da alma com o
Senhor Jesus agora, e que na ressurreição futura, o corpo terá esta experiência. Nós
temos a impressão de que com a Reforma a alma da Europa foi libertada. Houve uma
explosão de louvor, de hinos sendo escritos e grande alegria, como uma experiência
direta da alma com o Senhor Jesus. Houve também uma purificação da vida moral e a
família foi fortalecida; houve avanços na medicina e em outras áreas do conhecimento
científico.
O mundo nunca mais foi o mesmo após este grande avivamento que bem
conhecemos como a Reforma. Mas, na realidade, não foi um movimento perfeito; e
especialmente na Inglaterra havia uma preocupação por parte dos crentes de que a
Reforma não houvesse se estendido o suficiente. Os Reis da Inglaterra tinham controle
sobre a Igreja e podiam tolerar que houvesse uma reforma dentro dela, mas não
queriam permitir a reforma de coisas vindas do Catolicismo, e que já estavam
estabelecidas. O receio deles era que se a Igreja se reformasse totalmente, na Inglaterra
e na Escócia, eles perderiam o poder.
É neste cenário que os Puritanos aparecem. Depois da Reforma, na Inglaterra e
na Escócia seguiu-se um período de recessão e esfriamento. Para usar uma figura do
Prof. Latoretti, durante a Reforma veio aquela grande onda espiritual que depois foi
seguida por uma baixa no fervor do povo. Havia um grande grupo na Inglaterra e na
Escócia que tinha um desejo profundo de ver uma reforma completa na vida da Igreja.
Essa vontade era controlada por aquilo que conhecemos como o princípio regulador do
movimento Puritano. A idéia é esta: Tudo no culto deve ser regulado e controlado pela
Palavra de Deus escrita. Para esse grupo, aqueles acréscimos humanos ao culto, que não
podiam ser demonstrados nem apoiados pela Escritura, deviam ser tirados. Esse grupo
não queria que se permitisse o acréscimo cada vez maior de tradições humanas no
culto, pois isso quebraria o segundo mandamento, obscureceria a clareza do
Evangelho e impediria que o poder de Deus viesse sobre a Igreja. Por causa desse
desejo, esses crentes fervorosos na Igreja, na Inglaterra e na Escócia, vieram a ser
chamados e conhecidos como Os Puritanos. A palavra vem do inglês e significa
purificar.
A bênção maior de Deus em tudo isso foi a seguinte: À medida que os Puritanos
tinham esse desejo profundo de Reformar, em todos os aspectos, a Inglaterra e a
Escócia, havia uma quantidade enorme de jejuns e orações para que o Espírito de Deus
viesse sobre aquela terra. Os Puritanos, juntamente com Calvino, mantinham juntos
estes dois conceitos: A palavra de Deus e o Espírito Santo. Então, à medida que eles
pregavam a Palavra de Deus, também oravam para que o Espírito viesse satisfazer a
fome dos que a ouviam. Eles sabiam que a Palavra sem o Espírito seria morta, sem
vida; e que o Espírito sem a Palavra poderia tornar-se em confusão e desordem; mas
sabiam também que a Palavra de Deus juntamente com o Espírito traz a vitória, a vida e
a reforma. Assim, ao mesmo tempo que oravam por despertamento, também estavam
fazendo o que podiam através da pregação, da literatura e da mudança do governo. À
medida que eles estavam engajados nessas atividades, percebia-se que estava chegando
sobre toda a terra uma fome da Palavra de Deus.
Tudo isso nos ensina que não devemos perder a paciência e ficar
desencorajados se não temos resultados à primeira vista. Deus pode estar nos usando
para preparar uma tremenda bênção que a geração seguinte irá desfrutar. E mesmo que
não vivamos o suficiente para ver essa bênção, nos alegraremos juntos no grande dia
da colheita, no último dia. O que importa é que o Senhor Jesus vai receber a glória e
será coroado com mil coroas naquele grande dia. O calendário de Deus não funciona
segundo os nossos desejos.
Durante muitos anos o Rei Carlos I governou de forma irregular, sem nenhuma
reunião do Parlamento. Subitamente, ele se viu diante da possibilidade de uma guerra
com a Escócia. Isso fez com que convocasse o Parlamento para conseguir os recursos
necessários para sair à guerra. Ele convocou o que se chamou de Breve Parlamento.
Com surpresa e horror constatou que aquele Parlamento, na grande maioria, era
composto de homens favoráveis aos Puritanos. Imediatamente dissolveu o Parlamento,
antes que tomassem qualquer decisão e começassem a reformar o país. Mas o problema
continuava: não havia dinheiro no tesouro real. Enquanto isso, em Edimburgo, o Rei
começara uma “guerra litúrgica” contra a Escócia, que já tinha purificado o culto de
todos os acréscimos humanos. Os escoceses estavam furiosos com a possibilidade de
que qualquer tipo de catolicismo fosse introduzido outra vez no culto, pois a Igreja da
Escócia era muito mais reformada do que a Igreja da Inglaterra. Então, o Rei resolveu
mandar as suas tropas e obrigar a Igreja da Escócia a seguir o Livro Comum de Oração
que era usado na Igreja da Inglaterra. Naquele tempo, o Rei era monarca da Inglaterra e
da Escócia. Os escoceses tinham chegado à conclusão de que o livro de orações tinha
muita coisa remanescente do catolicismo em termos humanos, por isso o haviam
abandonado. O Rei então enviou uma alta autoridade eclesiástica para a Catedral
principal da Escócia e durante o culto ele começou a ler o livro de orações. Mas o povo
da Escócia estava muito bem preparado para agir. Naqueles dias não havia bancos
confortáveis nas catedrais como temos hoje. Todos traziam banquinhos que eram usados
na ordenha das vacas. Uma fonte diz que, no decorrer do culto, uma moça simplesmente
pegou o banquinho de três pernas e o jogou na cara do bispo. De repente a catedral se
encheu de banquinhos de três pernas voando de um lado para outro, e aqueles que eram
da Igreja da Inglaterra começaram a correr para salvar a pele.
A Escócia se organizou em um grande exército para atacar a Inglaterra.
Finalmente, o Rei Carlos I conscientizou-se de que devia convocar o Parlamento,
mesmo que fosse Puritano. Este se tornou o que se chama o Grande Parlamento, que se
reuniu por 12 anos sem qualquer interrupção, (1640-1652), até que foi finalmente
dissolvido por Cromwell. Embora houvesse muitos partidos dentro deste Parlamento, a
grande maioria era a favor dos Puritanos. Eles eram também contra o catolicismo e
contra o poder absoluto do monarca; não eram contra a monarquia em si, mas contra a
monarquia tirânica. Este Parlamento estava decidido a reformar a vida da Igreja através
de leis e reformar a própria lei. Foi este Parlamento que convocou a Grande Assembléia
de Westminster, que começou a reunir-se há 350 anos, em 16 de setembro de 1643.
(Em1993, comemorou-se a data na Inglaterra com um grande encontro na Capela de
Westminster). A Assembléia de Westminster foi uma grande assembléia, composta de
pastores e teólogos de todas as partes das Ilhas Britânicas, e que escreveram nossos
símbolos, debaixo da autoridade da Igreja, ou seja: a Confissão de Fé de Westminster,
o Catecismo Maior e o Breve Catecismo, além de um livro de regulamento para o culto
e uma edição de livros de salmos metrificados para serem cantados no culto. A lei
determinava que esta seria a Confissão de Fé em toda a Inglaterra. Os presbiterianos
sabem que a Confissão de Fé de Westminster é uma expressão da crença dos Puritanos;
e que foi inspirada pela teologia de João Calvino, de Agostinho, do apóstolo Paulo, e,
na verdade, inspirada pelas Escrituras na sua inteireza. Ela dá grande ênfase na
soberania de Deus e no controle absoluto que Ele tem de todas as coisas para a Sua
glória, e na necessidade de uma vida santa e de obediência a Ele.
Acredito que o motivo pelo qual os Puritanos foram tão ativos é por causa da
consciência da eleição de Deus. Os seus corações haviam sido transformados
na direção do Deus vivo. Um homem sabia que estava salvo porque sentia, em
algum momento da sua vida, uma satisfação interior, um lampejo que lhe dizia
que ele estava em comunhão direta com Deus. Não estamos aqui lidando com
uma êxtase místico de um monge, mas com a consciência de pessoas comuns
como donas de casa, artesãos ou comerciantes.
O que dava a estas pessoas tanta força? Era a sensação de que tinham o Espírito
de Deus. Era então, a sensação de terem sido fortalecidas por este Espírito. Era este
conjunto de coisas que fazia com que o homem do povo sentisse que qualquer que fosse
sua atividade, ela possuía valor diante de Deus. Esta convicção de ter sido eleito e de
ter comunhão com Deus através de Cristo deu-lhes autoconfiança numa época em que
havia tanta incerteza econômica e adversidade política.
Aqueles que criam como os Puritanos, tinham uma “fé interior que os fazia
sentirem-se livres, quaisquer que fossem suas dificuldades externas”. O Prof. Hill cita o
Prof. Haller dizendo o seguinte: “As pessoas que têm certeza de que herdarão o céu,
possuem meios de, no presente, assumir a posse da terra”. Completa o Prof. Hill
dizendo que “foi essa coragem e confiança que capacitavam os Puritanos a lutar por
meio de armas espirituais, econômicas ou militares, para criar um mundo novo, digno
daquele Deus que os havia abençoado de forma tão marcante”.
Até que tenhamos esta confiança é duvidoso que a Igreja de Deus seja o que
deve ser na época presente. Nós sempre podemos encontrar uma desculpa para nos
comprometer com o mal, se quisermos. Mas aqueles que têm este senso de comunhão
com Deus e confiança no Seu propósito soberano, não procuram comprometer a sua fé.
Tão grande é a convicção de que o Senhor Jesus Cristo está próximo, que sabem ser
muito mais importante agradar o Senhor Jesus do que agradar os desejos humanistas.
Assim, vemos como a doutrina da Predestinação era um dos sustentáculos do sistema
Puritano e da sua causa.
Aqui está uma declaração típica do grande teólogo puritano John Owen. Ele foi,
durante o protetorado de Cromwell, vice-chanceler da Universidade de Oxford, e perdeu
esta posição quando voltou a monarquia e o Rei Carlos II. Entretanto, ele continuou a
servir a Deus de forma corajosa e brava, sem nunca ficar desiludido ou perder a
esperança, mesmo estando em minoria, sem qualquer poder político naquela época. Isso
é o que ele escreveu em 1680: “mesmo que nós caiamos, a nossa causa será
infalivelmente vitoriosa porque Cristo está assentado à mão direita de Deus; o
Evangelho triunfará e isso me conforta de forma extraordinária”.
VOCAÇÃO - Queremos mencionar, finalmente, outra verdade que fez com que os
Puritanos fossem tão fortes e eficazes nos seus dias. Era a ênfase que davam na
importância da vocação de cada pessoa. Enfatizavam a necessidade de cada pessoa
glorificar a Deus através da sua vocação secular. Sem dúvida, Martinho Lutero já havia
ensinado o sacerdócio universal dos santos, e os Puritanos criam nisso. Mas eles
desenvolveram a doutrina do chamado de Deus a cada pessoa muito além do que
alguém fizera antes. Mesmo estudiosos marxistas do século XX, como o Prof.
Arcangius de Leningrado, dá crédito aos Puritanos por terem elevado a moral da classe
trabalhadora da Inglaterra naquele período. O próprio Prof. Hill está sempre citando
estes estudiosos marxistas que têm essa visão positiva com relação aos Puritanos neste
aspecto.
Dr. Leland Ryken, que escreveu “Santos no Mundo”, disse o seguinte com
referência a esta rejeição dos Puritanos da dicotomia entre o que é sagrado e o que é
secular:
Os Puritanos criam que Deus havia criado o mundo físico e humano, e que
tudo isso era bom em princípio. Eles acreditavam que o mundo físico apontava
para Deus, e neste ponto eles eram os ‘sacramentalistas’ dos seus dias, muito
mais do que aqueles que multiplicavam as cerimônias dentro das quatro
paredes da Igreja.
Um outro puritano disse: “Um crente deve considerar tanto o seu escritório
quanto a sua Igreja como sendo santo”. Isso significa que a Palavra de Deus fala de
forma normativa, não somente para a Igreja, como também para a minha vida pessoal,
em todas as suas esferas. Portanto, o propósito da criação é ser normatizada, controlada
pelo propósito do Criador. William Perkins disse que “A Bíblia abrange muitas
ciências sagradas, incluindo a ética, a economia, a política e as ciências acadêmicas”.
Vamos tentar fazer um sumário: O puritano cria que estava na presença de Deus
e fazendo a obra de Deus em qualquer lugar que ele fosse, e não somente na Igreja. Ele
sentia que era o seu chamado transformar cada área da vida em algo santo para Deus.
Vamos ver algumas áreas que os Puritanos desejavam purificar no mundo. É nesse
aspecto que eles deixaram um legado extraordinário para os dias de hoje.
O lar, como nós hoje o conhecemos, foi criado pelos Puritanos. A esposa e os
filhos emergiram de uma simples dependência do pai, à medida em que os pais
e maridos percebiam nas suas esposas e filhos santos exatamente como eles,
almas que haviam sido santificadas pelo toque do Espírito Santo e que haviam
sido chamadas com a mesma vocação divina com a qual eles haviam sido
chamados. Essa sensação de comunhão dentro da família trouxe uma nova
ternura e um refinamento aos sentimentos, às afeições do lar .
É uma grande falsidade que se levanta contra os Puritanos dizer que eram
opostos a qualquer tipo de sexualidade. Se você se dedicar a ler sobre os Puritanos, vai
ver que não é assim. Eles se baseavam no Velho Testamento e nas epístolas para se
deleitarem no dom da sexualidade dado por Deus. É verdade que os vitorianos do século
XIX, na Inglaterra, tinham uma certa antipatia por este assunto. Mas, na realidade, esse
pessoal da era vitoriana pode ser considerado mais como humanistas do que
propriamente como Puritanos.
Um outro aspecto do legado puritano que chega aos nossos dias foi a ascensão
da classe pobre. O Prof. Jordan escreveu um livro importante: “Filantropia na Inglaterra
- 1480/1660”. Neste livro, ele mostra que os Puritanos fizeram mais do que qualquer
outro grupo para esvaziar as favelas, diminuir o crime e acabar com a pobreza. Eles
literalmente reestruturaram a economia de tal forma que os pobres podiam participar.
Eles não eram socialistas, pois criam no direito de liberdade privada (livre iniciativa),
mas acreditavam que a misericórdia de Deus devia ser demonstrada a todas as pessoas
de forma prática.