Você está na página 1de 6

WILER GOMES FARIA SOMAVILA

RESUMO
Exortação apostólica pós-sinodal
SACRAMENTUM CARITATIS
de sua santidade
BENTO XVI

Brasília – DF
2023
Ao doar-se pela humanidade, Cristo se faz alimento, se faz sacramento. A própria ação
de alimentar-se para o homem é bastante significativa, na nutrição, na comunhão, na
fraternidade, o alimento é algo sempre presente, é muito significativo que Cristo para nutrir a
alma humana, fizesse com que Ele mesmo fosse esse nutrimento, este alimento.
O sínodo dos bispos, sobre a Eucaristia, em 2005, busca promover a devoção
Eucarística no cerne da Igreja, como sacramento salutar para a vida cristã.
A fé eucarística é vivenciada na Igreja com bastante vigor, dentre muitas dúvidas no
âmbito espiritual, a Igreja afirma e reafirma diversas vezes a fé na eucaristia. É um mistério
que este sacramento seja realmente o Corpo de Jesus, mas mesmo diante da incapacidade
humana de reconhecer facilmente esta realidade, a fé que a Igreja nos ensina permite que
acreditemos que aquele Pão é realmente Jesus por inteiro.
A celebração da Eucaristia em suas mais diversas formas litúrgicas, em
ritos que se diferenciam acidentalmente, mas tem sua sacramentalidade e verdade guiada pela
Espírito Santo, sendo assim possível que a Eucaristia seja celebrada em todas as culturas, em
todo o tempo e espaço aos homens dados. Na transubstanciação o celebrante invoca sobre as
oferendas o próprio Espírito Santo, de modo que aquilo que o Espírito toca seja santificado.
Cristo, por seu sacrifício, pelo seu lado aberto, de onde jorram sangue e água,
remontam Adão e Eva, assim como a esposa de Adão e retirada de seu lado, a esposa de
Cristo, a Igreja, nasce também de seu lado aberto na Cruz. A Eucaristia, o próprio Corpo e
Sangue de Cristo, é alimento para sua Igreja, é o sustentáculo que se perpetua pelos séculos e
se manterá de pé até o fim dos tempos. O sustento da Igreja, sua vivência Eucarística, vem do
amor de Deus, que primeiro nos amou, mesmo que não retribuíssemos esse amor, Ele
continua a amar, doa seu Filho por amor, que se mantém, pelo poder dado à Igreja de fazer
Jesus presente na Eucaristia.
A Eucaristia é necessária na constituição e ação da Igreja, sendo equiparada como
“Corpus Christi” para representar o corpo nascido de Maria, o Corpo Eucarístico e o corpo
Místico. Enraizado na tradição, promove a consciência da inseparabilidade entre Cristo e a
Igreja. A Oração Eucarística II destaca a busca pela unidade da Igreja ao referir-se à
participação no Corpo e no Sangue de Cristo. A eficácia do sacramento Eucarístico é vista
como promovendo a unidade dos fiéis na comunhão eclesial, tornando a Eucaristia
fundamental como mistério de comunhão nas raízes da Igreja.
O Concílio Vaticano II destacou a conexão intrínseca entre a Eucaristia, os demais
sacramentos, os ministérios eclesiásticos e as obras de apostolado. A Eucaristia é considerada
o tesouro espiritual da Igreja, contendo Cristo, nossa Páscoa, e o pão vivo que concede vida
aos homens. A relação da Eucaristia com os sacramentos e a vida cristã é compreendida ao
contemplar o mistério da Igreja como sacramento.
Se a Eucaristia é verdadeiramente a fonte e o ápice da vida e missão da Igreja, é
crucial que o caminho de iniciação cristã facilite o acesso a esse sacramento. Os padres
sinodais questionaram se as comunidades cristãs compreendem adequadamente a estreita
ligação entre Batismo, Confirmação e Eucaristia, pois somos batizados e confirmados em
vista da Eucaristia. Isso implica o compromisso de promover uma compreensão mais
unificada do percurso de iniciação cristã na ação pastoral.
Os padres sinodais salientaram corretamente que o amor à Eucaristia conduz a uma
apreciação crescente do sacramento da Reconciliação. Devido à estreita relação entre esses
sacramentos, uma catequese autêntica sobre o significado da Eucaristia não pode ser
dissociada da proposta de um caminho penitencial.
Jesus não apenas instruiu Seus discípulos a curar os doentes, mas também instituiu um
sacramento específico para eles: a Unção dos Enfermos. A Carta de Tiago testemunha a
presença desse gesto sacramental na primitiva comunidade cristã. Enquanto a Eucaristia
revela a transformação dos sofrimentos e morte de Cristo em amor, a Unção dos Enfermos
conecta o doente à oferta que Cristo fez de Si mesmo pela salvação, permitindo que ele
participe na redenção do mundo no mistério da comunhão dos santos. A relação entre esses
sacramentos fica ainda mais evidente durante a agravamento da doença, quando a Igreja
oferece tanto a Unção dos Enfermos quanto a Eucaristia como viático para aqueles que estão
prestes a deixar esta vida.
O vínculo essencial entre a Eucaristia e o sacramento da Ordem é derivado das
próprias palavras de Jesus no Cenáculo: "Fazei isto em memória de Mim" (Lc 22, 19). Na
vigília de Sua morte, Ele instituiu a Eucaristia e, simultaneamente, estabeleceu o sacerdócio.
Jesus é simultaneamente sacerdote, vítima e altar, atuando como mediador entre Deus Pai e o
povo. Ninguém pode proferir as palavras da consagração senão em nome e na pessoa de
Cristo, o único sumo sacerdote. A doutrina da Igreja considera a ordenação sacerdotal como
condição indispensável para a celebração válida da Eucaristia. Os sacerdotes devem estar
cientes de que, em todo o seu ministério, não devem colocar em destaque a sua pessoa ou
opiniões, mas sim Jesus Cristo. Qualquer tentativa de se destacarem como protagonistas da
ação litúrgica contradiz a identidade sacerdotal. O sacerdote deve ser um servo, um
instrumento dócil nas mãos de Cristo, apontando para Ele.
Os padres sinodais destacaram a necessidade de que o sacerdócio ministerial, por meio
da ordenação, envolva uma completa configuração a Cristo. Apesar de respeitar a prática
oriental diferente, reafirmou-se o profundo significado do celibato sacerdotal, considerado
uma riqueza inestimável. A prática oriental de escolher bispos entre os celibatários também é
mencionada como indicativa do grande valor atribuído à opção do celibato por muitos
presbíteros. O celibato sacerdotal é compreendido não apenas funcionalmente, mas como uma
especial conformação ao estilo de vida de Cristo, o eterno sacerdote que viveu sua missão até
o sacrifício da cruz no estado de virgindade.
O Sínodo abordou a preocupante escassez de sacerdotes em várias dioceses, tanto em
regiões de primeira evangelização quanto em países de longa tradição cristã. Para resolver
esse problema, sugere-se uma distribuição mais equitativa do clero, envolvendo os bispos na
sensibilização das necessidades pastorais, colaborando com institutos de vida consagrada e
novas realidades eclesiais. A atenção especial aos cuidados pastorais com os jovens é
enfatizada para promover sua abertura à vocação sacerdotal.
A Eucaristia, enquanto sacramento da caridade, possui uma relação especial com o
amor no matrimônio. O Papa João Paulo II destacou o caráter esponsal da Eucaristia e sua
ligação única com o sacramento do matrimônio, enfatizando que toda a vida cristã reflete o
amor esponsal entre Cristo e a Igreja. O matrimônio cristão, sacramentado, está
intrinsicamente ligado à união eucarística entre Cristo e a Igreja. Considerando a íntima
relação entre Matrimônio, família e Eucaristia, surgem questões pastorais.
Nos sacramentos, especialmente na liturgia eucarística, antecipamos a consumação
escatológica. O homem é destinado à felicidade eterna, e a liturgia oferece um vislumbre
dessa realização futura. Orientados para Cristo, vencedor do pecado e da morte, presente na
Eucaristia, participamos pela fé na vida ressuscitada. Mesmo como peregrinos neste mundo, a
dimensão escatológica da Eucaristia orienta nossa liberdade em direção à meta final.
A relação entre a Eucaristia e os demais sacramentos, juntamente com o significado
escatológico, molda o perfil da vida cristã como culto espiritual e oferta agradável a Deus. A
Virgem Maria, Mãe de Deus e nossa, representa perfeitamente a realização sacramental da
iniciativa salvífica de Deus. Sua fé obediente reflete a total disponibilidade à vontade divina,
desde a Anunciação até Pentecostes. A Imaculada Conceição destaca sua docilidade
incondicional à palavra divina. Maria, a grande Crente, se entrega à vontade de Deus,
participando intensamente na missão redentora de Jesus, culminando na aceitação do
sacrifício na cruz.
A relação entre o mistério acreditado e celebrado destaca-se no valor teológico e
litúrgico da beleza, que é intrínseca à liturgia e à revelação cristã, sendo o esplendor da
verdade. Na liturgia, o mistério pascal brilha, atraindo-nos para a comunhão em Cristo. A
beleza não é apenas esteticismo, mas a modalidade pela qual a verdade do amor de Deus em
Cristo nos fascina e arrebata, levando-nos à nossa verdadeira vocação: o amor. Desde a
criação até a revelação em Jesus Cristo, a beleza é uma expressão da glória divina. Na liturgia,
a beleza é o céu que desce à terra, refletindo a glória de Deus e o mistério pascal.
A correta ars celebrandi na liturgia eucarística é uma responsabilidade crucial,
especialmente para aqueles que receberam o sacramento da Ordem: bispos, sacerdotes e
diáconos. O bispo diocesano, como principal dispensador dos mistérios de Deus na sua Igreja,
desempenha um papel vital na orientação, promoção e preservação da vida litúrgica. Ele é o
liturgista por excelência, garantindo a unidade nas celebrações em sua diocese. O bispo deve
esforçar-se para aprofundar o entendimento dos ritos e textos litúrgicos entre presbíteros,
diáconos e fiéis, promovendo uma celebração ativa e frutífera da Eucaristia. Essa unidade
deve ser geral, liturgia, canto, rito de acordo com os livros litúrgicos.
É essencial refletir sobre a unidade intrínseca da Santa Missa, evitando a separação
entre a liturgia da palavra e a liturgia eucarística. A liturgia da palavra e a parte eucarística
estão intimamente ligadas, formando um único ato de culto. A palavra de Deus, proclamada
na liturgia, conduz à Eucaristia como seu fim natural. A qualidade da homilia também é
destacada, sendo parte integrante da ação litúrgica, com ênfase na preparação cuidadosa
baseada no conhecimento da Sagrada Escritura.
A participação dos fiéis não se limita à atividade externa, mas envolve uma
consciência mais profunda do mistério celebrado e sua relação com a vida cotidiana. A
participação ativa inclui instrução na palavra de Deus, alimentação espiritual na Eucaristia,
ação de graças, oferta de si mesmo e crescimento na união com Deus e entre os fiéis. Além
disso, a participação ativa requer condições pessoais, como um espírito constante de
conversão, recolhimento, silêncio, jejum e reconciliação com Deus.
Em relação à participação na Santa Missa por meio dos meios de comunicação, é
importante destacar que assistir a essas transmissões, em condições normais, não cumpre o
preceito dominical. Embora seja louvável que idosos e doentes participem da Missa festiva
por meio dessas transmissões, não se deve permitir que isso substitua a presença na igreja e a
participação na celebração eucarística junto à assembleia da Igreja viva.
A catequese mistagógica, recomendada pelo Sínodo dos Bispos, enfatiza a necessidade
de os fiéis corresponderem pessoalmente ao mistério celebrado na Eucaristia, oferecendo a
Deus suas vidas em união com o sacrifício de Cristo. A catequese mistagógica busca
promover uma compreensão mais profunda dos mistérios celebrados, envolvendo três
elementos principais: interpretação dos ritos à luz dos eventos salvíficos, compreensão dos
sinais contidos nos ritos e demonstração do significado dos ritos para a vida cristã em todas as
suas dimensões.
A adoração eucarística é vista como um prolongamento visível da celebração
eucarística, sendo ambos atos de adoração a Deus. Recomenda-se vivamente aos pastores e ao
povo de Deus a prática da adoração eucarística, tanto pessoal quanto comunitária, como meio
de aprofundar a experiência da celebração litúrgica.
A Eucaristia não é apenas uma fonte de graça espiritual, mas também uma força
transformativa que molda a vida moral dos crentes. O Santo Padre destaca a importância da
mudança que o dom eucarístico gera na vida dos fiéis, fazendo deles participantes da vida
divina de maneira adulta e consciente.
A vida consagrada e sacerdotal é vista como expressões particulares da forma
eucarística de vida, com ênfase na espiritualidade intrinsecamente eucarística dos sacerdotes e
na contribuição essencial da vida consagrada para a contemplação e união com Deus.
O Papa destaca a importância de testemunhar o amor de Deus por meio da vida, ação e
palavras. O testemunho, inclusive até o martírio, é visto como uma expressão máxima desse
amor. A conexão intrínseca entre Eucaristia e missão revela que o anúncio cristão vai além de
ideias éticas, sendo centrado na pessoa de Cristo como único Salvador.
Finalmente, o texto aborda a responsabilidade dos cristãos em lidar com questões
globais, como a fome, desigualdades e exploração. Destaca a importância de compartilhar
recursos e trabalhar em colaboração com instituições para promover a justiça social. Além
disso, enfatiza a necessidade de desenvolver uma espiritualidade eucarística profunda,
consciente da interconexão entre a Eucaristia, a criação e a santificação do mundo.
O documento apela aos presbíteros, diáconos e ministros eucarísticos para que
encontrem força em seus serviços para o caminho de santificação. Exorta os leigos,
especialmente as famílias, a encontrar na Eucaristia a energia para transformar suas vidas em
sinais autênticos da presença do Senhor. Menciona a coragem de mártires que escolheram
morrer em vez de viver sem a Eucaristia, destacando o valor do domingo como o dia da
libertação definitiva.
O texto termina com uma invocação à intercessão de Maria, a Virgem Imaculada,
como modelo de vida eucarística. Destaca a beleza da liturgia refletida na beleza de Maria e
conclui com a oração para que o Espírito Santo reacenda o ardor eucarístico nos fiéis,
levando-os a compartilhar a alegria da presença contínua de Cristo na Eucaristia.

Você também pode gostar