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O Texto-Base é composto de uma Introdução e uma Conclusão, e

de sete capítulos, assim distribuídos:

1. A Assembleia Eucarística
2. A Palavra de Deus
3. O memorial do sacrifício de
Cristo
4. A espiritualidade eucarística
5. A dimensão social e profética da
Ceia de Jesus
6. A Eucaristia e Maria
7. A Eucaristia e a Missão
1. Dezessete congressos eucarísticos no
Brasil. A Arquidiocese de Olinda e Recife
já sediou o terceiro em 1939, no período
da Primeira Guerra Mundial.

2. Viveu-se o III Congresso Eucarístico Nacional com o olhar


sofrido e solidário sobre a Europa.
3. XVIII Congresso Eucarístico Nacional em
contexto de guerras: o Brasil e,
especialmente, o Nordeste brasileiro:
desigualdades sociais; cultura da competição
e do individualismo; insensibilidade à
comunhão; oposição à partilha.
4. Congresso – congredior: caminhar juntos como assembleia
reunida. Igreja: vocação assemblear. Cada Congresso é expressão
da própria identidade da Igreja e de como entendemos e
vivenciamos o mistério da Eucaristia na Igreja.

5. Tema: proposta contrária ao


pensamento dominante. Reforça-se o
projeto de Jesus: a partilha da
comunhão.
6. Lema: “E todos repartiam o pão e não havia necessitados entre
eles” (At 4,32).
7. Tanto o tema quanto o lema
salientam a dimensão profética da
Ceia do Senhor como mesa aberta a
todos e como sacramento da partilha e da justiça econômico-social.
Essa perspectiva já esteve presente em vários outros congressos.
10. Diálogo com os movimentos sociais e com
todos os homens e mulheres de boa vontade.
Como Igreja samaritana, não podemos fechar
os olhos aos irmãos e irmãs empobrecidos.
Apresentar a Igreja como o corpo sacramental de Cristo, o
aspecto comunitário e assemblear da ceia do Senhor. O
Corpo de Cristo é a Eucaristia e é também a Igreja.
Celebrar a Eucaristia significa “estar juntos”. “Vós
recebereis o sacramento daquilo que vós sois” (Agostinho).
Corpo de Cristo: o corpo nascido da
Virgem Maria, o corpo eucarístico e o
corpo eclesial de Cristo. Indissolubilidade
entre Cristo e a Igreja.
Não se pode compreender o mistério eucarístico
DESASSOCIANDO o corpo de Cristo na Eucaristia do
corpo sacramental de Cristo, que é a Igreja. O Congresso
poderá ser um momento importante de catequese para a
correta compreensão dessa relação INDISSOCIÁVEL.
Eucaristia é o pão e o vinho que presentificam o Corpo e o
Sangue de Cristo, mas o Corpo de Cristo é a Igreja reunida, a
comunhão das pessoas. A comunidade cristã reunida é o primeiro
sacramento eucarístico.

“A Eucaristia é a forma da vida


da Igreja” (Martini).
Ekklesia – assembleia convocada por Deus aqui e agora, como
sacramento de comunhão universal de todo o povo de Deus.

“Transformar-nos no corpo eclesial


de Cristo através da comunhão no
corpo sacramental” (Taborda).
PERIGO DA SEPARAÇÃO entre a comunhão com o
corpo e o sangue de Cristo e a comunhão com o
corpo eclesial.

1Cor 10,16-17: comunhão com o corpo, comunhão com o cálice –


somos muitos, mas formamos um só corpo.
Eucaristia e Batismo são os sacramentos por
excelência da Igreja como comunhão: um só
Batismo, uma só Eucaristia, uma só carne do
Senhor, um só cálice da unidade, um único altar,
um só bispo com o seu presbitério e diáconos (S.
Inácio). O pão é o Corpo de Cristo e todos
aqueles que o recebem se transformam no Corpo
de Cristo.
Sacramento da Assembleia no Concílio Vaticano II. Pelo Batismo,
TODOS nos tornamos um povo sacerdotal. A comunidade eclesial
NÃO assiste à celebração eucarística, ELA CELEBRA A CEIA
DO SENHOR, presidida pelo ministro ordenado. A dignidade não
advém dos serviços e ministérios que cada um exerce, mas da
própria iniciativa divina, sempre gratuita, da incorporação a Cristo
pelo Batismo.
Todo o povo deve participar da
celebração da Eucaristia de modo
pleno e ativo; os fiéis leigos não
estejam presentes como estranhos
ou mudos espectadores. Essa
participação ativa e consciente ainda
é uma meta a ser alcançada.
O objetivo desse segundo capítulo é a valorização da
Mesa da Palavra na celebração da Eucaristia. O
Concílio Vaticano II restabeleceu a Mesa da Palavra
como um evento de igual importância e tão central
quanto a Mesa do Pão. Há uma unidade profunda entre
as duas liturgias, formando um só ato de culto.
Valorizem-se, especialmente,
a HOMILIA e OS
MOMENTOS DE SILÊNCIO.

O novo Lecionário possibilitou um ENRIQUECIMENTO


bem maior dos textos bíblicos.
Para que se expresse bem a Aí estão dois sumários teológicos
importância da unidade entre sobre a vida das primeiras
Mesa da Palavra e Mesa do comunidades cristãs nascidas na
Pão, o Congresso deve Palestina. Elas são descrições da
favorecer UMA BOA ação do Espírito Santo no seio da
PREPARAÇÃO BÍBLICA, Igreja: a fé e o temor do Senhor
especialmente sobre os textos se expressam na partilha do pão e
de At 2,42-47 e 4,32-35. no cuidado com os pobres.
A Palavra, na celebração da Eucaristia, segue um caminho
mistagógico, orante, afetuoso, progressivo e respeitoso.
Através do rito litúrgico, as pessoas
são introduzidas no mistério.
Perceba-se a importância da tradução
dos textos e do modo de proclamá-lo.
Uma intuição que deve perpassar a preparação desse
Congresso é o desejo de que a PALAVRA seja acessível a
TODOS, especialmente por meio das Santas Missões.

O Congresso deve ser ponto de


chegada missionário.
O altar sobre o Há uma dupla
qual se celebra o teologia: banquete e
memorial de sacrifício. As Orações
Cristo é, ao Eucarísticas se
mesmo tempo, autocompreendem
mesa e ara. como “sacrifício”.
Sacrifício de Cristo na Cruz e na Eucaristia e o
sacrifício de tantos irmãos e irmãs que
derramaram o sangue pelo Evangelho – entrega
amorosa de fidelidade.
SACRIFÍCIO EVOCA SOFRIMENTO. Especialmente na cultura hodierna,
profundamente hedonista, consumista, individualista e marcada pelo entretenimento e
pelo turbilhão de informações desconexas, HÁ UMA DIFICULDADE DO
CONFRONTO COM A FINITUDE, A CADUCIDADE, A DOR, A DOENÇA E
A MORTE. Consequência disso é a indiferença, a eliminação da solidariedade e a
fruição do átimo de segundo com a emoção mais radical. ISSO NOS AFASTA DA
CARNE DE CRISTO PRESENTE NA CARNE SOFREDORA DOS IRMÃOS.
No Oriente Próximo, o primeiro tipo de
sacrifício era uma libação para
“alimentar” a terra-mãe com o sangue
das vítimas. Em Israel, o sacrifício, isto
é, o abate de um animal, tem várias
finalidades, especialmente: aliança,
expiação e reparação dos pecados.
A morte de Jesus foi interpretada como SACRIFÍCIO. Ele é o “cordeiro de
Deus que tira o pecado do mundo” (Jo 1,29). Jesus é entregue na preparação da
Páscoa à hora sexta: JESUS É O VERDADEIRO CORDEIRO. Isso é
desenvolvido na Carta aos Hebreus, especialmente no cap. 10: o objetivo é mostrar
a superioridade do sacrifício de Jesus sobre os sacrifícios oferecidos no Templo;
ele é único e irrepetível. Cristo entra no santuário com o seu próprio sangue. O
SACRIFÍCIO DE CRISTO NOS SANTIFICA porque consistiu na
entrega de toda a sua vida para realizar a vontade do Pai.
Qual é o sacrifício que Deus quer? Na Eucaristia, a Igreja reapresenta ao Pai
o sacrifício de Cristo em sacramento. O sacrifício que agrada a Deus não
são os de animais, mas a oferta de nós mesmos (Rm 12,1). Deus nos
plasma um corpo para nos apresentarmos diante dele a fim de fazermos a sua
vontade (Sl 40). Não é um mero sacrifício formal, exterior, mas interior e
existencial. Assim, o culto se traduz no compromisso real com Deus e com o
próximo.
A Eucaristia, portanto, É A EXPRESSÃO LITÚRGICA DA ENTREGA
MÁXIMA POR AMOR. Isso se expressa, especialmente, no lava-pés da
última ceia (Jo 13). É O AMOR QUE DÁ SENTIDO À OBRA DE JESUS.
A ação salvífica de Jesus acontece não somente na cruz, mas em toda a sua
vida de obediência a Deus em favor de todos. No seu sangue, temos nossa
redenção. É isso que se expressa em cada Eucaristia. O sacrifício da Missa
não é um novo, mas o mesmo único e irrepetível. É A EXPRESSÃO
LITÚRGICA DA DOAÇÃO DA VIDA POR AMOR.
O capítulo tem por objetivo PERCORRER
A BÍBLIA SAGRADA para elencar os
PRINCIPAIS TEXTOS BÍBLICOS que
tratam dos elementos da CEIA PASCAL.
O primeiro nome utilizado pela Eucaristia é “ceia do Senhor”
(1Cor 11,20). Foi no contexto da ceia pascal judaica que Jesus fez
a ceia com os seus discípulos. Cear é um dos grandes sinais de
que as pessoas são amigas, a refeição é sinal de amor,
especialmente o banquete nupcial. A relação
com Deus utiliza essa metáfora: o esposalício,
a aliança de amor: Ex 19‒24; Ne 8,10-12. A
nova Aliança é uma aliança interior e deve nos
moldar no amor solidário.
Os elementos da ceia:
• fração do pão ou partilha do pão;
• bênção dos alimentos (bendizer a Deus);
• invocação do Espírito Santo (epiclese);
• o memorial da ceia de Jesus (anamnese);
• intercessão pelos vivos e pelos mortos;
• comunhão sinalizada pelo gesto de paz;
• fração do pão;
• comunhão (comer).
Justino (s. II): o pão e o vinho se fazem Corpo e
Sangue por meio da palavra proclamada (ação de
graças com as mesmas palavras de Cristo); em cada
Eucaristia, renova-se o pedido que Jesus fez: fazei isso
em memória de mim;...
...com o que se tem, socorre-se os pobres e se mantém a união;
no dia do sol, no mesmo lugar, reúnem-se; leem-se as memórias
dos apóstolos; exortação; preces; apresentação do pão e
do vinho; distribuição e partilha dos alimentos
eucaristizados; são levados aos ausentes; partilha de
dons para os pobres.
Nossos pais nos contaram: Abel ofereceu
a Deus as primícias do rebanho (Gn 4,4);
sacrifício de Abraão (Gn 22,13) e oferta de
Pão e Vinho por parte de Melquisedeque
(Gn 14,13). Oferecer alimentos e comer
juntos em forma de comunhão (Ex 12).
Refeições sagradas: põem-se à mesma e comem
parte dos alimentos oferecidos; orações de bênção
(sobre a água, o óleo e os nubentes) – derivam da
Todah ou Confissão; correspondem à estrutura
teológica de Aliança.
Ceia pascal: tradição dos pastores; tradição dos agricultores
(crias e primícias). Páscoa: renascimento da natureza;
renascimento da economia (rebanhos e colheitas); passagem
libertadora do anjo de Deus na história do povo. Páscoa:
memória da libertação.
Jesus, cordeiro pascal: o termo talya designa cordeiro e servo.
O cordeiro se deixa conduzir ao matadouro (Is 53,7). Imagens da
inocência e da mansidão.

Crer na Eucaristia e saborear a


alegria desse mistério deve nos levar a
viver a disponibilidade para o serviço
amoroso aos outros.
O pão ázimo: sinal da pertença de Israel ao Senhor, como massa
pura, sem fermento; pão da aflição e da indigência, servido com
ervas amargas; confiança absoluta em Deus; sinal da
esperança; realização das promessas.

O cálice da nova Aliança: o vinho está ligado à alegria;


surgimento da era messiânica (Jl 4,18); surgimento de uma
nova ordem.
Eucaristia, pão do céu: prefigurado pelo
maná do deserto (Ex 16); Jesus é o novo e
verdadeiro pão do céu (Jo 6); Jesus é dom
gratuito e permanente; dependência total de
Deus; a pobreza de coração gera a confiança
na providência.
Recebi o que transmiti: 1Cor 11,2 – o relato da instituição da
Eucaristia pertence a uma tradição recebida por Paulo; duas
narrativas-fonte: Paulo (1Cor 11,23-26) e Marcos (Mc 14,22-25),
com pequenas variações em Mateus e Lucas; provavelmente,
estão por trás Antioquia e Jerusalém; é domingo; é a narrativa de
uma ceia de despedida; é um testamento para os seus; bendiz-se a
Deus; deu graças (Eucaristia).
As palavras da ceia de Jesus: repetição das
palavras de Jesus; isto é o meu corpo (a pessoa
inteira) – sinal de sofrimento e de vitória; isto é o
meu sangue (princípio de vitalidade) – alegria
pela vida doada; exterioridade e interioridade,
sofrimento e alegria.
Eles repartiam o pão:
• nos Atos, os cristãos repartem o pão pelas casas;
• fração do pão;
• a Igreja é ekklesia, assembleia sagrada convocada e
reunida;
• o relato de 1Cor 11: celebrar a Eucaristia e acolher o
irmão pobre;
Eles repartiam o pão:
• comer indignamente: aquele que recebe a Eucaristia, mas
não acolhe o irmão pobre, as mulheres, não inclui o outro;
• Jesus frequentava a mesa com pecadores públicos,
comensalidade aberta. Quando Jesus foi acusado disso, ele
contou as parábolas de Lc 15; Eucaristia é pão para todos.
• Papa Francisco: discernir o corpo do Senhor na
eucaristia e na comunidade real.
Fazei isso em memória de mim:
• perpetuou o dom de Cristo na Igreja;
• Jesus instituiu o Sacramento da Ordem: fazei isso em
memória de mim;
• os apóstolos devem perpetuar o mandato de Cristo;
• são sacerdotes da nova Aliança (ordem);
Fazei isso em memória de mim:
• sacerdócio tem caráter apostólico e é exercido em favor do
povo de Deus, transmitido mediante a imposição das mãos.
Graças ao mandato de Cristo e ao dom do sacerdócio, as
comunidades continuam a celebrar a Eucaristia. A Eucaristia
é memorial (zikkaron), não somente lembrança do passado;
• é atualização, presentificação, atualização do mesmo
amor de Cristo. Relato do lava-pés: entrega de si mesmo.
Documento de Aparecida: a Eucaristia nos faz membros do
mesmo corpo (1Cor 10,17) – filhos e filhas do mesmo Pai,
irmãos e irmãs em Cristo Jesus; Igreja, casa e escola de
comunhão, comunidade de amor e servidora da humanidade.

Bíblia: ceia da Aliança; memorial da Páscoa de Jesus; invocação


do Espírito Santo; assembleia litúrgica convocada; assembleia
missionária e amorosa, dedicada ao serviço libertador. Jesus
ressuscitado revigora o nosso desânimo.
Dimensão cósmica e ecológica da Eucaristia: o bioma Mata
Atlântica está ferido e destruído; rios Capibaribe e Beberibe
diminuídos e poluídos; desabamentos de morros; conversão à
ecologia integral e cuidado com a casa comum; pão e vinho
são natureza – corpo de Deus; o Deus santo é o Senhor do
universo; o céu e a terra proclamam sua glória;
toda a criação é oferenda eucarística ao Criador.
Que a Eucaristia se estenda para toda a
nossa vida: tornar-se pessoa eucarística;
eucaristizar cada ato, cada palavra, cada
relação humana e a vida do mundo.
Transformar-nos no corpo de Cristo no mundo:
transformação eucarística da Igreja; a Eucaristia nos une a Cristo
e nos transforma em seu corpo, pelo qual ele permanece
vivo no mundo, na força do Espírito. Vínculo
fundamental: comunhão com o Senhor e continuação de
sua missão no mundo, especialmente em meio aos pobres
e marginalizados; os devocionismos desencarnados têm
nos distanciado desse da Tradição.
Sagrada Escritura: narrativa de Paulo em 1Cor 11; Jo
13; Jesus o é servo (ebed) sofredor que perdoa, reconcilia
e salva o seu povo; Ceia do Senhor como expressão do
serviço; sangue derramado por muitos (polloi – rabbim): a
multidão dos povos, a universalidade; sacramento de
serviço humilde e libertador;...
Sagrada Escritura:
...em Atos: os cristãos se reuniam nas casas para celebrar o
sacramento da partilha; mensagem incômoda a Roma,
construída sobre uma economia de escravidão; pobre
ajoelhados diante do imperador vs pobres sentados à mesma
mesa, denunciando a pirâmide de um poder de morte.
Padres da Igreja: o cuidado com os pobres e marginalizados é
marca forte da Igreja dos primeiros séculos; a figura do diácono
Lourenço que distribui os bens da Igreja aos pobres, tesouros da
Igreja; Juliano elogia a atividade caritativa da Igreja; Justino diz
que, depois da comunhão, faz-se a coleta para os órfãos e
viúvas; Tertuliano fala do caixa comum para alimentar os
pobres; Basílio: Cristo morreu por todos. Por isso, ninguém
vive para si;...
...João Crisóstomo: grande defensor dos pobres e de sua centralidade
na Igreja; há um inequívoco nexo entre a participação na ceia do
Senhor e o cuidado dos pobres; Santo Agostinho: o Corpo de Cristo é
superior ao maná e dá a vida a todos quantos o recebem. Bento XVI,
na abertura de Aparecida: “A opção preferencial pelos pobres
está implícita na fé cristológica naquele Deus que se fez
pobre por nós, para enriquecer-nos com sua pobreza”. Ele
enraizou a opção pelos pobres na fé cristológica.
Magistério recente:
• Concilio Vaticano II: várias presenças de Cristo (Missa, sacramentos,
Palavra, na Igreja);
• Paulo VI: presença na prática da misericórdia; na fé, na esperança e
na caridade; na pregação e no governo. Ele recupera o vínculo
entre Eucaristia e pobres;
• João Paulo II: partir da contemplação de Cristo é partir daqueles
com quem ele quis se identificar, em Mt 25. Essa é uma página de
cristologia, não um tratado sobre a caridade; aí a Igreja mede sua
fidelidade de Esposa de Cristo;
Magistério recente:
• Bento XVI: o Senhor Jesus nos incita a tornarmo-nos atentos às
situações de indigência em vive parte da humanidade; o alimento da
verdade leva-nos a denunciar as situações indignas do homem;
• Francisco: se queremos encontrar Cristo, é preciso que toquemos o seu
corpo no corpo chagado dos pobres, como resposta à
comunhão sacramental recebida. Para o CEN da Índia: “a
Eucaristia não é uma recompensa para os bons, mas constitui
uma força para os mais frágeis e pecadores”.
Necessidade de alimentação: física e
existencial; a Eucaristia nos impele à
solidariedade para com o próximo. Explicitação
do vínculo essencial entre a Ceia do Senhor
(Sinóticos-Paulo) e o Lava-pés (João).
Francisco: se realmente somos o Corpo de
Cristo, então seremos seus olhos que vão em
busca de Zaqueu e Madalena; seremos sua mão
que socorre os enfermos; seremos seu coração
que ama o necessitado.
Testemunho: de tantos
irmãos e irmãs, de Dom
Helder e de Dom Oscar
Romero, assassinado
durante a celebração da
Eucaristia
Eucaristia e Igreja: a Igreja encontra um ótimo ícone de si
mesma: Maria, mulher Igreja, mãe de Jesus e mãe da Igreja. São
João Paulo II, na Ecclesia de Eucharistia dá esse testemunho. A
Eucaristia e Maria são dois grandes dons ofertados pelo Pai a sua
Igreja: Cristo Redentor, presente na Eucaristia; Maria, mãe do
Verbo Encarnado. Redenção e Encarnação unem Maria e
Eucaristia.
Maria, mulher eucarística: a primeira relação é dada pelo
mistério da encarnação; o corpo e o sangue que são
ofertados no sacrifício da cruz para a salvação da humanidade
provieram de Maria. O que consagramos no altar é o corpo
que proveio da Virgem (Santo Ambrósio).
...Maria praticou sua fé eucarística antes de a Eucaristia ser
instituída, quando ofereceu seu ventre para a encarnação do
Verbo (João Paulo II). A Eucaristia, ao mesmo tempo que
evoca a Paixão e a Ressurreição, coloca-se como
prolongamento da Encarnação. Assim, não teríamos Eucaristia
sem Maria. A Maternidade divina, em Maria, é o alicerce para
o mistério eucarístico.
Segunda relação é dada pela atitude interior de Maria –
totalmente relacional com a pessoa de Cristo e com o seu
mistério. Ela é mulher eucarística na totalidade de sua vida,
pois ela é a discípula perfeita, sempre vinculada ao Filho,
desde a infância até o último instante de sua vida.
Magnificat, canto eucarístico: reler o Magnificat em
perspectiva eucarística. O Magnificat e a Oração Eucarística
da Igreja têm a mesma estrutura de louvor e intercessão. Ela a
Deus ‘por’ Jesus, mas louva-o também ‘em’ e ‘com’ Jesus.
Maria reconhece Deus e o adora como o único que salva e
abençoa, superando toda idolatria.
Memória da Encarnação-Redenção: no Magnificat, a
história da salvação é sintetizada como obra da
misericórdia de Deus. Na Eucaristia, celebra-se o mistério
da encarnação redentora de Cristo indicado no Magnificat.
O fiat de Maria, na encarnação, é o amém ao receber o
Corpo de Cristo.
Aos pés da cruz: o ponto alto dessa participação de Maria no
mistério pascal é a cena aos pés da cruz. Maria vive uma
espécie de eucaristia antecipada. Depois da Páscoa, ela
participa da celebração eucarística presidida pelos apóstolos
como memorial da paixão.
Tensão escatológica: no Magnificat está presente a tensão
escatológica da Eucaristia. O mundo olha para Maria, com o
desejo de recuperar nela a dimensão messiânica da esperança
cristã. Toda a sua vida se encontra entre as duas vindas do
Senhor. Maria liga a encarnação ao Pentecostes. Maria é a
perfeita realização desse plano de Deus para a humanidade: um
mundo renovado no amor.
O Magnificat do pão em todas as mesas e do vinho novo
de Caná: A Eucaristia nos configura a Cristo e nos impele a
viver a misericórdia. Não havia necessitados entre eles.
Retoma-se 1Cor 11: o compromisso social não nasce de uma
exigência ética, mas do pertencimento ao ‘corpo’. A
Eucaristia nos convida a sair dos círculos viciosos e
fechados em si mesmos...
...A mulher do Magnificat nos convida a descentrar-nos.
Assim, o discurso das bem-aventuranças é antecipado no
Magnificat. Supliquemos, então o pão em todas as mesas do
Magnificat e o vinho novo de Caná. O coração da serva,
para a qual Deus se digna olhar, é o local escolhido para
todas as conversões do mundo. Assim, ela se torna a
verdadeira teologia da libertação em pessoa. Ela é a mulher
eucarística porque vive na órbita de Cristo.
Discípulos de Emaús: paradigma da experiência eucarística. Esse
texto nos ajuda a compreender o vínculo indissociável entre
Eucaristia e Missão. Da perplexidade à esperança. No caminho, são
tocados por um encontro que transforma. O vazio é aquecido pela
memória, pela proximidade e pela presença. Esse itinerário gera
conversão. A Palavra faz o coração arder; o
Pão fracionado abre os olhos e desinstala. Eles
se levantam e vão ao encontro dos outros, gera
atitude de saída.
Qual caminho: A Eucaristia nos arranca do desânimo e nos
impele ao caminho do encontro com os outros. É preciso
discernir o caminho que o Senhor nos pede. O mandato
missionário que brota do encontro com Cristo
tem a dimensão programática (ações
missionárias) e paradigmática (a missão se
torna paradigma de tudo que fazemos).
Forma de ser no mundo: a missão se torna o estilo de vida do
discípulo de Jesus. Isso é a superação de toda espiritualidade
intimista, narcisista e de fuga das realidades do mundo. A
primeira motivação para evangelizar é o amor
Jesus
que recebemos de Jesus Daí, nasce o desejo
de comunicá-lo. A Eucaristia é amor; desse
amor, nasce o desejo de comunicação, de
levantar-nos
Natureza missionária do corpo místico de Cristo: a Igreja
nasce do Filho, enviado do Pai, na ação do Espírito Santo. Nasce
do coração da Trindade. A Eucaristia é a forma continua da
experiência pascal, que desperta a fé em Jesus Cristo e gera a
Igreja. Ela tem consciência de ser a continuadora da obra de
Cristo no mundo. Ela é enviada a evangelizar
os pobres. A Igreja caminha na esperança,
completando com tribulações e fadigas, o
que falta aos sofrimentos de Cristo.
Eucaristia: comunhão sacramental e comunhão eclesial. E a
Igreja é, por sua natureza, missionária. A incorporação em
Cristo, realizada pelo Batismo, renova-se e consolida-se
continuamente através da participação no
sacrifício eucarístico, que nos torna
missionários. Nós recebemos Cristo e ele
nos recebe. Na Eucaristia, realiza-se a
inabitação mútua de Cristo e do discípulo.
Centro da missão da Igreja É A EUCARISTIA; e a missão da
Igreja tem como centro a Eucaristia. Documento de Aparecida:
profunda relação entre a Eucaristia e a missão.

Eucaristia, fonte inesgotável da vocação


cristã, é, ao mesmo tempo, fonte
inextinguível do impulso missionário.
Igreja em saída se alimenta da Eucaristia - Ide às praças: Na
parábola do banquete, os primeiros convidados não aceitaram o
convite. Por isso: “sai depressa pelas praças”. São as muitas realidades
onde se realiza o trabalho de evangelização. O dono da casa toma a
iniciativa de convidar as pessoas para o banquete. A negativa não lhe
tira o entusiasmo e a esperança. Ele tem dinamismo: não reclama, não
murmura; simplesmente vai adiante. A MISSÃO, PARA SER
AUTÊNTICA, PRECISA CONSIDERAR AS PESSOAS QUE
VIVEM À MARGEM.
Ite, missa est: relação profunda entre a missa celebrada e a
missão cristã no mundo. Não se trata de “despedir”, mas de
“expedir em missão”.

Ruptura do tempo: a Eucaristia rompe e cronos e nos insere no


kairós de Deus. É uma experiência de profunda densidade
espiritual e existencial. Ela nos lança para o futuro. Quem come
o “novo céu e a nova terra” se torna testemunha da esperança.
A criação toda: a Eucaristia tem também uma dimensão
cósmica. Não há nenhuma dimensão da criação que não seja
afetada por Cristo Ressuscitado. O Corpo de Cristo Ressuscitado
é a antecipação do destino de toda a criação de Deus, como diz o
Papa Francisco na Laudato Si’: “A criação encontra a sua maior
elevação na Eucaristia”.
Bento XVI: quanto mais viva for a fé eucarística no povo
de Deus, tanto mais profunda será a sua participação na
vida eclesial por meio de uma adesão convicta à missão
que Cristo confiou aos seus discípulos. Ide, portanto, às
praças, caminhos e atalhos!
Resistência: a festa também
recupera o elemento da
Festas: o povo de Deus tinha as suas resistência. A vida é mais forte
festas. A Eucaristia é a festa por que a morte, o desespero, o ódio,
excelência: valorização de determinados as trevas. A festa não aliena,
acontecimentos; expressão significativa fortalece para retornar à missão.
por meio dos gestos e sinais; a
intercomunhão solidária. A festa congrega,
gera alegria e comunidade. O XVIII CEN é
uma grande festa.
A aurora de Dom Helder: Sinfonia dos dois mundos. É meia-
noite no mundo. Mais negra é a noite, mais brilhante é a aurora.
Enquanto houve escuro, nós cantamos o aleluia pascal.

Na terra dos altos coqueiros, seremos uma


Igreja pascal e em saída. A festa haverá e o
povo a cantar. Aleluia!
Texto:
Dom Paulo Jackson Nóbrega de
Sousa. Bispo de Garanhuns–PE
e Presidente do NE2 da CNBB

Diagramação e Arte:
Marianny Arrieche Olivera.
Noviça Paulina

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