15 O falso profeta
nega o Jesus
da história,
o Messias encarnado
Shigeyuki Nakanose
25 ”Todo aquele
que odeia
seu irmão
é homicida” (1Jo 3,15)
Centro Bíblico Verbo
35Anoconclusivo
misericórdia
documento
de
Medellín (1968)
Matheus da Silva
Bernardes
43Roteiros homiléticos
Luiz Alexandre Solano Rossi
NOVIDADES
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cimento”), afirmando que a pessoa se salva como comercialmente falando, atraindo, as-
graças a um conhecimento religioso e pes- sim, várias nações poderosas para a região.
•
ano 60
soal de Cristo Jesus, que é Espírito e porta- Após os domínios imperiais persas, gre-
dor da gnose, o conhecimento que salva. gos e dos reis de Pérgamo, o Império Roma-
•
mam estar em íntima comunhão com Deus, aí. Em 129 a.C., a província romana na Ásia
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dade cosmopolita. Nela circulavam muitas
Vida Pastoral
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pela prática do evangelho de Jesus Cristo,
Vida Pastoral
como “anticristos” que têm aparecido na co- testemunhando, com todos os sentidos, a
munidade. Alerta a comunidade para que encarnação e reforçando a comunhão com
•
fique atenta e saiba discernir quem são os o Pai, o Filho e a comunidade. Jesus Cristo
Vida Pastoral
vida por nós; portanto, também nós deve- Vendas: (11) 3789-4000
mos entregar a vida pelos irmãos” (1Jo 0800-164011
•
ano 60
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o critério é acreditar que “Jesus Cristo veio
Vida Pastoral
de qualquer tipo de idolatria. Deus quer manente a vivenciar o amor fraterno, que se
vida plena para todas e todos. traduz em gestos concretos.
•
ano 60
A leitura da primeira carta de João nos Na vida cristã, o amor fraterno não é
ajuda a retomar os ideais da vida cristã. A opcional, mas atitude fundamental. Eis al-
•
Palavra da Vida continua se encarnando en- guns pontos da primeira carta de João so-
Vida Pastoral
tre nós para ser Caminho, Verdade e Vida, bre os quais podemos refletir:
10
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Em seguida, o autor da carta exorta:
Vida Pastoral
11
c) Discernir os sinais do verdadeiro Espí- amor fraterno. O centro é o amor que gera a
rito (1Jo 4,1-6). O autor da primeira carta de vida e o ódio que provoca a morte. Não
•
ano 60
João nos põe diante de dois grupos: de um existe uma forma de amar sem manifestar
lado, estão as comunidades, que ele chama práticas concretas de amor ao próximo. O
•
de “amados”, “filhinhos”, os que são de amor não é teoria, mas exige compromisso
Vida Pastoral
Deus; de outro, “os que dizem ter o Espírito concreto com a vida digna de nossas irmãs
12
vem de Deus”, ele nos amou primeiro (1Jo Mês da Bíblia, em setembro.
4,7.10.19). Deus é a origem e a essência do
amor e o único caminho para chegarmos
até ele, pois “Ele é amor” (1Jo 4,8.16). Nos-
sa experiência de Deus passa pela vivência
nº- 329
do amor: “Se nos amarmos uns aos outros, Vendas: (11) 3789-4000
Deus permanece conosco, e seu amor acon- 0800-164011
•
ano 60
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do amor de Deus: “Deus enviou seu Filho
Vida Pastoral
13
Referências bibliográficas
(Dos três artigos sobre a primeira carta de João)
BORTOLINI, José; BAZAGLIA, Paulo. Como ler as cartas de João. São Paulo: Paulus, 2001.
DUFF, Paul B. Jesus followers in the Roman empire. Grand Rapids: Eerdmans, 2017.
EHRMAN, Bart D. Evangelhos perdidos. Rio de Janeiro: Record, 2012.
HORSLEY, Richard A. (Org.). Paulo e o império: religião e poder na sociedade imperial romana.
São Paulo: Paulus, 2004.
nº- 329
MACARTHUR, John. 1-3 John. Chicago: Moody Publishers, 2007 (The MacArthur New Testament
Commentary).
•
ano 60
SMALLEY, Stephen S. 1, 2, 3 John. Waco, Texas: Word Books, 1984 (Word Biblical Commentary, 51).
THEISSEN, Gerd. A religião dos primeiros cristãos: uma teoria do cristianismo primitivo. São Paulo:
•
Paulus, 2018.
Vida Pastoral
WINN, Adam (Org.). An introduction to empire in the New Testament. Atlanta: SBL Press, 2016.
14
15
do povo. Assim também entre vocês vão b) Não haverá a vinda do Senhor: “An-
aparecer falsos mestres, introduzindo tes de tudo, vocês precisam saber que no
•
ano 60
seitas maléficas. Renegando o Senhor fim dos tempos vão aparecer cínicos e zom-
que os resgatou, trarão rápida destrui- badores, entregues a seus próprios desejos.
•
ção para si mesmos. Muitos vão seguir Eles dirão: ‘O que aconteceu com a vinda
Vida Pastoral
suas doutrinas dissolutas, e por causa dele que estava prometida? Desde que mor-
16
paulus.com.br
to não é simplesmente a percepção inte-
Vida Pastoral
17
res, revoltados contra o destino, que se dei- desejos vindos da carne e dos olhos, a arro-
xam levar pelas próprias paixões. Sua boca gância provocada pelo dinheiro – são coisas
•
profere palavras arrogantes e, se louvam as que não vêm do Pai, mas do mundo” (1Jo
Vida Pastoral
18
Deus da vida, sejam eles profetas da corte tudo o que eu lhes tenho dito” (Jo 14,26).
19
nos amemos uns aos outros, conforme o cam, dizendo ser cristãos? Nesse ponto está
mandamento que ele nos deu. Quem guar- a mudança do ensinamento: a) não reco-
•
Deus, e Deus nele. Nisso percebemos que nado, ou seja, separam sua realidade huma-
20
paulus.com.br
critério fundamental para discernir os anti-
Vida Pastoral
21
ser quem acredita que Jesus é o Filho de peito do seu Filho. Quem acredita no Filho
Vida Pastoral
Deus? Este é aquele que veio através da de Deus tem o testemunho dentro de si mes-
22
têm no Senhor nosso Jesus Cristo, diante de vida/prática) e sangue (cruz/morte) equi-
Deus nosso Pai” (1Ts 1,3); valem à totalidade da vida do Jesus da
•
ano 60
e o amor, essas três coisas. A maior delas é o sangue de Jesus Cristo, os cristãos reno-
Vida Pastoral
23
união, nossos passos um dia vão chegar”. do é o “critério” para seguir o Jesus da histó-
ria, o Messias encarnado, e seu mandamento
•
ano 60
A fé ativa em Jesus de Nazaré como a do amor ao próximo: “Deus enviou seu Fi-
encarnação do Verbo de Deus é o caminho lho único ao mundo, para podermos viver
•
no qual os cristãos experimentam o mais por meio dele. É nisto que está o amor”
Vida Pastoral
24
25
zava pela “troca” de favores entre as pessoas para promover contatos sociais e proteger
e criava verdadeira teia de influência e po- seus interesses particulares, incluindo dis-
•
ano 60
porque a pessoa pobre se sentia grata e de- etc. Nas reuniões, os homens poderosos e
Vida Pastoral
26
paulus.com.br
vidia os pobres, atrelava-os aos interesses de
Vida Pastoral
27
Alguns relatos das cartas e dos docu- cursos pomposos e vazios, e com a isca sen-
mentos das comunidades sobre a ação cristã sual da libertinagem, seduzem aqueles que
•
ano 60
pobres nas ceias (cf. 1Cor 11,17-34); b) o cravos da corrupção, pois cada um se torna
Vida Pastoral
acolhimento dos forasteiros sem direito al- escravo daquele a quem se rende. Portanto,
28
ção da carta, paralela a 1Jo 2,3-11 (que greco-romano e seus promotores não po-
traz como tema o mandamento do amor dem aceitar o testemunho da comunida-
•
29
por sua prática libertadora, que rompe com a irmão passando necessidade e lhe fecha o
ordem injusta dos poderosos. Após ter acu- coração?” (1Jo 3,17). O amor fraterno tem
•
ano 60
tor da primeira carta de João afirma que com palavras nem com a língua, mas com
Vida Pastoral
30
paulus.com.br
exprimindo sua solidariedade e seu amor
Vida Pastoral
31
suas práticas concretas em favor dos irmãos. carta: o Verdadeiro, Jesus Cristo, os ídolos,
os filhos de Deus e a vida eterna.
•
ano 60
3. O retrato da comunidade
da primeira carta de João a) O Verdadeiro. Deus é o único verda-
•
A primeira carta de João termina com deiro, conhecido pelo que ele é: vida e
Vida Pastoral
32
irmão, não é de Deus” (1Jo 3,10). Os cris- oposto ao mundo do Império Romano, o
tãos são chamados de “filhos de Deus”, pois mundo do Maligno (cf. 1Jo 2,14).
•
ano 60
nos revela Deus como amor e testemunha este: Deus nos deu a vida eterna, e esta vida
Vida Pastoral
que o amor é o caminho, a verdade e a vida. está em seu Filho. Quem tem o Filho tem a
33
pério Romano dos tempos atuais continua le que não pratica a justiça, quem não ama
Vida Pastoral
a provocar muitos males, cometendo di- seu irmão, não é de Deus” (1Jo 3,10).
34
mostra que ele se inspira na vida teológica e forço de traduzir a novidade do Concílio
pastoral da América Latina. Ao mencionar para a realidade do subcontinente.
•
ano 60
*Matheus da Silva Bernardes, presbítero da Arquidiocese de Campinas, é atualmente administrador da Paróquia Nossa Senhora
•
Aparecida dos Campos Verdes, em Hortolândia, SP. Graduado em Teologia pela PUC do Chile, em Santiago. Mestre em Teologia
Vida Pastoral
Sistemática pela Pontifícia Faculdade de Teologia Nossa Senhora da Assunção, em São Paulo. Especialista em Teologia Pastoral e
doutorando em Teologia Sistemática pela Faje, em Belo Horizonte. E-mail: pe.matheusbernardes@gmail.com
35
A promoção humana dos povos latino- te (cf. Paz, nn. 2-3). A violência à qual estão
-americanos acontecerá mediante os valores expostos muitos homens e mulheres na
•
da justiça, paz, educação e família. Após a América Latina, especialmente os mais po-
Vida Pastoral
36
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associada a devoções, mas pouco compro-
Vida Pastoral
37
A liturgia, especialmente a celebração da Eu- tilo de vida não movido pelas ambições ter-
caristia, é o espaço de comunhão entre os renas, mas sempre disposto a servir.
•
ano 60
fiéis com o Deus da vida e com os irmãos e A solidariedade com os mais pobres é
irmãs; converte-se, portanto, em compro- exigência da caridade. Assim a Igreja, que
•
mais justa e fraterna (cf. Liturgia, n. 7). história, “apresentará ao mundo um sinal
38
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justiça social, a salvação escatológica já se
Vida Pastoral
39
bla, n. 188; Aparecida, nn. 28-29) e na tra- a pobreza como compromisso não é outra
dição eclesial latino-americana, nota-se cla- senão a misericórdia do próprio Deus, que
•
ramente uma acentuação cristológica que não foi indiferente à pobreza do ser huma-
Vida Pastoral
dirige toda a atividade da Igreja. Esta, cha- no, mas permitiu a todos se enriquecerem
40
ação da Igreja, seu serviço aos povos latino- Vendas: (11) 3789-4000
-americanos. Medellín foi a continuação do 0800-164011
•
ano 60
paulus.com.br
lidade concreta marcada pelo subdesenvol-
Vida Pastoral
41
Referências bibliográficas
______. Texto conclusivo da V Conferência Geral do Episcopado Latino-Americano e do Caribe. Brasília, DF:
ano 60
42
Também na internet:
vidapastoral.com.br 22º DOMINGO DO TEMPO COMUM
1º de setembro
A mesa partilhada
é bênção para todos
*Luiz Alexandre Solano Rossi é dou-
I. Introdução geral
tor em Ciências da Religião pela Os evangelhos nos mostram que, enquanto Jesus cami-
Universidade Metodista de São Pau-
lo (Umesp) e pós-doutor em História
nhava, olhos atentos repousavam sobre ele. Suas palavras e
Antiga pela Universidade Estadual gestos eram acompanhados de muito perto. Eram palavras e
de Campinas (Unicamp) e em Teolo- gestos carregados de sentido e de poder transformador. Mas
gia pelo Fuller Theological Seminary
(Califórnia, EUA). É professor no
eram, também, palavras e gestos que causavam desconforto
programa de Mestrado e Doutorado no modo de viver de muitas pessoas. Palavras que chega-
em Teologia da Pontifícia Universi-
dade Católica do Paraná (PUCPR).
vam, de forma muito cristalina, à mente e coração daqueles
Publicou diversos livros, a maioria que o seguiam. Não havia nada de conceitos esotéricos, difí-
pela PAULUS, entre os quais: A falsa ceis e acessíveis somente a poucos escolhidos. A vida de Je-
religião e a amizade enganadora: o
sus e suas palavras abriam-se para o mundo a fim de trans-
nº- 329
mento do pobre.
E-mail: luizalexandrerossi@yahoo.com.br dariedade e a fraternidade repousam sobre todos.
43
interior das relações comunitárias estão pre- achavam mais dignos do que os outros. So-
sentes outros sentimentos, justamente por- mos melhores e, aos melhores, os primeiros
•
que os fundamentos da comunidade foram lugares, talvez fosse o refrão mais conhecido
Vida Pastoral
44
sença deles era desabonadora (“o que vão se vivem as relações interpessoais. Nesse
falar de mim?”). A única forma de dar ver- sentido, outros valores e princípios passam
•
ano 60
dadeiramente é aquela que vem do influxo a reger a vida em comunidade dos discípu-
incontrolável do amor. Para Jesus, a mesa los e discípulas de Jesus. Assim, relações de
•
45
Viver o evangelho humaniza o fiel e faz dele conselheiro?”. A salvação vem somente por
novo ser humano. Devemos perceber, po- meio da sabedoria e, por isso, o ser humano
rém, que vivê-lo exige decisão radical. Não não pode confiar em suas próprias forças.
basta seguir Jesus de longe. Justamente a
proximidade com ele é que possibilita as 2. II leitura
mudanças necessárias em nós. É necessário (Fm 9b-10.12-17): a fraternidade
assumir a vida dele completa e honesta- nega a despersonalização
mente. E, ao viver o evangelho da vida, tes- O pano de fundo da segunda leitura é o
temunhar, por palavras e gestos, uma co- pedido que o apóstolo Paulo faz ao escravo
munidade de vida diametralmente oposta Onésimo para que retorne a Filêmon, seu
aos valores que regem este mundo. senhor. Onésimo segue viagem, levando
consigo a carta cujo conteúdo é apresenta-
II. Comentários do, em parte, nesta leitura: o apóstolo soli-
dos textos bíblicos cita ao destinatário da mensagem que rece-
1. I leitura (Sb 9,13-18): ba Onésimo não somente sem castigá-lo,
conhecer a vontade de Deus mas também como a um irmão. Tal atitude,
O autor de Sabedoria, na primeira leitu- diz Paulo, será útil ao próprio Filêmon. No
ra, procura acentuar a fraqueza do ser hu- entanto, mesmo que o apóstolo não expli-
mano e sua incapacidade de conhecer a que como nem por quê, é fácil imaginar
vontade divina. Ele enfatiza esse ponto por que seu pedido é uma forma concreta de
três vezes: “Que homem conhece a vontade pôr em prática o evangelho. Aquele que se
de Deus?”; “Quem pode rastrear o que está considera “prisioneiro de Cristo Jesus” se
nos céus?”; “E o teu projeto, quem poderia utiliza de sua própria experiência atual a
conhecer?” As perguntas do sábio são retó- fim de orientar, de forma catequética, um
ricas, típicas do ambiente sapiencial. Todas de seus discípulos – o próprio Filêmon. As-
elas perseguem o mesmo objetivo: afirmar sim, faz referência à sua idade já avançada
que a sabedoria é inacessível ao ser huma- – na época, entre 50 e 60 anos – e à sua
no. A única possibilidade de conhecer e condição de prisioneiro, bem como ao fato
amar a vontade de Deus é por meio do dom de ser o pai espiritual de Onésimo e à utili-
da sabedoria, isto é, se o próprio Deus con- dade deste no período de prisão. A fim de
cedê-la e das alturas enviar o santo espírito. convencer Filêmon, o apóstolo faz uso de
O autor enfatiza a menção ao santo espírito, três argumentos: a obediência, a generosi-
em paralelismo com a sabedoria (menção dade e o apelo à dívida de um amigo. No
que aparece também em outros lugares do entanto, decisivo é o argumento sobre o
livro, por exemplo 1,5a.6a.7a etc.). Mais novo status adquirido por Onésimo por
tarde, já no Novo Testamento, encontrare- causa da vida de Jesus: deixava de ser es-
mos entre as funções do Espírito a de ilumi- cravo e passava a ser considerado um ir-
nar (cf. Jo 14,26). No ser humano não há mão. Se há irmandade, a fraternidade deve
força, e sim fraqueza e arrogância; nesse substituir as relações de escravização, de
nº- 329
de alcançar uma vida justa. O tema da ina- minação de um sobre o outro, Paulo está,
cessibilidade da sabedoria também é encon- de fato, enfatizando que o evangelho pos-
•
trado em Isaías 40,13: “Quem estabeleceu o sui força suficiente para derrubar os muitos
Vida Pastoral
pensamento do Senhor? Ou quem foi seu muros que aprisionam o ser humano e o
46
paulus.com.br
apresente a próxima necessidade. A segun-
Vida Pastoral
47
bilidade. Devolver a Jesus migalhas, en- Moisés. Este, porém, não aceita pacificamen-
quanto ele se entregou completamente, é te tal interpretação dos fatos e insiste que foi
•
pura inadequação. Qual o preço de ser dis- Deus quem tirou o povo do Egito e que o
Vida Pastoral
48
percepção dele é comunitária. Como pode- doutores da Lei não passou despercebido
ria sobreviver e os demais perecer? Dessa dos ouvidos de Jesus: “Este homem recebe
•
ano 60
forma, ele assume a comunidade como pro- pecadores e come com eles” (v. 2). O Mestre
jeto de vida, mesmo que o comportamento faz questão de confirmar aos murmurado-
•
dessa comunidade não seja o mais adequa- res que o local privilegiado de convívio de
Vida Pastoral
49
pessoas consideradas não recomendáveis. E tos de justiça e retidão, acabaram por perder
para que o processo pedagógico e catequéti- a sensibilidade a todos aqueles que, diferen-
co de Jesus seja bem compreendido, ele temente deles, viviam rodeados pela miséria
conta três preciosas parábolas. e pela carência. A atitude desses líderes de-
A parábola da ovelha perdida chama a monstra que seus anos de obediência ao Pai
atenção por causa da absurda atitude do foram de irritante dever, e não de amoroso
pastor, que privilegia a lógica do cuidado e serviço. Além disso, assumem uma atitude
contraria a lógica do acúmulo, tão presente de marcante antipatia – afinal, o mais velho
já naqueles dias. O pastor era responsável se refere ao outro não como “meu irmão”,
pessoalmente pelas ovelhas. Não havia pas- mas como “seu filho”.
tor que não sentisse que seu trabalho de
cada dia era dar a vida por seu rebanho. E, III. Pistas para reflexão
certamente, Deus conhece a alegria de en- 1) Moisés pensa a si mesmo de forma
contrar coisas que se perderam. comunitária. Não se vê e não se percebe
Já a parábola da mulher e da moeda per- como alguém que possui um projeto pes-
dida ressalta a alegria compartilhada comu- soal, afastado do próprio povo, ou seja, de
nitariamente pelo encontro da moeda. A sua comunidade. Ele intercede pela sua co-
sobrevivência estaria assegurada e a alegria munidade. Que prioridade tem sua comu-
restaurada. Por mais insignificante que a nidade em sua vida de oração?
moeda parecesse ser – representava um 2) A conversão muda a pessoa por com-
pouco mais de um dia de trabalho –, os tra- pleto. Altera caminhos, vida e valores. A
balhadores da época viviam sempre aperta- mudança é tão radical que a pessoa até mes-
dos e pouco faltava para que passassem mo passa a estar apta para o trabalho no
fome. A intensidade da busca da moeda se Reino de Deus. Quais são os sinais da con-
relaciona, portanto, com a possibilidade de versão em sua vida e como eles se refletem
continuar se alimentando. em sua comunidade?
Na terceira parábola – a do pai e seus 3) A mensagem de Jesus sempre foi de
dois filhos –, vemos um pai que expressa acolhimento. Ele jamais excluía ninguém ou
intensamente a alegria por ver seu filho, que deixava de ir ao encontro. Jesus não via, em
se encontrava perdido, retornar para casa. primeiro lugar, o pecado das pessoas. Via,
Mais uma vez, Jesus enfatiza a necessidade sim, seu sofrimento e, ato contínuo, aproxi-
de acolher e incluir no movimento as pes- mava-se delas para anunciar a Boa-Nova. A
soas consideradas indignas. Acolhimento, que distância estamos uns dos outros?
nesse sentido, traduz muito bem a palavra
solidariedade. São dois filhos que represen- 25º DOMINGO DO TEMPO COMUM
tam diferentes percepções de projeto de 22 de setembro
vida. O mais novo, imerso na própria misé-
ria, vai ao encontro do pai, manifestando o
movimento não só geográfico, mas também Não é possível servir
nº- 329
res murmuradores, que, enrijecidos, dog- Uma das experiências mais difíceis dos
Vida Pastoral
50
forto e não queriam perder nenhum privilé- sencial, é designado aqui como “o teste-
gio. Viviam, sem dúvida, uma religião sem munho que foi dado no tempo estabele-
•
ano 60
o exercício da misericórdia, motivo pelo cido” (v. 6), uma forma de assinalar que
qual podemos considerá-la como vazia. Cristo manifestou ao mundo, com sua
•
Para eles, era mais importante amar o lucro vida e morte, o plano salvador de Deus.
Vida Pastoral
do que a Deus. Uma prova incontestável de Rezar faz bem! Contudo, não uma oração
51
que tenha início, meio e fim naquele que maiores para guardar seus bens, disse: “O
reza. Importa rezar por todas as pessoas e peito dos pobres, as casas das viúvas, as bo-
perceber que existe, na vida do discípulo cas dos meninos são os celeiros que duram
de Jesus, uma responsabilidade irrenun- para sempre”. A verdadeira riqueza de uma
ciável e intransferível de ser bênção na pessoa, conclui-se, não está no que ela guar-
vida dos outros por meio da oração. da, e sim no que distribui. O seguimento de
Jesus e o culto à riqueza são duas coisas in-
3. Evangelho (Lc 16,1-13): compatíveis. A riqueza sempre há de reque-
assumir uma atitude prudente rer o ser humano inteiro, pois ela o absorve
A parábola de Jesus conhecida como a por completo e o domina, escravizando-o.
“parábola do administrador desonesto” re- E sabemos, pela tradição bíblica, que Deus
fere-se ao uso adequado dos bens e recursos deseja ser amado “com todo o seu coração,
num cenário de forte desigualdade social. A com toda a sua alma, com todas as suas for-
conclusão possível é que a lealdade não é ças e com toda a sua mente” (Lc 10,27).
intercambiável entre senhores diferentes.
Serve-se a um ou a outro e, dessa forma, III. Pistas para reflexão
servir a Deus e ao dinheiro simultaneamen- 1) A busca incessante e insaciável pelo
te é não servir a nenhum dos dois. Na rela- lucro leva a pessoa a adorar o deus Mamon.
ção que levaria a um ou a outro, os senti- Torna-se ela refém da ganância e do egoís-
mentos de amor e ódio, apego ou desprezo mo. Como viver o evangelho da partilha
estariam misturados, ora dirigidos a Deus, numa sociedade fundamentada na lógica do
ora dirigidos ao dinheiro. A riqueza é deno- lucro e da exclusão social?
minada de Mamon – o que é seguro e dá 2) Podemos ser impedidos de muitas
segurança. As pessoas acreditam que, a par- coisas. Jamais, porém, seremos impedidos
tir do momento em que possuem dinheiro, de rezar. Trata-se de responsabilidade irre-
a existência estaria assegurada (cf. Lc nunciável e intransferível. Qual é o valor da
12,15s). Todavia, a riqueza não pode cum- oração em sua vida diária?
prir o que promete (cf. Lc 16,11). Frequen- 3) A lealdade somente cabe a uma pes-
temente a aquisição de riqueza e seu empre- soa. Não é possível mostrar lealdade a Deus
go são acompanhados de injustiça. Afinal, e a Mamon; ser leal ao projeto de Deus e a
se os bens da terra são limitados e se algu- projetos que o negam; ser leal ao Reino de
mas pessoas se apossam desses bens ilimita- Deus e ao antirreino. O seguimento de Jesus
damente, à maioria do povo restará a pobre- não pode ser parcializado. É tudo ou nada!
za. A riqueza, por maior que seja, não pode
impedir a morte (cf. Lc 12,22-31) nem 26º DOMINGO DO TEMPO COMUM
muito menos acrescentar algo à vida e à es- 29 de setembro
tatura da pessoa (cf. Lc 12,25). Assim, so-
mente àquele que sabe administrar o pouco Arrogância: raiz
é confiado o muito. Se não somos fiéis no
de todos os males
nº- 329
douro”. Santo Ambrósio, comentando so- feta Amós quanto o rico da parábola conta-
Vida Pastoral
bre o rico insensato que edificou celeiros da por Jesus afundam-se num mar de arro-
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numa falsa segurança, transferiram a con- de viver a que ele não pode se associar ou
fiança em Deus para a confiança no templo; que não pode desenvolver em seu cotidia-
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ano 60
confiam na religião teatralizada, não no re- no. A orientação é clara: deve existir profun-
lacionamento certo com Deus. Vivem de do distanciamento de Timóteo de tudo
•
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indicando tudo quanto ele deve procurar a ga agora, mas enxerga o pobre, faminto e
fim de bem se construir como líder e discí- doente como se fosse um servo à sua dispo-
pulo de Jesus: justiça, piedade, fé, amor, sição. É interessante observar que a malda-
perseverança, bondade. O texto finaliza de do rico se estende, quase que heredita-
com uma doxologia, dirigida a Deus, apre- riamente, aos seus cinco irmãos. Todos eles
sentado como ator último da manifestação reproduzem o mesmo comportamento, o
gloriosa de Jesus. Os títulos usados para que explica a insistência em avisá-los do
Deus são de dois tipos: alguns são extraídos que lhes estava reservado.
do Antigo Testamento – Rei dos reis e Se- O cuidado com os mais pequeninos não
nhor dos senhores – e outros pertencem ao apenas nos aproxima deles, mas também do
ambiente helenístico, como o destaque próprio Deus. Qual teria sido o pecado do
dado a atributos como imortalidade ou à rico? Afinal, ele não havia ordenado aos seus
metáfora da luz inacessível. Todos os títulos servos que dessem fim à presença incômoda
buscam o mesmo objetivo: exaltar e enfati- de Lázaro; não o impediu de pegar o pão
zar a transcendência e superioridade divina que caía da mesa; também não usou de vio-
sobre os seres humanos. lência física e crueldade aparente. Qual o
pecado, então? Foi não prestar atenção sufi-
3. Evangelho (Lc 16,19-31): ciente em Lázaro, mas aceitar que sua condi-
afastamo-nos de Deus quando ção fosse parte natural do cenário; o pecado
desprezamos o próximo de achar natural e inevitável a dor e a fome
O abismo existente entre o homem rico do outro, enquanto ele, de sua parte, se ale-
e Lázaro (um no céu, outro no inferno) é grava e banqueteava. Não foi, aparentemen-
uma reprodução do primeiro e mais essen- te, o que o rico fez que o condenou, mas sim
cial abismo existente entre os dois, ou seja, o que não fez é que o levou ao inferno. Seu
riqueza e pobreza, fartura e fome. Lázaro pecado foi olhar o sofrimento de alguém
era, para o homem rico, um sobrante da so- próximo sem sentir compaixão; ver o outro
ciedade; uma figura invisível, ainda que fi- faminto e dolorido e não fazer nada. A dor
casse deitado diariamente à porta do rico. do outro não doía nele. O castigo dele foi o
Púrpura, linho e alimentação abundante de alguém que nunca se deu conta de nada.
fazem parte da vida do homem rico. Perce- Faltava-lhe, e possivelmente a muitos atual-
ba-se, porém, que, tendo tudo, ele não tem mente, a compreensão de que não existe so-
nome e, assim, não tem nada. Por sua vez, o frimento estranho. A dor e o sofrimento do
pobre invisível, faminto e doente, que não outro devem sempre ser compreendidos
tinha nada, tinha nome – Lázaro – e, por como o melhor lugar para viver a prática do
conta disso, tinha tudo. Deus chama seus acolhimento, do cuidado, da ternura, da
pequeninos pelo nome, indicando, dessa paixão e da compaixão pelo que sofre.
forma, proximidade e personalização. Para
Deus, Lázaro não é um sobrante nem um III. Pistas para reflexão
ser humano descartável. É, sim, uma pessoa 1) O profeta Amós faz dura crítica aos
nº- 329
que vive junto a Ele. A arrogância do rico, líderes que agiam com violência e explora-
contudo, parece não ter fim. Mesmo no tor- vam o povo. Viviam tranquilos no luxo e na
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mento da habitação dos mortos, vê Lázaro riqueza. Achavam-se seguros tanto social
(que já não está invisível a seus olhos) e quanto espiritualmente. Triste engano de-
•
pede que Abraão o envie para refrescá-lo les. Deus, para o profeta, é o Deus que cuida
Vida Pastoral
com algumas gotas de água. O rico o enxer- dos pobres. Quais outras referências bíbli-
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diferentes modalidades.
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o rei Joaquim, filho do famoso rei Josias, a força do testemunho também se faz pre-
havia sido nomeado rei pelo Egito. No en- sente. Não há necessidade de se envergo-
tanto, não seria uma nomeação sem interes- nhar, mesmo que haja sofrimento.
se. O rei do Egito impôs pesado tributo em
ouro e prata que, para ser pago, levou o rei 3. Evangelho (Lc 17,5-10):
Joaquim a espoliar duramente o povo (cf. fé para servir!
2Rs 23,33-35). Violência, crime, injustiça, O servo trabalha no campo, contratado
opressão, processos, rixas, leis fracas, direito por um ano, e aquele que o contratou tem
distorcido e a presença do ímpio são expres- direito assegurado de sua força de trabalho.
sões presentes no texto. Parece, aos olhos de Entre as funções que precisa desempenhar
Habacuc, que a vida foi totalmente absorvi- está não somente arar a terra e cuidar do
da e dominada pelas forças do mal e da vio- gado, mas também cozinhar e preparar a
lência. Até quando, Senhor? Até quando o mesa. As exigências podem parecer irritan-
império da violência se fará presente, anu- tes, sobretudo se considerarmos que o con-
lando a força da solidariedade e da justiça? A tratante deve ser um pequeno proprietário,
resposta se encontra no versículo que repre- porque o texto faz referência a somente um
senta o centro do livro: “mas o justo viverá servo para atender a todos os serviços. Pare-
por sua fidelidade” (v. 4). Há clara relação de ce uma relação injusta: um trabalha exausti-
oposição entre arrogantes e justos, assim vamente no campo, enquanto o outro des-
como entre os projetos de vida deles. O or- cansa em casa. A irritação parece que vai
gulhoso vive de sua insaciável ambição, e o num crescendo na leitura: quando o servo
justo se alimenta da fé no projeto de Deus. retorna muito cansado do trabalho no cam-
po, seu empregador já se encontra à mesa e
2. II leitura (2Tm 1,6-8.13-14): com fome, à espera de ser servido. E o ser-
viver plenamente o dom recebido vo, mesmo que esteja mais faminto e cansa-
O tema principal é a exortação de Pau- do do que seu patrão, precisa esperar que
lo a Timóteo e, por extensão, a todos os este se satisfaça primeiramente. Além disso,
vocacionados que desejam cumprir fiel- após toda a cena, que talvez perturbe a mui-
mente sua missão, superando as dificulda- tos leitores, o patrão não dá um mínimo
des. O evangelho é anunciado em meio às elogio àquele que o serve. Ele acha que o
dificuldades e contradições, porém sem- outro apenas cumpre seu dever e assim faz
pre contando com a ajuda de Deus, que é valer seus direitos sobre o servo.
fiel e jamais falha. O anúncio do evange- Devemos perceber que Jesus não se pro-
lho é a resposta ao dom recebido. Guardar nuncia sobre essa situação social de profun-
o depósito da fé se refere a todo o conjun- da irritação, a qual causa certo mal-estar no
to da Boa-Nova – núcleo da fé – como te- leitor. Ele apenas se apropria de uma ima-
souro a ser transmitido de geração em ge- gem do cotidiano a fim de usá-la pedagogi-
ração. Para isso, Timóteo conta com a aju- camente na parábola. Aos apóstolos que lhe
da fundamental do Espírito Santo. A ins- pediram: “Aumenta nossa fé”, Jesus respon-
nº- 329
trução de Paulo é que Timóteo deveria de que a fé que possuíam era mais do que
reacender o dom de Deus que se encon- suficiente. Ao quererem algo a mais, deixa-
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ano 60
de, ao mesmo tempo que afasta a covar- desenvolve em dois momentos, para que os
Vida Pastoral
dia. Assim, tomado pela presença do dom, discípulos percebam o compromisso que
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1) O justo viverá por sua fidelidade ao ela pavimenta o caminho, fazendo que os
projeto de Deus. Os injustos, por sua vez, se- encontros sejam evangelizadores e os muros
•
guirão seu próprio caminho, marcado pela sejam derrubados. Caminhar por ela deve
Vida Pastoral
arrogância, violência, crime e injustiça. Há ser compreendido como uma ação encarnada
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na própria realidade em que se vive. Nesse e, por isso, nada a impede de anunciar a sal-
sentido, a fé é histórica. Reveste-se das múl- vação. Pode a testemunha do evangelho se
tiplas histórias que vivemos e partilhamos encontrar aprisionada, todavia a palavra de
uns com os outros a cada dia. É na história Deus, livre, anuncia a libertação. Até mesmo
que Deus se revela, assim como é na história o sofrimento é visto de outra perspectiva.
que vivemos de fé em fé. Ele representa o mais legítimo testemunho
de amor e de solidariedade para com as pes-
II. Comentários soas por meio do anúncio da salvação. O
dos textos bíblicos hino parece enfatizar a participação do cris-
1. I leitura (2Rs 5,14-17): tão nos destinos do próprio Cristo. Devemos
Deus está acima de todos os deuses compreender, porém, que o destino não é
Naamã era o chefe do exército arameu, automático, mas depende da opção de cada
que representava uma grande força na geo- um. Por causa disso é que o hino é marcado
política da região. Não era raro que os ara- pela ação condicional, indicando que se exi-
meus e os israelitas estivessem em disputa ge algo do discípulo.
territorial. Nosso texto se inicia com o gene-
ral sendo obediente à orientação do profeta 3. Evangelho (Lc 17,11-19): fé e
Eliseu a fim de que pudesse ser curado da gratidão como princípio da alegria
lepra. Após mergulhar obedientemente por Neste evangelho, vemos como a enfer-
sete vezes nas águas do rio Jordão, Naamã midade e a miséria reúnem dez homens e os
viu, inacreditavelmente, que sua pele havia fazem esquecer o tradicional ódio existente
ficado completamente limpa, como a de entre judeus e samaritanos. Eram excluídos
uma criança. Após a constatação, ele faz por todos, e havia até mesmo uma legislação
bela confissão de fé: “Agora sei que não há própria para eles: “Quem for declarado le-
outro Deus na terra, a não ser em Israel” (v. proso deverá andar com as roupas rasgadas
15b). Sua cura e conversão são contadas a e despenteado, com a barba coberta e gritan-
fim de mostrar que Deus é, de fato, um do ‘impuro, impuro’. Ficará impuro enquan-
Deus universal e está acima de todos os ou- to durar sua doença. Viverá separado e mo-
tros deuses. A história destaca, portanto, rará fora do acampamento” (Lv 13,45s). Je-
que a ação salvífica de Deus não estava limi- sus está em missão e, enquanto atravessa a
tada a Israel. Deus quer que todos saibam Samaria e a Galileia com o objetivo de che-
que ele é o verdadeiro Deus. gar a Jerusalém, é interrompido aos gritos
por dez leprosos. Eles guardam certa distân-
2. II leitura (2Tm 2,8-13): a palavra cia de Jesus. Não havia uma distância defini-
de Deus não está algemada da, mas ao menos uma autoridade tinha es-
A segunda leitura é centrada na pessoa tabelecido que, quando o vento soprasse do
de Jesus Cristo ressuscitado dentre os mor- leproso em direção à pessoa sadia, aquele
tos, o que, para qualquer cristão, constitui devia ficar a pelo menos 50 metros de dis-
uma recordação de seus sofrimentos e de tância. Nada poderia demonstrar melhor a
nº- 329
seu triunfo final. É justamente essa recorda- solidão total em que viviam os leprosos. Afi-
ção de Jesus a motivação afetiva e teológica nal, eram considerados impuros e eram im-
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que anima o cristão para a superação de toda pedidos de se aproximar de todos os reco-
e qualquer dificuldade. A declaração de Pau- nhecidos como puros. Após o pedido – “te-
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lo é fundamental para compreender o alcan- nha piedade de nós” –, os dez são instruídos
Vida Pastoral
ce da palavra de Deus. Ela não está algemada por Jesus a se apresentar aos sacerdotes. Mas
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porque estão ao redor de um mesmo pro- vestiu contra eles com um grupo de solda-
jeto, de um mesmo povo, de um mesmo dos, e sim desde o momento em que Moi-
Deus. Não desejam o sucesso pessoal nem sés, Aarão e Ur subiram à colina.
muito menos avançar na vida subindo nas Você já experimentou ficar com os bra-
costas dos outros. Consideram a missão ços levantados durante certo tempo? Co-
sempre como de todos e jamais veem as meçamos bem, mas aos poucos nossos bra-
lutas e conflitos como se fossem desafios a ços também se tornam pesados e desmoro-
enfrentar sozinhos. Juntos somam, dividi- namos por completo. Moisés se esforçou
dos se enfraquecem; juntos perseveram e sobremaneira, mas já não encontrava forças
olham para o mesmo alvo. A perseveran- em si mesmo. Nesse momento ele contou
ça, quando assumida pela comunidade, com olhos perspicazes que a tudo observa-
vai mais longe, projeta-se para o futuro e vam. Aarão e Ur vieram até ele e colocaram
faz o que, sozinhos, nunca seria possível uma pedra para que pudesse sentar e,
realizar. quem sabe dessa forma, recuperar a ener-
gia. A ideia, por um momento, parecia boa,
II. Comentários mas não resolvia nada. Moisés não precisa-
dos textos bíblicos va de uma pedra. Precisava, antes, de com-
1. I leitura (Ex 17,8-13): panhia ou, por assim dizer, de outros bra-
a solidariedade forma ços. Quando Aarão e Ur se aproximaram
e salva a comunidade dele, o braço de um tornou-se a extensão
Certa vez os amalecitas, inimigos tra- do braço do outro. Um apoiava o outro, e
dicionais do povo de Deus, encontravam- juntos conseguiam aquilo que não pode-
-se em Rafidim para combater contra Israel. riam obter sozinhos.
Moisés deu ordens precisas de combate a O ensinamento é fundamental: a força
Josué, que foi para o campo de batalha. não reside em apenas um. Ela está presente
Enquanto isso, Moisés, Aarão e Ur subi- na unidade e no projeto comum a todos. A
ram ao topo de uma colina. Ali, enquanto guerra não era de Moisés e não atingia ape-
as mãos de Moisés permaneciam erguidas, nas ele. O inimigo não se levantava contra
Israel vencia; quando abaixava as mãos, os um do povo de Deus, mas contra todo o
amalecitas venciam. Como interromper o povo. Moisés, Aarão e Ur, juntos, formavam
ciclo de vitória e derrota causado pelo uma unidade. Juntaram-se porque, separa-
cansaço de Moisés, que não conseguia dos, não possuíam força alguma. Devemos
permanecer o tempo todo com as mãos entender que, isolados, podemos obter uma
erguidas? Nesse momento em que o povo vitória parcial aqui e outra ali, mas nunca
de Deus enfrentava enorme dificuldade, a obteremos a vitória definitiva. Quando nos
atitude de Aarão e Ur mostrou-se funda- voltamos para a comunidade é que pode-
mental. Ao perceberem o cansaço de Moi- mos emprestar nossos braços a fim de cons-
sés, fizeram-no sentar e, em seguida, agin- truir a vitória. Qual braço alcançou a vitória
do como fiéis escudeiros, um de cada nessa leitura? Sem sombra de dúvida, foi o
nº- 329
lado, como se fossem uma única pessoa e braço da comunidade. As mãos erguidas
um único projeto, cada qual passou a sus- converteram-se em símbolo não só da pre-
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ano 60
tentar uma das mãos de Moisés, até que o sença de Deus, mas também do seu apoio
inimigo fosse derrotado no campo de ba- na batalha. Eles não estavam lutando sozi-
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talha. Pode-se dizer que a derrota dos nhos. Na verdade, aquele que os libertou da
Vida Pastoral
amalecitas ocorreu não quando Josué in- escravidão continuava lutando a seu lado,
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estaria direcionado para Jesus. O apóstolo para que a realidade que machuca e oprime
Paulo exorta Timóteo a ficar firme na fé seja alterada. Não nos cansemos de orar e
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ano 60
aprendida desde a infância com a mãe e a nunca nos faltará a fé; e, depois de haver
avó. Ponto central e determinante na exor- ofertado a Deus nossas orações e pedidos,
•
Escritura, que, inspirada por Deus, transmi- feita: seja feita a tua vontade.
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de morte. Não há nada mais degradante que em meio ao conflito que coloca em lados
o fato de o evangelho não produzir vida por distintos aqueles que têm poder e aqueles
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ano 60
onde é proclamado. Assim, muitas pessoas que são fracos. A oração do humilhado che-
se perdem no caminho do discipulado. Es- ga a Deus atravessando as nuvens, ou seja,
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quecem que a vida cristã deve ser vivida de desfaz a percepção da inacessibilidade de
Vida Pastoral
forma integral e que não há espaço para uma Deus que encontramos na queixa do autor
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paulus.com.br
grande certeza: “A ele a glória pelos séculos
Vida Pastoral
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graça e a misericórdia divina. Ele se reco- da, que leva a desprezar e humilhar os ou-
nhece sem nada, tendo senão um grande e tros; de nada vale uma espiritualidade arro-
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ano 60
enorme vazio a ser preenchido por Deus, a gante que condena as pessoas com as quais
quem nem sequer se atrevia a elevar os se vive. A verdadeira religião é aquela que
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olhos. Muitas versões não fazem justiça à nos liberta de nosso egoísmo a fim de abra-
Vida Pastoral
sua humildade, pois na realidade ele falou: çarmos uns aos outros como irmãos.
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Como destinatários, tem todas as pessoas, no espírito do apóstolo Paulo, com atenção
especial a quem tem menos oportunidade de ler e aprofundar a Bíblia. A metodologia
é fazer a Palavra de Deus dialogar com todas as dimensões do ser humano (mente,
vontade, coração), valorizando toda forma de comunicação: relações, imagens, artes,
música, redes sociais etc.
Setembro é Mês da Bíblia! Neste ano, a campanha se inspira na Primeira Carta de João para
nos lançar um desafio: amemos uns aos outros, como Cristo nos amou.
A PAULUS, referência em publicação de Bíblias, sabe que é o Evangelho quem nos conduz no
exemplo de Jesus. Em 2019, deixe o Apóstolo do Amor iluminar você nesse caminho!
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