Você está na página 1de 5

Lição 1

Ricos e Pobres na Igreja - uma prova de fé


Texto Básico - Lucas 16.19-24
Leitura diária
D - Lei a favor dos pobres (Levítico 25.35-38)
S - O Sistema de Cuidado ao Pobre (Deuteronômio 24.16-18)
T - Toda Propriedade é de Deus (1 Crônicas 29.9-12)
Q - O Rico Insensato (Lucas 12.13-15)
Q - O Administrador Infiel (Lucas 16.1-8)
S - O Rico e o Lázaro (Lucas 16.19-24)
S - O Perigo das Riquezas (1 Timóteo 6.1-5)

Introdução
Os bens e riquezas materiais prefiguram e são sinais do reino celestial. Os
benefícios e bênçãos que recebemos aqui na terra são como penhores da vida futura.
Ora, se esses bens terrenos servem para conduzir-nos em gratidão a Deus, não deveriam
nos afastar da vida espiritual.

I - O Perigo das Riquezas


Toda Criação e suas riquezas devem glorificar a Deus, devem ser consagradas
totalmente à ele. Consagrar-lhe as riquezas significa utilizá-las em serviço ao próximo.
Cabe, então, ao homem dominar sobre essa criação, desde que seja subordinada a Deus
e ao seu serviço – à subsistência de suas criaturas. Isso é uma prova de fé autêntica, um
sinal infalível para examinar o coração humano.
Desde a igreja Primitiva haviam tensões entre ricos e pobres. por exemplo, na
igreja de Corinto, Paulo trata do problema da Eucaristia. A Carta de Tiago condena
categoricamente as pessoas que desprezam os pobres na igreja; pois, Deus escolheu os
pobres deste mundo para serem ricos na fé e para possuírem o Reino que ele prometeu
aos que o amam. Tiago conclui com uma série de advertências aos ricos de sua época
(Tiago 5.1-6).
Enquanto os homens não são libertos do pecado, por Jesus, fazem da
riqueza um ídolo. Não consagram os bens à glória de Deus, pelo contrário, tornam-se
como independentes do Criador e de sua providência. Ora, toda riqueza e toda espécie
de abundância de bens não são senão acessórios da vida presente, que nos são dados
pela mão de Deus.
Mas quando as riquezas dominam o homem, isso lhe serve para sua própria
ruína. Assim, Deus testou os israelitas no deserto, dando-lhes ora abundância ora
escassez de suprimentos. Deus quis provar o coração do povo em ocasiões e de
maneiras diferentes, e isso revelou sua natureza pecaminosa.
A figura do maná no deserto representava o pão nosso cotidiano de cada dia. As
porções diárias, suficientes apenas para um dia, eram para que todos tivessem o
suficiente para suprir suas próprias necessidades; assim, ninguém tinha carência ou
excedente. Os que possuem riquezas devem sempre lembrar que o excedente não deve
ser usado para sua luxúria, pelo contrário, ele nos recomenda a frugalidade e a
temperança, de acordo com a condição de cada um.
Quando depositamos toda a nossa confiança nas riquezas e não em Deus, que as
deu, na realidade nos tornamos idólatras, pois abandonamos o senhorio de Cristo sobre
a nossa vida. Essa idolatria pelo dinheiro, através da sedução pelas riquezas e confiança
nelas, tornará uma poderosas arma do mal para nos desviar da fé.
A alienação do homem pelo dinheiro, posses ou poder o escraviza, o torna
avarento. E a avareza tem um poder sedutor que embriaga os homens. Esse não foi o
ofício que Deus deu às riquezas. Quando o dinheiro domina o coração humano, ele se
torna vítima da cobiça, da vaidade e da avareza. E isso também acontece – inclusive –
entre os cristãos.
Ninguém pode servir a dois senhores. Ninguém pode servir a Deus e ao mesmo
tempo servir às riquezas. Jesus ensina aos seus discípulos que o coração do homem está
fortemente ligado a cobiça e aos seus próprios tesouros terrenos. Quando a riqueza
domina o coração do homem, logo este abandona o serviço a Deus e se entrega como
um escravo da sua própria riqueza.

II - O papel dos ricos segundo a Bíblia


Visando a organização da sociedade e a harmonia econômica da Criação, Deus,
em sua graça e bondade, distribuiu liberalmente e abundantemente suas riquezas aos
homens. Ele espera a ininterrupta circulação dessas riquezas, de uns para com os
outros, e deseja a repartição espontânea desses bens. O propósito de Deus é que todos
sejam indiscriminadamente beneficiados.
A riqueza tem um fim em si mesma. Ela não deve ser ignorada ou desprezada,
como quer o ascetismo, mas deve ter uma justa distribuição em serviço ao próximo.
Temos responsabilidades diferentes no uso dos bens. Deus não nos deu riquezas para o
nosso bel prazer. Os ricos, despenseiros e provedores dos pobres, a quem Ele confia
maior quantidade de recursos, são incumbidos de servirem aos que receberam menos.
Aos pobres, cabe confiar em Deus e esperar receber sua parte provinda dos ricos.
A Bíblia não nos dá um ponto de referência quantitativa que nos permita
estabelecer quem é rico e quem é pobre, porém, a responsabilidade está em fazer melhor
uso dos bens, distribuindo àqueles que têm menos que nós. Essa regra de distribuição
está ligada a um coração generoso.
Pois, como dizia o reformador João Calvino, “sempre se é rico de alguém”. Esta
é a principal função do rico na sociedade, ajudar a quem precisa. Essa é a sua vocação.
E quanto mais possuírem riquezas, maior e mais importante deverá ser a sua função: de
distribuidores dos bens de Deus. Esse é um grande privilégio para os ricos, ser "ministro
dos pobres".
Cristo, na riqueza de sua bondade, vestiu nossa carne para que, ao se tornar
humano, pudesse transferir nossa pobreza para si mesmo e a sua riqueza para nós, nos
fazendo filhos e herdeiros de Deus. Ele recomenda o exercício da caridade, porém, não
exclui os serviços que pertencem à adoração a Deus, pois a prática da caridade também
é uma das provas de uma vida santa que glorifica a Deus.
No encontro de Jesus com o Jovem Rico (em Lucas 16.18-23), em que o Mestre
afirma que é mais fácil passar um camelo pelo fundo de uma agulha do que um rico
entrar no céu; ele nos ensina que a confiança nas riquezas é um grande obstáculo e mui
perigoso. A dificuldade de entrar no céu não está no fato de ser rico. O texto bíblico
explica que a entrada no reino do céu é tão difícil para os ricos porque é um mal comum
para quase todos.
Diante da reprovação do jovem, que não soube como usar a sua riqueza, os
discípulos ficaram, aterrorizados quando escutaram que as riquezas obstruem a entrada
no reino dos céus. Mas Jesus os conforta dizendo que para os homens isso é impossível,
mas para Deus tudo é possível. Todos somos totalmente dependentes da sua graça. Para
os homens é impossível guardar toda a Lei e obterem salvação por seus próprios
méritos, exceto pela graça de Deus. Portanto, tanto para o rico como para o pobre – por
méritos humanos ou obras de caridade – é impossível entrar no reino dos céus.
III - O papel dos pobres segundo a Bíblia
Se rico é aquele a quem Deus confiou maior parte de bens, então o pobre é
aquele a quem Deus confiou a menor parte. Esta interdependência social exprime
concretamente a solidariedade espiritual profunda que une o gênero humano. Essa é a
mútua comunicação da riqueza da terra. O pecado, porém, veio perturbar essa ordem.
Por consequência disso, alguns monopolizam e outros imobilizam os bens que deveriam
ser destinados ao próximo, por avareza ou falta de confiança na providência divina.
Os pobres são agora, também, vítimas do pecado e da sociedade, vítimas sociais
da corrupção do coração humano que trás transtornos econômicos. Por isso, assim como
os ricos têm sua missão de redistribuir os bens materiais que Deus lhes confiou, os
pobres também têm sua missão: confiar na provisão e se contentar com o pouco que
receberam. O pobre também é ministro de Deus, pois põe os ricos à prova na fé e na
obediência.
Os pobres são, mais constantemente, assistidos por Deus. Cristo viveu na
pobreza, voluntariamente, para confortar os aflitos e miseráveis. Sendo assim, os pobres
têm vantagem espiritual sobre os ricos, pois é muito comum apegar-se às riquezas.
Entretanto, esta tentação assedia também ao pobre, inclinando a colocar sua esperança
nas riquezas que não tem, mas cobiça. Assim, o dinheiro revela o seu poder espiritual de
sedução.
Cabe então ao pobre gloriar-se em sua pobreza, e ao rico desprezar o prestígio e
a exaltação que a riqueza lhe proporciona no mundo, considerando-as inferiores às
bênçãos espirituais. Os bens materiais são um veículo da graça de Deus, tanto para os
que recebem como para os que os comunicam a outros.
Aquele que dá ao pobre recebe de Deus – com acréscimos. Esse sistema de
distribuição econômica não acontece por acaso, mas é uma ordem que o soberano
Senhor do universo estabeleceu para a conservação da sociedade. Não obedecer a ordem
do Criador é um pecado de rebeldia contra a sua soberania e justiça.
Buscar a glória de Deus implica uma autonegação. A Bíblia nos exorta a
abstermos de todas as considerações pessoais egoístas. Portanto, não devemos desejar
somente ambições, poder, riquezas e favor dos homens, mas nosso pensamento deve
estar livre de qualquer falsa ambição ou glória. Esse princípio da autonegação nos
libertará de toda avareza, orgulho e luxúria. Autonegação significa sobriedade, justiça e
devoção. Sobriedade significa castidade, temperança, uso frugal das bênçãos terrenas e
paciência na pobreza.
No Sermão do Monte, quando Jesus disse (em Mateus 5.3) que “felizes são os
pobres de espírito”, Ele nos ensina que felizes são aqueles que humilhados, mesmo
dominados por aflições, adversidades, rendem-se completamente à proteção de Deus.
Bem-aventurados sãos aqueles que debaixo da disciplina da cruz, têm aprendido a
serem humildes de coração, não confiantes em si mesmo. Os “pobres de espírito” são
aqueles que não confiam nos próprios méritos, mas depositam toda sua confiança em
Deus (não são os pobres de recursos materiais). Reconhecendo que são como mendigos
diante de Deus e que não possuem absolutamente nada de valor em si mesmos para
oferecer a Deus.
Na Parábola do Rico e o Mendigo, em que o rico vai para o inferno e Lázaro, o
mendigo, vai para o céu, Calvino (comentando Lucas 16.19-31) diz que o texto aponta
para aqueles que "se descuidam de cuidar dos pobres e ao invés disto estão atentos para
saciar sua gula, embriagues ou outros prazeres”. Jesus não está condenando a riqueza do
homem em si. Mas o que está em questão aqui é que em meio a sua riqueza, o Rico foi
indiferente para com a pobreza e aflição do seu vizinho Lázaro.
Como consolo para aqueles que são, aqui na terra, como peregrinos, sofrendo
injustiças sociais, mas permanecem fiéis a Deus; terão recompensa no futuro. Lázaro foi
agraciado soberanamente por Deus e levado para o seio de Abraão pelos méritos de
Cristo; enquanto o pobre rico, que não temia a Deus, abastado aqui na terra, foi para o
inferno sem a sua riqueza.

Conclusão
O comportamento do homem em relação aos seus bens materiais, ou a falta
deles, é que vai expressar a sua verdadeira fé. Tanto a pobreza quanto a riqueza, Deus as
dá como um exame para aprovação ou reprovação da fé, seu caráter e sua obediência. A
reação humana em relação ao dinheiro é que será o determinante na expressão de sua
verdadeira fé. Os bens materiais é que vão julgar a sua vida espiritual.

Aplicação
Temos sido rico para com Deus e para com o nosso próximo ou somente para
nós mesmos? Como mordomos de Deus temos administrado bem os recursos que ele
nos confiou? Qual tem sido o nosso maior tesouro? Qual tem sido a nossa prioridade?
Em que temos gasto nossa energia, tempo e dinheiro? Nossa vida tem glorificado a
Deus?

Você também pode gostar