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Seminário Maior Arquidiocesano de Brasília

Nossa Senhora de Fátima


Curso: Bacharelado em Teologia
Docente: Prof. Ms. Pe. Heverton Rodrigues de Oliveira
Discente: Wiler Gomes Faria Somavila
Data: 31/05/2022

Biografia
VEYNE, Paul. Pão e circo: sociologia histórica de um pluralismo político. São Paulo: Edit.
Unesp, 2015, 00 39-65.

Temas
“No século IV, os aristocratas de Roma e os notáveis municipais continuavam a ser
evérgetas; “eles dilapidam seu patrimônio em um jogo de quem dá mais para ornamentar sua
cidade” (PAUL VEYNE, 2015)
Personagens
Ulisses; Agamemon; Clitemnestra; Jesus; Noé; mulher cananeia; César; Tertuliano;
discípulos; Rousseau; os mongóis; Juliano; Santo Ambrósio; Santo Agostinho; São Cipriano;
Demóstenes; Cícero; Einstein; Platão;
Lugares geográficos
Atenas; Canaã; Israel; Jerusálem; Ásia central; Ocidente; África Romana;
Resumo
O texto mostra um caminho para o desenvolvimento da virtude da caridade. Desde sua
origem no meio pagão, mais com o intuito filantrópico doque caritativo, onde o objetivo seria
ajudar o outro como um meio social de combate à desigualdade que se conhece por
evergetismo. No âmbito religioso, com o exponencial crescimento do cristianismo no Império
Romano, essa atitude de filantropia para a ter um ideal de caridade, desapego pela obra divina
e não apenas pelo combate à desigualdade. Moralmente o costume de dar esmola, passava o ar
de que se faz para cumprir uma moral social, algo que é rotineiro da comunidade, de colocar
em comum propriedades e valores. Quando a Igreja adota essa prática, a sua visão não é de
apenas fazer colocar em comum os bens, mas de realmente propagar um desapego e não um
desfazer-se do bem.
Objetivos principais
A caridade deve transformar a ordem política? Ela não seria um refúgio
espiritual? Jesus não se questionava tanto: somente os grandes desse mundo
podem se questionar assim, pois possuem o controle de todas as coisas. Jesus
não se submete deliberadamente à ordem estabelecida para que isso sira de
lição aos homens; ele dá a César o que é de César, afinal, como um homem
do povo se colocaria contra César, a não ser pela resistência organizada? A
ordem estabelecida é sólida como a natureza; os humildes podem somente se
submeter a ela. O que lhes resta fazer? Ajudarem-se uns aos outros, tratarem-
se como irmãos de miséria, suplicarem àqueles entre eles que são modestos
agentes dos poderosos para não abusarem de sua parcela de poder.” (PAUL
VEYNE, 2015.)

“Leis agrárias, evergesias, distribuição de pão barato eram medidas cívicas; era o povo
romano que tinha direito ao trigo gratuito, era para os cidadãos que as colônias eram
fundadas.” (PAUL VEYNE, 2015)
“Leis agrárias, colônias: como Claude Vatin me mostrou, essas instituições fundam-se
na ideia de que um cidadão desprovido de patrimônio não poderia ser um verdadeiro cidadão;
os Gracos vão distribuir terras aos cidadãos pobres de Roma para fundar a sociedade, e não
para socorrer a miséria.” (PAUL VEYNE, 2015)

“Tudo muda com o cristianismo, quando a esmola passa a ser associada à


nova religiosidade ética; a caridade, tendo se tornado uma conduta altamente
significativa, é digna de ser o dever de Estado da alta classe no lugar da
munificência. Por sua importância material, seu alcance espiritual e as
instituições que engendra, a caridade se torna a nova virtude histórica.”
(PAUL VEYNE, 2015)
“Deus, escreve esse autor alhures 1, permitiu o uso de todos os bens, mas
prescreveu um limite, que é a necessidade; o pecado é desejar infinitamente a
riqueza pela riqueza, e não pela necessidade que se tem dela; a esmola e o
espírito pelo qual ela é dada são as melhores garantias de uma atitude são
para com os bens desse mundo. Chegamos, desde o século IV, a uma dupla
moral: os cristãos perfeitos fogem do mundo e da carne, outros cristãos, mais
numerosos, permanecem no mundo; esses últimos pagarão por sua alma com
a esmola e legados à Igreja. (PAUL VEYNE, 2015)

Se fizermos um balanço geral, a caridade possui duas realizações históricas


em seu ativo: o fim da ótica cívica e do universalismo, e as obras de
misericórdia. O que resolve um pequeno problema sociológico divertido.
Constatamos que, em algumas áreas (religiosidade, sensibilidade às
atrocidades, ciúme amoroso talvez...), as lacunas são grandes de um
indivíduo a outro, qualquer que seja a sociedade em questão, sem que uma
sensível maioria se destaque em um ou outro sentido: nessas áreas, não
encontramos um acordo quase geral em uma mediocridade generalizada, que
apenas deixaria duas finas bordas virtuosas nas duas extremidades da curva;
mas encontramos, em vez disso, dois partidos que se posicionam face a face
(ou que se posicionariam assim, se o conformismo dominante não forçasse
um dos dois ao silêncio); um desses partidos é, sem dúvida, majoritário, mas
o outro não é muito inferior em número. Isso apresenta algumas
consequências: às vezes é um desses partidos que domina, outras vezes é o
outro; o partido vencedor impõe a toda a sociedade sua sensibilidade
particular ou sua própria dureza. De acordo com o partido vencedor, uma
coletividade será muito diferente da outra; existem povos cruéis, povos
devotos, povos ciumentos. (PAUL VEYNE, 2015)

Ideias principais
Um cidadão livre não se rebaixará, deixará isso aos pobres que precisam convencer
seus senhores a ajuda-los.
1
Clemente de Alexandria, Pédagogue, 2, 12, 5 (edição Harl-Marrou-Matray-Mondésert, v.2, p.299)
Amar seu próximo como a si mesmo, não como obrigação, mas com humildade pela
necessidade do outro.
Nascimento do cristianismo, que passa de uma “seita”, onde se escolhia práticas de
ajuda, bem como a transmissão da doutrina do amor.
Mudança da seita para ser Igreja, continuando com maior força a sua doutrina.
Diferença entre moral e prática, a moral que não gera atos não pode ser desacreditada,
somente se for contestada.

Conceitos
Cariade; evergetismo; religião; cristianismo; estoicismo; judaísmo; Império; moral
evangélica; universalismo; ética; franco-maçonaria; helenzação; aristocracia; seita; budismo;
lamaísmo; autoritário; legalista; paternalista; rigorismo; laxismo; farisaísmo; voltairiano;
paganismo; versalismo; estoicos; batismo; racionalismo; cívico; academismo; dualismo;
militarismo prosélito;
Principais autores mencionados
Max Weber; Eclesiástico; Agamemnon Ésquilo; Epitere; Musônio; E. Suys; Harnack;
São João; Tertuliano; A. Dupont-Sommer; Símano; Louis Robert; W. Weismann. W. M.
Calder; L. Robert; Gabriel Le Bras; J. Gaudement; Bolkestein; Claude Vatin;H. Kloft; D. Van
Berchem; Sêneca; H. Pétré; J. Kabiersch; São Justino; Clemente de Alexandria; Bruck; B.
Groethuysen; Etienne Gilson; E. Troeltsch; M. Foulcalt; Wolfflin; E. Panofsky; Marco
Aurélio; Santo Agostinho; Welfare State; São Tomás; Juliano; Gregory King;

Síntese
A virtude da caridade, qual conhecemos hoje em dia, de dar esmola ao necessitado
transmite ao próximo, e a quem faz tal obra, a visão de quem somos, filhos de um mesmo e
único Deus, de que somos todos irmãos e devemos alçar a caridade como virtude universal.
A caridade é também dar a esmola, mas não só. Ainda durante o Império Romano em
que se herdou o costume de dar esmola e transmutou isso em caridade, a visão apenas em
dar algo ao outro, era todo o significado de caridade, ainda que esse não fosse o objetivo
principal de propagar tal virtude. Digamos que ainda que comece pela esmola, suprir a
necessidade, a caridade tem o intuito de buscar suprir a necessidade do homem no seu
todo, não somente pela necessidade material, mas sobretudo a necessidade espiritual. A
exortação, correção fraterna, bons conselhos, são sinais de caridade com o outro, com o
irmão. A Igreja buscou dar significado a bons costumes, como o de dar esmola e levar isso
para a boa vivência de seus fiéis como irmãos, que somos, que necessitamos do auxilio do
outro, seja materialmente ou ainda mais importante espiritualmente.

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