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ABORDAGEM SISTÉMICA
EM EDUCAÇÃO
Uma Perspectiva em Filosofia da Educação
José Farinha
Índice
Introdução .................................................................................................... 4
Temática geral ............................................................................................. 4
A abordagem filosófica do fenómeno educativo.................................... 5
O conceito de educação.............................................................................. 7
Educação como produto ............................................................................ 7
Educação como processo ........................................................................... 8
A abordagem sistémica ............................................................................ 11
A Teoria Geral dos Sistemas.................................................................... 12
Critérios para uma abordagem sistémica da educação....................... 13
Implicações teórico-práticas .................................................................... 16
A abordagem sistémica como instrumento de análise............... 17
A abordagem sistémica como geradora de modelos.................. 18
Bibliografia................................................................................................. 19
Introdução
TEMÁTICA GERAL
As citações apresentadas na página anterior pretendem de certa forma dar
o tom que presidirá ao presente trabalho. Existe, com efeito, uma preocu-
pação em analisar o papel desempenhado pela educação nos processos
pelos quais cada indivíduo elabora as questões condicionantes das respos-
tas que (in)formam a visão que cada um de nós tem do mundo e da reali-
dade à sua volta. Tentaremos mostrar que a educação é fundamental-
mente um processo relacional e, por isso, sistémico. Deternos-emos, ainda,
com algum pormenor num conjunto de condições que, quanto a nós,
deverão caracterizar qualquer processo educativo que se queira rico e
inovador, não limitado a um simples processo de subjugação inposto por
uma cultura a todos aqueles que nascem e crescem no seu seio.
Para isso situar-nos-emos no contexto da Filosofia da Educação como
campo específico e privilegiado de reflexão e questionamento acerca da
natureza do fenómeno educativo. Adoptaremos uma perspectiva eminen-
temente teórica, mas, como esperamos deixar claro ao longo das seguintes
linhas, estamos fundamentalmente preocupados em desenvolver e
discutir idéias e conceitos que possam ter uma notória incidência prática,
isto é, com fortes implicações na actuação dos agentes educativos.
Pretendemos, sobretudo, discutir os processos subjacentes à alteração de
perspectiva, verificada nos últimos decénios, relativamente às formas de
observação, análise e intervenção no campo das ciências humanas e que
não podiam deixar de ter importantes consequências no domínio
específico da educação. Referimo-nos à linha de pensamento que permitiu
saltar de um paradigma reducionista, monocausal e monofactorial, assente
O conceito de educação
pensadores que acham que não faz sentido uma demarcação rígida a este nível.
Se bem que estejamos de acordo com as posições mais recentes nesta matéria, a
distinção entre res cogito e res extensa teve, de qualquer forma, uma importância
fundamental na evolução das ciências e, dado que o que nos interessa aqui é
analisar um processo histórico, partiremos deste princípio.
5No exemplo das bolas de bilhar trata-se efectivamente de transmissão de
energia cinética de uma bola para outra, contudo, no caso do cão, se bem que
haja efectivamente um efeito newtoniano, pois se a pancada for suficientemente
forte o cão pode ir parar a metros de distância, este reage graças à energia que
lhe é fornecida pelo seu metabolismo. Neste caso a energia que alimenta a
reacção está já disponível, o estímulo (pancada) limitou-se a fornecer uma
informação desencadeadora da reacção.
6 O contexto define as regras implícitas no funcionamento de um determinado
sistema.
7 Uma unidade de informação pode ser definida como uma diferença que produz
8 Carrasco, 1987.
A abordagem sistémica
Este trabalho parte da idéia fundamental de que o processo educativo
pode ser entendido como um sistema organizado de elementos que
interagem entre si de forma significativa de forma a produzirem aquilo
que designamos por educação.
Parece-nos, assim, que todas as tentativas de compreensão do fenó-
meno educativo poderão ser mais adequadamente feitas utilizando abor-
dagens que envolvam todos ou os elementos mais significativos de um
determinado sistema educativo9.
Com efeito, esta necessidade de uma nova abordagem dos problemas,
sentida primeiramente no campo da física e biologia e depois no campo
das ciências humanas, surgiu da constatação da insuficiência, tanto teórica
como metodológica, dos conceitos e métodos tradicionais. Como refere
Pierre Delattre:
uma utilização cada vez mais difícil à medida que surge o interesse
por sistemas mais complexos10.
10Delattre,1981, p.9.
11Propomos a utilização do conceito de sistema educacional no sentido de fazer
uma distinção relativamente à noção de sistema educativo, que de uma forma
geral define uma determinada organização dos equipamentos, meios e normas
que definem o ensino num determinado contexto formal. Definimos sistema
educacional como o conjunto de elementos materiais e humanos que interagem
num contexto educativo concreto. Este conjunto pode ir desde a díade
professor/aluno, até à classe, escola, etc..
12 Bertalanffy, 1997.
13 Kuhn, 1980.
14Alguém poderá objectar que esta regra não se verifica no caso da percepção
visual, dado que podemos fixar o olhar sobre um objceto e não deixamos de o
ver pelo facto de ele permanecer imóvel. Contudo, os estudos de fisiologia da
visão mostram que a retina é muito mais sensível à mudança de estímulo que à
presença de um padrão fixo e imóvel. Riggs e colaboradores (Riggs, L. A.;
Ratliff, F.; Cornsweet, T. N. - The disappearance of steady fixated visual test
objects, J. Opt. Soc. Am., 1953, 43, 495:501) demonstraram que se uma imagem
se estabeliza na retina desaparece. Se por vezes conseguimos fixar durante
algum tempo objectos perfeitamente imóveis é porque, no sentido de
IMPLICAÇÕES TEÓRICO-PRÁTICAS
Num trabalho recente elaborado pela UNESCO 17 sugere-se que o papel
da abordagem sistémica na educação pode ser conceptualizado a partir de
dois níveis distintos: como instrumento de análise, diagnóstico e posterior
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