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Disciplina – HH307: História Medieval II

Docente: Elton Oliveira Souza de Medeiros


Discentes: João Yussef Skorupski de Santana/ Gustavo Vaz Batista da Silva/
Samuel Roberto Wessolleski

FONTES 04 E 05
A transição da capital de Roma para Bizâncio ocorreu antes do esfacelamento da
autoridade imperial sobre os territórios ocidentais, especificamente no ano de 330 d.C.,
tendo como principal agente dessa mudança o imperador Constantino I (272-337). A
cidade de Bizâncio, localizada em um ponto estrategicamente beneficiado, já era de
importância vital para os territórios orientais, o que se salientou ainda mais com a
transição, tornando-a o coração do império e alvo de diversas reformas urbanísticas e
obras monumentais a fim de transformá-la em uma capital tão grandiosa quanto havia
sido Roma.

Essa mudança, porém, conforme aponta o historiador Michael Angold, em sua


obra intitulada “Bizâncio – A Ponte da Antiguidade para a Idade Média”, não foi uma
mera transcrição do que havia na antiga capital, pois a cidade agora nomeada
“Constantinopla”, uma homenagem de Constantino a si mesmo, adquiria uma nova
feição diferente daquela helenística, com traços característicos da região junto de novas
interpretações e simbologias trazidas pela ainda jovem religião do cristianismo, que
cada vez mais ganhava relevância de modo que Constantinopla seria reconhecida, em
certo momento, como a cidade dos cristãos, tal ideia já mentalizada pelo historiador
grego Sócrates de Constantinopla (380-) em sua História Eclesiástica, no início do
século V. A basílica de Hagia Sophia construída no século VI a mando do imperador
Justiniano (482-565), seria a própria materialidade do comprometimento da autoridade
imperial com a igreja e a fé cristã.

Pode-se dizer que Constantinopla neste contexto da transição até os tempos de


Justiniano foi o período de maiores transformações na cidade. Criava-se a partir daí uma
imagem de prosperidade e riqueza que perduraria por muitos séculos, o que se confirma
pelas fontes dos períodos não apenas de autorias cristãs, como é o caso do geógrafo
muçulmano Al Idrisi (1100-1166), que em sua visita faz uma descrição de alguns
aspectos da cidade como a perfeição das esculturas e a grandiosidade dos palácios e
outros edifícios.
O grande fluxo de pessoas das mais diversas regiões fazia de Constantinopla,
mesmo no medievo, uma cidade cosmopolita, o que era ainda mais acentuado pelas
abundantes relações estabelecidas entre o império e outros reinos. Isso traria problemas,
e o alto fluxo somado a demografia elevada se tornou ambiente propício para a
propagação de doenças, como aquela que inclusive causou a morte do próprio
imperador Justiniano e uma notável parcela da população citadina, ficando conhecida
como a peste de justiniano, conforme mostra o trecho abaixo do livro de Peter Sarris,
“Byzantium – a very short introduction”:

Constantinopla provavelmente alcançou o pico de sua população durante o


início do século 6 sob o império de Justiniano, quanto tinha concebivelmente
algo perto de 500.000 habitantes. [...] Em 542, no entanto, o destino
interveio, e a cidade (junto do resto do império) foi atingido pelo primeiro
surto conhecido de peste bubônica. O contemporâneo historiador Procópio
estava presente em Constantinopla quando a praga atingiu pela primeira vez,
e ele descreve como em dado momento ela vitimou 10.000 pessoas em um
único dia. [...]. (Sarris, 2015, p. 57, tradução nossa).

É plausível afirmar que esta verdadeira pandemia, durante os dois séculos que
durou, afetou em grande escala o império em termos econômicos, militares e
demográficos, sendo assim um fator crucial para entendermos o declínio da autoridade
imperial sob os territórios perdidos do ocidente, mas que ainda mantinham um certo
grau de comprometimento. Le Goff considerará que houve um cada vez maior
“estranhamento” entre essa dicotomia de um império fatigado e de reinos romano-
bárbaros assumindo o protagonismo, tendo como ápice desse processo a coroação de
Carlos Magno como imperador dos romanos em 800, uma grande afronta ao poder do
imperador na medida em que outro era coroado.

Seja como for, através das fontes analisadas podemos denotar que mesmo em
um cenário de crises e declínio, o império romano do oriente atravessou boa parte do
medievo sendo alvo de admiração daqueles que tinham contatos com seu núcleo,
Constantinopla, algo próximo à assimilação desejada dos bárbaros ao império do
ocidente. Essa relação impactou profundamente a cultura de outros povos a partir da
transmissão e preservação da cultura clássica literária e artística, na difusão do
cristianismo ortodoxo e também âmbito do ensino e educação, conforme aponta o
historiador britânico Colin Wells, em seu livro “De Bizâncio Para o Mundo”.
BIBLIOGRAFIA
ANGOLD, Michael. Bizâncio: a ponte da Antiguidade para a Idade Média. Rio de
Janeiro: Imago, 2002;

SARRIS, Peter. Byzantium: a very short introduction. Oxford: Oxford University


Press, 2015, p. 1 –39;

LEGOFF, Jacques & SCHMITT, Jean-Claude. Dicionário Temático do Ocidente


Medieval, vol. I, Bauru: EDUSC, 2002, p. 119–138;

WELLS, Colin. De Bizâncio para o Mundo. Rio de Janeiro: Bertrand Brasil, 2012, p.
60–69;

Colin Wells (historian). Wikipedia. 2022. Disponível em:


https://en.wikipedia.org/wiki/Colin_Wells_(historian). Acesso em: 15 de outubro de
2023;

Géographie D’Edrisi, tradução do árabe para o francês por P. Amédée Jaubert, Paris,
1840, t. II, p. 298-299;

FONTES 06 E 07
Os dois documentos a serem analisados neste trabalho tratam-se de uma epístola
de Alcuíno de Iorque (735-804) ao até então rei franco, Carlos Magno (742-814), e o
falsificado documento do século VIII, “A doação de Constantino”, sem autoria
conhecida.

O primeiro nos deixa evidente uma clara proximidade e harmonia na relação das
figuras dialogantes, o que se confirma pelas fontes a saber que a Carlos Magno
incumbira ao bispo um importante papel na revitalização da educação e cultura
carolíngia, sendo este fato um ponto fundamental para o renascimento carolíngio.

De qualquer modo, o conteúdo da carta em si mostra Alcuíno discorrendo sobre


os poderes mais altos deste universo medieval: o primeiro seria representado pelo
próprio pontífice, sucessor de Pedro; o segundo faz referência ao imperador bizantino; o
terceiro é uma alusão a própria figura régia de Carlos Magno.

Nesse sentido, vale destacar que nos poderes concernentes ao papa e ao


imperador, Alcuíno menciona as recentes instabilidades ocorridas com a eleição do
Papa Leão III e a deposição do imperador Constantino VI pela própria mãe,
respectivamente, enquanto a figura régia de Carlos Magno, em meio a todo o alvoroço
dos outros poderes, é exaltada por seu desígnio divino de salvar a igreja e conduzir a
cristandade:

A terceira é a dignidade real da qual o desígnio de Nosso Senhor Jesus Cristo


vos encarregou, como condutor do povo cristão: excede as outras dignidades
apontadas em poder e renome pela sabedoria e sublime autoridade real. A
salvação das igrejas de Cristo agora em perigo repousa apenas em vós: sois o
vingador das más ações, o guia daqueles que andam perdidos, o consolador
dos que estão tristes, a exaltação dos bons [...]. (Alcuíno. Epístola, 174. In:
M. G. H. Epistolarum. IV,1: Karolini Aevi, 1881. p.288).

O segundo documento, por outro lado, trata-se de uma falsificação de um


documento supostamente escrito por Constantino I, que em débito devido a sua cura da
lepra teria cedido ao papa Silvestre I uma série de privilégios e territórios que deveriam
ser mantidos e respeitados por toda a posteridade, segundo a vontade do imperador e
pela Graça Divina.

Sendo assim, a fonte expressa basicamente uma necessidade da autoridade papal


de reforçar sua posição em meio a um cenário político que talvez não fosse inteiramente
favorável à igreja, indicando que apesar da aliança do poder laico e o eclesiástico
podiam existir muitas disputas e tensões.

Portanto, podemos concluir que essa conjuntura de relações entre os reis e o


clero no século VIII era algo muito complexo, envolvendo simultaneamente uma forte
aproximação e formação de alianças entre essas ordens, mas também uma tensão
profunda marcada pela sublimidade da autoridade de um sob o outro. Não se pode,
porém, incluir todo a igreja como uma entidade homogênea, uma vez que o próprio
Alcuíno era um membro clerical e em suas epístolas deixa evidente o apoio à autoridade
real de Carlos Magno, atribuindo até mesmo o papel do pontífice ao rei de guiar os
cristãos.

BIBLIOGRAFIA

LE GOFF, Jacques; SCHMITT, Jean. Dicionário Temático do Ocidente


medieval. EDUSC, v. 1, 2002.

O IMPÉRIO. In: FAVIER, Jean. Carlos Magno. Tradução Luciano Vieira


Machado. Estação Liberdade, 2004, p. 467-521. Tradução de: Charlemagne.
FONTES 08 E 09
O conjunto de fontes a ser analisadas serão compostas de 3 fontes, sendo elas:
“Constantinopla no Século VI”, “O Fausto Imperial em 949” e “Kiev e Bizâncio no
Princípio do Século X”. Com isso dito, será realizado uma análise a respeito das 3
fontes citadas, onde serão feitas relações entre elas e possíveis conclusões que possam
ser pensadas a respeito.

Começando com a primeira fonte citada, percebemos que a fonte se trata de uma
fonte material escrita por Procópio de Cesareia, um “historiador” que fazia parte da
corte de Constantinopla durante o século VI. O principal assunto contido seria a respeito
da suposta grandiosidade na figura de Constantinopla e Justiniano, (imperador deste
período) ao mesmo tempo de passar uma ideia de Constantinopla ser um destino em
comum de diversas pessoas deste período, como pode ser elucidado no trecho a seguir:

Visto que o imperador [Justiniano] mantém aqui [em Constantinopla] a sua


residência, resulta na grandeza do Império que uma multidão de homens das
mais variadas condições chegam à cidade, vindos de todas as partes do
mundo. (Procópio de Cesarcia, De aedificils, I, x1-23-27, trad. inglesa de H.
B. Dewing, Londres, 1940, vol. vit, pp. 95 a 97.).

Um ponto que podemos pensar a respeito dessa fonte seria a respeito de sua
utilidade, que tende a ser uma espécie de propaganda a respeito de Constantinopla e ao
Imperador Justiniano, moldando uma ideia de uma grandiosa cidade destino e de um
Imperador benevolente, aos leitores deste período. O que fortalece essa ideia seria a
respeito do escritor, que como já dito anteriormente, fazia parte da corte de Justiniano, o
que claramente indica um escrito tendencioso.

Prosseguindo para segunda fonte, podemos notar que se trata de uma fonte
escrita pelo lombardo Liutprandi, a serviço do rei Berengário I da Itália, durante o
século X. A fonte foca na descrição de Constantinopla aos olhos de Liutprandi, onde o
mesmo descreve sua admiração estética pela cidade, exaltando-a ao longo de seu
escrito.

Tendo em vista que Liutprandi estava a serviço do rei da Itália deste período,
uma possível função para esta fonte pode ser a coleta de informações para o rei
Berengário I da Itália a respeito de Constantinopla, algo que pode ser relacionado com a
primeira fonte, dado a propaganda que era feita a respeito da mesma. Porém, também é
interessante notar que ambas as fontes se passam em períodos históricos muito distantes
(século VI e X, respectivamente), podendo indicar que a ideia de uma Constantinopla
grandiosa se manteve ao longo dos séculos, ao ponto de o Berengário I financiar uma
viagem para uma coleta de informações, e com isso, averiguar a veracidade desta
propaganda que era feita a respeito de Constantinopla.

Partindo do pressuposto de que realmente essa seria uma coleta de informações


por parte de Liutprandi, podemos pensar que Constantinopla possuía uma arquitetura, e
a arte como um todo, muito impressionantes para os padrões da época.

Agora, a respeito da última fonte a ser analisada, trata-se de um relato em uma


crônica russa presente na Nachalnaia Letopis (Crônica Primaria). A fonte descreve um
conflito entre os Varângios de Kiev e Constantinopla no século X, que culminaria em
um tratado comercial entre as partes.

A primeira coisa a se notar a respeito dessa fonte é a sua origem eslava, o que
pode explicar um possível exagero por parte do escritor da fonte a respeito desse
confronto de com Constantinopla, tendo em vista que em fontes bizantinas a respeito do
conflito não sejam tão impressionantes quanto está. O segundo ponto a se atentar seria
em toda a narrativa criada em torno de Oleg, que se torna uma espécie de figura mítica
nesta fonte, algo que pode demonstrar uma irrealidade dentro de um relato sobre um
conflito real.

Algo que também pode ser notado seria a respeito do período que ocorreu o
conflito (907) e quando ele foi relatado em uma fonte (1037-1118), o que pode
demonstrar uma imprecisão a respeito dos fatos.

Um provável motivo para a confecção desta fonte, e pelo fato de ela ter sido
compilado em uma crônica, pode ser uma espécie de difusão de um acontecimento
considerado importante para a população eslava, que seria essa vitória militar contra
Constantinopla, o que demonstra mais uma vez a importância desta cidade durante a
antiguidade tardia e durante todo o medievo.

Com isso dito, podemos afirmar através das possíveis conclusões a respeito das
fontes analisadas e de estudos de especialistas sobre bizâncio, como Peter Sarris e
Timothy E. Gregory, podemos perceber que desde sua criação, Constantinopla compõe
um espaço multicultural muito amplo, onde era destino de população vindas tanto do
mediterrâneo quanto de outras partes do oriente. Através da ultima fonte também
podemos perceber a preferência diplomática que Constantinopla possuía, onde mesmo
em conflito com determinado povo ou região ainda possuía habilidade diplomática
suficiente para transformar um isto em um tratado comercial. Portanto, podemos
concluir a grande importância que bizâncio possuiu ao longo dos séculos, tanto para um
contexto ocidental quanto para o oriental.

BIBLIOGRAFIA
SARRIS, Peter. Byzantium: A Very Short Introduction. Oxford University
Press, 2015. 192 p.

GREGORY, Timothy. A History of Byzantium. Blackwell Publishing. 397 p.

FONTES 11 E 12
O conjunto de fontes a ser analisadas serão compostas de 2 fontes, sendo elas:
“IBN HAYYAN SOBRE O ATAQUE VIKING A SEVILHA EM 844” e “IBN
JUBAYR SOBRE A SICÍLIA NO SÉCULO XII”. Com isso dito, será realizado uma
análise a respeito das 2 fontes citadas, onde serão feitas relações entre elas e possíveis
conclusões que possam ser pensadas a respeito.

Começando pela primeira fonte, podemos perceber que se trata de uma fonte
material escrita Ibn Hayyan (987-1075), um “historiador” muçulmano que viveu nas
regiões de al-Andalus. O assunto abordado na fonte se trata de uma descrição a respeito
de uma invasão viking na cidade de Sevilha, durante o século IX.

Primeiramente podemos perceber que durante o período que a fonte faz


referência, Sevilha, quanto outras áreas da península ibérica citadas na fonte estão sobre
domínio árabe, e se percebemos, ao longo da fonte é feito diversas referências
religiosas, como a citação da figura de Deus (eu subentendo que seja o Deus
muçulmano) ou o que aparentemente seria a gênese da “Mesquita dos Mártires”,
demonstrando não apenas uma dominação árabe, mas também muçulmana sobre a
península ibérica.

Segundamente, através do que a fonte nos fornece a respeito dessa invasão


viking, tudo indica que seria a realização de um saque realizado por eles, prática muito
comum dentro do mundo viking. Algo que possa ter atraído este saque para a região da
Sevilha provavelmente se deve ao fato de Sevilha estar em governo muçulmano
prospero, talvez com um acumulo de riquezas ou até mesmo emissão de uma moeda
muçulmana, algo que tivesse atraído uma investida viking para este mundo muçulmano
peninsular.

Agora pensando em aspectos mais explícitos na fonte, iremos para a descrição


deste embate que resulta na vitória dos muçulmanos, o que pode indicar um poderio
militar mais potente em relação com o viking, mas mais que isso, uma superioridade
estratégica, como podemos perceber mais ao fim da fonte. Esta ideia acaba se alinhando
com o raciocínio de uma península ibérica muçulmana que está em um período
próspero, já que no medievo grande parte da prosperidade de uma região se devia a uma
superioridade militar perante outras regiões. Talvez a própria confecção desta fonte
possa conter algum intuito de demonstrar esta força militar por parte dos muçulmanos.

Passando para a segunda fonte a ser analisada, a primeira coisa que vemos é que
foi escrita por Ibn Jubayr (1145-1217), um viajante, geólogo e poeta de al-Andalus. O
principal assunto abordado é uma descrição sobre o atual estado da Sicília no século
XII, que neste período já não está mais sobre o comando muçulmano.

Através da fonte podemos perceber todo o apreço que o escritor explicita a


respeito da Sicília e o desprezo pelo rei Guilherme II, o atual governante da Sicília da
época. Também percebemos que os mulçumanos foram expulsos da Sicília como fica
subentendido na fonte, porém, apenas os muçulmanos que estavam no poder, e não a
população muçulmana em geral que compunha aquela região, o que demonstra uma
tolerância que os francos tinham a respeito dos muçulmanos.

Além desta tolerância a respeito do povo muçulmano, propriamente dito,


também houve uma preservação das estruturas e da cultura muçulmana, o que mostra a
força do povo muçulmano nesta região mesmo sob nova tutela de poder, algo que se
alinha com conclusões tiradas da fonte anterior. Estas evidências podem ser notadas no
seguinte trecho:

Os muçulmanos desta cidade preservam as evidências remanescentes da fé.


Eles mantêm em reparo a maior parte de suas mesquitas e vêm orar a pedido
do muezim. [...] As mesquitas comuns são inúmeras e a maioria delas são
usadas como escolas para professores do Alcorão. (Ibn Jubayr, Riḥlat Ibn
Jubayr in: BROADHURST, R. J. C., The Travels of Ibn Jubayr. London:
Jonathan Cape, 1952.)

Com isto em mente, podemos imaginar que a Sicília ao longo dos séculos teria
sido um ponto de trocas culturais muito fortes, tanto entre os povos orientais quanto
ocidentais, que mesmo com diferentes tipos de povos no poder a multiculturalidade que
a região possuía se mantinha ao longo do tempo.

Um provável motivo da confecção desta fonte pode remeter a uma espécie de


esperança de que o autor possuía, com a Sicília voltando a ser controlada pelo povo
muçulmano, ideia esta que talvez possar ter sido impulsionada pelo o que a Sicília teria
sido ao povo muçulmano em tempos anteriores, como podemos perceber na fonte
anterior.

BIBLIOGRAFIA
BARROSO, Ana. Os Vikings junto a Sevilha (844). Academia.edu. Lisboa, 2016. 10
p. Disponível
em: https://www.academia.edu/33803040/Os_Vikings_junto_a_Sevilha_844_. Acesso
em: 16 out. 2023.

ARBMAN, Holger. Os Vikings. Lisboa: Editora Verbo, 1967. 230 p.

SECORD, Sarah. Where three worlds met - Sicily in the Early Medieval
Mediterranean. Ithaca: Cornell University Press, 2017, p. 213 - 241.

FONTES 13 E 14
As fontes históricas desta análise tratam-se de dois relatos de viagem escritos
por Ibne Batuta, viajante e estudioso da geografia islâmico nascido no Império
Merínida, região noroeste da África, no ano de 1304. Em seus relatos, escritos durante
sua estadia em Meca, podemos encontrar em ambos um aspecto bastante descritivo,
característico de seus relatos, acerca dos rituais religiosos celebrados na cidade de
Meca.

É válido ressaltar que a peregrinação à Meca era um feito essencial para o


cumprimento de um dos cinco pilares do Hajj, sendo uma interpretação contida no
próprio Alcorão. Logo, a passagem de Ibne Batuta em Meca, uma vez devoto da
religião, significava muito mais do que apenas uma peregrinação física, mas também
uma jornada espiritual que simboliza a submissão total do indivíduo a Deus, buscando
pelo seu perdão e renovação.

Seja como for, percebemos que Meca detém uma importância descomunal para
o islamismo, visto que é nela que estão localizados a Caaba, o local de nascimento do
profeta Maomé e também o local da revelação do Alcorão. Diversos rituais, conforme
aponta o autor, iniciam-se logo com a chegada do peregrino à cidade, entrando em um
estado espiritual chamado pelos muçulmanos de Ihram, materializado pela veste simples
e da cor branca.

Sendo assim, o fato de o islamismo ser uma religião que agregado ao incentivo
ao deslocamento dos fiéis, possui um caráter que a partir das próprias Escrituras
Sagradas enfatiza a busca pelo conhecimento, pode relacionar-se com o grande número
de estudiosos muçulmanos em áreas como a medicina, química, mas principalmente da
geografia presentes por todo o medievo, sendo Ibne Batuta um dos frutos dessa
concepção.

BIBLIOGRAFIA
BRANDÃO, Paulo. DEVOTOS, SÁBIOS E VIAJANTES: OS GEÓGRAFOS DO
MUNDO ISLÂMICO MEDIEVAL. 2018. 9 p. Disponível
em: https://periodicos.ufsm.br/geografia/article/view/23355. Acesso em: 18 out. 2023.

FONTES 17 E 18
Durante muitos séculos, vemos no Oriente Médio disputas entre impérios latino-
grego contra impérios persas pelo controle do Levante, da Mesopotâmia e da Armênia.
Os sucessores dos Romanos e dos Partas, os chamados Bizantinos e Sassânidas,
continuaram batalhando em sucessivas guerras nessa região de grande diversidade
étnica e religiosa.

Contudo, a partir do século VII, vemos o surgimento de uma nova balança de


poder, representado pelos árabes islâmicos, que recentemente haviam se convertido ao
Islã, unificando a Península Arábica e começando uma expansão que pegaria de
surpresa o Império Romano do Oriente e o Império Sassânida, enfraquecidos pela
devastadora guerra de 602-628.

As duas primeiras fontes, “A Conquista de Damasco (635)” e “Depois da


Batalha de Al-Yarmûk (636) Bizâncio Perdeu a Síria”, são crônicas com características
militares e religiosas escritas por Al-Bhaladuri, um cronista e historiador persa que
nasceu em Baghdad e viajou pela Síria e o Iraque, escreve sobre dois eventos relevantes
que aconteceram no início da expansão do primeiro Califado. Antes de analisarmos
essas fontes, é de extrema importância apontar que Bhaladuri escreve sobre esses
eventos dois séculos após o acontecido, tendo vivido sob o governo do Califado
Abássida.

A primeira fonte nos fala sobre a conquista árabe da cidade de Damasco na Síria,
que foi facilitada pela ajuda de um bispo, que o ajudou a encontrar uma brecha nas
muralhas da cidade, que foram escaladas pelas tropas árabes. Isso nos traz algumas
questões, primeiro, por que um bispo cristão ajudou os muçulmanos? Segundo, essa
captura acabou por ser pacífica e negociada?

Em relação a primeira pergunta, podemos a resolver devido aos conflitos


religiosos entre as autoridades bizantinas e as diversas correntes de pensamentos
(coptas, nestorianos, monofisistas1), resultado de conflitos interpretativos religiosos no
Concílio de Calcedônia, que resultou em uma cisma entre o cristianismo ortodoxo
representado pelo Patriarca de Constantinopla e o Imperador e o cristianismo oriental,
forte nas províncias da África do Norte e do Levante, que foram rapidamente
conquistado pelos árabes durante sua expansão, facilitado pela falta de resistência dos
cristões orientais. O debate sobre a figura de Cristo e suas duas naturezas (divina e
humana), foram um dos principais motivos que levaram a esse cisma, com os não-
calcedônios considerando a figura de Jesus Cristo unida em suas duas naturezas e os
monofisitas acreditando na existência de apenas uma natureza divina.

Em relação a captura, observa-se no final do texto, que apesar das promessas de


segurança desde que paguem imposto, ainda há um combate, justamente pela
característica confusa dessa captura, não havendo um tratado oficial com as autoridades
da cidade. Os bizantinos acabam por recuar da cidade, o que nos leva para a próxima
fonte, “Depois da Batalha de Al-Yarmûk”, que consolidou a conquista muçulmana da
Síria.

Essa batalha foi a derrota definitiva dos bizantinos na Síria, com a fonte
apontando a uma completa e decisiva vitória por parte dos árabes, que derrotou um
exército de 200.000 bizantinos com apenas 24.000 muçulmanos, falando sobre “a ajuda
de Allah”, demonstrando uma imagem de fé e alta moral no exército muçulmano. Claro
que esses números são exagerados, como já explicado pela nota de rodapé na fonte,
dizendo que possivelmente foram uns 50.000 bizantinos que entraram em combate,

1
O bispo que auxiliou Khalid ibn al-Walid a capturar Damasco era monofisista.
contudo ainda assim vemos uma decisiva vitória para os árabes, que se consolidam
como líderes da Síria, cuja principal cidade, Damasco, seria capital do Califado Omíada.

Essa consolidação, entretanto, ocorreria não apenas na Síria, mas também em


todo o modo islâmico, que se expandiria pelos próximos séculos. A fonte “A Extensão
do Império Muçulmano no Último Terço do Século X”, escrita por Ibn-Hawqal, um
geógrafo e viajante abássida, fonte essa que delimita uma fronteira do Islã, agora
consolidado após dois califados. Outro ponto interessante a se ver nessa fonte é o
comentário do autor em relação as regiões ocidentais desse mundo, falando que “Na
declaração anterior sobre a extensão do Islam omiti a fronteira do Maghreb e o Andaluz,
por serem como que a manga de um vestido”, que, além desse apontamento final por
parte de Ibn-Hawqal, pode ser uma possível menção a situação política, visto que o
Califado Abássida não possuía controle sob o Al-Andaluz, controlado por sucessores
omíadas do Califado de Córdoba e nem a parte ocidental do Magreb, controlado pelos
Idríssidas.

A última fonte, “A Mesquita de Damasco (705) foi Edificada por Artífices


Bizantinos”, por final, é do viajante merínida Ben-Batuta (que será mais detalhado na
próxima análise), que comentou em seu relato de viagem sobre a mesquita de Damasco
durante sua estadia, apresentando uma descrição arquitetônica dessa construção, que
tem em sua construção influências arquitetônicas bizantinas. A data de 705, dada pela
fonte, refere-se ao momento em que o templo foi convertido a uma mesquita, visto que
a construção em si foi, primeiramente, projetada pelos romanos como o Templo de
Júpiter, depois virando uma igreja e por final, no reinado de Al-Walid, califa omíada,
virando a mesquita conhecida atualmente.

BIBLIOGRAFIA
DUCELLIER, Alain & KAPLAN, Michel. Bizâncio e o Islão. Lisboa: Publicações
Dom Quixote, 1994, p. 101-141

HOURANI, Albert. A formação de um Império. In: HOURANI, Albert. Uma


História dos Povos Árabes. São Paulo: Companhia das Letras, 2006. p. 34-51

LAPIDUS, Ira M. The Arab-Muslim Imperium (632 – 945). In: LAPIDUS, Ira M. A
History of Islamic Societies. Cambridge: Cambridge University Press, 1988, p. 31 – 44
FONTES 19 E 20
Esse texto, para facilitar a organização das ideias, será separado em duas partes
principais diferentes, contudo unidos em seu objetivo. A primeira parte terá como tema
a “criação” de uma cultura árabe e as suas posteriores transformações culturais
resultantes de mudanças no controle do poder no mundo islâmico e sua fragmentação
em poderes regionais, tomando como base os textos “A Divulgação da Língua Árabe” e
“Os Sábios Muçulmanos só por Excepção Foram Árabes”. A segunda parte tratará da
questão educacional islâmica em meio a essas transformações com base nas fontes “O
Corão e a Instrução da Criança Muçulmana”, “As Escolas de Bagdad (Século XIV) e
“A Educação de Avicena”, colocando em frente as mudanças e similaridades com o
ensino de antes da fragmentação do Califado Abássida sob a percepção da educação de
Avicena.

A expansão do islamismo durante o século XII permitiu o acesso aos nômades


árabes à novos aprendizados e a uma diversidade de culturas que foi utilizada para criar
o que podemos chamar de uma cultura árabe, criando-se uma arquitetura e língua com
objetivos religiosos e administrativos, substituindo a tradição oral, permitindo a escrita,
estudo e reflexão do Alcorão, que se transformou no objeto central dessa cultura.

Dessa forma, o Corão se fixa como símbolo central do islamismo, virando


também o principal instrumento educativo dos habitantes do Islã. A base da educação
do cidadão islâmico é o ensino da leitura e do estudo do Alcorão, porém, vê-se certas
mudanças e evoluções na forma como essa educação é tratada.

Ao ler as fontes cinco fontes selecionadas, percebe-se a existência de instituições


e sistemas educacionais eficazes e no geral aprovado e incentivado por aqueles que
detêm o poder no Ocidente islâmico, com a primeira fonte apresentando diversos modos
de ensino através do mundo islâmico e a segunda nos mostrando a existência de escolas
de jurisprudência em Baghdad. Vemos, anteriormente à essa fonte, contudo, o exemplo
da “Casa da Sabedoria”, fundada no século IX pelos califas abássidas. Percebe-se a
consolidação de outros modos de estudo, e é durante esse período que vemos uma
espécie de “auge” do sistema educacional islâmico, com a existência prévia de um
incentivo a tradução de obras antigas gregas e agora ao movimento da Falsafa,
existindo uma espécie de “ciências islâmicas”.
Vemos nesse momento a formulação de divisão entre literatura e uma ciência,
um saber adquirido através da reflexão e observação, com os principais estudos sendo a
matemática, jurisprudência, astronomia, física e medicina. Do ponto de vista literário,
vemos diversas fontes de cunho geográfico e histórico 2, assim como poemas e textos em
prosa.

É importante também perceber que mesmo nesse período, já se observa


mudanças de poder, primeiro de forma geográfica e política, visto que vemos a
transição dos centros de autoridade da Península Arábica (Meca e Medina) para
Damasco e posteriormente para o Iraque, culminando na criação de Baghdad, resultado
da dominância dos Abássidas sob os Omíadas após um conflito interno, e em seguida de
forma cultural e através de forças externas, assim como a criação do Califado Fatímida,
dominante no ocidente islâmico.

As fontes apresentadas, no geral, tratam do século XIII/XIV, momento em que já


podemos ver as transformações ocorridas no mundo islâmico após a invasão dos
turcomanos no Oriente e do fim do Califado Abássida. É a partir desse momento que
vemos uma verdadeira fragmentação do Islã e uma mudança cultural e política
acarretada pela ascensão dos seljúcidas turcos e das seguidas investidas mongóis sob o
território oriental do Islã.

A constrição, a adversidade e a perda da confiança cultural favorecem o


apelo ao fanatismo religioso, à paranoia nativista e ao autoritarismo
patriarcal. Sempre há alguém disposto a se promover com tais apelos.
(COLLINS, p. 177).

No Oriente do Islã (Transoxiana, Pérsia, Síria, Iraque), vemos uma forma de


declínio de uma certa “tolerância” a pensamentos que são considerados “profanos” sob
os sucessivos governos turco-mongóis, assim como um afastamento do árabe no oriente.
Os turcos, ao se assentarem na Pérsia, criam uma espécie de cultura islâmica-persa,
substituindo o árabe, que já estava em decadência no oriente, sendo usualmente
utilizado apenas como língua administrativa, por elementos persas. Junto a isso, nos
próximos séculos, vemos as cruzadas e a introdução dos mongóis, que destroem a
cidade de Baghdad no ano de 1258, e como elemento final, temos o surgimento

2
¹ A história, em grande parte, tinha o foco nos estudos das hadith (registros orais do profeta Maomé) e da Sunna (o
seu “caminho trilhado”), assim como a escrita de biografias, registros militares e tabaqât (dicionários bibliográficos).
posterior do Império Timúrida de origem turco-mongol sob o controle de Tamerlão no
século XIV e XV.

No Ocidente do Islã (Egito, Magrebe, Al-Andalus), contudo, percebe-se que a


fragmentação de poder não resultou no fortalecimento de invasores externos, mas sim
no de elementos internos. Enquanto o Califado Fatímida conseguiu manter uma forma
de organização central por um tempo, vemos a consolidação de dinastias locais no
Magrebe e na Ifriquiya.

Tendo, agora, uma base histórica dos acontecimentos, podemos nos voltar as
fontes de fato, cuja maioria dos autores são viajantes, como Ibn Batuta 3, e estudiosos,
como Ibn-Khaldûn, um polímata que estudou astronomia, direito, história e outros
assuntos, trabalhando para os governantes do Magrebe, Granada e do Egito, e Avicena,
um polímata versado na astronomia, matemática e medicina, proveniente de Bukhara,
importante cidade na região da Transoxiana.

Trabalhando com as fontes de Ibn-Khaldûn, todas sendo fontes escritas em


prosa, temos uma excelente base para falar sobre as transformações debatidas
previamente. Nas fontes “A Divulgação da Língua Árabe” e “Os Sábios Muçulmanos só
por Excepção Foram Árabes”, percebe-se claramente uma interessante visão de
“corrupção” e declínio da língua, culturas e tradições árabes sob a perspectiva de um
estudioso. Como apontado no subtítulo da primeira fonte, “a fragmentação do Império
Árabe arrastou consigo o triunfo dos regionalismos culturais, assim como o
renascimento de muitas línguas locais”, e para Khaldûn, essa fragmentação resultou no
fortalecimento do poder por forças internas e externas como os Persas, Seljúcidas e os
Berberes, que permitiram o início do declínio do que é considerado islâmico-árabe.

Era um mundo cheio de lembranças da fragilidade da empresa humana. Sua


própria trajetória mostrou como eram instáveis as alianças de interesses em
que se baseavam as dinastias para manter o poder; o encontro com Tamerlão,
nas portas de Damasco, deixou claro como a ascensão de um novo poder
afetava a vida de cidades e povos. (HOURANI, p. 14).4

O aparecimento dos mongóis e dos tártaros, de acordo com Ibn-Khaldûn, só


serviu para “dominar e apagar” a língua árabe, sobretudo por que ambos os invasores
não eram islâmicos. Em sua outra fonte, temos apresentada a ideia de que a grande
3
Viajante merínida conhecido por seu livro “Al Rihla”, onde detalha suas viagens que se expandem da
Península Ibérica até a China.
4
Aqui, o autor está falando sobre a estadia de Ibn-Khaldûn no orient, onde trabalhou para o Sultanato
Mameluco e negociou um acordo com Timur, que estava cercando Damasco.
maioria dos sábios muçulmanos são não-árabes, ou seja, apesar dos árabes serem os
fundadores da cultura islâmica e responsáveis por sua expansão, eles não detêm mais o
poder e o conhecimento. A maioria da produção cultural e intelectual, dessa forma, não
era mais produzido por árabes, mas sim por outros povos, como por exemplo os persas,
que são citados várias vezes nessa fonte como quem criou regras gramaticais e quem
estudou os hadiths.

Assim, podemos ver em Ibn-Khaldûn uma espécie de “percepção de crise”, uma


visão de que haveria uma forma de “era dourada” que teve fim através da corrupção
trazida por elementos internos e externos que, após a fragmentação do poder do
Califado, mudaram aspectos culturais do mundo islâmico. Independente dessas
transformações e fragmentações, podemos, de todo modo, sempre observar uma certa
coesão social e manutenção de tradições através do Alcorão e da fé islâmica,
observando que o Alcorão e a fé islâmica se mantêm como símbolo importante de
poder, religião e educação em todas as fontes

No lugar da substituição do Corão por outro símbolo durante esse período de


transformações, vemos claramente sua preservação na fonte “O Corão e a Instrução da
Criança Muçulmana” de Ibn-Khaldûn, onde percebe-se que em diversas regiões do
mundo islâmico, o ensino do Alcorão é diferente. Por exemplo, no Magrebe, de acordo
com Khaldûn, a instrução está focada na ortografia, enquanto em Al-Andalus, mistura-
se a educação do Corão com a de outros assuntos, como caligrafia, poesia e
composição. Na Ifriqiyah, é apontado uma maior ligação com tradições e uma base
científica, enquanto no Oriente, Ibn-Khaldûn nos diz que o currículo é misto.

Outro ponto importante a apresentar é a continuidade do ensino em Baghdad no


século XIV na fonte “As Escolas de Bagdad” de Ben-Batuta, apesar de um declínio da
cidade após o fim do Califado Abássida e o cerco e saque mongol da cidade. Aqui
vemos uma continuidade de uma tradição da jurisprudência islâmica através das quatro
madhabs5 mesmo após a destruição da Casa da Sabedoria.

Nossa última análise está a ser feita na fonte “A Educação de Avicena”, que se
separa das outras por ser do início do século XI, antes das transformações trazidas pelos
turco-mongóis (porém posterior ao início da fragmentação dos abássidas no ocidente no

5
As madhabs são escolas de pensamento com o objetivo de estudar a fiqh (jurisprudência islâmica) sob o
Sunnah (a tradição do profeta Maomé).
século X). Busco utilizar essa fonte para concluir essa análise, apresentando uma série
de permanências e mudanças através do ensino que Avicena recebeu.

Primeiro, atenta-se em um aparente declínio de ensino no oriente islâmico, muito


possivelmente resultado da introdução de uma ortodoxia sunita. Nas fontes do século
XIII a frente, vemos majoritariamente muçulmanos provenientes do ocidente, ou com
fortes ligações a essa região. Segundamente, o interesse na jurisprudência e na
medicina, tópicos de interesse de Avicena, aparenta manter-se no mundo islâmico.
Vemos um interesse por parte de Avicena também em ciências naturais e metafísicas, o
interesse no saber, que me conectou aos estudiosos da Casa do Saber, o que para mim,
me mostra que a educação ainda acontecia independente dessa instituição.

Finalmente, para concluir, é inegável o poder de manutenção e coesão do


Alcorão e da língua árabe. Mesmo após todas essas transformações, mesmo após
posteriores mudanças sob os mamelucos, otomanos e o colonialismo europeu, ainda
vemos esses dois símbolos da cultura islâmica preservada e sendo a base cultural e
educacional de boa parte do mundo muçulmano até os dias de hoje.

BIBLIOGRAFIA
DUCELLIER, Alain & Kaplan, Michel. Bizâncio e o Islão. Lisboa: Publicações Dom
Quixote, 1994. p. 209-228.

WELLS, Collin. Bizâncio e o Mundo Islâmico. In: WELLS, Collin. De Bizâncio para
o Mundo. Rio de Janeiro: Bertrand Brasil. 2012, p. 129-180.

HOURANI, Albert. “Prólogo” In: HOURANI, Albert. Uma História dos Povos
Árabes. São Paulo: Companhia das Letras, 2006. p. 12-15

LAPIDUS, Ira M. From Islamic Culture to Islamic to Islamic Society: Iran and
Iraq, 945-c. 1200. In: LAPIDUS, Ira M. A History of Islamic Societies. Cambridge:
Cambridge University Press, 1988, p. 112-146.

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