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FONTES 04 E 05
A transição da capital de Roma para Bizâncio ocorreu antes do esfacelamento da
autoridade imperial sobre os territórios ocidentais, especificamente no ano de 330 d.C.,
tendo como principal agente dessa mudança o imperador Constantino I (272-337). A
cidade de Bizâncio, localizada em um ponto estrategicamente beneficiado, já era de
importância vital para os territórios orientais, o que se salientou ainda mais com a
transição, tornando-a o coração do império e alvo de diversas reformas urbanísticas e
obras monumentais a fim de transformá-la em uma capital tão grandiosa quanto havia
sido Roma.
É plausível afirmar que esta verdadeira pandemia, durante os dois séculos que
durou, afetou em grande escala o império em termos econômicos, militares e
demográficos, sendo assim um fator crucial para entendermos o declínio da autoridade
imperial sob os territórios perdidos do ocidente, mas que ainda mantinham um certo
grau de comprometimento. Le Goff considerará que houve um cada vez maior
“estranhamento” entre essa dicotomia de um império fatigado e de reinos romano-
bárbaros assumindo o protagonismo, tendo como ápice desse processo a coroação de
Carlos Magno como imperador dos romanos em 800, uma grande afronta ao poder do
imperador na medida em que outro era coroado.
Seja como for, através das fontes analisadas podemos denotar que mesmo em
um cenário de crises e declínio, o império romano do oriente atravessou boa parte do
medievo sendo alvo de admiração daqueles que tinham contatos com seu núcleo,
Constantinopla, algo próximo à assimilação desejada dos bárbaros ao império do
ocidente. Essa relação impactou profundamente a cultura de outros povos a partir da
transmissão e preservação da cultura clássica literária e artística, na difusão do
cristianismo ortodoxo e também âmbito do ensino e educação, conforme aponta o
historiador britânico Colin Wells, em seu livro “De Bizâncio Para o Mundo”.
BIBLIOGRAFIA
ANGOLD, Michael. Bizâncio: a ponte da Antiguidade para a Idade Média. Rio de
Janeiro: Imago, 2002;
WELLS, Colin. De Bizâncio para o Mundo. Rio de Janeiro: Bertrand Brasil, 2012, p.
60–69;
Géographie D’Edrisi, tradução do árabe para o francês por P. Amédée Jaubert, Paris,
1840, t. II, p. 298-299;
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Os dois documentos a serem analisados neste trabalho tratam-se de uma epístola
de Alcuíno de Iorque (735-804) ao até então rei franco, Carlos Magno (742-814), e o
falsificado documento do século VIII, “A doação de Constantino”, sem autoria
conhecida.
O primeiro nos deixa evidente uma clara proximidade e harmonia na relação das
figuras dialogantes, o que se confirma pelas fontes a saber que a Carlos Magno
incumbira ao bispo um importante papel na revitalização da educação e cultura
carolíngia, sendo este fato um ponto fundamental para o renascimento carolíngio.
BIBLIOGRAFIA
Começando com a primeira fonte citada, percebemos que a fonte se trata de uma
fonte material escrita por Procópio de Cesareia, um “historiador” que fazia parte da
corte de Constantinopla durante o século VI. O principal assunto contido seria a respeito
da suposta grandiosidade na figura de Constantinopla e Justiniano, (imperador deste
período) ao mesmo tempo de passar uma ideia de Constantinopla ser um destino em
comum de diversas pessoas deste período, como pode ser elucidado no trecho a seguir:
Um ponto que podemos pensar a respeito dessa fonte seria a respeito de sua
utilidade, que tende a ser uma espécie de propaganda a respeito de Constantinopla e ao
Imperador Justiniano, moldando uma ideia de uma grandiosa cidade destino e de um
Imperador benevolente, aos leitores deste período. O que fortalece essa ideia seria a
respeito do escritor, que como já dito anteriormente, fazia parte da corte de Justiniano, o
que claramente indica um escrito tendencioso.
Prosseguindo para segunda fonte, podemos notar que se trata de uma fonte
escrita pelo lombardo Liutprandi, a serviço do rei Berengário I da Itália, durante o
século X. A fonte foca na descrição de Constantinopla aos olhos de Liutprandi, onde o
mesmo descreve sua admiração estética pela cidade, exaltando-a ao longo de seu
escrito.
Tendo em vista que Liutprandi estava a serviço do rei da Itália deste período,
uma possível função para esta fonte pode ser a coleta de informações para o rei
Berengário I da Itália a respeito de Constantinopla, algo que pode ser relacionado com a
primeira fonte, dado a propaganda que era feita a respeito da mesma. Porém, também é
interessante notar que ambas as fontes se passam em períodos históricos muito distantes
(século VI e X, respectivamente), podendo indicar que a ideia de uma Constantinopla
grandiosa se manteve ao longo dos séculos, ao ponto de o Berengário I financiar uma
viagem para uma coleta de informações, e com isso, averiguar a veracidade desta
propaganda que era feita a respeito de Constantinopla.
A primeira coisa a se notar a respeito dessa fonte é a sua origem eslava, o que
pode explicar um possível exagero por parte do escritor da fonte a respeito desse
confronto de com Constantinopla, tendo em vista que em fontes bizantinas a respeito do
conflito não sejam tão impressionantes quanto está. O segundo ponto a se atentar seria
em toda a narrativa criada em torno de Oleg, que se torna uma espécie de figura mítica
nesta fonte, algo que pode demonstrar uma irrealidade dentro de um relato sobre um
conflito real.
Algo que também pode ser notado seria a respeito do período que ocorreu o
conflito (907) e quando ele foi relatado em uma fonte (1037-1118), o que pode
demonstrar uma imprecisão a respeito dos fatos.
Um provável motivo para a confecção desta fonte, e pelo fato de ela ter sido
compilado em uma crônica, pode ser uma espécie de difusão de um acontecimento
considerado importante para a população eslava, que seria essa vitória militar contra
Constantinopla, o que demonstra mais uma vez a importância desta cidade durante a
antiguidade tardia e durante todo o medievo.
Com isso dito, podemos afirmar através das possíveis conclusões a respeito das
fontes analisadas e de estudos de especialistas sobre bizâncio, como Peter Sarris e
Timothy E. Gregory, podemos perceber que desde sua criação, Constantinopla compõe
um espaço multicultural muito amplo, onde era destino de população vindas tanto do
mediterrâneo quanto de outras partes do oriente. Através da ultima fonte também
podemos perceber a preferência diplomática que Constantinopla possuía, onde mesmo
em conflito com determinado povo ou região ainda possuía habilidade diplomática
suficiente para transformar um isto em um tratado comercial. Portanto, podemos
concluir a grande importância que bizâncio possuiu ao longo dos séculos, tanto para um
contexto ocidental quanto para o oriental.
BIBLIOGRAFIA
SARRIS, Peter. Byzantium: A Very Short Introduction. Oxford University
Press, 2015. 192 p.
FONTES 11 E 12
O conjunto de fontes a ser analisadas serão compostas de 2 fontes, sendo elas:
“IBN HAYYAN SOBRE O ATAQUE VIKING A SEVILHA EM 844” e “IBN
JUBAYR SOBRE A SICÍLIA NO SÉCULO XII”. Com isso dito, será realizado uma
análise a respeito das 2 fontes citadas, onde serão feitas relações entre elas e possíveis
conclusões que possam ser pensadas a respeito.
Começando pela primeira fonte, podemos perceber que se trata de uma fonte
material escrita Ibn Hayyan (987-1075), um “historiador” muçulmano que viveu nas
regiões de al-Andalus. O assunto abordado na fonte se trata de uma descrição a respeito
de uma invasão viking na cidade de Sevilha, durante o século IX.
Passando para a segunda fonte a ser analisada, a primeira coisa que vemos é que
foi escrita por Ibn Jubayr (1145-1217), um viajante, geólogo e poeta de al-Andalus. O
principal assunto abordado é uma descrição sobre o atual estado da Sicília no século
XII, que neste período já não está mais sobre o comando muçulmano.
Com isto em mente, podemos imaginar que a Sicília ao longo dos séculos teria
sido um ponto de trocas culturais muito fortes, tanto entre os povos orientais quanto
ocidentais, que mesmo com diferentes tipos de povos no poder a multiculturalidade que
a região possuía se mantinha ao longo do tempo.
BIBLIOGRAFIA
BARROSO, Ana. Os Vikings junto a Sevilha (844). Academia.edu. Lisboa, 2016. 10
p. Disponível
em: https://www.academia.edu/33803040/Os_Vikings_junto_a_Sevilha_844_. Acesso
em: 16 out. 2023.
SECORD, Sarah. Where three worlds met - Sicily in the Early Medieval
Mediterranean. Ithaca: Cornell University Press, 2017, p. 213 - 241.
FONTES 13 E 14
As fontes históricas desta análise tratam-se de dois relatos de viagem escritos
por Ibne Batuta, viajante e estudioso da geografia islâmico nascido no Império
Merínida, região noroeste da África, no ano de 1304. Em seus relatos, escritos durante
sua estadia em Meca, podemos encontrar em ambos um aspecto bastante descritivo,
característico de seus relatos, acerca dos rituais religiosos celebrados na cidade de
Meca.
Seja como for, percebemos que Meca detém uma importância descomunal para
o islamismo, visto que é nela que estão localizados a Caaba, o local de nascimento do
profeta Maomé e também o local da revelação do Alcorão. Diversos rituais, conforme
aponta o autor, iniciam-se logo com a chegada do peregrino à cidade, entrando em um
estado espiritual chamado pelos muçulmanos de Ihram, materializado pela veste simples
e da cor branca.
Sendo assim, o fato de o islamismo ser uma religião que agregado ao incentivo
ao deslocamento dos fiéis, possui um caráter que a partir das próprias Escrituras
Sagradas enfatiza a busca pelo conhecimento, pode relacionar-se com o grande número
de estudiosos muçulmanos em áreas como a medicina, química, mas principalmente da
geografia presentes por todo o medievo, sendo Ibne Batuta um dos frutos dessa
concepção.
BIBLIOGRAFIA
BRANDÃO, Paulo. DEVOTOS, SÁBIOS E VIAJANTES: OS GEÓGRAFOS DO
MUNDO ISLÂMICO MEDIEVAL. 2018. 9 p. Disponível
em: https://periodicos.ufsm.br/geografia/article/view/23355. Acesso em: 18 out. 2023.
FONTES 17 E 18
Durante muitos séculos, vemos no Oriente Médio disputas entre impérios latino-
grego contra impérios persas pelo controle do Levante, da Mesopotâmia e da Armênia.
Os sucessores dos Romanos e dos Partas, os chamados Bizantinos e Sassânidas,
continuaram batalhando em sucessivas guerras nessa região de grande diversidade
étnica e religiosa.
A primeira fonte nos fala sobre a conquista árabe da cidade de Damasco na Síria,
que foi facilitada pela ajuda de um bispo, que o ajudou a encontrar uma brecha nas
muralhas da cidade, que foram escaladas pelas tropas árabes. Isso nos traz algumas
questões, primeiro, por que um bispo cristão ajudou os muçulmanos? Segundo, essa
captura acabou por ser pacífica e negociada?
Essa batalha foi a derrota definitiva dos bizantinos na Síria, com a fonte
apontando a uma completa e decisiva vitória por parte dos árabes, que derrotou um
exército de 200.000 bizantinos com apenas 24.000 muçulmanos, falando sobre “a ajuda
de Allah”, demonstrando uma imagem de fé e alta moral no exército muçulmano. Claro
que esses números são exagerados, como já explicado pela nota de rodapé na fonte,
dizendo que possivelmente foram uns 50.000 bizantinos que entraram em combate,
1
O bispo que auxiliou Khalid ibn al-Walid a capturar Damasco era monofisista.
contudo ainda assim vemos uma decisiva vitória para os árabes, que se consolidam
como líderes da Síria, cuja principal cidade, Damasco, seria capital do Califado Omíada.
BIBLIOGRAFIA
DUCELLIER, Alain & KAPLAN, Michel. Bizâncio e o Islão. Lisboa: Publicações
Dom Quixote, 1994, p. 101-141
LAPIDUS, Ira M. The Arab-Muslim Imperium (632 – 945). In: LAPIDUS, Ira M. A
History of Islamic Societies. Cambridge: Cambridge University Press, 1988, p. 31 – 44
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Esse texto, para facilitar a organização das ideias, será separado em duas partes
principais diferentes, contudo unidos em seu objetivo. A primeira parte terá como tema
a “criação” de uma cultura árabe e as suas posteriores transformações culturais
resultantes de mudanças no controle do poder no mundo islâmico e sua fragmentação
em poderes regionais, tomando como base os textos “A Divulgação da Língua Árabe” e
“Os Sábios Muçulmanos só por Excepção Foram Árabes”. A segunda parte tratará da
questão educacional islâmica em meio a essas transformações com base nas fontes “O
Corão e a Instrução da Criança Muçulmana”, “As Escolas de Bagdad (Século XIV) e
“A Educação de Avicena”, colocando em frente as mudanças e similaridades com o
ensino de antes da fragmentação do Califado Abássida sob a percepção da educação de
Avicena.
2
¹ A história, em grande parte, tinha o foco nos estudos das hadith (registros orais do profeta Maomé) e da Sunna (o
seu “caminho trilhado”), assim como a escrita de biografias, registros militares e tabaqât (dicionários bibliográficos).
posterior do Império Timúrida de origem turco-mongol sob o controle de Tamerlão no
século XIV e XV.
Tendo, agora, uma base histórica dos acontecimentos, podemos nos voltar as
fontes de fato, cuja maioria dos autores são viajantes, como Ibn Batuta 3, e estudiosos,
como Ibn-Khaldûn, um polímata que estudou astronomia, direito, história e outros
assuntos, trabalhando para os governantes do Magrebe, Granada e do Egito, e Avicena,
um polímata versado na astronomia, matemática e medicina, proveniente de Bukhara,
importante cidade na região da Transoxiana.
Nossa última análise está a ser feita na fonte “A Educação de Avicena”, que se
separa das outras por ser do início do século XI, antes das transformações trazidas pelos
turco-mongóis (porém posterior ao início da fragmentação dos abássidas no ocidente no
5
As madhabs são escolas de pensamento com o objetivo de estudar a fiqh (jurisprudência islâmica) sob o
Sunnah (a tradição do profeta Maomé).
século X). Busco utilizar essa fonte para concluir essa análise, apresentando uma série
de permanências e mudanças através do ensino que Avicena recebeu.
BIBLIOGRAFIA
DUCELLIER, Alain & Kaplan, Michel. Bizâncio e o Islão. Lisboa: Publicações Dom
Quixote, 1994. p. 209-228.
WELLS, Collin. Bizâncio e o Mundo Islâmico. In: WELLS, Collin. De Bizâncio para
o Mundo. Rio de Janeiro: Bertrand Brasil. 2012, p. 129-180.
HOURANI, Albert. “Prólogo” In: HOURANI, Albert. Uma História dos Povos
Árabes. São Paulo: Companhia das Letras, 2006. p. 12-15
LAPIDUS, Ira M. From Islamic Culture to Islamic to Islamic Society: Iran and
Iraq, 945-c. 1200. In: LAPIDUS, Ira M. A History of Islamic Societies. Cambridge:
Cambridge University Press, 1988, p. 112-146.