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O "Renascimento" Carolingio (século VIII-IX)

Research · October 2008


DOI: 10.13140/RG.2.2.27628.59520

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Jônatas Ferreira de Lima Souza


Federal University of Rio de Janeiro
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UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO GRANDE DO NORTE - UFRN
CENTRO DE CIÊNCIAS HUMANAS, LETRAS E ARTES - CCHLA
DEPARTAMENTO DE HISTÓRIA
DISCIPLINA: HISTÓRIA MEDIEVAL I
PROFESSOR: Mariano Azevedo

JÔNATAS FERREIRA DE LIMA

1 – Explique como a relação entre a Igreja e o Estado Carolíngio contribuiu para a


afirmação do Império de Carlos Magno, bem como para o fortalecimento da Igreja no
Ocidente.

O reino Franco, sob o governo de Clóvis da dinastia merovíngia, foi de grande


oportunidade para a Igreja Católica em formação e expansão.
Isso se deu devido os ideais de difusão universal de uma cristandade unida, esta que se
assemelhava aos ideais de conquista dos francos. Clóvis foi o primeiro rei “bárbaro” a
converte-se ao cristianismo católico. É bem verdade que sua aliança, assim como a dos reis
carolíngios Carlos Martel e seu filho Pepino, “o Breve”, foi apenas de caráter político, sendo
tratado, principalmente, a questão da expansão territorial aliada a expulsão dos muçulmanos
da Europa.
No entanto, apenas no ano de 754-6, a Igreja, aliada a Pepino, “o Breve”, assume
presença definitiva em meio a administração carolíngia. Pepino, “o Breve”, alia-se a Igreja
(politicamente) sendo coroado rei franco por esta, afirmando tal ritual de coroação para todos
os reis que se seguiram na história medieval e parte da moderna, mas especificamente até a
Revolução Francesa.
Para os francos, essa aliança com a Igreja fundamentava-se em está alicerçado numa
instituição de prestígio buscando afirmação. Ambos os lados beneficiaram-se dessa aliança.
Os interesses da Igreja e a questão da expansão territorial confundiam-se com os ideais
francos. Com a morte de Pepino, “o Breve”, seu filho Carlos Magno assume esse papel de
expandir o território, sendo que desta vez aliado aos ideais de cristandade (dogmas; valores),
uma vez que ele era devoto cristão. A perseverança de Carlos Magno e suas conquistas na
Europa ocidental – unificou a Gália, à Itália setentrional e central, à Renânia, à Germânia – e
num total de 32 anos de sangrentas batalhas anexa também à saxônia. Parte do norte espanhol
que estava em domínio muçulmano também foi anexado ao que foi chamado de Império
Franco ou Império de Carlos Magno. Este foi confirmado e coroado pela Igreja no ano de 800
na missa natalina (hipótese mais convencionada por historiadores), Imperador do Sacro-
Império Romano do Ocidente, fato este que separa de uma vez por todas a Igreja em
Constantinopla e o Império Romano do Oriente do mundo Ocidental cristão (relações
cismáticas). A nomeação de um Imperador e da presença de terras unificadas politicamente e
religiosamente (semelhante ao que Roma construiu) no Ocidente, afirma e institui a
legitimidade da Igreja Católica Apostólica Romana na Europa – poder temporal e espiritual.
Através de sua aliança com os francos, a Igreja consolida sua organização e lança
bases de sua posição dominante no seio da sociedade – dízimos, reforma dos cabidos das
catedrais, reforço dos grandes monastérios, unificação litúrgica, fixação e difusão dos textos
de base e dos instrumentos gramaticais indispensáveis para a manutenção de uma unidade
lingüística erudita da cristandade, afirmação da autoridade romana, definição das regras do
casamento e do parentesco.

2 – Comente a sua compreensão sobre o renascimento carolíngio e aponte os principais


elementos de uma produção cultural discutidos pelo autor.

É bem curioso saber que houve, como o autor chama, de um renascimento cultural na
Alta Idade Media. Isso porque, sabemos que os renascentistas desprestigiaram a Idade Média.
É verdade que alguns historiadores já estão quebrando tal ruptura criada entre os modernos e
os medievais (ainda falta muito). No entanto o que quero dizer é que, imaginemos um
renascentista tachando a Idade Média... (rústica, atrasada, desumana, etc.), digamos que hoje
sabemos que no que foi chamado de Baixa Idade Média, notamos diversas inovações na
arquitetura e principalmente nas relações comerciais. Seria bem mais tranqüilo convencer esse
renascentista de que houve algum renascimento nesse período medieval. Mas um
renascimento na Alta... seria bem mais difícil de se compreender devido a especificidade1 do
local onde Baschet o situa, ou seja, na corte de Carlos Mago. Nesse caso concordo quando
ele, o autor, diz: “renascimento carolíngio”.
Esse renascimento ocorreu nos campos “do pensamento, do livro e da liturgia”. O
centro desse renascimento, como já dito anteriormente, é a corte de Carlos Magno e,
posteriormente a de seu filho, Luís, “o Piedoso”. Para essas cortes dirigiam-se os grandes
letrados que se propunham a servir o imperador e mesmo recebendo cargos eclesiásticos,

1
Quero dizer que é um local bem especifico, diferente do que ocorreu na Baixa com a amplitude do comércio, as
feiras e posteriormente com a ascensão da burguesia, etc.
continuavam a servi-lo. Carlos Magno inventou (imaginário popular), segundo o autor, a
escola e tornou-se o primeiro imperador a saber ler, o que também lhe dava grande prestígio
na época (mas não sabia escrever). O principal objetivo dos letrados carolíngios é o de ler e
difundir os textos fundamentais do cristianismo – seriam as escrituras Sagradas (trabalho de
revisões), manuscritos litúrgicos utilizados na celebração do culto (sacramentário) e textos da
literatura cristã. Outro elemento dessa produção cultural é a difusão de uma escrita. Escrita
esta que como o autor cita: “Por uma bela ironia da história, essa caligrafia maravilhará os
humanistas do século XV, que a tomarão, por vezes, por uma criação da Antiguidade clássica
e a utilizarão para desenhar os primeiros caracteres de impressão.” Outra produção seria a
difusão do hábito de separar as palavras, em frases, graças a um método de pontuação,
totalmente inovador, uma vez que não se tinha feito isso até o momento. Isso é o que Baschet
chama de “grandes avanços na história das técnicas intelectuais.” Nesse momento surge como
“atividade” essencial a compilação (scriptoria) realizada por monges em seus mosteiros. De
acordo com Baschet, estima-se que cerca de 50 mil manuscritos foram copiados na Europa do
século IX. Vale lembrar que esses manuscritos correspondiam, em maioria, a necessidade do
culto cristão e uma minoria a textos (literatura) latinos clássicos. Um dos motivos nesse caso é
a aprendizagem do “bom latim”. Para isso, enfocava-se a manutenção dessas regras, fazendo
com que as principais disciplinas ministradas do saber carolíngio sejam a gramática e a
retórica. Em todo caso o latim (versão corrigida do clássico) torna-se língua oficial do meio
eclesiástico (erudita) e para a população tradução para as “línguas vulgares”. A Idade Média
no geral torna-se “bilíngüe”. Segundo o autor, “essa dualidade lingüística aprofunda, então o
fosso entre os clérigos e os laicos, assegurando, ao mesmo tempo, uma unidade marcante à
Igreja ocidental.” Em resumo, a reforma litúrgica, que homogeneizou os ritos cristãos no
Império, foi a mais expressiva obra dessa reforma carolíngia. Outras seriam: A arquitetura –
igrejas mais imponentes; ampliação da liturgia e capelas para associar culto a Cristo e aos
santos; incrementarão das imagens dos santos.
De toda forma, como menciona Baschet, “a experiência carolíngia foi de curta
duração.” Mesmo com a continuidade dessas reformas no reinado de Luis, “o piedoso” e
posteriores, dificuldades apareceram, principalmente as causadas pelas invasões normandas
(externo) e atritos internos ao Império – revoltas e manutenção comprometida. Finaliza
Baschet: “Parece mais razoável, então, perceber o episódio carolíngio como sendo, ao mesmo
tempo, o resultado das transformações dos séculos da Alta Idade Média e uma primeira
síntese que prepara o despontar dos séculos posteriores da Idade Média.”

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