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All content following this page was uploaded by Jônatas Ferreira de Lima Souza on 19 November 2020.
É bem curioso saber que houve, como o autor chama, de um renascimento cultural na
Alta Idade Media. Isso porque, sabemos que os renascentistas desprestigiaram a Idade Média.
É verdade que alguns historiadores já estão quebrando tal ruptura criada entre os modernos e
os medievais (ainda falta muito). No entanto o que quero dizer é que, imaginemos um
renascentista tachando a Idade Média... (rústica, atrasada, desumana, etc.), digamos que hoje
sabemos que no que foi chamado de Baixa Idade Média, notamos diversas inovações na
arquitetura e principalmente nas relações comerciais. Seria bem mais tranqüilo convencer esse
renascentista de que houve algum renascimento nesse período medieval. Mas um
renascimento na Alta... seria bem mais difícil de se compreender devido a especificidade1 do
local onde Baschet o situa, ou seja, na corte de Carlos Mago. Nesse caso concordo quando
ele, o autor, diz: “renascimento carolíngio”.
Esse renascimento ocorreu nos campos “do pensamento, do livro e da liturgia”. O
centro desse renascimento, como já dito anteriormente, é a corte de Carlos Magno e,
posteriormente a de seu filho, Luís, “o Piedoso”. Para essas cortes dirigiam-se os grandes
letrados que se propunham a servir o imperador e mesmo recebendo cargos eclesiásticos,
1
Quero dizer que é um local bem especifico, diferente do que ocorreu na Baixa com a amplitude do comércio, as
feiras e posteriormente com a ascensão da burguesia, etc.
continuavam a servi-lo. Carlos Magno inventou (imaginário popular), segundo o autor, a
escola e tornou-se o primeiro imperador a saber ler, o que também lhe dava grande prestígio
na época (mas não sabia escrever). O principal objetivo dos letrados carolíngios é o de ler e
difundir os textos fundamentais do cristianismo – seriam as escrituras Sagradas (trabalho de
revisões), manuscritos litúrgicos utilizados na celebração do culto (sacramentário) e textos da
literatura cristã. Outro elemento dessa produção cultural é a difusão de uma escrita. Escrita
esta que como o autor cita: “Por uma bela ironia da história, essa caligrafia maravilhará os
humanistas do século XV, que a tomarão, por vezes, por uma criação da Antiguidade clássica
e a utilizarão para desenhar os primeiros caracteres de impressão.” Outra produção seria a
difusão do hábito de separar as palavras, em frases, graças a um método de pontuação,
totalmente inovador, uma vez que não se tinha feito isso até o momento. Isso é o que Baschet
chama de “grandes avanços na história das técnicas intelectuais.” Nesse momento surge como
“atividade” essencial a compilação (scriptoria) realizada por monges em seus mosteiros. De
acordo com Baschet, estima-se que cerca de 50 mil manuscritos foram copiados na Europa do
século IX. Vale lembrar que esses manuscritos correspondiam, em maioria, a necessidade do
culto cristão e uma minoria a textos (literatura) latinos clássicos. Um dos motivos nesse caso é
a aprendizagem do “bom latim”. Para isso, enfocava-se a manutenção dessas regras, fazendo
com que as principais disciplinas ministradas do saber carolíngio sejam a gramática e a
retórica. Em todo caso o latim (versão corrigida do clássico) torna-se língua oficial do meio
eclesiástico (erudita) e para a população tradução para as “línguas vulgares”. A Idade Média
no geral torna-se “bilíngüe”. Segundo o autor, “essa dualidade lingüística aprofunda, então o
fosso entre os clérigos e os laicos, assegurando, ao mesmo tempo, uma unidade marcante à
Igreja ocidental.” Em resumo, a reforma litúrgica, que homogeneizou os ritos cristãos no
Império, foi a mais expressiva obra dessa reforma carolíngia. Outras seriam: A arquitetura –
igrejas mais imponentes; ampliação da liturgia e capelas para associar culto a Cristo e aos
santos; incrementarão das imagens dos santos.
De toda forma, como menciona Baschet, “a experiência carolíngia foi de curta
duração.” Mesmo com a continuidade dessas reformas no reinado de Luis, “o piedoso” e
posteriores, dificuldades apareceram, principalmente as causadas pelas invasões normandas
(externo) e atritos internos ao Império – revoltas e manutenção comprometida. Finaliza
Baschet: “Parece mais razoável, então, perceber o episódio carolíngio como sendo, ao mesmo
tempo, o resultado das transformações dos séculos da Alta Idade Média e uma primeira
síntese que prepara o despontar dos séculos posteriores da Idade Média.”