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História Política na Época Medieval

Os reinos bárbaros
Situação dos reinos bárbaros em 476:
· Reino Visigodo de Toledo;
· Reino Suevo na Galiza;
· Vândalos (com alguns grupos de Alanos) no Norte de África;
· Burgúndios na parte oriental da Gália;

Aproveitaram depois o vazio de poder:


· Ostrogodos, implantados na Itália;
· Francos, no Norte da Gália;
· Anglo-Saxões, na Grã-Bretanha;

Nesta altura, também Bávaros, Lombardos e Alamanos se iam movimentando na


Panónia e actuais Áustria e Suiça.
Os reinos bárbaros foram um mosaico de domínios, nem sempre estáveis e
duradouros, pois em poucos casos foi atingida a maturidade política e institucional.
Estes povos eram iliterados, tinham uma organização rudimentar, eram
maioritariamente nómadas, organizados em grupos guerreiros que, desde finais do
século IV, pretendiam fixar-se e dominar espaços e populações profundamente
romanizados.
Um dos primeiros povos a consegui-lo foi o Visigodo, o primeiro a penetrar em massa
no Império Romano, pelo Oriente, fixando-se no Sul da Gália, após terem saqueado
Roma e terem estado na Hispania, tentando passar, sem sucesso, para o Norte de África.
Em 416, acordaram com Roma o tratado de federação, sendo assim fundado o reino de
Toulouse.
A constituição de outros reinos resultou do rompimento do limes romano do Reno em
406 e da penetração de Suevos, Vândalos e Burgúndios na Gália e Hispania.
O reino Suevo, na Galiza, foi reconhecido como federado em 433-438. Aí também
haviam estado os Vândalos, que se deslocaram para a Bética, de onde passaram para
África em 429, onde ocuparam grande parte do Norte deste continente, alcançando o
estatuto de federado em 435.
A ocupação burgúndia foi de menor alcance, tendo-se fixado e constituído o seu reino
(411) na actual zona francófona da Suiça e vale do Ródano (Lyon).
Estes reinos sobreviveriam ao Império Romano do Ocidente, tendo-se organizado de
acordo com as directrizes das instituições imperiais. Quando estas desapareceram, não
parou a constituição de novas entidades políticas.
Depois de 476, surgiram novas monarquias bárbaras, que a par das já existentes eram
as únicas referências políticas válidas do Ocidente.
O vazio de poder em Itália foi aproveitado pelos Ostrogodos, durante o reinado de
Teodorico, que foi entronizado em Roma no ano 500.
Ao mesmo tempo, os Francos, dirigidos por Clóvis, ocuparam todo o Norte da Gália.
Depois, pouco a pouco, foram derrotando Alamanos, Burgúndios e Visigodos, que se
submeteram aos invasores e abandonaram a Gália.
Assim nasceu aquele que viria a ser o maior e mais duradouro dos reinos bárbaros, o
reino Franco, governado pelos sucessores de Clóvis, a dinastia Merovíngia.
Como consequência desta alteração no panorama político surgiu o reino Visigodo de
Toledo. Derrotados em Vouillé, em 507, pelos Francos, os Visigodos passaram para a
Hispania,
constituindo aí, com a ajuda dos Ostrogodos da Itália, o seu reino, com capital em
Toledo.
Assim, no princípio do século VI o protagonismo político no Ocidente pertencia a
quatro reinos bárbaros. No entanto, ainda na primeira metade do século VI, o reino
Ostrogodo
da Itália e Vândalo do Norte de África desapareceriam, devido à contra-ofensiva do
Império
Bizantino. Em sentido oposto, o reino Franco e Visigodo puderam então desenvolver-se
política e territorialmente.
Na Inglaterra, por esta altura, havia um conjunto de sete reinos, muito pequenos e
instáveis (Nortumbria, Anglia Oriental, Mercia, Essex, Sussex, Wessex e Kent), que
surgiramcomo consequência da invasão marítima dos Anglos, Jutos e Saxões da Grã-
Bretanha.
O processo de formação destes reinos foi bastante lento, tal como as invasões, que só
terminariam no final do século VI. A resistência dos bretões só terminou no fim do
século VII,
tendo então começado um processo de unificação dos reinos.
Na segunda metade do século VI os Lombardos conquistaram a Itália. O reino
Lombardo teve sempre uma situação política muito instável, devido à configuração
política
complexa da Península Itálica: possessões do Império Bizantino no Sul e Este e
autoridade do
Papa em Roma.
Área geográfica correspondente aos reinos bárbaros
· Visigodo:
- reino Visigodo de Toulouse: zona da Gália localizada entre Loire, Pirenéus, fachada
atlântica e Ródano e todo o Sul da Gália mais toda a Península Ibérica à excepção de
algumas zonas bascas no Norte, bizantinas no Sul e do reino Suevo (Galiza).
- reino Visigodo de Toledo: toda a Península Ibérica à excepção do reino Suevo
(Galiza), até 585 (a partir dessa data, toda a Península Ibérica) e Septimânia (Sul da
Gália).
· Ostrogodo: Península Itálica, Sicília, Dalmácia, Panónia e parte oriental da
Narbonense.
· Suevo: Galécia e parte da Lusitânia até perto do Tejo.
· Vândalo: Norte de África (actuais zonas Norte da Argélia, Tunísia e Líbia).
· Saxão: Grã-Bretanha à excepção da Escócia.
· Franco: toda a Gália à excepção da Septimânia mais a Austrásia, Frísia, Suábia e
Turíngia.
· Lombardo: toda a Península Itálica à excepção dos territórios do Papa (em volta de
Roma) e das possessões bizantinas no Sul (Ducado de Calábria e zona de Nápoles-
Amalfi).
· Bávaro: actual zona da Baviera e parte da Áustria.
· Burgúndio: zona entre o vale do Ródano e os Alpes, região mais tarde conhecida como
Borgonha.
· Wessex: sudoeste da Grã-Bretanha.
· Sussex: zona sudeste da Grã-Bretanha entre os reinos de Wessex (a ocidente) e Kent (a
oriente).
· Essex: zona oriental da Grã-Bretanha, a norte do reino de Kent e a sul da Anglia
Oriental.
· Kent: extremo sudeste da Grã-Bretanha.
· Nortumbria: zona da Grã-Bretanha situada entre a Escócia (a Norte) e o reino da
Mércia (a Sul).
· Anglia Oriental: zona oriental da Grã-Bretanha que actualmente corresponde aos
condados de Norfolk e Suffolk.
· Mercia: região dos Midlands, delimitada a Norte pela Nortumbria, a Leste pela Anglia
Oriental, a Este por Gales e a Sul por Wessex, Sussex e Essex.

A chegada ao poder dos carolíngios


A partir da morte de Clóvis, em 511, e da primeira divisão do reino Franco pelos seus
filhos, ficou praticamente configurada a situação deste reino para os séculos seguintes,
marcada pelo fortalecimento de uma série de unidades políticas que ou lutavam entre si
constantemente para alcançar a hegemonia sobre as outras ou, no caso de outras,
procuravam manter a sua autonomia. Entre as primeiras, destacavam-se a Austrásia e a
Neustria. Quanto às outras, são dignas de referência a Aquitânia e a Borgonha (muito
contribuía para esta situação o facto de serem duas das regiões mais romanizadas da
Gália).
Desde o século VI que a história do reino Franco foi marcada pela rivalidade entre a
Austrásia e a Neustria pelo alcance da hegemonia, caracterizada por variadas lutas e
manobras políticas. Houve também uma grande luta pela parte dos descendentes de
Clóvis pela recuperação da unidade do reino, no que se destacou Dagoberto I (600-639),
o último rei merovíngio a reunir sob a mesma coroa a Austrásia, Neustria e Aquitânia.
A sua morte levou a nova repartição do reino pelos seus filhos. A decadência definitiva
da dinastia dos reis merovíngios foi então marcada pela inexistência de unidade política,
passagem à vigência de regime electivo para escolha do soberano (apesar de por vezes
se manter o respeito pela linhagem) e crescimento do poder da aristocracia. De destacar
que se até meados do século VII as iniciativas de unificação política do reino Franco
partiam normalmente da Neustria, a partir dessa altura foi muito mais a Austrásia a
procurar impor-se.
A partir de meados do século VII outros factores há para justificar a decadência dos
merovíngios, como as menoridades régias e algumas mortes de infantes a pouco tempo
de iniciarem o seu governo, o que conduziu a diversas situações de vazio de poder.
Como consequência, este acabou por ser exercido na prática por nobres liderados pelo
mordomo do palácio, que o executará como se fosse um rei absoluto.
O principal factor da decadência merovíngia é, no entanto, o desenvolvimento da
aristocracia laica e religiosa, cujo poder socioeconómico emanava das doações
territoriais feitas pelos reis. Estes nobres acumularam privilégios e mostraram sempre
ambição de poder e o desejo de manutenção da situação política que os favorecia.
Depois da morte de Dagoberto I (639) impôs-se definitivamente o poder da aristocracia
nos reinos da Austrásia,
Neustria e Borgonha. A figura do rei encontrava-se ocultada atrás da do mordomo do
palácio.
A ausência de poder político do rei era também consequência da sua falta de poder
económico e fundiário, devido à diminuição das receitas fiscais e às suas cessões de
terra. O seu papel no cenário institucional limitava-se praticamente aos aspectos formais
da abertura da assembleia anual dos francos, permanecendo o resto do ano recolhido nas
suas villas.
Durante o reinado de Clotario II (antes de Dagoberto I: 584-629) a figura do mordomo
do palácio adquiriu personalidade própria, ao tornar-se o representante do rei nos reinos
em que este não se encontrava. Assim, Austrásia, Neustria e Borgonha tinham o seu
próprio mordomo. No entanto, nos últimos anos deste reinado, Clotário assistiu à
resistência da nobreza da Borgonha à figura do mordomo, o que revela o poder da
aristocracia nesta região. Assim, a partir de 626 não houve mordomo no palácio da
Borgonha, sendo que desde 642 este cargo existia apenas na Austrásia e Neustria.
Na Austrásia, duas famílias terratenentes destacaram-se durante a luta entre Clotário
II da Neustria e Brunequilda (que pretendia impor os sucessores reis da Austrásia). Na
altura das recompensas, Arnulfo, chefe de uma dessas famílias, recebeu o bispado de
Metz e diversos cargos palacianos. Já Pepino de Landen, chefe de outra família, foi
nomeado mordomo do palácio da Neustria. Isto pôs em evidência a hegemonia da
aristocracia da austrasiana sobre a Austrásia e Neustria. Este facto seria reforçado com a
união das duas famílias já referidas, através do casamento dum filho de Arnulfo com
uma filha de Pepino, dando origem a uma verdadeira dinastia de mordomos de palácio.
A partir de meados do século VII, diversos descendentes de Arnulfo e Pepino de
Landen tiveram um importante papel de apoio à igreja, através da sua dedicação à vida
monástica e da construção de templos. Por esses motivos, vários foram pepinidas
santificados, contrastando estes com o paganismo das origens da dinastia merovíngia
cujo primeiro rei,
Meroveu, segundo a lenda, havia sido criado por um monstro marítimo, encarnando, tal
como os seus sucessores, as suas qualidades.
À morte de Pepino de Heristal (714), mordomo do palácio da Austrásia, foi designado
seu sucessor um seu neto, Teodoaldo, que tinha apenas seis anos, ficando a governar
como regente a sua avó Plectruda, dando origem a revoltas dos nobres. Assim, na
Neustria, a nobreza nomeou o seu próprio mordomo, Regenfredo, para dirigir os ataques
contra a Austrásia. Este, em 715, venceu Teodoaldo e Plectruda em Compiegne. Mas
faltava ainda uma vitória definitiva contra a Austrásia, que aconteceria em 716, quando
um exército neustriano marchou contra Colónia e saqueou uma parte do tesouro de
Pepino. Esta derrota demonstrou a fragilidade das fidelidades com que Plectruda julgava
poder contar e agudizou a hegemonia da Neustria. A situação só viria a inverter-se
graças à acção de Carlos Martel, filho ilegítimo de Pepino de Heristal que, encarregado
de liderar a reacção austrasiana contra a Neustria, a conseguiu derrotar em Venchy em
717. Então, Plectruda entregou a Carlos o que restava do tesouro de Pepino e este foi
nomeado mordomo do palácio da Austrásia.
A tarefa de Carlos Martel à frente do governo da Austrásia tinha duas vertentes
fundamentais: o restabelecimento da ordem após anos de anarquia e a consolidação do
estado franco em todas as suas vertentes. A Oriente, impulsionou diversas construções e
a colonização franca, para assegurar a segurança dos limites leste do reino. Realizou
também diversas campanhas militares, contra os saxões, cujo objectivo era conquistar a
evangelizar, o que levou ao início, em 722 do início das relações entre Carlos Martel e o
pontificado, prelúdio da instalação dos carolíngios no trono dos merovíngios que
aconteceria alguns anos depois.
Quanto à Neustria, Carlos tratou de destituir e expulsar de todos os cargos todos os
que haviam sido nomeados por Regenfredo, substituindo-os por homens da sua
confiança.
A questão da Aquitânia era diferente, visto que a decadência dos reis merovíngios
levou a que aí se fortalecesse uma aristocracia forte que, na figura do duque, era o
garante da sua independência. No entanto, o domínio da Aquitânia não deixava de ser
um objectivo de Carlos Martel que manteve, apesar disso, uma posição prudente quanto
a esta região.
Em 711, os muçulmanos entraram na Península Ibérica e conquistaram-na, ao derrotar
o rei visigodo Rodrigo. Alguns anos depois, prosseguiram o seu avanço para o outro
lado dos Pirenéus, ocupando Narbonne em 720, sob a liderança de al-Samh, que
morreria no ano seguinte ao tentar conquistar Toulouse. Em 730, Abd al-Rahman
adoptou as disposições necessárias para a realização de novas campanhas contra o reino
Franco, tendo como objectivo vingar a derrota que sofrera dez anos antes e ocupar a
zona do vale do Loire. Então, Eudes, o duque da Aquitânia, entrou em contacto com o
governador muçulmano da Sardenha, que estava de relações cortadas com Córdoba. Tal
levou Carlos Martel a acusar Eudes de traição e a preparar, em 731, uma campanha para
atacar a Aquitânia. No entanto, a notícia de que novas forças muçulmanas estariam para
chegar, levou Carlos Martel a deter tal operação.
Em 732, as tropas muçulmanas não tiveram dificuldade em cercar Bordéus e derrotar o
duque da Aquitânia, que pediu auxílio a Carlos Martel, que prontamente lhe acudiu. Os
islâmicos saquearam Poitiers e dirigiam-se a Tours quando se depararam com as tropas
lideradas por Carlos Martel, que os derrotaram na Batalha de Poitiers. Esta vitória
franca significou o fim do avanço muçulmano no reino Franco (ainda tentaram, em 734,
conquistar o vale do Ródano, mas foram facilmente derrotados; em 759, a sua linha
máxima de influência situava-se nos Pirenéus) e a consagração do domínio de Carlos
Martel sobre a Aquitânia, visto que o seu duque (filho de Eudes) lhe jurou fidelidade.
Nos anos seguintes, Carlos Martel saiu vitorioso de conflitos militares na Borgonha,
Provença e Frísia (devido a revoltas da aristocracia).
Uma demonstração do alcance do poder de Carlos Martel a partir da vitória em
Poitiers é o facto de após a morte do rei Teodorico IV (737), o mordomo do palácio não
ter designado nenhum sucessor.
Uma questão delicada durante o período de governo de Carlos Martel foi a sua relação
com a igreja, que o acusou de ser um espoliador do património eclesiástico e
condicionador da liberdade de acção da igreja na nomeação de indivíduos para cargos
na sua própria hierarquia.
Isto aconteceu porque Carlos Martel, para compensar os nobres que o auxiliaram nas
suas conquistas militares, para além de os presentear com somas em dinheiro deu-lhes
terras, sendo algumas provenientes das conquistas e outras retiradas ao património da
igreja, a principal terratenente do reino Franco. Para além disso, foi frequente a
interferência do mordomo do palácio da Austrásia na nomeação de bispos e abades,
colocando nestes cargos homens que lhe eram próximos mas que, aos olhos da igreja,
não tinham o perfil indicado para o exercício das funções (de notar que o papa não
acudia à igreja franca, dado que era do seu interesse manter boas relações com Carlos
Martel, pois poderia ter que recorrer ao seu auxílio para conter o avanço dos Lombardos
sobre a Itália).
Carlos Martel morre em 741, repartindo os seus domínios pelos filhos, ficando o mais
velho, Carloman, mordomo do palácio da Austrásia e governador da Alemanha e
Turíngia, o segundo, Pepino (o Breve), mordomo do palácio da Neustria e governador
da Borgonha e Provença e o mais novo, Grifon, recebeu alguns territórios dispersos pelo
reino. Estes haviam sido criados pelos monges de Saint-Denis, o que influenciaria
bastante as suas personalidades e levaria ao surgimento de um novo conceito de realeza,
assumida por Pepino na expressão “O Senhor confiou em nós a tarefa do governo”.
Esta divisão territorial não se manteve por muito tempo, dado que Carloman e Pepino
prenderam Grifon e repartiram entre si os seus territórios.
O poder de Carloman e Pepino foi contestado pela aristocracia, dado que não haviam
sido nomeados por um rei, pelo que alegavam que os mesmos não tinham legitimidade
para ocupar tais cargos. Então, para evitar problemas, os dois irmãos escolheram para
rei o merovíngio Childerico III, o que serviu para restaurar a legalidade, dissolver as
dúvidas sobre a legitimidade dos mordomos e garantir a legalidade dos súbditos face ao
governo.
Um dos problemas que os irmãos procuraram resolver em conjunto foi o das terras
confiscadas à igreja durante o governo de Carlos Martel, tendo sido encontrada uma
solução:
essas propriedades não eram retiradas aos donos, mas estes tinham de pagar por elas
uma renda à igreja.
Em 747, por motivos não conhecidos, Carloman decide dedicar-se à vida monástica,
passando os seus domínios para as mãos de Pepino, que concentrava então em si todo o
poder da família.
Começou a formar-se na mente de Pepino a ideia de que só a sua nomeação como rei
poderia ser realmente um facto de agregação entre todos os francos, dado que os
merovíngios já não tinham qualquer prestígio.
Pepino tratou de preparar o seu golpe de usurpação com toda a cautela, procurando
os apoios necessários para o fazer. Tinha noção que não podia acusar a dinastia
merovíngia de ser pagã, porque na realidade era cristã, mas tratou de denunciar as
tradições de origem pagã a que nunca havia renunciado, ao mesmo tempo que exaltava
a santidade dos seus antepassados.
O papa da altura, Zacarias, encontrava-se em sérias dificuldades devido à presença dos
lombardos na Itália. Pepino, notando a situação complicada do papado, percebeu que
aquele era o momento ideal para obter o apoio do pontífice para a sua causa (a troco,
naturalmente,
da sua ajuda). Então, em 751, é enviada a Roma uma embaixada de Pepino que
confronta Zacarias com as questões: “É justo que se chame rei a quem a única coisa que
tem é esse título, em vez de possuir todos os poderes?” e “Deve ser rei dos francos que
o é nominalmente (Childerico III) ou quem efectivamente tem o poder (Pepino)?”. A
resposta do papa foi a seguinte: “A ordem das coisas neste mundo determina, conforme
a vontade divina, que ostente o título de rei quem tenha conseguido obter o poder em
vez de quem não tenha sido capaz de o conservar”. Face a esta situação, Pepino convoca
no final do mesmo ano uma assembleia da aristocracia, que depôs Childerico III e o
nomeou rei dos francos, como Pepino III. Inicia-se a dinastia dos reis carolíngios.
Em 752 morre Zacarias e sucede-lhe Estêvão II, que no ano seguinte pediria ajuda a
Pepino para combater os lombardos. Pepino foi nomeado em 754 “Defensor de São
Pedro” e “Patrício dos Romanos”, sendo sua obrigação proteger Roma. O papa decretou
a proibição, sob pena de excomunhão, da nomeação de reis dos francos que não fossem
sucessores de Pepino. Foram então efectuadas duas campanhas, em 754 e 756, em que
os lombardos foram derrotados. Pepino entregou ao papa os territórios conquistados,
surgindo assim os Estados Pontifícios.
Em 759 Pepino expulsa definitivamente os muçulmanos Septimânia, delimitando
definitivamente a sua linha máxima de influência nos Pirenéus.
Quanto à Aquitânia, foram organizadas expedições para a conquistar desde 760, o que
aconteceria em 768 com a ocupação de Bordéus. O assassinato do duque da Aquitânia
permitiu a Pepino a nomeação de condes francos para a região, que lhe eram fiéis.
Relativamente à reforma da igreja, Pepino decretou a devolução à mesma de algumas
das terras expropriadas por Carlos Martel, regulamentou a entrega da décima parte das
rendas à igreja e o descanso ao domingo. Quanto à intervenção do rei nas nomeações
para cargos clericais, não houve alterações significativas, porque era importante para
Pepino III manter o controlo de alguns territórios eclesiásticos.
Em 768, morre Pepino III, dividindo o seu reino pelos filhos Carlos e Carloman.

O Império Carolíngio
À morte de Pepino o Breve, o seu reino foi dividido pelos seus dois filhos: Carlos
recebeu o litoral da Aquitânia, parte da Neustria e Austrásia, as zonas fronteiriças da
Frísia e a Turíngia; Carloman recebeu áreas mais mais marginais: Alemanha, Alsácia,
Aquitânia interior, Septimânia e Provença.
Em 771, morre Carloman, o que permitiu a Carlos reunificar o Regnum francorum.
Dilatatio Christianitatis (771-814)

A política expansionista de Carlos Magno tinha essencialmente os seguintes objectivos:


· abastecimento dos cofres reais através dos saques e dos tributos a que os povos
invadidos ficavam submetidos;
· controlo da aristocracia, ao assegurar-se a sua colaboração submissa;
· defesa das invasões de povos bárbaros (saxões, normandos…);
· expansão da fé cristã.
A conquista da Saxónia foi a grande campanha militar do reinado de Carlos Magno. Os
saxões, apesar de teoricamente reconhecerem a hegemonia dos francos e de lhes
pagarem tributos, na realidade faziam várias expedições em que saqueavam as
populações francas do vale do Reno. Era a esta situação que CM queria por cobro.
Assim, em 772 começou a luta pela conquista da Saxónia, que duraria mais de trinta
anos. Foram promulgadas durante esse período vária Capitulares Saxónias, que
instauraram um regime de terror na região, tendo sido através destas que se conseguiu a
pacificação. A par disso, procedeu-se à cristianização da Saxónia, que foi bastante
célere. Em 802, por fim, a Lex Saxonum determinou a organização administrativa da
região, sendo respeitados vários dos seus costumes antigos e introduzidos aspectos do
direito franco.
O duque da Baviera era vassalo de Pepino o Breve desde 757, mas levava a cabo uma
política de autonomia. Então, Carlos Magno convocou-o em 787 para renovar o seu
juramento de fidelidade, mas acabou por o acusar de traição, por ora estar a favor dos
lombardos ora com os ávaros. O duque foi deposto e as suas terras divididas em
condados integrados no reino franco.
A bacia média do Danúbio encontrava-se ocupada pelos ávaros desde o século VI. Este
povo fazia bastantes saques e pilhagens, espalhando o terror no centro da Europa. A
partir da Itália, Carlos Magno realizou várias expedições contra os avaros, apropriando-
se dos seus territórios em 796, que a partir daí foram evangelizados (criação do
arcebispado de Salzburgo).
A intervenção de Carlos Magno na Itália foi fundamental na sua expansão militar, dado
que era o que estava na origem da aliança do papado com a dinastia carolíngia. Em 773,
Carlos Magno interveio na Itália a pedido do papa Adriano I, ameaçado pelo rei
lombardo Desidério. Nesse ano, atravessou os Alpes, e cercou Desidério em Pavia,
capital do seu reino, que se rendeu em
774. Carlos Magno anexou também o ducado de Spoleto e foi proclamado rei. Foi
depois a Roma, onde renovou a aliança com o papado e recebeu o título de Patrício dos
Romanos. Em 781 a coroa de Itália passou para as mãos de Pepino, filho de Carlos
Magno.
Em 777 Carlos Magno recebeu os governadores muçulmanos de Saragoça e Barcelona,
que procuravam apoio para combater o emir de Córdoba. Esta seria para CM uma
oportunidade para estender o seu reino até ao vale do Ebro. Realizou então uma
expedição a Saragoça, em 778, mas foi traído, dado que o governador da cidade não lhe
abriu as portas da mesma. Forçado a retirar-se, a retaguarda das suas tropas, no regresso,
foi atacada por grupos de bascos.
Este fracasso na Hispania serviu para confirmar a importância da Aquitânia, a quem
Carlos Magno concedeu o estatuto de reino em 781, colocando à sua frente o seu filho
Luís, que a partir dessa altura foi o responsável pela expansão franca na Península
Ibérica. A sua estratégia passou por atrair para a sua causa os cristãos que se
encontravam submetidos aos muçulmanos. Dessa forma, conseguiu ocupar diversas
cidades do Norte da Hispania, com destaque para Gerona (795) e Barcelona (801). No
final do reinado de CM estas expedições já chegavam a Tarragona e Tortosa. Era assim
criada a Marca Hispanica Carolíngia, limite defensivo do império, constituída por
Navarra e pela Catalunha, ainda assim independentes.
Em 790, Carlos Magno definiu o limes britannicus, criando-se a Marca da Bretanha,
com o objectivo de para aí direccionar os invasores celtas vindos das ilhas britânicas.
Durante a conquista da Saxónia os francos entraram em contacto com os
dinamarqueses, que tinham o seu limes de carácter defensivo contra os ávaros bem
definido.
Após a conquista da região e a expulsão dos ávaros aí foi criada a Marca da Dinamarca.

A coroação imperial de Carlos Magno


Na última década do século VIII começou a vislumbrar-se claramente a ideia de
restaurar o título imperial no Ocidente. O principal motivo era o prestígio da dinastia
carolíngia e, principalmente, da figura de Carlos Magno, convertido na cabeça política
da Cristandade devido ao seu génio militar e capacidade de organização. Para além
disso, a sua inabalável defesa da igreja não se enquadrava no “simples” título de rei.
Vários pensadores políticos teorizaram a ideia de supremacia do reino franco no
Ocidente, não se resignando com a ideia de Constantinopla ser a sede de um império.
Assim, na capela e palácio real de Carlos Magno começou a ser utilizada simbologia
que caracterizava o rei como intermediário entre o céu e a Terra e como máximo
representante de Deus.
Esta superioridade teórica de Carlos Magno veio a confirmar-se quando, em 799, o
papa Leão III se encontrou na complicada situação de ser acusado de adultério e outros
crimes pelo povo romano, o que o levou a solicitar a ajuda do rei dos francos como
“patrício dos romanos”. Este desloca-se a Roma em Novembro de 800, tendo aí
resolvido a querela entre o Papa e os seus inimigos. Essa circunstância foi aproveitada
pelo Papa Leão III para mostrar a sua gratidão a Carlos Magno, tendo-lhe parecido
lógico a sua coroação, dado que este dominava todo o Ocidente, incluindo Roma.
Desta forma, a 25 de Dezembro de 800, durante a missa do galo, em Roma, Leão III
coroou Carlos Magno imperador. A cerimónia seguiu o ritual bizantino, mas em ordem
inversa: o rei dos francos foi primeiro coroado e só depois aclamado pelo povo.
Esta coroação deveria mostrar a superioridade política e religiosa de Carlos Magno no
Ocidente, mas a ordem do ritual veio revelar que cabia ao papado outorgar a coroa
imperial.
Carlos Magno teria preferido auto-coroar-se, pois prostrar-se de joelhos perante o papa
era um sinal de humilhação e dependência. Estas circunstâncias abriram, portanto, um
precedente que indiciava que as relações entre poder político e religioso poderiam, no
futuro, vir a ser conflituosas.

A noção de monarquia
Carlos Magno procurou fazer do Estado uma espécie de transposição da “Cidade de
Deus” de Santo Agostinho, que funcionou como uma espécie de manual político. A
monarquia carolíngia converteu-se, assim, numa monarquia de direito divino em que os
reis são mandatários de Deus e são reis pela graça de Deus.
A subordinação do poder político ao espiritual tornou-se problemática como
consequência da crise da instituição papal. Por volta de 800, o papel preponderante de
Carlos Magno sobre o conjunto da sociedade cristã era indiscutível. Este nomeou
bispos, interveio na reforma do clero, associou as conquistas militares a evangelização,
legislou sobre questões religiosas e protegeu o papa.
Pelo contrário, com o seu sucessor, Luís o Pio, a relação de poderes mudou
ligeiramente. O clero ganhou liberdade. É o poder religioso, representado pelos
episcopados, o encarregado de julgar os actos do poder político, que tem em Deus o
fundamento da sua autoridade, sendo que esta se expressa de variadas maneiras: castigo
dos infractores, protecção dos fracos e defesa da Igreja.
Carlos Magno concebia o título de imperador como algo pessoal. Assim se
compreende a forma como projectou a sua sucessão: em 806, decide que o império seja
dividido pelos seus filhos. O título imperial devia sempre vincular-se ao rei que, ao ter
maior força política e militar, se instituía como a cabeça da confederação de poderes
que formava o mapa do Ocidente. O seu filho, Luís o Pio, à morte dos irmãos, foi
coroado como único sucessor do Império Carolíngio, mantendo-se em aberto a
possibilidade da existência de pequenos reinos satélites, que estariam sempre
submetidos à autoridade imperial.
A partir do Tratado de Verdun, em 843, o princípio da unidade territorial do império
perdeu-se, ainda que a noção de império não. No entanto, quem ostentava o título de
imperador de meados do século IX a meados do século X fazia-o de maneira apenas
simbólica, sem nenhum poder efectivo.

Organismos de governo e instrumentos de poder

Quando se conclui a expansão territorial do Império Carolíngio o seu tamanho era tão
enorme, se relacionado com os meios administrativos disponíveis, não muito diferentes
dos existentes na época bárbara (séculos V e VI).
Os carolíngios, em geral, eram homens do Norte, que tendiam a centrar o seu poder
nas terras situadas entre o Reno, o Mosa e o Mosela, a partir de onde transmitiam as
suas ordens com facilidade para as regiões germânicas.
Era então necessário organizar o Império a partir de uma administração sólida,
centralizada, em todos os territórios. Estruturada de modo empírico, a organização do
Império foi mais bárbara do que romana, daí a sua debilidade. Apesar disso, os clérigos
do palácio trataram de a revestir de conceitos de tradição romana.

a) O centro teórico das instituições pelas quais se administrava o Império era uma
reduzida corte, o palatium, que aperfeiçoou e ampliou os cargos e órgãos consultivos e
administrativos de que já dispunha a monarquia merovíngia. Não havendo uma capital
fixa, o palatium acompanhava o rei nas suas deslocações, até que em 795 fixou-se em
Aix-la-Chapelle.
No topo do palatium destaca-se o arqui-capelão, encarregado dos assuntos
eclesiásticos do reino e da direcção da escola do palácio. Sob a sua autoridade estava
um grupo de homens instruídos que executavam diversas tarefas administrativas. A
chancelaria era a encarregada da redacção das cartas do rei, das disposições legais, da
guarda do selo, etc. O desaparecimento do cargo de mordomo deu maior relevo ao
comes palatii, que actuava como supervisor de todos os outros comités.

b) Como peça chave da administração territorial destacam-se os condes, que chegaram a


ser mais de 200. Estes eram escolhidos pelo imperador entre as grandes famílias da
região e tinham como funções fazer cumprir as disposições reais, presidir ao poder
judicial, gerir o dinheiro público, recrutar e liderar contingentes militares, etc. O
elevado prestígio da autoridade real levou a que o princípio do Estado fosse respeitado
e não se criassem linhagens de condes, que só surgiriam com a crise da monarquia
carolíngia.
Outras circunscrições administrativas carolíngias foram as que surgiram nas zonas de
fronteiras: as marcas. Estas abarcavam a extensão de vários condados, eram
governadas por um marquês e tinham grande autonomia.
A partir de 799/800 foi requerido aos missi dominici uma inspecção periódica à acção
da administração territorial. Estes tinham como funções a difusão das capitulares, a
recepção de denúncias de privados, a ajuda a necessitados, a investigação sobre
possíveis irregularidades da administração, o sancionamento de eventuais culpados, a
investigação sobre a actuação dos clérigos, etc.

c) Com Carlos Magno as assembleias políticas converteram-se em autênticas


instituições do governo central. Eram convocadas uma ou duas vezes por ano. As do
Outono eram mais restritas: só participavam nelas os principais conselheiros do rei. As
de Maio incluíam todos os homens livres do reino. Com Carlos Magno estas
assembleias tinham apenas carácter consultivo. Com a sua morte, acabaram por se
impor perante o monarca, sendo que as disposições delas emanadas eram resultado do
acordo entre o rei e os outros membros da assembleia.

d) A justiça era exercida de forma directa pelo imperador ou pelos seus intermediários.
No topo do sistema judicial encontrava-se o tribunal imperial, onde a autoridade do
soberano era exercida pelos comes palatii. Os tribunais normais eram presididos pelos
condes ou vicários por si nomeados e a sua área de jurisdição correspondia ao
condado.

e) As estruturas militares da Alta Idade Média sofreram grandes alterações com o


desenvolvimento das instituições feudovassálicas: o exército como “povo em armas”
não existia com os carolíngios. Na altura, os senhores cediam terras aos seus vassalos,
os benefícios, e em troca estes deveriam prestar-se ao serviço militar quando
chamados pelo rei. Supunha-se que os camponeses nele instalados gerassem rendas
que permitissem aos guerreiros custear a sua equipa de combate. Isto foi muito difícil
de cumprir na prática, pelo que a defesa e construção do império assentou
essencialmente nas relações de fidelidade pessoal dos vassalos para com Carlos
Magno.

f) Os mecanismos da fazenda carolíngia perderam os escassos elementos romanos que


haviam subsistido durante o período merovíngio. As principais fontes de receitas dos
monarcas eram as rendas provenientes dos seus domínios. Carlos Magno tratou de
supervisionar o ingresso das receitas, dando origem a registos das possessões
imperiais. As outras receitas eram demasiado aleatórias: alguns impostos indirectos
(portagens) e donativos.

O desmembramento do Império Carolíngio

Não é fácil determinar porque foi efémera a obra de Carlos Magno. Joseph R. Strayer
afirmava que o Império Carolíngio foi um milagre político e que, como todos os
milagres, não foi mais do que uma interrupção passageira do curso natural das coisas.
Apesar do cristianismo, faltou um elemento material que unisse verdadeiramente os
diferentes povos do império: o comércio entre as variadas regiões do Império era
escasso e as comunicações eram lentas e difíceis (colocando não só obstáculos ao
comércio como à actuação do governo central. Isto era uma consequência do carácter
continental deste império, ao contrário do romano, que tinha o seu centro de gravidade
no mar.
J. Dhondt aponta outras razões para o desmembramento do Império Carolíngio:
multiplicidade racial, variedade de línguas, tradições e costumes, tornaram muito difícil
a unificação. Ao mesmo tempo, a ambição da aristocracia e a falta de solidariedade das
classespopulares contribuíram para o ruir deste aparelho político.
G. Barraclough aponta ameaças tanto externas como internas para o império. Afirma
que apesar de Carlos Magno ter adquirido o título de imperador, esse título não
produziu qualquer efeito prático, pois não serviu para ser posto em marcha um
programa de governo que tentasse dar coesão às terras. O sistema de administração era
bastante rudimentar face à imensidão de terras do império. Para além disso, regiões
como a Lombardia, Baviera e terrados ávaros e saxões deram mais problemas depois de
conquistadas do que antes, principalmente na altura de nelas se tentar estabelecer um
aparelho administrativo.
Na última década do seu reinado, Carlos Magno deparou-se com ataques dos
dinamarqueses, pelo Norte, e sarracenos, pelo Sul, que continuaram incessantes ao
longo do século IX. A isso há que juntar a pressão dos húngaros, que efectuavam
verdadeiras razias na parte oriental do império. Esta segunda fase de invasões à Europa
Ocidental foi a gosta de água que fez cair um Estado já de si debilitado por tensões
internas.

A insuficiência das instituições de governo


As instituições administrativas criadas por Carlos Magno para reforçar a autoridade
real, assegurar a fidelidade dos condes e colocar ordem numa sociedade guerreira não
corresponderam aos desejos do seu criador. Este aparelho não terminou com as intrigas
políticas nem com as rebeliões e as inspecções dos missi dominici não proporcionaram o
que se esperava delas.
O conde, verdadeiro chefe de governo carolíngio, não funcionava propriamente como
um funcionário do poder central, dado que a sua principal preocupação estava
relacionada com os seus próprios rendimentos e não com servir o rei.
Os missi dominici, segundo todos os indicadores, não funcionaram como um sistema
de informação permanente, foram antes uma das primeiras medidas de emergência
tomadas por Carlos Magno para fazer face aos problemas crescentes dos últimos ano do
seu reinado.
As reformas de Luís o Pio e a guerra civil

Luís o Pio revelou desde o início do seu reinado, em 814, uma atitude em relação ao
império diferente da do seu pai. Educado entre os eclesiásticos da corte, Luís era mais
culto do que Carlos Magno e tinha uma visão política que contrastava profundamente
com a do seu pai. Para Luís o Pio a ideia imperial tinha um significado preciso e
concreto e devia estar associada a um programa de governo.
O programa imperial concretizou-se em 817, quando Luís adoptou as disposições que
constituem a Ordenatio Imperii. Segundo estas, os seus filhos mais jovens, Pepino e
Luís, receberiam respectivamente os reinos da Aquitânia e Baviera; o seu sobrinho
Bernardo seria rei de Itália; no entanto, todos eles estariam submetidos ao poder do
primogénito, Lotário, que era proclamado imperador com direitos sobre todo o conjunto
dos domínios francos.
A ideia de Luís provocou desde logo tensões, devido ao que tinha de novidade. A
Ordenatio Imperii era um conjunto de determinações demasiado teóricas de difícil
aplicação prática, pelo seu carácter de novidade, pelas dificuldades de constituição de
um Estado concebido dessa maneira, e pela pouca prudência com que havia sido
elaborada. De facto, Luís o Pio não contou com a possibilidade de ter mais filhos, o que
viria acontecer, aos 40 anos, quando ficou viúvo de Ermengarda e casou com Judite da
Baviera. Quando nasceu o seu filho mais novo, Carlos, a mãe, naturalmente, pediu para
ele um legado mais ou menos semelhante ao dos irmãos. A inevitável reforma das
disposições há muito tomadas levou ao descontentamento dos outros filhos do rei e à
guerra civil, iniciada em 829. Nesse ano, Luís decidiu criar para Carlos um novo reino,
no território da Alsácia, que fazia parte dos domínios destinados a Lotário. Este
revoltou-se, sendo que o mesmo foi feito pelos irmãos Pepino e Luís, temendo que
também viessem a ser prejudicados. Uma nova divisão, em 831, que deixava em
suspenso a situação de Lotário, também provocou novos problemas, levando à
deposição de Luís o Pio em 833 e posterior restauração em 835. Esta situação caótica
continuou até à morte do imperador em 840.

O Tratado de Verdun e as suas consequências


Quando Luís o Pio morreu já o seu filho Pepino havia falecido há dois anos. Então, a
herança paterna seria repartida por Carlos (que ficava com as terras de Pepino), Luís e
Lotário.
Carlos e Luís acharam por bem unirem-se contra o irmão Lotário, que queria reunir sob
a sua direcção toda a herança imperial, sem reconhecer os reinos autónomos. Essa união
foi selada em 842, e ficou conhecida como Juramento de Estrasburgo.
Em 843 seria assinado o Tratado de Verdun, pelos três irmãos, que não foi mais do que
a ratificação de uma divisão segundo a qual Carlos o Calvo era reconhecido como rei da
parte ocidental do antigo império, Luís o Germânico da Oriental e Lotário, titular da
dignidade imperial, soberano de um território entre ambos os reinos. Com este tratado
procurou-se assegurar a paz, apesar de se romper, de facto, com a unidade imperial.
Muito se disse sobre a inviabilidade do reino central de Lotário, que parecia estar
destinado a ser absorvido pelos vizinhos. No entanto, há que ter em conta que era lá que
se situavam as mais importantes cidades do antigo Império Carolíngio, como Roma e
Aix-la-Chapelle.
À morte de Lotário I, em 855, o seu reino é dividido: o filho mais velho, Luís II herda a
Itália e o título imperial; o segundo, Lotário II, fica com a Lotaríngia e o outro, Carlos,
recebe a Provença e Borgonha. Os três morreram sem descendência antes dos seus tios
Carlo o Calvo e Luís, o Germânico, que herdaram os seus territórios.
O título imperial estava então completamente desprestigiado, e assim se manteve até
à segunda metade do século X. Apesar disso, chegou a ser ostentado por algumas
personagens de relevo, como Carlos o Calvo e Carlos III o Gordo, que conseguiu uma
reunificação passageira do império.

O Sacro Império Romano Germânico


Dos três reinos em que se dividiu o império de Carlos Magno o germânico era o mais
oriental, sendo conhecido como Reino Franco Oriental ou Francia Orientalis. De 919 a
1024 foi governado pela dinastia saxónica ou liudolfina e chamou-se Império Otoniano.
Em 1024 ascendeu ao poder a casa ducal da Francónia, ficando a dinastia conhecida
como sálica. Até meados do século X o governo dos liudolfinos centrou-se na sua
própria sobrevivência. A conquista dos eslavos era essencial para as comunicações e
desenvolvimento das actividades económicas na Saxónia Oriental e Turíngia. A derrota
dos húngaros permitiu aos liudolfinos afirmar a hegemonia saxónica sobre os outros
ducados do reino, estender a sua influência para Este e, posteriormente, recuperar o
Império, através da incorporação da Itália.
Do Reino Franco Oriental ao Império Romano Germânico (919-1056)
No começo do século X, Luís IV o Menino foi o último representante da dinastia
carolíngia na Francia Orientalis. A sua morte provocou um vazio de poder perante um
cenário geográfico marcado pela fragmentação do reino em cinco grandes regiões:
Saxónia, Francónia, Baviera, Suábia e Lorena. Estas eram dominadas por uma forte
nobreza, que se fortaleceu com o declínio do prestígio da monarquia.
Os grandes conflitos bélicos causados pelos bávaros no século IX foram seguidos no
seguinte pelas invasões dos húngaros. Era então necessário unir os ducados perante
aquele inimigo comum.
Juntamente com os húngaros encontravam-se os eslavos. Estes povos eram o principal
problema de Luís IV o Menino à sua morte, em 911, pelo que esse acontecimento levou
a uma rápida resposta das casas ducais, com excepção da Lorena, que elegeram como
rei o duque da Francónia, Conrado I. Os seus êxitos militares iniciais não se traduziram
numa eficaz contenção do perigo húngaro, pelo que se pode considerar que este rei não
cumpriu as expectativas que nele se depositavam.
Conrado I tinha consciência de que a política unitária das casas ducais era a sua única
hipótese de sucesso frente aos húngaros e eslavos, pelo que antes da sua morte, para
evitar confrontos internos, sugeriu que para lhe suceder fosse eleito Henrique,
representante da casa da Saxónia.
Em 919 morreu Conrado I e ascendeu ao poder Henrique I, filho do duque Otão,
conselheiro de Luís IV o Menino. Assim se iniciou a dinastia otoniana.

A dinastia saxónica
Henrique I (919-936) foi um rei que prestigiou a coroa e preparou a sua recuperação e a
do Império. Inclusivamente, conseguiu integrar no seu reino a Lotaríngia, e com ela
Aix-la-Chapelle, símbolo do poder imperial carolíngio.
Este rei levou a cabo reformas militares para deter os húngaros, entre 924 e 933,
fortalecendo os centros urbanos, criando fortalezas militares e formando uma força de
cavalaria, essencial para combater estes povos pagãos. Esta política daria os seus
melhores resultados nos anos centrais do reinado do seu filho, Otão I.
Para além dos húngaros, Henrique I deparou-se com outros perigos: os
dinamarqueses, que pressionavam a Francia Orientalis através da marca do Norte; e os
eslavos, que constituíam um permanente perigo para a Alemania oriental. Os eslavos
foram derrotados em Lenzen, o que se traduziu na obtenção de tributos e na colonização
das terras conquistadas. Os êxitos militares e a magnitude da ameaça exterior levariam
alguns príncipes vizinhos a porem-se sob a soberania da Francia Orientalis, como é o
caso da Boémia.
A sucessão de Henrique I seguiu as normas carolíngias: para resolver os problemas
dinásticos, o rei associou ao trono em 929 o seu filho Otão, declarando-o seu sucessor.
No entanto, não seguiu a estratégia carolíngia de repartição da herança pelos filhos de
forma igualitária, o que viria a estar na origem de rebeliões dos irmãos mais novos de
Otão entre 936 e 941, pondo-se assim em causa a autoridade régia.
Otão I (936-972) foi coroado rei em Aix-la-Chapelle, e nessa cerimónia estiveram
presentes os duques da Lotaríngia, Baviera, Suábia e Francónia, que lhe prestaram
homenagem. No entanto, isto não significava a submissão total da nobreza face ao
poder régio. O prestígio da coroa tinha que ser conquistado pelo monarca.
Os primeiros anos do reinado de Otão foram marcados pela sua fragilidade. Os seus
irmãos Henrique e Thankmar consideravam-se candidatos alternativos ao trono e
sublevaram-se algumas vezes. Posteriormente, o seu próprio filho, Liudolfo, revoltou-
se, temendo que o casamento do seu pai com Adelaide da Itália o viesse a excluir da
sucessão ao trono. Depois, Otão deparou-se também com o levantamento do sálico
Conrado, seu genro. A esta fragilidade interna há que juntar a situação dos duques,
frequentemente revoltados e desleais.
Quando estes conflitos internos coincidiam com afrontamentos contra húngaros e
eslavos a coroa ficava realmente posta em causa. O rei foi efectuando algumas
concessões, procurando assim a concentração de forças para deter os perigos exteriores.
Muitos rebeldes foram castigados através do desterro, confiscação de bens e
execução. Isto levou ao fortalecimento da coroa, mas para que esta fosse realmente
respeitada era necessário uma grande vitória no campo militar. Esta viria a acontecer em
955, quando o exército húngaro foi destruído na batalha de Lechfeld, mudando
completamente a situação da Francia Orientalis.
Sensivelmente na mesma altura foram derrotados os eslavos no Elba e Oder. A
ampliação territorial da Francia Orientalis proporcionou a Otão terras para distribuir
pelos seus guerreiros, que assim ficavam a si submetidos. Paralelamente, ia-se
desenvolvendo o processo de evangelização dessas regiões.
Em meados do século XI Otão começou a sua expansão para o Sul. A morte do rei de
Itália Lotário, em 950, deixou viúva Adelaide, que perante a decisão d eBerengário de
Ivrea de assumir a coroa de Itália pediu ajuda a Otão. Em 951 o monarca germânico
marchou sobre Pavia e assumiu a coroa lombarda, designando-se rei dos francos e dos
lombardos. A sua legitimação como rei seria concretizada através do seu casamento
com Adelaide.
Esta manobra política de Otão não foi bem vista em Roma, tendo-lhe o papa negado a
atribuição do título imperial. Também não foi compreendida na Alemanha, onde as
revoltas nos diferentes ducados fizeram Otão regressar à sua terra para controlar a
situação.
Uma década depois, as ofensivas de Berengário II (marquês de Ivrea e pretendente a
rei de Itália) contra o ducado de Spoleto levaram o papa João XII a solicitar a ajuda de
Otão, sob o compromisso de lhe conceder o título imperial. Derrotado Berengário em
962, Otão é coroado imperador em Roma. No entanto, papa e imperador tinham
interesses diferentes. As conspirações do primeiro contra o segundo levaram a que Otão
depusesse o pontífice, em 963, nomeando para o seu lugar Leão VIII. O confronto entre
os dois papas só terminou com a morte de João XII pouco tempo depois. A agitação
política da Itália levou a que Otão se instalasse lá definitivamente. Então, procurou o
apoio dos grandes senhores, como o marquês da Toscana e o duque de Spoleto para
combater os bizantinos, instalados no Sul da Península Itálica e os muçulmanos, que
ocupavam a Sicília.
As ofensivas contra uns e outros provaram a fragilidade militar de Otão I o Grande
perante o Islão e o Império Bizantino. No entanto, com este último, conseguiu chegar a
um acordo diplomático, que se concretizou com o casamento do seu filho e sucessor
Otão com uma princesa bizantina, em 972. Otão regressa nesse ano à Alemanha.
Em 973 morre o imperador Otão I, rei dos francos, lombardos e burgúndios e senhor
da Polónia, Boémia e Hungria.
Otão II (973-983) dirigiu o império reunido pelo seu pai sem sofrer grandes
contestações ao seu poder, apesar de não terem desaparecido as revoltas, tanto internas
como externas, que praticamente já faziam parte da normalidade. O facto de o império
ser bastante amplo favorecia estas sublevações, principalmente nas zonas de conquista
recente.
Para além disso, no interior da Alemanha, os duques continuavam a provocar a
debilitação da coroa, mas a hereditariedade estava consolidada.
Esta instabilidade foi aproveitada por Lotário, rei dos francos ocidentais, que ocupou a
Lorena e saqueou Aix-la-Chapelle. Como resposta, o imperador invadiu a França,
chegando mesmo a Paris, onde foi parado por Hugo Capeto. A consequência foi o
controlo da Lorena por Otão II.
Restabelecida a ordem, este preocupou-se com a Itália, onde, com o apoio do marquês
da Toscana, tal como o seu pai, procurava enfrentar bizantinos e muçulmanos.
O dote de Teófana, a princesa bizantina com quem Otão II havia casado, incluía as
possessões bizantinas do Sul da Itália. Mas este território era bastante difícl de
controlar, pelo que foi necessário organizar uma expedição militar, em 983, cujos
resultados foram nulos.
Otão II pretendia também conquistar a Sicília e a Calábria aos muçulmanos, mas não o
conseguiu. Estas derrotas do imperador, já perto do final do seu reinado, deixaram o
império numa situação frágil, principalmente nas marcas, onde dinamarqueses, boémios
e polacos estavam dispostos a aproveitar a conjuntura.
A morte de Otão II em 983 deixou o império em condições frágeis e perigosas: uma
menoridade régia e duas imperatrizes viúvas (a mãe e a mulher de Otão); confrontos na
Baviera; pretensões de outros familiares de Otão. A Igreja controlou a situação,
apoiando Otão III, que viria a reinar entre 983 e 1002. Durante a sua menoridade foram
regentes Teófana e, à sua morte, Adelaide.
Otão III começou a governar de forma directa em 994, tendo no ano seguinte
derrotado os eslavos no Elba, passando a ocupar-se dos assuntos italianos. Em 996
morreu o papa João XV. Otão escolheu para lhe suceder o seu primo Bruno, que
adoptou o nome de Gregório V e que o viria a coroar imperador. Papa e imperador eram
então germânicos. Roma substituiu Aix-la-Chapelle como capital do império,
denominado Renovati Imperii Romanorum.
A nobreza romana não aceitou bem o facto de tanto o imperador como o papa serem
de origem germânica. Então, quando Otão voltou à Alemanha, a aristocracia romana
expulsou Gregório V e nomeou como papa João XVI. Em 998 Otão III vai a Roma e
repõe Gregório V, que morreria no ano seguinte. Nessa altura, o imperador escolheu
para sumo pontífice o francês Silvestre II.
Em 1002, inesperadamente, Otão III morreu, sem descendência. Sucedeu-lhe o seu
parente mais próximo, Henrique II da Baviera (1002-1024), fortemente contestado por
alguns sectores da aristocracia. A fragilidade da dinastia estava novamente posta a
descoberto, ao mesmo tempo que se fortalecia o princípio electivo da coroa.
Em 1004 foi escolhido um novo rei para a Itália, apoiado pela maior parte da
aristocracia. Isto levou Henrique II a organizar uma expedição militar ao território, que
culminou com a sua coroação como rei de Itália em Pavia.
Em 1013 voltou a invadir a Itália, para por termo aos confrontos entre a aristocracia que
interferia na nomeação papal. Controlada a situação, é coroado imperador em 1014.
Henrique II compreendeu que tinha que dominar a aristocracia, especialmente a
bávara, a maior fonte dos conflitos durante o seu reinado. Para controlar o seu território
procurou o apoio da Igreja, tendo-lhe para isso concedido direitos e terras, para além de
ter aumentado a riqueza dos mosteiros alemães e melhorado o sistema de eleição papal.
A colaboração com o papa Bento VIII permitiu ao imperador o controlo dos assuntos
da Igreja e da Itália central. Henrique II e o pontífice celebraram vários sínodos e
trataram de corrigir os dois principais males da Igreja: a simonia (venda de favores
divinos, cargos eclesiásticos, propriedades do clero, etc., a troco de dinheiro) e o
concubinato (envolvimento com mulheres) dos clérigos.
A fórmula imperial de Otão III, o renovatio imperii romanorum, foi substituída, com
Henrique II, pela de renovatio regni francorum. Esta maior dedicação aos assuntos da
Alemanha tinha essencialmente duas finalidades: a integração do ducado da Boémia e o
submetimento dos polacos e do seu monarca. Para além disso, proporcionou a futura
anexação da Borgonha (por ter sido designado sucessor de Roberto III à sua morte, que
aconteceria em 1032).
Henrique II morreu em 1024, sem herdeiros, extinguindo-se assim a linhagem
masculina saxónica, o que provocou uma mudança dinástica.

A dinastia sálica
A eleição de Conrado II (1024-1039), pertencente à casa da Francónia, iniciou a
dinastia sálica. Os apoios ao novo rei eram provenientes da pequena nobreza e das
linhagens condais, rompendo-se assim com a tradicional aliança entre monarca e
aristocracia ducal,
típica da dinastia saxónica. Isto levou Conrado II a uma mudança de táctica quanto à
forma de lidar com a aristocracia, por exemplo, face à rebelião do duque da Suábia,
tomou uma posição drástica: procurou e conseguiu a ruptura entre o duque e os seus
vassalos. Conrado II foi coroado imperador em 1027. A sua política tinha como
prioridade as marcas, e foi marcada tanto por êxitos como por fracassos. Conseguiu
controlar os polacos, mas não os dinamarqueses. No entanto, em Roma, firmou com
Canuto o Grande, rei da Dinamarca, a paz na fronteira Norte.
Conrado II, dado que se mantinha o sistema electivo de sucessão da coroa, associou ao
trono o seu filho, futuro Henrique III (1039-1056), casado com uma princesa
dinamarquesa, com objectivo de assegurar uma transição pacífica.
Henrique III prosseguiu a política do pai, intervindo na Boémia, Hungria e Itália, onde,
no Sul os bizantinos renasciam e os normandos atacavam o território meridional.
A mudança de atitude do seu pai relativamente aos ducados e grande aristocracia
obrigou Henrique III a exercer sobre estes uma forte autoridade, sendo que para isso
interveio em alguns ducados de difícil controlo, como por exemplo a Lorena, que foi
dividia em Alta Lorena e Baixa Lorena. Assim conseguiu evitar a existência de uma
Lorena forte que, unida à monarquia da Francia Ocidentalis ou a qualquer outro ducado,
pudesse por em causa o poder imperial.
O mais inovador do reinado de Henrique III foi a sua política eclesiástica. Continuou a
reforma do clero, sob a influência do abade Hugo de Cluny. Quanto aos aspectos
relacionado com o papado, convocou o sínodo de Sutri (1047) para por fim à tricefalia
papal (havia dois antipapas) e tratou de controlar fortemente as eleições papais. Permitiu
a reforma eclesiástica iniciada por Leão IX, que viria a estar na base da reforma
gregoriana.
Morto Henrique III em 1056, o império enfrentou uma menoridade régia de Henrique
IV, que só iniciaria o seu governo em 1066. Uma das primeiras consequências da
menoridade do monarca foi que as eleições pontifícias deixaram de ser competência do
imperador, o que foi aproveitado pelo papa Nicolau II, que decretou a exclusão do poder
laico nas posteriores nomeações pontifícias.

A França dos primeiros Capetos (séculos XI e XII)


Na França dos finais do século X, após longa disputa entre carolíngios e robertinos, a
eleição de Hugo Capeto, em 987, assegurou a unidade moral de um território que era
uma autêntica manta de retalhos: um conjunto de territórios autónomos, alguns dos
quais com mais importância do que os próprios domínios reais.
Os primeiros reis Capetos, Hugo e Roberto (996-1031), consolidaram os seus domínios
territoriais, originariamente situados entre Soissons e Orleães, uma zona fértil e
atravessada pelas principais rotas comerciais. Para além disso, associaram ao trono os
seus descendentes, para assegurar uma eficaz e indiscutível sucessão e souberam
conservar a estreita aliança com a Igreja, especialmente com os bispos de França, alguns
dos quais senhores feudais.
O filho e sucessor de Roberto, Henrique I (1031-1060), teve que fazer frente a uma
guerra civil, causada pela união de vários dos seus vassalos, mas pode contar com o
apoio do duque da Normandia. Assim foi até que a conjuntura ditou uma mudança nesta
aliança, tendo o rei tido que se associar ao conde de Anjou, para fazer face à rápida
ascensão na Normandia de Guilherme o Bastardo. Esta troca custou ao rei tremendas
derrotas, que puseram em causa o prestígio da monarquia francesa.
Seguiu-se o rei Filipe I (1060-1108), com o qual se viveu o período mais problemático
da dinastia capetíngia, mas também aquele em que foi menos débil. Este monarca
aumentou os seus domínios através do aproveitamento da fragilidade dos vizinhos, da
provocação de conflitos familiares e da compra de condados. Inquestionável pelos
nobres, Filipe I restaurou a autoridade real ao proibir a subscrição dos seus diplomas
pelos nobres, o que só poderia ser feito pelos altos funcionários do palácio. Cometeu a
imprudência de enfrentar a Igreja, tornando-se inimigo de Gregório VII e de grande
parte do clero francês por motivos de índole privada: rapto da mulher do conde de
Anjou e adultério com ela. Nem o facto de ter sido censurado e excomungado o
demoveu, e a reforma gregoriana foi aplicada em França sem o seu apoio e colaboração.
Em 1108 cedeu o trono ao seu filho Luís VI (1108-1137).
Este monarca retomou a recuperação do poder régio e definitiva ascensão dos Capetos
no trono de França. Foi um rei pragmático, que se soube rodear de importantes
conselheiros.
Luís VI conseguiu impor-se perante a nobreza que o rodeava, especialmente na
Île-de-France.
O seu triunfo sobre os nobres, a intervenção constante nos grandes feudos e a aplicação
da justiça real puseram fim a uma série de ilegalidades que até então se praticavam
frequentemente. Nasceu uma certa lealdade para com a dinastia, como se provou
quando a França foi invadida por Henrique V em 1124: o país inteiro levantou-se contra
o invasor, ficou demonstrado o primeiro indício de unidade nacional.
Protector da Igreja, acolheu no seu país os papas perseguidos pelo imperador e
favoreceu a expansão das novas ordens monásticas. No entanto, manteve o controlo
sobre a nomeação dos bispos.
Antes de morrer, casou o seu filho, o futuro Luís VII, com Leonor, herdeira do ducado
da Aquitânia, o mais importante senhorio do reino.
Luís VII (1137-1180), apesar das circunstâncias muito favoráveis do início do seu
reinado, não esteve ao nível delas. Enfrentou inutilmente o papado devido ao controlo
de uma sede episcopal, mas defendeu o processo de reforma da igreja e acolheu o papa
Alexandre III quando este foi expulso da Itália por Frederico I Barba Ruiva.
Os erros deste monarca bastantes. Um deles foi o facto de ter permanecido muito
tempo no Oriente, no contexto da segunda cruzada, esquecendo as suas obrigações
reais. Outro, o mais significativo, foi ter repudiado a sua mulher, Leonor da Aquitânia,
perdendo assim o maior feudo do reino, que acabaria por parar nas mãos de Henrique II
Plantageneta, conde de Anjou, duque da Normandia e rei de Inglaterra, que casou com
Leonor.
À sua morte, em 1180, Luís VII deixou o poder régio bastante bastante debilitado, pois
grande parte da França pertencia à Inglaterra, enquanto os grandes senhores do reino
tinham bastante autonomia.

Império e papado
A criação do Império Carolíngio significou um claro controlo da Igreja por parte do
poder imperial, o que abrandou com Luís o Pio. A partir da morte de Carlos Magno há a
desagregação do império, reforço do poder local e revolução feudal.
Dinastia otoniana (séc. X): reforço do poder imperial e das instituições eclesiásticas
(sempre sob a égide do império). Otão I cria principados territoriais eclesiásticos para
controlarem os principados laicos. Desde o tempo de Constantino que a Igreja é vista
pelos imperadores como um instrumento do seu poder.
Preocupações dos Otãos: escolha de bispos bem formados, isentos da simonia (venda de
cargos eclesiásticos) e nicolaísmo (possibilidade dos clérigos se casarem).
Henrique III quando se dirige a Roma para ser coroado imperador questiona-se sobre o
prestígio dos papas. Então interveio de forma radical nas questões relacionadas com o
papado.
Depôs o papa e outros candidatos ao seu lugar e impôs como pontífice o germano
Clemente II. Este papa e os seguintes foram profundamente reformadores.
Os papas seguintes são todos de origem alemã, escolhidos por Henrique III e imbuídos
de espírito reformador. No entanto, estes papas viriam a perceber gradualmente a sua
necessidade de se tornarem independentes do poder imperial.
Leão IX, nomeado papa por Henrique III, só aceitou o cargo sob a condição de ser
confirmado pelos seus pares e pela população romana.
Normandos instalaram-se no Sul da Península Itálica e Leão IX assume o comando da
luta. O exército papal é derrotado e próprio Leão IX é feito prisioneiro, sendo apenas
libertado após a concessão de privilégios e “quase reconhecimento” da presença
normanda no Sul de Itália.
Henrique III morre em 1056, deixando como descendente o menor Henrique IV. O
papa Victor II reconheceu-o como monarca e serenou as forças dos principados que
emergiram, como sempre que há menoridades régias.
Em 1057 morre o papa, e os bispos elegem em Roma um novo pontífice, sem consultar
o poder imperial, alegando a menoridade régia do imperador, Estêvão IX. Esta situação
teve a importância simbólica de ter aberto um precedente: finalmente havia um papa
que não era escolhido pelo imperador nem pelas famílias romanas.
Em 1058 morre Estêvão IX e é eleito Nicolau II, uma vez mais escolhido pelos
eclesiásticos. É este papa que inicia a ruptura com o poder imperial.
Em 1059 (ainda durante a menoridade de Henrique IV), há um sínodo em Latrão, que
toma duas importantes decisões:

· Nenhum clérigo pode receber a nomeação para um cargo que venha de um laico (o
que significa que os imperadores já não podiam nomear papas);
· A eleição do papa só poder ser feita pelos cardeais/bispos.

Nicolau II aceitou os Normandos como vassalos da Santa Sé, reconhecendo assim a sua
presença no Sul da Itália. Desta forma, em caso de necessidade, os normandos
protegiam militarmente o papa (isto também em 1059).
Em 1061 morre Nicolau II e é eleito Alexandre II. O império reagiu, nomeando um
antipapa, Onório II (nesta altura o poder imperial já era efectivo).
Com Alexandre II é reforçado o afastamento do papado face ao império, bem como a
aliança com os normandos, a quem o papa recorreu para conquistar uma praça
muçulmana.
Este papa também aceita como vassalo Guilherme II, que tinha conquistado a Inglaterra,
e o rei de Aragão, Sancho Ramirez.
Em 1073 começam os atritos directos entre o papa e o imperador. O primeiro conflito
esteve relacionado com a interferência directa do papa na escolha do bispo de Milão.
Nesta cidade há um movimento de origem local de reforma do clero. Ao nomear um
bispo, o papa abre uma clivagem directa entre Alexandre II e Henrique IV.
O papa morre nesse mesmo ano, passando o problema para o seu sucessor: o bispo
Hildebrando, profundamente reformador e que se encontrava por trás de várias decisões
inovadoras dos papas anteriores, designado Gregório VII.
Gregório VII, no início do seu pontificado, tenta acalmar a relação com Henrique IV,
mas o seu espírito reformista viria a provocar o choque.
Em 1075 realiza-se o Sínodo de Roma, no qual é produzido o Dictatus Papae,
documento que, em 27 pontos, entre outros aspectos:

· Reafirma a proibição das investiduras laicas em cargos eclesiásticos;

· Determina a primazia de Roma sobre toda a Cristandade; ninguém pode condenar ou


depor um papa, só Deus;

· O papa pode destituir o imperador e desvincular de si os seus súbditos;

· Reforça o poder dos legados papais (enviados do papa);

· Nenhum bispo assume o cargo sem ir a Roma receber o pálio das mãos do papa;

· Homogeneização do ritual litúrgico em toda a Cristandade.

Guilherme o Conquistador e o rei do reino normando do Sul da Itália não aceitam estas
disposições mas, dado que eram seus vassalos, o papa como que “ignora” tal facto.
Entretanto, em Milão houve revoltas contra o bispo nomeado pelo papa. Os milaneses
eram ainda mais reformistas do que Gregório VII e instigaram Henrique IV a destituir o
bispo, o que fez, tendo sido recriminado pelo papa ainda em 1075.
Em 1076, Gregório VII foi destituído por Henrique IV, com o apoio dos bispos da
Alemanha e da Lombardia.
O papa excomungou Henrique IV, que depois se viria a humilhar perante si, pedindolhe
perdão. As desculpas foram aceites por Gregório VII, mas quando o imperador regressa
à Alemanha, esta já se encontrava em guerra civil.
Henrique IV solicita então ao papa que este reponha o seu poder, o que não é aceite.
Gregório VII nomeou como imperador Roberto da Suábia.
Como resposta, Henrique IV nomeia um antipapa, que o coroa imperador em 1080. Em
1081 invadiu Roma.
O papa pede ajuda aos normandos que o resgataram e levaram para o Sul da Itália,
onde viria a morrer, em Salerno, em 1085.
Há então um período de acalmia. Os papas que se seguiram tinham noção de que
tinham que agir de maneira diferente com os imperadores. Entretanto, ia-se mantendo o
antipapa (Clemente III).
Urbano II (sucessor do sucessor de Gregório VII, Victor III) foi um papa com grande
tacto diplomático. Reafirmou o Dictatus Papae, mas foi bastante tolerante com os
monarcas europeus: não dissolveu o casamento de Filipe I de França, não excomungou
Roberto I da Suábia, etc. Foi este papa que apelou à realização de uma cruzada para
libertar a Terra Santa.
Na segunda metade do século XI o papa tinha tanto poder político que até o imperador
bizantino lhe pede ajuda para combater os turcos.
O sucessor de Urbano II foi Pascoal II que tentou pôr fim ao conflito com Henrique IV
(que só morreu em 1106) o que parecia impossível.
Em 1111, no Concílio de Sutri, o papa propõe a Henrique V que este abdique da sua
pretensão de fazer investiduras eclesiásticas, enquanto o papa cederia todo o património
que o papado tivesse recebido dos imperadores. Henrique V aceitou, mas houve grande
revolta no interior da Igreja. O imperador reage, prendendo o papa e os cardeais para
que mantivessem o acordo.
Em 1122 assinou-se a concordata de Worms. O papa, Calisto II, reconhece ao
imperador o poder de investir bispos com poder secular nos territórios que esses
governassem, mas não com poder espiritual. Acabava a ideia de poder que colocava as
autoridades eclesiásticas sob o poder do imperador.
Em 1123 realiza-se o I Concílio de Latrão. É ratificada a Concordata de Worms e
organizada a estrutura eclesiástica. Esta, tinha no topo o papa e abaixo de si o bispado
(que aglomerava paróquias, a base de toda a estrutura eclesiáticas), o monacato
(seguindo o modelo de Cluny) e as ordens militares.
Desta forma, o poder do papa passava a estar estendido a toda a Cristandade (dado
que bispos, mosteiros e ordens militares só respondiam perante o papa).
Uma diferente fase de acesa luta entre o papado e o império surgiria na segunda
metade do século XII, durante o período de governo de Frederico Barba Ruiva.
À morte do papa Adriano IV em 1159, surgiram dois candidatos a pontífice: Vítor IV,
apoiado por Frederico I e que seria antipapa, e Alexandre III, o escolhido pelos cardeais
e apoiado pelas cidades do Norte de Itália, que se uniriam para combater o império,
formando para isso a Liga Lombarda.
Invadida a Itália, em 1176, a Liga Lombarda derrotou as forças do imperador, na
Batalha de Legnano. Então, em 1177, Frederico I reconheceu a legitimidade de
Alexandre III e da Liga
Lombarda sobre as cidades que a compunham, tendo tais aspectos ficado determinados
na paz de Veneza.
Mais tarde, o casamento de Henrique VI (filho de Frederico I) com a herdeira do trono
da Sicília viria a ser fonte de novas tensões entre papado e império, pois o monarca
pretendiareunir o Sul da Itália ao império. No entanto, a inesperada morte de Henrique,
em 1197, enquanto jovem impediu a concretização deste projecto.
Em 1198 sobre ao trono pontifício Inocêncio III. Mais flexível do que Gregório VII,
este papa distinguia a plena soberania que só o papa detém do poder político dos
soberanos. A primazia romana tem origem divina (foi conferida por Cristo a São Pedro),
pelo que todas as igrejas nacionais devem submeter-se-lhe, tal como os reis e
imperadores, pois têm deveres para com Deus, do qual o papa é juiz. Quanto aos
assuntos temporais, Inocêncio III que o imperador possa ter vantagem relativamente ao
papa, exceptuando algumas situações. Este papa conseguiu marcar a sobreposição do
poder dos papas ao do imperador e monarcas em toda a Cristandade.
Mas este triunfo do papado era frágil. Frederico II, coroado imperador em 1220
conseguiu juntar o Sul da Itália ao império, reacendendo o conflito com a Igreja, que
considerava incluída no império, enfrentando os papas Gregório IX e Inocêncio IV. As
duas partes foram agrupadas nas facções já existentes dos guelfos e gibelinos. O
imperador foi excomungado por duas vezes e o papa foge para Lyon, onde Frederico II
é mais uma vez excomungado e deposto. O imperador morreu em 1250 sem ter vencido
o papado que, no entanto, apesar da vitória, também saiu enfraquecido desta situação,
em contraste com as monarquias europeias (tal como se viria a provar mais tarde, no
final do século XIII, quando Bonifácio VIII foi humilhado por Filipe IV o Belo de
França).
Inglaterra desde a época merovíngia/carolíngia até à Magna Carta
A Grã-Bretanha era constituída por dois grandes grupos étnicos: na parte ocidental das
ilhas a influência era dos povos de origem céltica; no oriente o predomínio era dos
anglo-saxónicos.
Mantendo-se a tradição de organização clânica da sociedade, surgiram vários reinos na
Grã-Bretanha, de curta duração e sem constituírem uma grande unidade política.
No final do século VIII iniciam-se as invasões normandas (vikings) que marcaram um
momento de viragem no panorama político da Grã-Bretanha. Nesta altura, já a ilha se
encontrava cristianizada, à excepção do País de Gales (por isso se constrói a muralha de
Offa, para o separar dos outros reinos). No século IX forma-se a Escócia.
No século IX assiste-se à unificação dos reinos que compunham a Inglaterra, que é
liderada pelo reino de Wessex, destacando-se nesse processo o rei Egberto e o seu neto
Alfredo o Grande, que conseguem controlar os vikings, sendo-lhes cedidos alguns
territórios.
O século X é marcado pela alternância de períodos de paz com confrontos entre
ingleses e dinamarqueses.
Em 1002, o rei Etelredo II promove a chacina de dinamarqueses na costa oriental
inglesa. Como resposta, a Dinamarca, liderada por Canuto o Grande, invade e conquista
a Inglaterra, em 1016. De destacar que Etelredo II fora casado com uma filha do duque
da Normandia, Ema, que posteriormente viria a contrair matrimónio com Canuto. Este
era rei da Dinamarca, Inglaterra e Noruega, o que permitiu o alargamento da
Cristandade para a Noruega.
Após a morte do filho de Canuto, regressa ao trono inglês um membro da dinastia dos
reis de Wessex, Eduardo III o Confessor, que morre em Janeiro de 1066. É então
aclamado rei Haroldo de Wessex.
Em Junho a Inglaterra é invadida pelo exército dinamarquês, que viria a ser derrotado
na batalha de Stamford Bridge em Setembro.
A 28 do mesmo mês desembarca na Grã-Bretanha o duque da Normandia, Guilherme,
que reclama o trono inglês tendo como base uma suposta promessa que Eduardo III lhe
teria feito e a sua ligação familiar a Ema da Normandia, mulher de Etelredo II e de
Canuto, o Grande.
E Outubro forças inglesas e normandas defrontaram-se na Batalha de Hastings, que
culminaria com a vitória dos invasores e a conquista da Inglaterra por Guilherme da
Normandia, coroado rei inglês a 25 de Dezembro.
Estruturando o seu reino, Guilherme procurou que a sua ocupação fosse pacífica. No
entanto, a oposição dos senhores saxónicos levou-o a expulsá-los do país, substituindo-
os por escandinavos. A Inglaterra é então estruturada à luz do sistema feudal francês,
mas com a nobreza controlada e subjugada à autoridade régia.
Para garantir a riqueza da coroa, Guilherme determinou que 1/7 dos rendimentos da
Inglaterra ficavam para a coroa, a floresta era toda da coroa e os senhorios não eram
contíguos (para garantir que não se unisse através de casamentos, havia sempre
territórios régios entre os dos senhores).
De destacar a realização de um inventário geral dos bens da Inglaterra para efeitos
fiscais, o Domesday Book, em 1086.
Guilherme morre em 1087 partilhando pelos filhos os seus domínios: o mais velho,
Roberto, ficou com o ducado da Normandia; o mais novo, Guilherme II, foi coroado rei
de Inglaterra.
No entanto, este último conquistaria a Normandia, reunindo os domínios que haviam
sido do seu pai. Em 1110 Guilherme II foi assassinado, sucedendo-lhe o irmão mais
novo, Henrique I.
Quando este último morreu, só tinha uma filha, Matilde, viúva de Henrique V da
Alemanha e mulher do conde de Anjou. Mas esta não foi aceite pelos nobres ingleses,
que escolheram para rei Estêvão de Blois, sobrinho de Henrique I.
O reinado de Estêvão foi marcado pela instabilidade, provocada pelos confrontos entre
os seus apoiantes e os de Matilde, casada com Godofredo Plantageneta. O filho de
ambos, Henrique, conquistou a Normandia e obrigou Estêvão I a nomeá-lo seu sucessor.
O reinado de Henrique II Plantageneta (1154-1189) foi notável. Casado com Leonor da
Aquitânia, mulher rejeitada por Luís VII de França, foi rei de Inglaterra, duque da
Normandia e da Aquitânia e conde de Anjou. Este rei foi responsável pela
reorganização administrativa do reino e restabelecimento do poder régio sobre os
grandes senhores laicos e eclesiásticos, que se havia enfraquecido durante o reinado de
Estêvão I. Para além disso, conquistou a Irlanda e controlou a Escócia e o País de Gales.
Sucedeu-lhe Ricardo I Coração de Leão (1189-1199). O seu reinado foi marcado pela
expedição à Terra Santa, no âmbito da 3ª cruzada. No regresso, foi preso pelo duque da
Áustria e entregue ao imperador. Manteve-se prisioneiro durante vários anos, tendo o
pagamento do seu resgate deixado a Inglaterra na bancarrota. Morreu em 1199, em
França, numa batalha, atingido por uma flecha, quando tratava de problemas
fronteiriços, sucedendo-lhe o irmão João Sem Terra (1199-1216).
Este foi um monarca incapaz, sem qualquer sentido estratégico. Procurou interferir na
nomeação do arcebispo de Cantuária, enfrentando por isso o papa Inocêncio III, que o
excomungou.
Em 1215, forçado pelos barões (em troca de um juramento de fidelidade), João Sem
Terra assinou a Magna Carta, que limitou o poder dos monarcas, impedindo o exercício
do absolutismo na Inglaterra. Este documento garantia algumas liberdades políticas aos
ingleses,
libertava a igreja da ingerência da monarquia e reformulou o direito e a justiça.
A João Sem Terra sucedeu Henrique III (1216-1272), que teve um reinado longo e
instável, em que manteve a estrutura administrativa delineada pelo seu avô Henrique II
e foi responsável pela abertura do Parlamento inglês.

O Império nos séculos XII e XIII


Em 1125 Henrique V morre sem descendência. Os grandes senhores alemães não
aceitam a sua sugestão de sucessão, um sobrinho. É então escolhido Lotário III, duque
da Saxónia, um antigo inimigo de Henrique IV e Henrique V. A Alemanha entra então
numa guerra civil. Os apoiantes dos Hohenstaufen proclamam como rei Frederico de
Hohenstaufen. A Alemanha ficava com dois reis.
Entretanto, na Itália vai-se aproveitando o desnorte político alemão para se afirmar os
tradicionais poderes da aristocracia italiana.
Em 1130 surgem dois candidatos a papa: Inocêncio II e Anacleto II. Lotário III vai a
Roma em 1132 para impor o pontífice mais consensual, Inocêncio II. No ano seguinte é
coroado imperador. Quando Lotário III abandona a Itália, Inocêncio II é deposto e
imposto o antipapa.
Surgem então dois bandos: os guelfos, apoiantes de Inocêncio II e da casa Welf (seriam
de futuro os tradicionais apoiantes do papado); e o gibelinos, apoiantes da casa
Hohenstaufen (tradicionais apoiantes do império).
Lotário III regressa a Roma e impõe novamente Inocêncio II.
Quando Lotário III morre, em 1137, só tinha uma filha, casada com o duque da Baviera.
O imperador desejava que lhe sucedesse o genro. Mas a aristocracia escolheu Conrado
III, irmão do Frederico que haviam rejeitado anteriormente, da casa Hauhenstaufen.
Conrado morre em 1152, sucedendo-lhe o filho Frederico I Barba Ruiva, que reinaria
até 1190. De referir que desde 1125 até à subida ao trono de Frederico I a autoridade
imperial
tinha perdido prestígio ao mesmo tempo que se reforçavam os poderes ducais laicos e
eclesiásticos.
Frederico I tinha como objectivos do seu restauração do poder monárquico na
Alemanha e imperial na Itália.
Na primeira fase do seu reinado, Frederico promoveu as pazes com a casa Welf (de
quem era descendente pela parte da sua mãe), entregando ao primo Henrique o Leão o
ducado da Baviera, e impôs à igreja alemã a Concordata de Worms.
Em 1153, através do Acordo de Constança, Frederico I e o papa Adriano IV
determinaram que a resolução da questão normanda teria que ser feita através de acordo
entre ambos.
Em 1154, Adriano IV é expulso de Roma pela aristocracia. Frederico I vai a Itália,
restaura o poder do papa e é coroado imperador em 1155.
Em 1156, o papa negoceia com os normandos, reconhecendo a autoridade do seu
reino, nas costas do imperador, desrespeitando o Acordo de Constança. Frederico I vai a
Itália e impõe pela força das armas as suas determinações:

· dispõe-se a abdicar das cidades do Norte de Itália, desde que se prove que haviam sido
usurpadas (o que era impossível de fazer);

· impossibilidade da divisão dos grandes feudos italianos (assim conseguia o apoio da


aristocracia);

· apoio aos estudantes que se dirigissem para Bolonha;

· obrigação de jovens de 16 anos jurarem fidelidade ao imperador.

Numa segunda fase (1159-1177), o reinado de Frederico I é marcado pela sua luta com
o papado (questão da não aceitação da escolha dos cardeais, Alexandre III, formação da
Liga Lombarda, que derrota o imperador, etc.).
O final do reinado é marcado por anos conturbados (1177-1190). O imperador retira o
ducado da Baviera ao primo, por este não o ter apoiado na expedição militar a Itália. Em
1187, é perdida a cidade de Jerusalém para os muçulmanos. Por isso, Frederico I
envolve-se na organização de uma nova cruzada, durante a qual morreria afogado,
quando ia a caminho da Terra Santa, em 1190.
A Frederico I sucede, pacificamente, Henrique VI. Este viria a ter problemas com a casa
Welf e com a Sicília, com cuja herdeira estava casado. Os sicilianos não viam com bons
olhos a possibilidade de o império alemão integrar o reino da Sicília, tal como o papa. À
morte de Tancredo de Lecce, Henrique VI invade a Sicília, conquista-a e é coroado em
Palermo em 1194.
No entanto, não há unificação da Itália. Henrique VI morre subitamente em 1197 e com
ele a ideia da criação de um império universal sob a égide da Alemanha.
Quando Henrique VI morre deixa um filho menor de idade, o que levou ao
reacendimento da contestação à casa imperial, tendo sido escolhidos dois reis para a
Alemanha: da casa Welf, Otão de Brunswick; dos Hohenstaufen, Filipe da Suábia
(irmão de Henrique VI).
Em Itália, não se reconhece nenhum dos reis, enquanto que o papa aproveita a
situação para integrar alguns territórios, nomeadamente o ducado de Spoleto, nos
Estados Pontifícios.
Inocêncio III protege a criança, futuro Frederico II mas, em 1208, coroa Otão IV de
Brunswick imperador. No entanto, este é destituído, subindo Frederico II ao trono da
Alemanha em 1215.
Frederico II foi um monarca mais preocupado com a Itália e o controlo do Mediterrâneo
do que propriamente com a Alemanha.
Na década de 1220, Frederico II é excomungado pelo papa Gregório IX, que põe termo
aos laços de vassalidade existentes entre o imperador e os seus súbditos.
Frederico II havia entregue o governo da Alemanha ao seu filho Henrique VII, mas este
acaba por contestá-lo o que o leva a pendê-lo, vindo a morrer na prisão ainda em vida
do pai.
Em 1245, Frederico II é destituído pelo papa Inocêncio IV no Concílio de Lyon.
Frederico II morre em 1250 e sucede-lhe Conrado IV que, em virtude do conflito com o
papado, não viria a ser coroado, havendo um interregno no império de 1250 a 1273,
quando Rodolfo de Habsburgo é eleito imperador da Alemanha.
A partir da morte de Frederico II há uma separação definitiva da Alemanha e Itália. O
trono da Itália tinha passado para o seu filho bastardo Manfredo, que o viria a perder
para o conde de Anjou em 1266.
Rodolfo de Habsburgo havia sido escolhido por influência do papa Gregório X, que
queria um rei fraco. No entanto, este monarca teve bastante qualidade, tendo derrotado
em 1278 o rei Otokar da Boémia, que contestava a sua nomeação. À sua morte é
escolhido para rei Adolfo de Nassau, assassinado em 1298, por Alberto, filho de
Rodolfo, que assumiu a coroa.
No entanto, também foi assassinado, em 1308. Seguiu-se um período de grande
conflitualidade.
As últimas intervenções dos imperadores alemães na Itália foram desastrosas. Na
década de 1340, o imperador Carlos IV abdica definitivamente de qualquer pretensão ao
trono da Itália. Simultaneamente, houve um cada vez maior reforço dos principados
territoriais.

A França do século XIII


Quando Luís VII morre, em 1180, sucede-lhe Filipe II (1180-1223), que se depara com
uma guerra interna no seio da aristocracia entre duas facções que o pretendiam
controlar.
Basicamente, o seu reinado tinha dois grandes desafios: a resolução da questão da
presença inglesa na França e o reforço do poder régio.
A aristocracia francesa foi controlada em grande medida através da integração de
diversos condados nos domínios régios.
Dedica-se à luta contra os Plantagenetas e, durante o reinado de João Sem Terra,
consegue conquistar uma série de territórios ingleses. Destaca-se a batalha de Bouvines,
em 1214, que significou a debilitação do poder do rei inglês e grande prestígio interno e
externo de Filipe II.
Já em 1213, a França havia derrotado o rei de Aragão Pedro II na batalha de Muret,
que morre na mesma, ao defender os seus vassalos.
Filipe II assumiu-se como o herdeiro de Carlos Magno, tendo sido intitulado Filipe
Augusto.
Foi responsável pela organização administrativa do reino à semelhança do que havia
feito Henrique II em Inglaterra.
Em 1223, sucede a Filipe II Luís VIII. Este foi responsável pela real incorporação dos
territórios ingleses nos domínios da coroa francesa. Morreu em 1226, ficando a
governar como regente a sua mulher Branca de Castela.
O reinado seguinte foi o de Luís IX (S. Luís – 1234-1279). Este reinado foi notável,
sendo marcado por:

· garantia da ordem do reino através do cumprimento à risca das regras feudais;

· controlo interno dos grandes senhorios;

· realização de grandes inquirições sobre o património da coroa;

· escolha de Paris como sede definitiva da monarquia;

· Tratado de Corbeil (1258) com Jaime I de Aragão: Luís IX trocava eventuais direitos à
coroa de Aragão pela renúncia do monarca aragonês a possessões no Sul de França;

· continuação do aperfeiçoamento da organização administrativa do reino iniciada por


seu avô Filipe II Augusto;

· fundação dos Estudos Gerais de Paris;

· interferência como árbitro ma resolução de problemas internos da Inglaterra;

· organização da 7ª e 8ª cruzadas;

A Luís IX sucedeu Filipe III que, não sendo um rei excepcional, exerceu bem a função
de governar um reino já perfeitamente organizado.
A este sucedeu Filipe IV o Belo, o expoente máximo da centralização do poder régio
em França. Ao casar com Joana de Navarra, herdou também esse reino. Este reinado foi
marcado pela burocratização do aparelho administrativo, que revelava indícios do
Estado moderno. Para além disso, houve um conflito com o papado.
Não tendo o dinheiro suficiente para financiar as suas pretensões expansionistas, Filipe
IV lançou pesados impostos sobre o clero.
O papa Bonifácio VIII reagiu, proibindo qualquer transferência de propriedade da Igreja
para a coroa francesa. Filipe IV proibiu também os pagamentos da igreja francesa a
Roma. Acabou por sair vitorioso da sua oposição ao papa, pois conseguiu algum
controlo sobre Clemente V e conseguiu a instalação do papado em Avinhão.
Clemente V determinou, no Concílio de Viena, sob influência de Filipe IV, o fim da
Ordem dos Templários, passando os seus bens para Ordem do Hospital, mas tendo o
monarca
francês ficado com parte do seu ouro..
Filipe IV morreu em 1314, sucedendo-lhe Luís X.

A Guerra dos 100 Anos (1337-1453)

A questão dinástica e início da guerra

Em 1314 morreu o rei de França Filipe IV o Belo. Sucedeu-lhe o filho Luís X (1314-
1316). Este morreu em 1316, quando a mulher estava grávida. Tinha uma filha, Joana,
que não podia herdar o trono devido à lei sálica. Nasceu um rapaz, João I (1316), que
morreu com poucos dias de vida. Como Joana não podia ser rainha, o trono passou para
Filipe V (1316-1322), irmão de Luís X, que já governava como regente. Quando este
morreu, só tinha duas filhas. Então, o trono passou para o seu irmão Carlos IV (1322-
1328). À data da morte, este só tinha uma filha e, tal como Luís X, a mulher grávida.
Quando a criança nasceu, verificou-se que era uma rapariga, logo não podia herdar o
trono. Não havia então descendência directa para a coroa de França.

Perante esta situação, havia dois candidatos ao trono francês:

· Eduardo III, rei de Inglaterra, cuja mãe, Isabel, era filha de Filipe IV;

· Filipe, conde de Valois, sobrinho de Filipe IV.

Uma assembleia estudou a situação, considerando que o monarca não poderia ser o
rei de Inglaterra, pois era descendente de Filipe IV por via feminina, sendo nomeado
como rei Filipe VI. Este foi reconhecido por Eduardo III, seu vassalo pelo condado da
Guiana.
Entretanto, o rei inglês ia-se deparando com problemas com a Escócia, que pretendia
ser independente. Filipe VI aproveitou essa situação para se aproximar da Flandres,
importantíssima região para a economia inglesa. Ao aperceber-se disso, Eduardo III,
incitado por mercadores flamengos, reclama a coroa de França, em 1337, ano em que se
inicia a guerra.

1ª fase da Guerra dos Cem Anos (1337-1360) – triunfos ingleses

Esta fase inicial da Guerra dos Cem Anos é caracterizada pelos triunfos ingleses, que
começaram logo em 1340 com a derrota da França na batalha naval de Ecluse. Este
acontecimento provocou a destruição de grande parte da frota naval francesa, o que
significou que, desta forma, a França teria de futuro de bastantes dificuldades para
invadir a Grã- Bretanha, pelo que seria essencialmente no seu território que se
desenrolaria a guerra.
Em 1346 dá-se a batalha de Crécy, marcada pela imposição da superioridade dos
arqueiros ingleses face à poderosa cavalaria francesa. Em 1347, a Inglaterra ocuparia
Calais, o que lhe garantia a possibilidade de entrar facilmente na França sempre que o
desejasse.
Devido à Peste Negra, em 1348, dá-se um período de tréguas na guerra, que se
manteria até 1356, quando a Inglaterra, num quadro em que se destaca a acção do
herdeiro do trono, Eduardo Príncipe Negro, derrota as forças francesas na batalha de
Poitiers, tendo o rei João II o Bom sido feito prisioneiro (assumiu a regência o delfim,
futuro Carlos V). A França encontrava-se então num período bastante conturbado da sua
História, marcado pelas revoltas sociais, como a sublevação de Etienne Marcel e a
Jacquerie.
Em 1360 foi assinado o Tratado de Bretigny, considerado humilhante para a França.
Segundo este, Eduardo III abdicava da sua reivindicação à coroa francesa e o rei João II
o Bom, era libertado a troco de um pesado resgate, enquanto lhe era concedidos todos
os territórios
que eram possessões inglesas antes de João Sem Terra, bem como variadas outras
cidades, portos e condados. Uma das contrapartidas do resgate de João II era a
manutenção do seu filho Luís como refém. No entanto, este fugiu da Inglaterra, o que
fez com que João II se entregasse novamente à coroa inglesa.
2ª fase da Guerra dos Cem Anos (1364-1380) – recuperação francesa

Nesta fase da guerra assiste-se a uma recuperação da França e à deslocação do


conflito para a Península Ibérica.
Em França, reinava Carlos V (sobe ao trono em 1364), que conseguiu restaurar o
prestígio do poder régio e passou a contar com o apoio militar de Castela a partir de
1369,
quando, após uma guerra civil em que se disputava a sucessão a Afonso XI, Henrique
Trastâmara, com a ajuda dos franceses, derrotou o aliado inglês Pedro o Cruel.
Os franceses foram então recuperando sucessivas praças aos ingleses, que
praticamente só ficaram com Calais e algumas praças normandas, destacando-se o génio
militar de Bertrand du Guesclin. É neste contexto que se insere a batalha de Aljubarrota
(1385).
Em 1376 morreu Eduardo o Príncipe Negro, e em 1377 Eduardo III, ficando a Inglaterra
numa situação de menoridade régia de Ricardo II, neto do anterior rei. Nessa altura,
criam-se divisões no seio da nobreza que debilitaram a monarquia e que culminaram
com a deposição, em 1399, de Ricardo II, pelo seu prime Henrique de Lencastre, que
passou a reinar como Henrique IV.
Já em França, em 1380, morre Carlos V. O seu herdeiro era o futuro Carlos VI, sendo
que durante a sua menoridade houve, pela parte dos seus tios, acesa disputa pelo trono.
Devido a estas situações internas da França e Inglaterra, há neste período uma pausa
na Guerra dos Cem Anos, que via assim encerrado o seu primeiro grande ciclo.

3ª fase da Guerra dos Cem Anos (1415-1422) – ocupação inglesa

Esta fase é marcada pela ocupação de grande parte da França por parte da Inglaterra.
Em Inglaterra, Henrique V (1413-1422) sucede a Henrique IV. O novo rei lidera as
forças britânicas na batalha de Azincourt, em 1415, em que mais uma vez a perícia dos
arqueiros ingleses (mais especificamente, galeses) derrotou os franceses. Na sequência
deste confronto, é assinado, em 1420, o Tratado de Troyes. Este determinava que Carlos
VI reinaria em França até à sua morte, passando nessa altura o trono para o rei inglês ou
seu descendente, em detrimento do futuro Carlos VII. Para além disso, Henrique V
casaria com Catarina, filha do rei francês.
Em 1422, morrem Henrique V e Carlos VI. Por determinação do Tratado de Troyes, o
herdeiro do primeiro, Henrique VI, foi coroado rei de Inglaterra e de França. O delfim
não aceitava, naturalmente, a situação, e foi reconhecido por grande parte dos senhores
franceses como rei Carlos VII. Sendo assim, nesta altura a França encontrava-se sob a
égide de dois reis:

- Henrique VI, que dominava praticamente todo o Norte do país, devido ao apoio do
duque da Borgonha;

- Filipe VI, que reinava no Sul. Estavam então todos os dados em jogo para que se
desenrolasse o período mais duro da guerra.

4ª fase da Guerra dos Cem Anos (1422-1453) – reconquista francesa.

É nesta altura que entra em cena Joana D’Arc, que liderando um exército que o rei lhe
cedera, após ter afirmado ter ouvido vozes que a incitaram a socorrer o monarca,
conquista, em 1429, Orleães, funcionando como catalisadora do espírito francês.
Em 1435, pelo Tratado de Arras, o duque da Borgonha passou a apoiar Carlos VII,
sendo que a partir dessa altura foi relativamente fácil para França reconquistar as praças
inglesas.
Em 1453, dá-se a batalha de Castillon. A França conquista a Aquitânia e as possessões
inglesas no continente reduzem-se a Calais.
Assim termina a Guerra dos Cem Anos com a vitória da França, apesar de não se poder
considerar ter havido um vencedor formal, dado que não houve acordo de paz com
cláusulas de cedência, compensações, etc.

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