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A HISTORIA DE DIREITO NA IDADE MEDIA

Entende-se por Idade Média o período de tempo compreendido entre a queda do


Império Romano do Ocidente, em 476 d.C., e a tomada de Constantinopla pelos turcos,
que ocorreu em 1453, com a queda do Império Bizantino.

Muitos imaginam a Idade Média como um período de pouca produção cultural e durante
bastante tempo essa época chegou até mesmo a ser desprezada pelos estudiosos. O
período da Alta Idade Média evoca na maioria das pessoas uma visão de violência,
desorganização política, desaparecimento da cultura intelectual, chegando a ser
conhecido, na língua inglesa, como "dark ages", isto é, Idade das Trevas.

Tal preconceito teve sua origem na época do Renascimento, quando os pensadores,


atraídos pela cultura clássica greco-romana, desprezaram tudo aquilo que estivesse
relacionado com a sua civilização.

Entretanto, essa visão não pode ser generalizada de maneira arbitrária. A queda do
Império Romano e as invasões bárbaras de fato alteraram radicalmente a história da
Europa ocidental, levando a uma grave crise económica, política, social e cultural. Mas
por outro lado, mesmo diante das precárias condições de vida da época, surgiu, pouco a
pouco, uma civilização que foi o berço de grande parte das instituições do mundo
moderno. A alta Idade Média testemunhou o gradual desaparecimento da escravidão,
substituída por um sistema de trabalho mais digno e viu a gestação das bases de alguns
Estados nacionais.

Assim, desmistificando a ideia de "Idade das Trevas" começa-se a perceber que a Era
Medieval foi fecunda em criações artísticas, filosóficas e realizações jurídico-políticas,
que tiveram profundo significado para a história da civilização. Exemplo disso é que
durante a idade média foram criadas as Universidades.

Os Bárbaros e a civilização ocidental

Na idade Média, a ameaça representada pelos povos germânicos não era uma novidade
para o Império Romano, que já os conhecia desde o século II a.C., quando tentou
conquistar a nova província chamada Germânia. Apesar de algumas vitórias, não levou
adiante o processo de conquista e ocupação do território, preferindo estabelecer uma
extensa fronteira fortificada na região dos rios Reno e Danúbio, a fim de impedir o
avanço das populações germânicas sobre território romano.

Essa longa fronteira não impediu, contudo, o contacto dos germanos com a sociedade
romana, pois era grande a atracção que ela exercia sobre aqueles povos guerreiros,
maravilhados diante de suas riquezas, principalmente suas terras férteis. Inclusive, em
escavações arqueológicas, feitas nos túmulos germanos, foram encontrados objetos,
vasilhas, jóias e moedas de origem romana, comprovando a existência de comércio
entre eles.
Pode-se concluir, portanto, que a investida dos germanos ao território romano durante o
século V não foi um acontecimento completamente inesperado, mas o final de um longo
processo de contactos prévios.

Fato é que, com a queda do Império Romano do Ocidente, diversos povos bárbaros
finalmente ocuparam a Europa.

A Igreja foi sim afectada, mas não destruída. Aos poucos, os missionários foram ao
encontro dos Bárbaros para convertê-los e civilizá-los. São Bento,
exemplificativamente, evangelizou a região de Nápoles, enquanto São Bonifácio
trabalhou a Germânia e São Patrício a Irlanda.

Esses missionários foram enviados para quase todas as regiões da Europa, trabalhando
num ambiente hostil e no meio de povos de culturas e línguas diferentes. A estratégia
consistia em converter em primeiro lugar os reis e dirigentes, pois a partir daí estava
quase assegurado o acesso a todo o resto da população. Os reis, por outro lado, ao
adoptarem o cristianismo, tinham seu poder político fortalecido, com o apoio divino,
tornando-se reis "pela graça de Deus".

Entre todos os povos bárbaros, o primeiro que oficialmente abraçou o Cristianismo foi a
França, após a conversão do Rei Clóvis, em decorrência de uma promessa feita por ele a
um monge, por influência de sua esposa - que era católica. Se os francos vencessem os
inimigos na batalha de Tolbiac, o rei se tornaria cristão e também os seus súditos. E
assim aconteceu. No local do batismo foi erguida a catedral de Notre Dame de Reims,
onde foram sagrados todos os reis da França.

O cristianismo, que aos poucos foi aceito também pelos demais povos bárbaros, trouxe
a eles diversos benefícios, como a instrução das crianças, a construção de casas de pedra
e o abandono das cruéis práticas das ordálias. Os monges também ensinaram os
bárbaros a respeitar o direito acima da força. Daí o surgimento de instituições como a
cavalaria.

A cavalaria

A cavalaria era uma instituição em que todos os participantes se ajudavam e em que a


força e a destreza militar eram postas a serviço dos fracos, como os órfãos, as viúvas e
os inválidos. Defendiam as regiões fronteiriças, onde se instalavam castelos que
constituíam a guarda avançada dos cristãos frente às terras dos muçulmanos.

Apareceu primeiramente no Ocidente, entre os povos germânicos. Na ocasião, os


guerreiros bárbaros germânicos, ao tomarem contato com os latinos (romanos),
estranharam o fato de que a civilização tinha tornado os homens muito "delicados".
Então, naturalmente surgiram desentendimentos entre a brutalidade e a supercivilização.
Os romanos desprezavam os bárbaros pela sua ignorância, e os bárbaros germanos
desprezavam os romanos pela sua moleza de vida e refinamento.
A igreja teve um papel muito importante na conjugação dessas duas realidades. Ela
conseguiu canalizar essa violência natural dos germânicos para um sentido bom e
construtivo, que era o de sanear as injustiças.

Assim, num momento em que havia situações de opressão, a Cavalaria surgiu como
força de fiscalização social, restabelecendo o equilíbrio perdido a partir da queda do
Império Romano, quando passou a não haver praticamente nenhuma autoridade
centralizadora de Poder.

O Império Carolíngio (de Carlos Magno)

Na França, Pepino - o Breve inaugurou uma dinastia de reis que teria seu mais ilustre
representante em seu filho Carlos Magno, nascido em 742 e que passou a reinar após
sua morte, em 768.

A personalidade de Carlos Magno impressionou fortemente a seus contemporâneos e


por muito tempo ficou gravada na memória de seus pósteros. Destacava-se por sua
elevada estatura e por sua força física invulgar.

Ao contrário de muitos imperadores da época, que tinham a pretensão de ser superiores


ao Papado, Carlos Magno era um filho fiel da Igreja Católica. Seu programa de governo
consistia na restauração do antigo Império Romano, sob a liderança da França e,
obviamente, sob o primado espiritual do Papa. A estatura política de Carlos Magno era
de tal grandeza que foi considerado o soberano mais poderoso da Europa. Criou-se
especialmente para ele, então, o cargo de Imperador Romano Cristão. Recebeu tal título
no ano de 800, do Papa Leão III.

Ao morrer, em 814, Carlos Magno deixou o poder imperial para seu filho, em cujo
reinado o Império Carolíngio ainda conseguiu manter sua unidade política. Todavia,
após a morte de Luis I, em 840, o império foi disputado pelos netos, numa desgastante
guerra civil. A unidade política realizada por Carlos Magno, apesar de grandiosa, não
conseguiu sobreviver nem mesmo um século após a sua morte.

A obra jurídica de Carlos Magno

Todos os anos, em maio, Carlos Magno convocava sua nobreza a Paris para ouvir
queixas e ponderações, além de efetuar consultas. Era a Assembléia dos Grandes do
Império Carolíngio. O resultado das deliberações era a coleção de leis que, por serem
dispostas em capítulos, chamavam-se "Capitulares". Foram as primeiras leis escritas da
idade média.

Embora Carlos Magno se reservasse a decisão final, debatia com os nobres as questões
e depois ordenava as normas, em matéria civil, comercial, penal e até ambiental. As leis
eram decretadas na medida das necessidades e não como modernamente, em que se
busca prever casos futuros. Ao todo foram 65 capitulares e que se tornaram o principal
corpo das leis medievais.
Interessante frisar as inovações trazidas pelas "Capitulares" de Carlos Magno, como a
criação de juízes profissionais e a possibilidade de recurso ao tribunal do palácio, no
caso de julgamentos falsos, além do desenvolvimento e fortalecimento da prova
testemunhal.

O feudalismo

Após a morte de Carlos Magno, seus descendentes (netos) partilharam seus vastos
domínios. Isso obviamente abalou a unidade do Império, que passou a ser invadido
novamente pelos bárbaros.

O clima de insegurança espalhado pela onda de invasões conduziu os cristãos europeus


a construir vilas fortificadas e castelos cercados com grandes estacas. Cada um
defendia-se como podia, associando-se a senhores mais poderosos, em busca de
proteção. Nesse sentido, as "invasões" assinalaram um fator essencial na formação das
sociedades feudais na Europa ocidental.

Cada um dos núcleos de defesa que surgiram na Europa gravitavam em torno de um


chefe, o Senhor Feudal. As relações entre suseranos e vassalos era baseada na mútua
prestação de serviços e na confiança recíproca. Tanto que a palavra feudo vem de fé, ou
seja, de confiança.

Assim, da família nasceu o feudo e do feudo surgiu o reino, quando os senhores feudais
sentiram a necessidade de ter um árbitro para suas contendas.

O sacro império germânico - As Cruzadas

Por questões próprias da história e da geografia, em cada país da Europa surgiu um


sistema político peculiar. Porém em todos havia em comum a fé católica. Como a
religião era o denominador comum, o Papa podia intervir todas as vezes em que as leis
afetassem a moral cristã.

Jerusalém, a Terra Santa, foi tomada no final do século XI pelos seldjúcidas que,
convertidos ao islamismo, eram bastante intolerantes e proibiram o acesso dos cristãos a
Jerusalém.

E o que foram, então, as cruzadas? Alguns historiadores dizem que foram guerras de
conquista da Europa contra os árabes, para a libertação da Palestina, que estava em
poder dos "turcos". Mas a verdade é que a Europa estava praticamente cercada pelos
turcos, que a estavam proibindo o acesso a certos lugares santos. Entendemos que foi
isso que motivou as cruzadas.

Em 1095 o papa Urbano II lançou um apelo à cristandade para que, pondo de lado as
dissensões, se unisse num esforço comum para combater os turcos e "libertar o Santo
Sepulcro".

Como eram guerras defensivas e supostamente "santas", os cavaleiros partiam com a


consciência tranquila. E assim, após vários combates, conquistaram Jerusalém e outras
importantes cidades como Trípoli, onde foram criados feudos e originou-se o Reino
Latino-Cristão do Oriente.

Nos anos seguintes, com a euforia da vitória, mais voluntários seguiram para o Oriente.
As motivações eram variáveis: se alguns pretendiam obter novos feudos, havia também
aqueles que pretendiam ganhar batalhas, bênçãos espirituais, e voltar para a sua terra.

Bem, se por um lado as cruzadas aprofundaram a hostilidade entre o cristianismo e o


Islã, por outro estimularam os contatos econômicos e culturais para benefício
permanente da civilização européia. O comércio entre a Europa e a Ásia Menor
aumentou e a Europa conheceu novos produtos, em especial, o açúcar e o algodão. Os
contatos culturais que se estabeleceram entre a Europa e o Oriente tiveram um efeito
estimulante no conhecimento ocidental e, até certo ponto, prepararam o caminho para o
Renascimento.

Embora nem sempre bem sucedidas, as Cruzadas trouxeram como conseqüência o


incremento do comércio, além de introduzirem novas idéias na Europa, devido ao
inevitável contato com povos do oriente e seus domínios em diversos campos do
conhecimento. Ademais, nelas muitos nobres morreram, o que provocou, juntamente
com a ascensão da burguesia e o aumento do poder real, um movimento em direção ao
absolutismo na Europa.

A Magna Carta da Inglaterra

Enquanto continuavam as cruzadas o absolutismo foi se firmando na Europa.

No século XIII, o rei inglês, João 1º, considerado teimoso e descontrolado, era
ridicularizado pelo fato de seu pai tê-lo ignorado na partilha da herança. Assim, ganhou
o cognome de "João Sem Terra" (John Lackland).

Desde o início, sofrera por ser o sucessor de seu popular irmão Ricardo Coração de
Leão. Além disso, envolveu-se numa rixa constante com a Igreja. Porém a rápida perda
de prestígio do soberano deveu-se aos longos anos de disputas com a França em torno
das posses continentais da coroa inglesa no norte francês.

No início de 1214, o soberano francês ameaçou atacar a Inglaterra e João Sem Terra se
antecipou, invadindo a França. Mas a invasão foi um lamentável fracasso. A vergonha
da derrota fez com que a nobreza inglesa se levantasse definitivamente contra seu
monarca. Em 63 artigos, os nobres estipularam quais direitos queriam que o rei inglês
garantisse a eles e a seus descendentes.

Algumas das exigências mais importantes eram o direito a que nenhum imposto fosse
mais criado sem a aprovação da nobreza, bem como que nenhum cidadão livre poderia
ser preso por funcionários reais sem que as razões de sua prisão fossem investigadas.
Além disso, os nobres estabeleceram para si privilégios inalienáveis, os quais nem o rei
nem o papa poderia revogar. A partir daí, pela primeira vez, um rei inglês não reinaria
mais pela "graça divina", com poderes ilimitados.
Apesar disso, nada mais restou ao rei senão assinar a Carta Magna, naquele histórico 15
de junho de 1215.

Não é demais lembrar que a Carta Magna era a carta de liberdades para os senhores
feudais. A massa principal da população não obteve benefício algum. Ainda assim o
documento é considerado de ímpar importância histórica, um verdadeiro marco nos
estudos de direito constitucional, no que se refere às limitações do poder do Estado e na
origem dos direitos do cidadão.

Isso porque, em forma modificada, a Carta Magna tornou-se parte e alicerce da


legislação britânica atual. Ademais, juntamente com a Declaração de Direitos (Bill of
Rights) de 1791, formou a base de todas as leis dos Estados Unidos da América. Não é
um exagero considerar que tal documento criou as condições para que liberdades e
direitos civis pudessem se estabelecer, primeiramente na Grã-Bretanha e, mais tarde, no
mundo ocidental.

Últimos tempos da Idade Média

Os últimos tempos da Idade Média foram marcados pela Guerra dos Cem Anos, entre
franceses e ingleses (1337-1453).

No plano político, essa guerra foi motivada pela crise política que tomou conta da
França depois da morte de Filipe, O Belo, em 1328. Buscando desfrutar das vantagens
econômicas provenientes da unificação das coroas, o rei britânico Eduardo III exigiu o
trono francês, pois era neto do falecido monarca da França.

Além disso, o interesse econômico também explica esse desgastante confronto. Nesse
período, os monarcas preocupavam-se em fortalecer seu poder político por meio da
cobrança de tributos. Foi a partir dessa situação que ingleses e franceses disputaram o
controle fiscal sobre a próspera região de Flandres.

Os ingleses venciam os exércitos franceses impondo uma pesada derrota. Já parecia


impossível que os franceses pudessem reverter a supremacia britânica. Todavia, em
1429, o papel desempenhado por uma francesa chamada Joana D'Arc deu outros
destinos para esse conflito. Liderando um pequeno exército, essa lendária guerreira
reconquistou importantes cidades do domínio inglês.

Imediatamente, os ingleses ficaram alarmados com os feitos da desconhecida


camponesa. Joana D'Arc foi então aprisionada e oferecida aos tribunais eclesiásticos sob
a acusação de bruxaria. Julgada e condenada, a heroína francesa foi queimada viva em
1431.

Os ingleses almejavam abafar uma possível reacção militar por parte da França. No
entanto, as conquistas empreendidas pela santificada guerreira mobilizaram a população
francesa em novas batalhas, até que em 1453, a conquista da cidade de Bordeaux
obrigou os ingleses a admitir sua derrota, dando fim à guerra.
A Guerra dos Cem Anos foi seguida, na Europa, de uma terrível peste, a Peste Negra,
trazida por meio de infecção do ar, já que muitos cadáveres permaneceram sem
sepultamento durante muito tempo.

Há relatos de que ratos contribuíram para espalhar a epidemia, que, segundo alguns
historiadores, chegou a contabilizar um número de mortos aproximado de um terço da
população europeia da época.

Após o contacto com a doença, a pessoa tinha poucos dias de vida. Febre, mal-estar e
bolhas de sangue e pus espalhavam-se pelo corpo do doente. Como os conhecimentos
médicos eram pouco desenvolvidos, a morte era certa. Para complicar ainda mais,
muitos atribuíam a doença a factores comportamentais, ambientais ou religiosos.

Então, enquanto os cristãos combatiam entre si na Guerra dos Cem Anos, os turcos
cercaram Constantinopla, que era o principal centro comercial da época, um verdadeiro
elo de união entre o Ocidente e o Oriente. A tomada de Constantinopla pelos turcos
ocorreu em 1453 e o grande abalo causado pela queda da "Segunda Roma" marcou o
fim da Idade Média e o início dos tempos e dos direito modernos. Mas essa já é outra
parte da história.

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Referências bibliográficas

- BOBBIO, Norberto. O positivismo jurídico. Lições de filosofia de direito. Ed. Ícone.


São Paulo, 2006.

- CICCO, Cláudio de. História do Pensamento Jurídico e da filosofia do direito. 4ª ed.


São Paulo. 2009.

- DUBY, Georges. A sociedade Cavaleiresca. São Paulo, Martins Fontes, 1989.


(Coleção o homem e a história)

- ESPINOSA, F. Antologia de textos históricos medievais. Lisboa: Sá da Costa, 1981

- KOSMINSKY, E.A. História da Idade Média. Editora Central do Livro Brasileiro.

- MELLO, José Roberto. As Cruzadas. São Paulo. Editora Ática, 1989.

- PAIS, Marco Antonio de Oliveira. A formação da Europa - A alta Idade Média. 6ª ed.
São Paulo, Editora Atual, 1994.

- REZENDE FILHO, Cyro de Barros. Guerra e guerreiros na Idade Média. São Paulo,
Contexto, 1989.

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IESB- Instituto de Educação Superior de Brasília

Disciplina: História do Direito

Aluno: Maria Thamyres de Souza Almeida

Matrícula: 1511010520

Professor: Eduardo Gama

História do Direito

A Alta Idade Média

A Alta Idade Média é o período que se estende da queda do Império

Romano em 476 até a tomada de Constantinopla pelos turcos em 1453.

É um período histórico onde se misturam as culturas germânica e católica,

os germânicos eram povos de cultura rústica, de hábitos bem diferentes dos

romanos, vestiam-se de peles, habitavam os campos e tinham uma cultura

seminômade, praticavam a agricultura e o pastoreio e a guerra era primordial

para a economia desse povo.

Ao invadirem o Império Romano, esses povos dividiram-se em vários

Reinos, outros se espalharam pelo território e é inegável que a chegada deles,

alterou significativamente a organização social não só deles, mas também do

povo romano.

Os camponeses livres se submeteram a autoridade da elite que nascia, uma

elite formada por guerreiros que detinham a propriedade das terras, dessa forma

os camponeses não tinham outra opção, senão se submeter a autoridade dessa

elite.

Na Idade Média, aos poucos o ideal cristão foi triunfando sobre a barbárie

germânica, e foi se fundando uma sociedade baseada nos princípios cristãos e


que onde o Estado era profundamente influenciado pela Igreja Católica.

Esse período era formado basicamente por três tipos de homens. Os que

oravam os que guerreavam e os que trabalhavam quanto aos que trabalhavam

estes não eram livres, também não eram escravos. Mas, estavam presos aos

feudos em que trabalhavam não lhes sendo permitido trocar de feudos quando

achassem conveniente.

O sistema Feudal

Características

O Feudalismo estava ligado à sobrevivência, um homem que tivesse terras e


desejasse proteção para a sua propriedade e para sua família mas, não pudesse pagar um
capanga por ser muito caro, poderia oferecer uma pequena parte dessa terra a um outro
homem que se tornaria seu servo e se encarregaria de proteger sua propriedade, em
troca o servo ganhava o direito de produzir o seu próprio alimento e de sua família.

Tal sistema causou uma fragmentação do poder, diminuindo

consequentemente o poder centralizado, pois cada senhor era dono do seu feudo

que poderia ser uma pequena ou grande propriedade e ali possuía poderes

absolutos de modo que, os seus servos apenas se submetiam ao seu poder e a

nenhum poder estatal.

Contrato Feudo-Vassálico

O próprio sistema feudal era uma questão do Direito, pois, baseava-se em

um contrato onde, o senhor e o servo assumiam responsabilidades recíprocas,

essas responsabilidades eram assumidas publicamente em uma cerimônia onde o

servo em um ato de auto entrega colocava-se nas mãos do seu senhor, o ritual

era o seguinte: O homem sem armas e com a cabeça descoberta ajoelhava-s e aos

pés do senhor feudal e os dois davam-se as mãos, o senhor assim como o servo

também devia jurar fidelidade, nesse ritual os dois deviam enumerar todos os

aspectos sob os quais fé deveria ser guardada.


Os Efeitos do Contrato Feudo-Vassálico

Esse contrato gerava poder sobre o vassalo e também a obrigação de

fidelidade de sustenta-lo e de nunca o prejudicar já o vassalo devia ao ser senhor

auxílio material e militar ou o consilium que era a obrigação de aconselhar o seu

senhor sempre que este o convocasse. Os vassalos podiam ter outros vassalos, os

quais não tinham obrigação alguma para com o senhor do seu senhor.

O Fim do Contrato Feudo-Vassálico

Inicialmente, o contrato feudo-vassálico na Idade Média não poderia ser

rompido, pois como era resultado de um juramento para a Igreja deveria ser

eterno ou até que a morte de um dos contratantes o encerrasse. Mas, na prática

existiam algumas formas para pôr fim ao contrato.

O vassalo poderia devolver o feudo entregando ao senhor o objeto símbolo

que o representava e que fora entregue no ritual do contrato e também uma das

partes poderia romper o contrato se a outra não honrasse com a sua parte ou

fosse excomungada da Igreja.

Havia também, uma outra forma, na qual o vassalo atirava uma flecha ou

uma luva em direção ao senhor, este também poderia romper o contrato dessa

forma, mas apenas com o consentimento prévio da sua côrte.

O senhor também podia tomar o feudo temporariamente para adverti-lo

ou definitivamente.
Os Direitos de Uso e propriedade no Contrato Feudo-Vassálico

Na Idade Média propriedade e posse se confundem, e o poder sobre

ela é restrito na prática na mesma medida que é na teoria, contudo

o direito de dispor da terra foi cada vez mais sendo restringido ao

senhor em detrimento do vassalo.

O feudo mesmo sendo propriedade do senhor e de usufruto do vassalo não

era passível de alienação por nenhuma das partes, mas poderia em parte ou no

todo ser dado a um homem livre que se tornaria vassalo do vassalo do

proprietário.

A rigor, o contrato feudo-vassálico excluía a hereditariedade do usufruto

do benefício já que este era de cunho pessoal. Mas, na prática geralmente o que

ocorria era do filho do vassalo herdar também a vassalagem, bastava ir até o

senhor e fazer o ritual do contrato, se o filho era menor o senhor cuidava dos

seus interesses até que este fosse maior e pudesse se tornar vassalo. Se fosse uma

filha, o marido dela herdaria a vassalagem por isso, muitas vezes o senhor

interferia no casamento para conseguir alianças mais vantajosas.

As Relações Feudo-Vassálicas e a Justiça

A concessão de um feudo a um servo não era uma concessão ampla que

diz respeito aos Direitos ou a justiça, visto que, mesmo a propriedade sendo de

usufruto do vassalo, este não poderia utiliza-la da forma que quisesse tinha que

usá-lo conforme instruções do senhor e tinha obrigações para com ele.


A doação do benefício se feita junto com os direitos de natureza deixava

claro a quem pertencia o direito de justiça no feudo, mas não era assim que

funcionava na prática, na maior parte das vezes o senhor continuava mantendo a

jurisdição sobre aquele feudo. Com o passar do tempo, essa jurisdição passou a

ser feita pelo conselho de vassalos ou pelas cortes existentes na cidade

destinadas a decidir questões criminais.

Os Direitos da Idade Média

Como a Idade Média se formou a partir da união do que restou do Império

Romano com os povos germânicos e a Igreja Católica que ganhou força com

queda do Império, consequentemente, o Direito Medieval é composto pelo

Direito romano, católico e germânico.

Direito Germânico

Os povos germânicos viviam em cidades ou aldeias, eram extremamente

ligados à terra, a família era baseada no poder patr iarcal e era a sua principal

instituição, a filha vivia com os pais até que se casasse e o filho até ser ''armado''

quando completava a maioridade, porém mesmo sendo maior a família ainda era

responsável pelos atos que ele praticava, pagando suas dívidas e respondendo

pelos seus erros.

Os direitos dos povos germânicos não eram escritos e eram resultado dos

costumes e da tradição, e como os direitos germânicos abrangem diversos povos

diferentes, cada tribo tinha sua própria tradição e costume, que muitas vezes se

assemelhavam com o de outras tribos, mas, não eram iguais. Em alguns casos

eles eram minuciosos quanto às penas a serem aplicadas.

Quando se estabeleceram no Império Romano, alguns grupos germânicos

sentiram a necessidade de tornar o seu direito escrito para controlar melhor a


população romana conquistada visto que, os romanos já utilizavam o direito

escrito, outros reinos optaram por manter a sua própria legislação e costumes

que são chamados de Direitos das Monarquias Germânicas, foi aí que teve início

o Direito Medieval, com a introdução do Direito Germânico.

A maior parte das tribos germânicas mesmo tendo sua própria lei e não

procurou impô-la aos romanos, assim cada povo era julgado segundo a lei e

costume da sua tribo isso é chamado de ‘’personalidade das leis’’

O Reino Vândalo

No auge do seu poder, os vândalos eram donos do Norte da África, e

conseguiram fazer coexistir ao mesmo tempo a sociedade germânica e romana.

A minoria vândala em torno de 80.000 pessoas buscou não se misturar com

os romanos por questões militares, os casamentos mistos eram proibidos e a

conversão ao catolicismo também, também mantiveram suas leis e costumes.

Mantiveram da mesma forma a administração da África Romana,

estabeleciam grandes domínios, mas, mantinham o que cultivavam no mesmo

lugar, deixaram para os romanos a tarefa de cuidar da administração, impostos e

julgamentos das causas. O rei era obrigatoriamente vândalo, mas, utilizava

romanos em sua corte que redigiam as leis em latim e o auxiliavam na

administração.

O Reino Ostrogodo

Em 493 os ostrogodos invadiram a Península Itálica com apoio dos

Bizantinos que desejavam expulsar os herúlos, responsáveis pela queda do

último imperador de Roma.

Teodorico, o rei, havia sido educado no Bizâncio e por isso manteve a

legislação romana intacta e também a administração. Mas, devido as


divergências religiosas entre romanos e estrogodos proibiu o casamento entre

esses dois povos, embora tenha buscado reconciliá-los posteriormente durante

todo o seu reinado.

Teodorico também formou uma confederação com os povos germânicos

para conter os bizantinos, mas sua tentativa falhou e a península foi tomada por

Bizâncio com o auxílio da tribo germânica dos Lombardos e em 553, o reino

chegou ao fim.

O Reino Visigodo

Instalado na Península Ibérica o reino visigodo foi um dos que m ais duraram,

se fundiram perfeitamente com a população local e suas instituições inclusive da área do

direito foram utilizadas até séculos mais tarde.

Até o século VII os Hispano-romanos e visigodos tiveram uma dupla

legislação e suas legislações seguiam quase o mesmo caminho. Em 506 o rei Alarico II

mandou criar Lex Romana Vsigothorum ou Breviário de Alarico, tal legislação tinha o

objetivo de restaurar o direito romano imperial, mas manteve a Personalidade das Leis.

Esta somente foi suprimida em 654 que suprimiu a Personalidade e criou um código

único, o Líber Judiciorum.

O Reino dos Burgúndios

Godenbaldo (474-516) criou a Lex Romana Burgundiorum, é tida como uma

compilação de leis extremamente romanizada, principalmente em relação às regras de

Direito Civil e processo.

O Reino dos Francos

Foi um dos reinos mais duradouros e poderosos da Alta Idade Média. Em termos

legislativos foi muito mais legiferante, entre 774 e 884 produziram mais de duzentos
textos legislativos, esses textos eram chamados de Edicta, Decreta e constituciones ou

capitulares.

As capitulares eclesiásticas (administração e organização da Igreja e instituições

eclesiásticas) e as capitulares laicas. Dentre estas últim as havia as Capitulares Legibus

Addenda (eram textos a serem aplicados nas mesmas condições das leges ou leis), as

Capitularia Missorum (que continham instruções destinadas aos funcionários reais ou

imperias quando viajavam a serviço) e as Capitularia Per se Secribenda (que continham

disposições de caráter administrativo ao lado de medidas administrativas).

A Monarquia Franca também tinha tribunais ordinários em cada pargus (ou

condado). Esses tribunais eram formados por homens livres e presididos por um conde

que eram assistidos por pessoas que se chamavam legem dicere (dizer o direito).

O Direito Canônico

Direito canônico é o nome dado ao Direito da Igreja católico, foi um direito de

grande importância na Idade Média devido a grande influência da Igreja, mas também

por ser um escrito, esse direito possuía um caráter unitário que nenhuma outra

instituição poderia oferecer neste período.

Aumentando cada vez mais a importância desse direito para a Idade Média, o

Direito canônico foi por vários séculos, responsável pelo domínio do direito privado não

só para religiosos, mas também para leigos. Os tribunais eclesiásticos eram responsáveis

pelos casamentos e divórcios, por exemplo.

Embora fosse um direito religioso, a Igreja sempre admitiu a dualidade entre

direito religioso e direito laico.

As fontes do Direito canônico são o ius divinum(conjunto de regras extraídas da

Bíblia), dos escritas dos doutores da Igreja e da doutrina patrística), a própria legislação

canônica(formada pelos decisões dos concílios e dos escritos dos papas-chamados

decretais), os costumes e os princípios recebidos do Direito Romano.


Em 313, o Imperador Constantino concedeu às partes a possibilidade de se

submeterem voluntariamente à jurisdição do bispo, dando à esta o mesmo valor de uma

decisão laica.

No período Carolígnio, somente a Igreja julgava os assuntos relacionados aos

sacramentos, a medida que o poder laico foi enfraquecendo pela diminuição do poder

real, o poder canônico passou a julgar várias questões leigas, como heresias, sacrilégios,

simonias, feitiçarias, apostarias, entre outras.

Nos processos criminais os processos eram atrelados à queixa, à acusação. E nos

séculos XII e XIII era baseado em um tipo de prova ''irracional'', onde se recorria a uma

divindade para obter justiça por meio dos ordálios, que podiam ser unilaterais ou

bilaterais.

No período medieval, até o século XIII, utilizava-se provas de ferro em brasa ou

água fervente, acreditando-se que, se o sujeito era inocente isto não o feriria(ordálios

unilaterais).

Os ordálios bilaterais poderiam ser provas de batalha com campeões, podia ser uma

luta de espada ou outra forma. Ou ainda se colocava os indivíduos em contenda de pés e

braços abertos e o que primeiro não aguentasse era considerado culpado.

Os ordálios foram condenados pela Igreja a partir do IV concílio de Latrão de 1215,

mas estas práticas persistiram por muitos séculos na Europa. No fim da Idade Média,

utilizava-se o processo inquisitório.

Direito Romano

Na Idade Média levava-se em conta a Personalidade das Leias, sendo assim o

Direito Romano permaneceu sendo aplicado aos romanos e o Direito Germânico aos

invasores, mas nas áreas muito romanizadas o Direito Romano superou o Direito

Germânico.

Assim sendo, o Direito Romano continuou a ser usado diretamente ou como fonte
inspiração para a criação de novas leis, a utilização de um direito para formar outro é

chamada de recepção.

Na Europa Oriental(Bizâncio) o Direito Romano foi utilizado durante toda a Idade

Média, também do lado ocidental, a partir do século XII na Itália e nos séculos

seguintes em toda a Europa houve um ''Renascimento'' do Direito Romano.

A Inquisição

A Inquisição era o tribunal especial para julgar e condenar os hereges, pessoas ou

grupos que eram acusados de praticar feitiçaria ou bruxaria ou de exercer um

catolicismo desviado.

Na Idade Moderna, a formação de muitos dos Estados Absolutistas, foi em grande

parte pela utilização política do Tribunal do Santo Ofício da Inquisição, os monarcas

muitas vezes usavam esses tribunais para eliminar todos os que lhe fizessem oposição.

Tribunal do Santo Ofício e os Tribunais Seculares

No sistema inquisitório, o julgamento era um mero confronto entre as partes

e ainda não havia a noção de ''interesse público'' no tocante a punição dos crimes.

A tortura era usada como pena e como meio de obtenção de provas sendo

amplamente aceita, o réu era seu próprio juiz, e a sua resistência ou não a tortura era o

que determinava sua culpa ou inocência. As leis se limitavam apenas a ordenar ou


permitir a tortura e regulamentava seu uso por meio dos costumes.

Haviam também as penas chamadas de ''morte civil'', onde o indivíduo perdia

todos os seus direitos e era excluído totalmente da sociedade, sendo esta uma das penas

mais cruéis.

Penalidades corporais como mutilações podiam ser aplicadas como medidas

preventivas para mostrar a sociedade que o indivíduo era perigoso.

A pena de morte era utilizada para muitos crimes, mas, antes que esta fosse

concretizada, era necessário a vingança que podia ser aplicada de diversas formas

como: arrancar as partes do corpo do condenado cobrindo com piche ou chumbo para

evitar que morresse. (Haviam diversas tipos de penas de morte como, o esquartejamento

(as partes eram amarradas em animais), fogo, roda, forca e decapitação). A roda era uma

das mais temidas porque o sujeito era amarrado em uma roda e era atacado

violentamente com porretes na altura dos rins e nos braços e pernas (que se quebravam)

esperando, de cabeça para baixo, a morte chegar.

As penas eram formas de vingança e não de reinserir o indivídu o no convívio

social, não havia o Estado para proteger o cidadão ou este não tinha meios para fazê-lo,

por fim a pobreza e a ignorância eram tão grandes que a população não conhecia outras

formas de processo e pena.

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