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A formação do mundo medieval.

1. A queda do Império Romano do Ocidente Entendendo Roma e os povos bárbaros: O principal povo
bárbaro que ameaçava o Império Romano eram os germânicos. Eles estavam organizados em
comunidades formadas por clãs eram guerreiros e camponeses também. Quando seus solos se esgotavam
eles buscavam solos férteis e por isso acabaram sendo atraídos pelos solos romanos. No século I, o fim da
política de expansão romana (pax romana) e a necessidade de abastecer as tropas nas fronteiras do
Império (limes) aproximaram Roma dos povos germânicos. De início, os germanos trocavam com os
soldados madeira, trigo e peles por produtos romanos (vinho, tecido e metais preciosos). Em meados do
século II, a dificuldade em obter mão de obra escrava para o trabalho agrícola, devido ao término das
guerras de conquista, levou Roma a arrendar aos germanos pequenos lotes. No século III, a Gália, a
Hispânia e o norte da península Itálica foram saqueadas por alamanos e francos. A costa da Bretanha foi
invadida pelos saxões; a banda oriental do Império sofreu invasão dos godos, que, atravessando o
Danúbio, chegaram à Tessalônica, na Macedônia, e à Dácia, na atual Romênia. Os romanos conseguiram
conter os avanços dos germanos, mas tiveram que reorganizar o seu sistema de defesa. Roma adotou
estratégias e armas dos inimigos e incorporou cavaleiros de origem germânica ao seu exército. A adoção
de novas medidas restabeleceu o equilíbrio entre as forças romanas e os povos invasores, mas abriu
caminho para a entrada pacífica de populações germânicas em muitas regiões do Império.

1.1 A migração consentida dos bárbaros: A partir do século IV, a penetração dos povos germânicos no
Império ocorreu com a licença e mesmo com o incentivo do Estado, que os recebia como povos
federados. A aliança entre os chefes bárbaros e o governo imperial teve consequências de longo alcance: a
formação de uma autêntica cultura romano-germânica. Os germanos absorveram, por exemplo, elementos
da arte romana e transmitiram aos romanos suas técnicas nas artes de ourivesaria. Por outro lado, o
contato com pregadores cristãos promoveu a evangelização dos federados, que adotaram o cristianismo.
Os godos (visigodos e ostrogodos) foram os primeiros, seguidos dos vândalos, francos, alamanos e
lombardos. Em 410, os visigodos saquearam Roma e deixaram o resto da península Itálica destroçada.
Roma aos poucos ia cedendo à investida dos bárbaros e ia firmando novos pactos e acordos. Em resumo,
as invasões dos povos germânicos foram, de um lado, ações militares de conquista e, de outro, migrações
pacíficas sob a chancela dos imperadores. As famosas fronteiras romana iam e vinham povos germânicos
da mais variada procedência.

1.2 O último suspiro: No século V, a parte ocidental do Império Romano se encontrava enfraquecida. O
colapso veio com a invasão dos hunos, povo de origem asiática. Sob comando de Átila, os hunos
investiram pesadamente sobre o Império Romano. Chegando, por fim, a entrar em acordo com o papa
Leão I para não investir mais sobre o Império. Com a morte de Átila, o Império Huno se desfez, mas a
situação romana só piorou. Os hérulos , comandados por Odoacro, conquistou Roma e destronou o
imperador, iniciando assim o período medieval.

2. Ascensão de Bizâncio: O Império Romano do oriente não fora tão afetado pelas invasões do século V e
logo se tornou uma potência no mundo mediterrâneo ao longo dos séculos seguintes. Junto com a
influência romana, bizâncio contou com muitos elementos gregos e asiáticos, que tornaram a cultura
bizantina diferente da romana em muitos aspectos como: religião, arquitetura, artes e língua. O idioma
falado em Bizâncio era o grego, por exemplo. Originalmente, o nome da cidade era Bizâncio; somente no
século IV passou a se chamar Constantinopla, em homenagem ao imperador Constantino. O Império
Bizantino conheceu seu esplendor durante o reinado de Justiniano (527-565), que procurou restaurar a
autoridade imperial em territórios controlados pelo antigo Império Romano, mantendo o mar
Mediterrâneo como eixo da economia. Restabeleceu os quadros administrativos romanos e determinou a
compilação e revisão do Direito Romano. Em 528, nascia o Código de Direito Civil (Corpus Iuris
Civilis), cujo livro mais importante, o Código de Justiniano, afirmava o poder ilimitado do imperador e a
submissão de colonos e escravos aos seus senhores.

2.1 A questão iconoclasta: O cristianismo de Bizâncio nem sempre caminhou de mãos dadas com a Igreja
de Roma. Entre os séculos VIII e IX, a representação e o culto às imagens da Virgem, de Jesus, dos anjos
e dos santos foram proibidos no Império Bizantino. Em 730, iconoclastia tornou-se doutrina oficial, por
decreto do imperador Leão III, proibindo o culto às imagens. Artistas, sacerdotes e fiéis que produziam ou
adoravam imagens foram perseguidos. Vários deles fugiram para o Ocidente. Em 785, as tentativas para
pôr um fim ao iconoclasmo, promovidas pela imperatriz Irene, foram malsucedidas. Somente em 843 o
culto às imagens foi restaurado.

2.2 O Império em expansão: A tentativa de resgatar a glória do antigo Império Romano do Ocidente
significou a adoção de uma política expansionista por parte de Bizâncio. Os bizantinos realizaram
campanhas no Mediterrâneo ocidental, conquistando, durante o século VI, os reinos vândalo (no norte da
África), ostrogodo (na península Itálica) e visigodo (na península Ibéerica). O império de Justiniano
firmava-se, assim, como grande potência mediterrânea. Após a morte de Justiniano (565), os domínios
bizantinos se reduziram no Ocidente, devido aos ataques dos lombardos (na península Itálica) e eslavos
(nos Bálcãs). No Oriente Próximo, Bizâncio sofreu derrotas para a Pérsia Sassânida, empenhada em
controlar rotas de acesso ao Mediterrâneo, cujo exército se apoderou da Síria, da Palestina e do Egito. A
crise provocou mudanças nas estruturas de bizâncio, que conseguiu se reequilibrar, porém não foi o
mesmo da era Justiniana e se manteve a defesa contra os povos islamizados.

3. Os reinos germânicos: A Europa ocidental firmou-se como um “grande mosaico de reinos germânicos”
ao fim das invasões bárbaras. Visigodos dominavam a Hispânia; vândalos estavam pelo norte da África;
ostrogodos na península Itálica; anglo-saxões na Britânia. Os borgúndios, francos e alamanos lutavam
pela Gália e como resultado dessa disputa, tivemos o reino franco.

3.1 Os francos: A primeira dinastia franca ficou conhecida como Merovíngia, em homenagem a Meroveu,
considerado o primeiro rei franco. O período de ascensão dos francos começou em 481, sob a liderança de
Clóvis, cujos exércitos derrotaram os alamanos e os visigodos na Gália e empurraram os borgúndios para
o sul. Segundo um cronista da época, a vitória dos francos sobre os alamanos estimulou a conversão de
Clóvis ao cristianismo da Igreja de Roma. Em 496, ele foi batizado, fato que se tornou um marco
importante para a história dos francos e da Igreja no mundo medieval. Clóvis passou a ser saudado como
um “novo Constantino”. Clóvis unificou os francos e fundou uma monarquia cristã na qual o poder lítico
era legitimado pela Igreja de Roma, assumindo papel de defensor do credo romano. Sua conversão foi
logo seguida por uma guerra contra os visigodos, adeptos da versão ariana do cristianismo. Em 507, os
francos saíram vitoriosos, mantiveram os opositores na península Ibérica e passaram a controlar a Europa
ocidental, com exceção da península Itálica.

3.2 A continuação franca: Situados na península Itálica desde a morte de Odoacro, os ostrogodos
reconstruíram Roma e formaram um reino que contava com a colaboração da população local. Mas a
morte de seu líder, Teodorico, em 526, gerou uma crise sucessória. Aproveitando-se dessa situação,
Justiniano enviou tropas à região e pôs um ponto final no reino ostrogodo. O domínio bizantino acabou
sofrendo um grande golpe naquela região (península Itálica). Em 568, a invasão dos lombardos tomou
todo norte da península Itálica. Os lombardos destruíram a organização administrativa dos ostrogodos e
fundaram um reino onde o único recurso provinha da terra. Embora tenham se convertido ao catolicismo,
acabaram confiscando algumas propriedades do papa Estevão II. Este, temendo perder o controle sobre
suas posses e a própria Igreja, apelou aos francos. Firmado no tempo de Clóvis, o vínculo entre Igreja e
os francos foi ainda mais fortalecido quando Carlos Martel, prefeito do palácio real (a maior autoridade
militar), impediu o avanço dos muçulmanos na Europa, na célebre Batalha de Poitiers (732). A vitória dos
francos manteve os seguidores do profeta Maomé na península Ibérica, garantindo o domínio da Igreja
nos territórios conquistados pelos merovíngios. Na época em que o papa Estevão II recorreu aos francos,
eles viviam sob o domínio da dinastia carolíngia, fundada por Pepino, o breve, filho de Carlos Martel, que
assumiu o poder em 751. Apesar da mudança dinástica, a aliança entre os francos e a Igreja permaneceu
inabalável. Entre 754 e 756, Pepino organizou duas campanhas contra os lombardos e retomou as regiões
de Ravena e Roma, doando-as à Igreja. O ato, conhecido como doação de São Pedro, deu origem ao
Estado pontifício que iria durar mais onze séculos.
3.3 O Império Carolíngio: Soberano dos francos desde 771, Carlos Magno venceu os lombardos e tornou-
se também rei. A sua coroação, em 800, simbolizava a restauração do Império Romano do Ocidente, que
desapareceu no século V. Com dimensões consideráveis, o Império Carolíngio abrangia grande parte da
Europa ocidental, com exceção da península Ibérica e boa parte da península Itálica. O império foi
dividido em condados, governados por homens de confiança do imperador que lhe prestavam juramento
de fidelidade pessoal, recebendo em troca terras, além do cargo. Os ducados eram os únicos territórios
livres da administração dos condes, autorizados a conservar suas próprias leis, embora subordinados ao
imperador. O conde era responsável pela arrecadação de impostos e exercício da justiça, podendo nomear
auxiliares, os chamados viscondes. Nas fronteiras do Império, situavam-se as marcas, confiadas aos
marqueses, dotados de poderes militares. Duques, viscondes e marqueses também recebiam terras como
benefício pelos cargos que ocupavam. Assim surgiu o embrião da nobreza medieval. No tempo de Carlos
Magno, para subordinar áreas tão distintas e obter acordo de senhores laicos e eclesiásticos, o Imperador
proclamava suas decisões por escrito, capítulo por capítulo. As capitulares foram fundamentais para o
aprimoramento dos tribunais dos condados e ainda estimularam o uso da escrita – em latim – no mundo
palaciano. O esforço carolíngio na formação e quadros manifestou-se também na criação de escolas, uma
das marcas do chamado Renascimento Carolíngio. A Escola do Palácio ou platina era a mais famosa e se
dedicava ao preparo de jovens da nobreza para a administração; já escolas eclesiásticas se ocupavam da
formação de clérigos.

3.4 Império dividido: Entendido como patrimônio do imperador, o Estado não dispunha de finanças
estáveis. Sustentava-se com serviços e prestações em gênero cobrados de todos os súditos. Não havia
tributação em moeda porque a circulação monetária era restrita. A monarquia carolíngia também não
dispunha de um exército permanente, cabendo aos vassalos zelar pela defesa do império e alojar os
emissários do imperador (missi domici), encarregados de fiscalizar a administração. Na verdade, era um
império agrário, sustentado pelo trabalho de camponeses submetidos aos duques, condes e marqueses.
Carlos Magno morreu em 814, com cerca de 70 anos, e foi sucedido pelo seu filho Luís, o Piedoso, que
conseguiu a duras penas manter o império unificado. Após sua morte em 840, o império foi dividido entre
seus três filhos: Lotário; Carlos, o Calvo; e Luís, o Germânico. O Tratado de Verdum, assinado entre eles
em 843, consolidou a divisão do Império Lotário recebeu o título de imperador e ficou com o norte da
península Itálica, o sul da Germânia, a futura Áustria e o território onde hoje se localizam os Países
Baixos. Seus domínios eram a base territorial do Sacro Império Romano-Germânico. Carlos, o Calvo,
ficou com a maior parte da atual França. Luís herdou a maior parte do território germânico. A partir do
século IX, o Ocidente adquiriu as características que iriam marcar boa parte da Idade Média: do ponto de
vista econômico-social, o triunfo da ruralização; do ponto de vista institucional, o triunfo da
descentralização política; A única força aglutinante era a Igreja de Roma, autoridade máxima, no plano
simbólico, da cristandade medieval.

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