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Apontamentos de Direito Romano

1º ano/1º Semestre

Faculdade de Direito de Lisboa

Ana Sofia Carrilho , 2011/2012
Fonte bibliográfica: Curso de Direito Romano, Prof. Eduardo Vera-Cruz Pinto;

Direito Romano, Prof. Sebastião Cruz
























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MONARQUIA
753 a.C. – 509 a.C. REPÚBLICA
509 a.C – 27 a.C
ORAGANIZAÇÃO POLÍTICA

ORGANIZAÇÃO POLÍTICA
Rei / Senado / comícios Comentado [1]:
• Magistraturas / Senado / comícios Imperium Militar
Poder supremo Imperium demi
Representa os patrícios Poder religioso (rex sacrum)
Representa o povo
RELEVÂNCIA DO ELEMENTO SOCIAL NA ORGANIZAÇÃO DE ROMA
(Exercício vitalício do cargo)
• Lex liciniae Sextiae: os plebeus puderam aceder à
RELEVÂNCIA DO ELEMENTO SOCIAL NA ORGANIZAÇÃO DE ROMA magistratura suprema (367 a.C.)
• Lei da XII Tábuas (450 a.C.)
• Desigualdade no reconhecimento de direitos e deveres
entre patrícios e plebeus
FONTES DE DIREITO
FONTES DE DIREITO
• Mores maiorum
• Mores maiorum (tradição de uma comprovada moralidade) • Lei das XII Tábuas
• interpretatio dos sacerdotes pontífices • Jurisprudência
• Jurisprudência • Senatusconsulta

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• Senatusconsultum: passam a ser uma fonte de Direito
também controlada pelo príncipe o que reduz
significativamente a sua natureza criativa, limitando-se o
Senado a decidir em conformidade com a vontade do
princeps. Trata-se da burocratização absoluta da actividade
jurídica.

PRINCIPADO
27 a.C – 285 d.C 1) Primeiro período: Roma do rex e das gentes Comentado [2]:
O Direito é dado através da leitura que os sacerdotes e
(Monarquia) os rex fizeram dos mores maiorum

ORGANIZAÇÃO POLÍTICA • O período da Roma do rex e das gentes é compreendido entre


753 a.C. a 509 a.C., ou seja durou 250 anos. É designado de tal
• Princeps / Senado / Comícios forma por serem as duas instituições que marcaram a criação
jurídica deste período e as linhas fundamentais do conteúdo das
soluções jurídicas.
RELEVÂNCIA DO ELEMNTO SOCIAL NA ORGANIZAÇÃO DE ROMA

• Tentativa de igualização entre patrícios e plebeus tanto nos


dtos públicos, como nos privados. • Generalidades deste período:
- Roma começou como uma pequena cidade arcaica. Comentado [3]:
FONTES DE DIREITO Que pertence a tempos remotos/antigos
- O fundador de Roma, Rómulo, e os seus descendentes Numa Pompílio, Túlio
• Mores maiorum: fonte progressivamente positivada, Otílio e Anco Marzio sempre tinham respeitado as instituições (as assembleias Comentado [4]:
populares e o Senado) Comícios
perdendo a sua originalidade.
• Leis: são progressivamente afastadas do seu órgão clássico - No entanto, após a morte de Anco Marzio o poder real foi usurpado por
de elaboração (comícios), sendo a sua competência Tarquínio Prisco, que era um nobre etrusco tutor dos filhos de Anco Marzio.

transferida para o Senado, órgão controlado pelo princeps.

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- O poder real foi instalado por Tarquínio Prisco. Este destrói as instituições levaram a um alargamento dos critérios de concessão da cidadania e à criação
políticas e assume-se como um rei absoluto, exercendo um poder despótico. de um exército diferente, em Roma: maior e mais organizado.

- Sucede-lhe Sérvio Túlio, que revelou a tentativa de reinstitucionalização do - Rompeu-se, no exército, a igualdade aritmética na distribuição de postos e Comentado [5]:
poder político (condicionada). honrarias militares, o acesso e a ascensão política passam também a ser Criação dos Comitios Centuriata e Curiata
determinados pela riqueza das pessoas e pelo prestígio das famílias assente em
- Segue-lhe Tarquínio, o Soberbo: que reintroduz o poder absoluto; Devido à sua critérios de natureza económica.
governação tirânica, dá origem a uma conspiração palaciana em 510, promovida
pelos nobres Bruto e Collatino e apoiada pelo povo romano. - O exército de Roma continuou a ser denominado centuriatus, porque manteve
a organização em centuriae (grupos de 100 homens), mas a distribuição dos
- A monarquia cai com esta revolta e inicia-se o período de transição para a soldados é determinada pela riqueza das famílias.A cavalaria, onde estavam os
República, marcado por uma instabilidade social e política que só é cessada patrícios, está dividida em 18 centúrias. A infantaria integrada por plebeus
com a entrada dos plebeus no consulado, formalizada nas leges Licinae Sextiae, integrava cerca de 170 centúrias. Restava um conjunto de pessoas que
em 367 a.C. habitavam em Roma (proletari) mas não integrava o sistema político nem era
regulado pelo ordenamento jurídico. Estes proletari eram recenseados como
pessoas, não como proprietários.
• Características do período do Rex e das Gentes:
- O censo (riqueza das famílias) era determinado sobretudo pela propriedade do
- Os Deuses e os cultos de personalidade são frequentes. Vera Cruz: “O elemento património imobiliário, através do quantum de riqueza assim avaliada.
simbólico e religioso substitui o político na legitimação do chefe da comunidade - Esta nova organização política aproveitou as velhas estruturas constitucionais,
romana” (incentivado por Tarquínio Prisco). mantendo as centúrias não só como as unidades territoriais de recrutamento
militar, mas também como unidades de voto dos comícios.
- Os grupos familiares e clientelares mais fracos uniam-se às gentes mais fortes - Por outro lado, Roma mantinha a predominância dos mais velhos na vida Comentado [6]:
em busca de protecção ,e as gentes mais fortes, com essa agregação, política, acreditando que a sua experiência de vida manifestada como - Grupo de pessoas ou clã que compartilhavam o
Prudentia era fundamental para o acerto das decisões colectivas. mesmo nome de família. -Os diferentes ramos da
aumentavam o seu poder com a junção de mais terra+s. Só se podia pertencer a
mesma gente tinham um sobrenome comum. (Por
uma gens e esse vínculo protectivo entre a pessoa e a comunidade constituía - Esta divisão de pessoas em grupos a partir do parâmetro de riqueza, exigiu um exemplo, o Cornélia incluía os Cornélios Cipiões,
uma pré-cidadania. aperfeiçoamento de métodos e de estruturas que sustentavam a actividade Cornélios Balbos, Cornélios Lêntulos, etc)
classificadora agregada no censo, presidida pelo rex e depois transferida para a
- Neste período a principal prioridade das comunidades era a defesa face aos magistratura: a censura.
ataques externos. A prosperidade económica e a política expansionista etrusca

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- O rex não abdicou de nenhum dos seus poderes, apesar do valor político a) A deditio (submissão de um grupo familiar ou político a uma gens);
crescente nos comícios centuriais e da influência das suas deliberações junto
do rex b) A applicatio (submissão de um estrangeiro à protecção da gens);
- Não houve uma revolução normativa, mantendo o ordenamento jurídico as
c) A manumissio (instituto pelo qual um escravo deixava de o ser).
linhas de diferenciação tradicionais. Apenas mudou o elemento de
diferenciação tradicional. Apenas mudou o elemento de diferenciação social, NOTA: Não confundir clientes com plebeus: eram grupos com origens e funções
que passou a assentar no censo. Foi esta nova forma de organizar que permitiu sociais e económicas muito distintas. Com a mudança das condições económicas
preparar a comunidade romana para o advento da república e para uma e sociais de Roma, ocorreu uma aproximação entre os dois grupos, visto que com
unidade de estruturas jurídico-políticas que não levassem a uma divisão a desvalorização das gens, deixando os clientes desamparados passaram a
territorial em torno dos dois grupos sociais com interesses bem definidos e submeterem-se à protecção dos patrícios, tal como os plebeus.
conflituantes: os patrícios e os plebeus.
- Até aqui o privilégio social e o domínio político eram determinados pela - A prioridade à infantaria plebeia face à intervenção da cavalaria patrícia
pertença a uma das gentes patrícias de origem: agora têm uma base determina a ascensão da plebe e inicia a limitação do poder social, político,
económica.Os plebeus podiam ascender socialmente e conquistar maior poder religioso e militar dos patrícios, nos finais do século VI a.C. Os plebeus têm agora
político a possibilidade de ganhar a luta contra os patrícios pela igualdade na ocupação
- A oligarquia patrícia que assentava o seu poder na propriedade fundiária tem de cargos como no acesso aos recursos. A luta entre os dois grupos chegou a um
de partilhar o poder com os plebeus que não aceitam lugares subalternos. impasse com os plebeus no monte Capitólio e os patrícios no monte Aventino.

! Família Romana
! Sociedade Romana:
- A estrutura política (tribo, cúria, rei) pouco influenciava a organização
- Patrícios: proprietários rurais que em caso de guerra integravam a cavalaria
comunitária (estruturas basilares da civitas Quiritium) circunscrita à família, às
(equites – base do exército);
gentes e aos clientes.
- Plebeus: massa popular dependente dos patrícios. Não têm terras;
- A Família era a unidade base da organização social romana.
- Clientes: grupo subordinado às gens, constituído por pessoas expulsas de outros
- Características:
grupos; pobres; estrangeiros. Não são beneficiários de nenhum estatuto
jurídico. Os clientes são a principal fonte de poder externo das gentes. a) União sanguínea entre os seus membros;

- No plano jurídico, as formas de adquirir a condição de cliente eram: b) Partilham os mesmos cultos religiosos;

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c) Sujeição comum ao poder absoluto do “paterfamilias”. consuetudinárias ordenadas pelo rei. Contudo, não eram resultado do poder
normativo próprio do rex como expressão do poder político.

c) Poder de mediação divina: O poder de mediação do rex entre homens e deuses Comentado [10]:
! Paterfamilias era a base do seu poder político. Demonstrando a importância extrema do poder Base do poder político do Rex
religioso e do carácter sagrado do Rex.
- Garantia a unidade da família. * O carácter sagrado da realeza e o poder religioso que
detinha o seu titular era tão forte que depois do
- Sucessão do rex romano: processo que separou o jurídico e o político do religioso
- Funções: a) Geria o fundo familiar;
em Roma, culminando com o fim da monarquia,
O novo rei era escolhido pelos deuses que revelavam a sua escolha através do permaneceu o rex sacrum que não tinha poderes
b) Administrava a propriedade da família;
voo das aves ao interrex: Quando o rei morria, a função de ler os auspícios era políticos, militares ou jurisdicionais, mas detinha o
poder religioso com grande prestígio na comunidade.
c) Decidia quem entrava e quem saía da família; transferida para o Senado, que através de uma ação de creatio elegia um interrex
entre os seus membros, que havia de exercer o poder supremo pelo prazo de cinco Comentado [11]:
Apresentação de um nome indicado pelos deuses
d) Cuidava dos sacra familiae (cultos religiosos específicos da dias. Era o interrex, que lendo os auspícios, indicava o nome do novo rei a propor
família, diferente dos demais). aos comitia curiata. A proposta do escolhido, de entre os senadores, era
submetida à votação pelos comitia curiata, que tinham de aprovar a proposta. O
• Os órgãos do governo quiritário rex só adquiria os seus poderes com a autorização do Senado. (Senado-Interrex-
Comitia Curiata-Senado)

! O rex
! O Senatus
- Titular dos poderes:
- Órgão que representa o patriciado, isto é, a aristocracia romana. Era uma Comentado [7]:
a) Imperium militae: - Chefiar o exército; assembleia aristocrática, visto que os plebeus não podiam fazer parte do Defesa militar de Roma
senado. Os plebeus foram admitidos ao senado ainda na monarquia, mas Comentado [8]:
- Comandar a cavalaria;
tiveram entrada definitiva em 312 a.C. pela lex Ovinia. (poder de administrar a cidade)
- Perseguir e reprimir os crimes mais graves. Comentado [9]:
- Na monarquia primitiva o Senado não era apenas uma assembleia constituída Os comitia Curiata votavam as propostas de lei do rei,
b) Imperium domi: permitia ao rei resolver os aspectos da vida colectiva na pelos chefes das gentes. O número de membros do Senado não corresponde que depois de votadas favoravelmente vigoravam como
exactamente ao número de gentes. leges regiae;
relação das pessoas com a comunidade bem como resolver os litígios entre as As regras conuetudinarias ordenadas pelo Rei
pessoas, através das leges regiae que eram resultado da formalização de regras necessitavam assim de aprovação da Comitia Curiata

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- A legitimidade assentava em elementos religiosos e, por isso, a presidência da
assembleia cabia a um sacerdote, o curio maximus
- Competências do Senado no período da monarquia:

a) Interregnum (forma de garantir a continuidade dos auspicia durante o


interregnum existente entre a morte de um rei e a proclamação do sucessor pela
- Competências legislativas dos comitia curiata:
“lex curiata de império”);
a) Votação das propostas de lei do rei, que depois de votadas favoravelmente
b) Auctoritas patrum (consentimento, ratificação das deliberações de outros
vigoravam como leges regiae;
órgãos, para que elas fossem válidas);
b) Aprovação do futuro rei de Roma proposto pelo interrex;
c) Ius belli et pacis (direito de concluir os tratados internacionais);
c) Segunda votação para o reconhecimento e dar a posse ao novo rex os poderes
d) Conselho e auxílio ao rei (o Senado foi criado sobretudo para aconselhar o rex
de imperium (lex curiata de imperium). A lex curiata de imperium fixa um nexo de
formando assim uma espécie de junta consultiva do rei; só o rei podia convocar o
ligação entre rex e populus, correspondendo a uma estrutura de civitas que já não
Senado).
bastava a indicação do novo rei pelo Senado para legitimar o rei nos seus
poderes.

- Os comitia curiata limitam-se apenas a concordar ou não com as soluções dos


! Os comitia curiata
magistrados, relevando o poder absoluto do rex na criação de soluções e na
- Era um órgão (o único) que reunia todo o populus de Roma. (Os concilia tomada de decisões. (A haver alguma intervenção decisiva dos comitia curiata nas Comentado [12]:
reuniam apenas a plebe romana.) soluções políticas e jurídicas durante a monarquia, esta deveria ser expressa não por Membros dos comitia curiata: (divergências na
uma deliberação mas por um acto de adesão ou rejeição (sim ou não) a uma pergunta doutrina) - incluía plebeus?
- A cidadania estava dividida em três tribos, organizadas de acordo com critérios feita pelo magistrado. É o magistrado que determina o conteúdo da solução e - Mesmo que houvesse plebeus, a prevalência do
assembleia limita-se a aceitá-la ou não.) poder económico dos patrícios determinava a sua
geográficos; cada tribo tinha 10 cúrias e cada cúria dividia-se em 10 decúrias. supremacia.
Ou seja, o sistema político romano inicial era constituído por 300 decúrias; 30
- Os comitia curiata eram também importantes na formulação de regras NOTA: prof. Vera-Cruz adere à tese que apoia a não-
cúrias; três tribos; e um rei.
concretizadoras dos mores maiorum, no que diz respeito às relações participação dos plebeus, pois só assim faz sentido a
- Os vínculos que ligavam os membros da mesma cúria eram, via de regra, de intersubjectivas e na disciplina normativa dos negócios. sua luta intensa.

ordem familiar e de linhagem.


- A estrutura gentílica tradicional, que garantia uma hegemonia dos patrícios
romanos estava em crise, pois a pressão demográfica exercida por aqueles que

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chegavam a Roma determinava a emergência de uma força social c) O desenvolvimento do ius e do fas, através da competência Comentado [14]:
indiferenciada reunida na plebe, atenuando o peso político do patriciado. exclusiva da interpretação dos mores maiorum e no exercício da Ius/fas
jurisdição; !
Na antiguidade clássica o Dto confundia-se com a
religião. Reis e legisladores recebiam dos deuses as
d) A supremacia hierárquica e o exercício de jurisdição sobre
normas que deviam reger a comunidade. Era aceitável
“magistrados do culto”; que apenas um restrito grupo de pessoas pudesse
exercer a intermediação entre os homens e os deuses.
e) Os sacerdotes pontífices eram os guardiões dos critérios sagrados ! Confundiam-se as normas religiosas – fas – com as
que levaram às suas decisões; normas jurídicas – ius.
! O fas compreende as regras, os rituais e as fórmulas
f) Criavam soluções para resolver determinado litígio de forma ditadas pelos deuses aos seus reis ou sacerdotes. Este
representa uma regra ideal de vida que não é sequer
! Os Collegia sacerdotalia pacífica e eram considerados como aqueles que põe em prática
contestada, porque foi criada pelos deuses.
os mores maiorum (adaptação permanente da tradição à ! A norma jurídica é uma interpretação humana do fas,
Não eram considerados órgãos políticos do governo quiritário deste período, mas realidade). logo expressa a lex humana.
eram uma instituição bastante importante com influência sobre as decisões
políticas. - A validade jurídica dos actos baseava-se num conjunto de formalidades e rituais O ius resulta do fas;
O ius corresponde a um conjunto de convenções
de natureza religiosa que eram exclusivos dos sacerdotes.
humanas cuja legitimidade e obrigatoriedade assentam
no fas;
O ius é de construção progressiva e procura nos mores
! O colégio dos pontífices maiorum a inspiração e critério para a interpretatio do
! O colégio dos Áugures fas que está na sua base criadora. ... [1]
Era uma instituição que protegia os interesses das famílias patrícias no confronto Comentado [15]:
com o rex, invocando que eram elas que tinham os poderes político-religiosos que - Uma das formas de encontrar a expressão da vontade dos deuses era recorrendo Quando este falecia; a auspicia era transferida para o
o rei devia respeitar. aos auguria; outra era a de atender aos auspicia, isto é a presságios transmitidos interrex (escolhido pelo senado), que recorria aos
pelo voo das aves. presságios decorrentes do voo das aves de forma a
Poderes político-religiosos que os pontífices exerciam: encontrar a indicação do nome daquele que deveria ser
o novo rei.
- A legitimidade para interpretar o querer dos deuses através de auguria ou de Era o interrex, que lendo os auspícios, indicava o nome
a) Fazer os sacrifícios rituais;
auspicia estava diferenciada em Roma: a primeira cabia aos augures, a segunda, do novo rei

b) Execução de rituais litúrgicos supremos de Roma (sancionar a ao rei. Comentado [13]:


conjunto de regras resultantes da interpretatio feita
celebração de acordos jurídicos, de acordo com o ius civile e a
pelos sacerdotes das regras divinas e dos mores
determinação do calendário); - O auspicium era um instrumento fundamental d exercício do poder do rei que maiorum. O ius civile aparece ao lado do ius gentium,
determinava a sua acção e o tempo de a executar. do ius naturale e do ius honorarium como elemento
constitutivo.

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! Generalidades sobre a designação deste período
- Já o augurium implicava a possibilidade de uma decisão, que se pretendia tomar,
ser afastada, porque o que se previa era um efeito negativo se ela fosse de facto Modo como correu a transição (a doutrina diverge):
efectivada.
1) Perda progressiva dos poderes do rei (razões):
- O augurum era mais completo que o auspicium pois mais que procurar a vontade
a) Institucionalização política das magistraturas iniciada com as reformas de
divina e traduzi-la numa acção ou numa omissão, o que se pretendia era
Tarquínio e de Sérvio Túlio;
densificar as condições para um melhor exercício da acção humana.
b) Atribuição das competências régias para o plano religioso.

- Emergência da República face à revolução contra os reis etruscos.

2) Nos finais do século VI a.C., Lúcio Bruto e Lúcio Colatino, com o apoio dos Comentado [16]:
romanos expulsaram Tarquínio, “o Soberbo”, de Roma e passaram a ser São eleitos como 1ºs cônsules
governados por chefes por ano: cônsules Comentado [17]:
Tinha insultado os princípios de Roma
a) O poder vitalício e monocrático dos reis nunca mais foi admitido pelos romanos

b) A Governação por um ano instituir responsabilidade naquele que exercia o


cargo de poder, visto que tinha de prestar justificações por todas as suas acções
no exercício do poder, e no final do cargo tinha de responder pelo que tinha feito
no seu exercício;

c) A dualidade de pessoas estabelecia uma regra que limitava a possibilidade de


abuso de poder no exercício das magistraturas.

2) Segundo período: Transição:


monarquia/república (509 a.C. a 367 a.C.) - Poder dos Plebeus:

a) Em 504 a.C., a derrota de Arunte, na batalha de Aricia, frente aos gregos de


Coma fez a situação etrusca perder a sua hegemonia, o que desfavorecia a

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economia romana. Por isso, a situação dos plebeus é também desfavorecida, visto a) Luta pela aequatio iuris, de forma a adquirirem a participação plena na vida
que, como detentores do poder do comércio, vêem-se obrigados a regressar ao política da civitas e na vida social de Roma;
trabalho agrícola subordinados aos patrícios.
c) Luta pela igualdade política e pela paridade face ao Direito, visto que os
b) Contudo, essa perda da protecção etrusca colocaria Roma numa posição de plebeus tinham liberdade e cidadania na civitas romana. (Apesar terem liberdade
insegurança em relação aos outros povos. Daí ser necessário o poder militar dos e cidadania na civitas romana, eram privados de poder e considerados de
plebeus face às guerras em que Roma se viu envolvida, limitando o poder dos condição inferior)
patrícios.

- A formação da estrutura constitucional da república foi moldada no conflito


entre plebeus e patrícios em 494 a.C. - A plebe precisava de encontrar elementos uniformizadores que unissem o grupo
contra o bem estruturado patriciado romano. Todos estes motivos de revolta são
elementos fundamentais para a coesão unitária de Roma.

- Motivos da revolta dos plebeus:

a) Proibição de casamento entre patrícios e plebeus; ! Limitação ao arbítrio do julgador: a Lei das XII Tábuas Comentado [18]:
Objetivo de positivar os mores maiorum, instituindo um
b) A igualdade judiciária; Ius Humanum
Um dos principais objectivos dos plebeus era a limitação às decisões do julgador: Comentado [19]:
c) A igualdade no acesso a cargos do Estado;
primeiro do rex, depois dos sacerdotes e por fim dos magistrados da República. Queriam sair do Ius Divino (interpretattio) e entrar na
criação do próprio Ius (Ius Romano), feito pelos
d) Restrições na aquisição de terras; homens
As sentenças estavam fundadas no exercício de um imperium que caracterizava
e) Credor com poderes ilimitados sobre o devedor; as magistraturas e na interpretatio dos sacerdotes da vontade divina, ou seja os - Deixar de estar tão dependente dos prudentes e da
conflitos eram resolvidos com base em regras consuetudinárias, oralmente sua interpretação, que era sempre favorável aos
f) Plebeus limitados de poder, do acesso à magistratura e considerados de raça interpretadas pela aristocracia patrícia e favoreciam tendencialmente os patrícios patrícios
inferior. em detrimento dos plebeus. O que levava à insatisfação da Plebe. A única forma
de resolver esta situação era vincular o julgador à aplicação de normas escritas
igualmente aplicadas entre patrícios e plebeus, sem beneficiar um face ao outro.
- Motivos principais da revolta dos plebeus romanos contra os patrícios:

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Surgiu então a Lei da XII Tábuas, que prevalecia sobre as questões do Direito - Excluída a possibilidade de integrar as leges regiae na legislação romana, a Lei
Privado e resolvia de forma indiscriminada os “conflitos”, tanto entre plebeus das XII Tábuas é o ponto de partida da problemática da lei no ius Romanum.
como entre patrícios.
- Actividade dos iurisprudentes: antes, a sua actividade consistia em
interpretar e revelar os mores maiorum. Agora, adaptam o conteúdo da
! Como é que foi o processo de realização da Lei das XII Lei das XII Tábuas à realidade, criando, por vezes, Direito.
Tábuas?
- Mais importante norma de Direito Privado positivada na Lei das XII
Em 451 a.C., foram suspensas todas as magistraturas ordinárias e foi investido Tábuas: desmaterialização da obligatio; deixa de ser vínculo carnal para Comentado [20]:
um colégio de 10 patrícios, com plenos poderes políticos e militares, para iniciar a passar a ser vínculo ideal entre credor e devedor, estruturado em torno Magistraturas ordinárias existentes:
redacção das leis como resultado da luta dos plebeus pela aprovação de um de um sujeito que está obrigado a dare, prestare ou facere face a outro Consules (criados em 509 a.C)
corpus de leis a vigorar para os dois grupos sociais. sujeito.
- O I Decenvirato não concluiu os trabalhos; foi criado o II
Decenvirato, que concluiu e publicou as leis, juntamente
com a publicação das leges Valerie Horatiae. ! Impedir qualquer tentativa de reinstaurar a monarquia: a
provocatio ad populum

- Era necessário ainda que a aplicação das penas máximas não ficasse apenas no
arbítrio exercido pelos patrícios que exerciam as magistraturas, apesar das
! Resultado da Lei das XII Tábuas características anuais, electivas e duais das magistraturas. Por isso, foi criada Comentado [21]:
uma contramagistratura: o tribuno da plebe; e um instituto baseado na Confirmar que está certo
A publicação da Lei das XII Tábuas, em 450 a.C., permite uma maior segurança deliberação popular: a provocatio ad populum.
das partes, maior estabilidade normativa e segurança, bem como o conhecimento
geral dos fundamentos que levaram às soluções das sentenças, permitindo criticá-
las.
! Para que servia este instituto?
- Em 449 a.C. é destituído o II Decenvirato e regressam as magistraturas
ordinárias. - O provocatio ad populum é o resultado da criação de um mecanismo de
protecção jurídica dos cidadãos: a partir de 509 a.C., com a lex Valeria de
provocatione, esta permitia que um cidadão condenado à morte por um

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magistrado com imperium (cônsul) evitasse essa condenação, através de um - Contudo, os tribuni militum não exerciam os auspicia, não sendo por isso um
processo iniciado nos comitia. perigo para a classe patrícia.

- Qualquer decisão por parte de um cônsul de condenação à morte de um cidadão - Os tribuni militum não tinham auspicium, isto é:
romano pode ser paralisada pelos comitia curiata.
a) Não podiam nomear o ditador;
- Funciona como último recurso a pedido pelos cidadãos romanos, podendo ser
anulados ou confirmados pelos comitia. b) Não podiam nomear um colega minor (suffictio) para com ele exercer a
magistratura;
- Esta espécie de recurso nas penas mais graves revela que os romanos
estabeleceram as bases da criação jurídica (possibilitando a justiça pelo ius c) Não podiam receber a honra do triunfo;
consagrado nas leges).
d) Não podiam ocupar a posição de um cônsul, que tivesse exercido um ano no
cargo.

- Foi a esta magistratura que se aplicou o princípio de colegialidade, ou seja o


Abrir as magistraturas aos plebeus: os tribunos militum consulari potestate direito ao veto nas decisões dos colegas, devido à insegurança direccionada aos
(Tribuno Militium) plebeus.
Comentado [22]:
As magistraturas era reservadas aos Patrícios, que as
O processo comicial tinha duas fases: exerciciam em auto-beneficio
- Exercício do imperium ligado à capacidade de auspicium. • O inquérito: feito pelo magistrado para apurar a real existência de um
crime; - O descontentamento crescente da plebe com isto não
era favorável - não convinha porque eram estes que
- Só com a entrada dos plebeus na vida familiar patrícia e a sua participação nos • A resposta da assembleia: através de uma deliberação, que se trabalhavam
sacra, é que é possível a abertura dos auspicia aos plebeus. Ou seja, a abertura de pronunciava sobre a pena a atribuir.
cargos políticos a plebeus através dos tribuni militum.

- Os tribuni militum eram um colégio de comandantes militares que integrava


! A paridade jurídico-política entre patrícios e
também plebeus. Por isso, era uma magistratura com acesso aberto à plebe.
plebeus: as Leges Liciniae Sextiae Comentado [23]:
- O senado permite essa situação imposta, visto que podiam precisar dos plebeus Vêm substituir o Tribuno Militium
em situações de conflitos militares. A atribuição do imperium consulare ao chefe - Foram aprovadas, em 367 a.C., as leges Liciniae Sextiae: São medidas
militar, que podia ser um militar, tinha a vantagem de unir os poderes supremos legislativas que têm um significado quase mítico no culminar do período de
da política e da guerra. transição da monarquia para a república, pois formalizam as reivindicações

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históricas dos plebeus quanto à paridade que consideravam necessária para se - A abertura das magistraturas aos plebeus opera uma reforma social e de
sentirem romanos em Roma. mentalidades com efeitos no ordenamento jurídico, nomeadamente no acesso ao
poder e do exercício do mesmo (o consulado já não está reservado
- São quatro principais Leges Liciniae Sextiae que terminam o período de transição exclusivamente aos patrícios) bem como no processo de criação e aplicação de
da monarquia para a república: regras jurídicas.

! Lex Licinia de aero alieno: estabelece facilidades no


pagamento de dívidas (prestações, retirarem no valor a
pagar os juros já pagos);
3) Terceiro período: O Populus Romanus e a
! Lex Licinia de modum agrorum: limitação quantitativa de res publica (367 a.C. a 27 a.C.)
terra que cada paterfamilias podia ter. Foi limitada
juridicamente os princípios naturais da ordem romana,
promovendo uma forma diferente de redistribuição da terra.
! Características essenciais deste regime:
! Lex Licinia de consule plebeio: possibilidades dos plebeus
ascenderem ao consulado bem como a reserva de um dos a) O poder político é exercido pelo bem da comunidade e é entregue aos
lugares de cônsul a um plebeu (norma cumprida apenas a 320 magistrados detentores de imperium;
a.C. Em 172 a.C., há a possibilidade de serem eleitos dois
cônsules plebeus. b) O senado, dotado de auctoritas, é o órgão de conselho e consulta dos
magistrados;
! Lex Licinia Sextia de decemviris sacris faciundis: Aumenta o
número de responsáveis encarregados dos “livros sibilinos”, c) O Populus, onde assente o maestas, passa a ter reconhecimento institucional
exigindo que sejam metade patrícios e metade plebeus. no qual expressa as suas deliberações nas assembleias;

d) A república torna-se no modelo de Governo mais duradoiro devido à abertura


do poder político bem como os mecanismos de resolução dos problemas e as
- O resultado é a instituição do consulado como magistratura em que é formas constitucionais de atenuar os conflitos.
exercido o poder supremo do Estado e que ela não está reservada, no
plano institucional, apenas aos patrícios mas inclui também plebeus. - A seguir às leges Liciniae Sextiae foi possível dividir e hierarquizar as
magistraturas no âmbito de uma organização constitucional.

13
- São os elementos centrais de todo o ordenamento constitucional da república
romana. (Vindouros da monarquia) Comentado [24]:
• Os cidadãos do Populus Comitia Curiata na Monarquia:
! Principais assembleias da República:
➔ Podia ser cidadão romano aquele que: Era um órgão (o único) que reunia todo o populus de
Roma. (Os concilia reuniam apenas a plebe romana.)
a) Comitia curiata (reuniam todos os civis); A cidadania estava dividida em três tribos, organizadas
• Nascesse em Roma de pais romanos ou de pai romano e mãe estrangeira, de acordo com critérios geográficos; cada tribo tinha 10
desde que tivesse adquirido o direito a casar-se com um cidadão romano. b) Comitia centuriata; cúrias e cada cúria dividia-se em 10 decúrias. Ou seja,
o sistema político romano inicial era constituído por 300
• Nascesse de uma mãe romana mesmo fora de um casamento válido.
c) Comitia tributa; decúrias, 30 cúrias, três tribos e um rei.
• Tivesse autorização de um magistrado para tal. Os vínculos que ligavam os membros da mesma cúria
• A quem fosse atribuída a cidadania pela comunidade. d) Concilia plebis (reuniam apenas os plebeus) eram, via de regra, de ordem familiar e de linhagem.
• Quem tivesse sido libertado da escravatura (já depois da república). A legitimidade assentava em elementos religiosos e,
por isso, a presidência da assembleia cabia a um
sacerdote, o curio maximus
Desde muito cedo em Roma, a aquisição da cidadania e dos direitos e deveres • Os comitia curiata
inerentes era uma questão jurídica.
- Competências legislativas dos comitia curiata:
- As assembleias mais antigas eram os comitia curiata. a) Votação das propostas de lei do rei, que depois de
votadas favoravelmente vigoravam como leges regiae;
! Participação do cidadão romano: - Na república, os comitia curiata tinham a sua influência limitada apenas às b) Aprovação do futuro rei de Roma proposto pelo
interrex;
questões de direito sagrado. Deixando as questões políticas, nomeadamente as c) Segunda votação para o reconhecimento e dar a
a) Escolhia os magistrados e votava as propostas de lei questões relativamente à guerra e à paz, para os comitia centuriata. posse ao novo rex os poderes de imperium (lex curiata
apresentadas pelos mesmos; de imperium). A lex curiata de imperium fixa um nexo
- Com a separação entre a política e a religião, os comitia curiata entram em de ligação entre rex e populus, correspondendo a uma
b) Contribuía com serviço público para a comunidade; decadência: ficam reduzidas as suas funções à realização de cerimónias sacrais, estrutura de civitas que já não bastava a indicação do
novo rei pelo Senado para legitimar o rei nos seus
de confirmação no imperium dos magistrados maiores com fundamento na lex
c) Servia nas legiões; poderes.
curiata de império. Os comitia curiata limitam-se apenas a concordar ou
d) Contribuía com um tributum em caso de dificuldade financeira não com as soluções dos magistrados, relevando o
- Decidia da guerra e da paz, da escolha das magistraturas e da feitura das leis. poder absoluto do rex na criação de soluções e na
tomada de decisões. (A haver alguma intervenção
decisiva dos comitia curiata nas soluções políticas e
jurídicas durante a monarquia, esta deveria ser
• As assembleias do Populus expressa não por uma deliberação mas por um acto de
adesão ou rejeição (sim ou não) a uma pergunta feita
pelo magistrado. É o magistrado que determina o ... [2]

14
• Os comitia centuriata - A base de organização dos comitia tributa é territorial, ou seja os participantes Comentado [25]:
pertencem à mesma tribo - encontram-se sujeitos à mesma administração por Não têm iniciativa legislativa:
- Criado por Servio Túlio no período monárquico. Apenas adquirem poder partilharem o mesmo território. - Os cônsules apresentavam propostas e estes apenas
legislativo na República, mantendo o poder militar. aprovavam/vetavam as propostas apresentadas
fundadas nos mores maiorum
- Competências dos comitia tributa:
- Os comitia centuriata eram constituídos pela infantaria plebeia, reunida para
tratar de questões políticas. a) Votação de leis menores;

- São resultado de um poder crescente da plebe devido à sua valorização pelas b) Eleição dos magistrados menores e dos tribuni militum;
suas tácticas cruciais nas batalhas em detrimento da cavalaria patrícia.
c) Fixação das penas pecuniárias para as infracções detectadas;
- Durante as reformas de Sérvio Túlio, é-lhes atribuído às suas competências
militares, competências políticas de natureza fiscal e financeira. d) Atribuições religiosas residuais.

- Os comitia centuriata foram as mais importantes assembleias populares da


República.
• Os concilia plebis
- Competências dos comitia centuriata:
- Tinham competência legislativa própria, devido à equiparação entre patrícios e Comentado [27]:
a) Poder de eleger cônsules, pretores, ditadores, censores (magistrados maiores); plebeus, efectuada com a lex Hortensia de 287 a.C. Nomeadamente na votação de uma série de medidas
que introduziram reformas profundas no ius civile

b) Confirmar os censores; - Competências dos concilia plebis:

c) Aprovar as leis propostas pelos magistrados; a) Eleger os magistrados plebeus;


Comentado [28]:
d) Aprovar as declarações de guerra e os tratados de paz; b) Votarem os plebiscitos;
A plebe tinha um lugar para a sua legislação:
- Plebiscitos - Não têm qualidade de lei, ainda (????)
e) Decidir sobre a morte e a vida dos acusados (iudicium) . c) Exercem o iudicium em crimes puníveis com multa.
Comentado [26]:
assembleias deliberativas de todos os cidadãos,
organizada por tribos, convocada e presidida por um
magistrado. Tinha a competência de: votar leis sobre
• As magistraturas do Populus assuntos de menor importância; eleger magistrados
menores; fixar penas pecuniárias para as infracções
• Os comitia tributa detectadas.

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- As magistraturas republicanas incidem sobre todos os poderes, excepto o poder a) A temporalidade (os magistrados, normalmente, ocupavam o cargo por um
religioso. Resultam de uma crise da monarquia. ano); Comentado [29]:
este permaneceu como área exclusiva da intervenção
- A estabilização constitucional das magistraturas operou-se, sobretudo, quando b) A pluralidade de magistraturas (o poder era partilhado por várias sacerdotal
a sua continuidade saiu do autismo hermético do principio da cooptação, para magistraturas: consulado, questura, censura, pretura e edilidade curul);
um sistema de eleição pelas assembleias populares.
c) O princípio/regra da colegialidade (dentro de cada magistratura, no consulado
- Para se ser candidato a uma magistratura era necessário ter: por exemplo, havia mais que um magistrado; cada um dos colegas estava
encarregue de um determinado sector, tendo poder absoluto, imperium; mas o
outro magistrado de ordem superior podia exercer o direito de veto – ius
• Ius suffragii intercessionis);
• Pertencer ao grupo dos plebeus ou patrícios
d) Estabelecimento de limites e regras que controlavam o exercício do cargo,
assumindo um carácter preventivo;
- As magistraturas eram reguladas pelos seguintes pressupostos: Comentado [30]:
e) O poder de imperium dos magistrados estava circunscrito ao território da Magistraturas bipartidas:
a) Dois titulares para cada uma das magist. de forma a controlarem-se cidade de Roma; (6 meses + 6 meses)
mutuamente;
f) Provocatio ad populum. - O colega minor é o que está fora de funções (tem o
poder de veto sobre o magistrado em poder, caso ele
b) Subordinação das magistraturas menores em relação às maiores; não cumprisse o edito)

c) Separação entre cada uma;


• Poderes dos magistrados
d) Responsabilidade dos titulares.
! Potestas: o poder de representar o populus romanus;
- O sucesso das magistraturas está ligado com a sua partilha com as assembleias
populares: sistema de eleição das magistraturas pelas assembleias populares. ! Imperium: o poder de soberania. Continha as faculdades:

a) Comandar os exercítos;

- Para evitar desvios tirânicos pelas magistraturas ordinárias, foram b) Convocar o senado;
definidos os seguintes limites:
c) Convocar as assembleias populares;

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d) Administrar a justiça. e os edis curúis. As magistraturas ordinárias estavam integradas numa certa
ordem hierárquica (o “cursus honorum”, carreira das honras ou cargos),
(o imperium era exclusivo dos cônsules, dos pretores e do ditador) segundo um critério de dignidade e não tanto de poderes.

! Iurisdictio: o poder específico de administrar a justiça duma


forma normal ou corrente (poder principal dos pretores, apesar
de os edis curúis também o possuírem, mas de forma, mais
restrita).
- A ordem hierárquica do “Cursos Honorum”, a contar do cargo inferior, estava
instituída desta forma:

• Tipos de magistraturas

- Em virtude dos imensos poderes dos magistrados, a preocupação 1.º Questores; Magistraturas
constitucional foi de limitar a possibilidade de abusos e actos
arbitrários, fixando-lhes competências próprias. 2.º Edis curúis e plebeus; Menores Comentado [32]:
Patricios e plebeus
- O imperium mais forte era aquele que correspondia ao que o rei 3.º Pretores; Comentado [33]:
exercia no comando do exército centurial e foi disperso por ditadores, Só plebeus
cônsules e pretores. 4.º Cônsules; Magistraturas
Comentado [34]:
Apenas Potestas
- A potestas corresponde a um poder mais limitado que o magistrado 5.º Censores. Maiores
Comentado [35]:
exercia no âmbito da sua esfera de competências próprias.
Imperium e Potestas
(à excessão da censura - sem imperium)

- As magistraturas maiores tinham imperium e potestas. Eram o consulado e a


pretura. Entre as magistraturas maiores, havia uma de carácter extraordinário: a
! Magistraturas maiores:
ditadura.
- As magistraturas ordinárias maiores eram o consulado e a pretura. O
- As magistraturas menores tinham apenas potestas. imperium do pretor estava subordinado ao dos cônsules. O pretor era Comentado [31]:
o poder de representar o populus romanus
considerado collega minor do cônsul, o cônsul era designado de praetor
- As magistraturas ordinárias podem ser permanentes como não permanentes.
maximus.
Pertencem a esta categoria: os cônsules, os censores, os pretores, os questores

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- Entre as magistraturas maiores, sem imperium, está a censura. Apesar - Os questores possuíam funções administrativas, supervisionavam as receitas
da censura não ser detentora de imperium, era considerada uma fiscais e a distribuição dos fundos e receitas necessárias para as despesas
magistratura maior devido à sua titularidade dos auspicia mais definidas pelos cônsules nas directivas dadas pelo Senado.
importantes. O titular é eleito nos comícios centúrias para um
mandato de 18 meses. - Poderes das magistraturas menores, à excessão do edil plebeu:

a) Tinham os ius edicendi;


- Poderes das magistraturas maiores:
b) Tinham os auspícios menores;

a) Supremo comando militar, incluindo o poder coercitivo militar; c) Tinham poderes coercitivos menores como a imposição de multas
e de pequenos pagamentos na penhora de bens
b) Direito de convocar as assembleias e o senado;

c) Recurso à força a fim de ser obedecido pelos cidadãos e pelos


magistrados menores (praticar actos coercivos a fim de se fazer ! As magistraturas extraordinárias:
obedecer pelos cidadãos e pelos magistrados menores;);
- São sempre não permanentes
d) Podem assumir os auspícios maiores;
- Compreendem a ditadura e o tribunado da plebe.
e) Direito de emanar e fazer publicar no fórum os seus edicta (ius
edicendi).

! Ditadura
! Magistraturas menores: - A ditadura era a magistratura maior extraordinária. O senado
Comentado [36]:
Poderes limitados
deliberava sobre a situação a enfrentar e o perfil adequado do cidadão
- Os magistrados menores, sem imperium, mas com potestas eram: o
que deveria exercer o cargo. Pelo menos até 300 a.C: a coercitio do
edil plebeu; o edil curul e os questores.
ditador não estava sujeita nem à intercessio tribunícia nem à
- Poderes inerentes à sua potestas: ius edicendi; ius agendi cum populo e provocatio ad populum; o senado não exercia qualquer tipo de controlo
cum plebe; ius agendi cum patribus. político à sua actividade; o ditador não tinha responsabilidades
políticas enquanto exercia o seu cargo na ditadura.

18
- Os riscos de uma tirania pessoal do ditador levaram os romanos a c) Tinham imunidade absoluta;
procurar outras formas de conseguir os mesmos efeitos, no plano da
eficácia, para defrontar situações perigosas para a república, como, d) Os tribunos da plebe não tinham imperium, todavia possuíam
por exemplo, o senatusconsultum ultimum. tribunitia potestas;

- No âmbito da ditadura podia surgir outra magistratura extraordinária e) Gozavam de intercessio sobre todos os magistrados do cursus
maior: a do magister equitum. Este era um oficial superior ou um honorum, ou seja tinham o direito de vetar, isto é, de anular,
magistrado com imperium próprio, escolhido pelo ditador para sem invocar razões, qualquer decisão tomada por um
comandar o exército e a cavalaria. magistrado;

a) Mandato máximo de 6 meses; f) Tinham também o privilégio de inviolabilidade (sacrosanctitas);

b) Criadas em momentos de emergência, suspendendo a g) No século III a.C., ao poder da tribunitia potestas é acrescentado
normalidade legal e da aplicação normal da Justiça; o ius senatus habendi: o direito de convocar e de presidir ao
Senado e uma nova regalia: agere cum plebe: convocando os
c) Nomeada por um cônsule com base em decisões do senado. concilia plebis para analisar as decisões políticas ou normativas
(plebiscita).

- Preocupação: Limitar a possibilidade de abusos e de actos extraordinários,


! Tribuno da Plebe especificando funções para cada uma bem como os meios que dispõem e as
suas formas de controlo.
- Tinha imunidade absoluta e o direito de se opor às decisões de todos os
outros magistrados. O tribunato da plebe acabou por constituir uma
nova aristocracia política, com um poder imenso que advinha dos
efeitos da sua intercessio na justiça civil e criminal. • Cônsules

- Consulado: associado à dignitas; o cargo não era renumerdo, o que


prevalecia era a honra e o prestagio social. Era Acessível apenas aos
" Competências: mais abonados - Patrícios

a) Garantia os interesses da plebe; a) Imperium domi- integrava o exercício:

b) Direito de se opor às decisões de todos os outros magistrados;

19
1) Do ius agendi cum populo: atribuía ao cônsul a iniciativa - Apresentava propostas de lei para aprovação aos comícios bem como
legislativa, apresentando propostas de lei aos comícios para convocava as assembleias para a votação dos magistrados menores.
serem aí votadas (rogatio);
- O senado encarregava o pretor de comandar o exército fora da cidade.
2) Do ius agendi cum patribus: Isto é, o poder de convocar e
presidir as assembleias populares e o senado. - De início, só havia um pretor. A partir do ano 242 a.C., a administração da
justiça é distribuída por dois:
b) Exercia todas as competências residuais que não pertenciam
expressamente aos outros magistrados; a) O pretor urbano, encarregado de organizar (dentro das normas do “ius civile”)
os processos civis em que só estivessem cidadãos romanos;
c) Os questores e os censores (desprovidos de imperium) tinham de
recorrer ao cônsul para dar efectividade às suas ordens (penas de b) O pretor peregrino, incumbido de organizar dentro das normas do “ius
morte até às sanções mais insignificantes); gentium” os processos em que pelo menos uma das partes era um peregrino

d) Poderes administrativos na administração do erário e do - “O pretor era o intérprete da lex, mas sobretudo o defensor do ius.”
património público; Comentado [37]:
Constituída por antigos cônsules:
e) Imposição da ordem pública.
Tinha:
• Censura
1)Poder religioso de zelar pelos bons costumes - os
• Pretor/ Pretura boni morem
- A censura era uma magistratura ordinária não permanente. Era
ocupada de inicio por patrícios. A lex Publia Philonis, de 339 a.C., veio 2) Para alem disto fazia a contagem da população
- O pretor era um magistrado maior nomeado nos comícios obrigar a que um dos censores fosse plebeu. A importância da censura (censura):
centuriais a que o cônsul presidia. O pretor encarregava-se de aplicar a reforça-se com o plebiscito Ovíneo, de 312 a.C., que institucionalizou
justiça. Era ele que convocava os comícios para a eleição dos como função do censor a nomeação dos senadores. a) produzindo efeitos tributários - impostos em função
magistrados menores e apresentava propostas de lei para aprovação do agregado familiar
b) Identificando aqueles que podiam eleger e aqueles
aos comícios. A pretura era uma magistratura monocrática, ordinária, - Têm potestas; Não têm iuridictio nem imperium que podiam ser elegíveis
permanente. Em 242 a.C. juntou-se ao pretor urbano, o pretor
peregrino. Estava Encarregado de aplicar a justiça e de substituir o a) Magistratura ordinária não permanente; 3) Elege os senadores
cônsul na sua ausência.
b) Investida através de uma lex potestate censoria; 4) Liam os auspicia mais importantes
Comentado [38]:
c) Segue-se na hierarquia magistratural ao consulado e à pretura; (poder de representar o populus romanus)

20
d) Ocupada de início por patrícios;
- O senado garantia a Roma estabilidade, continuidade institucional e
e) Duração de cinco anos para exercer funções efectivas apenas conhecimentos suficientes para orientar as magistraturas e a vontade popular.
durante 18 meses (período necessário para fazer o
recenseamento).

f) A partir da lex Publilia Philonis, de 339 a.C., veio a obrigar a ! Competências do Senado:
que um dos censores fosse plebeu.
a) Política externa;
- O senatusconsultum ultimum é uma solução afastada da tirania pessoal do
b) Recebe as embaixadas dos outros povos;
ditador que pretendia produzir os mesmos efeitos da ditadura para resolver
situações perigosas para República. c) Aprova tratados e faz declarações de guerra;

- Para não ocorrer uma confusão de novas matérias reguladas entre as d) Aprova as despesas para as operações militares;
magistraturas, foram definidos três princípios estruturantes:
e) Cria e Organiza as províncias (senatoriais);
a) Prevalência do imperium;
f) Fixa os cultos públicos;
b) Hierarquia das magistraturas;
g) Auxilia o trabalho dos cônsules.
c) Tutela da plebe (tribuni da plebe).

- Para exercer os seus poderes, o Senado dispunha:


! O Senado
! Interregnum: o Senado assume as funções em períodos de Comentado [39]:
era o instrumento que em períodos de dificuldade
- O senado manteve-se na república como um dos mais importantes órgãos. ausência do poder, garantindo a continuidade do imperium bem
constitucional evitava o vazio de poder.
Agora não como estrutura representativa da classe patrícia, mas como como em situações de ausência dos magistrados titulares dos
assembleia política da aristocracia romana, patrícia e plebeia. Faziam parte do auspicia;
Senado os antigos magistrados, como por exemplo ex cônsules e ex pretores com
enorme sabedoria e influência.

21
! Auctoritas patrum: é um poder efectivo de controlo e de Comentado [40]:
confirmação das deliberações das assembleias populares. A poder efectivo de controlo e de ratificação das
- O Principado é uma tentativa política de concretizar no governo de Roma uma deliberações das assembleias populares, tomadas com
partir da lex Publilia Philonis, de 339 a.C., a proposta do base nas propostas dos magistrados.
síntese entre as instituições da República e as da Monarquia. Assente no
magistrado é confirmada ou não antes de se submeter à votação ! A partir da lex Publia Philonis, este expediente passa
exemplo de Augustos sujeito às características pessoais do titular do poder
pelas assembleias populares. Evitando, assim, que uma lei ou ter um carácter preventivo. A auctorias patrum passar a
candidato não aprovado pelo senado fosse formalizado pela político. ser aposta sob a proposta do magistrado antes de este
a submeter a votação na assembleia popular.
decisão da assembleia popular e assim, entrar em vigor, mesmo
que o senado não concedesse a auctoritas. A inversão do
Comentado [41]:
auctoritas patrum reforça o papel político do senado e a sua - A constituição republicana tornou-se insuficiente perante as novas realidades, O comitia centuriata (povo) passa a acreditar que nada
importância na formação normativa do ius; entrando em crises sucessivas. Dispõe frequentemente à ditadura. Estas mais impediria esta proposta de avançar e adquirir o
valor de lei (a apresentação da lei ao senado é uma
realidades são, principalmente:
mera formalidade)
! O senatusconsultum era a consulta dada pelo senado a um Comentado [42]:
magistrado a pedido deste. Podia ser interrompido por Consulta dada pelo Senado a um magistrado, a pedido
a) O alargamento extraordinário do poder de Roma; deste (tribuno da plebe; cônsul; pretor)
intercessio. Não cria directamente o ius civile, apesar da sua
eficácia normativa crescente. Atra - Era convocado quando havia necessidade
b) Uma grave e profunda desmoralização do povo romano;
4) Quarto período: O Princeps como primus c) O aparecimento de novas classes sociais; Comentado [43]:
inter pares (27 a.C. a 285) conjunto de regras resultantes da interpretatio feita
pelos sacerdotes das regras divinas e dos mores
d) O antagonismo entre a velha nobreza e a nova aristocracia formada por maiorum. O ius civile aparece ao lado do ius gentium,
armadores de navios, banqueiros e industriais; do ius naturale e do ius honorarium como elemento
constitutivo.
- Características gerais sobre o Principado e) Luta de classes de várias ordens; Comentado [44]:
Instrumento de governo por excelência é a lei
A atribuição da data do início deste período (27 a.C.) é simbólica, coincidindo ao f) Revolta dos escravos que pretendem liberdade. (representação da vontade geral do povo)
momento em que a Octávio é atribuído o nome Augusto:

a) Formalização da sua filiação divina;


- O povo romano encontrava-se desiludido com o absolutismo de Sila que
b) Atribuição de uma figura providencial; mandou assassinar dezenas de pessoas, incluindo senadores; desapontado com

c) Poder de nomear os sacerdotes.

22
o reinado de Pompeu e com a monarquia de César, que foi considerada um a) A inviolabilidade (sacrosanctitas);
crime.
b) O direito de veto sobre as deliberações de todos os magistrados (ius
intercessionis);

! Como é que o povo romano confiou em Octávio? Qual foi o c) O direito de convocar o senado e as assembleias populares;
caminho de Octávio para Princeps?
d) O direito de apresentar propostas de lei, tanto num como noutras.
- 43 A.C: Octávio é protagonista do triunvirato, com um mandato de cinco anos;
- O imperium proconsulare maius atribuía-lhe:
- 38 A.C: renovação do mandato por mais cinco anos;
a) Poder de comandar os exércitos;
- 33 A.C: Octávio declara-se princeps;
b) Fiscalizar pessoalmente a administração de todas as províncias, quer imperiais
- 31 A.C: Vencedor de Cleópatra na célebre batalha de Áccio. Povo confiante em (sujeitas directamente ao princeps) quer senatoriais (cuja guarda estava confiada
Octávio; ao senado).

- 27 A.C: Exerce o consulado único; - As antigas magistraturas republicanas, na aparência, mantêm-se, mas o seu
poder é quase irrelevante: estão subordinadas ao princeps e numa situação de
23 A.C: Renuncia o consulado e recebe dos comitia plebis, com carácter vitalício, a colaboração forçosa. Os magistrados transformam-se em funcionários executivos,
tribunícia potestas e recebe dos comitia centuriata o imperium proconsulare nomeadamente os cônsules e os pretores.
maius por 10 anos. Constantes renovações também transformaram este em
vitalício. - O princeps tinha a possibilidade de decidir sozinho sobre todos os aspectos da
vida romana até aí dispersos pelas magistraturas, numa rigorosa separação
- Augusto habilmente concentrou todos os poderes em si próprio, com a assente em regras e impedimentos marcados pelo cursus honorum, que extingui-
justificação de não haver outra alternativa para manter as instituições ainda o o ius criado pela auctoritas dos jurisprudentes independente da lex imposta pelo
vigentes em Roma. imperium dos políticos.

• Poderes de Augusto

- Com a tribunícia potestas Augusto adquire os direitos e deveres dum tribuno da


plebe:

23

• ius praetorium stricto sensu: ius honorarium criado pelo
pretor.

3 fases:

1ª fase: administrava a justiça baseada no ius civile; era a vox viva iuris civilis. A
sua actividade era apenas interpretativa, e mesmo essa interpretação estava
vigiada e fiscalizada pelo collegium pontificum.

2ª fase: O pretor, baseando-se no seu imperium (poder de soberania, a que os

cidadãos não podiam opor-se), usa expedientes próprios para criar direito (ius

praetorium), mas de uma forma indireta: se uma situação social merecia

protecção jurídica do ius civile e não a tinha, o pretor colocava-a sob a alçada do

ius civile; se, pelo contrário, determinada situação social estava protegida pelo

ius civile e não merecia-a, retirava-a da alçada do ius civile. O pretor não alterava

o ius civile, apenas conforme era justo ou injusto conseguia que o ius civile se
Comentado [47]:
aplicasse ou não. (poder específico de administrar a justiça de um modo
normal)

3ª fase: 130 a.C. (?), Lex Aebutia de formulis. o pretor, baseado na sua iurisdictio, Comentado [45]:
mediante expedientes adequados, cria também direito e agora de uma forma Conjunto “normativo” mais completo, sistematizado,
integrado e
directa, embora por via processual. Em vários casos não previstos pelo ius civile,
eficaz que o ius civile.
o pretor concede uma actio própria, por isso denominada actio praetoria. Ter
actio, em Dto Romano é ter ius, por isso o pretor, concedendo a actio, cria Comentado [46]:
O Ius Praetorium directamente ius. conjunto de regras resultantes da interpretatio feita
Passa então a criar direito de uma forma direta, embora por via processual. Nos pelos sacerdotes das regras divinas e dos mores
maiorum. O ius civile aparece ao lado do ius gentium,
casos não previstos no ius civile, o pretor concede uma actio própria (actio
O pretor é o intérprete da lex, defensor, do ius e da justiça, interpretando o do ius naturale e do ius honorarium como elemento
praetoria). constitutivo.
ius civile, integrando as suas lacunas e corrigindo as suas aplicações injustas.
Fontes do ius civile: os actos legislativos e a
Fases de actividade do pretor: interpretatio dos jurisprudentes

24
Comentado [48]:
1.EXPEDIENTES DO PRETOR (baseado no imperium) até 130 a.C. 2.EXPEDIENTES DO PRETOR (baseado na sua iurisdictio) após 130 a.C. Os expedientes do pretor fundados no seu imperium
destinavam-se a interpretar, completar e até corrigir o
ius civile.
Stipulationes praetoriae: a stipolatio é um negócio jurídico destinado a criar Antes da lex Aebutia de formulis:
Tais expedientes eram:
obrigações. Era imposta pelo pretor a fim de proteger uma situação social não
Comentado [49]:
prevista pelo ius civile e que merecia protecção. O sistema jurídico precedente à lex Aebutia de formulis, denominava-se Stipulationes praetoriae: proteger uma certa situação
«sistema da legis actiones» (acções da lei). As legis actiones caracterizavam-se social, não prevista nas regras do ius civile, através de
por serem orais. uma stipulatio imposta pelo pretor.
Restitutio in integrum: expediente do pretor, baseado no seu imperium, a Processo romano estava dividido em duas partes (segundo S. Cruz): Comentado [50]:
considerar como inexistente um negócio jurídico injusto mas válido perante o ius • in iure O que é uma stipulatio?
A stipulatio é um negócio jurídico (solene, formal, oral e
civile, fundando-se (o pretor) em circunstâncias de facto para tomar essa posição. • apudi iudicem abstracto) entre presentes no qual cria obrigações a
partir de uma pergunta feita pelo credor (stipulator) e
O pretor presidia à fase in iure. Este apenas concedia ou não a actio, uma resposta imediata dada pelo devedor (promissor)
que se unem materialmente para constituir uma
Missiones in possessionem : é uma ordem dada pelo pretor, baseada no seu conforme o que estava previsto no ius civile. Quanto muito podia
obligatio para o devedor e uma actio para o credor....A [3]
imperium, autorizando alguém a apoderar-se, durante certo tempo, de bens de interpretar as hipóteses de concessão e de não concessão.
Comentado [54]:
outrem, com poderes de administração e fruição. Posição do pretor na organização dos processos, antes
da lex Aebutia de formulis; o carácter das “legis
actiones”: ... [7]
Interdicta: ordem sumária dada pelo pretor, baseada no seu imperium, para Comentado [51]:
resolver de momento uma situação que tem a protegê-la pelo menos uma Depois da lex Aebutia de formulis: Restitutio in integrum: Esta acção do pretor consiste em
anular o negócio jurídico injusto pela celebração de... [4]
aparência jurídica, ficando porém, essa ordem condicionada a uma possível
observação ulterior. A partir da lex Aebutia de formulis (130 a.C), o processo passou a ser escrito. As Comentado [52]:
Missiones in possessionem: o pretor dá uma ordem,
leges actiones desapareceram. O pretor passou a integrar e a corrigir assente nos seus poderes de imperium, autorizando
directamente o ius civile por via processual. Através de um decretum, concede: uma pessoa a apoderar-se ou a deter certos bens de
... [5]
Denegatio actiones e Exceptio. Comentado [53]:
Interdicta:
- Ordem dada pelo pretor;
- De forma sucinta, imediata e imperativa; ... [6]
Vários expedientes do pretor baseados na iurisdictio:
Comentado [55]:
... [8]

25
- Para neutralizar uma actio civilis, cuja aplicação redundaria numa injustiça, para a) Relação do “ius praetorium” com o “ius honorarium”, com o “ius civile” e Comentado [56]:
além de uma restutio in integrum, tem: com o “Ius Romanum”: sempre que a justiça ou a equidade assim o exigissem

• denegatio actiones: se o pretor nega a concessão da actio


civilis, pois verifica que essa concessão em determinado
O “ius honorarium” (ius edictale ou ius magistrale) é todo o Ius Romanum não-
caso concreto, seria uma injustiça.
civile, introduzindo pelos edictos de certos magistrados:
• Exceptio: é uma cláusula concedida directamente a favor do
demandado, que inutiliza a pretensão do demandante.

- Pretor urbano;
Actiones praetoriae – o pretor, depois da lex Aebutia de formulis cria actiones
- Pretor peregrino;
próprias. Actiones praetoriae contrapõem-se a actiones civiles.
- Edís curúis;
1. Actiones ficticiae: é uma imposição duma irrealidade ou de uma
inexactidão. Supõe uma criação, uma invenção. - Governadores das províncias.
2. Actiones in factum conceptae: o pretor vendo que determinada situação
social merece protecção jurídica e não a tem do ius civile, concede uma
actio baseada no facto, para que se faça justiça.
- É um direito próprio criado dos magistrados.
3. Actiones utiles: se o pretor aplica actiones civiles a casos diferentes, mas
semelhantes aos que os ius civile protege. Existe lógica por semelhança. - Enquanto o ius civile deriva do populus, dos comícios, do senado, do princeps e
4. Actiones adiecticiae qualitatis: actiones que responsabilizam o dos iurisprudentes, o edicto dos magistrados é um programa das actividades a
paterfamilias pelas dividas dos seus filius ou servus. realizar durante o tempo da sua magistratura.

- “O direito pretório é o que os pretores introduziram com a finalidade de ajudar


(interpretar) ou de suprir (integrar) ou de corrigir o ius civile, por motivo (razão)
de utilidade pública”.
• O edicto do pretor
- Nas suas actividades é sempre totalmente dominado pelo espírito de Justiça,
com a delicadeza e o escrúpulo de não abusar dos seus poderes (honeste

26
vivere), com a preocupação de não prejudicar ninguém (alterum non laedere) e inesperadamente, e que nem o “ius civile” e nem o “edictum
com a ânsia de atribuir a cada um o que é seu. perpetuum” (anual) solucionavam.

- O ius praetorium é uma parte do ius honorarium; mas uma parte considerável ! Tralaticia, os que permanecem iguais dum ano para o outro, como que
que representa todo o ius honorarium. Por isso, às vezes confunde-se os dois. trespassando do pretor anterior para o sucessor;

- Os edictos dos pretores assumem, no direito, uma grande importância.


! Nova, são as disposições que o pretor, de determinado ano, acrescenta
Costuma-se chamar-lhes ius honorarium, porque são aqueles que ocupam
por sua própria iniciativa.
postos de honra, ou seja, os magistrados que deram força a este direito.

- O ius praetorium ou honorarium forma um sistema diferente do ius civile, mas


não o pode alterar. O ius civile só pode ser alterado por uma das várias fontes
conhecidas: ou por uma lex, ou por um senatusconsultum, ou por uma
constitutio principis ou pela iurisprudentia. Completa o ius civile, sobretudo
adaptando a estática do ius civile à dinâmica das condições sociais e
C)
económicas, e concretamente o pretor obtém esse resultado admirável de
permanente adaptação, mediante expedientes seus, baseados no seu imperium
e na sua iurisdictio.
! Baseados na sua iurisdictio

a) Exceptio ou denegatio actionis

No sistema das leges actiones, em que o processo era oral, o pretor tinha uma
Os edicta podem ser:
intervenção simples: dar ou não dar actiones civiles, isto é, fundadas no ius civile.
! Perpetua ou anuais, os que eram dado pelo pretor, no início da sua Depois da lex Aebutia de formulis que introduziu no modo de processar o sistema
magistratura, contendo os vários critérios que seguiria, no exercício das de agere per formulas: processo escrito pelas partes – a forma de processo e a
suas funções durante esse ano; sua tipicidade condicional o direito. A actio é o ius. Quem tem a actio tem a
formula.
! Repentina surgem, como actos do imperium do pretor, proferidos em
qualquer altura do ano, para resolver situações novas, surgidas A formula é uma ordem escrita que o pretor dava ao iudex para condenar ou
absolver, consoante os factos apurados e validados como prova.

27
Com a lex Aebutia de formulis, o pretor podia:

- Anular os efeitos da actio civilis, sempre que a justiça ou a equidade assim o


exigissem, através da denegatio actionis ou pela exceptio que retirava eficácia da
actio civilis.

- Criar actiones próprias.

A partir daqui o pretor pode usar a via processual para alterar, corrigindo o ius Fontes do Ius Civile Comentado [57]:
civile. conjunto de regras resultantes da interpretatio feita
pelos sacerdotes das regras divinas e dos mores
Lex rogata: deliberação proposta por um magistrado e votada pelos comitia.
maiorum. O ius civile aparece ao lado do ius gentium,
Denegatio actionis: nega a actio civilis, visto que levaria a uma injustiça. do ius naturale e do ius honorarium como elemento
Plebiscitum: deliberação apresentada pelos tribunos da plebe e votada nos constitutivo.
Exceptio: outorgada directamente a favor do demandado e torna-se sem efeito a
concilia plebis.
pretensão do demandante.

Rogatio: proposta do magistrado (comum à lex rogatae e plebiscita)

Fases de formação das leges rogatae:

1. Promulgatio: projectos de leges a propor à votação dos comitia, eram


feitos pelos magistrados que tinham a faculdade de convocar os
comícios. O projecto devia ser afixado num lugar público. O projecto não
podia ser alterado, teria de se fazer de novo.
2. Conciones: reuniões tidas na praça pública, sem carácter oficial nem
jurídico, para se discutir o projecto de lex.
3. Rogatio: pedido de aprovação do projecto de lex, após a leitura pública
pelo arauto.

28
4. Votação: o voto afirmativo ou negativo tinha de ser dado com palavras Constitutiones principum vieram substituir as decreta principum.
sacramentais. De inicio a votação era oral, a lex Papiria Tabellaria
estabeleceu o sistema de voto escrito e secreto.
5. Aprovação pelo senado: depois de votada favoravelmente pelos comitia, NO PERIODO DO PRINCIPADO E DO DOMINADO Comentado [58]:
a lei precisava de ser referendada pela auctoritas patrum (A partir da lex Exercício da autoritas patrum (retificação); ou então era
vetada
Publia Philonis, do ano 339 a.C) As constituições imperiais são decisões de carácter jurídico proferidas
6. Afixação: depois de concedida a auctoritas patrum, o projecto directamente pelo imperador. O princeps é a nova e grande figura da constituição NOTA: Para impedir o veto do Senado, antes de
transformava-se em lex e era afixada no fórum. política de Roma. Não sendo nem rei nem cônsul nem sequer magistrado, tem acontecer a Promulgatio, a proposta era apresentada
um poder quase absoluto. As antigas magistraturas republicanas, sobretudo os ao Senado para este dar o seu parecer

Partes da lex rogata: cônsules e os pretores, transformaram-se em funcionários executivos. Tudo e


todos subordinados ao princeps numa colaboração… forçada. O princeps começa
- Praescriptio: espécie de prefácio; contém o nome do magistrado, a assembleia a proferir edictos para o público. Os edictos dos magistrados eram fonte do ius
que a votou e a data, o nome do primeiro agrupamento que abriu a votação e o honorarium, mas como o princeps não é um magistrado, os seus edictos passam a
nome do cidadão que foi o primeiro a votar. ser fonte do ius civile.
- Rogatio: é o conteúdo da proposta, que mesmo depois de votada continua a
chamar-se rogatio. Partes de uma constitutio:
- Sanctio: parte final da lex. Estabelece os termos da sua eficácia e a sua relação
com outras normas. 1. Inscriptio: contém o nome do imperador, autores da constituição, e o da
pessoa a quem é dirigida.
2. Corpus: onde está a matéria ou conteúdo da constituição.
Leges publicae datae 3. Subscriptio: contém a data e a indicação do local onde foi escrita.
Normas jurídicas dadas pelo governo central a comunidades locais.
Exemplos: estatutos locais e concessões de cidadania. Motivos para os quais as constituições imperiais adquiriram carácter
normativo-jurídico
Leges publicae dictae
Leis proferidas por um magistrado em virtude dos seus próprios A partir do séc. II, as constituciones principum têm valor de lei; são como
poderes. Lex dicta é a lex rei suae dicta, aplicada ao direito público. uma lex rogata. Depois, são uma lex; e finalmente, só elas é que são leges.
As constituições imperiais adquiriram carácter normativo-jurídico,
Constituições imperiais portanto com valor igual ao das leges e dos senatusconsultos, devido a um
equívoco do populus. Este, quando viu o imperador carregado de prestígio, cheio

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de auctoritas, convenceu-se de que tudo o que ele ordenasse tinha valor de lei. O
populus acata sem relutância. Os juízes recusaram-se a aplicar nos tribunais as
constituições, sobretudo quando viam que eram injustas. Luta entre juízes e 1. Edicta: leges generales, de aplicação a todo o império. Comentado [59]:
imperador. O desprezo dos juízes pelas constituições imperiais, qualificava-se de 2. Rescripta: leges speciales, com igual sentido como no período anterior. Ou edictum: Antes do princeps era o pretor que os
emitia. Podiam ser prepetium; novatium; e translaticio,
sacrilegium, punido até pena de morte. 3. Adnotationes: substituem as subscriptiones.
e repentino
4. Decreta: neste período já resolve muito poucos casos, pois tem (o
Tipos de constituições imperiais imperador) o seu próprio tribunal oficial (cognitio). - A definição comum a todos era a duração do período
do mandato (1 ano)
- OO (ano um) edito perfetto é de Adriano
1. Edicta: de carácter geral; proferidas pelo imperador no uso do imperium Senatusconsultum
proconsulare maius.
2. Decreta: eram decisões pronunciadas elo imperador, naqueles pleitos Etimologicamente, o conceito de «senatusconsultum», significava,
submetidos à sua apreciação. inicialmente, uma consulta feita ao senado. Visto que, no período da Monarquia,
3. Rescripta: respostas do imperador dadas por escrito às perguntas ou aos os magistrados consultavam o senado para a resolução de certo tipo de
pedidos que lhe faziam quer os magistrados, quer os particulares. problemas, ainda que não estivessem vinculados a aceitar a sua opinião. No
4. Mandata: ordens ou instruções dadas pelo imperador aos governadores entanto, as opiniões do senado foram ganhando relevância ao longo dos tempos,
das províncias, funcionários, etc. e o seu significado sofreu uma alteração para decisão do senado. Assim, os
senatusconsultos assumiram-se como uma fonte do «ius civile» muito
importante, que percorreu um longo caminho para conseguir obter a categoria
de verdadeiras normas jurídicas.
Até ao séc. I a.C., quando o senado ainda era um mero órgão consultivo,
NO BAIXO IMPÉRIO cabia-lhe apenas conceder ou não a «auctoritas patrum» às leis comiciais e
recomendar aos magistrados que tinham «ius agendi cum populo» algumas
A partir do séc. IV, as constituições imperiais são a única fonte de direito. medidas, que depois seriam votadas nos comícios. Após a data referida
Só o imperador é que tem o poder de criar leis. O imperador já era considerado anteriormente, os senatusconsultos tornam-se fonte mediata de direito,
dominus et deus do império. Este ius novum, contrapõe-se ao ius. O ius é superior principalmente através do edicto do pretor, que tinha «actio» e ter «actio» é ter
às leges em matéria de dto privado; as leges são superiores ao ius em matéria de «ius», logo através do edicto do pretor, os senatusconsultos passaram a ser fonte
dto constitucional e administrativo. do «ius».
Durante este período, o povo não reconhecia o senado, como fonte
Tipos de constituições imperiais: mediata de direito, mas sim como fonte imediata (função que cabia ao edicto),
ou seja, que podia legislar. Assim, já nos fins do período da República, o senado

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aproveita o ambiente de confiança que o povo lhe deposita, para criar direito O «senatusconsultum velleianum», denomina-se assim por ter sido
novo, sem o intermediário do pretor ou dos comícios. originário da proposta ao senado pelo cônsul Velleus, que pensa-se datar do ano
O grande período de prosperidade dos senatusconsultos verifica-se 58 d.C. Veio generalizar, a ideia já defendida por Augusto e Cláudio de que as
desde o início do Principado, em que estes já eram reconhecidos como fontes mulheres casadas fossem proibidas de praticar o «intercessio» a favor de
imediatas de direito. O primeiro senatusconsulto, com força de lei, foi criado no qualquer homem. O «intercessio» significava a intervenção favorável em relação
ano 4 a.C. e tratava de matéria processual. No ano de 10 d.C, surge o primeiro a outrem, no direito privado; e em direito público significa proibição e vetar. No
senatusconsulto com força legislativa, sobre o direito substantivo, os caso da deliberação correspondente aos «senatusconsultum velleianum», este
«senatusconsultum Silanianum”. Os «senatusconsultum Silanianum» tinham o era um problema do foro privado.
fim de reprimir os assassínios de proprietários, cometidos pelos escravos. O verdadeiro objectivo deste «senatusconsultum» era proteger as
A estrutura formal do «senatusconsultum» era constituída pela mulheres contra o risco em que ficavam sendo intercedentes dos homens. No
«praefatio» e pela «relatio». O primeiro continha o nome do magistrado entanto a proibição da «intercessio» não anulava o negócio, mas tornava o
convocador e dos senadores que de alguma forma participaram na redacção da negócio totalmente ineficaz.
proposta; e a data e o local em que se celebrou a reunião do senado. O «relatio» Por outro lado, havia casos em que se verificava a não aplicação do
relata os motivos, proposta apresentada, a sentença, a resolução e/ou a decisão «senatusconsultum velleianum». Por exemplo, uma mulher tinha a liberdade de
aprovada. fazer doações para pagar a divida de outrem, pois não se tratava de uma
Em princípios do séc. II d.C, o poder do imperador Adriano retirou o obrigação, mas sim, de uma acção feita por vontade própria da mulher. Por isso,
poder do senado de estabelecer as normas, conferindo agora esse poder o «senatusconsultum velleianum» tinha o interesse de proteger a mulher
exclusivamente ao próprio imperador. O «princeps» fazia a «oratio» onde obrigada e não a mulher doadora.
propunha ao senado o projecto de um «senatusconsultum», e o senado aprovava «Senatusconsultum neronianum»
automaticamente tal proposta, sem se debater contra ela. Os senatusconsultos
passam, apenas, a ser a expressão da vontade do «princeps» («orationes principis O «senatusconsultum neronianum», datado do ano 60 d.C (?), dá por
in senatu habitae»). este nome por ter sido o imperador Nero a apresentar a proposta ao senado.
No final do séc. II, é a própria «oratio» do imperador que estabelece as Tinha como objectivo tratar da conversão de um certo tipo de legados nulos em
leis, perdendo o seu carácter de proposta apresentada ao senado, para adquirir o legados damnatórios, também designados como legados de obrigação. Neste
carácter de edicto do imperador. legado produzem-se efeitos pessoais, em que o legatário, pode exigir de volta o
seu legado ao seu herdeiro, em caso de incumprimento de administração do que
lhe foi herdado.
«Senatusconsultum velleianum»
«Senatusconsultum macedonianum»

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Data do ano de 75 d.C. (?), e tem especial importância no Código
Gregoriano, nas «Pauli Sententiae», no Digesto do «Corpus Iuris Civilis» e no
Código Justiniano. Tem a designação de «macedonianum», devido a um anónimo
chamado Macedónio que teve um comportamento escandaloso. Macedónio,
cometera as maiores imoralidades, incluindo o próprio homicídio do seu «pater»,
devido ao dinheiro que dispunha e obtinha através de empréstimos, que o
endividaram de tal forma, que a morte do seu «pater» seria única maneira de
herdar os seus bens, para que pudesse saldar as dívidas.
O «senatusconsultum macedonianum» proibia o empréstimo de BINÓMIOS
dinheiro a todo o «filiusfamilias», mesmo que ocupasse um cargo alto, para assim
proteger as famílias de uma atrocidade igual ou pior àquela que Macedónio
cometera. A limitação de emprestar dinheiro aos «filiusfamilias», apenas se Ius/fas Comentado [60]:
verificava com empréstimos em dinheiro, mas havia casos excepcionais em que o Normas jurídicas
empréstimo era autorizado: quando o «filiusfamilias» era já «sui iuris»; se o Na antiguidade clássica o Direito confundia-se com a religião. Reis e Comentado [61]:
dinheiro fosse emprestado ao «pater»; caso o dinheiro fosse emprestado aos legisladores recebiam dos deuses, as normas que deviam reger a comunidade. normas religiosas
herdeiros do «filiusfamilias»; ou o empréstimo fosse feito, ao garante da dívida Era aceitável que apenas um restrito grupo de pessoas pudesse exercer a
em dinheiro contraída pelo «filiusfamilias». intermediação entre os homens e os deuses.
Confundiam-se as normas religiosas – fas – com as normas jurídicas –
ius.

O fas compreende as regras, os rituais e as fórmulas ditadas pelos


deuses aos seus reis ou sacerdotes. Este representa uma regra ideal de vida que
não é sequer contestada, porque foi criada pelos deuses.
A norma jurídica é uma interpretação humana do fas, logo expressa a lex
humana.

• O ius resulta do fas;


• O ius corresponde a um conjunto de convenções humanas
cuja legitimidade e obrigatoriedade assentam no fas;

32
• O ius é de construção progressiva e procura nos mores actos do pretor no exercício da sua iurisdictio e do seu
maiorum a inspiração e critério para a interpretatio do fas imperium.
que está na sua base criadora. O ius praetorium, é um conjunto “normativo” mais completo,
sistematizado, integrado e
Ius publicum/ius privatum eficaz que o ius civile.
O ius honorarium é todo o ius Romanum não-civile. É o dto criado pelo
A distinção entre o dto público e o dto privado só começou a preocupar edictos de: pretores urbanos; pretores peregrinos, edis curuís e governadores de
os jurisprudentes na época de Adriano. província.
O ius publicum, só ganha importância em Roma quando as relações O ius honorarium é um dto criado por magistrados e o ius civile é um dto
tuteladas pela família são maioritariamente transferidas para o “Estado”. Passa a derivado no populus na interpretação dos jurisprudentes.
ser importante no tratamento jurisprudencial dos casos. Numa concepção ampla de ius civile, cabe, no entanto, o ius honorarium
Para Ulpiano, o que separa umas normas das outras é a utilitas: o dto que o toma como referência e é fonte da sua renovação e complementos.
público é criado e aplicado para servir a entidade pública; e o dto privado é o que A acção do pretor permite integrar, corrigir, adaptar e preencher o ius
é útil para os interesses das pessoas singulares. civile, em dois momentos:
A iurisprudentia, classifica dto público como o conjunto de normas que • No exercício do ius edicendi quando define no ius
os particulares não podem afastar, por te natureza imperativa, sustentado no seu perpetuum as normas que seguirá na sua actuação usando
interesse geral e social. o imperium;
• No momento da sua aplicação, no âmbito da iurisdictio,
com recurso à aequitas.
Ius civile/ius honorarium A formalidade asfixiante do ius civile é aligeirada com as intervenções
pragmática, visando a eficácia do pretor, no âmbito do ius honorarium. O pretor
O ius civile era o conjunto de regras resultantes da interpretatio feita podia “trabalhar”, para efeitos de aplicação do ius civile, mas não podia recriá-lo
pelos sacerdotes das regras divinas e dos mores maiorum. O ius civile aparece ao ou afastá-lo.
lado do ius gentium, do ius naturale e do ius honorarium como elemento Só o tempo e uma crescente intervenção criadora do pretor no plano da
constitutivo. Quanto às fontes de criação, dentro da civitas, o ius civile contrapõe- aplicação do ius civile, recebendo a actualizando as suas instituições e conceitos,
se ao ius honorarium (dto criado pelos magistrados). derrubam a resistência dos jurisprudentes que acabam por aceitar a actividade
Diversidade de fontes: do pretor como criadora de ius.
• No ius civile: os actos legislativos e a interpretatio dos Com o tempo as contradições normativas e de solução entre o ius civile e
jurisprudentes. No ius honorarium (ius praetorium): os o ius honorarium (praetorium) vão sendo desfeitas. O ius civile mantém, no
entanto, como corpo normativo separado, a sua vivacidade e prestígio, como fiel

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repositório de romanidade e de identidade jurídica assente numa tradição
constantemente adaptada, até ao fim do império no Oriente. A interpretatio dos mores maiorum é sempre designada nas fontes como
ius non-scriptum. De inicio o dto não estava escrito, mas vigorava através de
Ius naturale/ius gentium regras a observar na vida em sociedade, que passavam de geração para geração.
A escrita permite a publicidade e a generalidade das leis tanto como a
Ulpiano define ius naturale como um direito comum a todos os animais, possibilidade de tratamento igual para todos.
incluindo os homens, no sentido de que não era um direito exclusivo dos Nas suas institutas, Gaio separa o direito escrito do direito não escrito. Comentado [62]:
homens. Nas institutas de Justiniano, o direito escrito é todo o que pode ser consultado Um dos dois manuais de leis que contém os elementos
do Direito Romano (O outro institutas era de Justiniano)
A iurisprudentia romana resistiu à criação de um conceito e de uma em textos escritos fixados pelos órgãos competentes, com carácter permanente.
instituição que, igualizava, no plano jurídico, homens e animais. Já em plena O direito não escrito integra os costumes e as decisões dos magistrados para
época clássica os jurisprudentes aproximavam os preceitos do ius naturale das casos concretos.
regras do ius gentium, criado pelo praetor peregrinus. A lex corresponde ao ius scriptum, e o ius non scriptum refere-se à
Mas, a evolução dos vários ordenamentos jurídicos vigentes em Roma expressão designativa aceite pelo ius, correspondendo ao direito
aproxima, para contrapor, o ius naturale e o ius gentium. A definição formal de consuetudinário.
ius gentium não pode deixar de retratar o intuito prático, a expressão positiva e a
natureza complexa dos preceitos materiais do ius gentium. Ius vetus/ius novum
O trabalho do pretor peregrino revelou a necessidade de adaptar o ius
civile às novas realidades sociais e ao comércio frequente que colocava romanos Quando as constituições imperiais passam a ser a única fonte de Direito,
e estrangeiros em confronto e em discordância nas relações privadas. os autores consideram que tal situação nada tem a ver com a anterior, tanto no
que respeita à legitimidade, como ao conteúdo e finalidade das normas jurídicas
assim criadas e designam as constituições imperiais como ius novum. Quando
Ius singulare/ius commune nada há aqui de ius.
Todo o acervo normativo integrado pelas leges, os senatosconsultos e as
Para Paulo o ius singulare seria integrado por normas cujo conteúdo constituições imperiais, até aos finais do séc. III, além dos edictos do pretor e do
jurídico corresponderia à antítese de princípios jurídicos gerais do ius. O ius direito dos jurisprudentes era considerado, pela literatura jurídica tardia que
singulare contraria a ratio ínsita nos princípios de dto, isto é, no ius commune. adoptou esta terminologia, como ius vetus. Este era criado por uma pluralidade
A diferenciação entre ius singulare e ius commune assenta nas de fontes.
oposições entre a utilitas e a ratio; e entre a excepção e a regra.
Iustitia/aequitas
Ius scriptum/ius non scriptum

34
Em Roma, quando uma norma de dto positivo era considerada injusta, a
jusrisprudência invocava uma regra de ius que dissesse in casi, concretizando a O privilegium afasta a equidade do caso concreto, para permitir uma
justiça. Essa regra estabelece a justiça como finalidade do ius para criticar aplicação discricionária da norma a pessoa certa ou a pessoas determinadas, a
fundamentadadmente a opção normativa do legislador, que dela se afasta.. tal favor ou contra elas.
regra do ius revela a sua utilidade e eficácia quando a norma de direito positivo é Desde a Lei da XII Tábuas até Cícero, o privilégio é repudiado pelos
afstada, porque injusta. romanos.
Ulpiano ensina que o Direito deriva da justiça, os dois conceitos estão Mas aristocracia senatorial e depois os imperadores acabaram por
conceptualmente integrados no discurso dos jurisprudentes romanos na conceder excepções injustificadas a regras jurídicas, com o fim de beneficiar
necessidade de conformar a resolução justa do caso com disposto no ius. algumas pessoas; criando injustiças e desigualdades.
A diferenciação entre ius e iustitia, aoproximando esta da aequitas, é Augusto procurou limitar os privilégios de cariz subjectivo. Mas as
mais marcante à medida que o tempo decorre, o processo se complexifica, a características do Principado e do Dominado aumentaram a discricionariedade do
resolução dos casos se intitucionaliza e se burocratiza e a jusriprudência se exercício do poder político e, assim, surgiram as constituições pessoais, definidas
aproxima do poder político. por Ulpiano.
O jurisprudentes não podem prescindir da iustitia. São eles que mantêm Os privilegia que correspondem sempre a um favor ou a um prejuízo,
presente a justiça através a aequitas. feitos pelo titular do poder a certas pessoas, acabaram por impor-se na prática
A resolução dos casos com soluções justas pela aplicação do ius não era legislativa do poder.
uma actividade empírica feita por homens virtuosos, nem uma necessidade É nesta acepção de favor ilegítimo que o privilegium se aproxima do
social, mas uma construção jurisprudencial racionalizada e conceptualmente beneficium: mais com o objectivo de atenuar os rigores das regras gerais e
dirigida ao fim visado. abstractas do que, para permitir a justiça do caso concreto por aplicação de
A equidade no Dto Romano é muito mais do que a adequação da regra critérios da equidade.
ao caso concreto. É sobretudo na adequação da regra geral e abstracta do ius ao
sentimento de justiça que a equidade se expressa. A aequitas é o motor da força Auctoritas/imperium
criadora que permite aos jurisprudentes e aos pretores adaptar as regras do ius à
realidade dos conflitos a solucionar em cada momento. A aequitas vive na O ius é uma força que necessita de auctoritas, para poder ser válido e
interpretação do ius feitas por jurisprudentes e depois por pretores na procura eficaz. A auctoritas é necessária tanto na criação como na aplicação. O imperium
justa do caso. está em Roma mais ligado ao momento de aplicação. O ius é criado pela
Podemos, assim, concluir que a aequitas prende o ius à iustitia na prática auctoritas dos jurisprudentes e aplicado com o imperium dos magistrados
e no pensamento da jurisprudência. (pretor).
Com a derrocada da jurisprudência e do ius praetorium: a auctoritas
Beneficium/privilegium criadora do ius passa para a consultoria das entidades políticas que têm o

35
imperium para fazer a lex (princeps); e o momento de aplicação para o iudex
público que dá a sentença imposta pelo imperium do “Estado”.
Os jurisprudentes tinham auctoritas, isto é, um saber socialmente
reconhecido fundado na experiência que era a base da aceitação pelas partes e
pela comunidade das soluções propostas nos responsa prudentium.
Fontes do Ius Romanum
O imperium é um poder de soberania e um poder absoluto, a que os
cidadãos não podem opor-se porque é exercido em nome e para o bem da Costume (Mores maiorum)
comunidade. O imperium detido pelo rei é depois, na república, destruído pelos
magistrados. O Costume é a primeira fonte manifestandi. O Ius Romanum principiou
O imperium continha: - o poder militar de comandar os exércitos; por ser consuetudinário.
- o poder de convocar as assembleias Não se deve confundir Costume com o ius non-scriptum, pois este
populares e o Senado; último, deriva da interpretatio e não da “tradição de uma comprovada
- o poder de declarar o direito para moralidade”.
efeitos de aplicação.
Fases do Costume:
Iurisdictio/lex
1ª fase: 1ª etapa da época arcaica (753-242 a.C).
A iurisdictio passou a ser o poder supremo de declarar a existência de - antes da Lei das XII tábuas, os mores maiorum eram a única
um direito que podia ser exercido perante um juiz; ou negar a sua existência tal fonte do ius romanum.
como era invocado pelo interessado. - depois da Lei das XII Tábuas, os mores maiorum ainda
Era essa a actividade principal do pretor. continuam como fonte importante do ius romanum, sobretudo em matérias de
Também os questores podia exercer iurisdictio nos processos criminais . Dto Público. Quanto ao Dto privado, agora a lei fundamental é a Lei das XII
A lex era toda a norma jurídica escrita que podia ser lida (uma declaração solene Tábuas.
com valor normativo emitida por um órgão “constitucional” com competência e
legitimidade para a fazer. A primitiva lex privata cria ius privatum e a lex rogata 2ª fase: 2ª etapa da época arcaica até à época clássica (242 a.C – 230 d.C)
cria ius com base num acorde entre o magistrado, que propõe, e o povo que - nesta fase, o costume, como fonte do ius romanum, em
aprova. matéria de Dto privado resume-se a um mínimo; no Público, prossegue,
A lex pode ser considerada uma sponcio communis, que vincula o especialmente em matéria de Direito Constitucional e Dto administrativo).
magistrado e o Populus.
3ª fase: na época clássica (130 a.C-230 d.C)

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- nesta última fase, os mores maiorum quase desaparecem por fazer o tão desejoso código, e assim aconteceu. Redigiram 10 Tábuas que foram
completo como fonte autónoma, para se assumirem nas outras fontes do ius aprovadas pelos comícios das centúrias.
romanum. Como essas 10 Tábuas não era suficientes, foi constituído para o ano
seguinte um novo decenvirato – formado por patrícios e plebeus – para que
Época post-clássica – consuetudo Vs constituições imperiais terminasse o código. Este decenvirato, elaborou as últimas 2 Tábuas, mas
governaram com profundo desagrado do povo. Terminado o prazo do seu
O Dto romano sempre defendeu que a lei é uma das várias fontes de mandato, não queriam abandonar o poder. Tiveram de ser expulsos por uma
Dto, mas não a única e nem sequer a mais importante. A lex precisa sempre de revolta popular.
um correctivo. Até à época post-clássica esse correctivo foi desempenhado pelo Para o ano de 449 a.C. foram eleitos pelo povo, já duma forma normal,
ius praetorium e sobretudo pela iurisprudentia. Na época post-clássica, a lex os dois cônsules, Valério e Horácio. Estes, sem atenderem ao descontentamento
surge como única fonte de Dto (constituições imperiais). Mas surge em que tinha havido por parte do Populus, mandaram fixar no Forum as XII Tábuas.
contraposição, como correctivo, o consuetudo.

Lei das XII Tábuas


PRINCIPADO (27 a.C – 285 d.C)
A lei é a segunda fonte manifestandi. A fonte exsistendi da lei, sensu
stricto, são os comícios; da lei sensu lato, são o senado, o imperador e certos
magistrados. O inicio do principado, 27 a.C., está associado ao fim da crise da
A lei da XII Tábuas é o documento de maior relevo do Dto antigo. Teve republica romana, iniciado com a morte de Júlio César.
origem nas reivindicações jurídicas dos plebeus. Estes exigiam uma lei escrita, O principado não passou de uma forma pragmática de governar, assente
que não provocasse injustiça e desigualdades, o que acontecia com a no exemplo de Augusto e sujeito às características pessoais do titular do poder
interpretatio feita pelos sacerdotes-pontífices, dos mores maiorum. político. Logo, o pendor subjectivo, do titular do poder, sobrepunha-se sempre às
É enviada à Grécia, em 452 a.C., uma comissão de três homens com a tentativas de objectivar o regime em normas e instituições jurídico-políticas.
finalidade de estudar as leis de Solón. Em 451 a.C., o povo reunido nos comícios Octávio (Augusto) exerceu o poder politico supremo, a partir de 43 a.C.,
das cúrias nomeia uma magistratura extraordinária, composta por dez cidadãos através de um triunvirato em que ela ele o centro, em clara contradição daquilo
patrícios. Estes, durante um ano, gozariam de plenos poderes, mas teriam de

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que resultava da “constituição” republicana. Em 22 a.C., esgotado o modelo do • Divisões territoriais e étnicas, devido ao recrutamento de pessoal
triunvirato como modelo de exercício do poder universal, Augusto declara-se oriundo das províncias para o exército.
princeps por consensus universorum.
Em 31 a.C., Augusto renova sem oposição os seus poderes de cônsul
único. Augusto trilhava um caminho bem preparado de concentração de poderes,
com a justificação de não haver outra alternativa para manter as instituições
Comentado [63]:
ainda existentes em Roma. Conjunto de regras resultantes da interpretatio feita
Estava aberto o caminho para um regime que concentrava todos os pelos sacerdotes das regras divinas e dos mores
poderes nas mãos de um homem só: o princeps/imperator/augustus. maiorum. O ius civile aparece ao lado do ius gentium,
do ius naturale e do ius honorarium como elemento
Augusto usava o título de imperator para significar que era ele o titular
do poder único e os poderes supremos eram só dele. Jurisprudência constitutivo.
Comentado [64]:
Com a tribunícia potestas Augusto adquire:
Conjunto de regras resultantes da interpretatio feita
• Qualidade de sacrosantus; Considerações gerais pelos sacerdotes das regras divinas e dos mores
• Poder de intercessio contra todo e qualquer acto de magistrados e do maiorum. O ius civile aparece ao lado do ius gentium,
Senado; do ius naturale e do ius honorarium como elemento
A interpretatio do ius civile era considerada, no inicio de Roma, uma constitutivo.
• Ius agendi cum plebe; actividade em monopólio exclusivo dos pontífices e situava-se no âmbito
Comentado [65]:
• Etc. religioso. Em 304 a.C., Cneu Flávio publicitou uma colecção de
Só no séc. III a.C. se iniciou o processo de racionalização progressiva da fórmulas processuais das legis actiones, revelando o
iurisprudentia, libertando-se da imposição religiosa que a caracterizava, num segredo bem guardado pelos pontífices do processo
seguido na tramitação das actiones.
processo designado, normalmente, como laicização/secularização da Esta colecção ou recolha de fórmulas processuais no
Causas do fim do principado jurisprudência. âmbito do processo per legis actiones ficou conhecida
Este processo teve três etapas: como ius Flavianum e permitiu a Cneu ocupar os
• Centralidade de poderes no imperator cargos de tribuno da plebe e de edil curul. Já
1. A positividade de preceitos de ius civile na Lei da XII Tábuas magistrado, Flávio publicitou no fórum o calendário
• Desromanização do Império 2. O ius flavianum religioso, fazendo desabar um dos últimos segredos
• Fim das grandes campanhas militares, seca a fonte de angariação de 3. O ensino público do Direito dos pontífices, fonte do seu poder incontestado.
escravos Tendo o ius Flavianum revelado fórmulas processuais e
o calendário com os dias fastos e nefastos, para a
• Incapacidade politica de manter os vínculos institucionais a Roma de • A lei das XII Tábuas colecção da acções, considera-se ser esta uma das
todas as parcelas obrigou a iniciar um processo de autonomia politica etapas mais importantes para o fim do monopólio
progressiva das províncias. A promulgação da Lei das XII Tábuas, cerca de 450 a.C., corresponde à pontifício e do domínio do sagrado no âmbito da
criação, interpretação e aplicação do Dto em Roma.
aceitação de que um direito consuetudinário não-escrito permitia aos intérpretes

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detentores dos segredos do sagrado, um imenso arbítrio e amplitude na forma O primeiro plebeu que conseguiu aceder ao cargo de pontifex maximus foi
de resolver os litígios invocando o ius, favorecendo patrícios em detrimentos dos Tibério Coruncâneo, em 253 a.C. Consciente da importância da transmissão
plebeus. dos conhecimentos por ele obtido na irreversibilidade das reformas que
O trabalho dos decemviri legibus scribundis visava acabar, pela publicidade publicitaram as regras aplicáveis e abriram o Olímpio pontifício aos plebeus,
da lei, com o segredo pontifício do Dto. As normas a aplicar passaram a ser, no começa a ensinar Dto em público.
seu núcleo essencial, do conhecimento de todos. Fá-lo enquanto responde publicamente às questões que lhe são
O monopólio pontifício permaneceu na interpretação dos preceitos da Lei colocadas na qualidade de pontifex maximus. Assim, os commentarii
das XII Tábuas, das normas consuetudinárias que ficaram de fora e na pontificum deixam de ser de acesso exclusivo dos pontífices, passando a ser
formalização dos actos. Mas a primeira brecha no sentido da racionalização do de acesso livre. Todo aquele que quisesse aprender Dto podia assistir às
procedimento jurídico em Roma estava dada. consultas de Tibério Coruncâneo.
A Lei das XII Tábuas contém disposições com conteúdos inscritos nos dtos A partir daqui, os pontífices deixaram de ser os únicos consultados para
público, privado e processual e serviu de base para o labor da jurisprudência. resolver litígios. Agora sabia-se que o Dto era uma coisa humana que todos
podiam conhecer e a que podiam aceder.
• Ius Flavianum Laicizada a jurisprudência pontifícia, os sacerdotes pontífices são
substituídos pelos iuris prudentes. A interpretatio das regras de ius passa a
Em 304 a.C., Cneu Flávio publicitou uma colecção de fórmulas processuais ser conhecida apenas como iurisprudentia.
das legis actiones, revelando o segredo bem guardado pelos pontífices do Três momentos da actividade da jurisprudência, no séc. II a.C.:
processo seguido na tramitação das actiones. • Respondere: actividade que consistia em dar às pessoas que procuravam
Esta colecção ou recolha de fórmulas processuais no âmbito do processo per o prudente, conselhos sobre a possibilidade de intentarem uma actio, do
legis actiones ficou conhecida como ius Flavianum e permitiu a Cneu ocupar os seu êxito ou de darem pareceres, em casos que envolvessem a
cargos de tribuno da plebe e de edil curul. Já magistrado, Flávio publicitou no interpretação de normas do ius civile. Era a actividade mais importante
fórum o calendário religioso, fazendo desabar um dos últimos segredos dos dos jurisprudentes.
pontífices, fonte do seu poder incontestado. • Cavere: actividade de elaboração de esquemas negociais cuidando do
Tendo o ius Flavianum revelado fórmulas processuais e o calendário com os interesse adequado ou de contratos de ius civile, ou seja, era a
dias fastos e nefastos, para a colecção da acções, considera-se ser esta uma das actividade de redigir formulários para os negócios jurídicos.
etapas mais importantes para o fim do monopólio pontifício e do domínio do • Agere: actividade desenvolvida na assistência às pessoas que
sagrado no âmbito da criação, interpretação e aplicação do Dto em Roma. procuravam o sobre a escolha da via processual mais adequada para
prosseguirem com êxito os seus interesses, que era depois utilizada na
• O ensino do Direito defesa do interessado perante o juiz na fase processual seguinte.

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Destas actividades, herdadas da iurisprudentia pontifícia, a mais do Direito, a jurisprudência passa a desenvolver-se com bases racionais como
importante passou a ser a de respondere. Era através das respostas às uma actividade das mais nobres que se podia aspirar.
questões colocadas que o jurisprudente actuava ad cavendum et ad
agendum. Época pré-clássica (367 a.C – 27 a.C.)
Enquanto os sacerdotes pontífices respondiam apenas perguntas em
relação a casos concretos, os jurisprudentes, partiam de um caso concreto A época pré-clássica, que se inicia no séc. IV a.C. e vai até ao fim do
para depois responder às hipóteses a aos problemas análogos colocados século I a.C, encerrando com os primeiros poderes constitucionais conferidos a
pelos auditores. Augusto como princeps.
Características fundamentais da actividade jurisprudencial: Neste período a república em Roma, devido à expansão territorial
• Gratuitidade: pareceres e conselhos não eram renumerados. mediterrânica, sobretudo a partir da segunda guerra púnica, surgem ao lado do
• Publicidade: as respostas dadas eram públicas e argumentadas, em ius civile, o ius gentium e o ius honorarium.
contraponto ao segredo que rodeava a actividade dos pontífices antes O ius gentium era constituído por um conjunto de práticas e de normas
da laicização da iurisprudentia. criadas pelo pretor peregrino e destinadas a regular as relações e a dirimir os
conflitos entre romanos e não romanos, com características mais adaptadoras e
PERIODIFICAÇÃO DA JURISPRUDÊNCIA leves que o ius civile.
O ius honorarium era o acervo de normas criadas a partir da acção do
Época arcaica (754 a.C. – 367 a.C.) pretor urbano na sua actividade de adaptação das regras do ius civile às
alterações da vida na Civitas para efeitos da sua aplicação na resolução de
A época arcaica decorre da fundação de Roma, até às leis liciniae Sextiae que conflitos.
deram permissão aos plebeus para se candidatarem a cônsules. A jurisprudência, começa no fim deste período, a ser organizada e
Neste período é formada a civitas quiritaria, com um direito rudimentar sistematizada. Os materiais dispersos são reunidos e apresentados de acordo
de base consuetudinária e interpretação religiosa. É nesta fase que se começam a com as normas expositivas da literatura grega, matriz filosófica.
desenhar, ainda que de forma apenas pré-embrionária, as principais instituições
e os institutos do ius romanum. Época clássica ( 27 a.C. – 285 d.C.)
Com a Lei da XII Tábuas e a sua implantação na resolução de conflitos
surgem os institutos jurídicos e a base conceptualizadora do ius civile. A época clássica corresponde ao período do regime constitucional do
Com a abertura do colégio pontifício aos plebeus; a divulgação das Principado e vai até à subida ao trono do imperador Diocleciano.
fórmulas e regras processuais dos sacerdotes por Tibério Caruncânio, tornando Neste período o prestígio da jurisprudência e o recurso ao Direito teve
público o modo de proceder à interpretatio das regras do ius civile, com a um desenvolvimento sem paralelo na história do Dto Romano.
positivação das regras fundamentais na Lei das XII Tábuas; com o ensino público

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Além do ius civile, do ius gentium e do ius honorarium, a actividade poder alcançado e mantido pela força das armas. O Direito torna-se impositivo e
legislativa do princeps e do senado e a actividade do pretor, tornaram-se intensos ao sabor da vontade de quem manda, sem que a jurisprudência diga o ius ou
de são potenciados pela universalização que se seguiu ao edicto de Caracala, que denuncie quem o diz por ela.
estendeu a cidadania romana a todos os habitantes do império.
É o período em que o poder político tenta controlar a jurisprudência
através do ius publice respondendi ex auctoritate principis levando a uma
situação em que a responsia prudentium passam a ser fonte imediata de direito.
A actividade independente e isolada do jurisprudente está a chegar ao
fim. A oficialidade – mesmo no sentido de funcionalização – dos jurisprudentes – Ius publice respondendi e o fim da iurisprudentia
é agora imparável.
A actividade dos jurisprudentes vai sendo cada vez mais narrativa, No inicio do principado a jurisprudência enfrenta uma crise de
sistematizadora, investigativa e divulgadora, com sacrifício do livre exercício de objectivos: a actividade de criação de um ius novum, enunciando regras jurídicas
respondere. por interpretatio das velhas regras do ius civile e dos mores maiorum, para
responder aos novos casos, estava globalmente cumprida; a actividade de
Época pós-clássica (285 – 395) integração do edictum do pretor estava também relativamente esgotada. Pedia-
se agora aos jurisprudentes que aperfeiçoassem, organizassem e
Vai até ao fim da unidade geopolítica do Império Romano e caracteriza- sistematizassem, para compreensão e aplicação, o conjunto de regras, princípios
se por uma grave crise institucional acompanhada por uma mudança de e modos de concretização processual do Ius Romanum.
paradigma na criação de ius publicum, agravadas pelo progressivo fim da Com a mudança de regime político, ao abrigo da função de garantir a
romanidade e das tradições itálicas como fonte de recuperação política do ordem interna e a paz externa o princeps vai assumindo progressivamente um
Império no seu retorno a Roma. poder cada vez mais intenso e extenso na forma como intervinha nas instituições
Mas não é só a mudança no campo de intervenção destinado à republicanas que ainda sobreviviam, mas de que restava a penas o nome.
jurisprudência do ius privatum que atestam a profunda crise de identidade e o Todas as regras jurídicas dependiam na sua execução, da vontade do
estado vegetativo em que se encontra a jurisprudência neste período. princeps; e os mecanismos de equilíbrio e controlo da república tinham sido
Mais importante é a total falta de liberdade criadora dos jurisprudentes. entregues àquele que exercia todos os poderes: o princeps.
Num ambiente político de absolutismo aristocrático; ao serviço do imperador, o Augusto fez passar com êxito a ideia de que o sistema republicano não
ius é só lex e a expressão jurisprudencial é só escrita e referida ao passado. era o mais adequado para a manutenção do Império e a expansão romana,
Estão criadas as condições para a cristalização do ius em códigos feitos também garantiu a aceitação pelos romanos de um controlo indirecto da
por jurisprudentes escolhidos pelo imperador e aprovados pela sua auctoritas iurisprudentia com a explicação de que a proliferação de jurisprudentes e a
política que outra coisa não é que a afirmação constante e sistemática de um dispersão de soluções dadas no fórum colocava em risco a segurança e o acerto

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de sentenças. Deixou entender que só intervinha, a contragosto, pela O ius publice respondendi não só atraiu os jurisprudentes para a área
necessidade de colocar em ordem a iurisprudentia, salvando-a assim dos política e o círculo do poder, como tornou a iurisprudentia coisa oficial, isto é,
jurisprudentes e no sentido de a revalorizar e melhorar o seu funcionamento. fiscalizada pelo poder político e subordinada à vontade do princeps. Na política
Para isso, criou o ius publice respondendi, como uma concessão dada por de centralização estadual do Principado a iurisprudentia era um instrumento
ele a certos jurisprudentes que servia como condição de acesso da solução do essencial para a expressão das orientações autocráticas do princeps de modo
jurisprudente à sentença a proferir pelo juiz com utilidade para a parte que o indirecto, através dos jurisprudentes.
consultava.
Como os jurisprudentes eram muitos e davam soluções diferentes para
DATAS MAIS IMPORTANTES:
os mesmos casos, o que baralhava os juízes e aqueles que recorriam ao tribunal,
Augusto concede a alguns deles o direito de responder em público às questões
colocadas pelas partes como se fossem o próprio princeps. MONARQUIA – 753 a.C. a 509 a.C.
Uma vez instituído o processo, os jurisprudentes fariam tudo para
agradar ao princeps. Isto é, opiniões dotadas de imperium que só passavam pelo LEX OVINIA - 312 a.C.
iudex para respeitar uma praxe constitucional. Iudex que mediatizava na forma,
REPÚBLICA - 509 a.C. a 27 a.C.
mas não tinha qualquer intervenção no conteúdo das sentenças assim expressas.
Augusto ordenou que as respostas ou pareceres dos jurisprudentes com MAGISTRATURA DOS PRETORES (LEGES LICINIAE SEXTIAE) – 367 a.C.
ius publice respondendi fossem enviadas para o iudex em tábuas fechadas e
seladas, com o pretexto de não haver possibilidade de deturpações ou LEX PUBLILIA PHILONIS – 339 a.C.
desvirtuamentos interpretativos. Ora, a integridade e autenticidade das responsa
eram valores menores a salvaguardar que a publicidade e abertura da actividade LEX VALERIA HORACIA – 449 a.C.
de respondere. Ao tornar secreta a actividade jurisprudente que conduz à decisão
LEX HORTENSIA – 287 a.C.
do iudex, o princeps garante a possibilidade de manipulação da sentença. Os
procedimentos experimentados aqui nas responsae autorizadas destes PRINCIPADO – 27 a.C. - 285
jurisprudentes servirão mais tarde de modelo ao iter formativo dos rescripta do
imperador. Não era só o secretismo agora reinstaurado que correspondia a um DOMINADO – 284 a 395
retrocesso imenso na iurisprudentia romana. Era também o regresso do
TEMPO DE JUSTINIANO – 527 a 565
monopólio efectivo da interpretatio jurídica por um conjunto limitado de
membros da aristocracia senatorial. As responsa dos jurisprudentes dotados de LEI DAS XII TÁBUAS – 450 a.C.
ius publice respondendi não eram fonte imediata de direito, nem tinham
características de generalidade e abstracção. LEX AEBUTIA DE FORMULIS – 130 a.C.

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LEX CORNELIA DE EDICTIS PRAETORUM – 67 a.C.

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Página 8: [1] Comentado [14] João Libano Monteiro 01/11/16 18:25:00

Ius/fas

Na antiguidade clássica o Dto confundia-se com a religião. Reis e legisladores


recebiam dos deuses as normas que deviam reger a comunidade. Era aceitável que
apenas um restrito grupo de pessoas pudesse exercer a intermediação entre os
homens e os deuses.
Confundiam-se as normas religiosas – fas – com as normas jurídicas – ius.
O fas compreende as regras, os rituais e as fórmulas ditadas pelos deuses aos
seus reis ou sacerdotes. Este representa uma regra ideal de vida que não é sequer
contestada, porque foi criada pelos deuses.
A norma jurídica é uma interpretação humana do fas, logo expressa a lex
humana.

O ius resulta do fas;


O ius corresponde a um conjunto de convenções humanas cuja legitimidade e
obrigatoriedade assentam no fas;
O ius é de construção progressiva e procura nos mores maiorum a inspiração e critério
para a interpretatio do fas que está na sua base criadora.

Página 14: [2] Comentado [24] João Libano Monteiro 02/11/16 19:43:00

Comitia Curiata na Monarquia:

Era um órgão (o único) que reunia todo o populus de Roma. (Os concilia reuniam
apenas a plebe romana.)
A cidadania estava dividida em três tribos, organizadas de acordo com critérios
geográficos; cada tribo tinha 10 cúrias e cada cúria dividia-se em 10 decúrias. Ou seja,
o sistema político romano inicial era constituído por 300 decúrias, 30 cúrias, três tribos
e um rei.
Os vínculos que ligavam os membros da mesma cúria eram, via de regra, de ordem
familiar e de linhagem.
A legitimidade assentava em elementos religiosos e, por isso, a presidência da
assembleia cabia a um sacerdote, o curio maximus

- Competências legislativas dos comitia curiata:


a) Votação das propostas de lei do rei, que depois de votadas favoravelmente
vigoravam como leges regiae;
b) Aprovação do futuro rei de Roma proposto pelo interrex;
c) Segunda votação para o reconhecimento e dar a posse ao novo rex os poderes de
imperium (lex curiata de imperium). A lex curiata de imperium fixa um nexo de ligação
entre rex e populus, correspondendo a uma estrutura de civitas que já não bastava a
indicação do novo rei pelo Senado para legitimar o rei nos seus poderes.
Os comitia curiata limitam-se apenas a concordar ou não com as soluções dos
magistrados, relevando o poder absoluto do rex na criação de soluções e na tomada
de decisões. (A haver alguma intervenção decisiva dos comitia curiata nas soluções
políticas e jurídicas durante a monarquia, esta deveria ser expressa não por uma
deliberação mas por um acto de adesão ou rejeição (sim ou não) a uma pergunta feita
pelo magistrado. É o magistrado que determina o conteúdo da solução e assembleia
limita-se a aceitá-la ou não.)
Os comitia curiata eram também importantes na formulação de regras concretizadoras
dos mores maiorum, no que diz respeito às relações intersubjectivas e na disciplina
normativa dos negócios.
A estrutura gentílica tradicional, que garantia uma hegemonia dos patrícios romanos
estava em crise, pois a pressão demográfica exercida por aqueles que chegavam a
Roma determinava a emergência de uma força social indiferenciada reunida na plebe,
atenuando o peso político do patriciado.

Página 25: [3] Comentado [50] João Libano Monteiro 18/11/16 00:03:00

O que é uma stipulatio?


A stipulatio é um negócio jurídico (solene, formal, oral e abstracto) entre presentes no
qual cria obrigações a partir de uma pergunta feita pelo credor (stipulator) e uma
resposta imediata dada pelo devedor (promissor) que se unem materialmente para
constituir uma obligatio para o devedor e uma actio para o credor. A actio serve para o
credor obrigar o devedor a cumprir a obligatio. Quando o devedor não cumpre a
promessa porque estava livre face ao ius civile (o credor não podia instaurar uma actio
contra ele) então o credor recorria às stipulationes praetoriae onde o pretor ordenava
uma nova stipulatio.
Página 25: [4] Comentado [51] João Libano Monteiro 18/11/16 00:05:00

Restitutio in integrum: Esta acção do pretor consiste em anular o negócio jurídico


injusto pela celebração de outro negócio jurídico. Existe uma restituição integral da
situação anterior stipulatio.
Página 25: [5] Comentado [52] João Libano Monteiro 18/11/16 00:07:00

Missiones in possessionem: o pretor dá uma ordem, assente nos seus poderes de


imperium, autorizando uma pessoa a apoderar-se ou a deter certos bens de outra
pessoa (ou que estão na sua posse), durante um determinado período de tempo, com
a possibilidade de os administrar e deles fruir.
O pretor concedia:
- Missio in rem: ordem destinada a uma coisa ou um conjunto de coisas determinada;
- Missio in Bona: Ordem destinada sobre o património de uma pessoa ou um conjunto
indeterminado de bens.
Afecta a posse de bens, impedindo que alguém exerça a posse que não devia.

Página 25: [6] Comentado [53] João Libano Monteiro 18/11/16 00:07:00

Interdicta:
- Ordem dada pelo pretor;
- De forma sucinta, imediata e imperativa;
- Com base no seu imperium;
- Tomando apenas como fundamento como uma aparência jurídica para proteger uma
certa situação que carece dela. Serve para o tribunal na aparência do bom direito
emanar uma decisão que estagna e provisoriamente o bem em conflito.
Os interditos podiam ser:
- Exibitórios: apresentar ou mostrar (exibir) uma certa coisa);
- Restituitórios: devolver ou restituir certa coisa;
- Proibitórios: impedir ou proibir que uma pessoa perturbe o gozo de um direito
legítimo de outrem.
Os interditos possessórios são expedientes do pretor que se destinam a proteger a
posse que o ius civile não prevê. Podem ser:
- Retinendae possessionis: reter a posse ou mantê-la de forma pacífica;
- Recuperandae passessionis: destinados a recuperar a posse ilegitimamente perdida
por outrem.

Página 25: [7] Comentado [54] João Libano Monteiro 18/11/16 00:14:00

Posição do pretor na organização dos processos, antes da lex Aebutia de formulis; o


carácter das “legis actiones”:

- O sistema jurídico romano primitivo de processar, e que durou até cerca 130 a.C.
como forma única, denominava-se “sistema das legis actiones” (acções da lei). As
actuações processuais estavam limitadas ao prescrito nas leges.
O processo romano, quase desde o início, estava dividido em duas fases: in iure e
apud iudicem.
O pretor presidia à fase in iure. A sua posição era simples e apagada, segundo o
sistema das legis actiones: conceder ou não a actio, conforme estava previsto no ius
civile. Era “viva vox iuris civilis”.
Até à lex Aebutia de formulis só há actiones civiles baseadas no ius civile. Por isso são
também designadas “actiones in ius (civile) conceptae”.

Página 25: [8] Comentado [55] João Libano Monteiro 18/11/16 00:16:00

Posição do pretor na organização dos processos, depois da “lex Aebutia de formulis”;


carácter do processo “per formular” (“agere per formulas”)

A lex Aebutia de formulis, aproximadamente do ano 130 a.C. introduziu uma nova
forma de processar (agere per formulas).
Era um processo escrito, ao contrário das legis actiones, que eram orais.
O sistema de agere per formulas, ao princípio existia a par do sistema das legis
actiones. Mais tarde, por força de uma lex Iulia, de Augusto, acabou por ser
praticamente o único.
O agere per formulas é o sistema própria da época clássica. Tendo as fórmulas uma
redacção especialmente adaptada para cada tipo de reclamação, a tipicidade
processual determina a tipicidade do próprio direito, já que este consiste numa actio. E
segundo este novo sistema de processual, ter uma actio equivale e concretiza-se a ter
uma fórmula.
Conceito de fórmula processual: A fórmula é uma ordem por escrito, dada pelo pretor
ao juiz, para condenar ou absolver, conforme se demonstrasse ou não determinado
facto.

A posição do pretor, depois da lex Aebutia de formulis, era, além de subtrair ao de


colocar sob a acção do ius civile, como já procedia antes de 130 a.C.

Missão do pretor: administrar a justiça nas causas civis;


Actividade: exercia essa missão através duma tríplice actividade:
- A de interpretar (adiuvandi);
- A de integrar (supplendi);
- A de corrigir (corrigendi) o ius civile.
A sua actividade podia sempre ser controlada por:
- “Ius intercessionis” dos cônsules;
- Quem detivesse a tribunícia potestas;
- Provocatio ad populum;
- Reacções da opinião pública;
- Crítica bem temível dos iurisprudentes;
- Se favorecesse ou prejudicasse alguém injustamente, colocaria em causa a sua
promoção no cursus honorum.
Para desempenhar a sua actividade, o pretor utilizava certos expedientes, quer do
início baseando-se apenas no seu imperium, quer, mais tarde, baseando-se também
na sua iurisdictio.

Formas utilizadas pelo pretor, na concessão dos seus expedientes: “decreta” e “edicta”
- Decretum: Quando resolvia imperativamente um caso particular;
- Edictum: Quando enunciava ao público, com a devida antecedência, a concessão de
certos expedientes integrados num programa geral da sua actividade. Forma normal.

Forma interna do “edictum” do pretor; carácter vinculativo do “edictum” em relação ao


pretor. Espécies de “edicta” do pretor
O pretor (urbano), como qualquer outro magistrado tinha o ius edicendi, ou seja tinha a
faculdade de fazer comunicações ao povo. Inicialmente, essas comunicações eram
orais, feitas perante assembleias do populus e em voz alta.
Essas comunicações, quando tinham um carácter programático geral, é que,
rigorosamente, se denominavam edicta.
O edictum do pretor era, pois, uma comunicação para anunciar ao público as atitudes
que tomaria e os actos que praticaria, no exercício das suas funções; era o seu
programa de actuação.
Ao princípio, o pretor, em teoria, não estava vinculado às disposições contidas no seu
“edictum”, pois o respectivo conteúdo, para ele, era matéria facultativa; mas, na
prática, respeitava sempre as promessas feitas, porque era até o mais interessado
nisso, para não comprometer o êxito do “ius praetorium”. O seu comportamento era
controlado, contudo, no ano 67 a.C., a lex Cornelia de edictis praetorum impôs ao
pretor a vinculação ao seu próprio edicto.

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