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Direito Romano – compilação de resumos

Feitos por: Sara Pereira subturma 18


Suum cuique tribuene – atribuir a cada um o seu (princípio da justiça)
Honestere vivere – viver honestamente
Alterum non laedare - não prejudicar o próximo (princípio da boa fé)
Relações jurídicas - Direito regulador das relações -> base da vida em
sociedade
De + rectum (reto) ≠ aequitas || lex ; ius -> trabalho do jurista
Direito (rígido) -> regula as relações na sociedade.
Método: interpretação jurídica
Princípios e normas da sociedade (relacionados entre si)

Relação de heteronomia ≠ relação de autonomia/individual


Relação de heteronomia -> objeto de estudo do Direito
O Estado pode ser criador do Direito.
A lei é produto da decisão do legislador, aplica-se a todas as situações.
A lei é “cega”, não considera ninguém particularmente, todos os
cidadãos são iguais perante a lei, aplica-se a todos sem exceção.
Lei do Estado (criador de Direito) -> imposto de cima para baixo
Lei -> geral e abstrata:
• Ao resolver situações concretas, ocorre aplicação da norma ao caso ->
subsunção jurídica
Aequitas -> equidade, todos sofrem punição por crimes:
• É uma solução concreta, ou seja, a aplicação do Direito ao caso concreto,
atendendo à sua especificidade;
• A equidade combate a injustiça (nos tribunais) que a lei pode provocar;
• A equidade constrói uma solução à medida de cada caso, porém na
maioria dos casos não há equidade.
Direito (de rectum) -> rígido, abstrato, geral:
• Não era necessariamente de rectum;
• O Direito não pode ser algo rígido, tem de ser maleável, ou seja,
moldável ao caso;
• Não precisa de ser lei, tem de ser solução justa
DE RECTUM AEQUITAS
rígido maleável
abstrato justo
geral concreto

Lex -> produto do poder legislativo:


• Engloba tudo o que é produzido pelo poder político de Roma e pelos
casos.
Ius:
• Direito (com maiúscula) -> lei + funções jurídicas para cada caso;
o Conjunto global de leis e soluções justas para cada caso.
o Impõe-se às relações sociais, somos moldados por ele.
Direito -> ato de justiça em Roma:
• Regra geral: Direito nasce do pensamento dos trabalhos do jurista para
resolver cada caso de forma justa;
• Adequado à prossecução da justiça - caráter imprevisível.
Lei das Doze Tábuas -> 1ª grande lei escrita em Roma
Direito Romano é pragmático.
Diferença do Direito Romano e do atual (em termos de justiça)
Direito Romano não prevê responsabilidades - o que é justo? Justiça do caso
concreto.
Direito Romano é criado a partir da norma -> não é desenvolvido por um
legislador, ou seja, não é solução legislativa.

Código Civil - legislativo (surge de um Decreto-Lei)



Direito Romano - não é direito de codificação
• O Direito Romano é criado para resolver casos concretos, o seu objetivo
é a busca da justiça.
Questão: o que veio primeiro? A justiça ou o Direito?
➢ O Direito segue a justiça (é a sua finalidade), e o Direito nasce desta
(relação Direito/justiça).
➢ Busca das soluções concretas para resolver cada caso ≠ criar uma norma
abstrata e geral para todos.
Estado -> surge a partir do séc. XVII
Relação Estado/Direito:
• Direito = Lei -> Estado;
• O Direito é produto do Estado -> só é lei o que o legislador (Estado)
aprovar.
O Direito impõe-se à comunidade humana.
Questão: o Direito é apenas lei? Não.
• É muito mais do que isso.
DIREITO:
• Lei;
• Costume (base);
• Doutrina;
• Jurisdição.
Surge da necessidade de autorregulação das sociedades.
Autoimposição: costume: comportamento da sociedade.
COSTUME:
• Prática reiterada acompanhada de convicção e obrigatoriedade;
• A prática reiterada é uma prática repetida -> entende-se que X
comportamento é adequado (regra) por ser repetido;
• Produção jurídica - Direito não escrito
O Direito começa de baixo para cima ≠ Lei do Estado (criador do Direito)
➢ Só o poder legislativo pode tornar os costumes em leis, que são para
serem cumpridas obrigatoriamente:
o Ocorre uma desvinculação do costume, pois passa a ser parte da
lei, não é praticado por ser repetido, mas sim por ser obrigatório.
As normas já existentes podem ser aplicadas e interpretadas a novas normas:
• Exemplo: leis de compra e venda já existentes podem ser aplicadas ao
comércio eletrónico (prática nova dos tempos modernos)
Roma está dividida em quatro blocos políticos:
• Monarquia;
• República;
• Principado;
• Dominado
1ª fonte de Direito em Roma -> Mores Maiorum: tradição de uma comprovada
moralidade.
Mores Maiorum:
• Moralidade: o que é adequado do ponto de vista social;
• 1ª fonte de Direito temporalmente delimitada
• Tridimensionalidade – conceitos:
o Jurídico;
o Moral: comportamento adequado das pessoas na sociedade;
o Religioso: existe relação simbiótica entre o Direito e a religião.
• São normas jurídicas morais e religiosas (não são costumes) -
consuetudo - conceito de costume:
→ Costumes: construção social, não é legal, serve para
autorregulação, impondo-se na comunidade, quem não o cumprir
pode ser punido pelo grupo social (desenraizamento,
afastamento,), e não pelo Estado;
→ Tradição: não tem obrigatoriedade, não prevê sanções.
• Os Mores Maiorum surgem da simbiose da sociedade com a religião
(deuses) - construção da vida quotidiana em Roma:
o Decorrem das vontades dos deuses (religião: ligação com uma
outra dimensão).
• Há verificação se as leis estão de acordo com os Mores Maiorum;
• Os Mores Maiorum não decorrem da sociedade;
• São os alicerces do Direito Romano (a sociedade romana é marcada pela
crença nos deuses – que tomam decisões).
O costume é independente, não tem a ver com a lei, as punições só ocorrem
dentro da comunidade, a não ser que seja algo que vá diretamente contra a lei,
como, por exemplo, matar.
Organização política em Roma: (períodos mais importantes são o da República
e o do Principado)
Monarquia - começa com a fundação de Roma até ao século VI a.C. (509 a.C.)
-> Figuras essenciais:
• Rei;
• Senado;
• Comitia
-> População:
• Patrícios - são proprietários de terras, das principais famílias romanas,
conectadas com a fundação de Roma; detêm todos os direitos de
cidadania (na sua plenitude), podendo participar na vida política;
o defensores da tradição romana (são a sua corporação) e da moral
de Roma -> guardiões dos Mores Maiorum (o Senado tem função
essencial no Direito de Roma, pois defende os Mores Maiorum).
• Plebeus - são os homens livres, mas não detêm plenitude dos direitos de
cidadania, não podem aceder a cargos políticos e não se podem casar
com patrícios.
Rei (rex) - a monarquia não é nem constitucional nem hereditária, é eletiva, só
é rei quem o Senado eleger, baseado na decisão dos deuses.
→ O rei é a ligação entre o profano e o divino, escolhido por manifestação
visível dos deuses.
Funções do rei:
1. Imperium milite (poder militar - pode organizar o exército, escolher
órgão militares...);
2. Imperium domi (administração civil – administra a cidade; o rei pode
fazer ou aprovar leis: propostas de leis [lex regiae] pelo rei aos comitia,
as quais não se tem a certeza se existiram ou não);
3. Poder de mediação divina - o rei é o sumo pontífice, tem poder de
percecionar a vontade dos deuses.
Em Roma, o Direito, a religião e a moral confundem-se.
Os pontífices (sacerdotes) são patrícios, interpretam a vontade dos deuses.
A sociedade romana está dependente da vontade divina:
• Augures:
o Através do voo dos pássaros e dos sinais climatéricos;
o Através das vísceras dos animais.
Os augures eram utilizados, por exemplo, para determinar quem deveria ser o
próximo rex, se Roma deveria iniciar conflito com outra região, etc...
O sacerdote era quem ditava o significado dos sinais naturais. Os Romanos não
tomavam nenhuma decisão sem recorrer à vontade divina.
Poderes do Senado: é constituído só por patrícios, é o órgão consultivo do rex.
A) poder interregum: assume o poder de Roma durante o período de
vacância entre a morte do rex até à eleição do novo rex;
B) autoritas patrum: verificar a conformidade das leis com os Mores
Maiorum (leis régias, as quais não se tem a certeza se existiram ou não);
C) Ius belli et pacis: direito da guerra e da paz; aconselha o rei na
declaração da guerra e da paz (os patrícios financiam a guerra);
D) direito de celebrar tratados internacionais;
E) Aconselhar o rei.
Comitia -> tem presente toda a população romana (cidadãos - patrícios e
plebeus, não inclui mulheres e escravos), esquadrões de 10 a 100 homens.
→ Curiata - cúria, conjunto de homens.
→ É a assembleia representativa dos cidadãos, é a génese da
representatividade direta da população.
→ Funções:
o Aprovar leis (régias);
o Lex curiata (aprovada nos comitia curiata) imperium (rex)
Sociedade militarizada - organização militar influencia a organização política
Senado -> só tem patrícios, é o garante da tradição jurídica romana
Os comitia reconhecem o rex indicado pelo Senado. Este reconhecimento era
estritamente necessário para legitimar o poder do rex.
Inter rex -> período de vacância entre a morte do rex até à eleição do novo rex.
Lei das XII Tábuas -> interpretação e aplicação jurídica dos mores maiorum:
aplicados e interpretados pelos sacerdotes (considerado de forma injusta para
os plebeus, pois prejudica-os), é geradora de conflitos.
Início de revoltas (≠ revolução) -> latência ao longo do tempo
Até ao séc. V -> desconforto dos plebeus em relação aos patrícios.
Comitia tomam a decisão de elaboração do corpo jurídico, pedindo para serem
escritos os mores maiorum -> são a primeira lei vogata. Para elaborar a lex, é
criado pelos comitia o decemvirii legibus seribundis.
➢ Elegem-se 10 pessoas (patrícios) para escrever a lei (poder legislativo de
Roma), vão até à Gréia para entender a aplicação das leis de Sólon.
As Tábuas são leis de direito privado. +/- 500 a.C.
Os mores maiorum são leis de direito público.
As Tábuas, no entanto, não se encontravam completas, pois precisavam de
reforço jurídico. Há um défice de lei penal.
2º decemvirato -> pode ou não ter sido regido por plebeus e patrícios (duvidoso,
pois os plebeus não tinham poder). Tem um mandato de um ano. Este
decemvirato fica encarregue de elaborar um corpo mais reforçado de direito em
matéria penal -> elabora mais duas Tábuas, submetendo depois as leis aos
patrícios dos comitia.
As novas Tábuas não são aprovadas pois este órgão é demitido pelos comitia
por não quererem sair do seu cargo (por causa da usurpação).
Para resolver este problema, os comitia nomeiam dois cônsules para elaborar
as duas Tábuas em falta. Valério e Horácio propõem duas novas Tábuas -> são
aprovadas leges Valeria Horatia.

Conteúdo das XII Tábuas:


• Livro I ao III - processo civil;
• Livro IV ao V - família e sucessões;
• Livro VI - negócios jurídicos;
• Livro VII a XII – direito e processo penal.
É um momento de positivação jurídica em Roma. Até àquele momento tinha
existido apenas direito oral e lei escrita.
Queda da monarquia -> expulsão dos rex
A reestruturação de Roma aproveita instituições da monarquia.
O Senado e os comitia curiata não elegem o rex, terminam com a sua figura, ele
deixa de ser eleito.
A alteração da ordem política acolhe novos e velhos órgãos.
Órgãos da República:
➢ Senado;
➢ Comitia (deixam de existir os curiata) centuriata (grupos de 100 homens);
➢ Magistrados - grande revolução da República
o governam e administram Roma, aplicam a justiça, zelam pelo bem
da cidade;
o assumem poderes do rex
República (res + publica) -> o populus rege Roma
Res: coisa corpórea ou incorpórea
▪ Res communes omnium -> coisas comuns a todos (ex.: rio, mar, ar... não
são apropriáveis, são de todos)
Magistrados: mandatos anuais ≠ Rex: vitalício
Existe dualidade no exercício do poder dos magistrados: eleição de dois
magistrados.
• Serve para diminuir a corrupção
Séc. IV a.C.: magistraturas como medida de combate à corrupção
Os poderes do rex são distribuídos pelo Senado e comitia
→ Atribuem poderes às magistraturas
Magistrados:
♦ Cônsules (poder militar e administrativo);
♦ Ditador - só há ditadores em situações específicas (guerras, etc), com
mandato de 6 meses, uma única pessoa assume o poder absoluto;
♦ Censor - mandato de 5 anos;
♦ Pretor;
♦ Magistrados menores - só administram pequenas cidades
o Edil e questor
Leges Liciniae Sextiae (têm o nome dos magistrados que a propuseram, ou a
designação do seu conteúdo)
→ Propostas por Licínio e Sexto (367 a.C.);
→ Leis da construção da paridade entre patrícios e plebeus
Três leis:
1. Lex Liciniae de aero aliero
a. Lei concedida ao devedor a possibilidade de reduzir no valor do
débito a pagar os montantes dos juros, possibilidade de dividir o
montante global em dívidas em três prestações a pagar
anualmente (esta lei é imposta pela lei, não pelo credor)
b. Antes desta lei, se o devedor não pagasse a sua dívida no montante
de tempo imposto pelo credor, este poderia ser vendido como
escravo trans Tiberam (fora de Roma)
2. Lex Liciniae de modum agrorum
a. Promove a redistribuição das terras, fixando como limite a
apropriação de terras públicas pelos patrícios (pater familias) de
500 jeiras de terra (não podem ter mais do que isso);
b. Limita o direito de ocupar terras públicas;
c. Os plebeus não podiam adquirir terras públicas, só através de
compra.
3. Lex Liciniae de consule plebeo
a. Permite que os plebeus possam ascender ao cargo de cônsul;
i. 320 a.C.: primeiro plebeu a tornar-se cônsul
ii. Entre 320 a.C. e 172 a.C. havia um cônsul plebeu e outro
patrício;
iii. A partir de 172 a.C. os dois cônsules eram ambos plebeus.
Magistraturas -> importantes na organização política
→ Colegialidade: para cada magistratura eram eleitos dois magistrados com
paridade no grau e na função;
→ Temporalidade (1 ano -> exceções: ditador e censor);
→ Separação rigorosa entre as magistraturas (não há interseção entre elas);
→ Impossibilidade de repetir cargos;
→ Responsabilidade pelas infrações cometidas durante o mandato.
Critérios para a eleição:
Para se ser candidato a uma magistratura tinham de ter:
❖ Ius suffragii - os candidatos podiam ser submetidos à votação do
eleitorado ativo. Todos os cidadãos são elegíveis;
❖ Ingenuus (ingenuidade):
➢ Não ser escravo liberto;
➢ Não ser filho d um liberto;
➢ Pertencer ao grupo a que a magistratura estava reservada (patrício
ou plebe);
➢ Não ter sido acusado de infâmia -> dizer mal de Roma, praticar este
crime retira a capacidade eleitoral dos cidadãos que tenham
denegrido o nome da cidade;
➢ Ter idade de 28 anos ou mais (idade mínima para se aceder à
questura, primeira das magistraturas)
Cursus honorum -> começa pelo questor até se chegar ao cônsul.
Poderes das magistraturas maiores:
➢ Imperium - poder supremo e ilimitado de comando (ex.: comandar
exércitos, convocar o Senado, convocar as Assembleias Populares,
administrar a justiça); poder coercivo;
➢ Potestas - poder de representar o populus romanus, e vincular com a sua
vontade, a vontade do populus. Criava direitos e obrigações para a civitas
(para casos e situações concretas). Era exercida no âmbito do exercício
das competências próprias;
➢ Iurisdictio - poder de administrar a justiça. (exclusivo do pretor)
Poderes das magistraturas menores:
➢ Potestas
o Exemplo: questor -> tem poder limitado ao exercício da sua função;
vincula os cidadãos na área da sua função.
Iurisdictio (poder de administrar a justiça) -> função específica do pretor
130 a.C. -> lex Aebutia de Formulis: lei específica da pretura, concede
iurisdictio ao pretor.
Criar direito novo para resolver situações concretas -> diferença entre o poder
do imperium, o imperium só aplica, o pretor cria.
Edito -> programa do candidato à magistratura, diz quais as obrigações que vai
cumprir, que problemas vai resolver, …
Ius civile -> aplicação pelo pretor, interpretação pelo jurisprudente.
Magistraturas ordinárias:
❖ Permanentes – o titular estava sempre em funções (censores, cônsules,
pretores, edis e questores);
❖ Não permanentes – o titular exercia funções não contínuas;
Magistraturas extraordinárias:
❖ Eram sempre não permanentes, como o tribuno da plebe e o ditador, e
tinham poderes de intercessio sobre os atos de todos os magistrados
ordinários.
➢ (eleitos para fazer face a circunstâncias extremas e imprevistas –
ex. ataque militar. Duravam durante o período da ameaça)
Magistrados:
1. Cônsul;
2. Pretor (único com três poderes; ganha iurisdictio em 130 a.C.);
3. Censor (faz o censo, e a censura dos bons costumes [mores maiorum]);
4. Ditador;
5. Edil;
6. Questor.
Poderes dos magistrados:
Poderes comuns a todos os magistrados:
❖ Ius auspiciorum – faculdade de indagar por certos signos a vontade
favorável ou contrária dos deuses, antes de qualquer ato importante;
❖ Ius edicendi – direito de promulgar editos, ou seja, providências em
matérias da sua competência para resolução de situações concretas
especiais (edicta repentina) ou programas da própria atividade,
promulgados no início do seu cargo e contendo as regras a que essa
atividade se sujeitará (edicta perpetua);
❖ Coercitio – direito de usar de meios compulsivos para forçar qualquer
cidadão a respeitar uma ordem emitida pelo magistrado no exercício das
suas funções (ex. Prisão, sanções corporais ou pecuniárias, retenção de
bens, …)
Poderes reservados a alguns magistrados:
❖ Iurisdictio – poder de aplicar o direito aos casos concretos em que há
litígio;
❖ Intercessio – direito de opor o seu veto aos atos de outros magistrados.
Magistraturas:
Magistraturas ordinárias maiores cum imperio et cum potestas;
• Consulado
• Pretura (titulares eleitos todos os anos nos comícios centuriais).
Magistraturas maiores de cum imperio, mas com carácter extraordinário:
Ditadura - nomeado por um cônsul, com base em um parecer do Senado, para
um mandato máximo de 6 meses. Eram criados momento de iustitium, com
suspensão da normalidade legal e da aplicação regular da justiça.
Magistraturas maiores (poderes):
♦ Supremo comando militar e respetivo poder coercitivo (imperium
militae);
♦ Direito de convocar e presidir aos órgãos colegiais: senado e assembleias
(ius agendi cum populo, ius agendi cum patribus);
♦ Praticar atos coercivos para se fazerem obedecer pelos cidadãos e pelos
magistrados menores (imperium domi);
♦ Direito de emanar e fazer publicar no fórum os seus edicta (ius edicendi);
♦ Possibilidade de assumir auspícios maiores;
Os magistrados assumem os poderes do rex.
Cônsul:
❑ Magistratura com imperium domi (poder na cidade) e imperium militae
(militar);
❑ Colegial;
❑ Anualidade;
❑ Dividia os poderes com outras magistraturas;
❑ Tinha poderes de coercitio e de iudicatio – acusar, julgar e executar as
sentenças sem obrigação de seguir o consilium por ele convocado, e
liberto de qualquer formalidade ou vínculo processual;
❑ Exercia todas as competências residuais que não cabiam aos outros
magistrados:
o Coercitio para a pena de morte.
Hierarquia das magistraturas: cônsul > ditador > censor > pretor > edil > questor.
O cônsul pode revogar todos.
Poder de intercessio -> poder de revogação do magistrado superior sob os
inferiores.
O tribuno da plebe tem sobre as decisões de todos, com exceção das
decisões de todos (não se sabe se é verdade ou não).
Magistraturas extraordinárias: ditadura e tribuno da plebe (não tem tempo
específico de duração).
Censura
➢ Magistratura ordinária não permanente;
➢ Magistrado maior, sem imperium militae nem imperium domi, não pode
ficar acima do cônsul;
➢ Titular de auspicia;
➢ Eleito nos comícios centuriais para um mandato com exercício efetivo de
funções de 18 meses, apesar de eleitos para 5 anos;
➢ Fazer o recenseamento dos cidadãos (census -> funções de 18 meses,
conta os cidadãos de Roma, de cinco em cinco anos);
➢ Registava o património predial, comunicado pelos paterfamillia;
➢ Nomeava Senadores (lectio Senatus);
➢ Controlava a aplicação dos mores maiorum;
o Controla o poder moral dos cidadãos (pode tirar os cidadãos dos
seus cargos e até do seu estatuto de cidadão a quem não cumprir
o poder moral de Roma -> faz verificação do comportamento moral
e social)
➢ Administrava os bens públicos (ager publicus).
Não há registos de intercessio sobre as decisões do censor – poder ilimitado
Pretura
→ Criados pela Lex Licinia Sextiae de 367 a.C.;
→ Magistratura ordinária, permanente e, inicialmente, unitária. Mais tarde
chegaram a 6;
→ Tinha um imperium igual ao do cônsul, mas a potestas era de menor
amplitude;
→ Aplicava a justiça (iurisdictio), sobretudo civil;
→ Substituía o cônsul nos seus impedimentos no governo civil da cidade;
→ Convocava os comícios para a eleição dos magistrados menores;
→ Apresentava propostas de lei para aprovação nos comícios;
→ Podia, a pedido do Senado, comandar os exércitos fora da cidade.
→ Pretor urbano – dirime os conflitos entre cidadãos;
→ Pretor peregrino (criado no séc. III a.C.) – dirime os conflitos entre
cidadãos e estrangeiros.
Ius civile -> direito de cidadania (cidadãos); aplica-se a todas as relações jurídicas
apenas entre cidadãos.
→ Objetivo: segue ritos (quase mágicos), desde a génese de Roma, vindo dos
mores maiorum
Fontes:
❖ Mores maiorum;
❖ Leges;
❖ Iurisprudentia (opinião dos prudentes)
o Questões concretas da vida de Roma
❖ Senatusconsulta
Aplicado diretamente ou interpretado. Aplicar diretamente era tarefa do pretor
urbano (resolve litígios entre cidadãos); o pretor é o intérprete do ius civile.
Séc. III a.C.: criação do pretor peregrino
Nos diversos territórios do império interpreta os casos concretos entre
peregrinos (estrangeiros) -> peregrino e peregrino / peregrino e cidadão
Errare humanum est: circular é humano. O peregrino é quem circula; se circular
é humano, logo o direito de circular é de todos.
Não se lhes pode aplicar ius civile, só o ius gentium (dos povos, é criado pelo
pretor peregrino)
Ius gentium: mistura ius civile (simplificado) com os direitos e costumes dos
povos com os quais vai resolver os litígios. É um ordenamento jurídico paralelo
ao ius civile. Era como se fosse Direito internacional privado.
O pretor peregrino cria solução jurídica diferente para os casos concretos.
Stipulatio: base dos contratos; formas verbais -> só a forma verbal validava o
contrato; implica a tradição da coisa.
Passam a existir dois ordenamentos jurídicos: ius civile e ius gentium.
212 d.C. -> edito de Caracala (concede cidadania a todo o Império). Deixa de
haver distinção entre estrangeiros e cidadãos.
• O ius civile vai preponderar, é o Direito que se quer aplicar (e que antes
era proibido aos estrangeiros).
Os novos cidadãos não querem submeter-se ao ius civile. Sendo assim, o ius
gentium vai ser considerado direito superior ao ius civile e integrador de lacunas
e intérprete do ius civile.
(a) Civile -> de Roma
(b) Gentium -> supletivo do ius civile, corretor e integrador das suas faltas.
Ditadura:
♦ Magistratura extraordinária;
♦ Em regra, durava 6 meses;
♦ Concentrava todos os poderes da civitas numa só pessoa;
♦ Consoante a situação era nomeado:
o Dictator óptimo iure – plenos e indefinidos poderes;
o Dictator imminuto iure – com poderes específicos em matérias
sacrais, mas com grande relevância política.
♦ Era nomeado ou por questões militares ou religiosas - situações que
exigissem alteração de poderes (“suspensão de direitos”), concentrando
todos os seus poderes para retirar Roma de tal situação.
Magistrados menores:
 Magistrados menores sem imperium, mas com potestas:
o Edil plebeu, eleito nos concilia da plebe;
o Edil curul, eleito nos comitia tributa;
o Questores, eleitos nos comitia tributa.
 Os magistrados menores, com exceção do edil plebeu, tinham:
o Ius edicendi;
o Auspícios menores;
o Poderes coercitivos menores (multae dictio), como aplicação de
multas e pequenos pagamentos na penhora de bens (pignoris
capio).
 Com potestas, os magistrados menores tinham os seguintes poderes:
o Ius edicendi;
o Ius agendi cum populo e cum plebe;
o Ius agendi cum patribus.
Edil:
➢ Com a república é uma magistratura patrícia-plebeia, criada em 367 a.C.;
➢ Guarda dos arquivos;
➢ Gestão do tesouro;
➢ Funções de polícia;
➢ Superentendia a limpeza da cidade;
➢ Superentendia a conservação das vias e edifícios públicos;
➢ Superentendia a atividade dos mercados;
➢ Controlava o abastecimento de cereais;
➢ Organizava as festas e os espetáculos públicos.
Questor:
❖ Administravam o erário do Populus Romanus;
❖ Promoviam a supervisão das receitas fiscais arrecadadas;
❖ Promoviam a distribuição dos fundos e receitas necessárias para as
despesas decididas pelos cônsules, nos termos do disposto pelo Senado;
❖ Até às Questiones Perpetuae faziam a instrução e acusação dos crimes
punidos com a pena de morte;
❖ No início erram 2 e chegaram a 20.
Magistratura excecional especial – tribuno da plebe
▪ Primeiro eleitos pelos comitia tributa e depois pelos concilia plebe;
▪ Existe sempre, é eleita anualmente; é extraordinária devido aos seus
poderes;
▪ Garantia os direitos e interesses da plebe;
▪ Representa a plebe face às magistraturas maiores;
▪ Tinha imunidade absoluta;
▪ Tinha direito de se opor às decisões de todos os outros magistrados,
através de intercessio;
▪ Tinham potestas coercendi, sem ligação à intercessio;
▪ No séc. III a. C. passam a deter:
o ius senatus habendi – o direito de convocar e presidir ao Senado;
o Agere cum plebe – estabelecer com os concilia plebis uma relação
orgânica, convocando-os para analisar decisões políticas ou
normativas (plebiscita).
Todos os magistrados têm mandato de um ano exceto o censor (5 anos,
primeiros 18 meses a exercer funções) e o ditador (6 meses).
Comitia centuriata -> reunia homens em blocos de 100 para votar em diversas
decisões, cada um vota dentro da sua centúria.
❖ Competências:
➢ Aprovar declarações de guerra;
➢ Eleger pretores, cônsules, ditadores, censores;
➢ Confirmar censores;
➢ Aprova as leis propostas pelos magistrados;
➢ Aprovar tratados de paz;
➢ Decidir sobre o direito de vida ou morte dos acusados.
Transição monarquia/república: comitia curiata têm os seus poderes reduzidos,
absorvidos pelos centuriata, acabando por perder importância.
Comitia centuriata -> surgem na República, aprovam leis, pena de morte,
escolha dos magistrados, …
Comitia tributa -> são pequenos, restritos, não englobam todos os cidadãos,
possuem caráter regional (conselho)
❖ Competências:
➢ Votar leis sobre assuntos de menor importância;
➢ Eleição de magistrados menores e o chefe militar da circunscrição;
➢ Fixação de penas pecuniárias por infrações locais.
Concilia plebis -> compete eleger o tribuno da plebe, e aprovar plebiscito (lei de
aplicação à plebe, aplicando-se única e exclusivamente ao plebeu).
→ Competências penárias sobre violação das leis aprovadas nos comícios da
plebe.
LEX HORTENSIA DE PLEBISCITIS (287 a.C.):
• É, ela própria, um plebiscito;
• Com esta lex, os plebiscitos passam a vincular patrícios.
Senado: herda as competências do Senado da monarquia e do rex:
❖ Funções:
➢ conduzir a política externa de Roma, o que envolvia receber
embaixadas de outros povos;
➢ Aprovar tratados internacionais (foedera);
➢ Declarar a guerra e fazer a paz;
➢ Aprovar as despesas para as operações militares;
➢ Organizar as províncias;
➢ Fixar os cultos públicos permitidos;
➢ Conceder auctoritas patrum às leis dos comitia centuriata;
➢ Auxiliar o trabalho dos cônsules;
➢ Emitir pareceres a pedidos dos magistrados – senatusconsultos
(sem carácter vinculativo).
Leges -> a lei escrita não tem importância em Roma
♦ Não é fonte de direito por excelência;
♦ Contém comandos baseados em acordos (entre magistrados e o populus);
♦ São propostas por magistrados e aprovadas pelo povo (o destinatário das
leges) nos comitia e depois aceites pelo Senado.
♦ São todas as normas escritas que podem ser lidas;
♦ A lex vincula quem declara e os seus destinatários.
Lex publica (é a mais importante, a qual o regente se irá focar):
Declaração solene com valor normativo baseado num acordo (expresso
ou tácito) entre quem emite a declaração e o destinatário ou destinatários;
Há um acordo entre o magistrado que propõe a lex e o povo que a aprova.
Existem dois tipos:
1. Lex rogata (aprovada pelos comitia centuriata),
deliberação proposta por um magistrado;
a. Tem, na sua denominação, o nome dos dois
cônsules do ano em que são propostas e
aprovadas e o conteúdo da lei;
b. Regulam o Direito Público.
2. Plebiscitum (aprovada no concílio da plebe)

Partes de uma lex rogata


❖ Praescriptio (prefácio) – contém o nome do magistrado, a assembleia que
a votou, o nome do primeiro agrupamento que abriu a votação e o nome
do cidadão que foi o primeiro a votar;
❖ Rogatio – parte dispositiva da lei;
❖ Sanctio – parte final da lei, onde se estabelece os termos da sua eficácia
e a relação com outras normas. Quanto à sanctio as leges podem ser:
➢ Perfectae – se declaram nulos os atos contrários às suas
disposições;
➢ Minus quam perfectae – se apenas impõem multas aos
transgressores;
➢ Imperfectae – se nem anulam os atos contrários nem impõem
sanções.

Processo de aprovação da lex rogata (450 a.C. – 242 a.C.)


♦ Promulgatio – apresentação pelo magistrado aos comitia de uma
proposta de lei e afixação pública durante cerca de 3 semanas. O texto do
projeto devia ser afixado num lugar público para que o povo o lesse e
tomasse conhecimento;
♦ Conciones – reuniões tidas na praça pública, sem carácter oficial ou
jurídico, para se discutir a proposta. Chama-se a esta fase conciones,
porque ninguém podia falar sem lhe ser concedida a palavra. Os discursos
favoráveis ao projecto denominavam-se suasiones e os desfavoráveis
dissuasiones;
♦ Rogatio – Terminado o prazo da promulgatio, eram convocados os
comitia e reunidos em assembleia. O magistrado que presidia, após
cumprimento de formalidades, lia ou mandava ler a proposta de lei e após
a leitura pedia a sua aprovação – rogatio.
♦ Votação – o voto era oral e era dado com palavras sacramentais. O voto
podia ser favorável, desfavorável ou abstenção. Após a Lex Papiria
Tabellaria de 131 a.C., o voto passa a ser escrito e secreto.
♦ Aprovação pelo Senado – após a votação favorável pelos comitia, a lei era
referendada pelo Senado – autoritas patrum. O Senado tinha como
função verificar a conformidade das leis com os mores maiorum. Após a
Lex Publilia Philonios, de 339 a.C., a autoritas passa a ser concedida antes
da proposta ser votada pelos comitia.
♦ Afixação – a nova lex era afixada no fórum em tábuas de madeira ou de
bronze.
Plebiscitum
→ Plebiscitum – deliberação apresentada pelos tribunos da plebe e votada
nos concilia da plebe;
→ Os plebiscitum, no início, tinham um carácter normativo não jurídico, não
vinculando nem os patrícios, nem os plebeus;
→ A partir de 449 a.C., com a Lex Valeria Horacia de plebiscitis adquirem
força vinculativa igual à das leges, mas apenas em relação aos plebeus;
→ São identificadas com o nome de um dos magistrados.
Direito pretoriano e tribunal do pretor
Ius civile -» diversas áreas do Direito Romano
➢ Direito dos cidadãos;
➢ Tem origem nos mores maiorum, nas leges, no trabalho dos
iurisprudentes e nos SCC (senatusconsulta), e também nas CI
(constituições imperiais) nos períodos do Principado e Dominado.
Os magistrados criam ius honorarium – é materializado, grosso modo, pelos
editos (programas de exercício de mandato); não constitui uma antítese do ius
civile, integra-o através do trabalho dos magistrados.
▪ ¾ do ius honorarium é ius praetorium:
o Direito criado pelo pretor para resolver casos concretos;
o Paralelo ao ius gentium.
Pretor (criado em 367 a.C. com a Lex Liciniae Sextiae)

É o administrador da justiça, não é integrador de direito na 1ª fase, apenas


reconhece a existência do direito.
Exemplo: contrato de compra e venda
Vendedor:
✓ Dever – entregar a coisa
✓ Direito – receber preço
Comprador:
✓ Dever – entregar preço
✓ Direito – receber coisa
Contrato é celebrado com a stipulatio. Celebração de acordo com os
auspícios maiores.
Actio -» reconhecimento de um direito de reclamar um direito, concedido pelo
pretor; só faz sentido a sua existência perante uma reclamação. É um ato oral
(portanto, não escrito), ato de conhecimento processual. Os direitos contratuais
têm de decorrer dos próprios contratos.
Até ao século II a.C., os contratos são verbais e ritualísticos.
Evolução do pretor em três momentos
1. O pretor aplica e interpreta o ius civile;
2. Séc. III até 130 a.C. – publicação da Lex Aebutia de formulis
a. Redução a escrito de todos os atos do pretor;
i. Formulis – passam a haver fórmulas escritas, decorrem do
poder criador do pretor.
b. O pretor passa a poder criar direito:
i. Tem imperium e através dele interpreta e integra o ius civile,
podem conceder actio;
ii. Denegar actiones: situação concreta em que o pretor diz que
o ius civile protege a situação jurídica, mas que seria injusto
conceder actio, ou seja, defender o direito em causa;
iii. A forma de reclamação pode violar o ius civile
3. A partir de 130 a.C. (Lex Aebutia de formulis)
a. Poder de iurisdictio – criar direito para lá do ius civile, aquele que
não está previsto por ele (criar fórmulas); contém direitos
reconhecidos às partes
b. A fórmula é mais do que reclamar direito
c. Ambas a actio e a fórmula podem ser utilizadas
Tribunal do pretor – 2 fases
❖ In iure (ocorre perante o pretor):
o Contactado pelos cidadãos, verifica o caso, vê se pode ter ou não
proteção jurídica (concessão de actio ou fórmula);
o A concessão de actio ou fórmula termina a fase in iure;
o O pretor não precisa de saber a verdade, apenas a aparência de
direito, determina o direito à reclamação e a solução (mas não sabe
a solução final que vai ser aplicada);
▪ Ele não diz quem tem razão, apenas analisa o caso e o direito.
❖ Apud iudicem (ocorre perante o iudex) – fase da prova:
o O iudex não é jurista, é um homem bom, escolhido por ouvir bem,
determina o que é verdade ou mentira, ouve as partes e determina
quem ter ou não razão;
o O juiz reconstrói a verdade material (o que realmente aconteceu);
o Faz a prova e aplica o direito abstrato
Litis contestatio – fase de entrega da actio para passar à fase seguinte
➢ Momento final da fase in iure em que o pretor concede à parte a fórmula
que lhe vai permitir demandar alguém perante o tribunal do iudex;
➢ É o momento da concessão da actio ou fórmula, dar direito a reclamar
Fases: in iure » litis contestatio » apud iudicem
Iudex não é um jurista nem um jurisprudente, mas sim um homem bom,
escolhido pelo pretor ou pelas partes, a sua função é apresentar argumentos.
A stipulatio é oral, com formas ditas, pode ter gestos. Se não tiver forma oral, o
negócio pode não ser válido.
Até 130 a.C. (Lex Aebutia de formulis) -» direito solene, podia não ser
compreendido.
O pretor pode eventualmente consultar o jurisprudente – este tem auctoritas.
Expedientes do pretor: há quatro tipos de expedientes, aos quais os pretores
recorriam na fase em que tinham imperium (Lex Aebutia de formulis -» até lá
tinham que conceder actio).
As actio genéricas que existiam no direito romano eram essencialmente
separadas em quatro categorias:
1. Stipulationes praetoriae
a. É imposta pelo pretor com o objetivo de proteger uma situação
social não prevista diretamente pelo ius civile mas que merecia
proteção;
b. Decorre de uma stipulatio (contrato) através do qual nasce uma
obligatio para o devedor e uma actio para o credor;
c. Constata que foi celebrado contrato que pode não estar, proteger
a situação como ela é (situação não está a ser diretamente
protegida pelo ius civile), através da interpretação dos contratos é
possível proteger a situação e conceder actio ao reclamante, não se
cria direito, interpreta-se a situação concreta permitindo a sua
abrangência pelo ius civile.
2. Restitutiones in integrum
a. Existência de um negócio jurídico injusto mas válido perante o ius
civile que origina uma situação protegida pelo ius civile mas que não
o merece;
b. O pretor, baseado no seu imperium, ordena que as partes se
desvinculem da stipulatio efetuada, desobriguem;
i. Exemplo: vendedor é ameaçado, se não vender a
propriedade o comprador mata a sua família, celebra
formalmente o contrato sob coação;
1. Negócio válido, formalmente celebrado (stipulatio que
origina venda e cumprem-se as obrigações), mas é
celebrado sob coação;
2. Tem de ser declarado inválido; vício na formação do
contrato;
3. Restituição na totalidade daquilo que foi
contratualizado.
3. Missiones possessionem
a. Corresponde, grosso modo, a uma situação de posse;
b. Ordem dada pelo pretor baseado no seu imperium autorizando
alguém a apoderar-se, durante certo tempo de bens de outrem,
com poderes de administração e fruição;
i. Exemplo: senhor A é devedor do senhor B de determinada
quantia; senhor B detém do senhor A por um lapso temporal
uma propriedade que lhe estava arrendada; A pede a
devolução da propriedade porque o contrato acabou, B
recusa até que o A lhe pague o que lhe deve; pode ficar na
posse do bem de A para se ressarcir da quantia em dívida
(pode recolher os frutos do pomar, se este for o caso, e usar
o rendimento como pagamento da dívida);
ii. Esta situação podia ser declarada pelo pretor
4. Interdicta
a. Ordem sumária dada pelo pretor baseada no seu imperium para
resolver no momento uma situação que tem a protegê-la uma
aparência jurídica, ficando essa ordem condicionada a uma possível
apreciação ulterior
i. Exemplo: CML decide construir estrada num sítio em que
está um prédio, manda demoli-lo; os habitantes tentam
evitar que essa decisão seja executada, vai demorar tempo
para fazer isto; tem que se conseguir junto do tribunal uma
ordem que sustenha momentaneamente a execução da
decisão (providência cautelar), não vê se tem ou não razão,
apenas verifica …, se a aparência de direito não se verificar a
providência é levantada
b. Pode ser possível não restituir a situação anterior
Todos previstos no ius civile, competia ao pretor aplicar numa situação de
integração do ius civile.
Na fase em que o pretor aplica direito ao abrigo do imperium, pode corrigir
interpretação do ius civile (integra-o); tem que conceder a actio, permite depois
que o reclamante obtenha a litis contestatio para passar da fase in iure para a
fase da prova – apud iudicem.
Pretor pode subsidir regras do ius civile a situação não prevista no ius civile
(exemplo: comercio marítimo, antes não existia, só o terrestre, nunca se pensou
que poderia vir a existir comércio pelo mar)
Com a Lex Aebutia de formulis (actios concedidas por escrito), surgem as
formulas; fórmulas típicas que podem ser concedidas pelos pretores, que
podem criar direito novo:
1. Actiones in factum conceptae
2. Actiones ficticiae
3. Actiones utiles
4. Actiones adicticiae qualitatis
1. Actiones in factum conceptae;
a. O pretor concede uma actio para uma situação de facto que não
tem proteção no ius civile; é a verdadeira criação jurídica, o pretor
cria direito novo, uma fórmula
2. Actiones ficticiae;
a. Aquelas em que o pretor, para aplicar a justiça, ficciona/finge como
existente uma coisa ou um facto que sabe não existir;
b. Imposição de uma irrealidade ou inexatidão para prosseguir o
direito (ex.: ideia de pessoa coletiva, ficção de pessoa jurídica)
3. Actiones utiles;
a. Aplicação pelo pretor por analogia actiones civiles a casos
diferentes, mas semelhantes dos que são protegidos pelo ius civile;
são semelhantes mas não previstas na norma;
i. Interpretação literal de um determinado artigo do C.C.
retira-se o sentido da letra;
ii. Intenção extensiva: o legislador escreveu menos do que
queria, e portanto nessa situação o que tem que acontecer é
o intérprete perceber o espirito do legislador, o que quis
dizer quando fez aquela norma;
iii. Interpretação restritiva: legislador diz mais do que queria,
temos que fazer restrição/redução;
iv. Lacuna: caso concreto sem previsão ou possível previsão
jurídica, pode-se encontrar situação semelhante e aplicar à
tal situação concreta sem previsão (analogia – ocorre quando
temos uma lacuna no ordenamento jurídico mas não se pode
dizer que não há nada a fazer; como não tem solução
prevista, aplica-se interpretação semelhante; em Direito
Penal e Direito Fiscal não existem lacunas)
4. Actiones adiecticiae qualitatis:
a. São ações que responsabilizam o pater familias total ou
parcialmente pelas dívidas do filho ou de um servo, provenientes
de contratos celebrados por estes;
b. Criação do pretor pré-Lex Aebutia de formulis.
Toda a inovação ou interpretação nova ou problemática era integrada no edito
do pretor, são previamente submetidas aos comitia para serem votadas por
eles.
O pretor tem de submeter aos comitia as fórmulas que vai propor para
resolver situações que estejam a decorrer em Roma sem cobertura pelo ius
civile. Há conhecimento prévio do que o pretor vai resolver.
➢ Editos perpetua: é aquele que é de caráter anual, e que o pretor propõe
aos comitia para se eleger como pretor (o cidadão que se quer eleger
como pretor);
➢ Editos repentina: é aquele que no decurso do mandato do pretor, são
submetidos aos comitia, para resolver questões novas surgidas e urgentes
que não podem esperar pelo próximo mandato e que não são previstas
no ius civile;
➢ Editos translatitia/translativo: editos que permanecem iguais de um ano
para o outro, o candidato seguinte adota o edito do pretor anterior (fazer
o que o outro já fez);
➢ Edito acrescentio: edito novo, acrescenta norma; é edito novo, que não
está nos translativos.
O pretor, ao abrigo do imperium, não podia fazer interpretações analógicas, só
podia interpretar extensiva e restritivamente o ius civile.
A partir da época cristã temos o Principado.
É errado dizer que a partir de César Augusto temos imperadores (estes só
surgem depois de Adriano no séc. II d.C.).
Até 120 d.C. (período de Adriano), temos sucessão de Príncipes que, de forma
lenta, vão tomar as rédeas do poder em Roma, alterando a configuração da
estrutura política da República para uma política que vai culminar no Império
com a centralização do poder no Imperador.
César Augusto – Roma em período de crise, revoltas e escassez perto da época
cristã; ao aparecer alguém que ganha batalhas e mete ordem ao que acontece
ao redor é eleito como chefe.
César Augusto é líder militar, enriquece Roma ao ganhar batalhas, como
líder militar consegue limitar as revoltas internas, ao enriquecer Roma deixa de
haver escassez de alimentos e menos revoltas.
Augusto centraliza o poder em si, Roma transforma-se politicamente.
O Senado vai assumir poder. Senatusconsulta do ano 10 d.C. -» reconhecimento
dos cidadãos da força de lei.
Se os senadores começam a poder legislar, os comitia começam a perder essa
função legislativa. Os comitia vão perdendo importância.
Príncipe: é o primeiro senador, o primeiro cidadão, o primeiro em deveres em
Roma.
Magistrados: representam a pluralidade do poder político.
César Augusto mantém os magistrados, mas declara-se cônsul vitalício
(contraria o mandato anual).
Os outros magistrados continuam a ter funções.
O pretor é o administrador da justiça, o aplicador do direito, aquele que vincula
com a sua vontade e opinião as situações concretas da vida de Roma.
Se o Princeps atua contra o ius civile, quem pode repor a justiça? Quem pode
aplicar a justiça contra o Princeps?
Se ele é o primeiro senador, o Senado pode opor-se ao príncipe? Não, pois
é o seu aliado.
Os magistrados podem opor-se ao princeps e o pretor também.
O pretor pode opor-se à própria decisão do tribunal, no tribunal do pretor
pode decidir contra o princeps, contra o poder político, contra a cidade de Roma.
O Princeps a partir de César Augusto cria um tribunal paralelo, para além do
tribunal do pretor – tribunal do príncipe.
❖ Tem à frente dele um juiz ou vários, mas não é o iudex, é um juiz
conhecedor de direito que vai ter a função de, em nome do Príncipe,
conhecer as questões de facto que são apresentadas pelos cidadãos e
decidir as questões de direito – início da magistratura judicial como a
conhecemos hoje;
❖ Vai surgir no início do Principado com César Augusto com a criação do
tribunal do príncipe.
O juiz não é independente, é funcionário do príncipe e decide em nome dele.
Era cristã: dois tribunais – o do pretor (o iudex é um homem bom) e do príncipe
(o juiz é conhecedor do direito que aprecia as questões de facto).
➢ O tribunal do príncipe vincula os cidadãos, pensam que a decisão do juiz
do príncipe é a decisão do próprio príncipe (na opinião do povo);
o Esvazia as competências do tribunal do pretor.
O pretor vai perdendo importância. Deixa de haver criação de fórmulas novas.
Os editos deixam de ser editos novos no sentido de terem conteúdo novo
e passamos a ter editos translativos, os pretores são eleitos e assumem editos
do pretor anterior, deixa de haver atividade criadora do pretor devido ao seu
tribunal entrar em declínio para o tribunal do príncipe.
As leis passam a ser aprovadas pelo Senado.
Primeiro século da época cristã: época do declínio do pretor, deixa de ter
situações para criar direito.
Adriano – ano 130 a.C.: vai mandar compilar todos os editos dos pretores
que existem até então, de modo a criar uma obra que contenha os editos de
todos os pretores. É a cristalização do ius praetorium.
Edito perpetuum de Adriano – acaba com o ius praetorium.
A transição do direito da republica para o principado é lenta. Passa de um
período com muitas fontes para um período em que as fontes vão sendo, de
forma lenta, anuladas ou substituídas por apenas uma (a lei).
A iurisprudentia constitui o núcleo central do curso.
O iurisprudente tem papel central da construção jurídica de Roma.
É criadora de direito novo pelo pretor: tem sempre por trás o
jurisprudente.
O pretor é magistrado, os magistrados não são juristas, não
precisam de conhecer o direito, podem apenas estar no cargo para chegar
a cônsules.
Os jurisprudentes são um conjunto vastíssimo de pessoas (a maior
parte anónima), chegaram até aos dias de hoje os nomes de alguns
jurisprudentes; antes deles, ao longo dos séculos de Roma, encontramos
jurisprudentes (os que pensam o direito e interpretam-no, aplicam a
justiça), têm papel central na construção e desenvolvimento do ius civile
e ius gentium.
Não é escrito o pensar do direito por muito tempo, era explicado e pensado na
praça pública, não é reduzido a escrito em livro; vai ser, mas mais tardiamente
na época cristã.
Monarquia – os jurisprudentes são os pontífices (sacerdotes pontífices), tiveram
um papel importante na interpretação dos mores maiorum e no direito de ler os
sinais divinos; tem conhecimento aprimorado destes.
Durante o período da Monarquia, a jurisprudência é patrícia e pontificial.
Com o evoluir da sociedade de Roma, a jurisprudência vai laicizar-
se/racionalizar-se: a jurisprudência perde o cunho pontificial e patricial; o
pontífice deixa de ser o patrício, é possível ascender à função de jurisprudente
qualquer cidadão romano – laicização: perde o que tem de divino e que marca
o período da Monarquia, vai permitir que outros cidadãos que não os patrícios
possam interpretar o direito e serem jurisprudentes.
Três grandes momentos da laicização:
1. Lei das XII Tábuas – início do processo de laicização, o que temos é o
direito escrito, e esse direito vai permitir a que se possa ler o direito –
diferentemente do sacerdote pontífice a ditar o que é o direito, porque é
o que ele perceciona dos sinais divinos; alguém dizer que o direito escrito
é aquele – a universalização da jurisprudência é a Lei das XII Tábuas;
2. Ius Flavianum – vem do nome Flávio – este era um escravo escriba de um
patrício sacerdote pontífice chamado Ápio Cláudio, que tinha como
função aplicar o direito e interpretar os mores maiorum; só estes homens
com conhecimento e poder especial de comunicação divino podiam
interpretar o direito, não era acessível a qualquer um; o mestre de Flávio
fica cego, mas continua a interpretar através dos olhos de Flávio – escreve
a interpretação do seu mestre dos mores maiorum, reduzindo-a a escrito
– obra que fica conhecida como Ius Flavianum, o direito de Flávio;
a. Publica compilação de actiones em 304 a.C.; o direito estava
acessível a cada um; não era necessário ser-se patrício ou sacerdote
para se pensar o direito e interpretar a norma jurídica;
b. Os Romanos percebem que todos podem ter acesso ao direito e ser
intérpretes do direito;
i. Os patrícios podem continuar a ser jurisprudentes, mas os
plebeus também têm acesso a este cargo.
3. Ensino público do direito a partir do séc. III a.C. – Tibério Coruncânio
a. Ele vai iniciar o ensino público do direito em praça pública; com o
ensino do direito universaliza-se a possibilidade dos cidadãos
poderem aprender o direito através das escolas fundadas por
Tibério;
b. Acesso dos cidadãos ao conhecimento do direito – o jurisprudente
é aquele que tem reconhecimento público do seu conhecimento
(auctoritas);
c. O jurisprudente não é magistrado – pode ter exercido essa função,
mas enquanto jurisprudente não o é –, não tem imperium, não tem
potestas, não tem iurisdictio (aplicação da justiça, não a administra,
não vincula ninguém com a sua opinião).
d. Tem opinião meramente consultiva, ajuda os cidadãos na
celebração de contratos – fonte mediata de direito (segundo o prof.
Sebastião Cruz);
e. Depois da Lex Aebutia de formulis podia ajudar o pretor a criar as
fórmulas;
f. O jurisprudente pode ser ouvido pelo Senado quando está a
elaborar pareceres;
g. É procurado por ter auctoritas, por se reconhecer o seu bom senso
e conhecimento jurídico, não impõe a sua opinião (não tem força
vinculativa).
4. Ius publice respondendi
5. Lei das Citações
Funções dos jurisprudentes:
➢ Cavere – aconselhamento aos particulares no âmbito da realização de
negócios jurídicos, diz qual a forma que se deve utilizar, o melhor contrato
a seguir para obter o resultado que pretende;
➢ Agere – assistência às partes num processo, função de assistir as partes –
reclamante e reclamado (não é advogado);
➢ Respondere – consistia em dar sentenças ou pareceres a particulares ou
a magistrados sobre questões jurídicas, como devem interpretar o ius
civile, se há lacuna do ius civile, etc; assistência ao pretor no seu tribunal,
aconselhamento jurídico para quem pede, de forma gratuita, não é uma
função remunerada, não é carreira, não é magistrado, não é função
publica, não tem soberania, ou seja, imperium, potestas ou iurisdictio.
A partir do início da era cristã vão surgir diversas questões relativas à
jurisprudência – os jurisprudentes proliferam no inicio da época cristã.
Expansão de Roma ao largo da costa do Mediterrâneo.
Relações jurídicas entre cidadãos e com outros povos, fomentou o
desenvolvimento da jurisprudência e o seu aparecimento em maior número.
Época de Augusto: número incomensurável de pessoas que se dedicam a
pensar o direito e a propor a sua aplicação, a dar pareceres jurídicos.
Perante o problema jurídico que se tem, que suscita ao pretor, se há dúvidas,
pode-se consultar o jurisprudente.
Cada jurisprudente podia ter uma opinião diferente – quem tinha razão? Há
opiniões diversas.
Há necessidade de organizar a jurisprudência, de criar regras que causem
alguma certeza jurídica, não basta uma opinião, nem ter várias opiniões, tem de
haver segurança no que se procura – é criado por César Augusto um expediente
novo: ius publice respondendi ex auctoritas princeps.
Ius publice respondendi: direito de emitir opinião em público.
Ex auctoritas princeps: sob o poder do Príncipe.
Dizer o direito em público como se se tratasse do Príncipe.
O instituto vai funcionalizar o jurisprudente: vai fazer com que a jurisprudência
(atividade de opinião livre na República) passe a estar dependente de uma lista
oficial criada pelo Imperador/Príncipe.
Escolhe os jurisprudentes nos quais tem mais confiança, faz uma lista, dos
que têm poder de vincular as partes – passa a ser vinculativa, passa a ser fonte
IMEDIATA de direito.
O parecer dado pelo iurisprudente com este poder vincula as partes e o tribunal
– é doutrina oficial.
Augusto não acaba com a jurisprudência, não inibe ninguém de dar opiniões,
não proíbe a consulta de jurisprudentes; apenas vincula o tribunal do princeps à
opinião do jurisprudente com ius publice respondendi; consulta-se mais
frequentemente este, é o início de criação de doutrina oficial em Roma.
É um motivo político, para além do motivo jurídico de decidir quem tem razão.
Augusto declara se pró-cônsul, cônsul vitalício.
Inicia-se um novo paradigma da política de Roma.
Não há revolução, a transição da República para o Principado é pacífica, há
aceitação por parte do Populus das transformações lentas que vão ocorrendo;
com a declaração de Augusto como cônsul vitalício, há uma figura que vai
desaparecer – o consulado, que era eleito anualmente. Este deixa de ser eleito,
pois Augusto é o único cônsul. Depois este efetua-se princeps (o primeiro),
primeiro cidadão, primeiro magistrado, primeiro senador, primeiro militar;
impõe-se na organização política – joga com os três órgãos de poder – Senado,
magistraturas e comitia.
O próprio Populus vai ajudar Augusto.
Havia uma norma antiga nos mores maiorum que dizia: todo aquele escravo que
matasse ou tentasse matar o seu senhor pater familias era condenado à morte,
não apenas ele, mas todos os escravos da casa.
Ocorre uma onda de revolta em que os escravos matam os seus senhores,
aplicava-se esta norma.
Os pater familias ficam sem escravos, vão ter que os comprar, gastar dinheiro,
os paters começam a revoltar-se, pois não se pode matar todos os escravos.
➢ Senatusconsulta – Silanianum 10 d.C.
É um mero parecer consultivo, mas este senatusconsulta vai ser reconhecido
como obrigatório, o Senado emitiu opinião que está de acordo com o que o
Populus quer, vai tomar como obrigatório este senatusconsulta.
O Senado, que não tinha poder legislativo em Roma, vai ter reconhecido o poder
legislativo; Augusto aproveita e tira poder legislativo aos comitia.
Ius publice respondendi correspondia a autorização feita pelo Princeps que era
concedida a alguns iurisprudentes que lhes permitia vincular, de alguma
maneira, com a sua opinião, aqueles que o consultavam e até o tribunal.
As fontes jurídicas dizem que no primeiro século de vida do ius publice
respondendi (época cristã), este ainda não tinha poder de vinculação, não era
obrigatório, mas na prática o juiz vinculava-se à opinião do iurisprudente. O juiz
assumia a posição do princeps, o que dizia deveria ser seguido, era como se fosse
a palavra do princeps.
A partir de Adriano (séc. II d.C.), a jurisprudência torna-se obrigatória para as
posições dos juristas com ius publice respondendi.
Digesto – porque é que é importante?
➢ O Digesto é a parte mais importante da obra de compilação
Justiniana/Código de Justiniano (séc. VI d.C.). É constituído por 4 grandes
obras:
➢ Código;
➢ Digesto;
▪ É constituído por 50 livros que integram apenas doutrina. Ou
seja, são constituídos por iurisprudentia. É a opinião dos
prudentes, mas não de todos. O grosso dos jurisprudentes
eram os jurisprudentes com ius publice respondendi. É
através do Digesto que conhecemos a jurisprudência.
➢ Institutas (manual escolar de ensino do Direito);
➢ Novelas – constituídas por Constituições Imperais, leis aprovadas
pelo Imperador, ditam a sua vontade expressa, com imperium e
potestas do imperador:
▪ Lei nova, compilação de Constituições Imperais que não
estavam no Código.
Lei das Citações – quais opiniões são vinculativas? A Lei das Citações vai
resolver isto. Segue-se um critério de autoridade – é seguida a opinião de que
tem mais autoridade sobre certa matéria.
O Digesto permite-nos ler e saber o Direito que foi construído pelos
jurisprudentes. Os jurisprudentes, mesmo os que tem ius publice respondendi
(da época cristã), os que não viveram na República, ficaram esquecidos na
história, mas as suas ideias não, ficam incluídas nas leges rogata, nos
senatusconsulta; opiniões integrantes no ius civile.
O Código são as leis do Imperador, que são feitas para resolver questões
concretas com as quais o Imperador se depara naquele momento. São as
questões da vida de Roma, que perdem utilidade, necessidade, que tenham de
ser revogadas ou alteradas. A doutrina do jurisprudência que não quer fazer
derectum, mas responder ao ius. São soluções de justiça.
Muito do que está escrito no Digesto é intemporal. Pode ser aplicado em
qualquer época. É a construção de soluções jurídicas que se adaptam ao tempo.
Artigo 9º C.C. – preâmbulo das Institutas
Há uma escola do séc. 18 que se chama a Escola dos Usus Mordernus
Pandectarum (escola alemã) que se aplicou em toda a Europa -» usos de
utilização moderna atual das Pandectas.
Pandectas – designação grega do Digesto (esta é a designação latina) =/=
Digesta
Digestum ou Pandectas.
A escola disse que se tinha de fazer mobilização moderna do Digestum, retirar
o que é temporal e o que é intemporal, retirar o que pode ser aplicado em
qualquer momento e em qualquer lugar, ou seja, as soluções jurídicas
intemporais.
Por exemplo, as regras do contrato de compra e venda não estão na lei em
Roma. Não há nenhuma Constituição Imperial que diga isto, foram os
jurisprudentes/juristas que disseram isto. Puseram regras como a tradição da
coisa, transação de dinheiro, etc…
Grandes instituições políticas:
• Senado
• Comitia
• Magistrados
• Iurisprudentia
No início da era cristã, temos uma nova figura – o princeps. Este vai proceder a
alterações de forma paulatina, sem revoluções, sem haver golpe de Estado ou
de palácios que fizesse alteração do status quo romano, mas a forma lenta que
vão iniciar-se de Augusto, as transformações políticas em Roma.
O Senado tinha várias funções na República – concedia auctoritas patrum às
leges rogata; reconhecia os tratados internacionais; tinha papel político porque
podia emitir conselhos, opiniões, sendo que para isso era suscitada a sua posição
– chamavam-se senatusconsulta (SCC).
O SCC tem um valor meramente consultivo. Quem é que pode consultar
o Senado? Todos os órgãos políticos podem, e os cidadãos também.
Ano 10 d.C. – SCC Silanianum ao qual acaba por ser assumido, adotado, como
SCC com força obrigatória geral. Foi feito devido à situação dos escravos que
matavam os seus senhores. Assumem que essa decisão do Senado deve ser
obrigatória. Primeira vez que o Populus segue a decisão do Senado.
Augusto, ao perceber que ao Senado é reconhecida força obrigatória
geral nas suas decisões, vai-lhe reconhecer poder legislador.
A concessão de poder legislativo ao Senado tem importância para
Augusto, pretende retirar-lhe poder político. Não tem papel de orientação
política, porque pertence ao Princeps, mas o Senado passa a ter capacidade de
emitir opiniões com força obrigatória geral. Os SCC passam a ser vistos como
obrigatórios.
Os comitia não estavam a ser convocados na época, perdem confiança
neles, vão reconhecer a manutenção do status quo no Senado. Este
representava a continuidade política, social e moral de Roma, desde o início de
Roma era o que se mantinha constante.
➢ O poder legislativo não é retirado aos comitia, mas estes vão perder
este poder porque os próprios magistrados deixam de propôr leis,
e os comitia começam a ser convocados de forma menos
frequente. É feito de forma intencional, deixam de ter importância
em Roma.
Os magistrados passam a ter algumas alterações no período de Augusto. O
cônsul deixa de ser eleito porque Augusto é cônsul vitalício.
O ditador deixa de fazer sentido; desaparece da construção política de Roma,
porque era eleito para determinar circuntâncias concretas, há alguém que está
no topo da hierarquia e é vitalício.
O pretor mantém-se, mas Augusto cria um órgão concorrente ao pretor, o
tribunal do príncipe.
➢ Com este tribunal, há concorrência da administração da justiça, em
relação ao pretor, que sempre teve esta função. O papel do pretor
vai ser esvaziado em função do tribunal do príncipe, vinculativo.
Edicto perpetum de Adriano, retira os poderes do pretor.
O censor mantém as suas funções; questores e edis tornam-se funcionários do
princeps. Não podem ser eleitos pelos comitia, mas sim pelo princeps, por isso é
que são seus funcionários – funcionalização dos magistrados, nomeados pelo
poder político.
Jurisprudentes – é necessário dar mais segurança ao cidadão que consulta o
jurisprudente. Cria-se o ius publice respondendi.
Quem é que pode contestar a solução de poder pelo príncipe? Quem é
que pode criticar Augusto e os seus recessores pela alteração política? Aqueles
que não dependem do príncipe, os que não são oficiais, os que têm pensamento
livre e que na sociedade republicana emitiam as suas opiniões – os
jurisprudentes.
Começa-se a regular a opinião que era expressa na cidade de Roma.
O ius publice respondendi não é vitalício, quem o tem pode vir a perdê-lo. A lista
de jurisprudentes é móvel, pode-se pô-los e tirá-los. Os que queriam manter a
sua função, ter reconhecimento social (auctoritas) e vincular os seus cocidadãos,
acabavam por respeitar a vontade do princeps. O ius publice respondendi é
instrumento de pacificação da cidade e de redução de alterações políticas e
orgânicas que ocorrem na sociedade de Roma depois de Augusto. Tudo isto é
feito de forma lenta.
Os SCC vão ter, a partir de 10 d.C., força vinculativa. Quem é que pode propor
ao Senado um senatusconsulta? Este agora é uma lei, qualquer senador pode
propor ao Senado um SCC. O primeiro dos senadores é o princeps, a cabeça do
Senado.
Oratio – oração inicial da lei. Sabe-se o objeto da lei, é o preâmbulo.
Apresenta-se a parte dispositiva, está-se a apresentar mais do que a
própria lei, o seu conteúdo.
Apresentava-se a cominação, a sanção aplicada para a violação da lei.
Quem faz mais propostas de leis ao senado é o princeps. O Senado cai num
grande erro – quando se tratava de propostas feitas pelo princeps, o Senado
deixa de discutir a proposta de senatusconsulta e após a oratio (apresentação
sumária do SCC por parte do princeps), o Senado imediatamente aprovava, não
esperava pelo apresentação do dispositivo do SCC, não esperava pela avaliação
das normas cominatórias, a mera apresentação do SCC era automaticamente
aprovada.
O SCC vale como oratio princeps – com Adriano.
O Senado abdica, sem se aperceber, da sua função legislativa e por subserviência
ou outro motivo, acabam por entregar essa função ao princeps.
O poder legislativo passa para o princeps, o Senado só aprova a intenção, por
isso o princeps passa a legislar sozinho – origina as Constituições Imperais (já
haviam antes, são a expressão de vontade do princeps), o princeps concorria
com o Senado. Não vale a pena o princeps ir ao Senado pois estes só aprovam a
lei automaticamente.
As Constituições Imperiais transformam-se na principal fonte de Direito
em Roma.
A oratio princeps deixa de existir, o Imperador assume a função legislativa
através das Constituições Imperiais.
As Constituições Imperiais são sempre decisões que emanam do Príncipe
ou do Imperador. Têm caráter jurídico e, se no início, vão ser vinculativas, mas
não as únicas fontes, a partir do séc. IV d.C. são fontes de direito por excelência.
Ius novum – direito novo, na medida em que emana do princeps,
exclusivamente dele, que assume poder legislativo.
Passa-se de pluralidades de entidades políticas e não políticas (ex.:
jurisprudência) para caminho de centralização da construção jurídica para o
Príncipe.
A partir do séc. IV d.C. temos total domínio do Imperador na construção jurídica
romana. As CI são as leis do príncipe, a sua decisão unilateral que vincula toda a
construção jurídica de Roma, cidadãos e tribunais.
Evolução entre séc. I e séc. IV, e após séc. IV: as figuras das CI vão variando,
dependendo da evolução história do Império.
Entre estes séculos, há quatro tipos de Constituições Imperiais:
1. Edicta – constituição de caráter geral, proferida pelo Imperador pelo uso
de poder específico que ele tem (o imperium proconsulare maius);
a. No âmbito deste poder, o Imperador emite CI que assumem a
designação de edicta;
b. O imperium proconsulare maius é um poder infinito, vincula todo o
território e todas as províncias, é poder de soberania e de
vinculação de todos os governadores de província;
c. A edicta aplica se a todo o Império.
2. Decreta – decisões judiciais que eram proferidas pelo Imperador em
processos que lhe podiam ser submetidos;
a. Tende a desaparecer com a evolução de Roma, mas durante os
primeiros séculos do Principado o princeps assumia poderes
judiciais; deixa de os ter, o tribunal do princeps assume essas
funções.
3. Rescripta – respostas/decisões do Imperador proferidas por escrito a
perguntas que lhe são diretamente formuladas ou por magistrados ou por
particulares:
a. Quando a pergunta é feita pelo magistrado chama-se consulta e a
resposta é epistola (ato de responder);
b. Quando são formuladas por particulares a pergunta tem
designação de prece e a resposta é subscriptio;
4. Mandata – ordens do Imperador aos governadores das províncias ou aos
funcionários das províncias:
a. São constituídas por matéria política, administrativa, jurídica, civil
e criminal.
Consolidação do poder imperial a partir do séc. IV, deixa de se assistir à
concorrência de outras fontes (?)
Processos contra juízes porque põem em causa as Constituições Imperiais.
Evolução da absolutização (jurídica e política) do poder imperial
Domínio das CI sobre as outras fontes de direito, discriminando e determinando
o que pode ser seguido.
A partir do séc. IV d.C. assumem outras designações: mantêm-se as edictas (leis
gerais), de aplicação a todo o Império, tal como no período anterior; as rescripta
também se mantêm; no entanto, vão-se reduzir ao conteúdo de epistolas
(caráter obrigatório geral), seguidas pelos funcionários públicos.
1. Adnotationes – nova modalidade de resposta do Imperador às preces
formuladas por particulares. Substituem as subscriptio;
2. Decreta – decisões do princeps em sede judicial; desparecem, porque o
Príncipe, ao longo do tempo, deixa de ter essa função porque vai ser
exercida pelos tribunais em nome do princeps;
3. Pragmática sanção (pragmatica sanctiones) – CI de caráter regional,
contrariamente à edicta que tem caráter geral e obrigatório, esta apenas
se aplica a partes do Império. Adoção do Código de Justiniano na
península Itálica.
Justiniano conquista toda a península Itálica + presença do Império do Oriente;
Justiniano manda aplicar o seu Código à península Itálica. Essa ordem de
aplicação é feita através de pragmática sanção, aplica-se a todo o Ocidente. É
através de lei de caráter regional que se vai usar para fazer esta aplicação.
Transformação da iurisprudentia, forma como é revisitada por Augusto (ius
publice respondendi).
Séc. IV d.C. – movimentos de compilação (não se usa o termo codificação).
Séc. XVIII/XIX – surgem as codificações (1ª codificação: Código de
Napoleão).
As compilações são junções das leis. Sem organização por institutos, ao
contrário dos Códigos.
Dois tipos de compilações:
1. Compilações privadas/particulares
a. Feitas por iniciativa de um jurista que decide compilar uma área ou
fonte de Direito:
i. Exemplo: Código Gregoriano e Código
Hermogeniano/Teodósio
2. Compilações públicas/oficiais
O Direito poderia ser escrito (leges e editos) e indicativo (senatusconsulta),
Direito opinativo na auctoritas.
Compilação das leis (Constituições Imperiais) e de iura/doutrina (opinião dos
jurisconsultos, opinião oficial). É a doutrina que se torna oficial.
Código Gregoriano – séc. III d.C., compilação de Constituições Imperiais, não
contém iura, só leges (no Império, são sinónimo de Constituições Imperiais).
Constituições Imperiais do período de Diocleciano, feita por jurista chamado
Gregório. Iniciativa de um jurista que decide compilar as Constituições Imperiais
deste período. Constituída por 15 livros, divididos em títulos sobre temáticas.
Ao Código Gregoriano, vai acrescer o Código Hermogeniano, composto por um
único livro que é livro de leges, considerado o 16º livro do Código Gregoriano.
Estas compilações são privadas. Vão circular na época e permitem o
conhecimento das Constituições Imperiais que tinham sido elaboradas pelos
diversos imperadores. Vão ser utilizadas para a elaboração de compilações ditas
oficiais. A primeira foi o Código de Teodósio (Código Teodosiano):
▪ Compilação iniciada em 429 por comissão de 8 membros, mandada
compilar por Teodósio II. Este pretendia elaborar uma compilação que
integrasse leges e iura (Constituições Imperiais + doutrina). A obra era
difícil de ser elaborada, acaba por não ser feita a compilação tal como
Teodósio desejava;
▪ Teodósio duplica os membros com o objetivo de elaborar, não uma
compilação de iura, mas só de leges. Ou seja, apenas as Constituições
Imperiais em vigor até ao seu tempo. Concluída em 438 e entrada em
vigor no dia 1 de janeiro de 439 (mandato de Valentiniano III).
O Código de Teodósio é composto por 16 livros e apenas contém leis gerais. As
Constituições Imperiais são de aplicação geral a todo o Império.
Obra de Direito público, 11 dos volumes são de Direito Público, apenas 5
se dedicam a Direito Privado (este é desenvolvido pelos jurisprudentes).
Imperadores preocupam-se na organização do Império (administração), isto
explica o porquê da grande quantidade de livros de Direito Público.
Vigora no Império do Oriente desde 438 até 529, data em que é revogada pelo
Código de Justiniano.
Esta compilação mantém-se na Europa mesmo após a queda do Império
Romano. Porquê?
Quando o Império Romano do Ocidente cai por força dos povos germânicos,
estes adotaram os costumes romanos.
Há um importante papel da Igreja (Direito canónico). Organização
administrativa eclesiástica – Papa, Cardeais e Bispos.
Organização administrativa romana é criada com base militar.
Quando cai o Império Romano e a sua administração, o que fica no Império do
Oriente? A organização eclesiástica. Mantém-se a Igreja, esta vai ajudar à
sedimentação dos povos que vão ocupar o antigo Império do Ocidente. Os povos
conquistadores vão cristianizar-se, a Igreja tem um papel fundamental neste
aspeto. Os povos germânicos vão manter a organização jurídico-administrativa
da igreja.
Surge novo Direito Romano – no ocidente, após a queda do Império Romano:
Direito Romano vulgar. Vulgar porque é simbiose do Direito Romano que se
usava no período do Império como as influências das ordens jurídicas dos povos
que ocupam o Império.
O Código Teodosiano que está em vigor até ao Código de Justiniano vai ser
aplicado pelos povos no Ocidente até ao aparecimento das Compilações.
Na península Ibérica, os povos visigóticos (Visigodos) vão fazer compilações tais
como os Romanos. Exemplo: Código de Eurico. Lex Romana Visigothorium
As Constituições Imperiais estão munidas de imperium (poder soberano, de
impor); a doutrina tem auctoritas.
Código de Justiniano – Justiniano foi um imperador do Oriente com reinado
longo, desde 527 a 565, (Justiniano o Grande), é alguém que tem um governo
especial: vai reinar durante período de paz, de algum crescimento económico e
estabilidade. Tem grandes objetivos: a recuperação de todo o Império Romano.
Pensa que tem as condições para conquistar a parte ocidental da Europa e
restabelecer a glória de Roma. Conquista todos os territórios a Ocidente menos
a península Ibérica e a região da França, conquistam a península Itálica.
Consegue estar perto na década de ??? em Itália, mas perde batalhas, perdendo
grande parte do território que conquistou.
Quer deixar marca do ponto de vista jurídico – pretende promover a elaboração
de uma compilação que abarcasse todo o Direito Romano (mores maiorum até
ao ius Justinianum). Encarrega um jurista chamado Triboniano para preparar
uma compilação que englobasse leis e doutrina – leges e iura.
Código de Justiniano foi elaborado por Triboniano (e não por Juliano).
Lei das Citações (Tribunal dos Mortos, na gíria), volta-se a falar da
jurisprudência.
A jurisprudência sofreu uma evolução, a partir do Principado – criação do ius
publice respondendi sob a autoridade do Príncipe. Vai permitir uma
diferenciação dos jurisprudentes (os que falam sob autorização do Príncipe, e os
que falam pela sua auctoritas). A evolução vai ser no sentido de o jurisprudente
com ius publice respondendi vincular os tribunais. Os juízes vão seguir as
decisões do Príncipe.
Inicia-se um processo de funcionalização dos jurisprudentes. Com o tempo, o
jurisprudente paulatinamente deixa de falar, vincular, pela sua auctoritas, mas
vincula pelo imperium do Imperador.
O ius publice respondendi não resolve todo o problema, ouvem-se
jurisprudentes com ius publice respondendi e os jurisprudentes não tinham
todos a mesma opinião. Quem é que vincula o tribunal? Qual é o que o juiz
segue?
Os próprios jurisprudentes, a partir do séc. 4 d.C., perdem o seu papel de
criadores. Eles deixam de ter independência, de serem criadores
independentes, pensam o Direito segundo a opinião do Príncipe. O
jurisprudente é quase como um funcionário do iudex (?). Em 322, Constantino
vai aprovar um restrito (tipo de Constituição Imperial) em que determina que
nos tribunais não podem ser invocadas as Constituições Imperiais sem indicação
da data e sem ser aprovada a real existência dessas leis.
O juiz aplica pela opinião do jurisprudente, pode não ter lido a Constituição
Imperial, há confusão jurídica.
➢ 1ª medida de organização da jurisprudência: rescrito de 322 – nos
tribunais não podem ser invocadas as Constituições Imperiais sem a
indicação da data e sem ser aprovada a existência dessas leis.
➢ 2ª medida – ligeiramente anterior, de 321, o imperador Constantino vai
proibir a invocação de anotações e comentários de Paulo e Ulpiano a
textos de Papiniano; sempre que esses comentários alteravam a opinião
e decisão de Papiniano, era a opinião dele que devia valer. Oficializa a
jurisprudência, a funcionalizá-la. Determina que o pensamento jurídico
não é livre.
Em 328, Constantino vai fazer uma Constituição Imperial que ordena aos juízes
que aceitem como fonte de decisão as sentenças de Paulo (Pauli sententiae);
são uma obra que se pensa que não é de Paulo; obra de jurisprudência com a
doutrina de Paulo, o tribunal deve aplicar em primeira decisão as opiniões de
Paulo.
A situação de confusão vai manter-se generalizada: no dia 7 de novembro de
426 é elaborada, pelo imperador Valentiniano III, a Lei das Citações (origem
numa oratio).
Aspetos da Lei das Citações:
1. Fixa os jurisprudentes que podem ser seguidos em tribunal – aqueles que
o juiz pode citar e utilizar para fundamentar as suas decisões (Paulo,
Papiniano, Ulpiano, Modestino e Gaio) – príncipes do Direito Romano.
Nenhum deles era vivo em 426, a não ser as suas opiniões;
2. Vai manter o princípio de que as notas críticas de Paulo e Ulpiano a
Papiniano não podem ser aplicadas em tribunal. Mantém o rescrito de
Constantino;
3. Mantém a autoridade das Pauli sententiae;
4. Cria o critério qualitativo em sede de jurisprudência – sempre que
houvesse divergência poderiam ser aplicados estes critérios:
a. Quantitativo: deve ser seguida a opinião que for mais seguida pelos
5 juristas, aquela opinião que tem mais seguidores entre os juristas
é a opinião que deve ser seguida pelo juiz;
b. Qualitativo: em caso de empate, ou seja, se houver igual número
de jurisprudentes que tenham opiniões divergentes, segue-se
sempre a opinião de Papiniano.
Escola dos Comentadores
Opinião que deve ser seguida – Bártolo (pai do direito internacional privado ?)
Oficialização da jurisprudência – trabalho superior em que a jurisprudência
deixa de ser uma atividade livre e baseada na auctoritas para passar a estar
dependente de uma lei aprovada pelo Imperador. A Lei das Citações serve para
determinar quem é que se pode citar. Deixa de ser uma atividade de livre
pensamento do Direito.
O Código de Justiniano vai assumir dentro do codex a Lei das Citações. Reforça
a Lei das Citações, no sentido de introduzir o outro jurisprudente que estava a
ser muito invocado na época de Justiniano, chamado Marciano; vai introduzir
uma lei que diz que não pode valer o comentário e as notas de Marciano se
contradissessem Papiniano.
Partes mais importantes para a frequência:
➢ Fontes de Direito;
➢ Jurisprudência;
➢ Parte jurídica (não de organização política);
➢ Processo judicial em Roma – stipulatio, expedientes, tribunal do pretor,
ius publice respondendi, litis contestatio, stipulatio…;
➢ Binómios:
o Ius e fas:
▪ Fas – normas religiosas, as mais antigas da organização do
Direito Romano, rituais, regras, fórmulas… ditadas pelos
deuses aos reis e aos sacerdotes, não são Direito (não são
sinónimo de mores maiorum), acabam por se expressarem
através dos mores maiorum, através dos rituais e das
fórmulas religiosas. Tem conteúdo que p retende conduzir a
felicidade da sociedade, promovendo a felicidade humana.
▪ Ius – o conceito de ius é complexo; decorre do trabalho dos
jurisprudentes para compreenderem o fas, é a
manifestação jurídica do fas:
• Corporização do fas através de norma jurídica, é o
Direito em Roma;
• Ius civile – Direito de Roma aplicado aos cidadãos que
decorre da interpretação jurídica do jurisprudente; é
a construção jurídica da cidade (leges, plebiscita,
senatusconsulta, mores maiorum) com base na
integração do ius civile pelo jurisprudente;
o Fontes de Direito:
▪ Mores maiorum;
▪ Leges rogata e plebiscito;
▪ Senatusconsulta;
▪ Iurisprudentia
• Ius honorarium – o ius edicendi tem um núcleo maior
– núcleo do ius praetorium enquanto direito
interpretado, aplicado e depois criado (lex Aebutia de
formulis) pelo pretor através dos editos, mas também
através da própria função do seu tribunal; mesmo
que seja por editos, perpétuos ou repentina, o pretor
cria direito através do seu poder de iurisdictio
o O questor e o edil tiveram também iurisdictio,
mas baseado apenas na potestas, a função de
vincular o Populus às suas funções.
• Ius gentium – Direito constituído e criado na relação
entre o ius civile e os direitos novos dos estrangeiros
para simplificação das situações jurídicas com
estrangeiros.
• Ius vetus vs. ius novum:
o Ius vetus – Direito antigo da República; é o
Direito construído ao longo do período clássico
da República de Roma até ao Principado, com
base no imperium dos magistrados, auctoritas
dos jurisprudentes e iurisdictio do pretor;
▪ Este direito sofre alteração, pois vai ser
codificado, compilado, alterado,
extrapolado – alterações ao Direito
Romano, modificações na sua ratio,
sentido, estrutura, evolução da língua.
o Ius novum – é o Direito que decorre do poder
de imperium do Imperador, é Direito de
domínio e de poder (contrariamente ao ius
vetus, o Direito de auctoritas)
O Direito adapta-se às situações concretas, por isso não há dogmática, nem leis
gerais e abstratas – existe aequitas.
AEQUITAS - adaptação e aplicação concreta das situações da vida, através do
trabalho do iurisprudente.
As Constituições Imperiais são ius novum, começam a haver normas gerais e
abstratas, com aplicação geral.
A partir de Adriano, o Direito vai tendendo para a generalização e
abstração visível nas Constituições Imperiais pós-Diocleciano. Há maior
segurança jurídica e política após o século II d.C.
Dimensão da alteração do conceito de auctoritas - sofre alterações.
A lei pode não ser justa; visto que esta emana do legislador, ele pode não
seguir o ideal de justiça.
Quando o Direito é ius novum (ou seja, lex, Constituições Imperiais do
Imperador), pode-se ter uma Constituição Imperial que é injusta, que não
prossegue a justiça, será que se deve segui-la?
É nestas circunstâncias que o Imperador diz que a interpretação já não é
livre.
A auctoritas perde a sua definição inicial e passa a ser auctoritas política
– autoridade que advém do poder do chefe do poder político. É a auctoritas de
quem tem ius publice respondendi.
Os conceitos mudam ao longo dos períodos de Roma; por exemplo, a
auctoritas na República é diferente da do período do Dominado.

CONCEITOS A RETER:
❖ Ius e mores maiorum/fas
❖ Ius civile e ius honorarium
❖ Iustitia e aequitas
❖ Ius e lex
o Direito enquanto produção da comunidade jurídica do poder;
o Lex como emanada do poder dos órgãos políticos de Roma
(primeiro dos comitia, depois dos senatusconsulta, depois da
oratio princeps, termina com as Constituições Imperiais) – vincula
os cidadãos em função da identidade que aprova a lex; ela não é
apenas produto dos comitia centuriata, é também o produto dos
comitia plebis (plebiscito - lex Publilia Philonis aplica-o a todos); é
produto do Senado quando este passa a ter poder legislativo e
não só poder consultivo;
❖ Oratio princeps é a materialização do ius novum, as Constituições
Imperiais são lex, vão ser A LEX a partir de Diocleciano;
❖ Edictum perpetuum de Adriano - morte anunciada do ius praetorium;
❖ Ius gentium com ius naturale
o Ius naturale - dos mais complicados de definir, encontra-se no
Digesto:
▪ Ulpiano diz que é Direito comum a todos os animais racionais
e irracionais, ou seja, é lei da natureza que se impunha a
todos os animais (matam para comer, reproduzem-se, etc);
▪ Gaio diz que é Direito da Natureza que se aplica às relações
entre os Homens, retira o conceito de animais irracionais e
aplica-o apenas a Direito humano
▪ A partir da era cristã: patrística – corrente dos padres da
Igreja:
• Santo Agostinho
• Santo Anselmo
• Santo Ambrósio
• Santo Isidoro de Sevilha
• São Tomás de Aquino
o Na construção destes autores, o Direito natural
vai ser trabalhado como Direito inerente à
condição humana, comum a todos os Homens.
▪ O Direito natural é Direito das gentes – o Direito natural não
é de condição humana, é decorrente à condição do Homem.
(?)
Estrutura da frequência:
Três grupos:
1) Definição de conceitos (por ex.: distinção de conceitos semelhantes);
2) Questões de relacionar ou de responder (matéria, conceitos, ou épocas)
ou evolução do instituto jurídico (3 questões, para fazer 2);
3) Questão de desenvolvimento – texto do Digesto (jurisprudência)
Pode sair binómio (!)
Evolução da jurisprudência:
O papel do jurisprudente surge na monarquia – sacerdotes pontífices (diálogo
sobrenatural com os deuses).
A jurisprudência vai ter diversas etapas de laicização/racionalização – evolução
da jurisprudência e a sua independência em relação ao sobrenatural.
República – papel do jurisprudente: importância enquanto criadores de
um direito que vai ser aplicado por outros; enquanto inspiradores de um direito,
assistentes das partes, livres pensadores; são pessoas que se dedicavam a
pensar de forma livre, sem qualquer relação com o cursus honorum, sem relação
com o poder político e público de Roma.
Não eram magistraturas; no entanto, o jurisprudente pode concorrer a
magistrados, deixa de ser jurisprudente se entrar numa magistratura, porque
vincula os cidadãos de forma mandatória.
O jurisprudente vincula através da auctoritas.
Temos em Roma os que constroem o direito (com auctoritas) e os que criam o
direito com imperium.
Os comitia têm poder legislativo; o pretor tem um papel importante no seu
tribunal.
O ius publice respondendi confere segurança ao poder político.
Ao seguir a opinião de um jurisprudente, está-se a seguir a opinião do
próprio princeps, pois foi este que indicou a opinião do jurisprudente como a
mais correta e a que deve ser obrigatoriamente seguida. Ao fazê-lo, está a
controlar a livre opinião jurídica.
Os advogados existiam também em Roma. Eram contratados para defender uma
das partes.

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