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1º Ano 2º Semestre
Cristiana Toscano
Direito
Aula nº1
Tema 1: Separação de Poderes
É importante incidir sobre o modo como os órgãos de soberania são eleitos e demitidos; qual o
controlo que lhes compete exercer e sobre que matérias incidem os mecanismos de controlo do
poder.
Não é somente através da análise da prática no domínio da política que se define um sistema de
governo, é pela análise da Constituição de um determinado Ordenamento Jurídico que é possível
identificar o sistema vigente nesse mesmo país.
Responsabilidade política: define-se como sendo o poder que o Parlamento detém para fiscalizar
e destituir, se necessário, o Governo.
Em certas circunstâncias o Parlamento pode destituir o Governo, uma vez que este é politicamente
responsável perante o órgão parlamentar, isto é, o Governo é obrigado a responder pelos seus
atos perante o Parlamento.
Quanto maior a legitimidade de um determinado órgão, mais amplos serão os poderes sobre os
quais este vai ter controlo.
Há países nos quais os chefes de Estado não são diretamente eleitos, logo, não têm legitimidade
direta. Esta menor legitimidade do chefe de Estado traduz-se num poder mais apagado do
Presidente no sistema de governo que este representa. P.e. Itália, Espanha, Alemanha e Reino
Unido são países onde os chefes de Estado têm um papel mais apagado.
Exemplo: A rainha do Reino Unido apenas dá seguimento às decisões tomadas pelo Governo.
Neste caso, ninguém vota para eleger o Governo, elegendo assim apenas os deputados do
Parlamento que depois servirão para formar o GV.
É para tal, necessária aprovação do Parlamento face ao programa do Governo, caso contrário este
não tem legitimidade para exercer as suas funções. Concluindo, o GV precisa de apoio da maioria
parlamentar para manter as suas funções.
✓ Oposições parlamentares;
✓ Formação de coligações entre partidos com opções políticas antagónicas;
✓ Causa instabilidade política.
Principais caraterísticas:
❖ Se a maioria do Parlamento não apoiar o GV o mais provável é, mais tarde, este acabar
por ser demitido, logo, não há possibilidade de criar um Governo estável.
❖ Isto resulta, como já foi referido, da existência de inúmeras divisões parlamentares com
opções políticas distintas.
✓ Na Constituição Alemã está definido que um partido não entra no Parlamento se tiver
menos de 5% dos votos a nível nacional. Os membros desse partido são então
distribuídos por outros partidos.
✓ Na Grécia, o partido que ganha as eleições, mesmo sem maioria absoluta, recebe
automaticamente 40 deputados.
✓ Em Itália, o partido pode ser vencedor também sem atingir a maioria absoluta. São
conferidos meios para que seja possível formar Governo, através da atribuição de
deputados.
Com a aplicação deste método, em Espanha nunca se verificou a ocorrência de uma moção de
censura construtiva, tendo, por sua vez, ocorrido uma única vez na Alemanha.
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No Reino Unido, o próprio sistema eleitoral fomenta a existência de dois grandes partidos – o
Partido Conservador e o Partido Trabalhista -, e está divido em pequenos círculos eleitorais. O
Partido que vencer num determinado círculo, é eleito e segue para o Parlamento. Este modelo
favorece os grandes partidos (sistema bipartidário).
Porém, em Portugal o sistema de cariz parlamentar não é possível: os partidos com menor
influência não seriam eleitos, neste caso o Bloco de Esquerda, o Partido Comunista Português e
o PAN. Neste quadro, o Parlamento sofreria alterações profundas no que toca à sua integridade.
Num sistema bipartidário, o PS e o PSD seriam os dois grandes partidos na disputa pelo poder:
nesta situação, o Parlamento deixaria de espelhar a sociedade portuguesa, deformando assim as
opções políticas da população.
A possibilidade do Chefe de Estado pedir que o Parlamento seja dissolvido e convocar novas
eleições posteriormente; o Governo tem poder legitimado para dissolver o Parlamento.
❖ No Parlamento;
❖ No Governo.
Apesar dos EUA se apresentarem formalmente como tendo um sistema de eleições indiretas, na
prática isto não acontece (as eleições no fundo são feitas diretamente).
O Chefe de Estado tem uma legitimidade fortemente reconhecida devido ao facto de, na prática,
ser eleito diretamente. Nos EUA existem dois grandes partidos: o Republicano e o Democrata.
Quando são eleitos os deputados, à partida já se sabe em que candidato é que esses
representantes vão votar.
Cada Estado dos EUA elege um conjunto de delegados da Assembleia que, por sua vez, irão eleger
o Presidente (Chefe de Estado). É possível que um Chefe de Estado seja eleito com um total de
menos votos do que o candidato oposto. É o Partido que detém legitimidade para eleger o
Presidente.
Notas:
Como já vimos, o Chefe de Estado tem um poder significativo no que toca aos sistemas de
carácter presidencialista. Porém, existem outras caraterísticas que distinguem o presidencialismo
dos outros sistemas de governo:
❖ Não tem que haver um alinhamento entre o Governo e o Parlamento porque os membros
do Governo são nomeados pelo Chefe de Estado.
❖ Quando se elegem os deputados do Parlamento, o Governo não é afetado.
❖ O Governo resulta da escolha do Chefe de Estado porque o Presidente desempenha o
cargo de Chefe de Estado e de Governo, simultaneamente.
As duas câmaras do Congresso nada têm a ver com o Governo; são independentes face ao
Governo.
No sistema presidencialista, o problema não incide sobre a instabilidade política. Logo, não há
risco de o Governo ser demitido pelo Parlamento porque não é politicamente responsável perante
o órgão parlamentar. Porém, o Governo é politicamente responsável perante o Chefe de Estado.
P.e. A questão da legislação sobre a posse de armas nos EUA; Pretensão de Barack Obama não
coincidia com as decisões do Congresso.
Nota: Os partidos dos EUA não têm o mesmo peso que os partidos da Europa.
Neste âmbito, estabeleceu-se uma regra que procurava evitar os bloqueios do sistema:
Nota: Os deputados votam muitas vezes contra os seus próprios partidos, tendo em conta os
interesses do Estado em que residem.
Aula nº2
No que toca ao modelo parlamentar, o Parlamento é o órgão fulcral do sistema de governo tendo,
por isso, o Chefe de Estado um papel secundário no poder.
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Este sistema carateriza-se por se encontrar entre o sistema parlamentar e o sistema presidencial.
Assim, podemos dizer que o semipresidencialismo se cruza tanto com o parlamentarismo como
com o presidencialismo.
Exemplo: Portugal
Papel do Chefe de Estado Sim
Responsabilidade política do GV perante o Sim
Parlamento
O semipresidencialismo adota um sistema de governo que tem como principais objetivos:
Como exemplo temos a 1ª República portuguesa que apesar de ter sido fortemente criticada
serviu de base para algumas particularidades do semipresidencialismo português.
Neste sistema de governo, o Chefe de Estado é eleito diretamente pelos cidadãos. Esta opção
adotada pelo constitucionalismo português teve como base os acontecimentos que se verificaram
nas eleições de 1958 quando Humberto Delgado se candidatou enquanto representante da
oposição.
Exemplo: Governo minoritário de Cavaco Silva (líder do PSD desde 1985) seguido de dois
governos maioritários. Em 1996, Cavaco Silva não se candidata às eleições legislativas, mas
sim às eleições presidenciais, perdendo contra Jorge Sampaio (1996-2006). Neste contexto,
os candidatos a líderes do PSD foram João Barroso, Santana Lopes e Fernando Nogueira (este
último vence contra os dois candidatos opostos) que disputam as eleições legislativas contra
o líder do PS, António Guterres que vence à oposição do PSD.
Num cenário alternativo: Se Cavaco Silva fosse eleito para Presidente da República e
Fernando Nogueira ascende-se ao cargo de 1º ministro criava-se um cenário de inferioridade
e dependência do 1º ministro face ao PR, uma vez que ambos pertenceram ao mesmo partido,
o PSD.
A partir do artigo 108º que marca a III parte da Constituição portuguesa, encontramos as
normas que incidem sobre a organização do poder político. Os órgãos de soberania
legitimamente reconhecidos são então os seguintes (Artigo 110º, CRP):
a) A Assembleia da República.
b) O Governo.
c) O Presidente da República.
d) Os tribunais.
1. O princípio democrático.
2. O princípio do Estado de Direito.
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Notar que podemos estar perante um Estado democrático, que elege o poder através do
voto, e não ter um Estado de Direito assegurado, no caso de não haverem regras que
estabeleçam a ordem.
No entanto, existem órgãos constitucionais que não são órgãos soberanos, como por
exemplo:
Exemplo: Governo de Passos Coelho nomeado pelo Presidente (coligação entre PSD e CDS).
No caso de o Presidente ter poder para demitir o GV, havia instabilidade política:
Com a revisão constitucional de 1982, o Presidente deixa de ter poder para demitir o Governo
devido à simples e mera discordância política.
Como tanto o Presidente como a Assembleia são órgãos democraticamente eleitos, não faz
sentido haver moção de censura construtiva em Portugal uma vez que o PR detém legitimidade
democrática direta.
1. A Assembleia da República; e
2. O Presidente da República (considerava-se que tudo o que o GV tomasse como medidas
tinha a aprovação do PR).
❖ Esta situação gerava confrontos entre os diferentes órgãos de soberania e como tal,
foram introduzidas medidas com o fim de evitar instabilidade política.
❖ O Governo tornou-se apenas institucionalmente responsável perante o Presidente
(medida que funciona como válvula de segurança do sistema). Deixou de ser
politicamente responsável perante o PR, mantendo apenas essa responsabilidade
face à Assembleia da República.
❖ No caso de o Presidente proceder à demissão do Governo, terá que nomear novos
membros para ocuparem esse lugar.
Exemplos:
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Neste sistema verificamos que existe uma relação bilateral entre dois centros de poder, sendo
estes:
Nestas circunstâncias o que acontece muitas das vezes é que entre estes dois órgãos
políticos dá-se um certo confronto de ideologias.
P.e. Governo do Partido Socialista minoritário (de António Guterres) cuja oposição era
composta por partidos com ideologias opostas que, no entanto, não apresentaram
nenhuma oposição formal (não procederam à votação no Parlamento embora todos se
opusessem ao programa de Guterres).
Aula nº3
Análise dos poderes do PR relativamente aos outros órgãos de soberania
O PR detém o poder de dissolver a Assembleia (órgão eleito democraticamente pelo povo), logo,
não faria sentido se não pudesse também demitir o GV nos respetivos casos expostos na lei.
Verificamos que existe uma exceção no que toca à demissão do Governo pelo PR no artigo 195º
nº2 da Constituição da República.
Artigo 190º CRP: ser responsável significa prestar contas a esses órgãos e correr o risco de ser
demitido pelos restantes órgãos de soberania. Não afirma que o GV é politicamente responsável
perante o PR.
Artigo 191º CRP: distinção de responsabilidade política apenas induzida entre o Governo e a
Assembleia.
1. Se houver eleições legislativas, nos primeiros 6 meses estas não podem ser dissolvidas.
2. O PR no último semestre do seu mandato não pode dissolver a Assembleia da República.
Porquê?
✓ Para evitar que o PR, no fim do seu mandato, possa querer alinhar as
eleições presidenciais com as legislativas. A Constituição portuguesa
evita que as eleições legislativas e presidenciais decorram
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Exemplo: Há 2 anos atrás quando houve eleições legislativas, os primeiros 6 meses do Parlamento
coincidiram com os últimos 6 meses do mandado do PR, levando a uma espécie de dupla
proibição de dissolução parlamentar.
Há um conjunto de poderes que não têm sanção, como p.e. a dissolução do Parlamento. O PR
deverá somente dissolver a Assembleia da República se entender que esta não está a
desempenhar as suas funções de forma correta e deliberada.
Mandatos mais longos provocam um afastamento na relação entre os eleitores e os eleitos: existe
uma menor ligação ao corpo eleito.
1. Poder de promulgar ou vetar os atos legislativos. O PR não tem poder legislativo, porém,
os atos legislativos têm, necessariamente, que passar pelas mãos do Presidente. Como se
justifica este poder?
✓ O poder de promulgar ou vetar as leis deriva do facto do PR ser eleito
democraticamente pela via direta, conferindo-lhe assim uma grande
legitimidade política.
✓ O veto é absoluto. O PR com mais legitimidade do que o GV leva à
situação de veto absoluto no qual a lei retorna ao GV e este é obrigado
a alterar a proposta de lei.
✓ O equilíbrio entre os dois órgãos legitimados democraticamente como
o PR e a Assembleia da República dá-se pela análise diferente do poder
de veto. Havendo divergência de opiniões entre o PR e a AR, o
Presidente pode vetar a lei, mas se esta retornar à AR e a votação se
manter igual, o Presidente é obrigado a promulgá-la porque o
Parlamento é um órgão com grande legitimidade política.
✓ Maioria especializada ou absoluta: Qual a distinção? Há leis que têm
que ser aprovadas pela maioria absoluta.
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Pactos MFA-Partidos: definiam que o 1º Presidente da República deveria ser militar (António de
Spínola); os lideres dos partidos focavam-se no desempenho do cargo de 1º ministro.
1. Os deputados são eleitos por círculos eleitorais. O país está dividido em círculos eleitorais,
tendo cada círculo que eleger mais do que 1 deputado de acordo com a população
residente (círculos plurinominais). O modelo dos círculos desaproveita os votos.
❖ Artigo 152º nº2 CRP
Método de Hondt
Artigo 149º CRP: Permite a existência de círculos uninominais e plurinominais, embora ainda não
existam círculos uninominais. No Reino Unido só existem círculos uninominais, contrariamente ao
sistema português.
Artigo 148º CRP: mínimo 180 deputados; máximo 230 deputados da Assembleia da República.
Quórum: saber quantos deputados têm que estar numa sala para proceder a uma votação; só é
necessário para a votação; têm que estar pelo menos 116 deputados presentes para poder haver
votação. Os deputados devem dirigir-se para o plenário. (Artigo 116º nº2 CRP) As deliberações
prendem-se com a respetiva votação feita na Assembleia da República.
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A maioria necessária para aprovar uma votação é distinta do quórum. Para votar é necessário que
116 deputados estejam presentes, no entanto, a maioria não é medida da mesma forma.
- Votos contra versus votos a favor (s/contar com as abstenções) designa-se por maioria simples.
As eleições para a Assembleia Constituinte foram uma espécie de experiência para a elaboração
das eleições legislativas para a Assembleia da República. Nenhum partido ganhou as eleições para
a Assembleia Constituinte com maioria estável.
As eleições para a Assembleia Constituinte simbolizaram uma antecipação do que poderia vir a
ser o sistema político português: se os deputados da Assembleia Constituinte incluíssem na
Constituição uma norma típica parlamentar a dizer que o Governo tem que ver o seu programa
aprovado no Parlamento para manter as suas funções políticas, iria causar problemas futuros.
Em Portugal:
Para que o programa do Governo seja rejeitado, têm que estar contra esse programa a maioria
dos deputados (116 deputados segundo o sistema de governo português).
a) Apresentação;
b) Apreciação;
c) Aprovação/Rejeição por maioria.
Aula nº4
Apesar de existirem três modos da Assembleia da República fazer cessar as funções do
Governo, a Constituição portuguesa estabelece meios de proteção dos governos minoritários
de modo a evitar que um governo minoritário fosse incapaz de governar.
Porque é que se apresentam moção de censura, sabendo à partida que esta não será aprovada?
P.e. A moção de censura apresentada pelo CDS ao Governo atual tendo conhecimento prévio de
que esta não iria ser aprovada.
Outro exemplo: Moção de censura aprovada para derrubar o GV de Cavaco Silva (PSD) em 1986;
as eleições foram bastante controversas. Porquê? Porque se formou um novo partido – o PRD é
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formado no tempo em que Ramalho Eanes ainda era Presidente, que curiosamente era o principal
apoiante deste novo partido. Este partido surge num período de crise política, tendo resultados
eleitorais muito favoráveis. Ramalho Eanes não se interessava pelo governo do PS apoiado pelo
PRD de modo a que quando este pudesse ser líder do PRD tivesse a hipótese de ascender ao
cargo de 1º Ministro (uma vez que o PS estaria enfraquecido). Neste quadro, Mário Soares é eleito
como Presidente e não apoia o partido de Ramalho Eanes: dissolve o parlamento e convoca novas
eleições que levaram ao retorno do PSD ao poder.
Governo em gestão: nesta circunstância o GV só pode tomar medidas necessárias, não podendo
efetuar decisões extraordinárias.
Competência legislativa:
Artigo 171º nº2 CRP: A Constituição define que quando há uma eleição legislativa a meio de uma
sessão legislativa, a esta sessão acresce o tempo que já decorreu durante a sessão legislativa que
estava em curso.
Artigo 127º CRP: o Presidente toma posse perante a Assembleia da República, mas não é
politicamente responsável perante o Parlamento. Estes órgãos não conferem legitimidade um ao
outro.
Regiões Autónomas
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Nas regiões autónomas, para além de haverem votações para o Presidente da República,
Assembleia da República e respetivas autarquias, há também votações para a Assembleia
Legislativa Regional (com um modelo semelhante ao da eleição da AR; sendo o Governo Regional
escolhido segundo os resultados eleitorais regionais).
Artigo 230º CRP: Representante da República eleito e demitido pelo Presidente da República.
Aula nº5
Análise da organização do poder legislativo
No âmbito nacional:
a) À Assembleia da República;
b) Ao Governo (equiparado ao poder da AR);
c) À Assembleia Regional.
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O Governo detém uma maior capacidade técnica a nível legislativo. Como explicar esta
tendência? Ora, cada vez mais os atos legislativos apresentam uma componente técnica
acentuada e, tendo em conta a diversidade dos ministérios do Governo, é normal que este seja o
órgão que mais compreende determinadas matérias. O Governo tem, por isso, acesso a recursos
que a Assembleia não dispõe a seu favor. Para além de que quando o Governo legisla, não procura
estabelecer acordos entre os deputados de diferentes partidos, cujas matérias não conhecem e
em muitos dos casos até divergem.
Poder legislativo do Governo explica-se devido a alguns fatores, para além dos referidos acima,
tais como:
✓ As leis feitas no Parlamento têm uma maior abertura. É mais difícil conseguir uma lei
homogénea no Parlamento do que no Governo porque nem sempre os deputados
chegam a um acordo/consenso.
✓ A qualidade técnica dos atos legislativos do Governo é superior face aos atos legislativos
provenientes da Assembleia da República.
❖ É a constituição que define quais as matérias que estão reservadas tanto ao Governo
como à Assembleia, ou até o conjunto de matérias que não são exclusivas de nenhum
destes dois órgãos – as matérias de domínio concorrencial.
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Existe um conjunto de matérias que, pela sua relevância, devem estar reservadas à Assembleia da
República. Não é possível haver um decreto-lei (atos legislativos aprovados pelo Governo) sobre
uma matéria que compete exclusivamente à Assembleia, sob a pena de esse decreto ser declarado
como inconstitucional.
Nota: Os atos legislativos aprovados pela AR designam-se leis, enquanto os atos legislativos
aprovados pelo GV designam-se decretos-lei.
❖ A Assembleia aprova uma lei sobre uma determinada matéria que lhe está
exclusivamente reservada (lei).
❖ O Governo não pode legislar, sob pena de serem inconstitucionais os decretos
legislados que dele provém, nesta circunstância.
Domínio reservado:
Domínio autorizado:
Domínio concorrencial:
Todas as matérias sobre as quais seja necessário aprovar legislação que não se enquadram nas
circunstâncias apresentadas acima (matérias e domínios reservados ou relativos) representam a
maior parte da produção legislativa. Para estas matérias, tanto o Governo como a Assembleia têm
competência para legislar uma vez que a Constituição não define quem deve legislar. A isto
chamamos domínio concorrencial. A constituição não tipifica quem deve legislar sobre estas
matérias.
❖ Devido ao apoio parlamentar da maioria face Governo, existe um certo consenso no que
toca às matérias de domínio concorrencial. Mesmo no caso de governos minoritários não
fará sentido que o Governo legisle ignorando se a maioria do parlamento concorda com
os seus decretos-lei.
❖ Assim, estes dois órgãos estabelecem relações de interdependência entre si que
permitem que haja uma harmonização legislativa no domínio concorrencial.
Nota: Uma lei do domínio concorrencial pode ser alterada por um decreto-lei do Governo uma
vez que sobre essas matérias podem tanto legislar a Assembleia ou o Governo, correndo sempre
o risco de que o outro órgão de soberania legisle num sentido oposto.
Nota: Criar aquilo que seria uma lei é ter a iniciativa legislativa que poderá ou não ser aprovada.
As Assembleias Regionais só têm iniciativa legislativa se as leis tiverem uma relevância especial
na sua região (Artigo 167º, CRP), logo, não têm iniciativa sobre todas as matérias.
✓ O Governo não pode legislar sobre uma matéria de reserva absoluta da Assembleia, mas
pode ter iniciativa legislativa dessa matéria. A única coisa que o Governo pode fazer
acerca de uma matéria absoluta da Assembleia é apresentar uma proposta de lei (ter
iniciativa legislativa). A Assembleia discute, altera e aprova a proposta de lei do Governo,
tornando essa proposta numa lei.
a) Assembleia da República;
b) Governo.
O Governo pode tomar iniciativa legislativa sobre matérias de reserva absoluta ou relativa da AR.
Artigo 164º, CRP Reserva absoluta de competência legislativa (é uma lei sobre estas matérias e
não um decreto-lei).
Alínea c) Artigo 164º altera a lei do tribunal constitucional (tem que ser aprovada pela AR); lei
que vem alterar outras normas.
Artigo 293º, CRP: O legislador constitucional estipula que os bens que tinham sido
nacionalizados após o 25 de abril poderiam ser reprivatizados, mas segundo algumas
regras. A Assembleia devia aprovar uma lei com as regras que determinassem as
respetivas condições das reprivatizações.
✓ O prazo começa a contar a partir do momento em que a lei entra em vigor. Entre o
momento que o Governo acaba o seu trabalho e o tempo que o decreto é efetivamente
promulgado há um período que não é da responsabilidade do Governo, logo, não conta
como fazendo parte do prazo da autorização.
✓ O Governo deve terminar o seu trabalho dentro do prazo estipulado, sendo os
procedimentos seguintes não da responsabilidade do Governo, mas sim da Presidência
da República que promulga os decretos.
✓ A data da aprovação no Conselho de Ministros não é o marco que define se o Governo
cumpriu ou não o seu prazo. Para saber se o prazo foi efetivamente cumprido devemos
ter em conta a data em que o Governo entrega o decreto-lei perante o Presidente da
República. O prazo relevante é o prazo relativo à entrada do decreto na Presidência da
República.
As autorizações legislativas (nº3) não podem ser utilizadas mais do que uma vez, sem prejuízo
da sua execução parcelada. O que significa isto?
✓ Muitas vezes, o Governo quando toma a iniciativa para uma proposta de lei, (tendo
seguidamente a Assembleia que aprovar a autorização de lei e delegar o poder de legislar
sobre a matéria para o Governo) este prepara a proposta de lei em conjunto com o
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Segundo o nº4, as autorizações legislativas não são puramente objetivas, tendo que haver uma
relação entre os deputados que estão no momento na Assembleia com os respetivos membros
do Governo. A autorização legislativa está vinculada à relação entre aquela Assembleia e o
Governo em funções nesse mesmo período. Se, entretanto, o Governo se demitir e dentro desse
prazo, um novo Governo tentar aproveitar a autorização legislativa não irá conseguir. O mesmo
acontece no cenário contrário, caso a Assembleia da República seja dissolvida.
As autorizações incluídas na lei do Orçamento; podem ter incluídas uma autorização legislativa
ao Governo sobre matéria fiscal (nesse caso a autorização legislativa dura todo o ano, mesmo que
durante esse ano o Governo mude ou se altere a Assembleia vigente. É independente das
vicissitudes que se dão nos órgãos legislativos.
Requisitos da exceção:
Aula nº6
A aprovação de leis pela Assembleia da República divide-se por cinco etapas, são estas:
1. Discussão na generalidade. Significa isto que uma lei antes de ser votada tem
que ser discutida. O projeto ou a proposta de lei é apresentada por aquele que
teve iniciativa legislativa. Não é preciso haver quórum no Parlamento durante a
fase da discussão. Nesta etapa não existe deliberação, logo, não é necessário o
quórum (Quórum deliberativo; Artigo 116º nº2, CRP).
Ex. Apreciação do programa do Governo não exige votação, ao contrário
da aprovação de leis, que se faz obrigatoriamente acompanhar de
votação.
2. Votação na generalidade com base no projeto ou proposta de lei. Não se analisa
concretamente os termos da proposta de lei. Se não for aprovada a proposta ou
o projeto de lei nesta etapa, não se continua a análise da mesma. Estas duas
etapas são obrigatoriamente feitas no plenário. Nesta fase, é preciso verificar se
existe quórum uma vez que só se estiverem presentes a maioria dos deputados
poderá proceder-se à votação.
Qual a maioria necessária para aprovar a lei na generalidade? Regra
geral, as leis são aprovadas por maioria simples (se houver mais votos a
favor do que contra). As abstenções não contam para o apuramento da
maioria. (Artigo 116º nº3, CRP)
3. Discussão na especialidade. Não é preciso haver quórum. Regra geral, estas
etapas deveriam ser realizadas, tal como as anteriores, no plenário. Não é prático
ter a maioria dos deputados a discutir pormenores no plenário, sendo que alguns
deles não são sequer especialistas na matéria em debate. É possível que o
plenário delibere que a discussão e votação na especialidade se realizem na
comissão especializada sobre essa matéria. O plenário pode não autorizar que as
etapas especializadas sejam efetuadas na comissão ou poderá até fazer retornar
a si temas que tiveram a anterior autorização para serem deliberados e votados
na comissão. Os trabalhos da comissão têm naturalmente menos visibilidade do
que os trabalhos do parlamento. A discussão na especialidade representa a fase
onde são sugeridas alterações à proposta ou projeto de lei.
4. Votação na especialidade. É necessário haver quórum. Se estivermos na
comissão, o quórum representa a maioria dos membros pertencentes a essa
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5. Votação final global. Não está prevista na Constituição uma etapa de discussão
final global, apenas de votação final. Representa uma repetição da votação da
generalidade, porque o projeto votado durante a etapa da generalidade poderá
ter sido alterado na especialidade. Serve para legitimar o diploma - para que o
plenário aprove a lei e esta proceda para a sua promulgação. Serve para que
todos os deputados tomem conhecimento da versão final do diploma. Aqui não
se discute o diploma, apenas o apresentam e votam ou a favor ou contra a sua
aprovação. Esta etapa é feita no plenário, tem que haver quórum e é
contabilizada por maioria simples (não excluindo os casos em que a Constituição
impõe a maioria qualificada).
a) Uma proposta ou projeto de lei, se incidir sobre determinadas matérias, terá que ser
obrigatoriamente votada na especialidade no plenário. Não há uma coincidência entre as
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matérias de lei orgânica e as matérias que têm que ser aprovadas na especialidade em
plenário.
b) As leis orgânicas, na votação por generalidade e especialidade podem ser aprovadas por
maioria simples, mas na votação final têm que ser aprovadas por maioria absoluta. O que
significa ser aprovado por maioria absoluta? Não basta apenas haver mais votos a favor
do que contra, é necessário que haja 116 ou mais votos a favor (independentemente de
quem vota contra ou se abstém).
Artigo 293º, CRP: Matéria sujeita a maioria absoluta; neste caso, toda a votação está
sujeita à maioria absoluta. Implicitamente, a votação terá que ser discutida e votada
na especialidade do plenário, uma vez que tem que ser discutida e votada pelos
deputados em efetividade de funções.
Leis orgânicas
❖ Artigo 166º nº2, CRP: Matérias classificadas como leis orgânicas. O artigo 166º trata
de matérias sobre as quais deve ser aplicada a maioria absoluta.
As leis orgânicas detêm um estatuto especial (o conceito de leis orgânicas devia ser eliminado).
As leis orgânicas surgem durante segundo Governo maioritário de Cavaco Silva (1989) – PSD –,
representando um momento de estabilidade política. A situação de apoio da maioria face ao PSD
era vista como possível potenciadora de abusos de poder, considerando que o Parlamento estava
sob domínio do PSD. Como o apoio da maioria parlamentar não era vulgar, a sociedade via tal
situação de forma negativa. Quando surge a segunda revisão constitucional, os partidos começam
a perceber que não iriam ter poder suficiente para legislar. Por sua vez, o PSD queria reprivatizar
as empresas, mas era necessária uma maioria de 2/3 para que fosse possível eliminar a norma
que tornava as nacionalizações do 25 de abril irreversíveis. O PSD necessitava do apoio do PS
para proceder com as reprivatizações.
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Assim, propõe-se que se introduzam um novo tipo de leis na Constituição – as leis orgânicas –
que foram designadas como leis “para-constitucionais”. Estas leis necessitariam da aprovação de
dois terços dos deputados sobre determinadas matérias.
✓ Exigir mais do que a maioria absoluta é permitir que o partido minoritário tenha um
direito de veto sobre a legislação da matéria em questão (maioria qualificada de dois
terços dos deputados em efetividade de funções). Corresponde a uma espécie de
bloqueio face ao poder da maioria.
✓ As leis para-constitucionais foram introduzidas na Constituição com a designação de «leis
orgânicas». Assim, detêm um regime especial, dotado de especificidades ao nível da
aprovação, da superação do veto do PR, da fiscalização preventiva da constitucionalidade
e até da numeração das leis (Uma lei orgânica não segue ordenação das leis comuns).
Detém um regime especial.
Em revisões posteriores passam a introduzir-se regimes especiais para determinadas leis que
não se classificavam como leis orgânicas. Segundo a opinião do professor, devem existir leis
com um regime geral e leis com um regime especial; não faz sentido haverem leis orgânicas
e leis especiais, simultaneamente.
Aula nº7
Competência legislativa do Governo
1) Política (não são exercidas através de forma legislativa); Art.197º não atua do ponto de
vista legislativo, logo, não aprova decretos-lei;
2) Legislativa (três tipos de competências legislativas, todas elas assumindo a forma de
decreto lei: alíneas a); b) e c));
a) Domínio concorrencial: É semelhante à alínea c) do artigo 161º; prevê o
domínio concorrencial; tanto pode legislar a AR como pode legislar o GV.
Nesse caso os decretos-lei podem ser substituídos por leis e vice-versa.
Alínea a) é para legislar sobre matérias que não estão sob o domínio da AR.
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Quem é que tem competência para desenvolver as bases de uma determinada matéria após
termos as leis de bases ou decreto sobre as leis de base?
❖ Há duas matérias reservadas ao governo e não apenas uma: Artigo 198º nº2 e o Artigo
198º alínea c).
❖ Será que a Assembleia da República não pode legislar sobre o desenvolvimento das
bases?
✓ Alínea c) Artigo 161º, CRP: “salvo as reservadas pela Constituição ao
Governo”; logo, há efetivamente duas matérias reservadas ao Governo tal
como foi referido acima.
➢ O nº2 é semelhante à situação de reserva absoluta da AR, mas para o Governo. O Governo
tem a sua exclusiva competência legislativa sobre a matéria que incide sobre o modo
como este órgão se organiza a si próprio. Cabe ao Governo o seu autorregulamento
interno; O primeiro decreto-lei aprovado pelo GV incide sobre a organização (lei orgânica
do Governo). O que significa isto? É na verdade um decreto-lei que nada tem a ver com
as leis orgânicas enquanto conjunto de leis de reserva absoluta da AR. Esta expressão é
usada para definir um ato legislativo (para se distinguir do regulamento e da Constituição)
/ato da função legislativa. Como orgânica definimos o modo de organização do Governo.
No nº2 o Governo só está condicionado pela Constituição.
3) Administrativa.
Leis reforçadas:
a. Domínio constitucional.
b. Domínio legislativo (todas têm que respeitar a Constituição).
c. Domínio administrativo (todas têm que respeitar a Constituição e as normas
legislativas).
É necessário saber que normas se inserem nos diferentes domínios; todas as normas que
estão incluídas dentro da constituição têm a mesma força e valor constitucional. Todo o
processo de organização normativo depende do legislador; é o legislador que decide a
fronteira entre os diferentes domínios. As normas constitucionais não podem ser
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alteradas por leis infraconstitucionais; o seu valor não pode ser questionado por normas
de domínio legal.
❖ Artigo 112º, CRP: atos legislativos. As leis e os decretos-leis têm o mesmo valor
(regra-geral nº2); valor de ato legislativo.
✓ Exceções ao regime-regra: As leis de autorização legislativa e os
decretos-leis autorizados não têm o mesmo valor. O decreto-lei
autorizado para além de ter que respeitar a Constituição, está também
subordinado à lei de autorização legislativa sob pena de se tornar ilegal.
Temos então a possibilidade de estar perante leis inconstitucionais e
ilegais, quando se dá a violação das leis de autorização legislativa
relativamente aos decretos-leis autorizados. Outro exemplo, os
decretos-leis que desenvolvem as bases não têm força legislativa para
alterar as bases definidas anteriormente. Existe uma subordinação dos
decretos-leis de desenvolvimento de bases às bases gerais definidas por
lei.
✓ Revisão de 1989: surgimento das leis orgânicas (aristocracia de leis
estabelecida). Incidem sobre matérias mais relevantes e como tal devem
ser aprovadas por maioria absoluta. Consagrava-se a superioridade das
leis orgânicas com a designação de leis de valor reforçado. A ideia de
superioridade atribuída às leis orgânicas entra em conflito com a
existência de uma relação de subordinação entre as leis de autorização
legislativa com os decretos-leis autorizados e as leis de base com os
decretos desenvolvimento das bases (valor reforçado). Ora, as leis
orgânicas e as leis reforçadas que existiam previamente não têm
semelhanças nenhumas (não seguem especificidades procedimentais
iguais). A superioridade entre as leis de autorização e os decretos
autorizados/ as leis base e os decretos de desenvolvimento só existe
entre si. No entanto, as leis orgânicas têm uma superioridade que advém
do reforço procedimental e não do reforço a nível do conteúdo como
acontece com as leis de autorização e as leis de base face aos decretos
leis autorizados e de desenvolvimento de bases; respetivamente.
✓ Artigo 112º nº3, CRP: devia estabelecer um critério e não um conjunto
de exemplos acerca das leis de valor reforçado.
Como solucionar este problema?
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Leis paramétricas: são leis que fixam parâmetros que devem que ser respeitados por outros atos
legislativos. Ex. Leis de autorização.
❖ São leis de valor reforçado as leis paramétricas face aos decretos-leis parametrizados.
Nova revisão constitucional vem uniformizar esta situação: Estabeleceram-se, para além dos
exemplos dispostos no Artigo 112º, dois critérios. Não se procedeu à eliminação do nº2 do Artigo
112º. Não se diz expressamente quais as leis que se enquadram no domínio das leis de valor
reforçado. As leis de valor reforçado deviam seguir dois critérios:
1. As leis que seguem um procedimento especial (As leis orgânicas não condicionam o
conteúdo de nenhuma outra lei; apenas seguem um procedimento distinto das outras).
2. As leis que estabelecem um conteúdo que condiciona o conteúdo de outras.
O nº3 do mesmo artigo quando refere o “pressuposto normativo necessário”, apresenta a lei de
autorização legislativa como um exemplo deste critério para definir as leis de valor reforçado; “ou
que por outras devam ser respeitadas” estabelece um outro critério que define como lei de valor
reforçado um outro exemplo – a lei de enquadramento orçamental (é uma lei paramétrica face à
lei do orçamento de Estado). Esta lei fixa as regras segundo as quais a lei do orçamento deve ser
feita.
❖ Artigo 164º alínea r): lei paramétrica. Não é um pressuposto normativo necessário da lei
parametrizada. Se for revogada, o procedimento para a lei do orçamento mantém-se
(deixa de estar vinculada à lei paramétrica).
❖ Artigo 161º alínea g): lei parametrizada. Tem que respeitar a lei de enquadramento do
orçamento.
As leis de valor reforçado a nível do conteúdo devem ser identificadas pela própria
constituição, mas para as leis de valor reforçado a nível procedimental não é necessário
identificar os exemplos que dispõe um valor reforçado.
Aula nº8
Leis de valor reforçado (Continuação)
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Isto é válido ou inválido? Depende. Será inválido se o decreto-lei violar os requisitos que se fazem
acompanhar da lei de autorização legislativa. No entanto, se a matéria do decreto-lei não for da
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Concluindo, quem determina quais são as leis de valor reforçado é a própria Constituição; o
legislador não tem poder para tal.
✓ Isto depende da matéria sobre a qual incidir a legislação; se a matéria das bases for de
domínio concorrencial, a Assembleia pode legislar sobre o desenvolvimento das leis de
bases. No caso de se tratar de domínio concorrencial, tanto o Governo como a Assembleia
da República podem desenvolver as leis de bases sobre a matéria em questão.
Só há leis de base ou leis orgânicas nas matérias que a Constituição determina; não é o
legislador que altera estas circunstâncias.
ouvir o Governo Regional. Embora o Presidente tenha vetado essa mesma lei,
foi obrigado a promulgá-la. Ora, isto representa um condicionamento ao
poder do Presidente da República.
Significa isto que o Estatuto em si não exige nenhuma maioria necessária, salvo o capítulo
que incide sobre as matérias de interesse especifico. Este capítulo tem que ser aprovado
(lei de reserva absoluta da Assembleia da República; alínea b) Artigo 161º) por maioria de
2/3 dos deputados.
Depende da matéria sobre a qual se incide a alteração. A Constituição exige maioria de 2/3 para
uma parte dos Estatutos (o capítulo de interesse específico).
❖ Artigo nº2 166º; artigo 161º alínea b) não é considerado lei orgânica, mas o Artigo 164º
alínea j) já o é. E ainda está sob o regime especial do Artigo 226º.
❖ Para alterar a lei eleitoral das Regiões Autónomas temos que congregar o regime do
Artigo 226º com o facto de na votação final global ser preciso maioria absoluta (lei
orgânica; regime especial).
Alínea a): As Assembleias Regionais podem apenas legislar no âmbito regional sobre as matérias
que estão especificamente identificadas nos Estatutos, desde que não interfiram com as matérias
de reserva absoluta e relativa da Assembleia da República ou do Governo. Ou seja, só podem
legislar sobre o domínio concorrencial nas matérias definidas nos Estatutos. Logo, não podem
legislar sobre qualquer matéria do domínio concorrencial. (Equiparada à alínea a) Artigo 198º;
Artigo 161º alínea c))
Alínea b) e c): não tratam do domínio concorrencial, não sendo relevante o que estabelecem os
Estatutos. Basta somente o que está expresso na Constituição. A competência da Assembleia
Regional é semelhante à alínea b) do artigo 168º; A Assembleia da República também pode
autorizar a Região Autónoma que irá apenas legislar sobre a sua área. Legisla sempre através de
um decreto-lei regional. A restrição diz que enquanto a Assembleia da República pode autorizar
qualquer alínea do Artigo 165º ao Governo; quando toca às Regiões Autónomas é somente
autorizada sobre algumas matérias do respetivo Artigo 165º.
Artigo 227º c) diz-nos que quando estamos perante uma lei de bases nos termos constitucionais
(prevista na reserva absoluta ou relativa da Assembleia da República; decreto-lei de bases
autorizado) o desenvolvimento da lei de bases pode ser feito pelo Governo Artigo198º b) mas
pode também a Assembleia Regional desenvolver a lei de bases. As leis de base são da
competência da Assembleia da República e o desenvolvimento das bases é da competência do
Governo ou das Assembleias Regionais.
O que pode acontecer é haver contradições entre os desenvolvimentos das leis de bases do
Governo para o país inteiro e o desenvolvimento das mesmas do lado das Assembleias Regionais
para as Regiões Autónomas. Ambos podem estar de acordo com os requisitos das leis de bases,
mas incompatíveis no desenvolvimento entre si.
Aula nº9
Nota: A AR apenas desenvolve as bases para as Regiões Autónomas, enquanto o Governo fá-lo
para todo o país.
✓ Não existe nenhum ato legislativo que não passe pelo Presidente para promulgação.
❖ Artigo 169º (congrega competência fiscalizadora e legisladora da
Assembleia da República): traduz-se pela competência da Assembleia da
República relativamente aos decretos-leis e aos decretos-legislativos
regionais.
❖ Especificidade da competência da Assembleia face aos decretos-leis:
corresponde à faculdade de apreciação que é feita a posteriori; os decretos-
lei não passam pelo domínio da Assembleia (só são por ela reconhecidos
quando publicados no Diário da República). Isto porque todo o
procedimento de elaboração dos decretos-leis é feito internamente no
Governo. Nas situações em que a maioria do Parlamento não está de acordo
com o decreto-lei apresentado pelo Governo (e a matéria incidir sobre o
domínio/competência concorrencial ou de reserva relativa; Artigo 198º nº1
c); nº2), a Assembleia detém poder para fazer cessar ou modificar o decreto-
lei. No entanto, no caso de se tratar de uma matéria de exclusiva
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Qual a finalidade do Artigo 169º, sendo que a Assembleia da República detém competência
para alterar ou fazer cessar um decreto-lei (da competência relativa do Governo ou do domínio
concorrencial)?
A Assembleia da República consegue fazer cessar o decreto-lei, pela aprovação de uma resolução
(não assume a forma de lei). A resolução, não tendo carácter legislativo, mas político, não tem
que ser promulgada pelo Presidente da República. Isto torna o processo de cessação do decreto
muito mais eficiente. Representa um exemplo do exercício simultâneo de fiscalização e legislação
do órgão legislativo.
Competência da Assembleia:
nº4 (efeitos para cessação da vigência do decreto-lei): Quando a Assembleia faz cessar a vigência
do decreto-lei, esta não é feita através de um ato legislativo, mas sim de uma resolução. O
conteúdo do decreto não poderá voltar a ser publicado durante a mesma sessão legislativa no
caso de ser cessada a sua vigência.
nº5 (efeitos para a modificação do decreto-lei): “não tiver votado a respetiva lei” este segmento
expressa que a modificação é feita através de uma lei e não de uma resolução como acontece na
cessação do decreto-lei.
• Atribui-se prioridade aos atos que sejam aplicados ao abrigo do Artigo 169º.
❖ Artigo 227º nº4: o Artigo 169º não se aplica à alínea c) do Artigo 227º;
Não se aplica à alínea c) do Artigo 227º porque pertence ao domínio exclusivo do
Governo tal como acontece na alínea c) do Artigo 198º (logo, estão sujeitos ao mesmo
tratamento).
A alínea a) do Artigo 227º não está sujeita à apreciação parlamentar, pertencendo ao
domínio concorrencial? Ora, o nº4 não estando feito para a questão de apreciação
parlamentar não nos indica que, de facto, podemos aplicar a norma desse artigo à alínea
a), mas indica que os decretos autorizados e os de desenvolvimentos das bases têm que
mencionar as leis de autorização e as leis de base, respetivamente. Define também que
só a alínea b) está sujeita a apreciação parlamentar, mas não implica que a alínea a) não
esteja (apenas exclui a alínea c) do Art.227º).
Quando um diploma chega ao Presidente da República designamos por «decreto para ser
promulgado como «lei» ou «decreto-lei». Quando o Presidente recebe o diploma legislativo tem
três hipóteses, entre as quais:
1. Promulgação (não implica que concorde com esse decreto apenas que não tem objeções
suficientes que justifiquem o veto). O prazo de promulgação varia se estivermos perante
uma lei (20 dias) ou decreto-lei (40 dias)
Porque é que o prazo é diferente? Ora, há mais decretos-leis do que leis para
promulgação, logo, é natural que seja necessário mais tempo para analisar os decretos.
Para além disso, um decreto-lei é muito mais denso em comparação às leis, o que implica
uma análise mais cuidada do mesmo.
2. Artigo 136º Veto (político): o Presidente deve justificar os motivos que estão por detrás
do veto. Se estivermos perante uma lei da Assembleia, o motivo é publicado no Diário da
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(*) A Constituição diz que se o Presidente vetar uma lei, esta retorna à Assembleia que dispõe
de três alternativas de ação:
✓ Manter o diploma;
✓ Reformular o diploma e fazer uma nova lei a partir desta (pode ser vetada novamente);
✓ Confirmar o diploma, significa que a Assembleia não vai mudar a lei, mas sim reaprovar
o voto. Esta reaprovação é acompanhada por uma promulgação obrigatória (mesmo
contra a vontade do Presidente). A confirmação do voto depois do veto tem que ser feita
por maioria absoluta (reforço da legitimidade da Assembleia).
✓ Manter o diploma;
✓ Reformular o diploma (apresentar uma nova proposta).
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Aula nº10
Papel do Presidente da República e do Tribunal Constitucional no domínio do
poder legislativo (continuação):
Há duas situações que levam a que o diploma seja devolvido ao órgão que o aprovou:
Na generalidade, os atos do Presidente da República não são alvos de sanções. Muitos dos atos
do Presidente não podem ser anulados ou destruídos, estando fortemente dependentes da sua
vontade.
a) Relativamente aos decretos-lei: o veto é sempre absoluto. O diploma uma vez vetado não
pode prosseguir. Ao vetar politicamente um decreto, este pode ser reformulado e
reapresentado enquanto novo diploma (sujeito tanto a veto político como ao veto por
inconstitucionalidade).
b) Relativamente às leis: um veto político face a um diploma da Assembleia está sujeito a
outras alternativas (a Assembleia pode manter o diploma/confirmar; modificar o diploma
ou não fazer nada).
❖ Artigo 136º Nº2: Se a AR confirmar o voto (por maioria absoluta) o PR é obrigado
a promulgar o diploma. As leis são normalmente aprovadas por maioria simples,
seguindo para promulgação junto do PR (mais votos a favor do que contra). Essas
leis quando são vetadas politicamente é por motivos de discordância política.
Para reaprovação do diploma face ao veto, era necessário proceder a uma nova
votação na AR por maioria absoluta (coisa que raramente acontecia).
❖ Nº3: lei orgânica
A introdução das leis orgânicas na CRP levou à reformulação desta norma. As
leis orgânicas para serem aprovadas já necessitam de maioria absoluta,
provocando o desvanecimento do poder de veto do Presidente (assim é fácil para
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Havendo uma discordância na relação entre a Assembleia da República e o Presidente, visto que
ambos têm legitimidade democrática baseada no voto, a Assembleia da República enquanto
órgão ao qual a Constituição reconhece o poder legislativo tem um poder reconhecido para se
impor face ao Presidente.
❖ Artigo 278º
O Presidente pode suscitar a fiscalização preventiva de qualquer norma de um diploma.
Incluindo o pedido e a causa que motivou o envio para fiscalização. A fiscalização
preventiva deve ser suscitada no prazo de 8 dias. O prazo começa a contar no dia a seguir
ao diploma ser recebido (nº3).
Nº8: O tribunal Constitucional tem 25 dias para se pronunciar. No caso de se tratar da lei
do orçamento (que entra em vigor no dia 1 de janeiro), poderá suscitar-se a fiscalização
sucessiva de um artigo integrado nessa lei (porém, enquanto esta a ser analisada a lei
está em vigor).
Nº4, nº5, nº6 e nº7: regime das leis orgânicas
As leis orgânicas estão sujeitas a especificidades para superação do veto e da
fiscalização preventiva.
❖ Artigo 279º: Veto por inconstitucionalidade: o decreto não poderá ser promulgado sem
que o órgão que o aprovou (Governo ou Assembleia) expurgue a norma classificada
como inconstitucional (este pode ser promulgado ou vetado politicamente).
❖ Nº3: se o diploma vier a ser reformulado, o PR pode requerer apreciação preventiva de
qualquer das suas normas (pode promulgar, vetar ou requerer apreciação). Pode reenviar
para o Tribunal Constitucional se houver reformulação da norma. Esta é apenas uma das
possibilidades que o PR tem, mas não a única.
❖ Nº2: Face à confirmação, só há possibilidade de confirmação se a norma tratar de uma
lei e não de um decreto-lei. O PR não é obrigado a promulgar (só nos termos do artigo
136º onde fica claro que está sujeito a uma obrigação; esta só existe se for superado um
veto político). O PR não é obrigado a promulgar normas que considera inconstitucionais.
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Aula nº11
Modelo de fiscalização preventiva (no caso de estarmos perante uma lei orgânica):
❖ Artigo 278º nº4: Esta norma parece dar a entender que um decreto que seja enviado ao
PR para promulgação como lei orgânica (referente à lei x) que esta, na sua globalidade,
poderá ser alvo de fiscalização preventiva (qualquer norma que a integra) por parte do
Primeiro-ministro ou de 1/5 dos deputados. Mas não é o caso, o poder dado ao Primeiro
Ministro e a 1/5 dos deputados é apenas referente à matéria orgânica dessa lei.
Cavaleiros de lei reforçada/orgânica: Uma lei que contém um artigo de matéria orgânica
estará sobre o regime especial atribuído às leis orgânicas, no entanto, os artigos de matéria
ordinária continuam sujeitas ao regime geral. Somente a votação na globalidade deverá ser
efetuada segundo o regime da lei orgânica porque não é possível dividi-la e votá-la por
partes. Agora, para efeitos de fiscalização preventiva, só aplicamos o regime da lei orgânica
aos artigos cuja matéria é, de facto, sujeita a valor reforçado/orgânico. (Por exemplo, a lei do
orçamento na qual os deputados inserem outras normas que nada têm a ver com matéria
orçamental só para que estas sejam aprovadas mais rapidamente). O facto de essas normas
irem «à boleia» da lei do orçamento não as torna normas orçamentais, apenas são aprovadas
juntamente com a lei do orçamento. Porém, as normas que não incidem sobre a matéria
orçamental, mas que são enviados dentro da lei orçamental podem ser revogadas ou
alteradas pela Assembleia, não estando sujeitas ao domínio exclusivo do GV das leis do
orçamento.
Nº8: aplica-se a todas as situações em que é suscitada a fiscalização preventiva, seja por parte de
que órgão for. A possibilidade de o Presidente encurtar o prazo dado ao Tribunal Constitucional
não se aplica às leis de matéria orgânica (exceto no caso do nº1).
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Nº7: não é possível o PR inviabilizar o direito atribuído ao Primeiro-Ministro e a 1/5 dos deputados
de suscitarem a fiscalização preventiva.
O Presidente da República tem que esperar os 8 dias para ver se o diploma é enviado para
fiscalização. Se isto não acontecer dentro desse prazo, pode promulgar ou vetar o diploma. Mas
se o Tribunal Constitucional for convocado, ao prazo dos 8 dias é acrescentado o prazo para que
o Tribunal Constitucional se pronuncie sobre o assunto.
Em matéria do Tribunal Constitucional, cuja função passa pela garantia da Constituição antes
e depois das leis entrarem em vigor, temos dois tipos de fiscalização:
✓ Fiscalização preventiva e;
✓ Fiscalização sucessiva.
1) Fiscalização abstrata.
2) Fiscalização concreta.
❖ Artigo 221º a 224º.
• A fiscalização abstrata corresponde à apreciação das normas sem que estas se apliquem
a um caso concreto. A fiscalização preventiva é obrigatoriamente abstrata. Mesmo após
entrar em vigor, é possível que uma norma seja fiscalizada em termos abstratos (não
sendo esta aplicada num processo judicial concreto).
✓ Não pode declarar uma norma constitucional. Ora, se o TC pudesse declarar uma norma
como «constitucional» iria levar à interpretação de que essa norma tinha sido classificada
conforme a Constituição pelos juízes que naquele momento faziam parte do grupo de
juízes constitucionais, eliminando a possibilidade de que mais tarde, outros juízes,
possam detetar uma inconstitucionalidade que os anteriores não indicaram.
Quando suscitam fiscalização sucessiva podem considerar que há uma norma legal que viola
a constituição, pedindo ao Tribunal Constitucional que este declare a inconstitucionalidade
de uma norma.
Pedido de inconstitucionalidade de determinadas normas: não têm que ser normas legais
(leis, decretos-lei), podendo incluir quaisquer normas. Embora estas normas não tenham
passado pelo mesmo processo que passam as normas legais, a fiscalização sucessiva pode
ser suscitada para normas não legais. O Tribunal Constitucional não aprecia decisões, aprecia
somente as normas que são retiradas dessas mesmas decisões. Ao eliminar a norma, tudo o
que lhe antecede deixa de ter fundamento.
Embora um cidadão comum não tenha poder para enviar uma norma para o TC, poderá
dirigir-se a um oficial de justiça e requerer que esta seja analisada dentro da fiscalização
sucessiva abstrata (de modo a eliminar essa norma para todos os casos futuros). A nível
concreto, basta dirigir-se a um Tribunal de 1ª instância para resolver aquele caso concreto
(análise dos factos) – corresponde à análise da constitucionalidade concreta da norma.
Artigo 281º a) estabelece a fiscalização abstrata de “quaisquer normas”: não precisam de ser
obrigatoriamente normas legais.
(Ex. decreto-lei autorizado que não respeita os parâmetros definidos pela Assembleia da
República). Segue-se os termos da alínea b) para a ilegalidade de uma norma. Na fiscalização
das «normas constantes de ato legislativo», estamos perante um problema de ilegalidade
(violação de uma lei de valor reforçado e não da Constituição em si). Perante uma ilegalidade
(tendo em conta que não existe uma inconstitucionalidade), só é permitida a fiscalização por
parte do Tribunal Constitucional se a norma for constante de um ato legislativo, caso contrário
o problema será resolvido por outros tribunais.
No nº2 estão enunciadas quais as entidades com poder para suscitar a fiscalização em
abstrato da inconstitucionalidade ou ilegalidade de uma norma.
Aula 12
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Enquanto a sentença resultante da fiscalização abstrata vale para todos os casos futuros, ou
seja, têm força obrigatória geral; a sentença proveniente da fiscalização concreta vale
somente para o caso concreto.
Um decreto-lei autorizado que viola uma lei de autorização legislativa é tanto ilegal quanto
inconstitucional. Porquê? Porque a Constituição estabelece que os decretos-lei autorizados
têm que estar de acordo com as leis de autorização legislativa.
Alínea a) e b) Artigo 281º são fundamentais neste contexto. As alíneas c) e d) estão expressas
no artigo apenas por razões políticas, relacionadas com o domínio das Regiões Autónomas.
(Ex. Decreto-legislativo de uma R.A. que viola o estatuto já está certamente incluído na alínea
b), sendo apenas reforçado pelas alíneas seguintes). Estas alíneas tratam de normas legais.
Alínea c): trata dos casos em que um diploma regional viola o estatuto da R.A. O diploma
enquanto decreto-legislativo regional (norma legal) já está incluído nos termos da alínea b);
tem que corresponder a uma norma infralegal regional que viola os estatutos das Regiões
Autónomas. Uma norma infralegal regional é fiscalizada pelo Tribunal Constitucional, mas se
a norma infralegal for emitida a nível nacional o Tribunal C. não tem competência de
fiscalização sobre a mesma (a fiscalização é feita pelos tribunais administrativos).
Alínea d): trata dos casos em que um diploma proveniente de um órgão soberano (emana
do Governo ou da Assembleia da República) viola o estatuto da R.A. O diploma, enquanto
decreto-lei ou lei, que viola os estatutos está dentro dos termos da alínea b). Logo, aqui a
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Artigo 227º: A Assembleia Legislativa Regional só pode legislar normas em matérias previstas
no estatuto. Esta alínea está prevista na alínea a) e b) do Artigo 281º, CRP.
Quais as entidades que podem suscitar a fiscalização? Artigo 281º, nº2, CRP: Demonstra a
sobrevalorização das normas de domínio regional face às normas de competência nacional.
Assim, concluímos que a Constituição se superioriza face à lei, não podendo uma lei
inconstitucional ter consequências jurídicas durante um período de tempo (antes de ser declarada
inconstitucional pelo Tribunal Constitucional).
Os efeitos retroativos estabelecidos na Constituição são designados por efeitos «ex tunc» (regra
geral).
Repristinação da lei (Exemplo): a lei A estabelece propinas de 100 euros. Entretanto, a lei B revoga
a lei A: estabelece propinas de 1000 euros. Mas, o Tribunal Constitucional declara a lei B
inconstitucional. Quais os dois efeitos desta declaração?
2. Para eliminar verdadeiramente a lei B temos que analisar o que é que ficou estabelecido
com a sua entrada em vigor no ordenamento jurídico (revogou a lei A e criou um novo
regime de 1000 euros de pagamento). Face à inconstitucionalidade da lei B, devem ser
destruídos todos os efeitos por ela produzidos. Logo, a lei A deixa de estar revogada (a
lei B é eliminada) e dado que não existem motivos para que a lei A continue revogada,
esta é então repristinada (como se nunca tivesse sido revogada). Então isto significa que
os 1000 euros vão ser devolvidos, mas tendo em conta a aplicação da lei A são apenas
devolvidos 900 euros. Elimina tudo o que foi produzido pela lei B, incluindo a decisão
revogatória face à lei A. É como se a lei B nunca tivesse existido.
Art.282º, nº3, CRP (exceção ao nº1), incluindo uma exceção à primeira exceção do nº1:
representa uma norma dupla, constituída por duas partes:
Exemplificando: a lei A diz que só é possível despejar um inquilino, durante o prazo do contrato,
se o senhorio precisasse da casa para habitação familiar. Mais tarde, surge lei B que define que o
despejo pode ser realizado por qualquer motivo (neste caso, a lei B revoga a lei A). Dá-se um
processo judicial com um caso-julgado (sentença definitiva) que obriga o inquilino a ceder o lugar
a outro, sendo o inquilino despejado. Posteriormente, surge uma decisão do Tribunal
Constitucional face a inúmeros protestos que afirmam que estas normas constituem uma ameaça
ao sistema arrendatário que torna a lei B inconstitucional. Logo, a decisão do TC implica a
inconstitucionalidade da lei B e deve haver a repristinação da lei A (deixa de haver motivo para o
despejo do inquilino) isto dentro dos casos do nº1 do Artigo 282º. A consequência derivada da
declaração da inconstitucionalidade da lei B, implica a devolução da habitação ao inquilino que
foi despejado nos termos dessa mesma lei. Ora, isto punha em causa das sentenças dos judiciais
perante os casos-julgados (conflito entre a segurança jurídica, a Constituição, as sentenças dos
casos-julgados).
A Constituição estabelece que, nos casos em que a lei inconstitucional que já tenha resolvido um
caso-julgado, devem permanecer as sentenças proferidas. A isto chamamos salvaguarda dos
casos julgados. No entanto, para casos futuros aplicar-se-á uma nova norma que não aquela que
foi considerada inconstitucional. Os casos que estão a ser julgados juntamente com casos futuros
estarão então, a partir da declaração da inconstitucionalidade da lei x, serão julgados segundo a
lei y. No entanto, nos processos já julgados, mantém-se a lei x (o processo judicial não é reaberto).
A exceção do nº3 não pode ser sempre aplicada. Exemplos: Perante a Lei A e a lei B é feito um
julgamento (nos termos da lei B). Mas, o Tribunal C. declrara a lei B inconstitucional. Procede-se
à repristinação da lei A para os casos ainda em curso e casos futuros. Em que situações é que o
caso-julgado não deve manter-se imune à declaração de uma norma inconstitucional? Se
aplicarmos o nº1 do art.282º, o caso julgado teria que ser reaberto, mas segundo a exceção do
nº3 o caso-julgado é definitivo (para fins de segurança jurídica). Ora, nem sempre se aplica esta
exceção à regra do nº1, tendo-se criado para tal uma segunda exceção nos termos do nº3:
salvaguardam-se os casos julgados se estiverem em causa penas criminais, contraordenações ou
processos disciplinares (dentro destas circunstâncias reabre-se o caso). Se a lei que foi repristinada
for mais favorável ao arguido então reabre-se o caso julgado. Temos sempre em conta o benefício
do arguido.
2ª parte/exceção à exceção do nº1: «salvo (…) quando a norma respeitar matéria penal, disciplinar ou de
ilícito de mera ordenação social e for de conteúdo menos favorável ao arguido» face à norma que foi
revogada.
Este processo não é automático, é necessário que o Tribunal Constitucional tome uma decisão no
sentido que não ficam ressalvados os casos julgados. Não basta que o Tribunal C. declare uma
norma inconstitucional e que esta cumpra os requisitos para a reabertura do caso julgado para
que o caso seja efetivamente reaberto. Não é o TC que vai julgar novamente o caso, este apenas
declara que o caso deverá ser julgado novamente pelo tribunal respetivo à matéria em questão.
Há situações em que não é fácil identificar se a norma é mais ou menos favorável ao arguido.
Nesses casos é necessário ver qual foi a pena aplicada em concreto ao arguido. Se o caso julgado
for reaberto e julgado de acordo com uma lei mais favorável ao seu caso em concreto, então o
caso deverá ser reaberto. Temos que ter em conta todas as particularidades do caso concreto
para decidir se o processo é ou não reaberto. Cada tribunal é que irá analisar se a lei é mais ou
menos favorável «ressalvados (…) salvo decisão em contrário do Tribunal Constitucional»: o
Tribunal C. é quem decide se o caso é ou não reaberto.
Art.282º, nº4 (exceção ao nº1 (regra-geral) e nº2, Art.282º, CRP): há casos em que a repristinação
da lei x ameaça a segurança jurídica, a equidade ou interesses públicos considerados relevantes.
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O TC pode declarar que uma lei é inconstitucional, mas que só produz efeitos dali para a frente.
O Tribunal Constitucional, segundo o nº4, limita os efeitos da sua sentença determinados pelo
nº1 (restringir os efeitos da sua própria sentença, tornando-os menos abrangentes). Estas
situações são sempre excecionais. Para aplicar o regime do nº4, há que fundamentar devidamente
o caso em questão (segurança jurídica, equidade ou interesses públicos), sendo o TC responsável
por fixar a restrição desses efeitos. A expressão «o exigirem» demonstra que este nº4 só é
utilizado para casos devidamente justificados (representa um regime excecional).
O TC pode não determinar os efeitos retroativos, mas sim restringir esses mesmos efeitos de
modo a torná-los menos abrangentes. (a decisão terá MENOS efeitos retroativos, mas para os
casos futuros não terá valor).
Exemplo: Em 2012 introduziu-se na lei do orçamento que estabeleceu que não seriam pagos os subsídios
de férias e de natal aos funcionários públicos (pagos em junho e novembro, respetivamente). Ora, como nos
orçamentos as despesas devem igualar as receitas: esta lei foi enviada para o TC para fiscalização da sua
constitucionalidade. Em junho, dado que o TC não se tinha pronunciado sobre o assunto, os subsídios de
férias não foram pagos. Mas, em julho o TC declara a lei inconstitucional, pelo que o Governo devia pagar
(ainda que tarde) o subsídio de férias. No entanto, o TC invocou o nº4 do artigo 282º, declarando que não
seria obrigatório pagar esse subsídio tardiamente (os efeitos retroativos são restringidos; a
inconstitucionalidade só se aplicaria dali em diante). Acontece que o TC invocou o nº4 permitindo que a lei
inconstitucional se mantivesse para efeitos passados, mas também continuasse a aplicar-se mesmo depois
da sua decisão, estendendo-se até novembro (não pagando quer o subsídio de férias como de natal). Neste
caso, ao abrigo do nº4, a norma inconstitucional foi alargada após a decisão do Tribunal Constitucional –
continuando a produzir efeitos para o futuro.
O nº4 não estabelece que o Tribunal C. pode eliminar os efeitos retroativos, mas sim fixar a
decisão com alcance mais restrito (fazendo menos do que aquilo que o nº1 exige). Aqui o tribunal
constitucional limita os efeitos da sua decisão. Designamos esta situação por efeitos «ex nunc», a
decisão do TC não tem efeitos retroativos – só começa a ter efeitos após a decisão ser proferida.
Aula 13
O Art.282º, nº4 permite que a sentença não tenha retroatividade ou que tenha apenas retroatividade durante
um período de tempo definido (são restringidos os seus efeitos). A lei que permite o menos permite o mais,
logo, o TC pode estender ou alargar os efeitos retroativos de uma decisão que proferiu relativamente à
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inconstitucionalidade abstrata de uma norma. Esta norma reconhece ao Tribunal Constitucional poder para
modelar os efeitos da inconstitucionalidade.
❖ Art.282º nº2
Exemplo: A lei A legaliza eutanásia (não é inconstitucional). Mais tarde, dá-se uma revisão
constitucional na qual se acrescenta uma norma que proíbe a eutanásia: o Tribunal C. declara a lei
A inconstitucional. A particularidade desde caso prende-se com o facto de a lei A quando surgiu
não ser inconstitucional (não estava desconforme a Constituição em vigor). Face à revisão
constitucional, a lei A passa a ser inconstitucional. Designamos esta circunstância por
inconstitucionalidade superveniente: originalmente a norma não é inconstitucional, esta torna-se
desconforme à Constituição perante um novo padrão constitucional, podendo ser declarada como
inconstitucional posteriormente.
Ao invocar a inconstitucionalidade da lei A (e tendo em conta que se esta for declarada como
inconstitucional, a lei X é repristinada). Aquele que pede a fiscalização da lei A deverá pedir também (no
caso de considerar também a lei X inconstitucional) a fiscalização da lei X junto do Tribunal Constitucional.
Isto porque a fiscalização que cabe ao Tribunal Constitucional está exclusivamente vinculada ao pedido que
lhe é enviado. A repristinação de uma lei e os efeitos retroativos que derivam da declaração de uma
inconstitucionalidade são efeitos naturais da decisão do Tribunal Constitucional. Este não declara que uma
lei é repristinada, é um processo que se dá automaticamente sem necessidade da sua intervenção.
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Na fiscalização sucessiva abstrata o Tribunal Constitucional não tem um prazo definido para se
decidir sobre a inconstitucionalidade das normas.
Enquanto o Art.282º, nº1 trata da inconstitucionalidade originária: determina efeitos «ex tunc»
(desde a entrada em vigor da norma inconstitucional/ilegal) e a repristinação das normas que
foram por esta revogadas. O nº2 concretiza a possibilidade de uma retroatividade limitada
(apenas até à revisão constitucional) e a não repristinação da norma no domínio da
inconstitucionalidade superveniente.
Outro exemplo: A lei A foi aprovada por maioria simples (uma vez que constituía matéria de reserva absoluta
da Assembleia da República, segundo os termos do artigo 164º pertencendo, por exemplo a matéria
correspondente à alínea s) do Art.164º, CRP) que não é matéria de lei orgânica). Entretanto numa revisão
constitucional estabelece-se que a matéria correspondente à alínea s) passa a ser matéria de lei orgânica.
Isto significa que as leis sobre matéria da alínea s) passam a ser aprovadas por maioria absoluta. A lei A é
enviada para fiscalização junto do Tribunal Constitucional: lei A é declarada inconstitucional, a partir da
revisão constitucional. Se o Tribunal Const. tiver apenas em atenção o nº2 do Art.282º, CRP declara a
inconstitucionalidade superveniente da lei A. Porém, neste exemplo, trata-se de uma inconstitucionalidade
formal e não de uma inconstitucionalidade material (a inconstitucionalidade superveniente está reservada
aos casos de inconstitucionalidades materiais). Neste caso, a questão da formalidade é consumada num
momento específico (a aprovação da lei acontece no dia x e termina; está concluída). A lei não se torna
inconstitucional porque na altura que foi aprovada, cumpriu todos os requisitos de aprovação das leis que
vigoravam naquele momento. A aprovação da lei não se faz acompanhar da lei no tempo. Isto tanto vale
para a inconstitucionalidade orgânica como formal. O que acompanha a lei é a matéria da mesma, ou sejam
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o seu conteúdo não pode ser incompatível com a Constituição. Posteriormente, se aprovássemos uma lei B
que viesse alterar a lei A, a lei posterior teria que ser aprovada por maioria absoluta. Assim, concluímos que
as inconstitucionalidades supervenientes só existem no domínio da inconstitucionalidade material.
De ambas as alternativas, resulta uma sentença. É desta sentença que pode ser suscitado recurso
para o Tribunal Constitucional. Este só procede para a fiscalização quando já foi proferida uma
sentença.
o Ao recusar a aplicação da lei, o juiz pode substituir a lei que considera inconstitucional por outra
da Constituição e aplicá-la ao caso concreto.
o O juiz, ao decidir, declara uma sentença para o caso concreto, mas também decide sobre a
constitucionalidade da lei que aplica.
A partir da sentença proferida pelo juiz, pode caber recurso para o Tribunal Constitucional que irá
apreciar a inconstitucionalidade da lei. Primeiramente é pedida a declaração da
inconstitucionalidade em matéria de fiscalização concreta perante o juiz onde o processo está a
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decorrer e só em recurso pode esta ser enviada para o Tribunal Constitucional. Nestas
circunstâncias, a inconstitucionalidade tanto pode ser material, formal ou orgânica.
Exemplo:
Num tribunal de primeira instância é proferida uma sentença de 20 anos de prisão. Em recurso
na instância superior reduz a pena para 5 anos (tendo em consideração que em nenhuma destas
é colocada a questão da fiscalização da constitucionalidade da norma aplicada ao caso). O arguido
recorre para o STJ e invoca fiscalização concreta da constitucionalidade da norma (o recurso é
recusado porque o STJ não admite recurso quando a pena definida é inferior ou igual a 5 anos).
Logo, não há maneira de haver fiscalização concreta junto do Tribunal C.
O Art.280º nº1, alíneas a) e b) estabelece que o acesso ao Tribunal Constitucional não é direto:
No caso de o tribunal se recusar a aplicar a norma, para além da parte que fica prejudicada por esta decisão,
também o Ministério Público fica obrigado a enviar o processo para fiscalização junto do Tribunal
Constitucional.
Breves notas:
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o Geralmente, o pedido de fiscalização concreta é acompanhado por uma certa expectativa face à
decisão que o juiz irá proferir. Ora, quando esta expectativa não é se verifica e no STJ se invoca uma
lei da qual não se espera (decisão surpresa; não é antecipável) pode, excecionalmente, recorrer-se
para o Tribunal Constitucional pedindo a fiscalização da constitucionalidade da lei não antecipável.
Porém, este cenário é muito raro.
o Um processo não pode estar a ser tratado em dois tribunais diferentes, tem que optar se o processo
segue para o STJ ou para o Tribunal Constitucional.
o Se a lei for considerada inconstitucional devido aos factos do caso concreto, então o tribunal de 1ª
instância retorna a julgar o caso.
Aula 14
Na prática, o Tribunal Constitucional trata de mais casos de fiscalização concreta. Este não aprecia
se a sentença é inconstitucional: apenas lhe cabe apreciar a inconstitucionalidade das normas e
não do conteúdo de uma sentença (deve ser analisada pelas várias instâncias dos tribunais
ordinários). O âmbito do recurso do Tribunal Constitucional incide apenas sobre a apreciação das
normas que são aplicadas num caso concreto. Cabendo perguntar se estas estão conforme à
Constituição.
Exemplo 1, Art.280º, alínea b): O arguido invoca inconstitucionalidade do Art.x do Código de Processo
Penal, mas o tribunal não dá razão ao arguido e este é condenado com base nesse artigo. Prossegue-
se com recurso para o TC (se a norma for declarada inconstitucional o arguido é novamente julgado)
ou recurso para a 2ª instância onde o tribunal torna a não dar razão ao arguido (o arguido pode recorrer
ao TC para fiscalização da norma que lhe foi aplicada). O recurso para o Tribunal Constitucional é restrito
à questão da inconstitucionalidade da norma. É legitimo prescindir dos recursos para os tribunais de
hierarquia superior e seguir logo para o Tribunal Constitucional. A sentença transita em julgado se já
tiver sido proferida nos tribunais inferiores e a questão da inconstitucionalidade não foi aprovada. Se as
normas forem consideradas inconstitucionais, então haverá um novo julgamento junto dos tribunais
inferiores onde serão aplicadas outras normas ao caso.
O Art.280º, nº4, CRP, estabelece que só é possível recorrer para TC a parte que suscitou a questão da
inconstitucionalidade durante o processo (antes da sentença final). O requerimento para recurso junto
do TC tem que incorporar onde é que foi suscitada a inconstitucionalidade da norma antes de ser
interposta no TC. Os recursos para o Tribunal Constitucional preparam-se durante o processo, antes da
última sentença do tribunal.
Exemplo 2 (recusa de aplicação de norma) Art.280, alínea a): O arguido invoca uma lei que prevê
redução da pena para idosos. O tribunal recusa aplicar a norma (invocando a sua inconstitucionalidade)
invocando que a norma viola o Art.13º, CRP. É proferida uma sentença. A questão da
inconstitucionalidade foi interposta pelo próprio juiz (pode ser também invocada pelo ministério
público). Dos casos em que um tribunal se recusa a aplicar uma norma por considerar que esta é
inconstitucional, a questão é diretamente enviada para o Tribunal Constitucional (os restantes recursos
ficam pendentes/suspensos). Nestas circunstâncias, o recurso para o TC é obrigatoriamente interposto
pelo Ministério Público (por se tratar de uma questão de legalidade). Contudo, o Ministério Público
assume uma posição objetiva, não defendendo um interesse próprio, mas sendo obrigado a enviar a
norma para fiscalização junto do Tribunal Constitucional.
Se o ministério público é obrigado a recorrer diretamente para o TC quando um juiz se recusa a aplicar uma
norma por achar que é desconforme com a CRP então não é possível que o tribunal privado decida recorrer
(ao mesmo tempo) para o tribunal de instância superior. Estes recursos ficam suspensos até o TC se
pronunciar sobre a questão da constitucionalidade da norma.
Art.280, nº3, CRP: o Ministério Público é obrigado a recorrer para o Tribunal Constitucional somente se tratar
de convenção internacional, ato legislativo ou decreto regulamentar.
A decisão é definitiva para aquele caso em concreto/apenas naquele processo quanto à questão da
inconstitucionalidade (faz caso julgado quanto à questão da inconstitucionalidade). O processo
termina. Se a norma é qualificada como inconstitucional, é preciso que o julgamento seja
novamente efetuado (é proferida uma nova sentença com base numa outra norma), logo, o
processo é reaberto.
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Apenas uma secção do Tribunal Constitucional fica encarregue de fiscalizar a inconstitucionalidade de uma
norma no caso de fiscalização concreta. Esta não pode ser eliminada do ordenamento jurídico, porque a
decisão proferida não advém do plenário do Tribunal Constitucional, mas apenas de uma das suas secções.
Exemplificando:
Processo 1: X acusado de crime de homicídio. O arguido tem 80 anos e invoca lei A que diz que há redução
de pena para pessoas idosas. O tribunal recusa aplicar a lei A (Art.204º CRP), sendo o Ministério Público
obrigado a recorrer para o Tribunal Constitucional (secção do TC julga a lei A inconstitucional, sendo a força
da sua decisão restrita a este processo). O arguido pode recorrer para instâncias superiores, mas não pode
ser aplicada a lei A ao processo. O processo fechou e a decisão proferida pelo Tribunal Constitucional só
vale para este caso concreto. A lei A continua a vigorar no ordenamento jurídico, tendo esta sido julgada
inconstitucional por confirmação da decisão do juiz.
Processo 2: Y acusado de crime de roubo. O arguido tem 90 anos e invoca lei A que diz que há redução de
pena para pessoas idosas. A lei A é aplicada pelo juiz (não a considera inconstitucional). O Ministério Público
podia suscitar a questão de fiscalização da inconstitucionalidade da lei (é obrigado a tal), mas o tribunal não
está vinculado às decisões tomadas noutros processos: se o tribunal aplicar a lei A (que foi considerada
inconstitucional noutro processo) o Ministério é obrigado a enviar o processo para o Tribunal Constitucional
(este pode ir parar à mesma secção ou a outra secção do TC, se for parar à mesma secção é provável que a
decisão seja idêntica ao do processo anterior). Porém, os juízes que pertencentes a outra secção podem
decidir de maneira diferente ou os mesmos juízes que decidem sobre o processo anterior podem decidir de
forma diferente sobre outro processo. O tribunal constitucional decide da mesma maneira e julga a lei A
inconstitucional, a sentença terá que ser refeita.
Processo 3: Z acusado de crime de corrupção. O arguido tem 91 anos e invoca lei A que diz que há redução
de pena para pessoas idosas. A lei A continua em vigor após ser julgada inconstitucional em dois processos
distintos. O tribunal recusa aplicar a lei A pelos mesmos motivos que julgaram a norma inconstitucional nos
processos anteriores. Esta decisão vem no seguimento de uma decisão anterior, o Ministério P. é obrigado
a enviar a norma para fiscalização concreta junto do TC. A partir do momento em que o TC julga uma norma
inconstitucional, daí em diante sempre que a norma aparecer num processo, quer o tribunal aplique ou se
recuse a aplicar o Ministério P. tem que enviar a norma para o Tribunal Constitucional, nos termos do
Art.280º, nº5. O tribunal pode aplicar a norma que anteriormente foi julgada inconstitucional pelo TC ou
recusar a sua aplicação (Art.280º, nº3, CRP).
O objetivo é criar uma jurisprudência relativamente constante. Perante três processos distintos,
onde a mesma lei é suscitada e se procedeu em recurso para o TC e o mesmo decidiu da mesma
forma (podem ser julgados pela mesma secção ou não). Sendo a norma julgada inconstitucional
três vezes pelo Tribunal Constitucional em três casos concretos distintos, como é que esta norma
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pode ser eliminada do ordenamento jurídico? A CRP estabelece que depois de ter sido uma norma
considerada 3x inconstitucional no domínio da fiscalização concreta, então passamos para o
regime da fiscalização abstrata (Art.281º, nº3), ou seja, dá-se a transição de fiscalização concreta
para fiscalização abstrata. O TC irá fiscalizar a inconstitucionalidade da lei A para efeitos abstratos
(o TC passa a declarar a inconstitucionalidade da norma com força obrigatória geral e não
somente a julga-la inconstitucional no domínio do caso concreto).
Em Portugal, os cidadãos não podem dirigir-se diretamente ao Tribunal Constitucional. Este não admite que
sejam apreciadas questões que incidem sobre o conteúdo do caso concreto, apenas aprecia a
inconstitucionalidade da norma em si. O recurso de amparo não é admitido.
No domínio da fiscalização por ação, o TC fiscaliza as normas produzidas pelos órgãos legislativos; enquanto
na fiscalização por omissão, o TC aprecia se o facto de os órgãos legislativos não terem produzido uma
norma pode ser considerado inconstitucional (Art.283º, CRP). Será que a inconstitucionalidade por omissão
não retira poder ao legislador visto que é ele que decide sobre que matérias pretende ou não legislar? O
legislador não é obrigado a legislar sobre uma matéria. No entanto, há matérias que não ficam a cargo do
legislador, sendo a própria CRP que impõe a necessidade de legislação sobre determinada matéria. Somente
nestes casos é que o TC pode intervir. O comportamento omissivo do legislador pode estar a violar de certa
forma a Constituição. Perante uma inconstitucionalidade por omissão, o TC chama a atenção do Parlamento
para legislar sobre a matéria em questão. O TC aprecia e verifica a omissão (não julga nem declara).
Aula 15
A Constituição de 1976 simboliza uma rutura com a Constituição de 1933, contudo, alguns aspetos
continuaram a vigorar no novo diploma. Os direitos fundamentais superiorizam-se ao poder legislativo –
este está subordinado aos direitos fundamentais (é a Constituição que determina quais são os limites do
poder legislativo). Isto porque os direitos fundamentais estão integrados na própria Constituição. O mesmo
acontecia na Constituição de 1933 na qual estavam expostos os direitos fundamentais, no entanto, estes
encontravam-se dependentes do legislador e por isso, limitados pela lei. Já a Constituição de 1976 coloca o
legislador num plano inferior face aos direitos fundamentais, podendo estes ser invocados pelos cidadãos
não só perante o Estado e as entidades públicas, mas também sendo diretamente aplicáveis às entidades
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privadas (ainda que não haja nenhuma lei sobre essa mesma matéria). A Constituição, enquanto lei que se
superioriza a todas as outras, não carece da existência de leis que permitam determinadas condutas que
contrariem os direitos fundamentais porque estes enquanto parte da própria Constituição também se
superiorizam às demais leis. Assim sendo, os direitos fundamentais são diretamente aplicáveis e sobrepõem-
se a qualquer outra lei.
O Tribunal Constitucional tem um papel apagado face à matéria dos direitos fundamentais,
sobretudo no que toca à sua interpretação. Os direitos fundamentais não têm todos o mesmo
regime, este varia consoante o tipo de direitos que se trata. Existem, portanto, várias gerações de
direitos fundamentais que foram sendo incorporadas na Constituição portuguesa e por esta ser
tardia foi agregando esses direitos à medida que estes foram evoluindo.
As Constituições do pós-guerra passam a incorporar, para além dos direitos, liberdades e garantias
(direitos de 2ª geração), os direitos económicos, sociais e culturais (direitos de 3ª geração que implicam
prestações do Estado).
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v. Após o Estado Social de Direito segue-se o Estado Pós-Social de Direito, que procura
atenuar as dificuldades inerentes ao Estado Social (quanto mais se exige do Estado mais
carga fiscal incide sobre os cidadãos e para atenuar esta situação surge o Estado Pós-
Social). A intervenção do Estado deixa de ser direta (enquanto Estado prestador) e passa
a ser indireta (enquanto Estado regulador). Em contraposição ao Estado de Direito - no
qual a autorregulação toma grande parte enquanto reguladora de vida social - e ao
Estado Social - que implica que o Estado seja prestador de serviços sociais, aumentando
a carga fiscal sobre os cidadãos - surge o Estado Pós Social, procurando alcançar um meio
termo entre estas duas conceções.
Portugal está numa transição para o Estado Pós-Social de Direito, assegurando quer a iniciativa privada, quer
a iniciativa pública. Neste sentido, verifica-se a existência de uma entidade pública, nomeada normalmente
pela Assembleia da República (não recebendo ordens do Governo e independente enquanto reguladora), à
qual cabe regular os setores da vida económica e social do país (esta entidade regula os setores públicos e
privados). A Constituição de 1976, como foi consagrada tardiamente, não é imune a uma evolução mais
lenta verificada sobretudo na passagem do Estado de Direito para o Estado Social e, posteriormente na
transposição para o Estado Pós-Social. Assim, o elenco dos direitos fundamentais é muito vasto devido à
acumulação das várias gerações de direitos. Posteriormente, surgem ainda os direitos de 4ª geração ligados
ao ambiente, à tecnologia e aos novos desafios do século XXI. É importante ter em conta que os diferentes
regimes atribuídos aos direitos têm modos distintos de interpretação e não possuem todos o mesmo valor.
Por exemplo, o Art.65º nº1, CRP, não é diretamente interposto pelo Estado (não é imediatamente aplicável).
Este só pode ser exigido depois de ser concretizado pelo Estado. Logo, estes direitos estão dependentes da
concretização do Estado (é preciso que o Estado atue neste domínio). Pode ser exercido pelos cidadãos, mas
mediante a atuação do Estado.
Os direitos, liberdades e garantias são imediatamente aplicáveis, porém, os direitos económico-sociais não
são diretamente aplicáveis pelo Estado. Os direitos de 1ª geração podem ser exigidos pelo cidadão, no
entanto, os direitos de carácter económico-social não são exigíveis (o Estado deve caminhar de modo a
assegurar esses direitos, mas estes não lhe podem ser exigidos).
Os direitos negativos envolvem uma abstenção por parte do Estado, enquanto os direitos
positivos são assegurados obrigatoriamente/diretamente pelo Estado. Do lado dos direitos
positivos, o Estado intervém juridicamente para concretizar os direitos (é necessária a criação de
leis) e do lado dos direitos negativos, para além da intervenção jurídica, é também necessária uma
intervenção política (p.e. criação de políticas para incentivar a habitação própria; o Estado vai
subsidiar a compra de habitações).
se tal se verificasse iria implicar um retrocesso face à alínea e). Mas o aumento do valor das propinas tem
em conta a inflação que se verifica ao longo dos anos, em valores reais.
Aula 16
A proteção dos direitos, liberdades e garantias é mais vincada: estes «são diretamente aplicáveis
e vinculam entidades públicas e privadas» (Art.18º, CRP). Estes direitos pertencem à matéria de
reserva relativa da Assembleia da República (Art.165º, al. b), CRP). Os direitos, liberdades e
garantias estão incluídos no Art.288º al. d) referente aos limites materiais da revisão
constitucional, pelo que não podem ser desrespeitados.
porque a sua essência já está assegurada, não excluindo a hipótese de que para além dos que
estão enumerados existem outros que partilham das mesmas caraterísticas.
Segundo a lógica do Art.17º existem dois direitos que se encontram fora do Título II referente
aos direitos, liberdades e garantias, mas que partilham da sua natureza análoga:
Art.62, nº1, CRP: «a todos é garantido» os direitos, liberdades e garantias estão assegurados pelo
Estado.
Estes direitos também possuem uma vertente económica e social relevante. Não é necessário
transitar estes direitos para o Título II porque o Art.17º estabelece que podem existir direitos
fundamentais de natureza análoga fora daquele capítulo.
I. Perceber o que é que o direito está a proteger (qual o âmbito de proteção do direito), ou
seja, delimitar as fronteiras desse direito.
Artigo 18º, nº2 «a lei só pode restringir os direitos, liberdades e garantias nos casos
expressamente previstos na Constituição». É necessário ter em conta esta norma para que
possamos delimitar as fronteiras de um direito. É a própria Constituição que permite a
existência de restrições legais aos direitos fundamentais (Art.168º e 165º al. b), CRP).
II. Saber se a Constituição permite ou não a restrição dos direitos, liberdades e garantias.
III. É necessária uma lei ou decreto-lei autorizado que restrinja esse direito. Mas, também
estes têm limites: nos termos do Art.18º, as restrições aos direitos devem ser
proporcionais «devendo as restrições limitar-se ao necessário para salvaguardar outros
direitos ou interesses constitucionalmente protegidos». Estas restrições podem ser
introduzidas pela lei, mas há casos em que as próprias restrições aos direitos estão
consagradas na Constituição (como acontece, por exemplo, no Art.34º, nº2, 3 e 4). Existem
dois tipos de restrições: as que estão consagradas na própria Constituição e as restrições
remitidas para a lei.
Exemplo: Art.45º, CRP: «pacificamente e sem armas» A própria Constituição estabelece uma
restrição a esse direito.
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A expressão «sem necessidade de qualquer autorização» deve ser analisada pois nem
todas as condições ou requisitos impostos a um direito constituem uma restrição ao
mesmo. A lei ao exigir uma comunicação prévia de manifestação (serve apenas para
efeitos informativos) não implica a necessidade de autorização. Esta norma não pode ser
interpretada segundo o Art.18º, nº2 porque a necessidade de comunicar uma
manifestação não corresponde a uma restrição.
Colisão de direitos (é possível que um direito conflitue com outro direito). Como resolver
questões de confrontos de direitos?
A solução face a conflitos entre direitos deve ser feita em concreto e suscitada perante os
tribunais. Quando estamos perante um conflito de direitos, o que se tenta fazer é restringir o
menos possível os direitos envolvidos, ou seja, conciliar ambos os direitos de modo a tentar
assegurá-los na sua plenitude máxima. Exemplo: Art.42º e Art.37º, CRP confronto com o direito
de propriedade (nesta situação, tentamos restringir ambos direitos o menos possível).
Art.18º nº2, CRP: «a lei» (leis da Assembleia da República ou decretos-leis autorizados) admite
leis restritivas dos direitos, mas esta admissibilidade está sujeita a requisitos rigorosos, devendo
«limitar-se ao necessário» (o que implica que estas restrições sejam proporcionais) de modo a
salvaguardar outros direitos ou interesses com importância constitucional.
Art.18º, nº3, CRP: as restrições carecem de um carácter geral e abstrato, não podendo ter um
efeito retroativo; estas não podem ser tão amplas que levem à destruição do direito.