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Ano letivo 2017/2018

1º Ano 2º Semestre
Cristiana Toscano
Direito

Aula nº1
Tema 1: Separação de Poderes

É necessária a existência de instrumentos capazes de garantir a proteção das normas


constitucionais. O estudo incide sobre o modo como os órgãos de soberania estabelecem
relações entre si e os seus respetivos limites e meios de controlo.

É importante incidir sobre o modo como os órgãos de soberania são eleitos e demitidos; qual o
controlo que lhes compete exercer e sobre que matérias incidem os mecanismos de controlo do
poder.

❖ Três órgãos de soberania que exercem o poder político:


1. Presidente da República (PR); Estudar o modo como os órgãos de
2. Governo (GV); poder político se relacionam e
3. Assembleia da República (AR). organizam: Sistema de Governo.
❖ Órgãos de poder das Regiões Autónomas dos Açores e da Madeira.

Não é somente através da análise da prática no domínio da política que se define um sistema de
governo, é pela análise da Constituição de um determinado Ordenamento Jurídico que é possível
identificar o sistema vigente nesse mesmo país.

P.e. Em Portugal, ao analisarmos a Constituição da República Portuguesa verificamos que o


sistema de governo adotado é o Semipresidencialismo.

Quais são os indicadores que permitem entender um sistema de governo?

Para identificar o tipo de sistema de governo perante o qual se debruçam as opções


políticas de um país é necessário ter em conta os seguintes aspetos:

1. Papel do chefe de Estado (quais os poderes que dispõe);


2. Responsabilidade política do Governo perante o Parlamento.

Responsabilidade política: define-se como sendo o poder que o Parlamento detém para fiscalizar
e destituir, se necessário, o Governo.

Em certas circunstâncias o Parlamento pode destituir o Governo, uma vez que este é politicamente
responsável perante o órgão parlamentar, isto é, o Governo é obrigado a responder pelos seus
atos perante o Parlamento.

Legitimidade e poder atribuído a um órgão político:


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Quanto maior a legitimidade de um determinado órgão, mais amplos serão os poderes sobre os
quais este vai ter controlo.

Há países nos quais os chefes de Estado não são diretamente eleitos, logo, não têm legitimidade
direta. Esta menor legitimidade do chefe de Estado traduz-se num poder mais apagado do
Presidente no sistema de governo que este representa. P.e. Itália, Espanha, Alemanha e Reino
Unido são países onde os chefes de Estado têm um papel mais apagado.

Exemplo: A rainha do Reino Unido apenas dá seguimento às decisões tomadas pelo Governo.
Neste caso, ninguém vota para eleger o Governo, elegendo assim apenas os deputados do
Parlamento que depois servirão para formar o GV.

É para tal, necessária aprovação do Parlamento face ao programa do Governo, caso contrário este
não tem legitimidade para exercer as suas funções. Concluindo, o GV precisa de apoio da maioria
parlamentar para manter as suas funções.

Exemplo: Reino Unido


Papel do Chefe de Estado Não
Responsabilidade política do GV perante o Sim (o GV emana do Parlamento)
Parlamento
Num Parlamento dividido em múltiplos partidos, as maiorias parlamentares são difíceis de
conseguir alcançar devido a:

✓ Oposições parlamentares;
✓ Formação de coligações entre partidos com opções políticas antagónicas;
✓ Causa instabilidade política.

Sistema de Governo Parlamentar

Principais caraterísticas:

- Resulta da vontade dos cidadãos.

- Formação do Parlamento baseada no voto.

- Mecanismos de racionalização do sistema parlamentar com o objetivo de evitar a instabilidade


política geralmente associada ao excessivo parlamentarismo. Porquê?

❖ Dado que a existência de múltiplos partidos é potenciadora de instabilidade política e


gera a dificuldade perante a existência de um consenso no que toca à formação de
Governo.
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❖ Se a maioria do Parlamento não apoiar o GV o mais provável é, mais tarde, este acabar
por ser demitido, logo, não há possibilidade de criar um Governo estável.
❖ Isto resulta, como já foi referido, da existência de inúmeras divisões parlamentares com
opções políticas distintas.

Exemplo: A 1ª República portuguesa, implantada a 5 de outubro de 1910 que terminou em 1926


com um golpe militar, ilustra muito bem o cenário de instabilidade política associado ao regime
republicano.

Porque é que isto não acontece no Reino Unido, na Alemanha e em Espanha?

Para servir de obstáculo à instabilidade do sistema de governo parlamentar, foram adotadas


normas/medidas que limitaram e preveniram a formação de um Parlamento muito fragmentado,
gerador de caos e instabilidade, fator este que abre facilmente portas à formação de regimes
autoritários de oposição. Esta é uma maneira alternativa de fomentar a maioria absoluta
parlamentar e evitar, pelo contrário, a situação de fragmentação. Este exemplo ilustra uma medida
tomada no sentido de racionalizar o sistema de governo parlamentar.

Tendo em conta os exemplos:

✓ Na Constituição Alemã está definido que um partido não entra no Parlamento se tiver
menos de 5% dos votos a nível nacional. Os membros desse partido são então
distribuídos por outros partidos.
✓ Na Grécia, o partido que ganha as eleições, mesmo sem maioria absoluta, recebe
automaticamente 40 deputados.
✓ Em Itália, o partido pode ser vencedor também sem atingir a maioria absoluta. São
conferidos meios para que seja possível formar Governo, através da atribuição de
deputados.

Tanto na Alemanha como na Espanha, o mecanismo segundo o qual o Parlamento dissolve o


Governo designa-se por moção de censura. Muitas das vezes, os partidos unem-se apenas com
o objetivo de derrubar o Governo. Para combater esta situação foi criada a moção de censura
construtiva – quando um partido apresenta uma moção de censura tem que, obrigatoriamente,
apresentar também uma proposta de Governo e um 1º Ministro alternativo. A introdução da
moção de censura construtiva permite estabilizar o sistema de governo, evitando que o
Parlamento dissolva o Governo com frequência.

Com a aplicação deste método, em Espanha nunca se verificou a ocorrência de uma moção de
censura construtiva, tendo, por sua vez, ocorrido uma única vez na Alemanha.
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No Reino Unido, o próprio sistema eleitoral fomenta a existência de dois grandes partidos – o
Partido Conservador e o Partido Trabalhista -, e está divido em pequenos círculos eleitorais. O
Partido que vencer num determinado círculo, é eleito e segue para o Parlamento. Este modelo
favorece os grandes partidos (sistema bipartidário).

Porém, em Portugal o sistema de cariz parlamentar não é possível: os partidos com menor
influência não seriam eleitos, neste caso o Bloco de Esquerda, o Partido Comunista Português e
o PAN. Neste quadro, o Parlamento sofreria alterações profundas no que toca à sua integridade.
Num sistema bipartidário, o PS e o PSD seriam os dois grandes partidos na disputa pelo poder:
nesta situação, o Parlamento deixaria de espelhar a sociedade portuguesa, deformando assim as
opções políticas da população.

É importante salientar que:

Existem Governos que, adotando o método parlamentar, se mostraram extremamente


duradouros:
1. Governo de Margaret Thatcher que terminou com a sua demissão do cargo de
1ª Ministra.
2. David Cameron que, ao convocar o referendo que levou à saída do Reino Unido
da União Europeia, acabou por se demitir dado o seu descontentamento face aos
resultados obtidos.

Outro exemplo de racionalização do parlamentarismo no Reino Unido:

A possibilidade do Chefe de Estado pedir que o Parlamento seja dissolvido e convocar novas
eleições posteriormente; o Governo tem poder legitimado para dissolver o Parlamento.

Assim, concluímos que no Sistema Parlamentar o foco do poder pode estar:

❖ No Parlamento;
❖ No Governo.

Sistema de Governo Presidencial

Os Estados Unidos representam o melhor exemplo de um sistema de governo de cariz


presidencial.

Exemplo: Estados Unidos


Papel do Chefe de Estado Sim
Responsabilidade política do GV perante o Não
Parlamento
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Apesar dos EUA se apresentarem formalmente como tendo um sistema de eleições indiretas, na
prática isto não acontece (as eleições no fundo são feitas diretamente).

O Chefe de Estado tem uma legitimidade fortemente reconhecida devido ao facto de, na prática,
ser eleito diretamente. Nos EUA existem dois grandes partidos: o Republicano e o Democrata.
Quando são eleitos os deputados, à partida já se sabe em que candidato é que esses
representantes vão votar.

Como é que funciona o sistema eleitoral?

Cada Estado dos EUA elege um conjunto de delegados da Assembleia que, por sua vez, irão eleger
o Presidente (Chefe de Estado). É possível que um Chefe de Estado seja eleito com um total de
menos votos do que o candidato oposto. É o Partido que detém legitimidade para eleger o
Presidente.

Notas:

✓ O nº de eleitores é proporcional à população recenseada em cada Estado.


✓ As eleições “indiretas” são meramente representativas. Na prática o sistema eleitoral é
feito diretamente.

Poder do Chefe de Estado relativamente ao Governo e ao Parlamento

Como já vimos, o Chefe de Estado tem um poder significativo no que toca aos sistemas de
carácter presidencialista. Porém, existem outras caraterísticas que distinguem o presidencialismo
dos outros sistemas de governo:

❖ Não tem que haver um alinhamento entre o Governo e o Parlamento porque os membros
do Governo são nomeados pelo Chefe de Estado.
❖ Quando se elegem os deputados do Parlamento, o Governo não é afetado.
❖ O Governo resulta da escolha do Chefe de Estado porque o Presidente desempenha o
cargo de Chefe de Estado e de Governo, simultaneamente.

O sistema bicameral: Câmara dos deputados e Senado.

As duas câmaras do Congresso nada têm a ver com o Governo; são independentes face ao
Governo.

Nota: É possível haver um Presidente Republicano e a maioria do Congresso ser democrata.

Quais são os problemas derivados deste tipo de sistemas governativos?


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No sistema presidencialista, o problema não incide sobre a instabilidade política. Logo, não há
risco de o Governo ser demitido pelo Parlamento porque não é politicamente responsável perante
o órgão parlamentar. Porém, o Governo é politicamente responsável perante o Chefe de Estado.

Surgem então outros tipos de problemas associados ao Presidencialismo, entre os quais:

Bloqueio do Sistema - Dois cenários:


1. O Chefe de Estado pode querer que uma determinada lei seja aprovada, no entanto, o
Parlamento pode decidir não aprovar essa mesma lei.
2. O Chefe de Estado poderá recusar-se a executar uma lei que foi aprovada pelo
Parlamento.
➢ Nenhum destes órgãos tem poder reconhecido e legitimado para dissolver o
outro. Ambos são obrigados a conviver entre si.

P.e. A questão da legislação sobre a posse de armas nos EUA; Pretensão de Barack Obama não
coincidia com as decisões do Congresso.

Nota: Os partidos dos EUA não têm o mesmo peso que os partidos da Europa.

Neste âmbito, estabeleceu-se uma regra que procurava evitar os bloqueios do sistema:

No que toca às eleições e ao período eleitoral definiu-se o seguinte:

➢ O Presidente é eleito de 4 em 4 anos e a meio do seu mandato são feitas as


eleições para o Parlamento. Nestas eleições, ocorre, muitas das vezes, uma
alteração no domínio partidário (oscilações entre partido republicano e
democrata).
➢ Por sua vez, o Senado detém um mandato de 6 anos e 1/3 deste mesmo
órgão é reeleito de 2 em 2 anos.
➢ As mudanças parlamentares que ocorrem durante o mandato do Chefe de
Estado podem ter consequências fortes no que toca às políticas do
Congresso.

Nota: Os deputados votam muitas vezes contra os seus próprios partidos, tendo em conta os
interesses do Estado em que residem.

Aula nº2

No que toca ao modelo parlamentar, o Parlamento é o órgão fulcral do sistema de governo tendo,
por isso, o Chefe de Estado um papel secundário no poder.
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Em França, deu-se uma alteração de um sistema de cariz parlamentar para um sistema


semipresidencial. Como?

✓ O Chefe de Estado passou a ser eleito diretamente pelos cidadãos.


Sistema de Governo Semipresidencial

Este sistema carateriza-se por se encontrar entre o sistema parlamentar e o sistema presidencial.
Assim, podemos dizer que o semipresidencialismo se cruza tanto com o parlamentarismo como
com o presidencialismo.

Exemplo: Portugal
Papel do Chefe de Estado Sim
Responsabilidade política do GV perante o Sim
Parlamento
O semipresidencialismo adota um sistema de governo que tem como principais objetivos:

1. A separação do poder pelos diferentes órgãos de soberania.


2. A limitação do poder de modo a evitar concentração de poderes.

Influências internas/nacionais que aproximam o constitucionalismo português do sistema


semipresidencial têm os seguintes objetivos:

✓ Procurar replicar o que funcionou no passado.


✓ Eliminar opções/medidas que não resultaram.

Como exemplo temos a 1ª República portuguesa que apesar de ter sido fortemente criticada
serviu de base para algumas particularidades do semipresidencialismo português.

a) O parlamentarismo de assembleia era visto como a principal causa de instabilidade


política e era alvo de inúmeras críticas sobretudo no que toca à relação entre os
deputados e os partidos (era necessário haver um controlo/uma reestruturação do
sistema partidário que permitisse estabilizar o governo).
b) A forte oposição à concentração do poder na figura do 1º ministro no que toca ao sistema
parlamentar de gabinete, como aconteceu p.e., na Constituição de 1933 (espécie de
presidencialismo de 1º ministro).
c) O sistema de governo presidencial centrava-se na figura do Chefe de Estado, não tendo
em conta o princípio da separação de poderes.

Qual a solução para esta situação?

❖ Encontrar um modelo capaz de dividir o poder, designado por sistema semipresidencial.


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Neste sistema de governo, o Chefe de Estado é eleito diretamente pelos cidadãos. Esta opção
adotada pelo constitucionalismo português teve como base os acontecimentos que se verificaram
nas eleições de 1958 quando Humberto Delgado se candidatou enquanto representante da
oposição.

Influências externas/internacionais que aproximam o constitucionalismo português do sistema


semipresidencial, surgiram devido a algumas circunstâncias, entre as quais:

✓ O facto de os exilados do tempo de Salazar se terem refugiado em França (o berço do


iluminismo).
✓ O sistema presidencial adotado na França com base em eleições diretas para o PR teve
grande impacto no constitucionalismo português.
✓ As relações económicas relativamente à grande afluência de importações francesas.

Exemplo: Governo minoritário de Cavaco Silva (líder do PSD desde 1985) seguido de dois
governos maioritários. Em 1996, Cavaco Silva não se candidata às eleições legislativas, mas
sim às eleições presidenciais, perdendo contra Jorge Sampaio (1996-2006). Neste contexto,
os candidatos a líderes do PSD foram João Barroso, Santana Lopes e Fernando Nogueira (este
último vence contra os dois candidatos opostos) que disputam as eleições legislativas contra
o líder do PS, António Guterres que vence à oposição do PSD.

Num cenário alternativo: Se Cavaco Silva fosse eleito para Presidente da República e
Fernando Nogueira ascende-se ao cargo de 1º ministro criava-se um cenário de inferioridade
e dependência do 1º ministro face ao PR, uma vez que ambos pertenceram ao mesmo partido,
o PSD.

Como funciona o semipresidencialismo na Constituição portuguesa?

A partir do artigo 108º que marca a III parte da Constituição portuguesa, encontramos as
normas que incidem sobre a organização do poder político. Os órgãos de soberania
legitimamente reconhecidos são então os seguintes (Artigo 110º, CRP):

a) A Assembleia da República.
b) O Governo.
c) O Presidente da República.
d) Os tribunais.

O constitucionalismo português tem como base alguns princípios, tais como:

1. O princípio democrático.
2. O princípio do Estado de Direito.
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Notar que podemos estar perante um Estado democrático, que elege o poder através do
voto, e não ter um Estado de Direito assegurado, no caso de não haverem regras que
estabeleçam a ordem.

❖ Artigo 2º, CRP: Estado de Direito

P.e. A Constituição de 1933 era reconhecida como um Estado de Direito, no entanto, o


princípio democrático não estava assegurado.

No entanto, existem órgãos constitucionais que não são órgãos soberanos, como por
exemplo:

a) Os órgãos regionais: Assembleia Legislativa Regional; Governo Regional e o


Representante da República das respetivas Regiões Autónomas; e
b) As autarquias locais, municípios, etc.
c) O provedor de Justiça.

Título II referente à regulação do poder do Presidente da República:

❖ Artigo 120º CRP, Presidente da República


❖ Artigo 126º CRP, Sistema eleitoral: os votos validamente expressos não integram os
votos nulos que são, por natureza, inválidos. No entanto, apesar do voto branco não ser
considerado inválido, este não conta para a votação.

Ver artigos referentes ao cargo do Presidente da República (A partir do Art.120º)

Como se relacionam o Presidente da República e o Governo? (relação alterada com a 1ª


revisão constitucional de 1982)

Ora, o Governo é politicamente responsável perante a Assembleia, mas não está


desligado do Presidente da República porque é por ele nomeado, de acordo com os
resultados eleitorais dos partidos. Esta particularidade afasta o sistema português do sistema
de carácter presidencial. Por sua vez, o Governo necessita de apoio parlamentar para manter
as suas funções e da aprovação do Presidente para ter possibilidade de as iniciar.

❖ Artigo 133º e 187º nº1 CRP

Exemplo: Governo de Passos Coelho nomeado pelo Presidente (coligação entre PSD e CDS).

Concluindo, o Presidente nomeia os membros do governo sob a proposta do 1º ministro.


A Assembleia da República não tem poder para aprovar uma moção de censura a apenas 1
membro do Governo. Em regra geral, quem nomeia os membros do GV é quem pode fazer
cessar as suas funções.
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No caso de o Presidente ter poder para demitir o GV, havia instabilidade política:

✓ Não só o GV era politicamente responsável perante a Assembleia como perante o


Presidente;
✓ O facto de existirem opções político-ideológicas distintas gerava grande instabilidade
política pois o Governo podia ser demitido através da moção de censura por parte
da AR ou demissão por parte do PR).
✓ O poder atribuído ao PR de demitir o GV aproximava-se do sistema presidencial.
Que medidas foram tomadas para solucionar este problema?
O Presidente podia discordar das opções políticas do Governo, mas não poderia
demiti-lo em qualquer circunstância. Eram necessários alguns requisitos para que o
PR tivesse legitimidade e poder para demitir o GV, tais como:
a) O PR pode demitir o GV se este puser em causa o regular
funcionamento das instituições democráticas.
b) Tem por base as crises político-institucionais.

Com a revisão constitucional de 1982, o Presidente deixa de ter poder para demitir o Governo
devido à simples e mera discordância política.

Como tanto o Presidente como a Assembleia são órgãos democraticamente eleitos, não faz
sentido haver moção de censura construtiva em Portugal uma vez que o PR detém legitimidade
democrática direta.

Concluindo, o Governo era então politicamente responsável perante:

1. A Assembleia da República; e
2. O Presidente da República (considerava-se que tudo o que o GV tomasse como medidas
tinha a aprovação do PR).
❖ Esta situação gerava confrontos entre os diferentes órgãos de soberania e como tal,
foram introduzidas medidas com o fim de evitar instabilidade política.
❖ O Governo tornou-se apenas institucionalmente responsável perante o Presidente
(medida que funciona como válvula de segurança do sistema). Deixou de ser
politicamente responsável perante o PR, mantendo apenas essa responsabilidade
face à Assembleia da República.
❖ No caso de o Presidente proceder à demissão do Governo, terá que nomear novos
membros para ocuparem esse lugar.
Exemplos:
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✓ Governo de Santana Lopes derivado da coligação do PSD-CDS (maioria


parlamentar). O apoio da maioria é fundamental para que o GV
mantenha as suas funções enquanto órgão soberano.
✓ Nos casos em que a demissão do Governo por parte do Presidente da
República se faz acompanhar pelo apoio da maioria na Assembleia é
irrelevante para o PR demitir ou não o GV. Ramalho Eanes tentou fazê-
lo e não foi bem-sucedido.
✓ Na verdade Jorge Sampaio não demitiu Santana Lopes, dissolveu a
Assembleia da República provocando a antecipação das eleições.
Continuação: Sistema de Governo Presidencial

Neste sistema verificamos que existe uma relação bilateral entre dois centros de poder, sendo
estes:

1. O Presidente ou Chefe de Estado.


2. O Parlamento.

Nestas circunstâncias o que acontece muitas das vezes é que entre estes dois órgãos
políticos dá-se um certo confronto de ideologias.

P.e. Governo do Partido Socialista minoritário (de António Guterres) cuja oposição era
composta por partidos com ideologias opostas que, no entanto, não apresentaram
nenhuma oposição formal (não procederam à votação no Parlamento embora todos se
opusessem ao programa de Guterres).

Aula nº3
Análise dos poderes do PR relativamente aos outros órgãos de soberania

1ª Revisão Constitucional (1982)

✓ Dupla responsabilidade política do Governo perante o PR e o Parlamento.


✓ A primeira revisão constitucional simboliza uma rutura com esta relação fragmentada do
GV, duplamente dividido.
✓ O GV passou a ser politicamente responsável apenas pela Assembleia da República
(maioria parlamentar pode demitir o Governo).
✓ O PR pode destituir o GV somente no caso de existir uma ameaça ao regular
funcionamento das instituições democráticas (válvula de segurança do regime
democrático).
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O PR detém o poder de dissolver a Assembleia (órgão eleito democraticamente pelo povo), logo,
não faria sentido se não pudesse também demitir o GV nos respetivos casos expostos na lei.
Verificamos que existe uma exceção no que toca à demissão do Governo pelo PR no artigo 195º
nº2 da Constituição da República.

❖ Relação do Presidente com o Governo:


▪ Artigo 133º, CRP
▪ Artigo 195º nº2, CRP

Exemplo: Jorge Sampaio; Santana Lopes – Dissolução da Assembleia da República implicando a


demissão do Governo. (Santana Lopes demitiu-se; o GV terminou por demissão do próprio 1º
ministro e não por dissolução do PR). A maioria do Parlamento estava contra a dissolução do GV.

Responsabilidade do GV perante a AR: normas aparentemente contraditórias

Artigo 190º CRP: ser responsável significa prestar contas a esses órgãos e correr o risco de ser
demitido pelos restantes órgãos de soberania. Não afirma que o GV é politicamente responsável
perante o PR.

Artigo 191º CRP: distinção de responsabilidade política apenas induzida entre o Governo e a
Assembleia.

Poderes do Presidente perante a Assembleia da República

Artigo 133º CRP alínea e)

✓ Os deputados têm legitimidade própria; esta não advém do Presidente da República


porque este não nomeia os deputados.
✓ A Assembleia da República resulta de eleições democráticas.
✓ O PR pode dissolver o Parlamento, convocando Conselho de Estado e seguindo os
procedimentos necessários para tal.

Artigo 172º CRP Limites à dissolução da Assembleia da República.

O Presidente não pode dissolver a AR nos seguintes dois momentos:

1. Se houver eleições legislativas, nos primeiros 6 meses estas não podem ser dissolvidas.
2. O PR no último semestre do seu mandato não pode dissolver a Assembleia da República.
Porquê?
✓ Para evitar que o PR, no fim do seu mandato, possa querer alinhar as
eleições presidenciais com as legislativas. A Constituição portuguesa
evita que as eleições legislativas e presidenciais decorram
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simultaneamente, de modo a assegurar a separação e o controlo mais


efetivo dos poderes.

Exemplo: Há 2 anos atrás quando houve eleições legislativas, os primeiros 6 meses do Parlamento
coincidiram com os últimos 6 meses do mandado do PR, levando a uma espécie de dupla
proibição de dissolução parlamentar.

Há um conjunto de poderes que não têm sanção, como p.e. a dissolução do Parlamento. O PR
deverá somente dissolver a Assembleia da República se entender que esta não está a
desempenhar as suas funções de forma correta e deliberada.

Após a demissão de um GV é necessária a nomeação de um novo 1º ministro.

Nota: Em Portugal não se verifica um bipartidarismo, mas sim um sistema de multipartidarismo


com 5 partidos dominantes. Mesmo dentro do multipartidarismo é normal que certos partidos
se demonstrem mais fortificados em certos períodos, no entanto, a tendência tem sido de
equilíbrio entre os diferentes partidos.

Mandatos mais longos provocam um afastamento na relação entre os eleitores e os eleitos: existe
uma menor ligação ao corpo eleito.

Outros poderes do Presidente que advêm da sua legitimidade democrática direta:

1. Poder de promulgar ou vetar os atos legislativos. O PR não tem poder legislativo, porém,
os atos legislativos têm, necessariamente, que passar pelas mãos do Presidente. Como se
justifica este poder?
✓ O poder de promulgar ou vetar as leis deriva do facto do PR ser eleito
democraticamente pela via direta, conferindo-lhe assim uma grande
legitimidade política.
✓ O veto é absoluto. O PR com mais legitimidade do que o GV leva à
situação de veto absoluto no qual a lei retorna ao GV e este é obrigado
a alterar a proposta de lei.
✓ O equilíbrio entre os dois órgãos legitimados democraticamente como
o PR e a Assembleia da República dá-se pela análise diferente do poder
de veto. Havendo divergência de opiniões entre o PR e a AR, o
Presidente pode vetar a lei, mas se esta retornar à AR e a votação se
manter igual, o Presidente é obrigado a promulgá-la porque o
Parlamento é um órgão com grande legitimidade política.
✓ Maioria especializada ou absoluta: Qual a distinção? Há leis que têm
que ser aprovadas pela maioria absoluta.
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2. Fiscalização legislativa: preventiva ou sucessiva. Possibilidade de enviar as leis para o


Tribunal Constitucional.
3. Poder de convocar referendos. A proposta para o referendo compete ao GV ou à AR mas
é o Presidente que os convoca.
4. Poder de nomear personalidades para órgãos relevantes da vida portuguesa.
❖ Artigo 133º alínea m) e p) CRP

Ref. Conselho da Revolução: (órgão revolucionário não legitimado democraticamente),


eliminado após a 1ª Revisão Constitucional de 1982.

Pactos MFA-Partidos: definiam que o 1º Presidente da República deveria ser militar (António de
Spínola); os lideres dos partidos focavam-se no desempenho do cargo de 1º ministro.

Análise dos poderes da Assembleia da República

Algumas notas introdutórias:

Como é que a Assembleia da República é eleita?

1. Os deputados são eleitos por círculos eleitorais. O país está dividido em círculos eleitorais,
tendo cada círculo que eleger mais do que 1 deputado de acordo com a população
residente (círculos plurinominais). O modelo dos círculos desaproveita os votos.
❖ Artigo 152º nº2 CRP

Método de Hondt

Artigo 149º CRP: Permite a existência de círculos uninominais e plurinominais, embora ainda não
existam círculos uninominais. No Reino Unido só existem círculos uninominais, contrariamente ao
sistema português.

Objetivo: Assegurar o sistema proporcional e o método da média mais alta.

Cada círculo deve eleger um nº de deputados proporcional ao nº de eleitores. A Constituição


permite a existência de um círculo nacional.

Artigo 148º CRP: mínimo 180 deputados; máximo 230 deputados da Assembleia da República.

Quórum: saber quantos deputados têm que estar numa sala para proceder a uma votação; só é
necessário para a votação; têm que estar pelo menos 116 deputados presentes para poder haver
votação. Os deputados devem dirigir-se para o plenário. (Artigo 116º nº2 CRP) As deliberações
prendem-se com a respetiva votação feita na Assembleia da República.
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A maioria necessária para aprovar uma votação é distinta do quórum. Para votar é necessário que
116 deputados estejam presentes, no entanto, a maioria não é medida da mesma forma.

Distinção entre maioria qualificada e maioria simples:

- Votos contra versus votos a favor (s/contar com as abstenções) designa-se por maioria simples.

Dias na AR estão divididos em dias para a discussão e dias para a votação.

Relação entre a Assembleia da República e do Governo

Formas de o Parlamento dissolver o Governo:

1. Rejeição do programa do governo (apreciação);


2. Aprovando moção de censura;
3. Rejeição de moção de confiança.

O Governo apresenta o programa perante o Parlamento e no final da apresentação desse


programa, o Parlamento vota se está de acordo ou contra esse programa. Os votos são
regularmente a favor porque o Governo costuma ter o apoio da maioria parlamentar. Isto
acontece em Espanha, na Alemanha e no Reino Unido.

Investidura parlamentar: O PR tem um papel apagado.

Como funciona o sistema português?

As eleições para a Assembleia Constituinte foram uma espécie de experiência para a elaboração
das eleições legislativas para a Assembleia da República. Nenhum partido ganhou as eleições para
a Assembleia Constituinte com maioria estável.

As eleições para a Assembleia Constituinte simbolizaram uma antecipação do que poderia vir a
ser o sistema político português: se os deputados da Assembleia Constituinte incluíssem na
Constituição uma norma típica parlamentar a dizer que o Governo tem que ver o seu programa
aprovado no Parlamento para manter as suas funções políticas, iria causar problemas futuros.

Em Portugal:

O programa de Governo é apreciado no Parlamento, tendo sendo apresentado e discutido no


Parlamento, mas no fim da discussão não é obrigatória a votação. Logo, em Portugal não existe
investidura parlamentar porque o Governo não necessita da aprovação do Parlamento para
manter as suas funções ativas.

No entanto, o Governo ou os deputados da oposição podem pedir uma votação quando:


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1. O Governo sabe que terá a maioria dos votos no Parlamento.


2. Quando a oposição pretende votar contra o programa do Governo, apresentando
para tais efeitos um Governo alternativo mais forte do que aquele que irá ser
demitido.
3. Só nos casos em que a oposição junta tem maioria no Parlamento é que faz sentido
rejeitar o programa do Governo na votação. P.e. Governo de Ramalho Eanes; Pedro
Passos Coelho.
❖ Artigo 192º CRP (apreciação distinto de aprovação)

Para que o programa do Governo seja rejeitado, têm que estar contra esse programa a maioria
dos deputados (116 deputados segundo o sistema de governo português).

Para a rejeição do programa de Governo, dispõe-se o Artigo 195º alínea d)

Programa do Governo sujeito a:

a) Apresentação;
b) Apreciação;
c) Aprovação/Rejeição por maioria.

Aula nº4
Apesar de existirem três modos da Assembleia da República fazer cessar as funções do
Governo, a Constituição portuguesa estabelece meios de proteção dos governos minoritários
de modo a evitar que um governo minoritário fosse incapaz de governar.

A possibilidade da maioria parlamentar derrubar um governo depende se esta apoia ou não


o programa do Governo. Tal situação verifica-se sobretudo face aos governos minoritários
através do impedimento do inicio ou da manutenção das funções desse mesmo governo.

De que modo se protegeram os governos minoritários?

✓ A apreciação do programa do Governo prevista no artigo 192º da CRP, submete o


programa de Governo apenas à apreciação e não à aprovação por parte do
Parlamento. Não é obrigatória a votação parlamentar face ao programa do Governo.
✓ Havendo votação parlamentar para rejeitar o programa do Governo, é necessário
que a maioria absoluta dos deputados em efetividade de funções (correspondem a
pelo menos 116 deputados num total de 230) votem contra o programa de Governo.
Se houver algum partido que se abstenha da votação, será muito difícil apresentar
uma rejeição face ao Governo.
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❖ A maioria dos deputados em efetividade de funções nada tem a ver com


o nº de deputados presentes; é necessária a comparência de pelo menos
metade do total dos deputados para haver maioria absoluta.
❖ O nº de deputados é relevante somente para o quórum, visto que são
necessários 116 deputados para que se proceda à votação.
✓ Aprovação da moção de censura é frequente nos sistemas parlamentares e
semipresidenciais como modo de fazer cessar as funções do Governo. No artigo 194º
da CRP estabelece-se o seguinte:
❖ Um grupo parlamentar (controlado pela direção parlamentar) é composto
pelo nº mínimo de 2 deputados – valorização do partido. Nesta circunstância,
os grupos parlamentares podem ter iniciativa para moção de censura
constituindo, pelo menos, ¼ do total de deputados em efetividade de
funções. No nº3 do artigo estabelece-se que no caso da moção não ser
aprovada, aqueles que a apresentaram não podem apresentar outra durante
a mesma sessão legislativa (durante esse ano).
✓ Qual a maioria necessária para aprovar a moção de censura?
❖ Artigo 195º f) CRP estabelece que a moção de censura só tem efeitos, no
sentido de provocar a demissão do Governo, no caso de ter a aprovação da
maioria absoluta dos deputados em efetividade de funções.

As moções de censura em Portugal:

Porque é que se apresentam moção de censura, sabendo à partida que esta não será aprovada?

1) Promover o debate político em torno de um determinado tema (é marcado debate de


urgência no Parlamento para discutir o motivo que levou à moção de censura colocando
o GV numa situação de fragilidade).
2) Constitui um método de fiscalização política.
3) Poderá levar à efetiva demissão do Governo.
4) Acentuam as diferenças entre os partidos.
5) Os partidos ao apresentarem uma moção de censura ganham tempo, tendo a
possibilidade de monopolizar o debate político, apresentando críticas ao Governo.
❖ Artigo 194º nº2 CRP

P.e. A moção de censura apresentada pelo CDS ao Governo atual tendo conhecimento prévio de
que esta não iria ser aprovada.

Outro exemplo: Moção de censura aprovada para derrubar o GV de Cavaco Silva (PSD) em 1986;
as eleições foram bastante controversas. Porquê? Porque se formou um novo partido – o PRD é
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formado no tempo em que Ramalho Eanes ainda era Presidente, que curiosamente era o principal
apoiante deste novo partido. Este partido surge num período de crise política, tendo resultados
eleitorais muito favoráveis. Ramalho Eanes não se interessava pelo governo do PS apoiado pelo
PRD de modo a que quando este pudesse ser líder do PRD tivesse a hipótese de ascender ao
cargo de 1º Ministro (uma vez que o PS estaria enfraquecido). Neste quadro, Mário Soares é eleito
como Presidente e não apoia o partido de Ramalho Eanes: dissolve o parlamento e convoca novas
eleições que levaram ao retorno do PSD ao poder.

❖ Após este episódio, nunca mais se aprovou uma moção de censura em


Portugal com receio do mesmo se repetir.

Governo em gestão: nesta circunstância o GV só pode tomar medidas necessárias, não podendo
efetuar decisões extraordinárias.

✓ Moção de confiança é uma espécie de reverso da moção de censura (na qual os


deputados da oposição têm como objetivo derrubar o Governo). Na moção de confiança
é o próprio Governo que submete a questão ao Parlamento para se certificar que tem o
seu apoio. É muitas vezes recorrido numa situação de coligações, o GV procura saber
quem é que o apoia e quem o desaprova. Procura dar um conforto ao Governo para que
este saiba que tem o apoio do Parlamento. Esta medida visa proteger os governos
minoritários. Basta uma maioria simples (mais votos a favor do que contra) votar a favor
da confiança do GV para que este mantenha as suas funções. No entanto, é necessário
haver maioria absoluta para que a moção de confiança seja desaprovada.

Nota: Quando se diz que o Governo é politicamente responsável perante a Assembleia da


República não quer dizer que a fiscalização política se reduza à possibilidade de o Parlamento
provocar o derrube do Governo. A fiscalização política não implica a cessação das funções do
Governo, esta pode ser feita de várias maneiras, como por exemplo:

❖ Artigo 156º d) CRP; (perguntas por escrito).


❖ Artigo 177º nº1 e nº2 CRP; (presença física no Parlamento para responder às
questões solicitadas).

Organização entre o plenário e as comissões:

➢ O plenário é onde se reúnem os deputados do Parlamento. Os deputados são eleitos


para o plenário.
➢ Comissões organizadas por temas; os deputados dos partidos estão distribuídos pelas
diversas comissões. São uma espécie de Parlamento em miniatura, os deputados são
proporcionais ao nº de deputados que têm no plenário. As comissões têm a mesma
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representatividade que os deputados têm no plenário; são permanentes. As leis são


discutidas na especialidade na comissão. As comissões têm um papel duplo, pois:
❖ Participam na aprovação das leis.
❖ Desempenham papeis na fiscalização política dividida por áreas especializadas.
Nota: o tempo é uma questão fulcral no Parlamento, estando, como tal, organizado de
forma sistemática de modo a maximizar o tempo disponível.
Comissões permanentes: as leis passam pelo plenário e são depois discutidas na
sua especialidade.
Comissões parlamentares de inquérito (função fiscalizadora do Governo): são
eventuais; criadas com o propósito de debater sobre um determinado tema
inquirindo as pessoas que pretende inquirir e depois extinguem-se. Podem ser
constituídas sempre que necessário, mas tem que haver uma votação prévia no
parlamento.
❖ Artigo 158º nº1; 4 CRP.
❖ A Constituição passou a permitir que, mesmo contra a vontade da
maioria parlamentar, se possa constituir uma comissão parlamentar de
inquérito proposta pela oposição: basta 1/5 dos deputados. Cada
deputado junto com outros que formem 1/5 só podem criar uma comissão
parlamentar de inquérito no mesmo ano. Esta terá que ser proposta por
outro 1/5 de deputados que não esgotou a possibilidade de constituir a
comissão parlamentar de inquérito nessa sessão legislativa.

Competência legislativa:

Artigo 161º CRP: A legislatura tem a duração de 4 sessões legislativas.

Artigo 174º CRP: Duração da sessão legislativa.

Artigo 171º nº2 CRP: A Constituição define que quando há uma eleição legislativa a meio de uma
sessão legislativa, a esta sessão acresce o tempo que já decorreu durante a sessão legislativa que
estava em curso.

Artigo 127º CRP: o Presidente toma posse perante a Assembleia da República, mas não é
politicamente responsável perante o Parlamento. Estes órgãos não conferem legitimidade um ao
outro.

Ler: Artigos relativos ao Conselho de Estado da CRP; artigos 140º e seguintes.

Regiões Autónomas
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(especificidade a nível do funcionamento do sistema de governo)

Nas regiões autónomas, para além de haverem votações para o Presidente da República,
Assembleia da República e respetivas autarquias, há também votações para a Assembleia
Legislativa Regional (com um modelo semelhante ao da eleição da AR; sendo o Governo Regional
escolhido segundo os resultados eleitorais regionais).

Relação entre o Presidente da República e o Representante da República:

O Representante da República é, na prática, um representante do Presidente da República. As


regiões autónomas detêm órgãos especializados como a Assembleia Regional, o Governo
Regional e o Representante da República que antigamente se designava por Ministro da
República. O RR exerce poderes como p.e. a nomeação do Governo Regional, tendo em
consideração os resultados obtidos na Assembleia Regional.

Artigo 230º CRP: Representante da República eleito e demitido pelo Presidente da República.

Artigo 231º CRP: Órgãos de poder das Regiões Autónomas

Quais os poderes do Representante da República?

a) O Representante da República nomeia o Governo Regional.


b) Artigo 234º nº1; 2 CRP: As Assembleias Legislativas Regionais não podem ser dissolvidas
pelo Representante da República, mas sim pelo Presidente. Porquê? Porque o
Representante não tem legitimidade democrática direta. A dissolução da AR Regional
implica a demissão automática do GV Regional.
c) Enquanto no quadro continental, o PR pode dissolver a AR sem implicar o derrube do GV,
o mesmo não acontece a nível regional.

Aula nº5
Análise da organização do poder legislativo

No âmbito nacional:

Portugal é o país de sistema semipresidencial em que o Governo mais legisla, porém, é


reconhecida capacidade legislativa:

a) À Assembleia da República;
b) Ao Governo (equiparado ao poder da AR);
c) À Assembleia Regional.
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❖ A ideia de que existe uma primazia legislativa da Assembleia da República face ao


Governo não corresponde à realidade pois, na prática, o Governo chega a aprovar
mais atos legislativos que a própria Assembleia. Em Portugal, a produção legislativa
é sobretudo exposta pelo Governo. O poder legislativo está, de facto, repartido entre
a Assembleia da República e o Governo, de acordo com os limites definidos pela
Constituição.

Porque é que em Portugal é diferente a nível do poder legislativo atribuído ao GV?

✓ Na constituição de 1933 (de cariz antiparlamentar) atribuíam um forte poder ao Governo,


focando sobretudo na supremacia do Primeiro-Ministro. Contrariamente, verificava-se
um apagamento do Presidente da República, estando a hegemonia do poder legislativo
concentrada no Governo e não na Assembleia.
✓ A ideia dos deputados constituintes ao elaborar a Constituição de 1976 não foi a de
eliminar o papel do Governo, mas sim legitimar este órgão, tornando-o democrático. Para
tal estabeleceram-se medidas tais como a possibilidade da moção de censura por
iniciativa da Assembleia da República.

O Governo detém uma maior capacidade técnica a nível legislativo. Como explicar esta
tendência? Ora, cada vez mais os atos legislativos apresentam uma componente técnica
acentuada e, tendo em conta a diversidade dos ministérios do Governo, é normal que este seja o
órgão que mais compreende determinadas matérias. O Governo tem, por isso, acesso a recursos
que a Assembleia não dispõe a seu favor. Para além de que quando o Governo legisla, não procura
estabelecer acordos entre os deputados de diferentes partidos, cujas matérias não conhecem e
em muitos dos casos até divergem.

Poder legislativo do Governo explica-se devido a alguns fatores, para além dos referidos acima,
tais como:

✓ As leis feitas no Parlamento têm uma maior abertura. É mais difícil conseguir uma lei
homogénea no Parlamento do que no Governo porque nem sempre os deputados
chegam a um acordo/consenso.
✓ A qualidade técnica dos atos legislativos do Governo é superior face aos atos legislativos
provenientes da Assembleia da República.

Quem determina quem pode e deve legislar sobre determinadas matérias?

❖ É a constituição que define quais as matérias que estão reservadas tanto ao Governo
como à Assembleia, ou até o conjunto de matérias que não são exclusivas de nenhum
destes dois órgãos – as matérias de domínio concorrencial.
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Existe um conjunto de matérias que, pela sua relevância, devem estar reservadas à Assembleia da
República. Não é possível haver um decreto-lei (atos legislativos aprovados pelo Governo) sobre
uma matéria que compete exclusivamente à Assembleia, sob a pena de esse decreto ser declarado
como inconstitucional.

Nota: Os atos legislativos aprovados pela AR designam-se leis, enquanto os atos legislativos
aprovados pelo GV designam-se decretos-lei.

Um decreto-lei é inconstitucional se não for da competência do Governo legislar sobre essa


matéria.

Matérias de reserva absoluta da Assembleia da República:

❖ A Assembleia aprova uma lei sobre uma determinada matéria que lhe está
exclusivamente reservada (lei).
❖ O Governo não pode legislar, sob pena de serem inconstitucionais os decretos
legislados que dele provém, nesta circunstância.

Matérias de reserva relativa da Assembleia da República:

✓ A Assembleia da República pode autorizar o GV a legislar sobre certas matérias


(lei de autorização).
✓ A Assembleia aprova uma lei que permite ao Governo legislar sobre a matéria x
(lei de autorização legislativa + decreto-lei), delegando competência ao Governo
para legislar.
✓ As leis de autorização legislativa cumprem certos requisitos:
1. Definir a matéria (o objeto) sobre a qual o Governo pode legislar;
2. O Governo fica vinculado ao sentido em que deverá legislar;
3. A autorização é acompanhada de um prazo durante o qual o Governo
tem competência para legislar.
4. O decreto-lei tem que respeitar a lei de autorização legislativa,
designando-se por ‘decreto-lei autorizado’.
✓ Se o decreto-lei desrespeitar a lei de autorização torna-se inconstitucional e ilegal
porque para além de violar a própria Constituição, viola também uma lei da
Assembleia.

Nota: A autorização legislativa não corresponde a uma obrigação; o Governo não é


obrigado a legislar. Não há uma sanção pelo facto de o Governo não legislar dentro do
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prazo estabelecido. No caso de isso acontecer, a lei de autorização caduca e o GV perde


a competência para legislar sobre a matéria em questão.

Competência legislativa do Governo:

Domínio reservado:

✓ Também existe um domínio reservado à produção legislativa do Governo.


✓ Algumas matérias não são da competência da Assembleia.
✓ Apesar da Assembleia da República ser, por excelência, o órgão legislativo,
existem matérias sobre as quais a AR não pode legislar, estando ‘reservadas’
exclusivamente ao Governo.

Domínio autorizado:

✓ Destinado ao Governo, mas que carece da autorização da AR;


✓ Não é um domínio livre, sujeita-se aos conteúdos e ao que ficou estipulado pela
lei de autorização aprovada pela Assembleia.

Domínio concorrencial:

Todas as matérias sobre as quais seja necessário aprovar legislação que não se enquadram nas
circunstâncias apresentadas acima (matérias e domínios reservados ou relativos) representam a
maior parte da produção legislativa. Para estas matérias, tanto o Governo como a Assembleia têm
competência para legislar uma vez que a Constituição não define quem deve legislar. A isto
chamamos domínio concorrencial. A constituição não tipifica quem deve legislar sobre estas
matérias.

❖ Devido ao apoio parlamentar da maioria face Governo, existe um certo consenso no que
toca às matérias de domínio concorrencial. Mesmo no caso de governos minoritários não
fará sentido que o Governo legisle ignorando se a maioria do parlamento concorda com
os seus decretos-lei.
❖ Assim, estes dois órgãos estabelecem relações de interdependência entre si que
permitem que haja uma harmonização legislativa no domínio concorrencial.

Nota: Uma lei do domínio concorrencial pode ser alterada por um decreto-lei do Governo uma
vez que sobre essas matérias podem tanto legislar a Assembleia ou o Governo, correndo sempre
o risco de que o outro órgão de soberania legisle num sentido oposto.

Quem é competente para aprovar uma lei ou um decreto-lei?

a) Governo no domínio concorrencial:


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Se o Governo desejar aprovar um decreto-lei no domínio concorrencial, a produção legislativa


dá-se somente no Governo. Os projetos de decretos-leis são elaborados internamente, sendo
mais tarde apresentados apenas ao Primeiro-Ministro (não são votados no parlamento).
Antes de partir para a Reunião de Conselho de Ministros, efetua-se uma Reunião de
Secretários de Estado, onde se discute o projeto de lei.

b) Como se dá a produção legislativa no Governo?


1) Dentro do ministério, discute-se o projeto do decreto-lei a ser enviado para a
Reunião de Secretários de Estado.
2) O projeto procede para a Reunião de Secretários de Estado - um secretário de
Estado a representar cada ministério -, onde tomam conhecimento do diploma e
analisam-no, procurando se existem ou não objeções ao projeto de lei. Esta etapa
serve para estabelecer um acordo entre os diferentes ministérios (funciona como
uma espécie de antecâmara do Conselho de Ministros).
3) Segue o projeto de lei para o Conselho de Ministros, no caso de haver consenso
entre os secretários de Estado. Quando um diploma chega ao Conselho de
Ministros já foi previamente discutido na Reunião de Secretários de Estado e no
Ministério. A Reunião dos Secretários de Estado permite facilitar o processo de
legislação sobre o projeto de decreto-lei.
4) Finalmente, o projeto de lei segue para o Presidente da República para
promulgação.
❖ A produção legislativa do Governo não é fiscalizada pelos cidadãos. O processo não é de
todo transparente: quando é aprovado já passou por todo um conjunto de
procedimentos até à sua efetiva aprovação. A produção legislativa do Governo é interna
e independente dos cidadãos comuns e da comunicação social, apenas se comunica
aquilo que foi aprovado após a sua promulgação. Logo, o processo não é acompanhado
de fora. Só quando é publicado no Diário da República é que se toma conhecimento do
decreto-lei (torna-se público). Contrariamente, a Assembleia da República é um órgão
transparente por natureza, toda a produção legislativa é aberta ao público.

Produção legislativa da Assembleia da República:

Competência e Iniciativa legislativa: dois conceitos distintos.

✓ Não podemos confundir competência legislativa – quem é competente para aprovar


uma lei ou decreto-lei sobre determinada matéria – com iniciativa legislativa – quem
propõe que seja elaborada um ato legislativo sobre essa matéria. Se falarmos sobre os
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atos legislativos do Governo, não é necessário distinguir a competência da iniciativa


legislativa uma vez que todo o processo de legislação é feito internamente. Logo, quem
propõe e aprova os decretos-lei é o próprio Governo.
✓ Pelo contrário, a Assembleia da República faz a distinção entre a competência e a
iniciativa legislativa. A competência legislativa diz-nos quem é que pode aprovar um ato
legislativo que, no caso da Assembleia Legislativa, é feito através do voto. Por outro lado,
a iniciativa legislativa corresponde a quem levou os deputados a legislar sobre uma
determinada matéria. Assim, ter iniciativa significa preparar uma proposta ou um projeto
de lei; corresponde à responsabilidade de preparar um projeto-lei e enviá-lo para o órgão
com competência para que este reja aprovado ou não.
❖ Artigos 161º até 169º, CRP
❖ Artigo 167º, CRP: Iniciativa da lei e do referendo (compete aos deputados,
aos grupos parlamentares e ao Governo e nos casos estabelecidos pela lei
aos cidadãos eleitores). Nas Regiões Autónomas, a iniciativa cabe às
respetivas Assembleias Legislativas Regionais. Podem apresentar propostas
que podem ou não ser aprovadas pela AR.
A Constituição divide estas entidades em dois grupos: quando são os deputados
e os grupos parlamentares a tomar iniciativa considera-se que a mesma deriva
internamente da própria Assembleia Legislativa, designando-a por projeto-lei.
Quando a iniciativa legislativa provém de outras entidades que não a
Assembleia designa-se proposta-lei.

Nota: Criar aquilo que seria uma lei é ter a iniciativa legislativa que poderá ou não ser aprovada.
As Assembleias Regionais só têm iniciativa legislativa se as leis tiverem uma relevância especial
na sua região (Artigo 167º, CRP), logo, não têm iniciativa sobre todas as matérias.

A competência da Assembleia pode ser concorrencial; de reserva absoluta ou relativa.

Poderá o governo tomar iniciativa legislativa numa matéria absoluta da AR?

✓ O Governo não pode legislar sobre uma matéria de reserva absoluta da Assembleia, mas
pode ter iniciativa legislativa dessa matéria. A única coisa que o Governo pode fazer
acerca de uma matéria absoluta da Assembleia é apresentar uma proposta de lei (ter
iniciativa legislativa). A Assembleia discute, altera e aprova a proposta de lei do Governo,
tornando essa proposta numa lei.

Iniciativa é apenas propor, pode provir da(o):


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a) Assembleia da República;
b) Governo.

O Governo pode tomar iniciativa legislativa sobre matérias de reserva absoluta ou relativa da AR.

Artigo 164º, CRP Reserva absoluta de competência legislativa (é uma lei sobre estas matérias e
não um decreto-lei).

Alínea c) Artigo 164º altera a lei do tribunal constitucional (tem que ser aprovada pela AR); lei
que vem alterar outras normas.

As matérias da reserva absoluta também se encontram no Artigo 161º. Porquê?


Porque no artigo 161º estão as matérias que na altura pareciam ter maior relevância
política, traduzindo-se algumas delas em leis e outras em atos políticos.

Matérias de competência absoluta da Assembleia (Artigo 164º, CRP):

Matéria legislativa Artigo 161º Alínea g) relativamente à reserva absoluta da Assembleia.

Lei do orçamento – a iniciativa legislativa está reservada ao Governo e a competência


legislativa à Assembleia da República (só pode por ela ser aprovada). O Governo é o
único responsável por apresentar a proposta do orçamento. “Sob proposta” significa
que a iniciativa cabe ao Governo.

Matérias de competência de reserva relativa da Assembleia (Artigo 165º, CRP):

Artigo 293º, CRP: O legislador constitucional estipula que os bens que tinham sido
nacionalizados após o 25 de abril poderiam ser reprivatizados, mas segundo algumas
regras. A Assembleia devia aprovar uma lei com as regras que determinassem as
respetivas condições das reprivatizações.

A iniciativa pode derivar do Governo, mas a competência é da Assembleia da República, salvo


quando esta delega autorização ao Governo. Ainda assim, a autorização do Governo é em si
uma lei que provém da Assembleia. “Salvo a autorização ao Governo” imposta através de uma lei
de autorização da Assembleia da República.

➢ Surge a questão de saber se podia a Assembleia aprovar uma lei de


autorização legislativa ao Governo sem que este o requisitasse.
➢ O Governo pode pedir à Assembleia que legisle sobre uma matéria (iniciativa
legislativa) ou que lhe conceda autorização para legislar sobre essa matéria
(competência do Governo delegada pela Assembleia).
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➢ Não há nada na Constituição que proíba que sejam os deputados a tomar a


iniciativa legislativa face a uma lei de autorização sobre a legislação. Porém,
o Governo poderá não legislar sobre essa matéria uma vez que não fica
vinculado/obrigado a legislar.

Caraterísticas das leis de autorização legislativa:

✓ Artigo 165º nº2, 3, 4 e 5, CRP;


✓ As leis de autorização legislativa são dadas através de uma lei e devem definir:
a) O objeto; (Ex. IRS)
b) O sentido; (direção que a legislação deve tomar; Ex. aumentar as taxas do IRS
p/aumentar a receita fiscal)
c) A extensão; (P.e. o GV fica autorizado no sentido x com um limite que não
ultrapasse a receita fiscal a 50%) e
d) A duração da autorização (qual o prazo que é dado ao GV para legislar sendo
que este pode ser prorrogado.

Ao estabelecer-se um prazo, como se estabelece a contagem do mesmo?

✓ O prazo começa a contar a partir do momento em que a lei entra em vigor. Entre o
momento que o Governo acaba o seu trabalho e o tempo que o decreto é efetivamente
promulgado há um período que não é da responsabilidade do Governo, logo, não conta
como fazendo parte do prazo da autorização.
✓ O Governo deve terminar o seu trabalho dentro do prazo estipulado, sendo os
procedimentos seguintes não da responsabilidade do Governo, mas sim da Presidência
da República que promulga os decretos.
✓ A data da aprovação no Conselho de Ministros não é o marco que define se o Governo
cumpriu ou não o seu prazo. Para saber se o prazo foi efetivamente cumprido devemos
ter em conta a data em que o Governo entrega o decreto-lei perante o Presidente da
República. O prazo relevante é o prazo relativo à entrada do decreto na Presidência da
República.

As autorizações legislativas (nº3) não podem ser utilizadas mais do que uma vez, sem prejuízo
da sua execução parcelada. O que significa isto?

✓ Muitas vezes, o Governo quando toma a iniciativa para uma proposta de lei, (tendo
seguidamente a Assembleia que aprovar a autorização de lei e delegar o poder de legislar
sobre a matéria para o Governo) este prepara a proposta de lei em conjunto com o
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decreto-lei final. Quando o Governo apresenta a proposta de lei de autorização legislativa


junta-lhe em anexo o decreto-lei final.

Quando a autorização legislativa não tiver os resultados pretendidos, o Governo procura


aprovar outro decreto-lei durante o mesmo prazo estipulado sobre a matéria da qual teve
autorização legislativa. No entanto, o Governo não pode usar mais que uma vez a mesma
autorização legislativa porque esta será esgotada a partir do momento em que um decreto é
promulgado. “Sem prejuízo da utilização parcelar” significa isto que quando o Governo tem
autorização legislativa e a utiliza por partes é legítimo que aprove mais do que um decreto-lei. A
utilização da autorização legislativa por etapas (parcelarmente) permite tratar das duas matérias
sobre as quais foi devidamente autorizado, uma de cada vez.

Segundo o nº4, as autorizações legislativas não são puramente objetivas, tendo que haver uma
relação entre os deputados que estão no momento na Assembleia com os respetivos membros
do Governo. A autorização legislativa está vinculada à relação entre aquela Assembleia e o
Governo em funções nesse mesmo período. Se, entretanto, o Governo se demitir e dentro desse
prazo, um novo Governo tentar aproveitar a autorização legislativa não irá conseguir. O mesmo
acontece no cenário contrário, caso a Assembleia da República seja dissolvida.

A autorização é entre aqueles deputados e aquele Governo em vigor.

Exceção (nº5 do Artigo 165º, CRP):

As autorizações incluídas na lei do Orçamento; podem ter incluídas uma autorização legislativa
ao Governo sobre matéria fiscal (nesse caso a autorização legislativa dura todo o ano, mesmo que
durante esse ano o Governo mude ou se altere a Assembleia vigente. É independente das
vicissitudes que se dão nos órgãos legislativos.

Requisitos da exceção:

1. Tratar da lei do Orçamento.


2. Incidir sobre matéria fiscal.

Aula nº6

Procedimento de aprovação das leis no Parlamento:

a) Reserva absoluta (Artigo 161º a 164º, CRP);


b) Reserva relativa (Artigo 165º CRP);
c) Domínio concorrencial (Artigo 161º alínea c)).
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Independentemente da matéria sobre a qual incide uma lei, o procedimento de aprovação é


o mesmo. É importante salientar que antes da aprovação tem que haver iniciativa legislativa,
sendo esta igualmente independente da competência legislativa. (Artigo 167º, CRP).

A aprovação de leis pela Assembleia da República divide-se por cinco etapas, são estas:

1. Discussão na generalidade. Significa isto que uma lei antes de ser votada tem
que ser discutida. O projeto ou a proposta de lei é apresentada por aquele que
teve iniciativa legislativa. Não é preciso haver quórum no Parlamento durante a
fase da discussão. Nesta etapa não existe deliberação, logo, não é necessário o
quórum (Quórum deliberativo; Artigo 116º nº2, CRP).
Ex. Apreciação do programa do Governo não exige votação, ao contrário
da aprovação de leis, que se faz obrigatoriamente acompanhar de
votação.
2. Votação na generalidade com base no projeto ou proposta de lei. Não se analisa
concretamente os termos da proposta de lei. Se não for aprovada a proposta ou
o projeto de lei nesta etapa, não se continua a análise da mesma. Estas duas
etapas são obrigatoriamente feitas no plenário. Nesta fase, é preciso verificar se
existe quórum uma vez que só se estiverem presentes a maioria dos deputados
poderá proceder-se à votação.
Qual a maioria necessária para aprovar a lei na generalidade? Regra
geral, as leis são aprovadas por maioria simples (se houver mais votos a
favor do que contra). As abstenções não contam para o apuramento da
maioria. (Artigo 116º nº3, CRP)
3. Discussão na especialidade. Não é preciso haver quórum. Regra geral, estas
etapas deveriam ser realizadas, tal como as anteriores, no plenário. Não é prático
ter a maioria dos deputados a discutir pormenores no plenário, sendo que alguns
deles não são sequer especialistas na matéria em debate. É possível que o
plenário delibere que a discussão e votação na especialidade se realizem na
comissão especializada sobre essa matéria. O plenário pode não autorizar que as
etapas especializadas sejam efetuadas na comissão ou poderá até fazer retornar
a si temas que tiveram a anterior autorização para serem deliberados e votados
na comissão. Os trabalhos da comissão têm naturalmente menos visibilidade do
que os trabalhos do parlamento. A discussão na especialidade representa a fase
onde são sugeridas alterações à proposta ou projeto de lei.
4. Votação na especialidade. É necessário haver quórum. Se estivermos na
comissão, o quórum representa a maioria dos membros pertencentes a essa
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comissão. A votação dá-se por maioria simples, porém, há casos em que a


Constituição exige uma maioria qualificada.

Existem casos em que a própria Constituição, devido ao mediatismo sobre


determinadas matérias, estabelece que a discussão e votação na especialidade têm
que ser efetuadas no plenário.

5. Votação final global. Não está prevista na Constituição uma etapa de discussão
final global, apenas de votação final. Representa uma repetição da votação da
generalidade, porque o projeto votado durante a etapa da generalidade poderá
ter sido alterado na especialidade. Serve para legitimar o diploma - para que o
plenário aprove a lei e esta proceda para a sua promulgação. Serve para que
todos os deputados tomem conhecimento da versão final do diploma. Aqui não
se discute o diploma, apenas o apresentam e votam ou a favor ou contra a sua
aprovação. Esta etapa é feita no plenário, tem que haver quórum e é
contabilizada por maioria simples (não excluindo os casos em que a Constituição
impõe a maioria qualificada).

Se um diploma é rejeitado na votação final global, este não retorna às etapas


anteriores. Poderá ser feito outro projeto ou proposta de lei noutra sessão legislativa,
no entanto, aquele procedimento para o diploma em questão cessa.

❖ Artigo 168º, CRP.


1. Não há um terceiro debate final. Só existe discussão na generalidade e na
especialidade.
2. As votações dividem-se por três etapas: votação na generalidade; na
especialidade e votação final global.
3. Por vezes, o diploma não é logo votado na generalidade, prosseguindo para a
discussão na especialidade para que se possam efetuar as alterações necessárias
e só depois retorna à votação geral.
4. Os textos aprovados na generalidade só são discutidos e votados na
especialidade se a Assembleia assim o deliberar.
❖ Compatibilização do Artigo 168º com o Artigo 116º

Especificidades do procedimento de aprovação das leis (nº4; 5º e 6º do Artigo 168º):

a) Uma proposta ou projeto de lei, se incidir sobre determinadas matérias, terá que ser
obrigatoriamente votada na especialidade no plenário. Não há uma coincidência entre as
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matérias de lei orgânica e as matérias que têm que ser aprovadas na especialidade em
plenário.

Uma lei que incide sobre duas matérias – uma de matéria


exclusivamente orgânica e outra de matéria geral p.e. – terá que ser
discutida e votada na especialidade do plenário.

b) As leis orgânicas, na votação por generalidade e especialidade podem ser aprovadas por
maioria simples, mas na votação final têm que ser aprovadas por maioria absoluta. O que
significa ser aprovado por maioria absoluta? Não basta apenas haver mais votos a favor
do que contra, é necessário que haja 116 ou mais votos a favor (independentemente de
quem vota contra ou se abstém).

Artigo 293º, CRP: Matéria sujeita a maioria absoluta; neste caso, toda a votação está
sujeita à maioria absoluta. Implicitamente, a votação terá que ser discutida e votada
na especialidade do plenário, uma vez que tem que ser discutida e votada pelos
deputados em efetividade de funções.

c) Consultar o nº6 do Artigo 168º e as suas respetivas alíneas;

Leis orgânicas

❖ Artigo 166º nº2, CRP: Matérias classificadas como leis orgânicas. O artigo 166º trata
de matérias sobre as quais deve ser aplicada a maioria absoluta.

As leis orgânicas detêm um estatuto especial (o conceito de leis orgânicas devia ser eliminado).

❖ Artigo 255º, CRP: Ex. de uma lei orgânica.

Contextualizar: Qual a origem e a relevância das leis orgânicas?

As leis orgânicas surgem durante segundo Governo maioritário de Cavaco Silva (1989) – PSD –,
representando um momento de estabilidade política. A situação de apoio da maioria face ao PSD
era vista como possível potenciadora de abusos de poder, considerando que o Parlamento estava
sob domínio do PSD. Como o apoio da maioria parlamentar não era vulgar, a sociedade via tal
situação de forma negativa. Quando surge a segunda revisão constitucional, os partidos começam
a perceber que não iriam ter poder suficiente para legislar. Por sua vez, o PSD queria reprivatizar
as empresas, mas era necessária uma maioria de 2/3 para que fosse possível eliminar a norma
que tornava as nacionalizações do 25 de abril irreversíveis. O PSD necessitava do apoio do PS
para proceder com as reprivatizações.
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Assim, propõe-se que se introduzam um novo tipo de leis na Constituição – as leis orgânicas –
que foram designadas como leis “para-constitucionais”. Estas leis necessitariam da aprovação de
dois terços dos deputados sobre determinadas matérias.

O PSD conseguiu estabelecer a reprivatização de empresas sem que o PS conseguisse aumentar


a sua influência legislativa (Artigo 293º, CRP).

✓ Exigir mais do que a maioria absoluta é permitir que o partido minoritário tenha um
direito de veto sobre a legislação da matéria em questão (maioria qualificada de dois
terços dos deputados em efetividade de funções). Corresponde a uma espécie de
bloqueio face ao poder da maioria.
✓ As leis para-constitucionais foram introduzidas na Constituição com a designação de «leis
orgânicas». Assim, detêm um regime especial, dotado de especificidades ao nível da
aprovação, da superação do veto do PR, da fiscalização preventiva da constitucionalidade
e até da numeração das leis (Uma lei orgânica não segue ordenação das leis comuns).
Detém um regime especial.

Em revisões posteriores passam a introduzir-se regimes especiais para determinadas leis que
não se classificavam como leis orgânicas. Segundo a opinião do professor, devem existir leis
com um regime geral e leis com um regime especial; não faz sentido haverem leis orgânicas
e leis especiais, simultaneamente.

Aula nº7
Competência legislativa do Governo

❖ Artigo 197º e seguintes CRP

Três tipos de competências:

1) Política (não são exercidas através de forma legislativa); Art.197º não atua do ponto de
vista legislativo, logo, não aprova decretos-lei;
2) Legislativa (três tipos de competências legislativas, todas elas assumindo a forma de
decreto lei: alíneas a); b) e c));
a) Domínio concorrencial: É semelhante à alínea c) do artigo 161º; prevê o
domínio concorrencial; tanto pode legislar a AR como pode legislar o GV.
Nesse caso os decretos-lei podem ser substituídos por leis e vice-versa.
Alínea a) é para legislar sobre matérias que não estão sob o domínio da AR.
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b) Domínio relativo: A matéria incide sobre matérias de reserva relativa; O


Governo necessita a autorização da Assembleia da República (lei de
autorização legislação legislativa) para aprovar um decreto-lei.
c) Domínio Exclusivo; Ver Artigo 164º p.e. alínea h) o que é que está reservado
à AR? Tudo aquilo que incidir sobre a matéria dos partidos, será de
competência da Assembleia; alínea i) apenas as alterações relativas às bases
do sistema de ensino estão reservadas à AR, logo, o Governo poderá legislar
sobre outros domínios do sistema de ensino (chamamos a isto desenvolver
as bases). A única coisa que está reservada à Assembleia da República são as
bases do sistema de ensino. Tem-se notado uma transferência das matérias
de reserva absoluta para reserva relativa (do Artigo 164º para o Artigo 165º).
No caso de a matéria estar completamente reservada à AR, só a própria
Assembleia poderá legislar sobre essa matéria. Caso contrário, o Governo
pode legislar sobre uma matéria que não está exclusivamente reservada à AR,
mas irá necessitar de uma lei de autorização proveniente da Assembleia para
que lhe seja possível aprovar um decreto-lei.

Quem é que tem competência para desenvolver as bases de uma determinada matéria após
termos as leis de bases ou decreto sobre as leis de base?

✓ Não sendo o desenvolvimento das bases de reserva da Assembleia da República, também


não é matéria proibida para a AR legislar. Logo, legisla ao abrigo do domínio
concorrencial: Artigo 161º alínea c). Se a AR pode aprovar leis no domínio concorrencial,
o Governo também terá competência para aprovar decretos-leis de domínio
concorrencial (alínea c) do Artigo 198º, CRP).
✓ Compete ao Governo, no domínio da alínea c) do Artigo 198º, desenvolver as bases de
domínio concorrencial.
✓ O Prof. não concorda com estas afirmações. Porquê? O desenvolvimento das leis de base
demonstrado acima aponta algumas fragilidades. Se este desenvolvimento das bases
estiver sob domínio concorrencial, então quando o Governo legislar no âmbito do
domínio concorrencial não será dentro da alínea c) do Artigo 198º, mas sim a alínea a) do
mesmo artigo. Qual é então o propósito desta alínea c)? Não pode ser usada para o
domínio concorrencial. Quando o Governo legisla sobre a alínea c) é somente para
desenvolver as leis de base. Só o Governo é competente para desenvolver as bases, logo,
não é possível afirmarmos que o desenvolvimento das bases é de domínio concorrencial
porque é da exclusiva competência do Governo e não da Assembleia. No domínio
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exclusivo da alínea c) o Governo está sujeito ao domínio da Constituição e às bases


legislativas que o antecedem.
✓ Dá poder ao Governo para desenvolver as bases.

Voltando ao Artigo 161º alínea c):

❖ Há duas matérias reservadas ao governo e não apenas uma: Artigo 198º nº2 e o Artigo
198º alínea c).
❖ Será que a Assembleia da República não pode legislar sobre o desenvolvimento das
bases?
✓ Alínea c) Artigo 161º, CRP: “salvo as reservadas pela Constituição ao
Governo”; logo, há efetivamente duas matérias reservadas ao Governo tal
como foi referido acima.
➢ O nº2 é semelhante à situação de reserva absoluta da AR, mas para o Governo. O Governo
tem a sua exclusiva competência legislativa sobre a matéria que incide sobre o modo
como este órgão se organiza a si próprio. Cabe ao Governo o seu autorregulamento
interno; O primeiro decreto-lei aprovado pelo GV incide sobre a organização (lei orgânica
do Governo). O que significa isto? É na verdade um decreto-lei que nada tem a ver com
as leis orgânicas enquanto conjunto de leis de reserva absoluta da AR. Esta expressão é
usada para definir um ato legislativo (para se distinguir do regulamento e da Constituição)
/ato da função legislativa. Como orgânica definimos o modo de organização do Governo.
No nº2 o Governo só está condicionado pela Constituição.
3) Administrativa.

Leis reforçadas:

Hierarquia das normas:

a. Domínio constitucional.
b. Domínio legislativo (todas têm que respeitar a Constituição).
c. Domínio administrativo (todas têm que respeitar a Constituição e as normas
legislativas).

É necessário saber que normas se inserem nos diferentes domínios; todas as normas que
estão incluídas dentro da constituição têm a mesma força e valor constitucional. Todo o
processo de organização normativo depende do legislador; é o legislador que decide a
fronteira entre os diferentes domínios. As normas constitucionais não podem ser
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alteradas por leis infraconstitucionais; o seu valor não pode ser questionado por normas
de domínio legal.

❖ Artigo 112º, CRP: atos legislativos. As leis e os decretos-leis têm o mesmo valor
(regra-geral nº2); valor de ato legislativo.
✓ Exceções ao regime-regra: As leis de autorização legislativa e os
decretos-leis autorizados não têm o mesmo valor. O decreto-lei
autorizado para além de ter que respeitar a Constituição, está também
subordinado à lei de autorização legislativa sob pena de se tornar ilegal.
Temos então a possibilidade de estar perante leis inconstitucionais e
ilegais, quando se dá a violação das leis de autorização legislativa
relativamente aos decretos-leis autorizados. Outro exemplo, os
decretos-leis que desenvolvem as bases não têm força legislativa para
alterar as bases definidas anteriormente. Existe uma subordinação dos
decretos-leis de desenvolvimento de bases às bases gerais definidas por
lei.
✓ Revisão de 1989: surgimento das leis orgânicas (aristocracia de leis
estabelecida). Incidem sobre matérias mais relevantes e como tal devem
ser aprovadas por maioria absoluta. Consagrava-se a superioridade das
leis orgânicas com a designação de leis de valor reforçado. A ideia de
superioridade atribuída às leis orgânicas entra em conflito com a
existência de uma relação de subordinação entre as leis de autorização
legislativa com os decretos-leis autorizados e as leis de base com os
decretos desenvolvimento das bases (valor reforçado). Ora, as leis
orgânicas e as leis reforçadas que existiam previamente não têm
semelhanças nenhumas (não seguem especificidades procedimentais
iguais). A superioridade entre as leis de autorização e os decretos
autorizados/ as leis base e os decretos de desenvolvimento só existe
entre si. No entanto, as leis orgânicas têm uma superioridade que advém
do reforço procedimental e não do reforço a nível do conteúdo como
acontece com as leis de autorização e as leis de base face aos decretos
leis autorizados e de desenvolvimento de bases; respetivamente.
✓ Artigo 112º nº3, CRP: devia estabelecer um critério e não um conjunto
de exemplos acerca das leis de valor reforçado.
Como solucionar este problema?
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➢ Estabelecer um reforço (critério) do ponto de vista procedimental: todas as


leis que seguem um procedimento diferente do tradicional deviam ser de
valor reforçado.

Leis paramétricas: são leis que fixam parâmetros que devem que ser respeitados por outros atos
legislativos. Ex. Leis de autorização.

Decretos-leis parametrizados: desenvolvem os parâmetros fixados nas leis de autorização


legislativa.

❖ São leis de valor reforçado as leis paramétricas face aos decretos-leis parametrizados.

Nova revisão constitucional vem uniformizar esta situação: Estabeleceram-se, para além dos
exemplos dispostos no Artigo 112º, dois critérios. Não se procedeu à eliminação do nº2 do Artigo
112º. Não se diz expressamente quais as leis que se enquadram no domínio das leis de valor
reforçado. As leis de valor reforçado deviam seguir dois critérios:

1. As leis que seguem um procedimento especial (As leis orgânicas não condicionam o
conteúdo de nenhuma outra lei; apenas seguem um procedimento distinto das outras).
2. As leis que estabelecem um conteúdo que condiciona o conteúdo de outras.

O nº3 do mesmo artigo quando refere o “pressuposto normativo necessário”, apresenta a lei de
autorização legislativa como um exemplo deste critério para definir as leis de valor reforçado; “ou
que por outras devam ser respeitadas” estabelece um outro critério que define como lei de valor
reforçado um outro exemplo – a lei de enquadramento orçamental (é uma lei paramétrica face à
lei do orçamento de Estado). Esta lei fixa as regras segundo as quais a lei do orçamento deve ser
feita.

❖ Artigo 164º alínea r): lei paramétrica. Não é um pressuposto normativo necessário da lei
parametrizada. Se for revogada, o procedimento para a lei do orçamento mantém-se
(deixa de estar vinculada à lei paramétrica).
❖ Artigo 161º alínea g): lei parametrizada. Tem que respeitar a lei de enquadramento do
orçamento.

As leis de valor reforçado a nível do conteúdo devem ser identificadas pela própria
constituição, mas para as leis de valor reforçado a nível procedimental não é necessário
identificar os exemplos que dispõe um valor reforçado.

Aula nº8
Leis de valor reforçado (Continuação)
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❖ Artigo 112º nº2 e nº3.

Conceito de leis de valor reforçado faz distinção entre:

✓ Valor reforçado pelo procedimento.


✓ Valor reforçado pelo conteúdo.
a) É a Constituição que define quais as leis que detêm um valor reforçado, atribuindo-lhes
um estatuto especial. O legislador não tem poder para definir quais são as leis orgânicas.
Não é o próprio legislador que decide sobre a maioria necessária para aprovar ou
modificar uma lei. Neste contexto, uma lei aprovada por maioria absoluta não tem que
ser obrigatoriamente alterada pelo mesmo processo; logo, pode ser alterada por maioria
simples. Nas matérias em que a Constituição não impõe uma maioria qualifica, uma lei
pode ser aprovada ou alterada por maioria simples. Porém, se estivermos perante uma
lei orgânica, para a alterar ou revogar é necessária maioria absoluta.
b) Quem define quais são as leis orgânicas é a própria Constituição.
c) As leis de valor reforçado são somente relativas às matérias da lei. Não é pelo facto de o
legislador ter juntado matérias de lei orgânica com matérias de leis simples que ambas
se fundem numa só; não ficam sujeitas ao mesmo regime. A lei de matéria orgânica
continua sujeita ao regime da lei orgânica e a lei simples que também pertence à norma
jurídica subordina-se ao regime ordinário.
d) O processo de legislação varia consoante as matérias dos artigos sobre os quais são feitas
alterações e não sobre a lei no seu sentido global.

A lei X incorpora uma lei de matéria orgânica e uma lei


simples. Ambas pertencem à mesma norma jurídica, mas
Lei simples
Lei orgânica

Lei X Lei X no que toca ao procedimento a seguir para alteração ou


revogação, seguimos o regime aplicável às leis orgânicas
para a lei orgânica e o regime simples para a lei simples,
sem misturar os processos.

Projeto de lei Lei de


autorização autorização Decreto-lei
legislativa legislativa

Isto é válido ou inválido? Depende. Será inválido se o decreto-lei violar os requisitos que se fazem
acompanhar da lei de autorização legislativa. No entanto, se a matéria do decreto-lei não for da
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competência da Assembleia da República (pertencer ao domínio concorrencial), a Assembleia não


pode condicionar a legislação do Governo.

Concluindo, quem determina quais são as leis de valor reforçado é a própria Constituição; o
legislador não tem poder para tal.

A Assembleia da República tem competência para desenvolver leis de base?

✓ Isto depende da matéria sobre a qual incidir a legislação; se a matéria das bases for de
domínio concorrencial, a Assembleia pode legislar sobre o desenvolvimento das leis de
bases. No caso de se tratar de domínio concorrencial, tanto o Governo como a Assembleia
da República podem desenvolver as leis de bases sobre a matéria em questão.

Só há leis de base ou leis orgânicas nas matérias que a Constituição determina; não é o
legislador que altera estas circunstâncias.

Poder legislativo nas Regiões Autónomas

❖ Artigo 225º e seguintes;


✓ Para além das Regiões Autónomas estarem vinculadas à Constituição e sujeitas às leis
e decretos-leis da Assembleia da República e do Governo, estão também sujeitas a
uma lei de valor reforçado que encontra entre a Constituição e a legislação própria
das Regiões Autónomas. Esta designa-se por Estatuto Político-Administrativo
(representa uma espécie de Constituição das Regiões Autónomas). Este estatuto
repete normas constitucionais e foi criado sobretudo com o intuito de afirmar o
poder das Regiões Autónomas.

Os Estatutos Político-Administrativos correspondem a duas leis aprovadas pela Assembleia


da República; não é a própria Região Autónoma que aprova os Estatutos.

Como são aprovados estes estatutos político-administrativos?

❖ Artigo 226º distancia-se do que ficou estabelecido no Artigo 167º:


No caso dos Estatutos Político-Administrativos e das leis que tratam do modo como são
eleitos os deputados das Regiões Autónomas, a iniciativa conta apenas com um projeto
da Assembleia Legislativa Regional (iniciativa reservada); qualquer matéria inserida nos
Estatutos e nas leis eleitorais que sejam aprovadas pela Assembleia da República só pode
ser alterada se as Regiões Autónomas assim o pretenderem. A Assembleia Legislativa
Regional é a única que pode proceder a alterações nas leis que fazem parte do Estatuto.
➢ Uma proposta de lei veio estabelecer que sempre que o Presidente quisesse
dissolver a Assembleia Legislativa Regional (Artigo 234º), tinha também de
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ouvir o Governo Regional. Embora o Presidente tenha vetado essa mesma lei,
foi obrigado a promulgá-la. Ora, isto representa um condicionamento ao
poder do Presidente da República.

Procedimento de aprovação dos Estatutos:

❖ Artigo 226º nº1;


❖ Se forem introduzidas alterações durante a votação na especialidade pela Assembleia da
República; esta tem que remeter o diploma à Assembleia Regional para que a mesma se
pronuncie sobre as alterações.
❖ No nº3, os pareceres são refletidos na especialidade não passando logo para a etapa da
deliberação final. Primeiro discutem-se as alterações na Assembleia Regional. Durante as
etapas na especialidade, se houverem alterações, o projeto retorna à Assembleia Regional
para que esta efetue um parecer; após isto, volta-se a discutir sobre o diploma e só depois
é que se prossegue para a votação final.
❖ O nº4 define que as alterações seguem os procedimentos normais que já estão
estabelecidos na Constituição. Esta norma é evidente. Isto poderá levar a uma
interpretação a contrario.
❖ Para alem do regime especial de aprovação de um Estatutos e leis eleitorais; existe um
outro regime estabelecido pelo Artigo 168º nº6 e):

Significa isto que o Estatuto em si não exige nenhuma maioria necessária, salvo o capítulo
que incide sobre as matérias de interesse especifico. Este capítulo tem que ser aprovado
(lei de reserva absoluta da Assembleia da República; alínea b) Artigo 161º) por maioria de
2/3 dos deputados.

❖ Os estatutos têm um capitulo que define as matérias de interesse especifico.

Qual a maioria necessária para aprovar alterações nos estatutos?

Depende da matéria sobre a qual se incide a alteração. A Constituição exige maioria de 2/3 para
uma parte dos Estatutos (o capítulo de interesse específico).

Em matéria de leis eleitorais

❖ Artigo 226º, Regime especial (Artigo168º nº6 alínea f))


❖ Artigo 164º alínea j) matéria de reserva absoluta; Artigo161º alínea b) estabelece a
mesma matéria de reserva absoluta.
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❖ Artigo nº2 166º; artigo 161º alínea b) não é considerado lei orgânica, mas o Artigo 164º
alínea j) já o é. E ainda está sob o regime especial do Artigo 226º.
❖ Para alterar a lei eleitoral das Regiões Autónomas temos que congregar o regime do
Artigo 226º com o facto de na votação final global ser preciso maioria absoluta (lei
orgânica; regime especial).

Poderes das regiões autónomas: Artigo 227º

- Poderes legislativos a); b); c); nº2; nº3 e nº4.

a) Poderes legislativos regionais estão de certa forma afastados da competência do


Governo.
b) Quem tem competência legislativa é só a Assembleia Regional; o Governo Regional
não tem competência legislativa.

Alínea a): As Assembleias Regionais podem apenas legislar no âmbito regional sobre as matérias
que estão especificamente identificadas nos Estatutos, desde que não interfiram com as matérias
de reserva absoluta e relativa da Assembleia da República ou do Governo. Ou seja, só podem
legislar sobre o domínio concorrencial nas matérias definidas nos Estatutos. Logo, não podem
legislar sobre qualquer matéria do domínio concorrencial. (Equiparada à alínea a) Artigo 198º;
Artigo 161º alínea c))

Alínea b) e c): não tratam do domínio concorrencial, não sendo relevante o que estabelecem os
Estatutos. Basta somente o que está expresso na Constituição. A competência da Assembleia
Regional é semelhante à alínea b) do artigo 168º; A Assembleia da República também pode
autorizar a Região Autónoma que irá apenas legislar sobre a sua área. Legisla sempre através de
um decreto-lei regional. A restrição diz que enquanto a Assembleia da República pode autorizar
qualquer alínea do Artigo 165º ao Governo; quando toca às Regiões Autónomas é somente
autorizada sobre algumas matérias do respetivo Artigo 165º.

Os nº2; nº3 e nº 4 apontam as especificidades do procedimento legislativo. Para que a Assembleia


da República autorize a lei de autorização legislativa tem que existir iniciativa (regra geral
Artigo167º); Qual é a especificidade? Se for a Assembleia Regional a apresentar uma proposta de
iniciativa legislativa, esta tem que anexar o decreto que irá acompanhar a autorização legislativa
(juntam o anteprojeto). Esta exigência não é feita a outras entidades quando apresentam
propostas de lei (p.e. ao Governo). A única exceção é a Assembleia Legislativa das Regiões
Autónomas.

As regras previstas no Artigo165º aplicam-se também às Regiões Autónomas.


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nº3: As autorizações legislativas entre a Assembleia da República e a Assembleia Regional são


relativas às Assembleias que estão formadas nesse determinado momento; caso sejam
dissolvidas, a autorização legislativa caduca.

Artigo 227º c) diz-nos que quando estamos perante uma lei de bases nos termos constitucionais
(prevista na reserva absoluta ou relativa da Assembleia da República; decreto-lei de bases
autorizado) o desenvolvimento da lei de bases pode ser feito pelo Governo Artigo198º b) mas
pode também a Assembleia Regional desenvolver a lei de bases. As leis de base são da
competência da Assembleia da República e o desenvolvimento das bases é da competência do
Governo ou das Assembleias Regionais.

O que pode acontecer é haver contradições entre os desenvolvimentos das leis de bases do
Governo para o país inteiro e o desenvolvimento das mesmas do lado das Assembleias Regionais
para as Regiões Autónomas. Ambos podem estar de acordo com os requisitos das leis de bases,
mas incompatíveis no desenvolvimento entre si.

Aula nº9

Nota: A AR apenas desenvolve as bases para as Regiões Autónomas, enquanto o Governo fá-lo
para todo o país.

Intervenção do Presidente da República no domínio do poder legislativo:

✓ Não existe nenhum ato legislativo que não passe pelo Presidente para promulgação.
❖ Artigo 169º (congrega competência fiscalizadora e legisladora da
Assembleia da República): traduz-se pela competência da Assembleia da
República relativamente aos decretos-leis e aos decretos-legislativos
regionais.
❖ Especificidade da competência da Assembleia face aos decretos-leis:
corresponde à faculdade de apreciação que é feita a posteriori; os decretos-
lei não passam pelo domínio da Assembleia (só são por ela reconhecidos
quando publicados no Diário da República). Isto porque todo o
procedimento de elaboração dos decretos-leis é feito internamente no
Governo. Nas situações em que a maioria do Parlamento não está de acordo
com o decreto-lei apresentado pelo Governo (e a matéria incidir sobre o
domínio/competência concorrencial ou de reserva relativa; Artigo 198º nº1
c); nº2), a Assembleia detém poder para fazer cessar ou modificar o decreto-
lei. No entanto, no caso de se tratar de uma matéria de exclusiva
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competência do Governo, a Assembleia não tem poder para alterar ou fazer


cessar a vigência do decreto-lei com o qual não concorda.

Qual a finalidade do Artigo 169º, sendo que a Assembleia da República detém competência
para alterar ou fazer cessar um decreto-lei (da competência relativa do Governo ou do domínio
concorrencial)?

✓ O Artigo representa circunstâncias de urgência, proporcionando mecanismos mais


rápidos e eficazes para fazer cessar ou modificar um decreto-lei.

A Assembleia da República consegue fazer cessar o decreto-lei, pela aprovação de uma resolução
(não assume a forma de lei). A resolução, não tendo carácter legislativo, mas político, não tem
que ser promulgada pelo Presidente da República. Isto torna o processo de cessação do decreto
muito mais eficiente. Representa um exemplo do exercício simultâneo de fiscalização e legislação
do órgão legislativo.

✓ No caso de a Assembleia pretender modificar o decreto-lei não é possível faze-lo por


via da resolução. Neste contexto, entramos no domínio legislativo onde a Assembleia
terá que substituir o decreto-lei por uma outra norma (lei). Aqui não podemos usar um
mecanismo de fiscalização. É necessário aprovar uma lei que altere o decreto-lei. Neste
caso, a vantagem que retiramos do Artigo 169º é a de estarmos perante um processo
mais rápido.

Em análise do Artigo 169º:

✓ O que é a competência legislativa exclusiva do Governo?


❖ Artigo 198º nº2;
❖ Artigo 198º nº1 alínea c); (opcional)

Competência da Assembleia:

✓ Fazer cessar o decreto;


✓ Modificar o decreto.

nº2: Se estivermos perante um decreto-lei no domínio da reserva relativa e o objetivo da


Assembleia for de modificar o decreto-lei, é possível proceder à suspensão do ato legislativo, ou
seja, suspender o decreto. Para a suspensão de um decreto-lei é necessária a votação. Esta norma
não se aplica aos decretos elaborados sob domínio concorrencial. A maioria exigida dependerá
das matérias sobre as quais incide o decreto-lei. Só se procede à suspensão do decreto se esta
for acompanhada de uma proposta de alteração (uma lei). A suspensão do decreto-lei não assume
a forma de lei e detém um prazo definido, podendo caducar dentro dos termos do nº3.
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nº4 (efeitos para cessação da vigência do decreto-lei): Quando a Assembleia faz cessar a vigência
do decreto-lei, esta não é feita através de um ato legislativo, mas sim de uma resolução. O
conteúdo do decreto não poderá voltar a ser publicado durante a mesma sessão legislativa no
caso de ser cessada a sua vigência.

nº5 (efeitos para a modificação do decreto-lei): “não tiver votado a respetiva lei” este segmento
expressa que a modificação é feita através de uma lei e não de uma resolução como acontece na
cessação do decreto-lei.

• Atribui-se prioridade aos atos que sejam aplicados ao abrigo do Artigo 169º.

❖ Artigo 227º nº4: o Artigo 169º não se aplica à alínea c) do Artigo 227º;
Não se aplica à alínea c) do Artigo 227º porque pertence ao domínio exclusivo do
Governo tal como acontece na alínea c) do Artigo 198º (logo, estão sujeitos ao mesmo
tratamento).
A alínea a) do Artigo 227º não está sujeita à apreciação parlamentar, pertencendo ao
domínio concorrencial? Ora, o nº4 não estando feito para a questão de apreciação
parlamentar não nos indica que, de facto, podemos aplicar a norma desse artigo à alínea
a), mas indica que os decretos autorizados e os de desenvolvimentos das bases têm que
mencionar as leis de autorização e as leis de base, respetivamente. Define também que
só a alínea b) está sujeita a apreciação parlamentar, mas não implica que a alínea a) não
esteja (apenas exclui a alínea c) do Art.227º).

Promulgação do Presidente da República

Quando um diploma chega ao Presidente da República designamos por «decreto para ser
promulgado como «lei» ou «decreto-lei». Quando o Presidente recebe o diploma legislativo tem
três hipóteses, entre as quais:

1. Promulgação (não implica que concorde com esse decreto apenas que não tem objeções
suficientes que justifiquem o veto). O prazo de promulgação varia se estivermos perante
uma lei (20 dias) ou decreto-lei (40 dias)
Porque é que o prazo é diferente? Ora, há mais decretos-leis do que leis para
promulgação, logo, é natural que seja necessário mais tempo para analisar os decretos.
Para além disso, um decreto-lei é muito mais denso em comparação às leis, o que implica
uma análise mais cuidada do mesmo.
2. Artigo 136º Veto (político): o Presidente deve justificar os motivos que estão por detrás
do veto. Se estivermos perante uma lei da Assembleia, o motivo é publicado no Diário da
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Presidência, esclarecendo à Assembleia o porquê dessa ação. O veto presidencial face a


um diploma do Governo é considerado um veto absoluto. Porquê? O Presidente da
República tem maior legitimidade democrática do que o Governo. Logo, não é obrigado
a promulgar um decreto com o qual não concorda. Isto implicaria dar mais poder ao
Governo do que ao Presidente. No caso de se tratar de uma lei da Assembleia da
República, estamos perante divergências políticas. Nesta situação, como tanto o
Presidente como a Assembleia detêm legitimidade democrática direta, por isso, torna-se
mais difícil definir uma solução. (*)
3. Enviar o diploma para o Tribunal Constitucional (fiscalização preventiva): Esta é a
primeira coisa que o Presidente deve analisar antes de promulgar um decreto. O diploma
não poderá prosseguir para promulgação se for inconstitucional. O prazo para enviar o
diploma para fiscalização é de 8 dias. Se o diploma prosseguir para o Tribunal
Constitucional, a possibilidade de promulgar ou vetar fica suspensa. É necessário indicar
quais são as normas que o Presidente da República considera como sendo
inconstitucionais (as alíneas e números respetivos e o porquê/fundamento). Isto delimita
o âmbito de atuação do Tribunal Constitucional porque só analisa as normas a pedido do
Presidente. O Tribunal está vinculado ao pedido do Presidente, mas não pela causa/razão
invocada pelo mesmo. Tem um prazo de 25 dias para analisar o pedido de fiscalização. O
Presidente só pode promulgar o diploma na sua totalidade, logo, se o Tribunal
Constitucional considerar um dos artigos do diploma como inconstitucional, o Presidente
terá que vetar o diploma (na totalidade) por inconstitucionalidade. Se o Tribunal
Constitucional não apontar nenhuma inconstitucionalidade, o Presidente poderá
promulgar ou vetar (veto político) o diploma.

(*) A Constituição diz que se o Presidente vetar uma lei, esta retorna à Assembleia que dispõe
de três alternativas de ação:

✓ Manter o diploma;
✓ Reformular o diploma e fazer uma nova lei a partir desta (pode ser vetada novamente);
✓ Confirmar o diploma, significa que a Assembleia não vai mudar a lei, mas sim reaprovar
o voto. Esta reaprovação é acompanhada por uma promulgação obrigatória (mesmo
contra a vontade do Presidente). A confirmação do voto depois do veto tem que ser feita
por maioria absoluta (reforço da legitimidade da Assembleia).

Perante o veto, o Governo tem as seguintes alternativas:

✓ Manter o diploma;
✓ Reformular o diploma (apresentar uma nova proposta).
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Aula nº10
Papel do Presidente da República e do Tribunal Constitucional no domínio do
poder legislativo (continuação):

Há duas situações que levam a que o diploma seja devolvido ao órgão que o aprovou:

1. Veto político (situação facultativa);


2. Veto por inconstitucionalidade (consequência da fiscalização preventiva).

O diploma só prossegue se for promulgado pelo Presidente da República. O Presidente não


deve vetar (politicamente) e na mensagem onde justifica o motivo do veto afirmar que a norma
integra uma «solução desproporcionada» (viola o princípio da proporcionalidade). Ora, neste
caso, não estamos perante uma discordância política, mas sim de uma situação de
inconstitucionalidade e como tal deverá ser enviada para fiscalização junto do Tribunal
Constitucional.

Na generalidade, os atos do Presidente da República não são alvos de sanções. Muitos dos atos
do Presidente não podem ser anulados ou destruídos, estando fortemente dependentes da sua
vontade.

Veto político ou veto por inconstitucionalidade:

a) Relativamente aos decretos-lei: o veto é sempre absoluto. O diploma uma vez vetado não
pode prosseguir. Ao vetar politicamente um decreto, este pode ser reformulado e
reapresentado enquanto novo diploma (sujeito tanto a veto político como ao veto por
inconstitucionalidade).
b) Relativamente às leis: um veto político face a um diploma da Assembleia está sujeito a
outras alternativas (a Assembleia pode manter o diploma/confirmar; modificar o diploma
ou não fazer nada).
❖ Artigo 136º Nº2: Se a AR confirmar o voto (por maioria absoluta) o PR é obrigado
a promulgar o diploma. As leis são normalmente aprovadas por maioria simples,
seguindo para promulgação junto do PR (mais votos a favor do que contra). Essas
leis quando são vetadas politicamente é por motivos de discordância política.
Para reaprovação do diploma face ao veto, era necessário proceder a uma nova
votação na AR por maioria absoluta (coisa que raramente acontecia).
❖ Nº3: lei orgânica
A introdução das leis orgânicas na CRP levou à reformulação desta norma. As
leis orgânicas para serem aprovadas já necessitam de maioria absoluta,
provocando o desvanecimento do poder de veto do Presidente (assim é fácil para
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a Assembleia superar o veto político do PR). Para solucionar este problema


introduziu-se uma exceção: para superar o veto é necessário que, pelo menos
2/3 dos deputados presentes (superior à maioria absoluta dos deputados em
efetividade de funções: 116 deputados), votem a favor. (nº3 Artigo 136º) Estas
são as condições requisitadas para a confirmação do diploma.
Outros casos que também são exigidos 2/3 para confirmar o veto:
Alíneas a), b) e c) do nº3 – três matérias que não têm ligação com as leis orgânicas
nem com as alíneas dos Artigos 164º e 165º.
Artigo 168º nº6: leis que carecem de aprovação por maioria de 2/3 dos
deputados. No caso de o Presidente da República vetar uma lei que esteja dentro
dos termos do Artigo 168º nº6, esta retorna à Assembleia. Qual será a maioria
necessária para reaprovar essa lei? É necessária maioria absoluta porque no
Artigo 136º nº3 não constam as leis tratadas dentro dos termos do Artigo 168º
nº6. Neste caso, a aprovação é superior à confirmação/reaprovação da lei porque
esta pode ser reaprovada com menos votos do que foi aprovada primeiramente.

Solução para este problema das maiorias:

• Decreto-lei do Governo (apoiado pela maioria parlamentar) aprova um decreto-lei que é


vetado politicamente pelo Presidente. Ora, sendo o veto político absoluto, o diploma ou
morre (caso o GV não faça nada) ou é alterado. Se o Governo quiser de facto «confirmar»
o diploma, poderá apresentá-lo sob a forma de proposta de lei à Assembleia que ao
apresentar o diploma ao PR é vetada novamente. No entanto, como estamos no domínio
legislativo da Assembleia da República esta pode reaprovar o diploma (aqui temos o
Governo apoiado pela maioria parlamentar). Concluímos então que existem alternativas
ao veto «absoluto» face a um decreto-lei. Se o Presidente vetar o decreto por
inconstitucionalidade o GV pode: não fazer nada; reformular o diploma ou expurgar a
norma (retirar a norma que é considerada inconstitucional). O que acontece quando o
Governo reformula ou expurga a norma? No caso de reformular a norma que é
inconstitucional, é natural que esta seja substituída por outra nova dando origem a um
novo diploma. Este será novamente enviado para promulgação sendo que o Presidente
volta a ter as três opções disponíveis (promulgar; vetar ou enviar para o TC). No caso de
ser expurgada, isto significa que o motivo que levou ao veto por inconstitucionalidade
está ultrapassado, mantendo tudo o resto menos a norma que foi considerada
inconstitucional (o PR poderá então promulgar ou vetar, mas desta vez politicamente). Se
o Presidente proceder ao veto político segue-se o procedimento habitual (veto político
absoluto).
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• Lei da Assembleia da República sujeita a veto por: O Presidente veta por


inconstitucionalidade uma norma da Assembleia que, por sua vez, pode não fazer nada
ou expurgá-la(sujeitando-a a promulgação ou veto politico); reformular, sendo que o
Presidente perante um novo diploma pode promulgá-lo ou enviá-lo para fiscalização ou,
em último caso, confirmá-lo. Apesar de o Tribunal Constitucional ter afirmado que no
diploma consta uma norma inconstitucional e como tal o PR ter sido obrigado a vetar por
inconstitucionalidade, os deputados podem confirmar o diploma através da sua
reaprovação com uma votação de maioria de 2/3. Mesmo que a Assembleia confirme
por maioria de 2/3, o Presidente não é obrigado a promulgar. Qual é a lógica da
Assembleia confirmar e o Presidente promulgar um diploma que foi classificado como
inconstitucional pelo Tribunal Constitucional? Os deputados incorporaram esta situação
na CRP achando que tal coisa não iria acontecer. Neste caso, a Assembleia ignora a
sentença proferida pelo Tribunal Constitucional. A Constituição criou esta norma para
transmitir que em Portugal, acima de tudo, os órgãos com legitimidade democrática
direta têm um peso maior face aos restantes (Presidente da República e Assembleia da
República). Basta que um destes dois órgãos esteja em desacordo para que o diploma
não avance. Este é o único caso definido pela CRP em que é permitido o veto de bolso,
ou seja, em que o PR pode não fazer nada (o diploma não avança, não é promulgado
nem vetado). Aqui verificamos que o Presidente, enquanto órgão democraticamente
reconhecido, detém um poder forte. O único caso em que é permitido ao PR não fazer
nada é no caso de estarmos perante um veto por inconstitucionalidade e a AR confirmar
o diploma por maioria de 2/3. Ora, se o PR fosse vetar politicamente esse diploma (já
tinha sido aprovado por maioria de 2/3), o mais provável era que quando este voltasse à
AR fosse confirmado. Isto só acontece quando o PR, de facto, está de acordo com a
Assembleia da República.
Concluímos assim que:
1. Se o Presidente estiver aliado ao Tribunal Constitucional, ainda que a Assembleia confirme
o diploma, este não avança (não é promulgado).
2. A Assembleia pode aliar-se ao Tribunal Constitucional, fazendo avançar o diploma.
3. O Presidente pode aliar-se à Assembleia contra o Tribunal Constitucional (neste caso, o
Presidente pode promulgar o diploma).

O Tribunal Constitucional não pode superiorizar-se à vontade legitimada do Presidente e


da Assembleia. Esta situação representaria uma crise político-institucional. Depois dessa
lei entrar em vigor, esta poderá ser enviada mais tarde por outras entidades para
fiscalização sucessiva, reenviando-a para o Tribunal Constitucional e fazendo com que a
lei deixe de vigorar no Ordenamento Jurídico. Outras entidades com poder de enviar para
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fiscalização (sucessiva): provedor de justiça; 1/5 dos deputados da Assembleia; Primeiro-


Ministro, entre outros.

Motivos que fundamentam esta norma: demonstração do princípio democrático (superioridade


dos órgãos eleitos), tendo em conta que não deve haver um governo de juízes (quem legisla é o
legislador e não os tribunais; os tribunais não podem condicionar a legislação).

Havendo uma discordância na relação entre a Assembleia da República e o Presidente, visto que
ambos têm legitimidade democrática baseada no voto, a Assembleia da República enquanto
órgão ao qual a Constituição reconhece o poder legislativo tem um poder reconhecido para se
impor face ao Presidente.

Capítulo do Tribunal Constitucional (fiscalização preventiva):

❖ Artigo 278º
O Presidente pode suscitar a fiscalização preventiva de qualquer norma de um diploma.
Incluindo o pedido e a causa que motivou o envio para fiscalização. A fiscalização
preventiva deve ser suscitada no prazo de 8 dias. O prazo começa a contar no dia a seguir
ao diploma ser recebido (nº3).
Nº8: O tribunal Constitucional tem 25 dias para se pronunciar. No caso de se tratar da lei
do orçamento (que entra em vigor no dia 1 de janeiro), poderá suscitar-se a fiscalização
sucessiva de um artigo integrado nessa lei (porém, enquanto esta a ser analisada a lei
está em vigor).
Nº4, nº5, nº6 e nº7: regime das leis orgânicas
As leis orgânicas estão sujeitas a especificidades para superação do veto e da
fiscalização preventiva.
❖ Artigo 279º: Veto por inconstitucionalidade: o decreto não poderá ser promulgado sem
que o órgão que o aprovou (Governo ou Assembleia) expurgue a norma classificada
como inconstitucional (este pode ser promulgado ou vetado politicamente).
❖ Nº3: se o diploma vier a ser reformulado, o PR pode requerer apreciação preventiva de
qualquer das suas normas (pode promulgar, vetar ou requerer apreciação). Pode reenviar
para o Tribunal Constitucional se houver reformulação da norma. Esta é apenas uma das
possibilidades que o PR tem, mas não a única.
❖ Nº2: Face à confirmação, só há possibilidade de confirmação se a norma tratar de uma
lei e não de um decreto-lei. O PR não é obrigado a promulgar (só nos termos do artigo
136º onde fica claro que está sujeito a uma obrigação; esta só existe se for superado um
veto político). O PR não é obrigado a promulgar normas que considera inconstitucionais.
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Aula nº11

Intervenção do Presidente no domínio do processo legislativo (continuação) e respetiva função


de fiscalização:

Modelo de fiscalização preventiva (no caso de estarmos perante uma lei orgânica):

❖ Artigo 278º (nº 4,5,6,7 e 8);

Quem pode suscitar a fiscalização preventiva da constitucionalidade de uma lei orgânica?

✓ Cabe ao Presidente da República enviar para o Tribunal Constitucional uma


norma para que esta seja fiscalizada. No entanto, no caso das leis orgânicas, para
além do PR, também podem suscitar a fiscalização preventiva da
constitucionalidade das leis orgânicas 1/5 dos deputados ou o Primeiro-Ministro.
O Presidente da Assembleia da República, quando envia o diploma para o
Presidente da República (no caso das leis orgânicas) deve enviá-lo também para
o Primeiro-Ministro e para os grupos parlamentares de modo a que estes possam
(se quiserem) submetê-lo para o Tribunal Constitucional. Assim, o diploma chega
ao mesmo tempo ao Presidente da República, ao Primeiro-Ministro e aos grupos
parlamentares (que têm 8 dias para o enviar para fiscalização preventiva). Isto é
mais provável nos casos em que existem governos minoritários, o Primeiro-
Ministro pode suscitar a fiscalização preventiva face à maioria parlamentar. Este
quadro apresentado apenas se aplica dentro do regime das leis orgânicas.
✓ Temos que considerar que o Presidente da República e o Primeiro-Ministro
podem enviar normas diferentes ou até a mesma norma, mas com fundamentos
diferentes. O Tribunal Constitucional responde a todos os pedidos de fiscalização,
sejam estes provenientes do PR, do Primeiro Ministro ou dos deputados.
✓ Não é possível que o mesmo diploma seja promulgado e, ao mesmo tempo,
sujeito a fiscalização preventiva. Se o diploma foi vetado (politicamente) não
pode estar a ser fiscalizado, porque este será devolvido à Assembleia e não
enviado para o Tribunal Constitucional.
✓ Articulação entre o poder de veto e o poder de fiscalização. No caso das leis
orgânicas, durante os 8 dias que podem ser utilizados para enviar o diploma para
fiscalização da sua constitucionalidade, o Presidente não pode nem promulgar
nem vetar (politicamente), apenas enviar para o Tribunal Constitucional.
✓ O diploma não poderá ser apreciado por órgãos diferentes simultaneamente.
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Se o Tribunal Constitucional afirmar que não existe nenhuma inconstitucionalidade,


o Presidente da República poderá vetar politicamente o diploma. No caso de o
Tribunal considerar que o diploma é inconstitucional, o PR é obrigado a vetar o
diploma por inconstitucionalidade, ainda que não tenha sido ele a pedir a sua
fiscalização.

O Tribunal tem que, obrigatoriamente, analisar os diferentes pedidos de fiscalização provenientes


seja do Presidente da República, dos grupos parlamentares ou do Primeiro-Ministro,
independentemente da causa destes pedidos.

O direito de suscitar a fiscalização pertencente aos grupos parlamentares e ao


Primeiro-Ministro seria posto em causa se o PR pudesse promulgar ou vetar
(politicamente) o diploma durante os 8 dias atribuídos à possibilidade destes órgãos
suscitarem a fiscalização preventiva. A única coisa que o PR pode fazer durante esse
prazo de 8 dias é suscitar a fiscalização preventiva junto do Tribunal Constitucional.

❖ Artigo 278º nº4: Esta norma parece dar a entender que um decreto que seja enviado ao
PR para promulgação como lei orgânica (referente à lei x) que esta, na sua globalidade,
poderá ser alvo de fiscalização preventiva (qualquer norma que a integra) por parte do
Primeiro-ministro ou de 1/5 dos deputados. Mas não é o caso, o poder dado ao Primeiro
Ministro e a 1/5 dos deputados é apenas referente à matéria orgânica dessa lei.

Cavaleiros de lei reforçada/orgânica: Uma lei que contém um artigo de matéria orgânica
estará sobre o regime especial atribuído às leis orgânicas, no entanto, os artigos de matéria
ordinária continuam sujeitas ao regime geral. Somente a votação na globalidade deverá ser
efetuada segundo o regime da lei orgânica porque não é possível dividi-la e votá-la por
partes. Agora, para efeitos de fiscalização preventiva, só aplicamos o regime da lei orgânica
aos artigos cuja matéria é, de facto, sujeita a valor reforçado/orgânico. (Por exemplo, a lei do
orçamento na qual os deputados inserem outras normas que nada têm a ver com matéria
orçamental só para que estas sejam aprovadas mais rapidamente). O facto de essas normas
irem «à boleia» da lei do orçamento não as torna normas orçamentais, apenas são aprovadas
juntamente com a lei do orçamento. Porém, as normas que não incidem sobre a matéria
orçamental, mas que são enviados dentro da lei orçamental podem ser revogadas ou
alteradas pela Assembleia, não estando sujeitas ao domínio exclusivo do GV das leis do
orçamento.

Nº8: aplica-se a todas as situações em que é suscitada a fiscalização preventiva, seja por parte de
que órgão for. A possibilidade de o Presidente encurtar o prazo dado ao Tribunal Constitucional
não se aplica às leis de matéria orgânica (exceto no caso do nº1).
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Nº7: não é possível o PR inviabilizar o direito atribuído ao Primeiro-Ministro e a 1/5 dos deputados
de suscitarem a fiscalização preventiva.

O Presidente da República tem que esperar os 8 dias para ver se o diploma é enviado para
fiscalização. Se isto não acontecer dentro desse prazo, pode promulgar ou vetar o diploma. Mas
se o Tribunal Constitucional for convocado, ao prazo dos 8 dias é acrescentado o prazo para que
o Tribunal Constitucional se pronuncie sobre o assunto.

Decretos-legislativos regionais: são aprovados pelas Assembleias Legislativas Regionais e


seguem para o Representante da República que tem três hipóteses:

1. Assinar (equivalente à promulgação);


2. Vetar;
3. Enviar para fiscalização preventiva (Tribunal Constitucional).

Artigo 233º: Assinatura e veto do Representante da República.

O condicionamento da apreciação do Tribunal Constitucional é feito através do encurtamento do


prazo de fiscalização segundo a ordem do Presidente da República. Ora, se tratarmos dos
decretos-legislativos regionais, o Representante da República não tem poder para encurtar o
prazo de fiscalização junto do Tribunal Constitucional. Porquê? Por uma questão de legitimidade
democrática. Enquanto o Presidente da República representa um órgão de soberania, o
Representante da República não e como tal não tem poder capaz de se sobrepor ao Tribunal
Constitucional.

Artigo 279º: Se o Tribunal Constitucional considerar uma norma como inconstitucional, o


Representante da República terá que vetar por inconstitucionalidade o diploma. Depois de
devolvido o diploma, a Assembleia Regional não tem poder para a confirmar por questões de
legitimidade (não é um órgão soberano eleito por todos os cidadãos). A norma terá que ser
expurgada ou reformulada. Se o diploma for reformulado, o Representante da República pode
requerer a fiscalização preventiva da constitucionalidade de qualquer das suas normas.

Aspetos em que diverge o poder do Presidente da República e do Representante da República:

a) Diferenças terminológicas (assinatura e promulgação);


b) Em termos de prazo para assinatura e veto (são apenas 15 dias a nível regional);
c) Impossibilidade de o Representante da República encurtar o prazo de fiscalização ao
Tribunal Constitucional;
d) Impossibilidade de a Assembleia Regional confirmar o diploma.
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Em matéria do Tribunal Constitucional, cuja função passa pela garantia da Constituição antes
e depois das leis entrarem em vigor, temos dois tipos de fiscalização:

✓ Fiscalização preventiva e;
✓ Fiscalização sucessiva.

A fiscalização sucessiva subdivide-se em dois tipos:

1) Fiscalização abstrata.
2) Fiscalização concreta.
❖ Artigo 221º a 224º.

Modo como atua o Tribunal Constitucional no domínio da fiscalização sucessiva abstrata:

A fiscalização sucessiva contrapõe-se à fiscalização preventiva, estabelecendo a apreciação da


constitucionalidade das normas depois de estas entrarem em vigor.

• A fiscalização abstrata corresponde à apreciação das normas sem que estas se apliquem
a um caso concreto. A fiscalização preventiva é obrigatoriamente abstrata. Mesmo após
entrar em vigor, é possível que uma norma seja fiscalizada em termos abstratos (não
sendo esta aplicada num processo judicial concreto).

Casos de fiscalização sucessiva abstrata:

✓ Quando o Tribunal Constitucional aprecia e declara a inconstitucionalidade das normas


no âmbito da fiscalização sucessiva abstrata invoca todos os juízes do Tribunal
Constitucional (esta deliberação é tomada pelo órgão como um todo). Na fiscalização
preventiva (abstrata) também é o plenário do Tribunal Constitucional que toma a decisão.
Isto torna a decisão do Tribunal uma decisão com força obrigatória geral, levando à
obrigatoriedade do veto por inconstitucionalidade (efeitos retroativos – é como se a
norma nunca tivesse existido pois é definitivamente eliminada do Ordenamento Jurídico).
✓ Na fiscalização sucessiva concreta, a decisão do Tribunal Constitucional não tem força
obrigatória geral, só valendo para o caso concreto. Para efeitos de fiscalização concreta,
quem decide são as secções do Tribunal Constitucional e não o plenário. Aqui a norma
não é eliminada do Ordenamento Jurídico e apenas vale para aquele caso em concreto.
Isto deve-se sobretudo porque existem muito mais pedidos de fiscalização concreta do
que abstrata.

O Tribunal Constitucional pode declarar, no domínio da fiscalização abstrata, uma norma


«não inconstitucional».
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✓ Não pode declarar uma norma constitucional. Ora, se o TC pudesse declarar uma norma
como «constitucional» iria levar à interpretação de que essa norma tinha sido classificada
conforme a Constituição pelos juízes que naquele momento faziam parte do grupo de
juízes constitucionais, eliminando a possibilidade de que mais tarde, outros juízes,
possam detetar uma inconstitucionalidade que os anteriores não indicaram.

Quando suscitam fiscalização sucessiva podem considerar que há uma norma legal que viola
a constituição, pedindo ao Tribunal Constitucional que este declare a inconstitucionalidade
de uma norma.

Pedido de inconstitucionalidade de determinadas normas: não têm que ser normas legais
(leis, decretos-lei), podendo incluir quaisquer normas. Embora estas normas não tenham
passado pelo mesmo processo que passam as normas legais, a fiscalização sucessiva pode
ser suscitada para normas não legais. O Tribunal Constitucional não aprecia decisões, aprecia
somente as normas que são retiradas dessas mesmas decisões. Ao eliminar a norma, tudo o
que lhe antecede deixa de ter fundamento.

Embora um cidadão comum não tenha poder para enviar uma norma para o TC, poderá
dirigir-se a um oficial de justiça e requerer que esta seja analisada dentro da fiscalização
sucessiva abstrata (de modo a eliminar essa norma para todos os casos futuros). A nível
concreto, basta dirigir-se a um Tribunal de 1ª instância para resolver aquele caso concreto
(análise dos factos) – corresponde à análise da constitucionalidade concreta da norma.

Artigo 281º a) estabelece a fiscalização abstrata de “quaisquer normas”: não precisam de ser
obrigatoriamente normas legais.

Questão de ilegalidade e não de inconstitucionalidade

(Ex. decreto-lei autorizado que não respeita os parâmetros definidos pela Assembleia da
República). Segue-se os termos da alínea b) para a ilegalidade de uma norma. Na fiscalização
das «normas constantes de ato legislativo», estamos perante um problema de ilegalidade
(violação de uma lei de valor reforçado e não da Constituição em si). Perante uma ilegalidade
(tendo em conta que não existe uma inconstitucionalidade), só é permitida a fiscalização por
parte do Tribunal Constitucional se a norma for constante de um ato legislativo, caso contrário
o problema será resolvido por outros tribunais.

No nº2 estão enunciadas quais as entidades com poder para suscitar a fiscalização em
abstrato da inconstitucionalidade ou ilegalidade de uma norma.

Aula 12
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Fiscalização abstrata e fiscalização concreta:

Enquanto a sentença resultante da fiscalização abstrata vale para todos os casos futuros, ou
seja, têm força obrigatória geral; a sentença proveniente da fiscalização concreta vale
somente para o caso concreto.

Quando o Tribunal Constitucional:

A. Julga, estamos perante a fiscalização concreta (julgamento em curso do caso concreto);


B. Declara, estamos perante a fiscalização abstrata com força de obrigatoriedade geral.

Diferença entre inconstitucionalidade e ilegalidade:

Se estivermos perante uma questão de inconstitucionalidade, o Tribunal Constitucional pode


apreciar a inconstitucionalidade de qualquer norma. Quanto à ilegalidade, esta não é (em
princípio) apreciada pelo Tribunal Constitucional, mas sim pelos tribunais administrativos. Se
estivermos perante uma ilegalidade cuja competência pertence ao Tribunal Constitucional,
como é o caso das normas legais que violam leis de valor reforçado (tornam-se ilegais), então
a fiscalização é feita pelo próprio.

Um decreto-lei autorizado que viola uma lei de autorização legislativa é tanto ilegal quanto
inconstitucional. Porquê? Porque a Constituição estabelece que os decretos-lei autorizados
têm que estar de acordo com as leis de autorização legislativa.

Alínea a) e b) Artigo 281º são fundamentais neste contexto. As alíneas c) e d) estão expressas
no artigo apenas por razões políticas, relacionadas com o domínio das Regiões Autónomas.
(Ex. Decreto-legislativo de uma R.A. que viola o estatuto já está certamente incluído na alínea
b), sendo apenas reforçado pelas alíneas seguintes). Estas alíneas tratam de normas legais.

Sobrevalorização das normas relativas às Regiões Autónomas face às normas nacionais:

Alínea c): trata dos casos em que um diploma regional viola o estatuto da R.A. O diploma
enquanto decreto-legislativo regional (norma legal) já está incluído nos termos da alínea b);
tem que corresponder a uma norma infralegal regional que viola os estatutos das Regiões
Autónomas. Uma norma infralegal regional é fiscalizada pelo Tribunal Constitucional, mas se
a norma infralegal for emitida a nível nacional o Tribunal C. não tem competência de
fiscalização sobre a mesma (a fiscalização é feita pelos tribunais administrativos).

Alínea d): trata dos casos em que um diploma proveniente de um órgão soberano (emana
do Governo ou da Assembleia da República) viola o estatuto da R.A. O diploma, enquanto
decreto-lei ou lei, que viola os estatutos está dentro dos termos da alínea b). Logo, aqui a
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expressão «diploma» emanado dos órgãos de soberania simboliza os diplomas infralegais


que têm origem no Governo – os regulamentos que violam os estatutos das Regiões
Autónomas. Os diplomas infralegais não são aprovados pela Assembleia da República pois
esta só aprova leis.

Nota: A expressão «diploma» é pouco técnica. O Tribunal Constitucional não aprecia


diplomas, mas sim normas, tal como a Assembleia da República.

Artigo 227º: A Assembleia Legislativa Regional só pode legislar normas em matérias previstas
no estatuto. Esta alínea está prevista na alínea a) e b) do Artigo 281º, CRP.

Quais as entidades que podem suscitar a fiscalização? Artigo 281º, nº2, CRP: Demonstra a
sobrevalorização das normas de domínio regional face às normas de competência nacional.

Alínea g) do Art.281º relativa à fiscalização das Regiões Autónomas.

Artigo 282º: Quais os efeitos da decisão de inconstitucionalidade ou ilegalidade?

Afirmar que a declaração da inconstitucionalidade/ilegalidade «produz efeitos desde a entrada


em vigor da norma declarada inconstitucional ou ilegal» significa que, no domínio da
fiscalização abstrata, quando uma norma é considerada inconstitucional, a decisão do TC (que
declara a inconstitucionalidade de uma norma) tem efeitos retroativos – pelos que os casos aos
quais foram aplicados essa mesma norma são reconhecidos, produzindo efeitos para os casos
passados. Qual a consequência desta retroatividade? Ora, se a norma é inconstitucional desde o
momento em que surgiu inicialmente, esta é como se nunca tivesse existido, logo, todos os casos
por ela resolvidos são anulados e respetivamente solucionados ao abrigo de uma outra norma.

Assim, concluímos que a Constituição se superioriza face à lei, não podendo uma lei
inconstitucional ter consequências jurídicas durante um período de tempo (antes de ser declarada
inconstitucional pelo Tribunal Constitucional).

Os efeitos retroativos estabelecidos na Constituição são designados por efeitos «ex tunc» (regra
geral).

Repristinação da lei (Exemplo): a lei A estabelece propinas de 100 euros. Entretanto, a lei B revoga
a lei A: estabelece propinas de 1000 euros. Mas, o Tribunal Constitucional declara a lei B
inconstitucional. Quais os dois efeitos desta declaração?

1. A declaração da inconstitucionalidade «produz efeitos desde a entrada em vigor da


norma declarada inconstitucional» logo, os 1000 euros pagos serão devolvidos.
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2. Para eliminar verdadeiramente a lei B temos que analisar o que é que ficou estabelecido
com a sua entrada em vigor no ordenamento jurídico (revogou a lei A e criou um novo
regime de 1000 euros de pagamento). Face à inconstitucionalidade da lei B, devem ser
destruídos todos os efeitos por ela produzidos. Logo, a lei A deixa de estar revogada (a
lei B é eliminada) e dado que não existem motivos para que a lei A continue revogada,
esta é então repristinada (como se nunca tivesse sido revogada). Então isto significa que
os 1000 euros vão ser devolvidos, mas tendo em conta a aplicação da lei A são apenas
devolvidos 900 euros. Elimina tudo o que foi produzido pela lei B, incluindo a decisão
revogatória face à lei A. É como se a lei B nunca tivesse existido.

Art.282º, nº3, CRP (exceção ao nº1), incluindo uma exceção à primeira exceção do nº1:
representa uma norma dupla, constituída por duas partes:

1º parte: Exceção ao nº1.

2ª parte: Exceção relativa à exceção estabelecida pela primeira parte da norma.

Exemplificando: a lei A diz que só é possível despejar um inquilino, durante o prazo do contrato,
se o senhorio precisasse da casa para habitação familiar. Mais tarde, surge lei B que define que o
despejo pode ser realizado por qualquer motivo (neste caso, a lei B revoga a lei A). Dá-se um
processo judicial com um caso-julgado (sentença definitiva) que obriga o inquilino a ceder o lugar
a outro, sendo o inquilino despejado. Posteriormente, surge uma decisão do Tribunal
Constitucional face a inúmeros protestos que afirmam que estas normas constituem uma ameaça
ao sistema arrendatário que torna a lei B inconstitucional. Logo, a decisão do TC implica a
inconstitucionalidade da lei B e deve haver a repristinação da lei A (deixa de haver motivo para o
despejo do inquilino) isto dentro dos casos do nº1 do Artigo 282º. A consequência derivada da
declaração da inconstitucionalidade da lei B, implica a devolução da habitação ao inquilino que
foi despejado nos termos dessa mesma lei. Ora, isto punha em causa das sentenças dos judiciais
perante os casos-julgados (conflito entre a segurança jurídica, a Constituição, as sentenças dos
casos-julgados).

A Constituição estabelece que, nos casos em que a lei inconstitucional que já tenha resolvido um
caso-julgado, devem permanecer as sentenças proferidas. A isto chamamos salvaguarda dos
casos julgados. No entanto, para casos futuros aplicar-se-á uma nova norma que não aquela que
foi considerada inconstitucional. Os casos que estão a ser julgados juntamente com casos futuros
estarão então, a partir da declaração da inconstitucionalidade da lei x, serão julgados segundo a
lei y. No entanto, nos processos já julgados, mantém-se a lei x (o processo judicial não é reaberto).

Aplica-se o nº1, salvo nos casos-julgados: exceção ao nº1.


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A exceção do nº3 não pode ser sempre aplicada. Exemplos: Perante a Lei A e a lei B é feito um
julgamento (nos termos da lei B). Mas, o Tribunal C. declrara a lei B inconstitucional. Procede-se
à repristinação da lei A para os casos ainda em curso e casos futuros. Em que situações é que o
caso-julgado não deve manter-se imune à declaração de uma norma inconstitucional? Se
aplicarmos o nº1 do art.282º, o caso julgado teria que ser reaberto, mas segundo a exceção do
nº3 o caso-julgado é definitivo (para fins de segurança jurídica). Ora, nem sempre se aplica esta
exceção à regra do nº1, tendo-se criado para tal uma segunda exceção nos termos do nº3:
salvaguardam-se os casos julgados se estiverem em causa penas criminais, contraordenações ou
processos disciplinares (dentro destas circunstâncias reabre-se o caso). Se a lei que foi repristinada
for mais favorável ao arguido então reabre-se o caso julgado. Temos sempre em conta o benefício
do arguido.

Dois requisitos para reabertura de um caso julgado (exceção à exceção):

1. Matéria criminal, contraordenacional ou disciplinar.


2. A lei que é declarada inconstitucional deve ser menos favorável que aquela que foi
repristinada.

1ª parte/exceção ao nº1: «ficam ressalvados os casos julgados».

2ª parte/exceção à exceção do nº1: «salvo (…) quando a norma respeitar matéria penal, disciplinar ou de
ilícito de mera ordenação social e for de conteúdo menos favorável ao arguido» face à norma que foi
revogada.

Este processo não é automático, é necessário que o Tribunal Constitucional tome uma decisão no
sentido que não ficam ressalvados os casos julgados. Não basta que o Tribunal C. declare uma
norma inconstitucional e que esta cumpra os requisitos para a reabertura do caso julgado para
que o caso seja efetivamente reaberto. Não é o TC que vai julgar novamente o caso, este apenas
declara que o caso deverá ser julgado novamente pelo tribunal respetivo à matéria em questão.

Há situações em que não é fácil identificar se a norma é mais ou menos favorável ao arguido.
Nesses casos é necessário ver qual foi a pena aplicada em concreto ao arguido. Se o caso julgado
for reaberto e julgado de acordo com uma lei mais favorável ao seu caso em concreto, então o
caso deverá ser reaberto. Temos que ter em conta todas as particularidades do caso concreto
para decidir se o processo é ou não reaberto. Cada tribunal é que irá analisar se a lei é mais ou
menos favorável «ressalvados (…) salvo decisão em contrário do Tribunal Constitucional»: o
Tribunal C. é quem decide se o caso é ou não reaberto.

Art.282º, nº4 (exceção ao nº1 (regra-geral) e nº2, Art.282º, CRP): há casos em que a repristinação
da lei x ameaça a segurança jurídica, a equidade ou interesses públicos considerados relevantes.
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O TC pode declarar que uma lei é inconstitucional, mas que só produz efeitos dali para a frente.
O Tribunal Constitucional, segundo o nº4, limita os efeitos da sua sentença determinados pelo
nº1 (restringir os efeitos da sua própria sentença, tornando-os menos abrangentes). Estas
situações são sempre excecionais. Para aplicar o regime do nº4, há que fundamentar devidamente
o caso em questão (segurança jurídica, equidade ou interesses públicos), sendo o TC responsável
por fixar a restrição desses efeitos. A expressão «o exigirem» demonstra que este nº4 só é
utilizado para casos devidamente justificados (representa um regime excecional).

O TC pode não determinar os efeitos retroativos, mas sim restringir esses mesmos efeitos de
modo a torná-los menos abrangentes. (a decisão terá MENOS efeitos retroativos, mas para os
casos futuros não terá valor).

Exemplo: Em 2012 introduziu-se na lei do orçamento que estabeleceu que não seriam pagos os subsídios
de férias e de natal aos funcionários públicos (pagos em junho e novembro, respetivamente). Ora, como nos
orçamentos as despesas devem igualar as receitas: esta lei foi enviada para o TC para fiscalização da sua
constitucionalidade. Em junho, dado que o TC não se tinha pronunciado sobre o assunto, os subsídios de
férias não foram pagos. Mas, em julho o TC declara a lei inconstitucional, pelo que o Governo devia pagar
(ainda que tarde) o subsídio de férias. No entanto, o TC invocou o nº4 do artigo 282º, declarando que não
seria obrigatório pagar esse subsídio tardiamente (os efeitos retroativos são restringidos; a
inconstitucionalidade só se aplicaria dali em diante). Acontece que o TC invocou o nº4 permitindo que a lei
inconstitucional se mantivesse para efeitos passados, mas também continuasse a aplicar-se mesmo depois
da sua decisão, estendendo-se até novembro (não pagando quer o subsídio de férias como de natal). Neste
caso, ao abrigo do nº4, a norma inconstitucional foi alargada após a decisão do Tribunal Constitucional –
continuando a produzir efeitos para o futuro.

O nº4 não estabelece que o Tribunal C. pode eliminar os efeitos retroativos, mas sim fixar a
decisão com alcance mais restrito (fazendo menos do que aquilo que o nº1 exige). Aqui o tribunal
constitucional limita os efeitos da sua decisão. Designamos esta situação por efeitos «ex nunc», a
decisão do TC não tem efeitos retroativos – só começa a ter efeitos após a decisão ser proferida.

Aula 13

Fiscalização sucessiva abstrata (continuação)

Regra-geral: Os efeitos retroativos «ex tunc» simbolizam a consequência natural da inconstitucionalidade


de uma lei (são destruídos todos os efeitos, salvo os referentes ao caso julgado).

Regime excecional: «ex nunc»

O Art.282º, nº4 permite que a sentença não tenha retroatividade ou que tenha apenas retroatividade durante
um período de tempo definido (são restringidos os seus efeitos). A lei que permite o menos permite o mais,
logo, o TC pode estender ou alargar os efeitos retroativos de uma decisão que proferiu relativamente à
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inconstitucionalidade abstrata de uma norma. Esta norma reconhece ao Tribunal Constitucional poder para
modelar os efeitos da inconstitucionalidade.

❖ Art.282º nº2
Exemplo: A lei A legaliza eutanásia (não é inconstitucional). Mais tarde, dá-se uma revisão
constitucional na qual se acrescenta uma norma que proíbe a eutanásia: o Tribunal C. declara a lei
A inconstitucional. A particularidade desde caso prende-se com o facto de a lei A quando surgiu
não ser inconstitucional (não estava desconforme a Constituição em vigor). Face à revisão
constitucional, a lei A passa a ser inconstitucional. Designamos esta circunstância por
inconstitucionalidade superveniente: originalmente a norma não é inconstitucional, esta torna-se
desconforme à Constituição perante um novo padrão constitucional, podendo ser declarada como
inconstitucional posteriormente.

Quais são os efeitos de uma decisão do TC face à inconstitucionalidade superveniente?


A regra-geral de efeitos retroativos «ex tunc» mantém-se, quer trate de uma
inconstitucionalidade originária ou superveniente. A questão incide em saber até onde é
que esses efeitos se aplicam: perante uma inconstitucionalidade superveniente, os efeitos
retroativos devem aplicar-se até à entrada em vigor da nova revisão constitucional.
Portanto, os efeitos produzidos pela lei A enquanto não era inconstitucional não devem
ser destruídos. Estes apenas retroagem a partir do momento em que se dá a revisão
constitucional (retroage não face à lei A, mas sim face à revisão constitucional). Assim, os
efeitos retroativos podem ser «ex tunc». Imaginemos agora que a lei A tinha revogado
a lei X, a lei X será repristinada?
Se tratasse de uma inconstitucionalidade originária, a lei X seria repristinada. Mas perante
uma inconstitucionalidade superveniente:
o Ao destruímos os efeitos produzidos pela lei A da revisão constitucional em
diante e tendo em conta que a revogação da lei X pela lei A aconteceu antes da
revisão, esta mantém-se revogada (não é repristinada).
o Apenas se destroem os efeitos a partir do momento em que a lei se torna
inconstitucional.

Ao invocar a inconstitucionalidade da lei A (e tendo em conta que se esta for declarada como
inconstitucional, a lei X é repristinada). Aquele que pede a fiscalização da lei A deverá pedir também (no
caso de considerar também a lei X inconstitucional) a fiscalização da lei X junto do Tribunal Constitucional.
Isto porque a fiscalização que cabe ao Tribunal Constitucional está exclusivamente vinculada ao pedido que
lhe é enviado. A repristinação de uma lei e os efeitos retroativos que derivam da declaração de uma
inconstitucionalidade são efeitos naturais da decisão do Tribunal Constitucional. Este não declara que uma
lei é repristinada, é um processo que se dá automaticamente sem necessidade da sua intervenção.
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Na fiscalização sucessiva abstrata o Tribunal Constitucional não tem um prazo definido para se
decidir sobre a inconstitucionalidade das normas.

Enquanto o Art.282º, nº1 trata da inconstitucionalidade originária: determina efeitos «ex tunc»
(desde a entrada em vigor da norma inconstitucional/ilegal) e a repristinação das normas que
foram por esta revogadas. O nº2 concretiza a possibilidade de uma retroatividade limitada
(apenas até à revisão constitucional) e a não repristinação da norma no domínio da
inconstitucionalidade superveniente.

Nota: o último exemplo dado representa uma inconstitucionalidade material.

Existem diferentes tipos de inconstitucionalidades, sendo importante destacar as


inconstitucionalidades materiais, orgânicas e procedimentais ou formais. A inconstitucionalidade
material ocorre quando o conteúdo da norma está desconforme à Constituição. Estamos perante
uma inconstitucionalidade orgânica quando o órgão que aprovou uma determinada norma não
dispõe de competência para tal. Por último, verifica-se uma inconstitucionalidade procedimental
ou formal quando uma norma, apesar do seu conteúdo ser conforme com a Constituição e esta
ser sido aprovada pelo órgão competente, não cumpre requisitos formais como a maioria
necessária para a sua aprovação ou quando a iniciativa legislativa advém de um órgão sem
competência legislativa, por exemplo. No domínio da inconstitucionalidade formal, o que não
está conforme a Constituição é o procedimento pelo qual é aprovada uma norma.

Particularidades da inconstitucionalidade superveniente:

O Art.282º, nº2 só é aplicável perante uma inconstitucionalidade superveniente material: o


conteúdo da lei passa a ser incompatível com o conteúdo da Constituição.

Outro exemplo: A lei A foi aprovada por maioria simples (uma vez que constituía matéria de reserva absoluta
da Assembleia da República, segundo os termos do artigo 164º pertencendo, por exemplo a matéria
correspondente à alínea s) do Art.164º, CRP) que não é matéria de lei orgânica). Entretanto numa revisão
constitucional estabelece-se que a matéria correspondente à alínea s) passa a ser matéria de lei orgânica.
Isto significa que as leis sobre matéria da alínea s) passam a ser aprovadas por maioria absoluta. A lei A é
enviada para fiscalização junto do Tribunal Constitucional: lei A é declarada inconstitucional, a partir da
revisão constitucional. Se o Tribunal Const. tiver apenas em atenção o nº2 do Art.282º, CRP declara a
inconstitucionalidade superveniente da lei A. Porém, neste exemplo, trata-se de uma inconstitucionalidade
formal e não de uma inconstitucionalidade material (a inconstitucionalidade superveniente está reservada
aos casos de inconstitucionalidades materiais). Neste caso, a questão da formalidade é consumada num
momento específico (a aprovação da lei acontece no dia x e termina; está concluída). A lei não se torna
inconstitucional porque na altura que foi aprovada, cumpriu todos os requisitos de aprovação das leis que
vigoravam naquele momento. A aprovação da lei não se faz acompanhar da lei no tempo. Isto tanto vale
para a inconstitucionalidade orgânica como formal. O que acompanha a lei é a matéria da mesma, ou sejam
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o seu conteúdo não pode ser incompatível com a Constituição. Posteriormente, se aprovássemos uma lei B
que viesse alterar a lei A, a lei posterior teria que ser aprovada por maioria absoluta. Assim, concluímos que
as inconstitucionalidades supervenientes só existem no domínio da inconstitucionalidade material.

A fiscalização sucessiva concreta traduz a possibilidade de uma pessoa envolvida no decurso de


um litígio suscitar a fiscalização da norma aplicada ao caso concreto. Perante um processo judicial,
um arguido pode suscitar o recurso junto dos tribunais judiciais motivado por uma discordância
face os factos do caso concreto, à aplicação da própria lei ou à sentença aplicada pelo tribunal.
No caso de a lei não ser conforme à Constituição, então esta não pode ser aplicada aos factos,
devendo o arguido suscitar a sua fiscalização. Quem decide sobre a questão da
inconstitucionalidade do caso concreto é o próprio juiz do tribunal criminal: se a lei for
considerada inconstitucional então não pode ser aplicada aos factos (o juiz pode recusar-se a
aplicar a norma).

Em Portugal, todos os juízes têm competência para fiscalizar a constitucionalidade sucessiva


concreta das normas (a questão não é necessariamente enviada para o Tribunal Constitucional).

❖ Art.204º, CRP: Todos os tribunais têm competência para fiscalizar a constitucionalidade


sucessiva concreta das normas. Os tribunais não podem aplicar normas desconformes à
Constituição em qualquer processo a decorrer. A inconstitucionalidade poderá depender
da interpretação que se dá à norma legal e como tal, a interpretação deve ser sempre
feita conforme com a Constituição.

Um tribunal tanto pode:

1) Aplicar a lei (só cabe recurso para o TC se o advogado suscitar a inconstitucionalidade da


norma no decorrer do processo junto do tribunal);
2) Recusar aplicar a lei (no caso de considerar a lei inconstitucional).

De ambas as alternativas, resulta uma sentença. É desta sentença que pode ser suscitado recurso
para o Tribunal Constitucional. Este só procede para a fiscalização quando já foi proferida uma
sentença.

o Ao recusar a aplicação da lei, o juiz pode substituir a lei que considera inconstitucional por outra
da Constituição e aplicá-la ao caso concreto.
o O juiz, ao decidir, declara uma sentença para o caso concreto, mas também decide sobre a
constitucionalidade da lei que aplica.

A partir da sentença proferida pelo juiz, pode caber recurso para o Tribunal Constitucional que irá
apreciar a inconstitucionalidade da lei. Primeiramente é pedida a declaração da
inconstitucionalidade em matéria de fiscalização concreta perante o juiz onde o processo está a
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decorrer e só em recurso pode esta ser enviada para o Tribunal Constitucional. Nestas
circunstâncias, a inconstitucionalidade tanto pode ser material, formal ou orgânica.

Se a questão da inconstitucionalidade de uma norma não foi colocada no tribunal 1ª instância,


ao recorrer para instância superior pode ser requerida a apreciação da sua constitucionalidade.
Caso seja proferida uma sentença na 2ª instância, não qualificando como inconstitucional uma
norma, cabe recurso para o Tribunal Constitucional, mas é obrigatório comprovar que a questão
da constitucionalidade da norma já foi anteriormente colocada. Quando um processo é enviado
para o Tribunal Constitucional é sempre em recurso, ou seja, a fiscalização da constitucionalidade
concreta já foi suscitada num tribunal inferior: não podemos enviar um pedido de fiscalização
sem antes suscitar essa questão numa instância de um tribunal de hierarquia inferior à do Tribunal
Constitucional. A inconstitucionalidade concreta invocada em recurso para o Supremo Tribunal
de Justiça não é a melhor estratégia: o STJ pode recusar o recurso (não havendo possibilidade de
recorrer para o STJ). Neste caso não pode ser apreciada a questão da constitucionalidade junto
do Tribunal Constitucional porque esta não foi anteriormente colocada num outro tribunal de
hierarquia inferior.

Exemplo:

Num tribunal de primeira instância é proferida uma sentença de 20 anos de prisão. Em recurso
na instância superior reduz a pena para 5 anos (tendo em consideração que em nenhuma destas
é colocada a questão da fiscalização da constitucionalidade da norma aplicada ao caso). O arguido
recorre para o STJ e invoca fiscalização concreta da constitucionalidade da norma (o recurso é
recusado porque o STJ não admite recurso quando a pena definida é inferior ou igual a 5 anos).
Logo, não há maneira de haver fiscalização concreta junto do Tribunal C.

O Art.280º nº1, alíneas a) e b) estabelece que o acesso ao Tribunal Constitucional não é direto:

a. Só podemos recorrer ao Tribunal Constitucional se o juiz de qualquer outro tribunal


se recusar a aplicar uma norma por considerar que esta é inconstitucional.
b. Só podemos recorrer para o Tribunal Constitucional se durante o processo de
julgamento for levantada a questão da inconstitucionalidade perante qualquer outro
tribunal de hierarquia inferior.

No caso de o tribunal se recusar a aplicar a norma, para além da parte que fica prejudicada por esta decisão,
também o Ministério Público fica obrigado a enviar o processo para fiscalização junto do Tribunal
Constitucional.

Breves notas:
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o Geralmente, o pedido de fiscalização concreta é acompanhado por uma certa expectativa face à
decisão que o juiz irá proferir. Ora, quando esta expectativa não é se verifica e no STJ se invoca uma
lei da qual não se espera (decisão surpresa; não é antecipável) pode, excecionalmente, recorrer-se
para o Tribunal Constitucional pedindo a fiscalização da constitucionalidade da lei não antecipável.
Porém, este cenário é muito raro.
o Um processo não pode estar a ser tratado em dois tribunais diferentes, tem que optar se o processo
segue para o STJ ou para o Tribunal Constitucional.
o Se a lei for considerada inconstitucional devido aos factos do caso concreto, então o tribunal de 1ª
instância retorna a julgar o caso.

Aula 14

Fiscalização concreta (continuação)

Na prática, o Tribunal Constitucional trata de mais casos de fiscalização concreta. Este não aprecia
se a sentença é inconstitucional: apenas lhe cabe apreciar a inconstitucionalidade das normas e
não do conteúdo de uma sentença (deve ser analisada pelas várias instâncias dos tribunais
ordinários). O âmbito do recurso do Tribunal Constitucional incide apenas sobre a apreciação das
normas que são aplicadas num caso concreto. Cabendo perguntar se estas estão conforme à
Constituição.

Também existem sentenças inconstitucionais ou desconformes à Constituição. O Art.32º CRP,


assegura a possibilidade de defesa nos tribunais, incluindo o recurso. Uma sentença produzida
com base na violação dos direitos do arguido não pode ser apreciada junto do Tribunal
Constitucional, embora esta seja inconstitucional, o recurso é feito junto do tribunal de hierarquia
superior. No entanto, perante uma sentença inconstitucional proferida pelo Supremo Tribunal de
Justiça não há possibilidade de recurso.

O tribunal constitucional, ainda que no âmbito da fiscalização concreta, desliga-se do conteúdo


do caso concreto em si (apenas aprecia questões relativas à inconstitucionalidade das normas).

O recurso para o TC só é possível depois de serem esgotados os demais recursos. Não é


verdade que só podemos recorrer para o TC face às sentenças do STJ. A partir do momento
em que recorremos para o TC, não pode ser efetuado nenhum outro recurso. O Tribunal
Constitucional decide (em recurso) de situações em que a inconstitucionalidade de uma
norma já foi suscitada.

Por exemplo, o arguido questiona se um determinado artigo é compatível com o Art.32º da


CRP.

❖ Art. 204º, CRP


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Exemplo 1, Art.280º, alínea b): O arguido invoca inconstitucionalidade do Art.x do Código de Processo
Penal, mas o tribunal não dá razão ao arguido e este é condenado com base nesse artigo. Prossegue-
se com recurso para o TC (se a norma for declarada inconstitucional o arguido é novamente julgado)
ou recurso para a 2ª instância onde o tribunal torna a não dar razão ao arguido (o arguido pode recorrer
ao TC para fiscalização da norma que lhe foi aplicada). O recurso para o Tribunal Constitucional é restrito
à questão da inconstitucionalidade da norma. É legitimo prescindir dos recursos para os tribunais de
hierarquia superior e seguir logo para o Tribunal Constitucional. A sentença transita em julgado se já
tiver sido proferida nos tribunais inferiores e a questão da inconstitucionalidade não foi aprovada. Se as
normas forem consideradas inconstitucionais, então haverá um novo julgamento junto dos tribunais
inferiores onde serão aplicadas outras normas ao caso.

O Art.280º, nº4, CRP, estabelece que só é possível recorrer para TC a parte que suscitou a questão da
inconstitucionalidade durante o processo (antes da sentença final). O requerimento para recurso junto
do TC tem que incorporar onde é que foi suscitada a inconstitucionalidade da norma antes de ser
interposta no TC. Os recursos para o Tribunal Constitucional preparam-se durante o processo, antes da
última sentença do tribunal.

Exemplo 2 (recusa de aplicação de norma) Art.280, alínea a): O arguido invoca uma lei que prevê
redução da pena para idosos. O tribunal recusa aplicar a norma (invocando a sua inconstitucionalidade)
invocando que a norma viola o Art.13º, CRP. É proferida uma sentença. A questão da
inconstitucionalidade foi interposta pelo próprio juiz (pode ser também invocada pelo ministério
público). Dos casos em que um tribunal se recusa a aplicar uma norma por considerar que esta é
inconstitucional, a questão é diretamente enviada para o Tribunal Constitucional (os restantes recursos
ficam pendentes/suspensos). Nestas circunstâncias, o recurso para o TC é obrigatoriamente interposto
pelo Ministério Público (por se tratar de uma questão de legalidade). Contudo, o Ministério Público
assume uma posição objetiva, não defendendo um interesse próprio, mas sendo obrigado a enviar a
norma para fiscalização junto do Tribunal Constitucional.

Se o ministério público é obrigado a recorrer diretamente para o TC quando um juiz se recusa a aplicar uma
norma por achar que é desconforme com a CRP então não é possível que o tribunal privado decida recorrer
(ao mesmo tempo) para o tribunal de instância superior. Estes recursos ficam suspensos até o TC se
pronunciar sobre a questão da constitucionalidade da norma.

Art.280, nº3, CRP: o Ministério Público é obrigado a recorrer para o Tribunal Constitucional somente se tratar
de convenção internacional, ato legislativo ou decreto regulamentar.

Consequência da decisão do Tribunal Constitucional:

A decisão é definitiva para aquele caso em concreto/apenas naquele processo quanto à questão da
inconstitucionalidade (faz caso julgado quanto à questão da inconstitucionalidade). O processo
termina. Se a norma é qualificada como inconstitucional, é preciso que o julgamento seja
novamente efetuado (é proferida uma nova sentença com base numa outra norma), logo, o
processo é reaberto.
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Apenas uma secção do Tribunal Constitucional fica encarregue de fiscalizar a inconstitucionalidade de uma
norma no caso de fiscalização concreta. Esta não pode ser eliminada do ordenamento jurídico, porque a
decisão proferida não advém do plenário do Tribunal Constitucional, mas apenas de uma das suas secções.

Quais as consequências desta circunstância?

Exemplificando:

Processo 1: X acusado de crime de homicídio. O arguido tem 80 anos e invoca lei A que diz que há redução
de pena para pessoas idosas. O tribunal recusa aplicar a lei A (Art.204º CRP), sendo o Ministério Público
obrigado a recorrer para o Tribunal Constitucional (secção do TC julga a lei A inconstitucional, sendo a força
da sua decisão restrita a este processo). O arguido pode recorrer para instâncias superiores, mas não pode
ser aplicada a lei A ao processo. O processo fechou e a decisão proferida pelo Tribunal Constitucional só
vale para este caso concreto. A lei A continua a vigorar no ordenamento jurídico, tendo esta sido julgada
inconstitucional por confirmação da decisão do juiz.

Processo 2: Y acusado de crime de roubo. O arguido tem 90 anos e invoca lei A que diz que há redução de
pena para pessoas idosas. A lei A é aplicada pelo juiz (não a considera inconstitucional). O Ministério Público
podia suscitar a questão de fiscalização da inconstitucionalidade da lei (é obrigado a tal), mas o tribunal não
está vinculado às decisões tomadas noutros processos: se o tribunal aplicar a lei A (que foi considerada
inconstitucional noutro processo) o Ministério é obrigado a enviar o processo para o Tribunal Constitucional
(este pode ir parar à mesma secção ou a outra secção do TC, se for parar à mesma secção é provável que a
decisão seja idêntica ao do processo anterior). Porém, os juízes que pertencentes a outra secção podem
decidir de maneira diferente ou os mesmos juízes que decidem sobre o processo anterior podem decidir de
forma diferente sobre outro processo. O tribunal constitucional decide da mesma maneira e julga a lei A
inconstitucional, a sentença terá que ser refeita.

Lei A foi duas vezes julgada inconstitucional em dois processos diferentes.

Processo 3: Z acusado de crime de corrupção. O arguido tem 91 anos e invoca lei A que diz que há redução
de pena para pessoas idosas. A lei A continua em vigor após ser julgada inconstitucional em dois processos
distintos. O tribunal recusa aplicar a lei A pelos mesmos motivos que julgaram a norma inconstitucional nos
processos anteriores. Esta decisão vem no seguimento de uma decisão anterior, o Ministério P. é obrigado
a enviar a norma para fiscalização concreta junto do TC. A partir do momento em que o TC julga uma norma
inconstitucional, daí em diante sempre que a norma aparecer num processo, quer o tribunal aplique ou se
recuse a aplicar o Ministério P. tem que enviar a norma para o Tribunal Constitucional, nos termos do
Art.280º, nº5. O tribunal pode aplicar a norma que anteriormente foi julgada inconstitucional pelo TC ou
recusar a sua aplicação (Art.280º, nº3, CRP).

O objetivo é criar uma jurisprudência relativamente constante. Perante três processos distintos,
onde a mesma lei é suscitada e se procedeu em recurso para o TC e o mesmo decidiu da mesma
forma (podem ser julgados pela mesma secção ou não). Sendo a norma julgada inconstitucional
três vezes pelo Tribunal Constitucional em três casos concretos distintos, como é que esta norma
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pode ser eliminada do ordenamento jurídico? A CRP estabelece que depois de ter sido uma norma
considerada 3x inconstitucional no domínio da fiscalização concreta, então passamos para o
regime da fiscalização abstrata (Art.281º, nº3), ou seja, dá-se a transição de fiscalização concreta
para fiscalização abstrata. O TC irá fiscalizar a inconstitucionalidade da lei A para efeitos abstratos
(o TC passa a declarar a inconstitucionalidade da norma com força obrigatória geral e não
somente a julga-la inconstitucional no domínio do caso concreto).

Em Portugal, os cidadãos não podem dirigir-se diretamente ao Tribunal Constitucional. Este não admite que
sejam apreciadas questões que incidem sobre o conteúdo do caso concreto, apenas aprecia a
inconstitucionalidade da norma em si. O recurso de amparo não é admitido.

Fiscalização por ação e fiscalização por omissão:

No domínio da fiscalização por ação, o TC fiscaliza as normas produzidas pelos órgãos legislativos; enquanto
na fiscalização por omissão, o TC aprecia se o facto de os órgãos legislativos não terem produzido uma
norma pode ser considerado inconstitucional (Art.283º, CRP). Será que a inconstitucionalidade por omissão
não retira poder ao legislador visto que é ele que decide sobre que matérias pretende ou não legislar? O
legislador não é obrigado a legislar sobre uma matéria. No entanto, há matérias que não ficam a cargo do
legislador, sendo a própria CRP que impõe a necessidade de legislação sobre determinada matéria. Somente
nestes casos é que o TC pode intervir. O comportamento omissivo do legislador pode estar a violar de certa
forma a Constituição. Perante uma inconstitucionalidade por omissão, o TC chama a atenção do Parlamento
para legislar sobre a matéria em questão. O TC aprecia e verifica a omissão (não julga nem declara).

Fiscalização concreta: o tribunal constitucional julga inconstitucional

Fiscalização abstrata: o tribunal constitucional declara inconstitucional

Aula 15

Matéria de direitos fundamentais (Art.16º DDHC)

A separação de poderes e a consagração dos direitos fundamentais correspondem aos dois


elementos fundamentais do ordenamento jurídico português, estando estes dois princípios
integrados nas matérias intrínsecas à própria Constituição (Art.288º, al. d) e j), CRP).

A Constituição de 1976 simboliza uma rutura com a Constituição de 1933, contudo, alguns aspetos
continuaram a vigorar no novo diploma. Os direitos fundamentais superiorizam-se ao poder legislativo –
este está subordinado aos direitos fundamentais (é a Constituição que determina quais são os limites do
poder legislativo). Isto porque os direitos fundamentais estão integrados na própria Constituição. O mesmo
acontecia na Constituição de 1933 na qual estavam expostos os direitos fundamentais, no entanto, estes
encontravam-se dependentes do legislador e por isso, limitados pela lei. Já a Constituição de 1976 coloca o
legislador num plano inferior face aos direitos fundamentais, podendo estes ser invocados pelos cidadãos
não só perante o Estado e as entidades públicas, mas também sendo diretamente aplicáveis às entidades
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privadas (ainda que não haja nenhuma lei sobre essa mesma matéria). A Constituição, enquanto lei que se
superioriza a todas as outras, não carece da existência de leis que permitam determinadas condutas que
contrariem os direitos fundamentais porque estes enquanto parte da própria Constituição também se
superiorizam às demais leis. Assim sendo, os direitos fundamentais são diretamente aplicáveis e sobrepõem-
se a qualquer outra lei.

O Tribunal Constitucional tem um papel apagado face à matéria dos direitos fundamentais,
sobretudo no que toca à sua interpretação. Os direitos fundamentais não têm todos o mesmo
regime, este varia consoante o tipo de direitos que se trata. Existem, portanto, várias gerações de
direitos fundamentais que foram sendo incorporadas na Constituição portuguesa e por esta ser
tardia foi agregando esses direitos à medida que estes foram evoluindo.

Quanto à evolução dos direitos:

i. Surge o «Estado mínimo» também designado por «Estado-polícia» ou «guarda noturno»


que assegurava segurança e justiça. Corresponde a um Estado pouco interveniente na
vida social, no qual os direitos fundamentais se limitavam sobretudo às liberdades que
não careciam de intervenção estatal.
ii. O Estado evolui embora ainda dentro desta perspetiva do estado mínimo: é reconhecida
a democracia e um conjunto de direitos associados à participação política (direito de
votar, eleger e ser eleito, constituir partidos políticos). Deste modo, é exigida alguma
intervenção do Estado enquanto mero fiscalizador. São reconhecidos, para além dos
direitos de liberdade, os direitos de participação política.
iii. Após as duas grandes guerras mundiais, dá-se um avanço do Estado à escala europeia
(sobretudo na Europa Ocidental) ao qual correspondeu a passagem do Estado-mínimo
para um Estado de Direito: o Estado passa a ser o motor da reconstrução económica.
Começa a intervir na vida social e económica, uma vez que a sociedade civil não tinha
capacidade para o fazer. A auto-organização da sociedade (sem intervenção estatal) era
vista como geradora de grandes desigualdades sociais.
iv. O Estado passa a designar-se por Estado Social de Direito, arrastando um novo e mais
vasto conjunto de direitos – como o direito ao ensino, à segurança social e à saúde
(direitos estes associados a prestações do Estado). A esta evolução correspondem as
várias gerações de direitos.

As Constituições do pós-guerra passam a incorporar, para além dos direitos, liberdades e garantias
(direitos de 2ª geração), os direitos económicos, sociais e culturais (direitos de 3ª geração que implicam
prestações do Estado).
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v. Após o Estado Social de Direito segue-se o Estado Pós-Social de Direito, que procura
atenuar as dificuldades inerentes ao Estado Social (quanto mais se exige do Estado mais
carga fiscal incide sobre os cidadãos e para atenuar esta situação surge o Estado Pós-
Social). A intervenção do Estado deixa de ser direta (enquanto Estado prestador) e passa
a ser indireta (enquanto Estado regulador). Em contraposição ao Estado de Direito - no
qual a autorregulação toma grande parte enquanto reguladora de vida social - e ao
Estado Social - que implica que o Estado seja prestador de serviços sociais, aumentando
a carga fiscal sobre os cidadãos - surge o Estado Pós Social, procurando alcançar um meio
termo entre estas duas conceções.

Portugal está numa transição para o Estado Pós-Social de Direito, assegurando quer a iniciativa privada, quer
a iniciativa pública. Neste sentido, verifica-se a existência de uma entidade pública, nomeada normalmente
pela Assembleia da República (não recebendo ordens do Governo e independente enquanto reguladora), à
qual cabe regular os setores da vida económica e social do país (esta entidade regula os setores públicos e
privados). A Constituição de 1976, como foi consagrada tardiamente, não é imune a uma evolução mais
lenta verificada sobretudo na passagem do Estado de Direito para o Estado Social e, posteriormente na
transposição para o Estado Pós-Social. Assim, o elenco dos direitos fundamentais é muito vasto devido à
acumulação das várias gerações de direitos. Posteriormente, surgem ainda os direitos de 4ª geração ligados
ao ambiente, à tecnologia e aos novos desafios do século XXI. É importante ter em conta que os diferentes
regimes atribuídos aos direitos têm modos distintos de interpretação e não possuem todos o mesmo valor.

Por exemplo, o Art.65º nº1, CRP, não é diretamente interposto pelo Estado (não é imediatamente aplicável).
Este só pode ser exigido depois de ser concretizado pelo Estado. Logo, estes direitos estão dependentes da
concretização do Estado (é preciso que o Estado atue neste domínio). Pode ser exercido pelos cidadãos, mas
mediante a atuação do Estado.

Os direitos, liberdades e garantias são imediatamente aplicáveis, porém, os direitos económico-sociais não
são diretamente aplicáveis pelo Estado. Os direitos de 1ª geração podem ser exigidos pelo cidadão, no
entanto, os direitos de carácter económico-social não são exigíveis (o Estado deve caminhar de modo a
assegurar esses direitos, mas estes não lhe podem ser exigidos).

Direitos liberdade e garantias pessoais; de participação política; dos trabalhadores


(partilham todos do mesmo regime jurídico associado aos direitos, liberdades e
garantias). Função do Estado: garantir estes direitos; são diretamente aplicáveis e podem
ser exigidos pelos cidadãos (vinculam entidades públicas e privadas).
Direitos económicos, sociais e culturais (direitos e deveres económicos; direitos e deveres
sociais; direitos e deveres culturais). Função do Estado: promover estes direitos; atuar para
aumentar a eficácia destes direitos; não são diretamente aplicáveis e não podem ser
exigidos pelos cidadãos (devem ser transpostos pelo Estado gradualmente); envolvem
políticas estaduais e a devida imposição de carga fiscal. Designamos estes direitos por
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direitos derivados «a prestações; prestados pelo Estado» (necessitam da intermediação


do Estado; garante as prestações que estes direitos exigem).

Distinção entre direitos negativos e direitos positivos:

Os direitos negativos envolvem uma abstenção por parte do Estado, enquanto os direitos
positivos são assegurados obrigatoriamente/diretamente pelo Estado. Do lado dos direitos
positivos, o Estado intervém juridicamente para concretizar os direitos (é necessária a criação de
leis) e do lado dos direitos negativos, para além da intervenção jurídica, é também necessária uma
intervenção política (p.e. criação de políticas para incentivar a habitação própria; o Estado vai
subsidiar a compra de habitações).

❖ Ver Art.9º, CRP: Tarefas fundamentais do Estado.

Direitos económicos e sociais (Exemplos):

Art.64º «tendencialmente gratuito» o direito à saúde e o dever de a defender e promover.

A questão da introdução de taxas moderadoras no acesso às urgências (maneira de tentar dissuadir as


pessoas a entrar constantemente nas urgências hospitalares). Esta questão foi enviada para o Tribunal
Constitucional por se considerar que havia uma violação direta da Constituição (que estabelecia que o direito
à saúde era de facto gratuito). A expressão «tendencialmente gratuito» levanta a questão de a possibilidade
do Estado caminhar somente em progresso da gratuitidade do direito à saúde ou se este caminho pode ser
construído a partir de avanços e recuos na política de saúde. É invocado o princípio da proibição do
retrocesso (o Tribunal Constitucional declara que este não existe): o Estado deve progredir tendencialmente
para o acesso gratuito à saúde, mas não existe uma lei que impeça o recuo face a esta política. Ora, sendo
que a própria CRP estabelecia que o direito à saúde era gratuito, o Tribunal Constitucional cria uma
dicotomia entre a gratuitidade dos serviços de saúde e o pagamento dos serviços: os cidadãos não
pagam/não comparticipam no custo do serviço nacional de saúde no momento em que o utilizam, sendo
este pago pelo Estado, mas são introduzidas as taxas moderadoras. O objetivo da taxa moderadora era
somente de evitar que as pessoas recorressem às urgências injustificadamente. O Tribunal Constitucional
definiu que o pagamento da taxa não punha em causa a gratuitidade dos serviços de saúde nacionais. O
legislador, com base na expressão «tendencialmente gratuito» tem poder legitimado para aumentar as taxas
de acesso aos serviços de saúde.

Art.74º «estabelecer progressivamente a gratuitidade de todos os graus de ensino» é suscitada a questão


da fiscalização da alínea e) devido ao aumento do pagamento das propinas no ensino superior. A lei que
aprovou o aumento das propinas foi enviada para o Tribunal Constitucional, junto do qual se levanta a
questão do retrocesso face à gratuitidade dos serviços prestados pelo Estado (para efetiva aproximação do
objetivo da gratuitidade de todos os graus de ensino deveria manter-se ou baixar o valor das propinas). A
legislação deve caminhar no sentido de se aproximar da gratuitidade devido à expressão
«progressivamente»: o Tribunal estabeleceu que não era possível aumentar o valor das propinas sendo que
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se tal se verificasse iria implicar um retrocesso face à alínea e). Mas o aumento do valor das propinas tem
em conta a inflação que se verifica ao longo dos anos, em valores reais.

Estabelecimento de um rendimento mínimo garantido passa a designar-se rendimento social de inserção


(reformulação do modelo; só beneficia deste rendimento cidadãos maiores de 21 anos) Entre 18-21 anos
os cidadãos não são elegíveis para o rendimento social de inserção. Esta questão foi colocada junto do
Tribunal Constitucional como representação de um retrocesso face à política financeira adotada pelo Estado.
O Tribunal, nesta circunstância, acabou por considerar esta questão inconstitucional: no âmbito dos direitos
sociais, económicos e culturais podem haver avanços e recuos não havendo nenhum princípio que o proíba;
mas, neste caso concreto, o Tribunal Constitucional entendeu que se pode avançar ou recuar, mas fixou uma
barreira/limiar da qual não se pode passar uma vez que esta representa um limite ao princípio da dignidade
humana (cláusula de segurança). Esta circunstância simboliza um retrocesso na questão dos direitos
fundamentais, baseados na dignidade da pessoa humana e não nos direitos económicos sociais. Esta
questão simbolizava o não acesso ao rendimento social e não apenas um mero corte do valor do mesmo.

Aula 16

Direitos fundamentais (continuação)

Os direitos económico-sociais têm a função de garantir aos cidadãos bem-estar económico e


social através da prestação de direitos por parte do Estado. Estes encontram-se consagrados na
Constituição enquanto metas que devem ser alcançadas, mas não são direitos obrigatórios (pois
implicam uma grande intervenção do Estado). Não são direitos exequíveis por si próprios porque
derivam da intervenção do Estado e carecem de uma grande disponibilidade financeira.

Ao contrário dos direitos económico-sociais, os direitos, liberdades e garantias fundamentais são


exequíveis por si próprios e podem ser exigidos ao Estado.

Direitos, liberdades e garantias (Art.24º a 57º, CRP)

A proteção dos direitos, liberdades e garantias é mais vincada: estes «são diretamente aplicáveis
e vinculam entidades públicas e privadas» (Art.18º, CRP). Estes direitos pertencem à matéria de
reserva relativa da Assembleia da República (Art.165º, al. b), CRP). Os direitos, liberdades e
garantias estão incluídos no Art.288º al. d) referente aos limites materiais da revisão
constitucional, pelo que não podem ser desrespeitados.

Apesar da Constituição consagrar um capítulo de direitos fundamentais, verifica-se uma primazia


dos direitos, liberdades e garantias sobre os direitos económicos, sociais e culturais.

Art.17º, CRP consagra a existência de «direitos fundamentais de natureza análoga». O critério do


Título II consagra os direitos fundamentais que necessitam apenas de concretização jurídica
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porque a sua essência já está assegurada, não excluindo a hipótese de que para além dos que
estão enumerados existem outros que partilham das mesmas caraterísticas.

Segundo a lógica do Art.17º existem dois direitos que se encontram fora do Título II referente
aos direitos, liberdades e garantias, mas que partilham da sua natureza análoga:

• Iniciativa privada, cooperativa e autogestionária (Art.61º, CRP)


• Direito de propriedade privada (Art.62º, nº1, CRP)

Art.62, nº1, CRP: «a todos é garantido» os direitos, liberdades e garantias estão assegurados pelo
Estado.

Estes direitos também possuem uma vertente económica e social relevante. Não é necessário
transitar estes direitos para o Título II porque o Art.17º estabelece que podem existir direitos
fundamentais de natureza análoga fora daquele capítulo.

A interpretação de direitos, liberdades e garantias deve ser feita por etapas:

I. Perceber o que é que o direito está a proteger (qual o âmbito de proteção do direito), ou
seja, delimitar as fronteiras desse direito.

Artigo 18º, nº2 «a lei só pode restringir os direitos, liberdades e garantias nos casos
expressamente previstos na Constituição». É necessário ter em conta esta norma para que
possamos delimitar as fronteiras de um direito. É a própria Constituição que permite a
existência de restrições legais aos direitos fundamentais (Art.168º e 165º al. b), CRP).

II. Saber se a Constituição permite ou não a restrição dos direitos, liberdades e garantias.
III. É necessária uma lei ou decreto-lei autorizado que restrinja esse direito. Mas, também
estes têm limites: nos termos do Art.18º, as restrições aos direitos devem ser
proporcionais «devendo as restrições limitar-se ao necessário para salvaguardar outros
direitos ou interesses constitucionalmente protegidos». Estas restrições podem ser
introduzidas pela lei, mas há casos em que as próprias restrições aos direitos estão
consagradas na Constituição (como acontece, por exemplo, no Art.34º, nº2, 3 e 4). Existem
dois tipos de restrições: as que estão consagradas na própria Constituição e as restrições
remitidas para a lei.

Exemplo: Art.45º, CRP: «pacificamente e sem armas» A própria Constituição estabelece uma
restrição a esse direito.
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A expressão «sem necessidade de qualquer autorização» deve ser analisada pois nem
todas as condições ou requisitos impostos a um direito constituem uma restrição ao
mesmo. A lei ao exigir uma comunicação prévia de manifestação (serve apenas para
efeitos informativos) não implica a necessidade de autorização. Esta norma não pode ser
interpretada segundo o Art.18º, nº2 porque a necessidade de comunicar uma
manifestação não corresponde a uma restrição.

Colisão de direitos (é possível que um direito conflitue com outro direito). Como resolver
questões de confrontos de direitos?

A solução face a conflitos entre direitos deve ser feita em concreto e suscitada perante os
tribunais. Quando estamos perante um conflito de direitos, o que se tenta fazer é restringir o
menos possível os direitos envolvidos, ou seja, conciliar ambos os direitos de modo a tentar
assegurá-los na sua plenitude máxima. Exemplo: Art.42º e Art.37º, CRP confronto com o direito
de propriedade (nesta situação, tentamos restringir ambos direitos o menos possível).

Art.18º nº2, CRP: «a lei» (leis da Assembleia da República ou decretos-leis autorizados) admite
leis restritivas dos direitos, mas esta admissibilidade está sujeita a requisitos rigorosos, devendo
«limitar-se ao necessário» (o que implica que estas restrições sejam proporcionais) de modo a
salvaguardar outros direitos ou interesses com importância constitucional.

Art.18º, nº3, CRP: as restrições carecem de um carácter geral e abstrato, não podendo ter um
efeito retroativo; estas não podem ser tão amplas que levem à destruição do direito.

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