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Dr.

António Salomão Chipanga, Assistente Universitário da Faculdade de Direito da UEM e do Instituto


Superior de Ciência e Tecnologias de Moçambique (ISCTEM) – Disciplina de Ciência Política, Direito
Constitucional e Direitos Fundamentais, 2006
Sumários da Aula

A aula de que nos vamos debruçar reporta-se aos Modelos políticos e neste
iremos apreciar sucessivamente:

 Formas Institucionais
 Formas de Governo
 Sistemas de Governo
 Sistemas Eleitorais
 Sistemas Partidários

Comecemos pelas Formas Institucionais


....................
.....................

Formas de Governo

Formas de Governo é o modo como a comunidade política organiza o seu poder


ou estabelece a diferenciação entre governantes e governados. Trata-se do
modo como cada sociedade politica estrutura e exerce o poder político. Nas
formas de Governo o politicólogo estuda variáveis politicas de como se adquire a
legitimidade para o exercício do poder, a representação politica, o pluralismo
politico e a divisão do poder.

Os titulares do poder, os governantes não só necessitam de lei e da força para


conquistar, manter-se e exercer o poder como também e sobretudo do
assentimento maioritário dos governados.

A conquista do poder político implica que o conquistador tenha a capacidade e


habilidades politicas para vencer os seus adversários na luta politica que com
eles trava.

Todavia, se o conquistador não gozar do apoio e consentimento do povo, não


poder permanecer por muito tempo no seu exercício. A história nos apresenta
inúmeros exemplos de como os titulares do poder perderam-no por falta de
legitimidade popular. São exemplos disso, as monarquias absolutas do século
XVIII e XIX, que perderam a favor da burguesia e do povo, o colonialismo do
século XIX e XX que perdeu o poder a favor dos povos cujos movimentos de luta
de libertação respectivos assumiram o poder e proclamaram a independência
nacional, como foi o caso de Moçambique em 25 de Junho de 1975, depois de
10 anos de luta.

O assentimento dos governados baseia-se na ideia de que o poder dos


governantes é legítimo de raiz e legitimamente exercido pelo titular que a
conquistou por vontade expressa pela maior do povo sujeito do poder que
exerce.
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Quando falamos de legitimidade não nos estamos a referir a legalidade que é


um conceito jurídico que significa conformidade do acto com a lei. A legitimidade
obtém-se pelo consentimento dos destinatários do Direito. É o povo que pelas
regras estabelecidas na Constituição exprime o seu sentimento.

Em Moçambique, o sentimento do povo exprime-se através do voto expresso na


urna, artigo 73, 135 n.° 1, 147, n.° 1, 170, 142, n.° 1, 275, n.° 2 e 3.

A legitimidade dos governantes implica, segundo o Prof. Jorge Miranda1, que


“não basta o governante invocar qualquer intenção do seu poder ou ter, pura e
simplesmente, a força material para se fazer obedecer; ou apresentar-se ao
serviço deste ou daquele projecto ou ideologia. Tem ainda de obter o
consentimento, pelo menos passivo, dos destinatários do poder. Tem ainda de
se configurar como autoridade”.

Isso significa que é fundamental a existência de legitimidade no exercício do


poder político. E que, em conformidade, o recurso ao emprego da força para
que o poder consiga atingir os seus objectivos estará na proporção inversa do
consentimento dos governados em relação aos governantes.

A questão da legitimidade tem suscitado ao longo da história um conjunto muito


diversificado de abordagens. O Prof. Jorge Miranda apresenta uma tentativa de
enquadramento geral do fenómeno a partir de cinco critérios de destrinça:
Objecto da legitimidade, fundamento da legitimidade, causa da legitimidade,
função da legitimidade e forma da legitimidade. Sobre a questão, ver Jorge
Miranda, Ciência Politica. Formas e Governo, pp. 50 – 53.

De entre as várias classificações existentes nesta matéria é de particular


importância a que distingue entre legitimidade de título e legitimidade de
exercício:
Assim, a legitimidade pode ser analisada segundo duas perspectivas:

 Legitimidade de título que resulta do modo de designação dos


titulares do poder político.

 Legitimidade de exercício que resulta do modo como é exercido


o poder político pelos governantes.
A legitimidade tem, assim, em consideração a forma como os
governantes:
 ascenderam ao poder político;
 se comportam no exercício do poder político, tendo como ponto de
referência da actuação um conjunto de valores.

1
Ciência Politica – Formas de Governo, Lisboa, 1996, p. 43.

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Nesta matéria, deve ser sublinhada a diferença existente entre legitimidade e


legalidade. Assim, enquanto a legitimidade vai ter em consideração a forma
como os governantes ascenderam ao poder político e a forma como se
comportam no seu exercício, tendo como referente de actuação e um conjunto
de valores, a legalidade fá-lo de acordo com as regras jurídicas em vigor, isto
é, tem a ver com a actuação do poder político de acordo com as normas
jurídicas vigentes.

São exemplos de formas de Governos: a monarquia absoluta, o governo


representativo liberal, o Governo Jacobino, o Governo Cesarista, a monarquia
constitucionalista ou limitada, a democracia representativa, o Governo leninista e
o Governo fascista;

A monarquia absoluta foi uma forma dominante antes de 1789 e gozava da


legitimidade monárquica. Neste sistema político não havia representação politica
dos destinatários do direito, era um sistema de monismo e não havia separação
do poder. O elemento fundamental do sistema era o Rei.

Governo representativo clássico ou liberal, Triunfa com a Revolução


Francesa e manifesta-se essencialmente no século XIX. A representação politica
é parcial na medida em que a legitimidade democrática é relativa por ter sido por
via de sufrágio censitário. Há pluralismo e separação de poderes. O factor
politico principal é o Parlamento.

Governo democrático Jacobino tratou-se do Governo expresso na


Constituição francesa de 1793 ou do Ano I. Gozava de legitimidade democrática
com uma representação politica: comissários em vez de representantes; recusa
da representação politica, Monismo. Inexistência de separação de poderes e o
factor político principal era a Convenção.

Governo Cesarista, Identificado com Napoleão Bonaparte I Forma atenuada


com Napoleão III. Diz-se Cesarista porque tem como matriz Júlio César em
Roma antiga. É um modelo de representação politica, com instituições
representativas atenuadas pelo recurso ao Plebescito, Monista. Com separação
de poderes quase inexistente. Factor político é o César.

Monarquia constitucional ou limitada. É a forma de Governo prevalecente na


Alemanha e na Áustria no século XIX. Legitimidade monárquica com atenuações
democráticas, representação politica análoga à forma de Governo representativo
clássico ou liberal, pluralismo reduzido, separação de poderes com prevalência
do Rei. Factor politico principal o Rei mais do que o Parlamento.

Democracia Representativa. É a forma de Governo que dominante na Europa


ocidental desde o fim da primira guerra mundial. Caracteriza-se por apresentar
um modelo politico de legitimidade democrática dos titulars dos órgãos do poder,

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representação política com sufrágio universal, pluralismo político, relação com


os partidos políticos, existência de referendo, separação de poderes e com um
factor político central que se pode identificar como seja de partidos políticos e
do sistema de partidos políticos.

Governo Leninista. Foi proclamado na revolução soviêtica de 1917. Assenta na


legitimidade democrática de concepção Marxista. Não existe representação
política nas instituições representativas, em escalões dominadas pelo Partido.

Há monismo, unidade de poder com especialização. O factor politico central é o


Partido Comunista soviêtico. A mesma forma de governo encontramo-la na
República Popular da China, Cuba e na Correia de Norte.

Governo fascista. Tem como modelo o Governo do Partido Fascista da Itália de


1922 a 1943.

Legitimidade diversa. Inexistencia de representação ou de formas de


representação institucional. Monismo. Não existe a separação de poderes. O
factor político central situa-se no Chefe de Estado e no seu Partido.

A posição extrema desde modelo encontramo-la no Nacional-Socialismo Alemão


de 1933 a 1945. A posição atenuada no Franquismo Espanhol de 1939 a 1974.
Portugal no periodo de 1926 a 1974, adoptou o mesmo modelo no regime
politico de Salazar e Marcello Caetano.

Finalmente dizer que a forma de governo de Moçambique é definido como


sendo democrático e de justiça social, no artigo 1, cuja soberania é exercida pelas
formas fixadas na Constituição, artigo 2, n.º 2 que são as seguintes: Ver artigo 73, 74, 78,
135, 133, 138, 139, 140, 141, 142, 262, 271 e 275, n.º 2 e 3, todos da Constituição da
República de Moçambique de 2004.

Bibliografia:

Jorge Miranda, Ciência Politica. Formas de Governo;


Vitalino Canas, Preliminares do Estudo da Ciência Politica,
M.J. Proença de Carvalho, Ciência Politica e Direito Constitucional

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Sistemas de Governo

No quadro da divisão do poder temos dois conceitos básicos que importa


apreciar: regime político, é um conceito que procura identificar cada uma das
diferentes formas de exercício do poder político, tendo em conta a relação entre
governantes e governados e o grau de participação dos cidadãos no exercício
do poder2.

O Conceito de regimes políticos diz respeito à forma como a comunidade politica


organiza o poder politico em termos da relação existente entre o poder e o povo,
afim de dar resposta a problemas básicos como a legitimidade, a participação
dos cidadãos, a liberdade politica e a unidade ou divisão do poder.

Sistema de Governo é a forma política através da qual se procuram expressar


as diferentes modalidades de relacionamento institucional entre os órgãos
encarregados de exercer o poder politico em democracia representativa3.

Do conceito ora expresso, extrai-se que do sistema de Governo temos a


articulação entre os diferentes órgãos de exercício do poder e os respectivos
estatutos na ordem interna. Os órgãos de soberania que nos estamos a referir
são normalmente aqueles que exercem a função politica, designadamente o
Presidente da República, a Assembleia da República e o Primeiro-Ministro.

Do sistema de governo, ficamos também informados de quem é de facto o titular


do poder político, bem como a estrutura funcional dos órgãos a quem está
confiado o seu exercício. Permite-nos ainda perceber a natureza dos laços que
os órgãos estabelecem entre si, as modalidades institucionais e praticas do seu
inter-relacionamento e o peso relativo que cada um dos órgãos no conjunto do
sistema de poder ocupa, isto é, as relações entre o executivo e o legislativo.

O Prof. Jorge Miranda, ensina-nos que para compreendermos os sistemas de


Governo, devemos partir da visão jurídica para a política. Em primeiro lugar,
porque os sistemas de Governo se definem, antes de mais, com base num
determinado enquadramento de órgãos e estes vão ser descritos e depender,
antes de mais, das normas constitucionais.

Em segundo lugar, mesmo quando os factores de ordem politica prevalecem


sobre os jurídicos, mesmo assim, estes conseguem resistir com autonomia; e
em momentos de crise ou de ruptura, ainda é factor jurídico que vai agir e
permitir determinadas formas de transição4.

2
Maurice Duverger. Os Grandes Sistemas Políticos. Coimbra: Livraria Almedina, 1985, pag. 12.
3
Jorge Reis Novais. Tópicos de Ciência Politica e Direito Constitucional Guineense, Lisboa, 1996, pag. 59.
4
Ciência Politica, Lisboa, 1996, pag 125.

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Para aquele autor, há um conceito jurídico de sistema de governo em que se


atende às normas constitucionais reguladoras dos órgãos governativos e das
suas posições recíprocas, e um conceito peculiar de ciência politica, em que se
atende ao funcionamento, ao modo como na pratica esses órgãos desenvolvem
as suas actividades e se relacionam entre si; e há, naturalmente, uma conexão
entre ambos, como se acaba de dizer.

O sistema de Governo depende na verdade da filosofia adoptada pelo Estado,


na medida em que um texto constitucional pode consagrar um formalmente um
conjunto de órgãos de Estado, o modo do seu funcionamento e relacionamento,
mas se a filosofia de Estado não politica e juridicamente não se conformar com
as disposições e princípios constitucionais, o aparelho de Estado e a designação
dos governantes não poderá politicamente ser livre e neste caso, a Constituição
não passará de uma Constituição semântica, com um conteúdo praticamente
esvaziado, que é aquela cuja a realidade ontológica não é senão a formalização
da situação do poder político existente em beneficio exclusivo dos detentores de
facto desse poder.

Quando os sistema de governo corresponde a vontade politica e as normas


constitucionais prevalecem sobre todas as normas da ordem jurídica, a
Constituição da República contém normas que dominam o processo político,
aquelas em que o processo do poder se adapta ou se conforma às normas
constitucionais e se lhes submete. E neste caso a Constituição é normativa, pois
limita efectivamente o poder político.

Na classificação dos sistemas de governo podemos identificar sistema de


governo ditatorial quando o regime politico é de caris ditatorial em que o poder
politico é exercido em nome próprio por uma pessoa no interesse dele mesmo
ou por um grupo social no interesse próprio ou de uma ou mais classes sociais e
o sistema de governo democrático, quando o regime politico é democrático, no
caso de o poder politico ser exercido pela totalidade dos cidadãos activos.

O estudo de sistema de Governo conforme nos ensina o Prof. Jorge Reis


Novais, só tem interesse cientifico na analise dos regimes democráticos, uma
vez que em sistemas ditatorial a eventual existência de uma multiplicidade
formal de órgãos políticos esconde sempre a natureza de concentração real do
poder politico numa única instituição ou no seu titular5, ou seja, sabe-se de
antemão que o poder se acha concentrado num único factor politico central.

Nesta perspectiva, vamos fazer uma abordagem jurídico-formal, considerando a


estrutura dos poderes instituídos na Constituição de um Estado Democrático
moderno. Assim, teremos:

5
Idem, pag. 59.

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Ciência Política

Tema: Sistema de Governo

Introdução

A aula que hoje se inicia está subordinada ao tema sistema de governo, e enquadra-se na
parte IV, do nosso programa que se dedica as formas de governo.

Com esta aula pretende-se fazer um estudo dos sistemas de governo que têm sido
praticados em alguns Estados Modernos.

De notar que, nesta exposição, foram adiantados dois conceitos a saber:

Formas de governo. Trata-se de um conceito que diz respeito às relações entre os


governados e governantes, isto é, se o titular do poder político ou não legitimidade
Quanto ao título e Quanto ao exercício do poder, entendido a legitimidade como sendo
o assentimento dos governados baseado na ideia de que o poder dos governantes é
legitimo, se, o nosso critério da apreciação fosse de legitimidade, mas, também,
poderíamos escolher outro critério para a classificação dos governos como seja a de
índole histórica no quadro das tipologias de formas políticas e assim, teríamos por
exemplo, a monarquia absoluta, governo representativo clássico ou liberal, democracia
jacobina, governo cesarista, monarquia limitada, democracia representativa, governo
leninista e governo fascista, tal como nos apresenta o Prof. Jorge Miranda.

Mas, o nosso tema é sobre sistema de governo, conforme já anunciamos e tem a ver
com as relações entre os órgãos de governo encarregados de exercer o poder político
entre si, em democracia representativa. Neste tema vamos estudar sobretudo a
natureza dos laços que os órgãos estabelecem entre si as modalidades institucionais e
práticas do seu interrelacionamento e o peso relativo que cada um manifesta no sistema
de poder.

Nas sociedades políticas actuais encontramos vários sistemas típicos de governo e


entre eles aqueles que constituem modelos para os outros, uns por terem sido os
primeiros e outros por serem os mais aconselháveis pela sua eficiência.

Abordando, agora, os sistemas de governo sob uma perspectiva jurídico-formal, ser-


nos-á possível distinguir três grandes sistemas de governo na democracia
representativa:

 Sistema de governo parlamentar;


 Sistema Presidencial;

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 Sistema semi-Presidencial.

No sistema de governo parlamentar, o modelo que vamos dedicar maior atenção é o Britânico
e, o sistema presidencial no seu estado puro funciona, até então, nos EUA onde surgiu e
se vêm adaptando muito bem em relação a outros Estados que também pretenderam
adoptar o mesmo sistema e, finalmente o sistema semi-presidencial que se introduz
pela 1.ª vez, no nosso século, nos Estados da Europa, América latina e África.

Esta classificação, que de forma alguma é a única, tem o mérito de abranger todos os
grandes modelos que historicamente se têm concretizado na democracia no nosso
século.

A classificação que ora se apresenta tem como critério da distinção entre os três
sistemas:

 1.º a posição relativa do chefe de Estado no conjunto do sistema;


 2.° a relação entre Governo (ou executivo) e o Parlamento, Assembleia ou
Congresso, conforme os casos.

No 1.° caso, interessa saber se o Chefe de Estado é um órgão de exercício efectivo de


poder, com possibilidades de desempenhar um papel activo na vida política, ou se, pelo
contrário, o Chefe de Estado está constitucionalmente limitado a um desempenho
"apagado" das suas funções, sem possibilidade real de intervir na vida política, pois os
poderes constitucionais do Chefe de Estado são susceptíveis de serem exercidos por
outrém, figurando-se a ele como poderes meramente formais.

Para nos esclarecer destas dúvidas, importa saber se o chefe de Estado foi ou não
eleito directamente pelo povo. É da eleição por sufrágio directo e universal que emana a
legitimidade democrática plena que permita ao chefe do Estado o exercício efectivo de
poderes atribuídos.

A falta deste legitimidade por ter sido eleito de forma diversa (eleições indirecta,
sufrágio restrito ou qualquer outra forma) priva-o da legitimidade que lhe é exigida para
reivindicar a possibilidade de exercer, sempre que quiser os poderes constitucionais
conferidos.

No 2.° caso, pretende-se saber a relação que se estabelece entre Governo e


Parlamento, isto é, trata-se de saber se o Governo responde ou não politicamente
perante o Parlamento e este pode ou não provocar a queda do Governo, através da
votação de uma moção, através da censura (da sua própria iniciativa) seja através da
rejeição de uma moção de confiança (da iniciativa do Governo).

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Sistema de Governo Parlamentar

Ao contrário do que o nome nos pode sugerir, o que nos poderia levar a pensar, o
Parlamento não é o núcleo central do Governo, isto é, não detêm a responsabilidade
política, trata-se do sistema em que o chefe de Estado é um órgão politicamente
"apagado" (em termos de possibilidades de exercício efectivo de poder) e em que o
Governo é politicamente responsável perante o Parlamento.

Assim, neste sistema são elementos caracterizadores o facto de o chefe de Estado não
possuir um poder Político significativo e a responsabilidade política do Governo perante
o Parlamento.

Entende-se por responsabilidade política. o acto através do qual um órgão responde


perante outro pela orientação política assumida que imprime na sua actuação na
prossecução do interesse geral.

O órgão dependente tem de cumprir a orientação política definida prestando contas e


justificar essa orientação política, sob pena de ser demitido por desvio de orientação ou
incumprimento da orientação.

Há vários tipos de sistemas de governos Parlamentares, entre eles, podemos destacar


os seguintes:

a) sistema Parlamentar de Gabinete;


b) sistema Parlamentar de Assembleia;
c) sistema Parlamentar Racionalizado.

Entre os três sistemas há, como é evidente, aspectos comuns e aspectos próprios.
Vejamos então o que é comum e o que é distintivo, começando por:

Aspectos comunus

a) Coexistência de pelo menos três órgãos distintos com funções políticas,


nomeadamente um Chefe de Estado que não é eleito (caso das monarquias
Parlamentares) ou é eleito por sufrágio indirecto (caso das Repúblicas
Parlamentares). Ainda que disponha formalmente de poderes atribuídos pela
Constituição - como o poder de promulgação de leis, o poder de nomear o Primeiro-
Ministro e os altos funcionários da Administração, a chefia das Forças Armadas, etc.,
na realidade não é o chefe de Estado que exerce tal poder, mas sim o Governo, um
Parlamento e um órgão executivo colegial (Governo, Gabinete, Ministério,
Conselho de Ministros).

O Parlamento e o Governo, são os dois órgãos politicamente activos. Entre eles, a


Constituição procura encontrar um sistema de equilíbrio jurídico formal.

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b) Há uma relação de separação flexível de poderes - separação com interdependência


significa que embora haja coordenação mas a possibilidade de cada um interferir no
outro é reservada.

c) O chefe de Estado tem funções quase sempre puramente honorificas, isto é, não tem
poderes reais. Age como representante do Estado. Aparece nas cerimónias
nacionais, exerce funções não por iniciativa própria mas por iniciativa dos outros
órgãos.

d) A investidura do executivo, depende de algum modo do Parlamento, que tem uma


influência decisiva na sua composição e no seu programa. Quer dizer, o Governo
"sai" do Parlamento, forma-se de acordo com os resultados das eleições
parlamentares.

O Governo, enquanto não for investido pelo Parlamento não inicia as funções.

e) Quando não hereditário, a escolha do chefe de Estado cabe ao Parlamento, ou


carece da sua colaboração, havendo consequentemente três tipos de chefe de Estado:
i). Hereditário;
ii). Nomeado pelo Parlamento;
iii). Nomeado por um outro órgão-rainha.

f) Possibilidade de os membros do Governo acumularem com a qualidade de membros


do Parlamento, sendo muitas vezes escolhidos dentro deles.

g) Os membros do Parlamento são os únicos titulares de cargos políticos eleitos por


sufrágio directo e universal, ou seja, com voto popular.

h) O executivo responde politicamente perante o parlamento e pode ser destituído por


acção do parlamento.

O quadro jurídico-constitucional que acabamos de apresentar é comum a todos os


sistemas de governos parlamentares.

Porém, a prática política quotidiana este sistema pode assumir feições bastante
diferenciadas, variando de experiência para experiência concreta.

Vejamos então alguns exemplos, a partir de alguns cenários eleitorais.

Se nas eleições para o Parlamento o eleitorado conferir uma maioria sólida a um


Partido Político ou força política concorrente, ou se, pelo contrário, a vontade política do
eleitorado for de repartir de tal forma os votos pelas diferentes candidaturas, que não
permite que, no Parlamento, haja uma única força política com maioria absoluta, os
cenários a obter poderão ser entre os que se seguem:

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 . No primeiro caso em que o Partido Político obtém uma maioria absoluta, o líder
dessa força política é chamado a formar o Governo e este disporá de um apoio
maioritário do parlamento, ou seja, estaremos perante uma situação chamada
Parlamentarismo maioritário. O Governo a formar é forte, estável, com garantia de
permanência por toda a legislatura sem obstáculos ao seu programa político. Nesse
caso, o centro da vida política é, de facto, o Governo, pois não obstante responder,
por imposição Constitucional do Parlamento, o apoio de que goza no Parlamento
garante-lhe a plena estabilidade e uma ampla margem de actuação.

Neste sistema, sempre que haja conflitos entre o Governo e o Parlamento, cada um
deles possui mecanismos legais para promover a demissão ou dissolução do outro.
Requerendo-se novas eleições ou formação de um novo Governo.

Em face deste quadro e das relações que se estabelecem entre o Parlamento e o


Governo temos aquilo que tradicionalmente se designa por Sistema Parlamentar de
Gabinete.

"Gabinete" tem aqui o sentido de Governo.


A experiência política britânica é exemplo típico de sistema parlamentar em que o
método eleitoral maioritário, uninominal, a uma volta, vem intimamente associado a uma
Câmara dos Comuns (Parlamento) onde sistematicamente dois grandes partidos
repartem a quase totalidade dos lugares (inicialmente os partidos Tory e Whiy, depois o
Conservador e o Liberal e, actualmente, o Partido Conservador e o Partido Trabalhista);
sendo quase exclusivamente dois partidos a repartir a totalidade dos lugares
parlamentares, um deles dispõe necessariamente de maioria absoluta no Parlamento,
ou seja, dispõe de mais de 50% dos lugares. Daí resultam, por sistema, governos
maioritários, estáveis, fortes, de legislatura, em que a aprovação de moções de censura
é uma possibilidade meramente teórica.

Neste sistema, a eventual dissolução da Câmara dos Comuns - que se verifica a pedido
do Gabinete - não se destina a resolver qualquer conflito entre duas instituições, mas
apenas a antecipar a data das eleições para o momento mais adequado à renovação do
mandato do partido do Governo. .

Pode, portanto, dizer-se que, independentemente de outro tipo de razões, o


funcionamento do sistema britânico como Sistema Parlamentar de Gabinete é
significativamente favorecido - se não mesmo implicado - por um sistema eleitoral que
constitui uma barreira à multipartidarização do parlamento.

 No segundo caso, onde temos uma situação de ausência de uma maioria sólida no
parlamento, o centro da vida política tenderá a deslocar-se para o parlamento.

Nestas circunstâncias o Governo ou é formado por único Partido, sendo um governo


minoritário já que esse partido não tem maioria absoluta no parlamento ou formado com

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base numa coligação inter-partidária.

Em todas as situações será sempre um Governo que carece de um apoio parlamentar


sólido o que torna-o inseguro, fraco e instável.

É inseguro, porque pode ser destituído pelo Parlamento a qualquer momento e não pode
evitar tal acto quando requerido sempre que se achar conveniente.

É fraco, porque as suas propostas de políticas de governação ou de projectos correm


permanentemente riscos de serem reprovados no Parlamento.

É instável, porque depende da existência de disciplina coerência em relação ao pacto,


fidelidade e estabilidade dos partidos que integram essa coligação.

Em situações como estas, em que o Governo depende essencialmente das decisões e


das relações de forças do parlamento, o sistema traduz-se naquilo que é o Sistema
Parlamentar de Assembleia.

A experiência política italiana é um caso típico de Sistema Parlamentar de Assembleia,


logo caracterizada pela existência de governos minoritários ou governos de coligação,
e, consequentemente, marcada por uma grande instabilidade governativa e por uma
hegemonia relativa do parlamento no conjunto das instituições. A este facto não foi
historicamente alheia a existência, na Itália, de um sistema proporcional que estimulou,
ou, pelo menos, não impediu, a presença de vários partidos no parlamento com a
consequente dificuldade na formação de governos maioritários.

As situações que acabamos de apresentar resultam de elementos essencialmente


conjunturais que, por isso, podem variar de país para país ou de eleições para eleições,
na medida em que dependem da vontade politica que o eleitorado manifestar nas
eleições !egislativas.

Há porém, factores que, condicionam fortemente a existência de monobipartidarismo ou


multipartidarismo nas Assembleias Parlamentares.
O factor a que referimo-nos é o sistema eleitoral, ou seja, ao sistema proporcional, que
consiste em transformar o número de votos obtidos por cada força concorrente em
número de mandatos que cada uma delas tem no Parlamento.

Este método garante uma representação parlamentar de todas as .forças concorrentes


com expressão no eleitorado e estimula o pluripartidarismo e, consequentemente
dificulta a existência de uma maioria absoluta de uma única força concorrente.

 Finalmente, temos o Sistema Parlamentar Racionalizado. Esta classificação não se


refere a uma modalidade específica de funcionamento prático do sistema
parlamentar, mas, a uma distinção no plano jurídico-constitucional dos vários órgãos
do poder do Estado.

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O sistema Parlamentar Racionalizado pode ser classíco ou racionalizado.

Qualquer destes dois pode funcionar na prática na modalidade de Gabinete ou


Assembleia.

É clássico, quando o legislador constituinte estabelece as regras gerais típicas do


sistema pariamentar, nomeadamente chefe de Estado, sem poderes efectivos, governo
politicamente responsável perante o Parlamento, governo formado a partir das eleições
parlamentares, Parlamento com possibilidade de demitir o Governo e este com
possibilidades de fazer dissolver o Parlamento.

É racionalizado quando o legislador constituinte preocupar-se em condicionar


juridicamente o funcionamento das instituições políticas, preocupa-se em orientar de
forma a evitar os perigos de uma eventual instabilidade ou dificuidades na formação e
subsistência dos Governos.

Para o efeito, impõe a exigência da obtenção por parte de cada candidatura de uma
percentagem mínima de votos nas eleições, sem o que não lhe será! atribuída
representação parlamentar. Evita deste modo a presença no Parlamento de partidos
mais pequenos sem expressão significativa.

Este sistema impossibilita que o parlamento seja dissolvido em determinadas


circunstâncias, a possibilidade de o governo poder temporariamente governar e legislar
mesmo sem confiança do Parlamento.

No sistema racionalizado quando existe conflito entre o Governo e o Parlamento, o


litígio é resolvido através de um consenso entre as partes envolvidas, recorrendo-se ao
extremo, quando não houver possibilidades de entendimentos e esgotados todos os
meios de reconciliação.

É um sistema que evita ainda a resolução unilateral dos conflitos uma vez que a
resolução unilateral é um método que em si revela uma arrogância e perturba o
funcionamento normal das instituições.

Os conflitos são dirigidos ou arbitrados pelo chefe de Chefe que é uma figura mestra
que só recorre a dissolução do Parlamento ou do Governo em caso do extremo.

Os exemplos de sistemas parlamentares racionalizados são ai Alemanha ou Espanha.

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Sumários da Aula

Sistema de Governo Presidencial

o Sistema Presidencial nasceu, cresceu e se desenvolveu até aos nossos dias em


forma pura nos Estados Unidos da América, facto que por vezes nos leva a confundir o
estudo deste sistema com a análise do sistema político norte-americano.

As tentativas de importação realizadas por outros Estados revelam-nos que é dificil a


aplicação do modelo presidencial dos Estados Unidos em outros Estados.

É um sistema que se distingue de outros sistemas de governo da democracia


representativa pelas seguintes características:

1. Exercício de poderes importantes pelo Chefe de Estado;


2. Ausência de responsabilidade política do executivo perante o parlamento.

Fazendo uma comparação em abstracto deste sistema com os sistemas parlamentares


sem distinguir espécies, podemos apurar as seguintes diferenças.

a) O sistema presidencial é um sistema de separação de poderes que funciona de


acordo com o princípio dos "checks and balances" (feios e contrapesos, numa
interpretação algo livre) do duplo sentido: que lhe possibilita condicionar, influenciar
ou até impedir o exercício dos poderes de outro. Nos sistemas parlamentares é muito
raro que os três órgãos, Chefe de Estado, Parlamento e Governo, ou mesmo só os
dois últimos, disponham dos referidos freios e contrapesos em termos de
reciprocidade e de acordo com um princípio de equilíbrio global entre órgãos.

b) No sistema presidencial interessam dois órgãos apenas (Presidente da República e


Assembleia Parlamentar), nos sistemas parlamentares há três órgãos: (Chefe do
Estado, Parlamento e Governo). Esta diferença é para muitos ilusória, por causa do
apagamento do Chefe de Estado e da geral tendência para o Governo obter uma
posição de realce nos sistemas parlamentares (especialmente nos sistemas
parlamentares de Gabinete).

c) No sistema presidencial o Chefe de Estado, sempre um Presidente, beneficia de


legitimidade popular, adquirida em eleições por sufrágio directo e universal; enquanto
que nos sistemas parlamentares, não tem o voto popular;

d) No sistema presidencial os poderes de execução da decisão fundamental estão


concentrados no Chefe de Estado, e a decisão legislativa fundamental ou
conformadora numa Assembleia parlamentar; enquanto que nos sistemas
parlamentares não;

e) No sistema presidencial o Executivo é um órgão singular, no parlamentar é um órgão


colegial;

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f) Ao invés do que se verifica, no sistema presidencial há relações de confiança e


dependência política entre o Parlamento e o Executivo e nos sistemas parlamentares
não. Isso significa, nomeadamente, que nos Presidente da União, de modo a que o
conteúdo das leis a aprovar não estejam fora da sua perspectiva.

Eleições do Presidente

O Presidente dos Estados Unidos em termos formais não é eleito directamente pelos
cidadãos eleitores. É eleito por um colégio eleitoral composto por "grandes eleitores".

Os grandes eleitores são directamente escolhidos pela população de cada um dos


cinquenta Estados Federados que formam a União, em número igual ao de Senadores
(100) representantes (deputados) a que esse Estado tem direito no Congresso. E, ficam
incumbidos de representar o Estado que os elegeu, no Colégio Eleitoral.

O mandato dos "grandes eleitores" é imperativo, ou seja, só elegem o candidato favorito


dos eleitores do Estado mandante. (Todavia, não existem sanções para os eleitores que
no colégio eleitoral votem em candidato diferente do indicado pelo voto popular).

Do ponto de vista jurídico, o Presidente dos EUA é escolhido através de uma eleição
indirecta.

Porém, no processo eleitoral intervém os partidos políticos que transformam, de facto, a


eleição do Presidente em eleição directa, tendo em conta, também, que a população de
cada Estado quando elege os "grandes eleitores", estão já, na realidade, a votar no
candidato Presidencial apresentado oficialmente pelo partido a que esses "grandes
eleitores" estão vinculados. Deste modo, o Presidente recolhe a legitimidade de que
carece para o exercício das competências constitucionais conferidas.

O mandato do Presidente da União é de quatro anos e esse facto não tem provocado
qualquer dissabor no ritmo Presidencial na execução da sua agenda governamental.

A forma de escolha do Presidente apresenta-se com certas desvantagens, porquanto é


um processo que dura sensivelmente um ano, isto é, a primeira das várias fases inicia-
se cerca de um ano antes do dia da tomada de posse do vencedor.

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O Congresso

O Congresso é bicamaral: Tem um Senado e uma Câmara dos representantes do Povo

por cada estado da União.

O Senado é o órgão decisório. É composto por cada um dos cinquenta Estados da


União. Cada senador é eleito por sufrágio universal para um mandato de seis anos,
renovávei sem limites. De dois em dois anos realiza-se eleições para renovar um terço
dos lugares.
É presidido pelo Vice-Presidente da União.

Câmara dos Representantes é constituído por um conjunto de 435 representantes do povo


dos Estados Unidos (deputados).

Os representantes são eleitos por sufrágio universal, segundo o sistema maioritário,


uninominal a uma volta, com base em distritos e de acordo com o número de habitantes
de cada Estado. Cada membro tem um mandato de dois anos.

É presidido pelo "speaker" eleito pela própria câmara entre os membros.

Relações entre o Congresso e o Presidente da União

O Presidente da União não pode dissolver o Congresso, nem este pode demitir o
Presidente.

Há entre os dois órgãos uma inter-acção recíproca.

O Presidente pode interferir na actividade do Congresso, através de iniciativas


legislativas (apresentada no Congresso por deputados que lhe sejam afectos ou
anexados à mensagens que periodicamente envia ao Congresso); através da
regulamentação da legislação aprovada, através do exercio do direito de veto das leis
aprovadas pelo Congresso, o que implica como forma de evitar a manifestação deste
direito pelo Presidente, negociações entre as duas instituições.

Congresso, também, detém, instrumentos que lhe permite uma interferência eficaz nas
funções constitucionais.

Este órgão pode interferir na figura do Presidente da União, através da aprovação do


orçamento. O Congresso pode avaliar ou inviabilizar os programas e medidas políticas
que o Presidente pretenda desenvolver, na medida em que tem a possibilidade de
recusar as dotações orçamentais propostas pelo Presidente, facto que pode obrigá-Io a
abandonar ou mudar os projectos que se propõe realizar ou então terá que negociar
soluções de compromisso com o Congresso.

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O Congresso tem ainda a possibilidade de interferir na função governativa e


administrativa, através de inquéritos e fiscalização dos actos.

No âmbito da política externa, pode impedir, através da recusa da ratificação dos


acordos ou tratados internacionais negociados e acordados pelo Presidente.

Outro meio de que o Congresso dispõe é o chamado processo do "impeachment"


através do qual o Congresso, entre ambos órgãos há entre si uma relação de equilíbrio
que se mantém e se desenvolve através do complexo sistema de pesos e contra pesos
"checks and balances" que simultaneamente impede que o Presidente transforme o seu
papel de impulsionador e centro da vida política em sistema autoritário de concentração
de poderes.

O Supremo Tribunal

O Supremo Tribunal é constituído por nove juízes, um dos quais exerce o cargo de
Presidente (Chief Justice), nomeados vitaliciamente pelo Presidente dos Estados
Unidos com o assentimento do Senado.

O poder judicial independente através do Supremo Tribunal que é o vértice cimeiro do


sistema judiciário americano contribui sobremaneira no equilíbrio e garantia do
funcionamento democrático do sistema presidencial americano.

O Supremo Tribuna! julga de facto e de direito em recurso de decisões de tribunais


estaduais quer, em casos de direito civil e penal, quer de direito administrativo.

Para além disso é a última instância de resolução de conflitos de competência entre a


União e os Estados Federados e entre estes. Fiscaliza a constitucionalidade de normas
jurídicas, quaisquer que seja, por via de excepção, ficando assim como último guardião
da Constituição e da Fiscalização do Presidente e do Congresso.

O Órgão mais Importante do Sistema


O sistema do governo norte-americano é de equilíbrio dos poderes. Aparentemente é o
Presidente da União.

A nivel interno o Presidente da União está muito limitado pelos órgãos federais e
poderes estaduais. Por isso, ele não tem o domínio de todo o sistema. A sua actuação
requer a colaboração das restantes instituições, embora seja o motor dinamizador de
todo o processo.

A nível externo é o órgão que em representação do País manifesta a vontade da União


que como se sabe é a maior potência mundial sendo, por isso, o Chefe de Estado com
uma importância política mais relevante nos Estados modernos, com a faculdade de
dominar ou exercer influência para alteração do curso da política internacional.

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Sistema de Governo Semi-Presidencial

Os dois sistemas clássicos de governo: Parlamentar e Presidencial, considerados


modelos de organização político-constitucional, perfeitos e únicos exerceram, por isso,
atracção de várias sociedades políticas modernas.

Porém, as tentativas de adopção destes modelos sempre estiveram fora do esquema


normal e, assim, são tidos como derivações ou tentativas de aperfeiçoamento daqueles
dois sistemas padrão.

Os modelos adoptados pelos Estados que experimentaram qualquer dos modelos só


funcionaram de forma imperfeita. É que a eventual consonância política entre a maioria
parlamentar e o Presidente, no caso de pretender adaptar o sistema presidencial, tende
a degenerar em sistema autoritário de concentração de poderes na pessoa do
Presidente, já que o parlamento deixa de funcionar como contra peso dos poderes
presidenciais; em contrapartida, a não correspondência política entre o Presidente e o
Parlamento rapidamente tem conduzido a bloqueios institucionais e num contexto de
profundas clivagens políticas e sociais e de ocorrência de regimes democráticos
estabilizador, favorece a eclosão de ruptura constitucional como via de superação
desses bloqueios.

Por outro lado, o sistema de governo semi-presidencial tem sido contestado por vários
autores, como sistema autónomo, pois combina características presentes nos outros
dois sistemas, pelo que há quem prefira integrar seja no sistema Presidencial, seja no
sistema Parlamentar.

Verdadeiramente, o sistema semi-presidencial pode considerar-se o ensaio mais


consistente da criação de um terceiro modelo de organização político constitucional de
uma sociedade política moderna de democracia representativa.

Este sistema de Governo surge primordialmente pelas deficiências ou pela inadequação


dos dois sistemas clássicos.

Numa primeira fase as tentativas limitavam-se a uma mera consagração constitucional


e finalmente a uma consagração de um modelo funcional.

Surge no século XX, havendo ainda divergências sobre qual foi o primeiro Estado a
introduzir o sistema.

Alguns autores defendem que teria sido a Alemanha após a derrota na 1.ª guerra
mundial em 1918, quando aprovou a Constituição da República de Weimar em 1919.

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A Constituição Weimar, quando foi introduzida, não se sabia que se tratava de um novo
modelo de organização político constitucional. Os estudos posteriores revelaram tratar-
se de um novo sistema politico-constitucional. As experiências foram se aumentando
sucedendo o mesmo em relação a Constituição da Austria de 1920 (alterado em 1929),
a Constituição irlandesa além das Constituições da França, Grécia, Portugal e de outros
países da América latina e África.

Características do Sistema

Trata-se de um sistema hibrido, conforme já nos referimos é um sistema que congrega


características do sistema parlamentar por um lado e do sistema presidencial por outro.

Diferecia-se de outros dois sistemas pelas suas características próprias que justificam a
sua autonomização.

1. Tem como princípio director o equilíbrio entre os seus órgãos, em número de três,
nomeadamente:

a) Chefe de Estado;
b) Parlamento;
c) Governo.

Os três órgãos estão organizados de tal forma que no seu funcionamento estabelecem
um equilíbrio mútuo.

O equilíbrio mútuo é conseguido mercê da consagração constitucional, legal ou outra


funcional de relações dinâmicas e de interacção recíproca entre aqueles e vários órgãos
políticos.

O pressuposto de tal equilíbrio é a igualdade da legitimidade entre os três órgãos, isto é,


não pode haver legitimidades menores de um dos órgãos em relação aos outros.

De lembrar que num Estado democrático onde predomina a noção de legitimidade


democrático, quanto mais próximo do voto popular maior é a legitimidade do titular do
órgão, isto significa que:

a) O Chefe de Estado, e os membros do Parlamento (deputados são eleitos por sufrágio


directo e universal).

O Primeiro-Ministro, também é eleito pelo mesmo processo, pois é o chefe do partido


maioritário no Parlamento.

b) Cada um dos órgãos possui constitucionalmente poderes bastantes para manter o


equilíbrio.

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Os poderes que cada um dos órgãos tem podem ser de natureza negativa ou positiva.

São de conteúdo negativo, quando obstruírem ou inviabilizarem o exercício das


competências dos outros órgãos.

A título de exemplo é o direito de veto que quando exercido invalida a acção do outro e
obriga-o a obter soluções de compromisso. A recusa de ratificar a nomeação de
funcionário da administração proposto por outro órgão, a recusa de ratificar tratados
internacionais ou a inviabilização de projectos em programas governamentais, através
da não aprovação de políticas e orçamentos propostos.

Os poderes são de natureza positiva quando exercidos provocam uma alteração à


situação anterior da ordem política, nomeadamente:

2. A dissolução do Parlamento;
3. Nomeação ou demissão do Governo;
4. Aprovação de diplomas legislativos;
5. Nomeação de funcionários da administração;
6. Marcação da data de actos eleitorais.

2. O Chefe de Estado detém poderes políticos e importantes, entre esses poderes


destacam-se, embora variados de experiência em experiência, o poder de nomeação
do Primeiro-Ministro, a promulgação (recusa de promulgação) das leis, a nomeação
de altos funcionários e titulares de outros órgãos, a possibilidade de suscitar a
fiscalização da constitucionalidade das leis, e, eventualmente, o poder de destituir o
Primeiro-Ministro de desencadear o processo de referendo nacional.

A consagração constitucional destes poderes, total ou parcialmente a legitimidade do


Presidente conferido pelo voto popular, permite-lhe amplas possibilidades para
desempenhar se quiser, um papel político relevante.

A exorbitação dos poderes conferidos ao Chefe de Estado só é delimitado nos casos


em que se combina a dependência política que sujeita o Governo ao Parlamento e que,
em última análise, possibilita ao Parlamento a retirada da confiança política ao Governo,
provocando, assim, a sua queda.

Nestes termos, apesar de o Chefe de Estado desempenhar um papel políticamente


activo e independente, não pode recusar demitir o governo constituido.

Assim, na formação do Governo no sistema semi-presidencial deve-se atender à


correlação de força e vontade manifestada pelo parlamento, pois, a formação e
subsistência do Governo dependem da confiança parlamentar, o que significa a
responsabilidade política do Governo perante o parlamento. Há porém, Estados em que
o Governo depende politicamente dos dois órgãos. E há também Estados em que
distribuição das competências é entre os três.

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Neste sistema, a distribuição das competências não é arbitrária. Nenhum órgão deve
sobrepor-se ao(s) outro(s). Deve haver sempre uma distribuição proporcional.

O sistema Semi-presidencial é de arquitectura muito difícil, razão pela qual se toma


difícil a sua manutenção nos Estados onde vigora, pois, requer um apurado cruzamento
de competência, que se conjugam numa rede rigorosamente calibrada. Qualquer
complacência com um dos órgãos não compensada num poder atribuído a outro poder
desequilibra o sistema no seu todo.

Nos Estados onde introduzido, acaba desvalando-se para um sistema diferente


nomeadamente semi-presidencialista quando os restantes órgãos ficam "afogados" e
predominam o poder do Chefe de Estado, casos da França, ou sistemas Parlamentares,
quando seja o Parlamento o centro da vida política que é o exemplo da Áustria, Irlanda
e Islândia.

O sistema Semi-presidencial depende muito do carácter da personalidade dos titulares


dos cargos, do sistema partidário e do tipo da maioria que elege as individualidades que
ocupam os cargos.

Resumindo e concluindo, da combinação das características do sistema com a posição


relevante do Chefe de Estado resulta claro que em sistema de governo Presidencial
existem três sedes efectivos de exercícios do poder político: o Presidente, o Governo e
o Parlamento.

Bibliografia

1. Vitalino Canas, Preliminar do Estudo da Ciência Política, Macau, 1992, págs. 129 a
201

2. Jorge Reis Novais, Tópicos da Ciência Política e Direito Constitucional, Guinense,


Lisboa, 1996 da pág. 59 a 80.

Texto de apoio preparado e elaborado pelo,


Dr. António Salomão Chipanga,

Assistente da Faculdade de Direito da UEM, na disciplina de Ciências Políticas e Direito


Constitucional Geral

Maputo, Novembro de 1999

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