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Revista Moçambicana de Estudos Internacionais – RMEI

ISSN: 2616-2105, Volume 1, nº 01, 2019

A Importância da Delimitação das


Fronteiras Marítimas de Moçambique no
Contexto das Descobertas do Gás Natural
Offshore
Zacarias Monjane Júnior26
RESUMO: Este estudo aborda em torno da importância da delimitação das fronteiras
marítimas de Moçambique no contexto das descobertas de reservas do gás natural
offshore (em mar), nas principais bacias sedimentares localizadas no litoral de
Moçambique, dentre elas: a bacia de Moçambique, de Angoche e do Rovuma. A
ideia central do estudo, reside no facto da delimitação das fronteiras marítimas ser
importante para Moçambique, especialmente devido as descobertas de gás natural
ao longo da costa moçambicana – zonas de fronteiras internacionais. O gás natural,
como um recurso estratégico, pode servir de uma fonte de conflito e/ou de
cooperação entre os actores estatais e não-estatais das relações internacionais, pois o
acesso a esse recurso é um interesse vital e estratégico nas políticas externas dos
Estados. Considerando este aspecto, a existência do gás natural e outros recursos
energéticos no canal de Moçambique pode, por um lado, promover uma maior
cooperação entre Moçambique e outros países com os quais partilha as águas
marítimas, com vista a acelerarem o processo de delimitação das suas fronteiras. Por
outro lado, a existência desses recursos pode dificultar o processo de delimitação das
fronteiras marítimas moçambicanas. Os dados da pesquisa foram obtidos a partir de
fontes primárias, com a realização de entrevista, e de fontes secundárias, através da
revisão da literatura sobre o assunto. A pesquisa foi conduzida a luz do paradigma
Pluralista das Relações Internacionais. Este paradigma permitiu a análise e um maior
entendimento dos esforços das autoridades moçambicanas na condução das
negociações com os países com quem partilha fronteiras marítimas no canal de
Moçambique.

Palavras-Chave: Fronteiras Marítimas, Gás Natural, Conflito e Cooperação.

26Graduado em Relações Internacionais e Diplomacia Pelo Instituto Superior de


Relações Internacionais – ISRI. Email: zacariasmonjane@gmail.com

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ABSTRACT: This study focuses on the importance of the delimitation of


Mozambique's maritime boundaries in the context of discoveries of offshore natural
gas reserves (in the sea), in the main sedimentary basins located on the Mozambican
coastline, among them: the Mozambique basin, Angoche and of Rovuma. The
central idea of the study lies in the fact that the delimitation of maritime boundaries
is important for Mozambique, especially due to the discovery of natural gas along
the Mozambican coast (international border areas). Natural gas as a strategic
resource can serve as a source of conflict and/or cooperation between state and
non-state actors in international relations, because the access to this resource is a
vital and strategic interest in the external policies of the states. Considering this
aspect, the existence of natural gas and other energy resources in the Mozambican
channel may, on the one hand, promote greater cooperation between Mozambique
and other countries of the Mozambique channel, towards accelerating the process
of delimiting its maritime boundaries. On the other hand, the existence of these
resources may hinder the process of delimitation of the Mozambican maritime
borders.The research data were obtained from primary sources, through interviews,
and from secondary sources, by reviewing the literature on the subject. The
research was conducted through Pluralist Paradigm of International Relations. This
paradigm allowed the analysis and a better understanding of the efforts of the
Mozambican authorities in conducting negotiations with the countries with whom
it shares maritime boundaries in the Mozambican channel.

Keywords: Maritime Boundaries, Natural Gas, Conflict and Cooperation.

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INTRODUÇÃO

O acesso aos recursos energéticos, dentre eles o gás natural, é um


interesse vital e estratégico para os Estados. Esses recursos são
importantes para o crescimento e desenvolvimento económico dos
Estados, para a industrialização e para o processo de inovação
tecnológica (Mamboza, 2016:98). Para além disso, os recursos
energéticos como petróleo, gás natural e carvão mineral são uma
fonte de poder e influência para os Estados. Há muito tempo que esses
recursos actuam como fonte de conflito entre Estados, como exemplos
podem-se observar os casos da França e Alemanha aquando das
disputas pelas regiões de Alsácia e Lorena, ricas em carvão mineral, e
o caso do Iraque e Kuwait, pelos campos de petróleo localizados no
Kuwait.
O esgotamento das reservas de recursos energéticos, em
particular do gás natural localizadas em terra (onshore), devido à
expansão industrial, crescimento populacional entre outras, motivou
o desenvolvimento de actividades de prospecção e exploração por
esses recursos em novos espaços, com destaque para o espaço
marítimo (Antunes, 2004:18 e 19). Deste modo, as disputas
fronteiriças entre os Estados em busca dos recursos energéticos antes
localizadas em terra, foram transportadas para um novo espaço
geográfico, o mar. Como exemplo pode-se observar o caso do
contencioso entre o Timor-Leste e a Austrália na definição de suas
fronteiras no mar do Timor, rico em petróleo e gás natural.
Moçambique é um país com uma extensa costa marítima,
calculada em cerca de 2700 Km. O país partilha as suas águas
marítimas com a África do Sul, a Ilha de Madagascar, a União das
Comores, República Unida da Tanzânia e as possessões francesas no
oceano Índico. Entretanto, o país não tem as suas fronteiras marítimas
devidamente delimitadas, com a excepção das fronteiras com a
Tanzânia e a União das Comores, delimitadas em 2011, através dos
Acordos de Partilha de Fronteiras marítimas assinados entre os três
países. O canal de Moçambique possui uma grande variedade de

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recursos, sendo estes vivos assim como não-vivos. Dos recursos não-
vivos, destaque vai para os hidrocarbonetos, em especial para o gás
natural cujas actividades de pesquisa têm vindo a intensificar-se ao
longo dos anos, tendo como epicentro não só a bacia do Rovuma, mas
também a de Moçambique e de Angoche. De acordo com o INP27
(2014:24), só entre os anos de 2010 à 2014 mais de 180 trilhões de
pés cúbicos – TFC – de gás natural foram descobertos, na Bacia do
Rovuma, pelas petrolíferas Anadarko e ENI.
Deste modo, o tema em estudo está inserido num ambiente em
que por um lado observa-se que Moçambique não tem todas as suas
fronteiras marítimas devidamente delimitadas, e por outro lado
verifica-se que o canal de Moçambique é um ―depósito‖ de
importantes reservas de hidrocarbonetos, especialmente do gás
natural (Jamine, 2006:2 e Conselho de Ministros, 2014:9 e 10).
Tendo em conta estes dois aspectos, a pesquisa aborda em torno da
importância da delimitação das fronteiras marítimas de Moçambique
no contexto das descobertas do gás natural offshore, uma vez que este
recurso é de elevado valor estratégico para o país, podendo promover
o desenvolvimento, assim como criar situações de conflitos com outros
países do canal de Moçambique.

ENQUADRAMENTO TEÓRICO

A leitura da pesquisa é feita com base no Pluralismo, esta teoria que


tem as suas origens no pensamento político da Grécia Antiga, dos
liberais dos séculos XVIII e XIX e, mais recentemente nos escritos
acadêmicos sobre o comportamento de grupos de interesse e
organizações (Zeca, 2013:85). Como uma abordagem teórica das
Relações Internacionais, o Pluralismo apareceu nos anos de 1960, em
função da necessidade de responder aos novos desafios colocados pela
complexidade crescente das questões internacionais, dando origem,
então, à perspectiva pluralista das Relações Internacionais (Sousa,
2005:142).
No Pluralismo é difícil identificar os precursores, uma vez que
muitos dos seus escritores não foram observadores das relações
internacionais como tal, mas sim economistas, cientistas sociais,
teólogos ou cientistas políticos interessados em políticas domésticas.

27 Instituto Nacional do Petróleo

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No entanto, Grotius (1957)28 e Carr (1939)29 tiveram um impacto


significativo nos teóricos associados a imagem pluralista. Para além
dos pensadores acima mencionados, existiu o impacto indirecto de
outros teóricos que não analisavam as relações internacionais per si
(Zeca, 2013:85).
De acordo com Viotti e Kauppi (2010:118-120) e Jackson e
Sorensen (2007:190-191) o Pluralismo tem como pressupostos
básicos:

O Estado não é o único actor nas relações internacionais, os actores


não-estatais como organizações internacionais, corporações
multinacionais entre outros, são entidades importantes na política
mundial. Os Estados não são actores unitários, pois estes são
compostos por grupos e indivíduos que podem influenciar a política
externa. Os Estados não são actores racionais, pois, os choques de
interesses, a negociação e a necessidade de compromisso fazem com
que, por vezes, as decisões do Estado não sejam racionais. A agenda
internacional dos Estados é composta por uma variedade de assuntos,
desde os assuntos de high politics – assuntos militares e de segurança
– até aos assuntos de low politics – assuntos económicos, energéticos,
culturais, entre outros.

O Pluralismo pode ser operacionalizado ao tema em estudo,


tomando como base os pressupostos da multiplicidade de actores e de
assuntos nas relações internacionais. No que respeita a multiplicidade
de actores, o Pluralismo enfatiza o papel das Organizações
Internacionais nas Relações Internacionais. Considerando o tema de
pesquisa, pode-se observar que as Organizações Internacionais, como
é o caso da Organização das Nações Unidas (ONU), exercem grande
influência no contexto da delimitação das fronteiras marítimas. A
ONU é a organização responsável por garantir a paz no espaço
marítimo mundial, facto que motivou a adopção de instrumentos
legais relativos ao mar, dos quais destaca-se a Convenção das Nações
Unidas sobre o Direito do Mar (CNUDM) de 198230, que é
considerada como sendo o principal instrumento regulador no que
respeita às questões sobre o mar. O Estado moçambicano é membro da
ONU desde o ano de 1975 e ratificou a CNUDM em 1996, deste
28 Grottius, H. Prolegomena of the Law of War and Peace. (trad. Kelsey, F. W), Liberal
Arts Press: New York.
29 Carr, E. H. (1946), The Twenty Years Crisis, 1919-1939: An introduction to the study

of International Relation. Macmillan: London.


30Esta convenção é um tratado multilateral, de âmbito multilateral, celebrado a 10 de

Novembro de 1982 em MontegoBay, na Jamaica.

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modo, os direitos e deveres de Moçambique sobre o espaço marítimo e


o processo de delimitação de suas fronteiras marítimas, são vistos à
luz da referida convenção.
No que tange a multiplicidade de assuntos, o paradigma
pluralista argumenta que as relações internacionais não limitam-se
apenas em assuntos de high politics (militares e de segurança), mas
também em assuntos de low politics, como é o caso dos assuntos
económicos e energéticos. Desta forma, este pressuposto aplica-se na
medida em que observa-se que a delimitação de fronteiras marítimas
de Moçambique não só é importante para a garantia da segurança do
Estado, mas também para a própria economia do país, uma vez que a
delimitação das fronteiras marítimas pode contribuir para o
desenvolvimento do sector do Gás Natural em Moçambique, num
contexto em que se registam descobertas deste recurso em áreas
offshore, ao longo da Costa Moçambicana.
Os defensores do Pluralismo reconhecem a existência da
anarquia nas relações internacionais, entretanto, eles advogam que a
cooperação entre os Estados pode minimizar a mesma, reduzindo
assim o risco de ocorrência de conflitos. Esta ideia é aplicável ao tema,
na medida em que observa-se que a opção pela cooperação por parte
de Moçambique, no contexto da delimitação das suas fronteiras
marítimas com os outros países do canal de Moçambique é o caminho
mais acertado para a redução do risco de conflitualidade entre estes
países, num contexto que se registram descobertas do Gás Natural
neste espaço marítimo.

MOÇAMBIQUE E AS ZONAS MARÍTIMAS

O mar não é um espaço homogêneo, este, está dividido em diferentes


zonas marítimas, onde os direitos e deveres dos Estados costeiros
variam de acordo com cada uma dessas zonas. A soberania e
jurisdição do Estado moçambicano sobre as zonas marítimas do canal
de Moçambique e os recursos nelas existentes, é definida através da
CNUDM de 1982 e da Lei do Mar da República de Moçambique
(LMRM) de 4/1996, estas que são as bases jurídicas do presente
trabalho.
A República de Moçambique assinou a CNUDM de 1982 no ano
de 1992 e a ratificou em 1996 (José, 2009:27). No mesmo ano de
1996, Moçambique adoptou a Lei sobre o Direito do Mar, esta lei que

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incorpora as disposições da CNUDM de 1982 no sistema jurídico


moçambicano. A Lei do Mar 4/1996 define os direitos do Estado
moçambicano sobre a sua faixa costeira, define e indica os limites das
zonas marítimas do país. Tal como advoga Simango (2013:25), esta
lei cria a Zona Económica Exclusiva nacional e confere direitos
soberanos ao Estado para fins de exploração, aproveitamento,
conservação e gestão de recursos naturais vivos ou não-vivos das
águas subjacentes ao leito do mar e subsolo, bem como no que se
refere a outras actividades com vista à exploração e aproveitamento
do mar para fins económicos e para a produção de energia a partir da
água, das correntes e dos ventos.
De acordo com a CNUDM de 1982 (artigos 2º, 3º, 55º e 76º) e
com a LMRM 4/96 (nos seus artigos 4º, 8º, 9º e 13º), o espaço
marítimo é composto por diversas zonas, sendo que para efeitos da
seguinte pesquisa são consideradas as seguintes: O Mar Territorial
(MT), a Zona Contígua (ZC), a Zona Económica Exclusiva (ZEE) e a
Plataforma Continental (PC).

Mar Territorial

O Mar Territorial – MT – é definido segundo a CNUDM (artigos 2° e


3°), como sendo a zona marítima que se mede a partir da linha de
base31 até uma extensão máxima de até 12 milhas. O MT é uma zona
marítima de soberania exclusiva do Estado costeiro, no qual os navios
e embarcações de terceiros Estados têm o direito de passagem
inofensiva32. De acordo com a LMRM 4/96 (artigo 4º, capítulo II), o
MT de Moçambique compreende a faixa do mar adjacente, além do
território e das águas interiores. O MT começa da linha de base até o
limite de 12 milhas marítimas.
Segundo Simango (2013:28), no MT, o Estado moçambicano
tem o poder de criar normas concernentes à segurança da navegação
e regulamentação do tráfego marítimo, protecção das instalações e dos
sistemas de auxílio à navegação e outros serviços, conservação dos
recursos vivos do mar, pesca, prevenção do meio marinho e ao

31 Ponto de partida para a medição das zonas marítimas. As linhas de base são definidas
pela CNUDM nos artigos 5º e 7º, e pela LMRM 4/96, nas alíneas e) e f) do artigo 1º.
32 Passagem inofensiva significa navegação pelo mar territorial sem prejudicar a paz, a

boa ordem e a segurança do Estado costeiro (CNUDM de 1982, no seu artigo 19º
número 1).

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controlo da poluição, investigação científica e aos levantamentos


hidrográficos, e às matérias aduaneiras, fiscais, de imigração e de
segurança. No MT, o Estado Moçambicano tem a soberania e o
controlo total sobre a massa líquida e o espaço aéreo subjacente, bem
como o leito e o subsolo desse mar, onde estão localizados os recursos
energéticos como o petróleo e gás natural.

Zona Contígua

A Zona Contígua pode ser entendida como o espaço marítimo


localizado na zona adjacente ao MT que se estende até um limite
máximo de 24 milhas medido a partir da linha de base onde se mede
o MT. Conforme previsto na LMRM (artigo 8°), na ZC o Estado
moçambicano pode tomar medidas de fiscalização necessárias a evitar
as infracções às leis e regulamentos aduaneiros, fiscais, de imigração
ou sanitários no seu território ou no seu Mar Territorial; reprimir as
infracções às leis e regulamentos no seu território ou no seu MT.
Simango (2013:29) considera deste modo, que compete ao
Estado moçambicano, criar a legislação compatível para prevenir e
debelar as infracções às leis e regulamentos aduaneiros, fiscais, de
imigração ou sanitários que ocorram tanto no espaço terrestre ou
marítimo do seu território nacional. Compete ainda ao Estado,
fiscalizar os navios e outras embarcações que estejam a violar a
legislação marítima em vigor; reprimir com os meios legais e
coercivos a violação da lei do mar vigente em Moçambique. Neste
espaço, Moçambique deve criar regulamentos tendentes a defesa dos
seus recursos marinhos, assim como medidas para prevenir e reprimir
a sua violação.

Zona Económica Exclusiva

Os Artigos 55° e 56º da CNUDM de 1982 e 9° da LMRM 4/96


definem a ZEE como sendo a zona situada para além do mar territorial
e a este adjacente, que se estende até um limite de 200 milhas medida
a partir da linha de base, de onde se mede o MT. Na ZEE, o Estado
Moçambicano tem direitos para fins de exploração e aproveitamento,
conservação e gestão dos recursos naturais vivos e não-vivos das
águas sobrejacentes ao leito do mar, do mar e do subsolo, bem como
aproveitamento da zona para fins económicos, como a produção de

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energia a partir da água, ventos e das correntes. Na ZEE, o Estado tem


apenas soberania sobre os recursos lá existentes.

Plataforma Continental

De acordo com a CNUDM (artigo 76º) e Sharma (2008:19), a PC


compreende ao leito e subsolo subjacentes às águas do mar, que se
estendem além do MT em toda a extensão do prolongamento natural
terrestre, até ao bordo exterior da margem continental, ou até uma
distância de 200 milhas. A PC diz respeito a parte continental
submersa pelas águas do mar. Nalguns casos, a PC pode ser estendida
para além das 200 milhas, para tal, devem ser preenchidas as
condições definidas pela CNUDM de 1982.
Geralmente, a Pataforma Continental – PC – é uma zona
marítima rica em recursos minerais e energéticos, pois é nela que
estão localizados recursos como petróleo e gás natural. O Estado
costeiro tem o direito de explorar os recursos existentes na sua PC. A
lei sobre o mar – Lei nº 4/96 – adoptou os preceitos da CNUDM de
1982 no que respeita a PC. Esta lei no seu artigo 13º define que a PC
do Estado Moçambicano se estende até uma distância de 200 milhas
marítimas medidas a partir da linha de base. No artigo 14º da lei
4/96, afirma-se que a delimitação da PC entre Moçambique e um
Estado situado no lado oposto da costa Moçambicana, será feita por
meio de acordo entre os dois Estados. No caso de não se chegar a um
acordo, recorrer-se-á aos procedimentos previstos pelo Direito
Internacional, como é o caso do Tribunal Internacional de Justiça e o
Tribunal Internacional do Mar.
Considerando que o espaço marítimo é composto por diferentes
zonas e que Moçambique partilha o canal de Moçambique com um
conjunto de países, dentre eles a África do Sul, Madagáscar, União das
Comores, Tanzânia e as possessões francesas no oceano Índico, pode-
se constatar que Moçambique não tem ainda todas as suas fronteiras
marítimas devidamente delimitadas, com excepção das fronteiras com
a Tanzânia e a União das Comores, delimitadas em 2011 (Jamine,
2006:2). A delimitação das restantes fronteiras marítimas de
Moçambique afirma-se como sendo importante para Moçambique,
particularmente num contexto em que se registram descobertas de
importantes reservas de gás natural na costa moçambicana. A não
delimitação dessas fronteiras, pode concorrer para a criação de

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situações de conflito entre Moçambique e os outros países do canal de


Moçambique, com interesses nos diferentes recursos, dentre eles o gás
natural, existentes neste espaço marítimo. Ciente deste facto, a LMRM
de 4/96 estabelece que as fronteiras marítimas de Moçambique
deverão ser delimitadas mediante acordo entre Moçambique e os
outros países com quem partilha águas marítimas, não havendo
acordo, a delimitação será feita com base nos mecanismos definidos
pelo Direito Internacional.

SITUAÇÃO DAS FRONTEIRAS MARÍTIMAS DE MOÇAMBIQUE

Nesta parte do trabalho aborda-se em torno da situação das fronteiras


marítimas de Moçambique. Para tal, é feita de início uma breve
descrição da costa marítima moçambicana, e em seguida analisa-se a
situação de cada uma das fronteiras marítimas nacionais,
considerando os países com quem Moçambique partilha águas
marítimas.

Descrição da Costa Marítima de Moçambique

Moçambique é um país costeiro e partilha águas marítimas com a


África do Sul, Madagáscar, as possessões francesas (Bassas da Índia,
Ilha Juan de Nova, Ilha da Europa, Ilha Glorioso e Ilha Mayotte),
União das Comores e Tanzânia.
De acordo com Jamine (2006:6), Moçambique possui uma costa
marítima com uma extensão de 2.700 km que compreende uma linha
que parte da Ponta do ouro no sul até ao rio Rovuma no Norte. A
superfície marítima de Moçambique é de cerca de 500 mil km². A
zona marítima moçambicana possui um elevado valor
socioeconómico. Esta zona marítima (canal de Moçambique) é uma
importante via de transporte, devido a sua localização estratégica e ao
facto de nela atravessarem grande número de navios de variadas
utilidades. Ao longo desta zona, Moçambique tem três dos principais
portos da África Austral: porto de Maputo, da Beira e de Nacala, estes
que não só são importantes para Moçambique, mas também para os
países do hinterland como Zimbabwe, Zâmbia, e Malawi (Ibid.:8).
Para além de ser uma importante via de transporte, o canal de
Moçambique é também um ―depósito‖ de uma variedade de recursos,
dentre eles os vivos e os não-vivos (Simango, 2013:36 e 37). Sobre

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esta zona são desenvolvidas actividades como a pesca, o turismo,


exploração de recursos energéticos (petróleo e gás natural), entre
outros.

Limites Fronteiriços de Moçambique

A delimitação das fronteiras marítimas é uma questão importante na


agenda de política externa dos Estados, uma vez que mexe com os
interesses supremos (soberania e segurança) e vitais
(desenvolvimento, exploração de recursos naturais, entre outros) dos
Estados (Jamine, 2006:2). As fronteiras marítimas não delimitadas
podem afectar facilmente as relações bilaterais entre Estados ou
mesmo a paz e segurança no espaço marítimo. A não delimitação de
fronteiras marítimas pode motivar a eclosão de conflitos fronteiriços
entre Estados (Matos e Silva, 2013:5), e nos casos onde se verifica a
existência de recursos energéticos como petróleo e gás natural, nas
zonas não delimitadas, o potencial de conflito pode aumentar.
Como exemplo, pode-se observar o caso do conflito entre a
Austrália e o Timor-Leste na delimitação das suas fronteiras marítimas
no mar do Timor, rico em petróleo e gás natural. Outro exemplo é o
da disputa entre o Malawi e a Tanzânia sobre o Lago Niassa, rico em
recursos naturais e com elevado potencial de existência de
importantes reservas de petróleo e gás natural33. No caso de
Moçambique, com excepção das fronteiras com a Tanzânia e as
Comores, as fronteiras com a África do Sul, Madagascar e possessões
francesas (objecto de disputa entre França/Comores e
França/Madagascar) não estão ainda devidamente delimitadas.

Fronteira entre Moçambique, Tanzânia e Comores

O acordo sobre a delimitação de fronteiras marítimas entre


Moçambique e a Tanzânia foi alcançado aos 28 de Dezembro de
1988, em Maputo. Este acordo estabeleceu os limites fronteiriços
entre os dois países, sobre as águas interiores, o MT e a ZEE. O MT foi
definido tendo em conta o princípio de equidistância, onde a extensão

33www.jornalnoticias.com.mz/index.phd/internacional/36588-malawi-e-tanzania-

poderao-explorar-juntos-o-lago-niassa.html. Consultado aos 25 de Novembro de 2017.

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do MT de cada um dos países é de 12 milhas náuticas. Para a


delimitação da ZEE, foram usados os princípios da equidistância e da
equidade, tendo sido acordado que os dois países teriam uma extensão
de 25.5 milhas náuticas da sua ZEE (Jamine, 2006:40).
Mesmo com os avanços feitos nas negociações entre Moçambique
e a Tanzânia, a delimitação da fronteira marítima entre estes dois
países fracassou, uma vez que a negociação com a União das Comores
falhou. A presença das Comores era requerida no acordo entre
Moçambique e Tanzânia, pois estava em falta o estabelecimento do
ponto tripartido entre os três países, uma vez que existe um ponto ao
longo do mar onde as fronteiras dos três países se encontram
(Muianga, 2017)34.
Anos mais tarde, aos 5 de Dezembro de 2011, foi assinado em
Maputo, o acordo entre os governos da República de Moçambique, da
República Unida da Tanzânia e da União das Comores, sobre o ponto
tripartido comum das fronteiras marítimas no oceano Índico. Além do
acordo tripartido, Moçambique assinou de forma separada, acordos
bilaterais sobre a delimitação de fronteiras marítimas com cada um dos
dois países.
Segundo o Acordo sobre a Delimitação de Fronteiras Marítimas
entre Moçambique e a Tanzânia (artigos 1º, 3º e 4º), as duas partes
concordaram em definir os seus limites fronteiriços com base nos
métodos de equidistância e de equidade. Este acordo define que a
extensão do MT e da ZEE é de 12 e 25,5 milhas náuticas
respectivamente. Por sua vez, segundo B.O.I.S.A35 (2014:4), o acordo
entre Moçambique e a União das Comores define o limite das ZEE e PC
dos dois países, sendo que a fronteira de equidistância é de
aproximadamente 281 milhas de cumprimento.

Fronteira entre Moçambique e a África do Sul

Moçambique e a África do Sul são países vizinhos e partilham


fronteira terrestre, ao mesmo tempo que partilham as águas marítimas.
A fronteira terrestre existente entre Moçambique e a África do Sul foi
herdada do período colonial, dos acordos firmados entre a Grã-
Bretanha e Portugal. Moçambique e a África do Sul não têm as suas

34 Eugénio João Muianga, entrevistado aos 13 de Setembro de 2017, em Maputo.


35 Bureau of Oceans and International Environmental and Scientific Affairs

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fronteiras marítimas devidamente delimitadas, embora estas estejam


em fase de negociação.
As primeiras tentativas para se delimitar a fronteira marítima
entre os dois Estados surgiram, em 1993. As partes alcançaram
consensos no que respeita ao método e aos pontos que seriam usados
para a delimitação da fronteira. Entretanto, para a finalização da
delimitação desta fronteira falta a definição do ponto de interseção
entre a terra e as fronteiras marítimas (Jamine, 2006:41 e 42). O
processo de delimitação da fronteira marítima entre Moçambique e a
África do Sul ainda não foi concluído, contudo, estão em curso
negociações com vista a delimitar tais fronteiras (Muianga, 2017).

Fronteira entre Moçambique e Madagascar

Tal como advoga Jamine (2006:33), a delimitação da fronteira


marítima entre Moçambique e Madagascar está dependente da
situação das possessões francesas ao longo do oceano Índico (Bassas
da Índia, Ilha Europa e Juan de Nova). Enquanto manter-se o impasse
entre a França e Madagascar, países estes que reivindicam a sua
soberania sobre tais ilhas, várias poderão ser as dificuldades para
delimitar as fronteiras entre os dois países.
Tanto Moçambique, assim como a Ilha de Madagascar
reivindicam direitos sobre as diferentes zonas marítimas. Ambos os
países reivindicam dimensões semelhantes sobre as zonas marítimas:
12 milhas para o MT, 24 milhas para a ZC, 200 milhas para a ZEE e
200 milhas para a PC (Sharma, 2008:483 e 484). Se somadas, as
reivindicações destes países excedem a distância marítima que os
separa, deste modo, são impossíveis de serem satisfeitas. O espaço
marítimo que separa Moçambique e Madagascar é de uma distância
máxima de 501, 080 milhas e uma mínima de 201, 944 milhas
náuticas (Jamine, 2006:24). Adicionadas as reivindicações por ZEE
dos dois países, estas chegam a atingir 400 milhas náuticas, ou seja,
em algum ponto do mar as ZEE’s dos dois países se cruzam.
O mapa abaixo, é ilustrativo e comprova a visão de que as
reivindicações por ZEE de Moçambique e Madagascar excedem os
limites de distância entre os dois países, o que pode de algum modo
dificultar a delimitação de fronteiras entre os dois países, e originar
disputas com a França, devido as suas possessões no canal de
Moçambique, estas que situam-se entre Moçambique e Madagascar.

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ISSN: 2616-2105, Volume 1, nº 01, 2019

Mapa 1. O ponto de intercessão entre as ZEE’s de Moçambique e de Madagascar

Fonte: Simango (2013:30)

Fronteira entre Moçambique e as Possessões Francesas

Em 1960, nas vésperas da independência do Madagáscar (antiga


colônia francesa), o governo francês decretou que as ilhas de Bassas
da Índia, Ilha Europa e Juan de Nova, passariam para a autoridade
directa do governo francês ao invés do novo Estado independente. Este
posicionamento da França originou uma série de tensões entre os dois
países, que perduram até hoje, visto que as ilhas ainda estão sob
controlo da França e Madagascar reivindica a sua soberania sobre elas
(Lopes, 2014:6).
A França disputa ainda com a União das Comores, a soberania
sobre o território da Ilha Mayotte. As origens desta disputa podem ser
encontradas em 1973, quando a França e o arquipélago das Comores
assinaram acordos conducentes a independência do arquipélago. A
França organizou então um referendo nas Comores que, apesar de no
conjunto do arquipélago ter registado um apoio pró-independentista
maciço (mais de 90%), teve a singularidade de Mayotte se ter

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pronunciado a favor da manutenção dos vínculos com a França – 65%


a favor da manutenção e 35% contra-. Neste contexto, a França julgou
considerar os resultados do referendo ―ilha por ilha‖ e por
consequência Mayotte manteve-se sobre o domínio da França. Apesar
de vários Estados africanos e instâncias internacionais como a O.U.A36
e a ONU, não reconhecerem o apuramento dos resultados do
referendo ―ilha por ilha‖, o facto é que a Ilha Mayotte ainda
permanece sob o domínio da França (Ibid.:7).
Tal como a maioria dos Estados africanos, Moçambique apoia as
reivindicações de Madagáscar e das Comores sobre as referidas ilhas,
sendo assim, Moçambique não reconhece autoridade da França e as
suas reivindicações marítimas no canal de Moçambique (Muianga,
2017). No que respeita a delimitação das fronteiras marítimas entre
Moçambique e as Ilhas francesas, pode-se observar que estas ainda
não estão delimitadas. Este facto, pode ser explicado por factores
políticos e técnico-jurídicos. Entre os factores políticos destacam-se as
disputas que a França tem com Madagáscar - sobre a Bassas da Índia,
Ilha da Europa e Juan de Nova – e com a União das Comores sobre a
Ilha Mayotte. Além disso, destaca-se ainda o facto de Moçambique
não reconhecer as reivindicações marítimas da França, pois o país
apoia as de Madagascar e da União das Comores.
Nos factores técnico-jurídicos, importa referir o estatuto que
estas possessões francesas ostentam a luz do direito internacional
marítimo e as reivindicações da França sobre os seus direitos
marítimos no canal de Moçambique. A França reivindica direitos de
uma ZEE e a luz da CNUDM esta reivindicação é ilícita, uma vez que
a CNUDM de 1982, no seu artigo 121º, estabelece que os territórios
(rochedos, ilhéus, atóis, etc) que não se prestem à habitação humana
ou a uma vida económica própria não têm direito a ZEE e a PC, a
única reivindicação possível para estes territórios é de um MT de 12
milhas.
Algumas das ilhas francesas são desabitadas e não possuem
condições para vida humana, a título de exemplo pode-se observar o
caso da Bassas da Índia, um território de cerca de 0,2 km² que fica
submersa durante a maré alta e emerge para cerca de 2,4 metros
quando a maré está baixa. Contudo, mesmo ciente deste facto a
França reivindica uma ZEE de cerca de 123,700 km², facto que ilustra

36 Sigla que significa Organização da União Africana, actual União Africana (U.A).

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uma relação território/ZEE amplamente desproporcional. Para o caso


da Ilha Europa, um território desabitado com cerca de 28 km², a
França reivindica uma ZEE de 127,300 km². No caso de Juan de Nova,
território com 4,4 km² e habitado por cerca de 15 militares, a França
reivindica uma ZEE de 61,050 km². Finalmente no caso da Ilha
Gloriosa, território com 7 km², a França reivindica 43,614 km² de
ZEE. Adicionadas todas estas reivindicações, pode-se constatar que a
França reivindica mais da metade do canal de Moçambique (Lopes,
2014:12). Deste modo, pode-se considerar que o caso das possessões
francesas é o maior dos desafios de Moçambique no contexto da
delimitação das suas fronteiras marítimas. A delimitação destas
fronteiras, está dependente da resolução das disputas entre
França/Madagascar e França/Comores.

REIVINDICAÇÕES MARÍTIMAS DE MOÇAMBIQUE

Segundo Antunes (2004:18-19), a partir da segunda metade do


século XX dá-se início uma corrida entre os Estados tecnologicamente
mais desenvolvidos pelo domínio e controlo sobre o mar, uma vez que
já havia conhecimento da existência de recursos energéticos valiosos
no subsolo marinho. Nesta altura observa-se um aumento das
reivindicações dos Estados costeiros relativamente a extensão da
jurisdição sobre os espaços marinhos. Moçambique está localizado
numa zona estratégica. O canal de Moçambique tem um elevado
valor, uma vez que é um importante reservatório de hidrocarbonetos
como é o caso do gás natural, é uma importante rota de comércio e
possui um enorme potencial em termos de biodiversidade marinha.
O Estado moçambicano, assim como os outros Estados
localizados ao longo do canal de Moçambique não têm todas as suas
fronteiras marítimas devidamente delimitadas, com excepção das
fronteiras com Tanzânia e Comores. Este facto, aumenta o risco de
ocorrência de disputas entre estes países, visto que há casos em que
diferentes países reivindicam direitos marítimos sobre os mesmos
espaços no mar. No caso de Moçambique, verifica-se que o país
possui reivindicações sobre as zonas marítimas do MT, ZC, ZEE e PC.
Este facto que é evidenciado pela Lei do Mar de Abril/1996 que
estabelece que:

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A largura do MT é de 12 milhas marítimas medidas a partir da linha


de base (artigo 4º, número 2); a ZC contigua do mar territorial se
estende até uma distância de 24 milhas marítimas medida a partir da
linha de base na qual se mede o mar territorial (artigo 8º, número 1);
a ZEE se estende até uma distância de 200 milhas marítimas medidas a
partir da linha de base na qual se mede o mar territorial (artigo 9º); a
PC da Republica de Moçambique é de 200 milhas marítimas medidas
desde a linha de base (artigo 13º).

Moçambique partilha o canal de Moçambique com a África do


Sul, Madagáscar, possessões francesas no oceano Índico, União das
Comores e Tanzânia. Tal como Moçambique, estes países também
possuem reivindicações marítimas sobre o canal de Moçambique e
nalguns dos casos, as suas reivindicações entram em choque com as
reivindicações moçambicanas. A tabela abaixo, apresenta os países
situados no canal de Moçambique e suas reivindicações sobre as
diferentes zonas marítimas neste mesmo canal.
Tabela 1. Países Vizinhos de Moçambique e Reivindicações nas Zonas Marítimas
Estado Ratificação MT ZC ZEE PC
Entrada na
NUDM
Moçambiqu 13/3/1996 12 24 200 milhas 200
e milhas milhas milhas
África do 23/12/199 12 24 200 milhas 200
Sul 7 milhas milhas milhas
Madagascar 22/8/2001 12 24 200 milhas 200
milhas milhas milhas
Comores 21/6/1994 12 200 milhas 200
milhas milhas
Tanzânia SID37 - - - -
Possessões 11/4/1996 12 SID - Bassas da Índia (123,700 SID
Francesas milhas km²=68 milhas)
-IlhaEuropa(127,300
km²=70 milhas)
-Juan deNova (61,050
km²=34 milhas)
- IlhaGlorioso (43,614
km²=24 milhas)
Fonte: Sharma (2008: 477-487), B.O.I.E.S.A (2014: 4, 7 e 8), Ravin (2005:24-29) e
Lopes (2014:12).

GÁS NATURAL E A DELIMITAÇÃO DE FRONTEIRAS MARÍTIMAS DE


MOÇAMBIQUE

Nesta parte do trabalho, se estabelece a relação entre as descobertas de


gás natural offshore e a delimitação das fronteiras marítimas de

37Sem informação disponível

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Moçambique. Para tal, de início é feita uma descrição da importância


do mar no contexto da exploração dos recursos energéticos. Em
seguida, faz-se uma ligação entre esses recursos energéticos e a
delimitação de fronteiras marítimas, e por fim, aborda-se em torno
das descobertas de gás natural em Moçambique e das suas
implicações na delimitação das fronteiras marítimas nacionais.

O Mar e os Recursos Energéticos

O espaço marítimo é uma excelente e abundante fonte de recursos


energéticos, que são extraídos para suprir as crescentes necessidades
das sociedades industrializadas e não só, face ao esgotamento das
tradicionais reservas terrestres. Desses recursos podem-se referir os
fósseis como o petróleo e gás natural, e os renováveis como as
correntes marítimas e os ventos (Simango, 2013: 72).
Com o esgotamento das tradicionais reservas de recursos
energéticos (petróleo e gás) em terra, houve a necessidade de
procurar-se fontes alternativas, daí a emergência das regiões
marítimas como importantes fontes destes recursos. Através do
desenvolvimento tecnológico, foi possível a exploração de recursos
energéticos offshore, esses que vêm contribuindo de forma crescente
para a renovação das reservas energéticas mundiais. Nesse contexto, a
despeito de diversas previsões de redução na oferta, as reservas de
petróleo e gás teriam ficado mais abundantes devido as descobertas
offshore (Ibid.: 75, citando BP38, 2010)39.
O mar do norte40, por exemplo, se destaca no contexto da
exploração dos recursos energéticos offshore. Entretanto, devido a
intensa actividade de exploração neste mar, as suas reservas estão a
esgotar-se. Cientes deste facto, as companhias exploradoras de
hidrocarbonetos buscam lugares alternativos. Deste modo, o canal de
Moçambique tem sido palco de grandes investimentos de companhias
petrolíferas que buscam novas reservas de petróleo e gás natural
(Simango, 2013:75-76).

38 Abreviatura que significa British Petroleum, uma companhia petrolífera britânica.


39BP Annual Report 2009. www.bp.com.
40 O mar do norte é está situado no Oceano Atlântico, entre as costas da Noruega e da

Dinamarca ao Leste, a costa das Ilhas Britânicas ao Oeste e a Alemanha, Países Baixos
e França ao Sul.

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Ocorrência do Gás Natural em Moçambique

De acordo com o Conselho de Ministros (2014:6), os primeiros


registros da existência de GN em Moçambique ocorreram entre 1904
e 1920 em Inhaminga na província de Sofala e em Pande na província
de Inhambane. Entre os anos de 1948 e 1974, verificaram-se
actividades mais intensivas nas pesquisas do GN em Moçambique,
facto justificado pelo envolvimento de algumas companhias
petrolíferas comoGulf & Amoco, Hunt, Aquitaine e Sunray & Clark &
Skelly. Estas descobertas foram declaradas, todavia, como não-
comerciais.
Com a criação da Empresa Nacional de Hidrocarbonetos (ENH),
em 1981, a actividade de pesquisa ganhou um novo ímpeto,
envolvendo várias empresas multinacionais. Desde então, as
actividades de pesquisa por hidrocarbonetos vão se expandindo um
pouco por todo o país, não só em áreas onshore como Pande e
Temane, mas também nas offshore com destaque para as bacias do
Rovuma, de Moçambique e de Angoche (Simango, 2013:76).
No ano de 2004, deu-se início a produção de gás natural nos
campos onshore de Pande e Temane, operados pela petrolífera sul-
africana Sasol. Nestes campos, estima-se existirem reservas de 5.5 TFC
de gás. Entre os anos de 2010 à 2014, foram anunciadas descobertas
de cerca de 180 TFC de gás pelas companhias Eni e Anadarrko, nas
áreas 1 e 4 offshore da bacia do Rovuma, na província de Cabo
Delgado (INP, 2017:24). Até ao ano de 2014, estimava-se que as
reservas de gás natural de Moçambique eram de aproximadamente
277 TFC, o que colocava o país num lugar privilegiado no ranking dos
países com maiores reservas deste recurso a nível global e regional
(Conselho de Ministros, 2014:4).
Dos 277 TFC que se estimava existirem em Moçambique, cerca
de 266 TPC estavam localizados em áreas offshore, o que representava
pouco mais de 96% do total de reservas de gás estimadas em
Moçambique (Ibid.:9). Para além dessas descobertas em Moçambique,
foram também registradas descobertas de cerca de 57 TFC de gás na
bacia de Máfia na Tanzânia (Amanam, 2017:2). Essas descobertas
ilustram de forma clara que o canal e Moçambique é uma região com
enorme potencial em recursos energéticos. Esta ideia pode ser
comprovada a partir da observação das intensas actividades de
pesquisa por hidrocarbonetos nas zonas costeiras de Moçambique,

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África do Sul e Tanzânia, por diversas companhias petrolíferas, dentre


elas as nacionais, de cada um desses países, e as estrangeiras.

Descobertas de Gás Natural e sua Influência na Delimitação das


Fronteiras Marítimas de Moçambique

O gás natural é o combustível cujo consumo mais cresce a nível


global. Este crescimento deve-se ao facto deste combustível ser
ambientalmente mais atractivo em relação aos outros tipos de
combustíveis fósseis como o carvão mineral e o petróleo (AIE41,
2013:14). Este recurso é de vital importância para os Estados, pois
funciona como um instrumento catalisador do desenvolvimento
económico, contribuindo para o crescimento do sector energético e
industrial, incentivando a inovação tecnológica, entre outros
(Mamboza, 2016:98).
Nos últimos anos, especialmente entre 2010 à 2014,
Moçambique foi palco de descobertas de importantes reservas de gás
natural, com maior destaque para as reservas offshore. Tendo em
conta que o país não possui todas as suas fronteiras marítimas
devidamente delimitadas, estas descobertas offshore podem dificultar
ainda mais o processo de delimitação das fronteiras moçambicanas.
Os recursos energéticos como o é o caso do gás natural, têm
grande influência no processo de delimitação das fronteiras
marítimas. Vários são os casos de países, que envolveram-se em
disputas por espaços marítimos por estes possuírem no seu subsolo
reservas de hidrocarbonetos como o petróleo e gás natural. Como
exemplo, pode-se referenciar o caso do Timor-Leste e da Austrália,
dois países que não encontram consensos no que respeita as suas
fronteiras marítimas, pois cada um deles procura vantagens nas
negociações de modo a obter maiores espaços, no Mar do Timor, este
que é rico em petróleo e gás natural. Outro exemplo, é o da Tanzânia
e do Malawi que entraram em disputas no que respeita as suas
fronteiras no Lago Niassa, que tem um enorme potencial em reservas
de petróleo de gás natural.
Ciente desta problemática, a República de Moçambique adoptou
um papel proactivo no processo de delimitação de fronteiras,
especialmente no âmbito das descobertas de recursos energéticos, a

41Agência Internacional de Energia

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nível regional. Como exemplos, podem-se observar os seguintes


aspectos:
Os esforços das autoridades moçambicanas em negociar a delimitação
de fronteiras com os países com quem partilha o canal de
Moçambique, nomeadamente a África do Sul, Madagáscar, Tanzânia e
a União das Comores. Esses esforços de Moçambique resultaram, aos 5
de Dezembro de 2011 em Maputo, na assinatura do acordo com a
Tanzânia e as Comores sobre o ponto tripartido comum das fronteiras
marítimas, e na assinatura de acordos bilaterais entre Moçambique-
Tanzânia e Moçambique-Comores sobre a delimitação das fronteiras
marítimas comuns42; o espaço marítimo delimitado entre esses três
países, é palco de intensas actividades de pesquisa e exploração de
hidrocarbonetos. Exemplo disso, é que é nesta zona que se localiza a
bacia do Rovuma em Moçambique, que é a bacia offshore com
maiores reservas de gás a nível da região; a abertura de Moçambique
em participar como mediador em disputas fronteiriças na região.
Como exemplo, pode-se observar o caso da disputa entre a Tanzânia e
Malawi sobre a fronteira comum sobre o lago Niassa, rico em petróleo
e gás43.

Estes exemplos ilustram a pré-disposição de Moçambique em


promover a solução negociada de problemas fronteiriços a nível da
África Austral, especialmente no contexto das descobertas de recursos
energéticos. A estratégia moçambicana de ―delimitar depois
explorar‖, revela a preocupação das autoridades em evitar disputas
fronteiriças com países vizinhos. Desta feita, o país segue a política de
primeiro delimitar as suas fronteiras e depois avançar para a pesquisa
e exploração dos recursos energéticos, especialmente em regiões com
potencial de conflito com outros países vizinhos. Exemplo disso, é que
até ao momento, os projectos de pesquisa e exploração de
hidrocarbonetos em curso estão sobre zonas já delimitadas ou então
próximas a costa moçambicana, sem grande potencial de disputas
com outros países.

BENEFÍCIOS DA DELIMITAÇÃO DAS FRONTEIRAS MARÍTIMAS PARA


MOÇAMBIQUE

A soberania, integridade territorial e segurança fazem parte do


conjunto de interesses supremos de qualquer Estado, e Moçambique

42https://paginaglobal.blogspot.com/2011/12/mocambique-tanzania-e-comores-

assinam.html?m. Consultado aos 8 de Novembro de 2017.


43 www.jornalnoticias.co.mz/index.php/internacional/36588-malawi-e-tanzania-poderao-
explorar -juntos-o-lago-niassa-html. Consultado aos 11 de Novembro de 2017.

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não é excepção. Sendo o mar parte integrante do território nacional


do Estado moçambicano, a protecção e segurança do mesmo revela-se
como sendo necessária e imprescindível para a defesa desses
interesses nacionais supremos. Contudo, torna-se difícil para o país
proteger e defender esses interesses, sem que as suas fronteiras
marítimas estejam devidamente delimitadas e demarcadas.
Para além do seu papel na dimensão político-militar do Estado, o
mar é também importante na dimensão social e económica, pois o
mar pode servir como um instrumento catalisador do
desenvolvimento económico dos Estados e das comunidades. O mar
serve de uma rota de comunicação, e é um reservatório de
importantes recursos vivos e não-vivos, dos quais destacam-se os
recursos energéticos, como o petróleo e gás natural (Coelho,
2013:161). Entretanto, a exploração desses recursos por parte dos
Estados costeiros é dependente, em parte, da delimitação de suas
fronteiras marítimas, pois sem ela torna-se difícil, o exercício da
soberania e jurisdição sobre as zonas marítimas nas quais tais
recursos estão localizados.
Como foi anteriormente dito, o canal de Moçambique é rico em
hidrocarbonetos, especialmente em gás natural. A costa
moçambicana, em particular a zona norte (bacia do Rovuma), possui
enormes jazigos de gás natural, exemplo disso, entre os anos de 2010
à 2014 foram descobertos nesta zona, cerca de 180 TPC de gás pelas
companhias Eni e Adadarko (INP, 2017:24). Coincidentemente, foi
durante este período que foram também assinados os acordos de
delimitação de fronteiras marítimas entre Moçambique, Tanzânia e
Comores, no ano de 2011.
Embora não exista nenhuma comunicação pública, por parte
das autoridades moçambicanas, fazendo ligação entre a assinatura
desses acordos e as descobertas de gás natural no Rovuma, não se
pode ignorar o facto da delimitação das fronteiras marítimas entre
estes três países, beneficiar o sector do gás natural em Moçambique, e
até mesmo na própria Tanzânia e Comores.
O acordo de delimitação das fronteiras marítimas de
Moçambique na região norte, com a Tanzânia e a União das Comores,
beneficia Moçambique em diferentes formas, que são:

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Com esses acordos foram criadas bases para a demarcação 44 e uma


posterior reafirmação, quando necessário, das fronteiras marítimas de
Moçambique com tais países; a delimitação dessas fronteiras facilita a
implementação da estratégia de Segurança marítima da SADC, e
facilita a proteção e segurança marítima do território marítimo
moçambicano (Coelho, 2013:174); esses acordos fortificam as bases
para uma maior cooperação na área de segurança marítima entre as
partes envolvidas; os acordos facilitam o exercício da soberania e
jurisdição de Moçambique sobre o seu território marítimo, e
promovem a paz e coexistência pacifica entre os Estados envolvidos45;
esses acordos facilitam a exploração e aproveitamento dos recursos
marinhos vivos e não-vivos existentes nas zonas marítimas
delimitadas, o que se traduz em oportunidades económicas para
Moçambique.

Para além dos benefícios acima apresentados, os acordos de


delimitação de fronteiras entre Moçambique, Tanzânia e a União das
Comores, beneficiam de uma forma particular, o sector do gás natural
em Moçambique. Dos diferentes benefícios que podem advir da
delimitação dessas fronteiras marítimas para o sector do gás,
destacam-se os seguintes:

Promoção da segurança marítima no espaço marítimo moçambicano,


o que vai possibilitar a protecção das instalações offshore de pesquisa
e exploração de gás natural, das infraestruturas de transporte de gás
(gasodutos), e das embarcações que vão transportar o gás natural
liquefeito (GNL) e outros productos (Lopes, 2014:56, 60 e 61);
expansão da actividade de pesquisa e exploração do gás natural e
petróleo para outras áreas do espaço marítimo moçambicano; criação
de parcerias para a exploração e produção conjunta do gás natural e
petróleo, entre Moçambique, Tanzânia e Comores, nas reservas de gás
natural offshore transfronteiriças.

Deste modo, observa-se que com a delimitação das suas


fronteiras marítimas com a Tanzânia e Comores, Moçambique pode
obter vantagens significativas, não só a nível da segurança marítima,
mas também a nível económico e energético em particular. Sendo o
mar parte do território nacional de Moçambique e reservatório de
recursos energéticos (renováveis e não-renováveis), com a

44A diferença entre a delimitação e a demarcação, reside no facto de a delimitação referir-


se a tratados, acordos ou instrumentos legais que definem limites fronteiriços entre
duas ou mais entidades políticas. A demarcação, por sua vez, refere-se a colocação de
marcos nas fronteiras delimitadas (African Union Border Programme, 2013:25).
45Macua.blogs.com/mocambique_para_todod/2011/12/delimitacao-de-fronteiras-

maritimas-histórico-junta-três-paises-em-maputo.html. Consultado aos 19 de


Novembro de 2017.

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delimitação das suas fronteiras marítimas, Moçambique promove a


defesa dos seus interesses nacionais supremos, vitais e estratégicos, e
promove a sua segurança marítima e energética. Assim sendo, a
delimitação das fronteiras marítimas é importante para Moçambique,
tanto a nível político, militar e de segurança (questões de high
politics), assim como a nível económico, energético, social, ambiental,
entre outras (questões de low politics)

CONSIDERAÇÕES FINAIS

A delimitação de fronteiras marítimas permite, a definição do


território marítimo moçambicano, onde o Estado vai exercer a sua
soberania e jurisdição, explorar e aproveitar os recursos nele
existentes de forma autônoma. Estando no contexto em que se
verificam, descobertas de importantes reservas de hidrocarbonetos –
petróleo e gás natural – no canal de Moçambique, observa-se que a
delimitação das fronteiras marítimas entre os países localizados neste
canal é de vital importância. Sem a devida delimitação de fronteiras
entre estes países, pode-se agravar o potencial para a eclosão de
disputas e conflitos fronteiriços entre os mesmos, considerando que o
Canal de Moçambique possui um elevado valor geopolítico e
geoeconómico.
Casos há, de países que envolveram-se em disputas fronteiriças,
motivadas pelo interesse em aceder às reservas de recursos
energéticos, como o petróleo e gás offshore. A disputa entre o Timor-
Leste e Austrália é um desses casos, onde os dois países entraram em
choque no que concerne às suas fronteiras marítimas no mar do
Timor, rico em petróleo e gás natural. A nível da África Austral, pode-
se observar a disputa entre a Tanzânia e o Malawi sobre a fronteira no
lago Niassa, com elevado potencial em reservas de petróleo e gás
natural.
Tendo em conta estes factos, é necessário que as autoridades
moçambicanas delimitem as fronteiras marítimas nacionais, pois, esta
delimitação é de grande importância para Moçambique. A
delimitação das fronteiras marítimas vai reduzir o risco de eclosão de
disputas fronteiriças com os outros países no canal de Moçambique. A
delimitação de fronteiras cria ainda bases para o exercício da
soberania e jurisdição de Moçambique sobre o seu território
marítimo, e favorece a protecção e segurança marítima do canal de

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Moçambique, contra as mais variadas ameaças aos valores e interesses


do Estado moçambicano, dentre elas a pirataria, terrorismo, imigração
ilegal, pesca ilegal, entre outras.
Para além disso, a delimitação das fronteiras marítimas de
Moçambique é importante, pois, pode beneficiar o desenvolvimento
de sector energético nacional, e em particular do sector do gás
natural. Com as suas fronteiras marítimas delimitadas, Moçambique
cria as bases para a exploração das mais diferentes fontes energéticas
– renováveis e não-renováveis – existentes no mar, o que vai
possibilitar o aumento da capacidade nacional de produção de energia
e a segurança energética.
Para o sector do gás natural, a delimitação de fronteiras
marítimas possibilita: a protecção das instalações offshore de pesquisa
e exploração de gás, as infra-estruturas e embarcações de transporte
de gás, a expansão das actividades de pesquisa e exploração do gás
para outras áreas marítimas, entre outras. Assim sendo, a delimitação
das fronteiras marítimas é importante, pois com ela, Moçambique não
só estará a criar bases para a defesa dos seus interesses nacionais
supremos – soberania e segurança – assim como também dos
interesses vitais e estratégicos – bem-estar económico,
desenvolvimento, prestígio, paz, entre outros). Entretanto, é de
destacar que os benefícios da delimitação das fronteiras marítimas não
são exclusivos para Moçambique, estes, estendem-se também para
outros países com que Moçambique partilha o canal de Moçambique.

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFRICAS

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RECEBIDO: 23.07.2018
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