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UNIVERSIDADE FEDERAL DO MARANHÃO

CENTRO DE CIÊNCIAS SOCIAIS


CURSO DE DIREITO
DISCIPLINA: TEORIA DO DIREITO

CAMILA DE JESUS BARROS ALMEIDA


GABRIEL JOSE GUIMARAES DE SOUSA MOURAO
LEONARDO RODRIGUES DUTRA
MOISES CARVALHO CUTRIM
THYELLE RAYANNE OLIVEIRA MENDES
WELSON MATHEUS SANTOS MACHADO

RESUMO DA OBRA:

QUEM É O POVO? A QUESTÃO FUNDAMENTAL DA DEMOCRACIA /


FRIEDRICH MULLER

São Luís
2022
CAMILA DE JESUS BARROS ALMEIDA
GABRIEL JOSE GUIMARAES DE SOUSA MOURAO
LEONARDO RODRIGUES DUTRA
MOISES CARVALHO CUTRIM
THYELLE RAYANNE OLIVEIRA MENDES
WELSON MATHEUS SANTOS MACHADO

RESUMO DA OBRA:

FUNÇÃO SOCIAL DA DOGMÁTICA JURÍDICA / TERCIO SAMPAIO FERRAZ JR.

Trabalho de resumo apresentado à disciplina


Teoria do Direito, do curso de Direito, da
Universidade Federal do Maranhão, como
requisito para a 3ª avaliação.

Orientador: Prof. Mário de Andrade Macieira

São Luís
2022
SUMÁRIO

I. CAPÍTULO……….…….….....................................................................................…04
II. CAPÍTULO...................................................................................................................05
III. CAPÍTULO...................................................................................................................05
IV. CAPÍTULO...................................................................................................................07
V. CAPÍTULO……………………………………………........………………...............09
VI. CAPÍTULO……………………………………............………………….......….…...10
VII. CAPÍTULO…...………………………………………................………………........12
VIII. CAPÍTULO...................................................................................................................13
IX. CAPÍTULO....................................................................................................................
REFERÊNCIA BIBLIOGRÁFICA......................................................................................
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I CAPÍTULO: POR QUE AS CONSTITUIÇÕES FALAM DE “POVO”?


A obra “Quem é o Povo?” se inicia com a análise feita por Müller em relação ao
conceito de povo, visando sua compreensão e o seu uso na legitimação de decisões jurídicas.
O autor busca significados essenciais para esse conceito, observando, desse modo, que povo
não é algo descritivo, mas categoricamente constitucional. Muller apoia que “povo não é um
conceito simples nem um conceito empírico; povo é um conceito artificial, composto,
valorativo; mais ainda, é e sempre foi um conceito de combate.
O autor Müller mostra em seu livro “Quem é o povo?” diversas abordagens, que
interpretam esse questionamento de “Quem é o povo?”, sobretudo, quando percebe a
ocorrência dessas expressões inseridas nas normas jurídicas, principalmente sobre o ponto de
vista da política democrática, a expressão “povo”.
Assim, o autor destaca que em vários documentos e constituições é possível observar
uma ligação do direito ao povo, trazendo à tona uma frase bem conhecida pelos juristas que é
“todo poder emana do povo”, colocando o povo como peça central na tomada de decisões e
instituindo a esta classe um papel de representatividade muito importante.
Os partidos devem coatuar na formação da vontade política do povo. O direito ao voto
não é permitido a todos os cidadãos, e quem vota nem sempre o faz de maneira efetiva. Dessa
forma, como seria legitimada a minoria vencida pela maioria?
Se uma constituição recorre ao poder constituinte “do povo” ou se ela atribui “todo
poder ao povo” será que ela então formula um enunciado da realidade? Há uma impressão
difundida de que as coisas não passam assim. Neste caso a constituição fala e cala ao mesmo
tempo. Ela fala, mas não sobre o poder do povo, ela se atribui legitimidade.
Não se trata de justapor os conceitos do povo do discurso das diferentes disciplinas.
Esse é o trabalho da Ciência Política. Essa problematização é percebida principalmente nos
países de grande desigualdade social. Por isso, para se chegar a um objetivo almejado é
preciso antes mesmo de uma simples ampliação do apoio popular, atacar fontes do poder
oligárquico, as quais se encontram na própria estrutura das relações econômicas e sociais.
“Quem é o povo” transmuda-se aqui na pergunta: como se pode empregar “povo”
nesse contexto, caso a pretensão de legitimidade “do governo do povo” deva fazer
suficientemente sentido? De qualquer modo essa expressão pertence ao conjunto das
expressões mais prenhes de pressupostos e ao conjunto das expressões menos seguras dos
referidos documentos constitucionais.
O conceito de povo chegou a ser igualado ao de nação, porém atualmente já não se faz
mais essa associação. O termo nação havia sido introduzido com mais clareza ao início da
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Revolução Francesa por Sieyés e pela Assembleia Nacional: como figura de argumentação
que se propunha a resolver a contradição.

II CAPÍTULO: “POVO” COMO POVO ATIVO


O primeiro componente de “democracia” é objeto de pouca reflexão, o segundo
domina continuamente o Direito Público, a Sociologia Política e a Ciência Política. O povo
atua como sujeito de dominação nesse sentido por meio da eleição de uma assembleia
constituinte ou da votação sobre o texto de uma nova constituição.
No Poder Executivo e no Poder Judiciário a “dominação” do povo ativo pode ser vista
operando de forma mediada, na medida em que prescrições capazes de justificação
democrática estão implementadas em decisões de maneira correta em termos de Estado de
Direito, nos sentidos de capazes da universalização e de recapitulação plausível.
É comum observamos na constituição que somente se contabiliza como povo ativo os
titulares de nacionalidade, uma novidade é a introdução do direito de voto para a comunidade
europeia ao nível municipal no quadro da União Europeia.
A exclusão do povo ativo restringe a amplitude e a coerência da justificação
democrática. A imagem adotada de povo não se derivou da imagem da soberania. Segundo os
teóricos, o povo se apresenta como algo diferenciado, de acordo com as suas respectivas
estratégias. Porém o povo das atuais constituições não deveria ser diferenciado segundo a
disponibilidade de procedimentos representativos ou plebiscitários ou de qualquer outra
natureza mista. O povo ativo não pode sustentar sozinho um sistema tão repleto de
pressupostos.
Logo, o povo dito ativo por Muller é quem pode determinar as fontes de convívio
social por meio de prescrições jurídicas. Compreendem a totalidade de eleitores, os que
possuem o poder de voto, aqueles que utilizam o poder político por meio de eleições. Apenas
os indivíduos titulares de nacionalidade são considerados como povo ativo. Porém, se observa
que aqueles ditos estrangeiros podem funcionar como tal, uma vez que pagam impostos e
trabalham, pertencendo, desse modo, como cidadãos. Assim, se forma uma certa exclusão do
povo ativo que se restringe à amplitude e à coerência da justificação democrática

III CAPÍTULO: “POVO” COMO INSTÂNCIA GLOBAL DE LEGITIMIDADE


No capítulo III do livro, o autor Friedrich Müller discorre sobre o povo como instância
global de atribuição de legitimidade, ele destaca que os Poderes Executivo e Judiciário estão
interligados com a noção de Estado de Direito e Democracia, assim a população elege seus
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representantes no Parlamento, que são responsáveis pela criação de normas abstratas e gerais.
As normas passam a ser publicadas onde elas tratam das relações de indivíduo e estado de
forma geral, ou seja, o povo elege seus representantes onde eles passam a criar normas na
qual elas entram em vigor e acabar por vincular as ações e interesses dos próprios cidadãos. 
O conceito de “povo” como instância global de atribuição de legitimidade se torna
mais compreensível a partir da compreensão da ideia de estrutura de legitimação. Se entende
que o procedimento de formação de uma constituição democrática ocorre em forma de ciclos
dentro de um processo de legitimação, onde o povo ativo elege seus representantes e estes
compõem textos das normas que, por consequência, são implementados nas distintas funções
de aparelho do Estado, que por decorrência os destinam a todos, enquanto população.
O povo é visto de outra maneira, agora como instância global de atribuição de
legitimidade democrática, pois ele justifica o ordenamento jurídico num sentido mais amplo
como ordenamento democrático. Ou seja, como instância de atribuição de legitimidade
entende-se o sentido de povo como participador democrático do qual ele é tido como sujeito
responsável por sua própria emancipação
Nesse enquadramento, o autor afirma que é possível perceber o papel do povo como
instância global de legitimidade democrática. Assim, sendo proferidas decisões judiciais “em
nome do povo”. Para Müller, o povo não é apenas a fonte ativa da instituição de normas por
meio de eleições, ele é de qualquer modo o destinatário das prescrições, em conexão com
deveres, direitos, e funções de proteção, e o povo justifica esse ordenamento jurídico em um
sentido mais amplo como ordenamento democrático, à medida que o aceita globalmente, não
se revoltando contra ele.
Em regra, esse “povo legitimante” podem ser identificados como cidadãos do
respectivo país. Consequentemente são, face à nossa realidade, descritos no artigo 12 da nossa
Constituição como natos e naturalizados. Nesse aspecto, Müller destaca a peculiaridade deste
uso que, além de atuar ativamente, também legitima o ordenamento jurídico, ao passo que
este “povo” não se revolta e o seu silêncio implica em aceitação tácita. Por isso, difere-se do
povo ativo ao passo que este compreende apenas e tão somente àqueles detentores da
cidadania ativa.
À vista disso, o jurista alemão versa sobre o povo enquanto instância de atribuição
(povo legitimante) que se vê como grandeza de atribuição diante da textificação do poder
constituinte (este se encontra restrito aos titulares da nacionalidade, de forma mais ou menos
clara nos textos constitucionais). É a partir do mesmo que se mede se a decisão do titular de
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um cargo pode ser atribuída ao texto normativo vigente, como direito popular ou se estamos
diante de um direito ilegítimo.
Em continuidade, o autor nomeia algumas camadas que presentes na outorga da
constituição. Segundo Müller, é necessário que haja um procedimento democrático para criar
a constituição, ou seja, o povo elege os membros da assembleia constituinte. O que significa
normatizar por intermédio do povo ativo. Uma outra camada diz respeito ao lado referente à
democracia de base, o povo como destinatário que permanece na postura de boa vontade,
como o fundamento de uma ordem política cujo núcleo constitucional é preservado,
praticamente respeitado pela ação do Estado.
De acordo com o autor, a razão pela qual se pode ver na constituição um papel próprio
do povo na democracia reside na matriz desse mesmo dispositivo que afirma que todo o poder
emana do povo. Assim, o estado não é o seu sujeito, o seu proprietário, ele é seu âmbito
material de responsabilidade e atribuição. Desse modo, esse emanar do povo entende-se como
exercido do povo e em regime de responsabilização realizável perante ele, um entendimento
normativo.
Portanto, o “povo” como instância de atribuição não se refere ao mesmo aspecto do
“povo” enquanto povo ativo, aquele que vota e participa das eleições, mas esse entendimento
é sustentável somente onde ele é simultaneamente real. No entanto, segundo Müller, só
podemos falar enfaticamente de povo ativo quando virgem, se praticam e são respeitados os
direitos fundamentais individuais e por igual também os direitos fundamentais políticos.

IV CAPÍTULO: “POVO” COMO ÍCONE


No capítulo IV do livro, Friedrich Müller trata do povo como ícone. Nas afirmações
do autor nota-se o “povo” como intocável, ou seja, uma imagem totalmente abstrata tendo
sida construída como única e indivisível. Observa-se também que o termo “povo” não é
exatamente classificado a um grupo de pessoas, é totalmente o avesso percebe-se que diz
respeito a um povo que é inexistente na vida real. É exatamente este povo, “povo ícone”, que
a minoria que detém o poder invoca, observemos o passado de políticas xenófobas, que se
respaldavam em seus discursos mentirosos com a frase “em nome do povo”.
Müller destaca o povo como ícone. Este sentido inexiste em termos práticos, ou seja,
não existe uma referência textual ou real para o conceito. A sua consideração não se justifica
nem como povo ativo nem como povo legitimante. Com efeito, a invocação icônica do povo é
abstrata e inofensiva para o poder-violência exercido pelo Estado de Direito, muitas vezes de
modo ilegítimo. Esse sentido mítico implica na criação de um povo, tal qual nos moldes
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necessários a garantir a intangibilidade de críticas ou questionamentos ao sistema vigente.


Cabe, portanto, à esse prima conceitual à legitimação do Estado, ainda que este necessite criar
abstrata (construindo uma homogeneidade inexistente) ou concretamente (a título
exemplificativo, com a dizimação de populações, colonização, entre outras hipóteses) um
ideário do povo do qual necessita.
O povo como ícone corresponde àquela situação que, em termos jurídicos, já não se
fundamenta em nenhum tipo de relação entre governantes e governados. É a situação do povo
naqueles regimes político-jurídicos que possuem falhas na legitimidade de sua democracia,
ainda que tenham um povo ativo, ou naqueles regimes em que o povo já não mais legitima
juridicamente as ações do regime, mas é chamado a conceder tal legitimidade.
A utilização da palavra povo, neste caso, nada mais é do que uma manipulação
ideológica feita pelos governantes do sentido de transparecer aos cidadãos que está atuando
em seu nome quando na verdade não está. Trata-se de mitificar o povo como se este fosse
uma entidade abstrata e, portanto, genérica, capaz de apoiar o regime político-jurídico apenas
em termos ideológicos, não mais jurídicos. No caso do povo como ícone, por não haver
verdadeira ligação entre governante e governado, a palavra povo passa a ser utilizada no
discurso político como mero elemento de dominação ideológica da sociedade pelo Estado.
Segundo o autor, o povo como ícone induz a práticas extremadas. A iconização
consiste em abandonar o povo a si mesmo, em “desrealizar” a população, em mitificá-la e
instituí-la como padroeira tutelar abstrata, tornada inofensiva para o poder-violência. Ou caso
a população real tiver dimensões que prejudiquem os planos de legitimação, de acordo com
Müller, importa “criar o povo”, o que se faz por meio de medidas externas: colonização,
reassentamento, expulsão e liquidação.
Nesse sentido, a expressão “criar o povo” pode referir-se diferentemente a outra coisa,
que oscila entre as duas funções do povo. Ela pode se referir à concepção do estado educador,
essa concepção busca produzir um povo global homogêneo, uma população ativa
completamente politizada pela outorga da constituição, pelas leis, pelos costumes, pela
educação e pelo folclore coletivo. Assim, como o povo, compreendido como conjunto dos
cidadãos ativos e diferenciado da população total, em um sentido mais atenuado, pode ser
naturalmente também feito sob medida pelo direito de imigração, pelo direito regulamentador
da assimilação de populações expulsas, pelo direto de estrangeiros, pelo direito de
nacionalidade e pelo direito eleitoral.
Dessarte, para Müller a iconização reside também no empenho de unificar em povo a
população diferenciada, quando não dividida pela diferença segundo o gênero, as classes ou
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camadas sociais, frequentemente também segundo a etnia e a língua, a cultura e a religião.


Logo, a população heterogênea é unificada em benefício dos privilegiados, é ungida como
povo e representada por meio do monopólio da linguagem e da definição nas mãos dos grupos
dominantes, como constituinte e mantenedora da constituição. Isso impede de dar um nome às
fragmentações sociais reais, de vivê-las e consequentemente trabalhá-las.
Portanto, conforme Friedrich Müller, se o povo deve se apresentar como sujeito
político real, é necessário que exista instituições e igualmente procedimentos, como a eleição
de uma assembleia constituinte, o referendo popular sobre o texto constitucional, instituições
jurídicas plebiscitárias, eleições livres e destituição por meio do procedimento plebiscitário e
votação. Nesse sentido, autor finaliza esse capítulo atestando que a pequena lâmpada diante
do ícone pode apagar-se, o povo entra em cena como destinatário e agente de
responsabilidade e controle.

V CAPÍTULO: POVO COMO DESTINATÁRIO DE PRESTAÇÕES CILIZATÓRIAS


DO ESTADO
No capítulo V, Müller discorre que a função do “povo” que um Estado invoca,
consiste sempre em legitimá-lo. A democracia é um dispositivo de normas especialmente
exigentes, que diz respeito a todas as pessoas no seu âmbito de ‘demos’, de categorias
distintas (enquanto povo ativo, povo como instância de atribuição ou ainda povo-destinatário)
e graus distintos. A distinção entre direitos de cidadania e direitos humanos não é apenas
diferencial; ela é relevante com vistas ao sistema. Não somente as liberdades civis, mas
também os direitos humanos enquanto realizados são imprescindíveis para uma democracia
legítima.
O respeito dessas posições, que não são próprias da cidadania no sentido mais estrito,
também apoia o sistema político, e isso, não apenas na sua qualidade de Estado de Direito.
Isso se acerca novamente, dessa vez a partir de um outro ângulo, da ideia fundamental não-
realizada no sistema de dominação: ‘on man on vote’: do ângulo da ideia do ‘povo’ como
totalidade dos efetivamente atingidos pelo direito vigente e pelos atos decisórios do poder
estatal – totalidade entendida aqui como a das pessoas que se encontram no território do
respectivo Estado. Segundo essa proposta (ao lado da figura do povo enquanto instância de
atribuição), o corpo de textos de uma democracia de conformidade com o Estado de Direito se
legitima por duas coisas: em primeiro lugar procurando dotar a possível minoria dos cidadãos
ativos, não importa quão mediata ou imediatamente, de competências de decisão e de
sancionamento claramente definidas; em segundo lugar e ao lado desse fator de ordem
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procedimental, a legitimidade ocorre pelo modo mediante o qual todos, o ‘povo inteiro’, a
população, a totalidade dos atingidos são tratados por tais decisões e seu modo de
implementação. Ambas, a decisão (enquanto coparticipação do “povo”) e a implementação
(enquanto efeitos produzidos “sobre o povo”), devem ser questionadas democraticamente.
Na elaboração do conceito de “povo como destinatário de prestações civilizatórias do
Estado”, o autor mostra que a democracia é dispositivo de normas especialmente exigentes,
que se relaciona com todas as pessoas na sua esfera de ‘demos’, de categorias distintas e graus
distintos. A distinção entre direitos de cidadania e direitos humanos não é apenas diferencial,
é também relevante com vistas ao sistema.
O fato de um indivíduo criar laços familiares e atividades sociais em algum território
de um Estado faz com que ele tenha obrigações com esse Estado, ou seja, suas obrigações
passam a ser jurídicas. Nessa situação o povo é dominado de “povo destinatário” pois se
destinam todos os bens e serviços promovidos pelo Estado Democrático de Direito, e todas as
pessoas fazem parte, independentemente de status, estado mental e idade. Desse modo, pode-
se dizer que a função do povo em um Estado está consistida em legitimá-lo à democracia. Por
este motivo que se diz que, com vistas ao sistema, a diferenciação entre direito e cidadania e
direitos humanos é relevante. Muller destaca que a legitimidade do sistema democrático não
está no fato de buscar um conceito político ou jurídico, mas sim de levar a sério esse termo,
pois “povo” é um fato presente no mundo.
No decorrer da obra, o autor sempre tenta deixar em evidência que o povo e o Estado
de Direito, que se define democrático, possuem uma ligação bastante forte. E esse Estado tem
uma deficiência quando se trata do seu poder de criar leis no qual se põe atributos objetivos
para o sujeito em si ter a capacidade de se identificar como povo. O povo legitimador nos
textos normativos de Direito Constitucional com o caráter obrigatório, passam a não mais se
vincular à realidade de um povo ativo.

VI CAPÍTULO: A QUE GRUPOS REAIS CORRESPONDEM OS MODOS DE


UTILIZAÇÃO DO TERMO “POVO”
No decorrer da obra Muller faz a seguinte pergunta: A que grupos reais correspondem
os modos de utilização do termo “povo”? O próprio ressalta novamente que “O povo como
instância de atribuição está restrito aos titulares da nacionalidade, de forma mais ou menos
clara nos textos constitucionais; o povo ativo está definido ainda mais estreitamente pelo
direito positivo (textos de normas sobre o direito a eleições e votações, inclusive a
possibilidade de ser eleito para diversos cargos públicos). Por fim, ninguém está
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legitimamente excluído do povo-destinatário; também não são os menores, os doentes mentais


ou as pessoas que perdem temporariamente os direitos civis.” (Muller p. 79, 80)
Friedrich Müller defende que a referência ao povo é necessária, isto porque o sistema
deve poder representar-se como se funcionasse com base na soberania popular, na
autodeterminação do povo, na igualdade de todos e no direito de decidir de acordo com a
vontade da maioria.
Neste contexto, podemos concluir que o conceito de povo é inafastável do conceito de
democracia, sobretudo porque é o povo quem legitima o poder. Bonavides conceitua
democracia como “aquela forma de exercício da função governativa em que a vontade
soberana do povo decide, direta ou indiretamente, todas as questões de governo, de tal sorte
que o povo seja sempre o titular e o objeto, a saber, o sujeito ativo e o sujeito passivo do
poder legítimo”.
Na Constituição de 1988, mais especificamente no parágrafo único do artigo 1º, o
constituinte fez constar que “todo poder emana do povo, que o exerce por meio de
representantes eleitos ou diretamente [...]”. Partindo dos ensinamentos de Müller, podemos
dizer que no sistema democrático brasileiro, assim como em qualquer sistema democrático,
podemos utilizar os quatro conceitos de povo. Não obstante a simplicidade de sua aplicação,
às peculiaridades do sistema democrático brasileiro a torna complexa.
Hoje, se limitassem à classificação de povo como “povo ativo”, estaríamos excluindo
milhões de brasileiros, pois o voto só é obrigatório para os maiores de 18 e menores de 65
anos; para os maiores de 16 e menores de 18, assim como para os maiores de 65 anos, o voto
é facultativo. E mais, os estrangeiros, os condenados e os militares constritos são proibidos de
votar. Com isso, o “povo ativo” se limitaria a 2/3 da população brasileira.
Se para existir um “povo como instância global de atribuição de legitimidade”, que é
aquele que se sujeita ao ordenamento jurídico, parte-se do pressuposto de que deva existir um
“povo ativo”, que elege seus representantes, os quais são responsáveis pela formação do
ordenamento jurídico, como se enquadrariam aqueles que residem no Brasil, se sujeitam às
nossas normas, mas são estrangeiros?
Para pensar. E o conceito de povo como “povo-destinatário”? No conjunto da obra é
fácil perceber que o povo como destinatário das prestações civilizatórias do Estado deveriam
ser todos aqueles, ativos ou não, legitimados ou não, mas, que se encontram no nosso
território. Entretanto, nesse conceito não se inclui os excluídos e as minorias.
Na visão de Müller, numa sociedade avançada existe uma “disfuncionalidade setorial”
provocada por uma cisão segmentária da ordem social e jurídica. Segundo o autor: “Trata-se
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aqui da discriminação parcial de parcelas consideráveis da população, vinculada


preponderantemente a determinadas áreas; permite-se a essas parcelas da população a
presença física no território nacional, embora elas sejam excluídas tendencialmente e
difusamente dos sistemas prestacionais [...] econômicos, jurídicos, políticos, médicos e dos
sistemas de treinamento e educação, o que significa ‘marginalização’ como subintegração”.
VII CAPÍTULO: “POVO” COMO CONCEITO DE COMBATE. A POSITIVIDADE
DA DEMOCRACIA.
Primeiramente, “Povo” evidencia-se como um conceito não naturalista, a ser
encontrado por via da ciência empírica. O termo “povo” aparece em texto de normas,
sobretudo em documentos constitucionais, devendo ser levado a sério como conceito jurídico
e ser interpretado lege artis. Este termo não irá se revestir de traços inocentes, neutros,
objetivos, mas decididamente seletivos. Friedrich utiliza vários exemplos dessa afirmativa,
como em Péricles o “demos” abrange tão somente os homens atenienses livres, aptos para a
guerra, contribuintes e domiciliados há muito tempo. O estado constitucional atual foi
conquistado no combate contra uma história marcada pela ausência do Estado de Direito e
pela falta de democracia.
Nesse sentido, o autor destaca que o povo passa a atuar como um povo bom, pois
passa a exercer como um conceito finalista e como conceito de combate, pois
independentemente de como for, o povo passa a ser selecionado qualitativamente segundo a
sua disposição para lealdade jurídica e ao mesmo tempo, sendo registrado como maior ou
menor grau, nos textos que justificam o estado unitário como sendo legitimados em bloco.
Sem essa legitimidade não se pode falar em verdadeira positividade da democracia
Dessa forma, a ideia de povo é um conceito de combate, ou seja, funciona para
combater alguma eventual discriminação, exclusão e terror por parte do Estado em relação a
grupos considerados indesejáveis. Nesse contexto, a ideia de povo como ícone não pode ser
utilizada totalmente para legitimação de qualquer outro tipo de regime político-jurídico
democrática, já que esse possui um caráter muito mais ideológico e, consequentemente,
manipulador.
Ademais, a democracia e o Estado de Direito legitimam desde as suas origens a
dominação social burguesa; as constituições como a brasileira de 1988 ou a Lei Fundamental
alemã mencionam expressamente a legitimação pelo povo. O autor coloca como ponto crucial
da constituição: a invocação do povo no preâmbulo, a finalidade da outorga da constituição
comprometida com o Estado democrático de Direito e a identificação do povo como fonte de
“todo o poder”.
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Por conseguinte, Friedrich expõe que as invocações do povo legitimador nos textos
das normas apresentam-se como direito constitucional com caráter de obrigatoriedade na
República Federativa do Brasil; a legitimidade dessa constituição deve poder deixar vincular-
se no plano da realidade ao povo ativo, ao povo enquanto instância de atribuição e ao povo-
destinatário.

VIII CAPÍTULO: EXCLUSÃO


O autor retrata a exclusão como uma discriminação parcial de parcelas consideráveis
da população, vinculada, em sua maioria, a determinadas áreas. Entende-se que, apesar de sua
presença física no território nacional, essa população é excluída dos sistemas prestacionais
econômicos, jurídicos, políticos, médicos e dos sistemas educacionais, tornando-a
marginalizada.
A exclusão de grandes grupos populacionais leva a uma reação em cadeia de
exclusões, como também à pobreza política. Isso significa que esse patamar, atingido em
sociedades periféricas, abrange além da heterogeneidade cultural ou da marginalidade. Nesse
sentido, essa exclusão torna esses grupos populacionais dependentes das prestações dos
sistemas funcionais da sociedade, sem que tenham acesso às mesmas. Contrário a isso, o
estado de bem-estar social é baseado no seu completo oposto, ou seja, no conceito de inclusão
social.
A partir dessa problemática, é visto que se retira aos excluídos a dignidade humana.
Por isso, a luta contra a exclusão tem o objetivo de impor a igualdade de todos no tocante à
sua qualidade de seres humanos, à dignidade humana, aos direitos fundamentais e às restantes
garantias legalmente vigentes de proteção. Uma democracia constitucional é deslegitimada,
tanto no âmbito do Estado de Direito, quanto na sua base democrática, quando há uma
superestrutura dominante constituída de superintegração e subintegração.
Concernente a essa temática, percebe-se que o grupo dos excluídos tem seus direitos
fundamentais e humanos violados. Normas constitucionais, direitos de participação política,
acesso aos tribunais e à proteção jurídica, não estão efetivamente garantidos na prática a este
grupo. O código jurídico está subordinado ao código político, o direito está subordinado à
economia e o Estado está subordinado à atividade econômica. A vigência do código jurídico à
medida que suas operações produzam efeitos reais, tais quais a proteção jurídica, a
responsabilidade por ação ilegal do Estado e a perseguição de funcionários que procedem de
forma ilegal.
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Quanto à marginalização, a sua avaliação dá-se, num primeiro momento, em questão


de quantidade. Politicamente, uma conversão de quantidade em qualidade não pode ser
excluída, em um exemplo dos EUA onde há eleições com uma participação de menos de 50%
dos eleitores habilitados, o direito eleitoral continua existindo normativamente, mas as
premissas sociais de um exercício eficaz de direito desaparecem crescentemente. Nesse tipo
de exclusão, a vigência normativa do ordenamento jurídico não é restringida, o que é
restringida é a abrangência efetiva da sua vigência.
Na exclusão primária, o ordenamento normativo não pretende ser realmente eficaz
para todos, mas apenas parcialmente para interesses prioritários. A inclusão abrange o próprio
ordenamento constitucional e jurídico. Sem a universalidade do seu conceito de norma e sem
uma pretensão realizável de vigência não pode ser reconhecida como ordenamento normativo
moderno. A constituição reduz-se a ferramenta ocasional dos subintegrados.
O Estado constitucional exige o caráter estruturalmente unitário da esfera jurídica,
onde acima de um Estado unitário e acima de uma legitimidade integrada, só se pode
fundamentar e justificar como Estado universal. A partir disso é possível responder à pergunta
inserida no título da obra, o povo se trata de todo o povo de generosos documentos
constitucionais, da população, de todas as pessoas, inclusive das sobre integradas e das
excluídas, trata-se do povo enquanto destinatário das prestações negativas e positivas.
O papel normativo-institucional dos juristas dá a este segmento profissional uma
ferramenta para encaminhar tais provocações de forma legal, legítima e pacífica, por meio de
instrumentos de direito processual no âmbito do sistema de proteção jurídica e, mais
genericamente, do sistema judicial. Os juristas devem então enfrentar essa exclusão social, de
natureza jurídica, mediante seus recursos.
Os juristas de países da modernidade periférica assumem o papel de vanguarda do
desenvolvimento social da sociedade no sentido de criar e fortalecer uma consciência pública
mais ampla com relação à constituição, à legalidade e à vigência dos textos oficiais das
normas. A legitimidade, comprometida pela exclusão, somente pode advir da fundamentação
no povo real. O trabalho dos juristas produz a qualidade do Estado do Direito, agindo em prol
da democracia.
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REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
MULLER, F. Quem é o povo? a questão fundamental da democracia.7.ed.rev.at.amp. São
Paulo: Editora Revista dos Tribunais, 2013.

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