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FACULDADE DE DIREITO DO SUL DE MINAS

CURSO DE GRADUAÇÃO EM DIREITO

LAIS

FICHAMENTO DA OBRA MULLER, FRIEDRICH. QUEM É O POVO?

POUSO ALEGRE
2022
Quando entramos em contato com a obra "Quem é o povo?" De Muller, podemos ver a
ironia quando ele chamou o "povo" de cidadão no início, e no processo do primeiro capítulo,
ele explicou o significado de povo-cidadão como povo-constituição, que explica melhor como
a nova constituição trata a palavra "povo" em suas normas.

De fato, olhando o texto, vemos que o uso da palavra “povo” trata da função de
legitimar o sistema político-jurídico de um país. Foi exatamente o que ocorreu no preâmbulo e
no parágrafo único do artigo 1º da Constituição Federal brasileira de 1988, que diz que “Todo
o poder emana do povo [...]”.

Pelo fato de Muller citar isto em sua obra, fica nítido, senão notório, o fato de ele estar
demostrando a terminologia acima, não apenas do ponto de vista do direito positivo, mas
também da dimensão da legitimidade expressa por "povo".

O trabalho está dividido em quatro partes. A primeira trata do "povo" ativo - o autor
discute a forma dominante de povo ativo, no sentido de que por meio de eleições, e em parte
por iniciativas populares, procuram eleger representantes que sejam seu espelho, importante é
destacar detentores de nacionalidade são considerados ativos, e os estrangeiros residentes de
longa duração no país que cumprem com seus impostos e aproveitam das mesmas liberdades
que os naturalizados, não tendo direito a "votar" em movimentos políticos.

A segunda reflete uma instância global do "povo" como legitimidade - vê que o poder
do judiciário e do executivo estão, mesmo que sucintamente, ligados às características de
democracia e de Estado de Direito, segundo os quais o povo elege representantes
parlamentares, sendo eles responsáveis por criar abstrações e normas gerais.

As regras são emitidas onde se trata da relação entre o indivíduo e o Estado, ou seja, o
povo elege seus representantes, estes fazem as regras, estas, por sua vez, entram em vigor, em
última análise, vinculam as ações e os interesses de seu próprio povo.

Tudo isso forma um ciclo (Kreislauf) de comportamento legalizado que não pode ser
interrompido em nenhum lugar (de forma antidemocrática). Este é o aspecto
democrático da chamada estrutura de legalização. (...) Parece razoável olhar para o
papel do povo nesta situação de outra forma, como uma instância global de
atribuição de legitimidade democrática. É nesse sentido que as decisões judiciais são
tomadas e pronunciadas "em nome do povo" (p. 60).

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É nesse segmento da obra que Muller apoia-se na linha de pensamento popular como
instância global de atribuição de legitimidade.

O terceiro usa o "povo" como ícone - neste capítulo, "povo" é chamado de intocável,
ou seja, uma imagem completamente abstrata, imutável e não passível de divisão. Observou-
se também que os termos acima não são totalmente classificados como um grupo de pessoas,
muito pelo contrário. São esses povos - "povos ícones" - os poucos no poder que invocam
políticas xenófobas passadas que foram apoiadas "em nome do povo" na produção de
discursos baseado em mentiras.

O capítulo 4 explica que o "povo" é objeto destinatário dos interesses civilizados do


Estado - este capítulo diz que o fato de um indivíduo criar atividades sociais e laços familiares
dentro de um território e constituir um fenômeno em que ele tem obrigações para com aquele
Estado - suas obrigações transformadas em fiscais, civis entre outras.

Se esse povo for definido como "destinatário", todos os bens e serviços fornecidos por
um estado democrático e de direito estão destinados a serem aceitos, e todas as pessoas fazem
parte, independentemente de idade, estado de espírito e status de direitos civis.

Muller concluiu ressaltando que a autenticidade legitima do sistema democrático não


está em encontrar conceitos jurídicos ou políticos, mas em levar a palavra a sério, porque o
"povo" é real e está vivo no mundo.

Note-se que nestes capítulos os autores procuram sempre mostrar que o povo está
intimamente relacionado com o estado de direito definido como democracia. E este país é
deficiente em sua capacidade de fazer leis nas quais atribui atributos objetivos aos sujeitos
para se identificar como nação.

A historicidade se despede da prática das constituições que se comparam, da validade


provisória, das leis regulatórias e complementares, que podem tornar o perfeccionismo
absurdo. Pessoas legalizadas em textos normativos constitucionais com características
obrigatórias, permitindo conexão com a realidade das pessoas ativas.

No Capítulo 6, ele faz as seguintes perguntas: A que grupos reais a palavra "povo" é
usada? Ele enfatizou novamente:

“O povo como instância de atribuição está restrito aos titulares da nacionalidade, de


forma mais ou menos clara nos textos constitucionais; o povo ativo está definido
ainda mais estreitamente pelo direito positivo (textos de normas sobre o direito a
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eleições e votações, inclusive a possibilidade de ser eleito para diversos cargos
públicos). Por fim, ninguém está legitimamente excluído do povo-destinatário;
também não e.g. os menores, os doentes mentais ou as pessoas que perdem_
temporariamente_ os direitos civis.” (P. 79, 80).

O trabalho conclui que, referente a teoria e constitucional, sucintamente, o povo não


pode ser determinado por conceitos descritivos, e sim operacionais: em vez de especificar
uma realidade clara e inconfundível da vida social, pretende-se a atribuição de certos
privilégios e responsabilidades coletivas na esfera jurídico-política.

Vale lembrar que os conceitos de democracia e poder constitucional são cada vez mais
reconhecidos e quase sempre correspondem. Em outras palavras, o poder constitucional, antes
visto apenas como a fonte onipotente e difundida da produção normativa constitucional do
ordenamento jurídico, passa a ser cada vez mais vista como sujeito dessa produção
igualmente onipotente e ampla.

No que diz respeito à desigualdade e à exclusão, temos de concordar com Muller que,
em sua visão de países como o Brasil, com altos níveis de desigualdade social, o progresso
democrático não é necessariamente o mesmo que em países igualitários ao empoderar pessoas
com maior poder de decisão o poder do povo se concretiza com a ampliação do uso
obrigatório do referendo e da consulta popular.

São esses poderes aumentados que não são realmente exercidos pelo povo como uma
única instituição coletiva, mas sim pelos detentores dos poderes verdadeiramente mais
eficazes dentro do povo. Em suma, favorecido por oligarcas de todos os tempos.

Concordamos que o grande problema do Brasil é o fato de nunca termos sido um só


povo. Portanto, além de definir substantivamente categorias conceituais em textos normativos
(matrizes jurídicas), identificando na prática o sujeito político titular da palavra povo, é
necessário que o Brasil garanta substantivamente os direitos humanos fundamentais em todos
os aspectos.

Para a viabilidade desse núcleo pedregoso em qualquer circunstância para todos os


brasileiros, é preciso quebrar a corrupção mais profunda do Estado brasileiro (relações com o
mundo, clientelismo, escravidão, entusiasmo etc) e construir um sistema capaz de possibilitar
que eles sejam reconhecidos através de seu mundo sociocultural segregado e experiências
político-econômicas mergulhadas por séculos de negação da existência, por imperativos
estatais inatos.
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Por fim, outra questão será como garantir que a opinião pública não fique aprisionada
nas instituições, garantindo práticas como recall, referendos e orçamentos participativos.

Acredita-se que não haja patrocínio ou tutela estatal, nem qualquer entidade
paraestatal ou mesmo um terceiro setor em processo de reconhecimento.

Finalmente, temos a resposta para a pergunta do título da obra de Muller, que segue o
devido raciocínio: É todo aquele cidadão, parte do povo, que fazem parte do documento
constitucional; é a população, integradas ou excluídas.

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