Você está na página 1de 23

MINISTÉRIO DO ENSINO SUPERIOR, CIÊNCIA, TECNOLOGIA E INOVAÇÃO

REGIÃO ACADÉMICA III


INSTITUTO SUPERIOR DE CIÊNCIAS DA EDUCAÇÃO
ISCED-CABINDA
DEPARTAMENTO DE ENSINO E INVESTIGAÇÃO EM EDUCAÇÃO DE INFÂNCIA E
ENSINO PRIMÁRIO

TRABALHO DE EDUCAÇÃO PARA OS DIREITOS HUMANOS

Tema

A CONSTITUIÇÃO DA REPÚBLICA DE ANGOLA

Curso: Educação de Infância

Período: Regular

Ano académico: 1º

Turma: Única

Docente: Nórida Diaz Rivero

Pascoal da Costa Lourenço

CABINDA, JANEIRO DE 2023


MINISTÉRIO DO ENSINO SUPERIOR, CIÊNCIA, TECNOLOGIA E INOVAÇÃO
REGIÃO ACADÉMICA III
INSTITUTO SUPERIOR DE CIÊNCIAS DA EDUCAÇÃO
ISCED-CABINDA
DEPARTAMENTO DE ENSINO E INVESTIGAÇÃO EM EDUCAÇÃO DE INFÂNCIA E
ENSINO PRIMÁRIO

MEMBROS DO GRUPO

Albertina Futi Duma…………………………………………………………………………………….……100%

Anabela Perpétua C. Luís…………………………………………………………………………….……….0%

Catarina Samba Maieco……………………………………………………………………………….……100%

Gertrudes Câmbizi Chucolate………………………………….………………………………….……100%

Lourenço Butoto Mavinga………………………………………………….………………………………100%

Maria de Fátima Teresa Madeca…………………………………………………………………….… 100%

Maria da Glória Mbatchi Tembo…………………………………………………………………………100%

Matilde Lando Lembe António……………………………………………………………………………100%

Rosa dos Santos Zau…………………………………………………………………………………….……100%

Salai Bachi…………………………………………………………………………………………………………100%

Xavier Bambi Mavinga………………………………………………………………………………….……100%

2
DEDICATÓRIA

Ao povo Angolano.

III
AGRADECIMENTO
Se tudo o que fazemos na vida tem uma história, porque não a fazemos sozinhos,
então o processo de elaboração deste trabalho também tem a sua história, que
resulta da combinação de esforços de várias entidades, a quem manifestamos o
nosso muito obrigado.

Ao Sr. Prof. Pascoal da Costa Lourenço pelo encorajamento manifestado ao longo


do tempo da escrita deste trabalho.

Uma nota de agradecimento especial é dirigida a Prof. Nórida Dias Rivero pelo
encorajamento e dedicação que nos têm dado mesmo a distância.

A todos os membros deste grupo por terem dedicado algum tempo, no sentido de
enriquecer o presente trabalho com algumas linhas.

A todos aqueles que directa ou indirectamente puderam contribuir para a


realização deste trabalho.

IV
ÍNDICE
DEDICATÓRIA ............................................................................... III
AGRADECIMENTO ........................................................................... IV
INTRODUÇÃO ................................................................................ 6
Parte I ........................................................................................ 7
1. CONSIDERAÇÕES GERAIS ................................................................ 7
2. Breves notas sobre a história constitucional angolana. ........................... 13
2.1 Antes da proclamação da Independência Nacional. ........................... 13
2.2 Depois da proclamação da Independência Nacional. .......................... 14
3. A Constituição da República de Angola. ............................................. 17
Parte II....................................................................................... 19
3.1 - Enquadramento dos direitos fundamentais a luz da C.R.A do artigo 22º, 26º,
27º, 30º e 56º. .............................................................................. 19
3.2 – Privação da liberdade, direito dos detidos e dos presos artigo 63º e 64º da
C.R.A......................................................................................... 21
CONCLUSÃO ................................................................................. 22
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS ........................................................... 23

V
INTRODUÇÃO
O direito é apenas um dos sistemas do universo normativo. Ao lado das normas
jurídicas, existem outras normas integradas em diferentes perspectivas, tal como
é o caso da religião, da cortesia e da moral, que representam outros sistemas que,
no seu agregado, constituem simultaneamente com o direito, o complexo
normativo em que assenta a vida cultural do homem e da sociedade.

Portanto, só o direito procura garantir o acatamento e a reintegração dos seus


comandos através da cominação de sanções coactivos contra todos aqueles que
não estejam dispostos a respeita-los espontaneamente; por outro lado, através de
execuções específicas de indemnizações pecuniárias, de penas, de medidas de
segurança, de multas, etc. e, procurando assegurar a realização do projecto que
as suas normas descrevem, garantindo o cumprimento dos direitos e deveres
legalmente protegidos pela Constituição da República de Angola – C.R.A.

6
Parte I

1. CONSIDERAÇÕES GERAIS
Não existe leis fora da sociedade humana. Para se perceber essa ideia, comecemos
por nos lembrar do célebre romance de Daniel Defoe sobre o naufrágio e a vida
solitária numa ilha isolada de homem chamado Robinson Crusoe.

Podemos pensar em Robinson sozinho na sua ilha, não tinha ninguém com quem
conversar, não tinha ninguém a quem amar, não tinha conflitos com outros
homens, não fazia amizades. Num primeiro momento, Robinson sentia-se feliz,
mas é uma sensação ilusória de quem escapou a morte e se sente satisfeito por
estar vivo. Robinson não precisava de leis para se governar a si mesmo, pois o
direito não se aplica na solidão.

Mas se observarmos o homem numa perspectiva histórica, de imediato


constataremos que a sua existência não tem decorrido na solidão isolado de outros
homens, mas em comunidades sociais de dimensão e estrutura muito variáveis,
família, clã, tribo, cidade e estado. O homem tem-se integrado sempre em meios
que manifestam na urbanidade um dos traços mais marcantes.

Como escreveu Marcello Caetano no seu manual de ciências políticas e direito


constitucional na primeira página: “os indivíduos mantem entre si, do berço ao
túmulo, muitos e constantes relações de colaboração e de dependência. A vida
em sociedade, é o modo natural de existência de espécie humana”.

Face a interacção com outros, o homem necessita de criar instituições,


estabelecer coordenadas que lhe permitam encontrar um rumo de acção e
encontrar uma definição de si próprio face aos caos dos seus impulsos sumamente
inespecíficos e sem direcção; ora, a convivência implica desde já um limite e uma
regra das práticas quotidianas. Imaginemos o que seria o tráfego automóvel em
Angola e em outras grandes cidades do mundo, se actuação de cada automobilista
na via pública fosse pura e simplesmente confiada aos instintos e vontade de cada
um! De certeza que seria um caos total.

No entanto, apenas o direito, enquanto conjunto de princípios e normas jurídicas


que disciplinam as relações sociais, é digno de tutela ou de sanção, sendo as suas
normas protegidas coactivamente. De facto, a coercibilidade, ou seja, a

7
possibilidade de os impor por via da força, é um atributo que pertence
exclusivamente as normas jurídicas.

A importância do interesse que as normas jurídicas tutelam torna impositivo o


recurso à aplicação de sanções particulares. Os bens jurídicos fundamentais como
o direito à vida, o direito à honra, o direito à integridade pessoal, o direito à
identidade, o direito à privacidade, o direito à intimidade, o direito à integridade
física, o direito à propriedade, o direito de sufrágio, etc., encontram tutela
primária na Constituição, enquanto lei fundamental que está no topo da hierarquia
das normas jurídicas, e tornam impositivo o recurso à aplicação de sanções
particulares, excepto nos casos previstos na lei.

Daí resulta a seguinte questão: quem define as regras ou normas jurídicas? A


resposta é tão simples quanto esta: as regras ou normas jurídicas que regulam as
relações entre os homens uns perante os outros são definidas pelos próprios
homens. Não poderia ser de outro modo. O Direito é produto da criação humana,
a mais importante invenção dos homens, porque são essas regras que nos vão
ensinar como devemos nos comportar uns perante outros.

Será que todos os homens individualmente considerados definem as regras


jurídicas? Não, os angolanos existem aos milhões e não seria possível reunirmo-
nos todos para decidirmos sobre as regras jurídicas que regem as relações sociais.
Muitos não estariam interessados; em outros casos, nós é que não gostaríamos que
certas pessoas participassem no processo de elaboração das normas jurídicas ou
na decisão. Por exemplo os violadores, os assassinos, os gatunos, quem teria
interesse em solicitar contribuições desses indivíduos regular a sociedade? Angola
é um país grande, com cerca de vinte milhões de habitantes, não se imagina tanta
gente junta para criar mecanismos para regular a sociedade.

Como não é possível reunirmos todas as pessoas do país, é necessário decidir o


modo como devem ser elaboradas as normas jurídicas que vão reger as relações
sociais. Quem as escolhe, como, para quê, com que finalidade?

Neste particular, o regime político mais adequado à expressão do consentimento


dos homens, isto é, que substitui as reuniões de todos ou assembleias populares,
é a democracia representativa, para além da democracia participativa, expressão
que mais adiante explicaremos. Para esse efeito, existe o Estado, como forma

8
mais adequada de organização dos grupos humanos, sucedendo a outras formas de
organização como vimos atrás

O Estado é genericamente definido como uma comunidade humana, sedeada num


determinado território e que se organiza politicamente em termos autónomos e
soberanos. Nesta definição encontramos três elementos constitutivos do Estado,
ou sejam:

a) Comunidade humana (povo);

b) território;

c) Poder ou organização política.

Quanto ao primeiro elemento, o Estado é basicamente uma forma de organização


das sociedades com determinada localização histórica. Não é uma realidade
ontologicamente necessária, mas representa um modelo certamente o mais
aperfeiçoado dos até hoje conhecidos, de estruturação social da única realidade
que aqui é necessária e insubstituível: o homem.

Ao conjunto dos elementos pessoais do Estado dá-se o nome de povo, sociedade


estadual, património humano do Estado ou população. A cada um desses
elementos atribui-se o estatuto de nacional, cidadão ou súbdito. Mas para o
conceito em análise, interessa-nos o conjunto dos cidadãos nacionais (a
nacionalidade vem estabelecida no artigo 9º da Constituição da República de
Angola de 2010, adiante designada por “CRA”), sendo os requisitos de aquisição,
perda e reaquisição definida na Lei nº 1/05, de 1 de Julho de 2005 (Lei da
Nacionalidade), através da qual se exerce a chamada soberania pessoal do Estado
(A Soberania pertence ao povo, nº 1, do artigo 3º da CRA).

O segundo elemento do conceito é o território, sendo que o povo se fixa num


determinado território, indispensável à existência do Estado. A Constituição da
República de Angola estabelece, no nº 1 do artigo 5º, o seguinte: “o território da
República de Angola é o historicamente definido pelos limites geográficos de
Angola, tais como os existentes a 11 de Novembro de 1975, data da proclamação
da Independência Nacional”, e nº 2 do artigo 3º da CRA prevê que “o Estado exerce
a sua soberania sobre a totalidade do território angolano, compreendendo este,
nos termos da presente Constituição, da lei e do direito internacional, a extensão

9
do espaço terrestre, as águas interiores e o mar territorial, bem como o espaço
aéreo, o solo e o subsolo, o fundo marinho e os leitos correspondentes”.

É sobre o território do Estado que se exerce a chamada soberania territorial.

Finalmente, temos o poder ou a organização política. Este é o aspecto mais


marcante do Estado, que o habilita ao exercício das suas funções de governar e
administrar a sociedade humana que a personifica. Essa organização só será
estadual quanto revestido de atributos de soberania.

A soberania implica um poder político supremo e independente, entendendo-se


por poder supremo aquele que não está limitado por nenhuma outra ordem
interna, e por um poder independente aquele que, na sociedade internacional não
tem de acatar regras que não sejam voluntariamente aceites e está em pé de
igualdade com os poderes supremos dos outros povos.

Assim, em Angola o poder político é exercido por quem obtenha legitimidade


mediante processo eleitoral livre e democraticamente exercido, nos termos da
Constituição e da legislação em vigor, sendo ilegítimo e criminalmente punível a
tomada e o exercício do poder político, por meios violentos ou por outras formas
não previstas na legislação em vigor, nem conforme o estabelecido na
Constituição, conforme o previsto no artigo 4º da Constituição da República de
Angola.

No âmbito da organização do poder do Estado, encontramos os órgãos de


soberania, nomeadamente, o Presidente da República (Chefe de Estado, o titular
do Poder Executivo e Comandante em Chefe das Forças Armadas Angolanas), a
Assembleia Nacional (poder legislativo) e os Tribunais, conforme estabelece o
artigo 105º da Constituição da República de Angola.

Assim, todo o Estado tem um ordenamento jurídico, sobretudo quanto se trata de


Estado Democrático de Direito como é o nosso, artigo 2º da Constituição da
República de Angola. Daí que se diga que o Estado moderno é um Estado de
Direito, porque o seu fundamento e as suas competências são definidos pelo
Direito; isto é, o Estado subordina-se à Constituição e funda-se na legalidade,
devendo respeitar e fazer cumprir as leis, como estabelece o nº 2 do artigo 6º da
Constituição da República de Angola.

10
Face ao princípio da separação de poderes constitucionalmente consagrado no
artigo 2º, nº 3 do artigo 105º, ambos da CRA, compete a Assembleia Nacional,
como órgão representativo de todos os angolanos, exprimir a vontade soberana do
povo, exercer o Poder Legislativo do Estado conforme o estabelecido no artigo
141º da Constituição da República de Angola.

Periodicamente, nós escolhemos os nossos representantes «Deputados à


Assembleia Nacional», quer isto dizer que são os nossos representantes que
elaboram as leis aplicáveis a todos nós, inclusive ao próprio Estado. A democracia
assenta na ideia de que a maioria representa toda a sociedade, mas sempre com
respeito pelo pluralismo das ideias e dos direitos das minorias

Os Deputados à Assembleia Nacional, no exercício das suas funções aprovam a


Constituição, leis de revisão constitucional, leis orgânicas as leis de base, leis de
autorização legislativa e resoluções, conforme estabelecido no artigo 166º da
Constituição da República de Angola.

As leis têm uma função muito importante porque são elas que organizam e regulam
a vida das pessoas, nas suas relações quotidianas perante outras e perante
instituições democraticamente instituídas.

A mais importante destas leis é a Constituição, que é a Lei Suprema e


Fundamental. Para nós é a Constituição da República de Angola, aprovada pela
Assembleia Constituinte, promulgada pelo Presidente da República no dia 5 de
Fevereiro de 2010 e publicada no Diário da República, nº 23, Iª Série, de 5 de
Fevereiro.

Note-se que as leis, depois de aprovadas, são publicadas para que todas as pessoas
possam conhecê-las. O acto de publicá-las é feito num jornal oficial chamado
Diário da República e visa, na prática, torná-la eficaz, de modo a dar
conhecimento a todos os súbditos da sociedade.

Infelizmente, muitas vezes as pessoas ignoram as leis, não apenas porque este
jornal não está à venda nos quiosques na rua, mas porque o número de leis que se
publicam e a sua linguagem é de certa forma técnica e não muito acessível ao
cidadão comum. Apesar disto, existe um princípio segundo o qual “a ignorância
da lei não inocenta ou não aproveita ninguém para que não lhe seja aplicada a lei
em vigor”. Isto quer dizer o que os cidadãos angolanos, os cidadãos estrangeiros

11
residentes e os turistas que visitam Angola devem estar informados sobre as leis
que estão em vigor no País.

Contudo, o critério é o de estabelecer a igualdade dos cidadãos, evitando que os


infractores possam invocar o desconhecimento das leis que lhes são desfavoráveis:
por exemplo não paguei os impostos porque desconhecia que era obrigatório o seu
pagamento; matei porque não sabia que matar é crime, violei porque não sabia
que era crime. Neste particular, o cidadão estará sujeito ás sanções estabelecidas
na legislação em vigor.

Como foi dito atrás, a Constituição é a lei suprema porque está no topo da
hierarquia das leis, ou seja, é a norma das normas e a sua validade não depende
da existência de outras normas e confere unidade a todo o ordenamento jurídico;
é fundamental, porque é nela que encontramos definido o modo de organização
do regime politico: os poderes e deveres dos titulares dos órgãos de soberania vêm
de forma expressa na Constituição (do Presidente da República enquanto Chefe
de Estado, titular de Poder Executivo e como Comandante em Chefe das Forças
Armadas Angolanas, dos Deputados à Assembleia Nacional, dos Juízes e dos
Procuradores e demais entes constitucionais).

Por esta razão, as Constituições centram-se no que é essencial (a nossa não foge
à regra), nos princípios e normas que são fundamentais para a vida em sociedade,
de tal modo que, se não estivessem escritas, não existiria nem o Estado nem a
sociedade. Pelo mesmo motivo, entendemos que a Constituição deve ser perpétua
para melhor garantir a estabilidade da organização das sociedades e do poder do
Estado e os direitos e deveres das pessoas

Aliás, qualquer Estado, em qualquer época ou lugar, possui sempre uma


Constituição, na medida em que, necessariamente, postula uma
institucionalização jurídica do poder e pode se recortar em formas fundamentais,
em que assenta todo o seu ordenamento; todavia, só a partir do século XVIII se
começou a observar a Constituição como um conjunto de regras jurídicas
definidora das relações ou totalidades das relações de poder em moldes de
limitação dos governantes e legitimação dos actos do Estado.

Mas existem ainda outras leis, porque a Constituição não pode prever tudo, por
exemplo, os impostos e taxas, as penas e medidas de segurança para os

12
criminosos, os contratos, a regulação do trânsito automóvel, o ordenamento do
território, os direitos económicos, políticos e civis, etc., estão de forma
perceptível regulados em leis ordinárias. As leis realizam uma importante função
de organização dos interesses dos particulares de modo a evitar ou mediar os
conflitos entre estes interesses. Mas estas leis devem estar em conformidade com
a Constituição, sob pena de serem declaradas inconstitucionais e,
consequentemente, serem expurgadas do ordenamento jurídico.

Ora, não nos vamos dedicar sobre às leis em geral, mas à Constituição da República
de Angola, enquanto lei suprema e fundamental do Estado.

Noutros tempos, e recuando um pouco à nossa história constitucional, podemos


verificar que Angola nunca teve uma Constituição, mas sim Leis Constitucionais,
como já a seguir apresentamos.

2. Breves notas sobre a história constitucional angolana.

2.1 Antes da proclamação da Independência Nacional.

Angola, enquanto colónia, era considerada Província Ultramarina, nos termos do


Acto Adicional de 1852, instrumento jurídico legal que regia as colónias
portuguesas em África. Tal matéria foi objecto de consagração constitucional quer
na Constituição Portuguesa de 1911, promulgada, depois da proclamação da
República, nos termos do artigo 67º, quer na Constituição de 1933, com a
implantação do Estado Novo, com um regime fascista, que se manteve até em
1951, quando o acto colonial foi integrado na Constituição Portuguesa, num dos
seus títulos, designado por “Ultramar Português”.

Onze anos mais tarde foi promulgada, em 1962, a Lei Orgânica do Ultramar, onde
se estabeleceram os princípios fundamentais e a estrutura do Governo das
Colónias. Neste ano também foi aprovado pelo Ministro do Ultramar o Estatuto
Político-administrativo da Província de Angola.

Em 1971, a Constituição Portuguesa foi revista e consagrou Portugal como um


Estado unitário e regional, passando a designarem-se as Províncias Ultramarinas
de "regiões autónomas", a quem se concedeu o título honorífico de Estado (note-
se que estávamos em pleno apogeu da guerra de libertação nacional).

13
Portanto, legalmente, Angola era considerada uma Província Ultramarina e era
parte integrante da Nação Portuguesa. Por isso não se podia fazer representar a
nível internacional, nem podia estabelecer o seu próprio estatuto, aliás, neste
particular existiam dois estatutos pessoais distintos: o do colono e o do colonizado
ou indígena (a este último não era aplicado nem o Direito público nem o Direito
privado).

Do ponto de vista dos direitos e deveres fundamentais e da sua participação no


processo político, ao cidadão angolano não eram reconhecidos direitos políticos
na relação com as instituições oficiais.

Após o 25 de Abril de 1974, é instaurado em Portugal um novo regime político


dirigido por uma Junta de Salvação Nacional e, consequentemente é estabelecido
um período de transição até à entrada em vigor da nova Constituição da República
Portuguesa, onde os Governadores das colonias passar a ter categorias idênticas
às de Ministros.

Em Agosto de 1974 é estabelecido um regime transitório para Angola. Em Janeiro


de 1975, são celebrados os acordos de Alvor, sendo reafirmado pela parte
portuguesa o reconhecimento do direito do Povo angolano à Independência e
Angola como entidade una e indivisível. Nestes acordos foi estabelecido que a
Independência e Soberania plena de Angola fossem proclamadas a 11 de Novembro
de 1975.

A 11 de Novembro de 1975 o presidente do MPLA proclama a Independência


Nacional, tendo na altura, entrado em vigor a Lei Constitucional e a Lei da
Nacionalidade. Surgia assim, a primeira Lei Constitucional de Angola
Independente.

2.2 Depois da proclamação da Independência Nacional.

a) Lei Constitucional de 11 de Novembro de 1975.

Com a proclamação da Independência de Angola, foi também aprovada a Lei


Constitucional de 1975, dando assim, início à Primeira República, e dela
constavam os princípios e normas fundamentais que estabeleciam a organização e
funcionamento do poder político, onde o MPLA se afirmava como a força dirigente
da Nação na construção de um Estado democrático popular, nos termos do artigo

14
2º, da Lei Constitucional de 11 de Novembro de 1975 (adiante designada por LC
de 1975).

Angola passa a designar-se República Popular de Angola, como um Estado unitário


e indivisível, nos termos do artigo 4º, da LC de 1975, e às massas populares era
lhes garantida a efectiva participação no exercício do poder político, através da
consolidação, alargamento e desenvolvimento das formas organizativas do poder
popular, como estabelecia o artigo 3º da LC de 1975. No domínio dos direitos,
liberdades e garantias fundamentais, a LC de 1975 era muito restrita, consagrando
apenas alguns princípios relativos ao respeito da dignidade da pessoa humana nos
seus artigos 17º a 30º.

Quanto aos órgãos de soberania, a Lei Constitucional de 1975 estabelecia como


órgãos de soberania os seguintes:

a) O Presidente da República, como Chefe de Estado e que presidia Conselho


da Revolução;
b) O Conselho da Revolução, que exercia a função legislativa e definia a
política interna e externa de Angola, entre outras (este órgão foi
posteriormente substituído pela Assembleia do Povo instituída em 1980,
através da Lei de Revisão Constitucional de 23 de Setembro de 1980, onde,
para além desse órgão legislativo, a nível local foram instituídas as
Assembleias Populares, com vista à construção da sociedade socialista);
c) O Governo, como órgão executivo e que podia também exercer o poder
legislativo por delegação do Conselho da Revolução / Assembleia do Povo.

Foi implementado em Angola aquilo que se chama Partido-Estado-Nação, ou seja,


havia o sistema de partido único.

A Lei Constitucional de 11 de Novembro de 1975 foi objecto de várias revisões,


mas a mais significativa foi a revisão feita por intermédio da Lei nº 12/91, de 6 de
Março. É desta que nos vamos ocupar já a seguir.

b) Lei nº 12/91, de 6 de Março (Lei de Revisão Constitucional)

Como premissa fundamental para o alcance da paz em Angola, em 1991, a


anteceder a assinatura dos acordos de paz, foi aprovada, em 6 de Março de 1991,
a Lei nº 12/91, Lei de Revisão Constitucional que introduziu à Lei Constitucional

15
de 1975 alterações profundas que se traduziram na alteração radical do ponto de
vista constitucional, do sistema político e económico.

Tais alterações destinaram-se principalmente, à criação das premissas


constitucionais necessárias à implantação da democracia pluripartidária, à
ampliação do reconhecimento e garantias dos direitos e liberdades fundamentais
dos cidadãos, assim como à consagração constitucional dos princípios basilares da
economia de mercado.

Essa revisão modifica significativamente, a Lei Constitucional de 11 de Novembro


de 1975, marcando assim, o início de uma nova era constitucional, deixando de
vigorar a Lei Constitucional de 11 de Novembro de 1975.

Como referimos no início desta parte, a presente lei antecedeu à assinatura, a 31


de Maio de 1991, dos Acordos de Paz para Angola, onde ficou acordada a realização
de eleições gerais multipartidárias assentes no sufrágio universal, directo e
secreto para escolha do Presidente da República e dos Deputados à Assembleia
Nacional.

c) Lei nº 23/92, de 16 de Setembro (Lei de Revisão Constitucional).

Tratou-se mais de uma revisão da Lei nº 12/91, de 6 de Março de 1991, visando a


implantação e edificação em Angola do Estado democrático de Direito, que foi
indispensável para se garantir a estabilidade do país, a consolidação da paz e da
democracia para que os órgãos de soberania da Nação, especificamente os que
viessem a surgir das eleições gerais de Setembro de 1992, dispusessem de uma Lei
Fundamental clara no que se refere aos contornos essenciais do sistema político,
às competências dos órgãos de soberania da Nação, à organização e
funcionamento do Estado, até que o futuro órgão legislativo concretizasse, no
exercício das suas competências a aprovação da Constituição da República de
Angola.

As principais alterações operadas pela lei de revisão constitucional consistiram no


seguinte:

a) alteração da designação do Estado para República de Angola;


b) o órgão legislativo passou a ser a Assembleia Nacional;
c) retirar a designação Popular dos Tribunais;

16
d) reforçar o reconhecimento e garantias dos direitos e liberdades
fundamentais;
e) clarificar a definição de Angola como um Estado democrático de Direito;
f) separação de poderes e interdependência dos órgãos de soberania num
sistema semipresidencialista; entre outros.

Em 29 e 30 de Setembro de 1992, foram realizadas as primeiras eleições gerais,


tendo sido eleitos os primeiros Deputados à Assembleia Nacional que teriam a
missão de aprovar a Constituição da República de Angola, como ficou estabelecido
na parte preambular da Lei 23/92, de 16 de Setembro, e no artigo 158º da mesma
Lei. Tinha assim, início a segunda República de Angola.

No entanto, esse nobre e indeclinável mandato de proceder à elaboração da lei


fundamental do Estado e da sociedade angolana só veio a ser concretizado a 5 de
Fevereiro de 2010, com a promulgação e publicação da Constituição da República
de Angola no Diário da República.

3. A Constituição da República de Angola.


A Constituição da República de Angola é um instrumento jurídico-legal
fundamental do País e não é uma qualquer lei, pois vem concretizar os desafios
do processo de consolidação do Estado democrático de Direito da terceira
República e marca o fim da transição constitucional para o sistema democrático
iniciado em 1991, aprovado pela então Assembleia do Povo, através da Lei nº
12/91, de 6 de Março, lei de Revisão Constitucional que pôs fim ao regime
monopartidário.

Os angolanos têm, assim, uma Constituição genuína angolana, adequada à


realização dos fins e objectivos de edificação de um Estado democrático de
Direito, que nos seus princípios fundamentais, define o ideal constitucional de
construção de uma sociedade livre, de paz, de justiça, democrática,
representativa e participativa, pluripartidária, de soberania popular, de
separação de poderes, defensora da dignidade da pessoa humana, de progresso
social, etc. Dito doutro modo, a Carta Magna como Lei Suprema e Lei Fundamental
da República de Angola, aprovada pela Assembleia Nacional e constituinte,
promulgada pelo Presidente da República no dia 5 de Fevereiro de 2010, obedece

17
e respeita os princípios fundamentais universalmente adoptados como próprios de
um Estado democrático de Direito.

A missão de preparar e elaborar a Constituição da República de Angola foi


delegada à Comissão Constitucional, criada por intermédio da Lei nº 2/09, de 06
de Janeiro, que exerceu a sua tarefa com o mérito desejável.

Assim, aos 21 de Janeiro de 2010, a Assembleia Constituinte aprovou a


Constituição da República de Angola, com 186 (cento oitenta e seis) votos a favor,
2 (duas) abstenções, sem nenhum voto contra, numa proporção de 220 Deputados
eleitos para a Assembleia Nacional.

Este exercício corresponde à vontade do povo angolano delegada aos seus


representantes no Parlamento.

O Parlamento é resultante das eleições legislativas de 2008, é constituído por


Deputados do MPLA, da UNITA, do PRS, da Nova Democracia e da FNLA. Contudo,
a UNITA esteve ausente da votação, apesar de apenas em cerca de 20 artigos não
ter existido o desejável consenso dos 244 que compõem a Constituição de Angola.

Ela foi promulgada a 5 de Fevereiro de 2010, pelo Presidente da República Eng.º


José Eduardo dos Santos, na sequência do acórdão nº 111/20/2010, de 30 Janeiro,
aos 03 de Fevereiro do Tribunal Constitucional.

A Constituição da República de Angola comporta 244 artigos, 8 títulos, 19 capítulos


e 18 secções, e está organizada da seguinte forma:

➢ Título I - Refere-se aos Princípios fundamentais;


➢ Título II - Refere-se aos Direitos e Deveres Fundamentais;
➢ Título III - Refere-se à Organização Económica, Financeira e Fiscal;
➢ Título IV - Refere-se à Organização do poder do Estado;
➢ Título V - Refere-se à Administração Pública;
➢ Título VI - Refere-se ao Poder Local;
➢ Título VII - Refere-se à Garantia da Constituição e Controlo da
Constitucionalidade;
➢ Título VIII - Refere-se a Disposições finais e Transitórias.

O mandato para aprovação da actual Constituição da República resulta do disposto


no artigo 158º da Lei Constitucional de 1992, que estabelece que o futuro órgão

18
legislativo decide e concretiza, no exercício das suas competências de revisão
constitucional, a nobre e indeclinável missão de elaborar e aprovar a Constituição
da República de Angola.

Ora, os órgãos e demais instituições do Estado, bem como a sociedade em geral,


precisam de se adequar ao que vem estabelecido na Constituição.

Uma das formas ou meios de a conhecer é a divulgação da mesma, razão de ser


desta publicação.

Para melhor compreensão dos princípios e normas fundamentais consagrados na


Constituição da terceira República de Angola, de 2010, passamos para a segunda
parte do presente livro, como a apresenta.

Parte II

3.1 - Enquadramento dos direitos fundamentais a luz da


C.R.A do artigo 22º, 26º, 27º, 30º e 56º.
Artigo 22º

(Princípios da Universalidade)

1. Todos gozam dos direitos das liberdades e das garantias


constitucionalmente consagrados e estão sujeitos aos deveres
estabelecidos na Constituição e na Lei.
2. Os cidadãos angolanos que residem ou se encontram no estrangeiro gozam
dos direitos, liberdades e garantias da protecção do Estado e estão sujeitos
aos deveres consagrados na constituição da lei.
3. Todos têm deveres com a família, a sociedade e o Estado e outras
instituições legalmente reconhecidas e em especial o dever de:
a) Respeitar os Direitos, as liberdades e as propriedades de outrem, a
moral, os bons costumes e o bem comum.
b) Respeitar e considerar os seus semelhantes sem descriminação de
espécie alguma e manter com eles relações que permitam promover,
salvaguardar e reforçar o respeito e tolerância recíprocos.

19
Artigo 26º

(Âmbito dos direitos fundamentais)

1. Os direitos fundamentais estabelecidos na presente constituição não


excluem quaisquer outros constantes das leis e regras aplicáveis de direitos
internacional.
2. Os preceitos constitucionais e legais relativos aos direitos fundamentais
devem ser interpretados e integrados de harmonia com a Declaração
Universal dos Direitos do Homem, a Carta Africana dos Direitos do Homem
e dos Povos e tratados internacionais sobre a matéria; ratificados pela
República de Angola.

Artigo 27º

(Regime dos direitos, liberdades e garantias)

O regime jurídico dos direitos, liberdades e garantias enunciados neste capítulo


são aplicáveis aos direitos, liberdades e garantias e aos direitos fundamentais de
natureza análoga estabelecidos na constituição, consagrados por leis ou por
convenção internacional.

Artigo 30º

(Direito a vida)

1. O Estado respeita e protege a vida da pessoa humana, que é inviolável.

Artigo 56º

(Garantia geral do Estado)

1. O Estado reconhece como invioláveis os direitos e liberdades fundamentais


consagrados na constituição e cria as condições políticas, económicas,
sociais, culturais, de paz e estabilidade que garantam a sua efectivação e
protecção nos termos da constituição e da lei.
2. Todas as autoridades públicas têm o dever de respeitar e de garantir
exercícios dos direitos e das liberdades fundamentais e o cumprimento dos
deveres constitucionais e legais.

20
3.2 – Privação da liberdade, direito dos detidos e dos
presos artigo 63º e 64º da C.R.A.
Artigo 63º

(Direito dos Detidos e Presos)

Toda pessoa privada da liberdade deve ser informada, no momento da sua prisão
ou detenção das respectivas razões e dos seus direitos, nomeadamente:

a) Ser-lhe exibida o mandato de prisão ou detenção emitido por entidade


competente, nos termos da lei, salvo nos casos de flagrante delito;
b) Ser informada o local para onde será conduzida;
c) Informar a família e no advogado sobre a sua prisão ou detenção e sobre o
local para onde será conduzida.
d) Escolher defensor que acompanhe as diligências policiais e judiciais;
e) Consultar advogado antes de prestar qualquer quaisquer declarações;
f) Ficar calado e não prestar declarações contra si própria;
g) Não fazer confecções ou declarações contra si própria.
h) Ter conduzida perante um magistrado competente para confirmação ou não
da prisão e de ser julgado nos prazos legais ou libertada.
i) Comunicar em língua que compreenda ou mediante interprete.

Artigo 64º

(Privação de liberdade)

1. A privação de liberdade apenas é permitida nos casos e nas condições


determinadas pela lei.
2. A polícia ou outra entidade apenas podem deter ou prender nos casos
previstos na constituição e na lei, em flagrante deleto ou quando munidas
de mandato de autoridade competente.

21
CONCLUSÃO
1. O que é a Constituição?

R: A Constituição é um conjunto de normas jurídicas fundamentais que definem a


estrutura, os fins e as funções do Estado, a organização, a titularidade, o exercício
e o controlo do poder político e a fiscalização do acatamento das normas
constitucionais, ou seja, é o conjunto de normas jurídicas, formalmente
qualificadas de constitucionais e revestidas de força jurídica superior a quaisquer
outras normas, o que corresponde ao poder constituinte formal ou faculdade de o
Estado atribuir tal forma e tal força jurídica a certas normas. Ela está na
hierarquia da ordem jurídica.

A Constituição pode ser vista em duas perspectivas: a material - em que se atende


ao seu objecto, ao seu conteúdo, ou à sua função, quando se restringe a matéria
de dignidade constitucional; e à perspectiva formal em que atende à posição das
normas jurídicas constitucionais em face das demais normas jurídicas e ao modo
como se articulam e se recortam no plano sistemático do ordenamento jurídico,
normalmente inseridas num texto escrito elaborado por um órgão com poderes
especiais, mediante um processo próprio e onde constam os princípios
fundamentais de uma dada ordem jurídica.

22
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
DAMIÃO, João, “Conheça a Constituição da República de Angola” (contributos para
sua compreensão), Editora: casa das ideias-divisão editorial. 1ª Edição, 2010.

23

Você também pode gostar