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POLÍTICA E SOCIEDADE

SISTEMA POLÍTICO E INSTITUIÇÕES


PÚBLICAS

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SISTEMA POLÍTICO E COALIZÕES

PRESIDENCIALISMO DE COALIZÃO
SÉRGIO ABRANCHES
SISTEMA POLÍTICO BRASILEIRO: UMA INTRODUÇÃO
LÚCIA AVELAR E ANTÔNIO CINTRA

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Presidencialismo de coalizão
▪ o presidencialismo possui uma série de pressuposições básicas
(sistema de governo que exige):

➢ os eleitores devem escolher o seu presidente de forma direta


➢ o mandato do presidente é fixo e independe do voto do Legislativo
➢ o presidente eleito comanda o executivo nomeando seu governo
➢ o presidente eleito tem certos e limitados poderes legislativos

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Presidencialismo de coalizão
▪ com o crescimento do multipartidarismo, a governabilidade no sistema
presidencialista se tornou complexo
➢ presidentes eleitos frequentemente não obtém maioria no legislativo, dificultando a
aprovação de propostas e projetos do governo

▪ situação em que a solução passa pela formação de coalizões com


diferentes partidos, obtendo assim a maioria no legislativo

▪ assim, seria possível, governar de forma minoritária, com o próprio


partido do presidente e com negociações com outras siglas

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Presidencialismo de coalizão
▪ entretanto, governo de coalizão não encontra consenso enquanto
definição, levando a diferentes intepretações
▪ duas definições ganham destaque, conforme Couto, Soares e
Livramento (2021)

➢ coalizões são frutos de acordos críveis entre diferentes partidos para a


coordenação do governo
➢ governos de coalizão são aqueles que possuem o acordo do presidente
com, no mínimo, dois partidos e o critério de seleção ministerial partidário
ou misto

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Presidencialismo de coalizão

▪ à seleção dos ministros é dada importante parte, se partidária ou mista

▪ diferença entre o partidário e o misto é que o primeiro tem a formação


do executivo (gabinete) somente com ministros de perfil partidário, ao
passo que o segundo apresenta ministros partidários e independentes

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Presidencialismo de coalizão
▪ outra definição encontra-se em Reniu e Albala (2012), para os quais,
governos de coalizão são aqueles em que há a participação de
diferentes partidos políticos no gerenciamento da máquina estatal, ou
em que o poder da esfera pública é dividido entre dois ou mais partidos
políticos

▪ Abranches (1988) complementa, mencionando que as coalizões


permitem identificar algumas questões que ajudam na compreensão da
dinâmica política e institucional associada a governos de aliança

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Presidencialismo de coalizão
▪ outra característica é a ênfase maior em coalizões que minimizem o
número de parceiros e maximizem as proximidades ideológicas que estão
relacionadas as estruturas políticas e sociais mais homogêneas e estáveis
➢ esta estratégia teria por objetivo reduzir os riscos e contrariedades
associados a alianças mais amplas

▪ todavia, Abranches (1988) aponta a coalização como um sistema


invariavelmente caracterizado pela instabilidade, de alto risco e cuja
sustentação baseia-se, quase exclusivamente, no desempenho corrente do
governo e na sua disposição de respeitar estritamente os pontos
ideológicos ou programáticos considerados inegociáveis, os quais nem
sempre são fixados na fase de formação da coalizão

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Presidencialismo de coalizão
▪ a formação de coalizações envolve três momentos, conforme Abranches
(1988):

➢ primeiro: a constituição da aliança governamental, que requer


negociações em torno de diretivas mínimas e os princípios a serem
obedecidos na formação do governo, após a vitória eleitoral
➢ segundo: a constituição do governo, no qual predomina a disputa por
cargos e compromissos relativos a um programa mínimo de governo
➢ terceiro: a transformação da aliança em coalizão efetivamente
governante, quando emerge, com toda força, o problema da formulação
da agenda real de políticas, positiva e substantiva, e das condições de sua
implementação

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Dilemas do presidencialismo
de coalizão
▪ embora o presidencialismo de coalização não seja necessariamente
instável, nem promove ingovernabilidade crônica ou cíclica, por suas
singularidades ele requer mecanismos ágeis de mediação institucional e
resolução de conflitos entre os poderes políticos

▪ no Brasil, presidencialismo de coalização é governável, possui


capacidades institucionais, porém apresenta déficits importantes
(Abranches, 2018)
▪ institucionais, na resolução de crises de impasse entre o executivo e o legislativo
▪ de representatividade do sistema partidário e de qualidade da democracia

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Dilemas do presidencialismo
de coalizão
▪ o presidencialismo de coalizão enfrenta críticas relacionadas a
governabilidade, a estabilidade do mandado presidencial e o
funcionamento pleno das instituições, quando há conflito entre o
executivo e o legislativo
➢ caso dos impeachments do presidente

▪ a crise da democracia representativa é uma característica presente e


agravada por problemas no modelo político
➢ reeleição e aumento do custo do segundo mandato

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Judicialização da política
▪ no modelo político brasileiro, o conflito entre o executivo e o legislativo
é frequente e decorre da instabilidade das coalizões, principalmente se
o sistema partidário é muito fragmentado

▪ a probabilidade de choques paralisantes entre os dois poderes


(executivo e o legislativo) aumenta quando é necessário um grande
número de partidos para formar a maioria para garantir a
governabilidade

▪ situações que aumentam também a chance de contrariedades entre


governo e oposição

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Judicialização da política
▪ ainda, há as divergências entre as unidades federativas e a união, as
quais são agravadas pela concentração fiscal e regulatória na união

▪ para tanto, o sistema presidencialista não possui mecanismos


funcionais e políticos à resolução dos impasses e/ou das crises, como
ocorre no parlamentarismo

▪ situações em que a judicialização passa ser a alternativa para a


resolução dos conflitos

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Judicialização da política
▪ há uma conexão entre o alargamento dos poderes do legislativo e do
executivo e a ampliação do papel do judiciário na intermediação de
conflitos e no controle constitucional

▪ essas situações foram possibilitadas pela Constituição Federal de 1988


que fortaleceu o legislativo, ampliando a capacidade de fiscalizar e
controlar o executivo; no entanto, deu ao executivo o poder de legislar
por medidas provisórias

▪ assim, o modelo adotado imprimiu um forte componente político ao


judiciário que, possui ampla autonomia para tomar decisões liminares

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Judicialização da política
▪ para tanto, conforme ressalta Abranches (2018), o fato de que a
judicialização é, em parte, a busca do poder judiciário como árbitro final
dos conflitos institucionais, políticos ou sociais, indica que o sistema
institucional não está cumprindo adequadamente essa função,
sobremaneira, na instância mais apropriada que é a parlamentar

▪ neste sentido, podem-se destacar os fundamentos positivos da


judicialização, que teria propriedade de aumentar a credibilidade do
aparato constitucional do estado democrático de direito
➢ a autonomia do judiciário relativa imporia freios e contrapesos à ação do executivo e
do legislativo

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Judicialização da política
▪ o papel acrescido a suprema corte de estabilizadora escapa do âmbito dos
mecanismo de vigilância e fiscalização, os freios do sistema (checks)

▪ enquadra-se no plano de mecanismos de contrapeso democrático


(balance), os fatores de equilíbrio entre os poderes

▪ essa dimensão política da ação do judiciário tem legitimidade restrita, alto


potencial para controvérsias, e se dá nos limites da democracia; todavia,
embora os ministros não sejam eleitos e poderem tomar decisões
monocraticamente, eles seguem os ritos judiciais, de controle da
constitucionalidade

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Judicialização da política

▪ assim sendo, ao decidir quem ganha e quem perde em questões


estritamente políticas, o Superior Tribunal Federal interfere no curso, na
substância e, eventualmente, no resultado do conflito político

▪ âmbito em que o tributal, além de julgar a validade das normas, cria


outras também; questões que denotariam ao tribunal a ação de “uso do
poder moderador” (Abranches, 2018).

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Referências
▪ ABRANCHES, S. H. H. Presidencialismo de coalizão: raízes e evolução do
modelo político brasileiro. 1 ed. São Paulo: Companhia das Letras, 2018.
▪ ABRANCHES, S. H. H. Presidencialismo de coalizão: o dilema institucional
brasileiro. Revista de Ciências Sociais, Rio de Janeiro. v. 31, n. 1, 1988.

▪ AVELAR, L.; CINTRA, A. O. (Orgs.) Sistema político brasileiro: uma introdução. 3


ed. São Paulo: Editora UNESP, 2005.
▪ COUTO, L.; SOARES, A.; LIVRAMENTO, B. PRESIDENCIALISMO DE COALIZÃO:
CONCEITO E APLICAÇÃO. Revista Brasileira de Ciência Política, n. 34. e241841,
2021.

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