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Brasília
2023
I. Introdução
Assim, o presente ensaio tem como premissa analisar esse momento da política
no Brasil tendo como base a teoria de Kenneth Shepsle. Logo, busca-se, em primeiro
lugar, demonstrar como o rito das MP’S e todo o procedimento que as envolve está
relacionado à teria das instituições de Shepsle, mais especificamente da legislatura, em
segundo lugar, aplicar o dilema da cooperação na dificuldade de alcançar um consenso
entre os dois principais atores, e, por fim, entender como o Presidente da Câmara dos
Deputados, Arthur Lira, utilizou sua posição de liderança.
Em primeiro lugar, para entender a crise que se instaurou em razão das Medidas
provisórias, é necessário compreender como se organizam as instituições conforme a
teoria de Shepsle. Nesse sentido, as instituições são resultado da cooperação de indivíduos
diante de situações adversas recorrentes, de tal maneira a resultar na criação de protocolos
institucionalizados para lidar com essas situações. As instituições podem ser
caracterizadas, em primeiro lugar, pela divisão sistemática das atividades, em seguida
pela especialização do trabalho, pela jurisdição e, por fim, pela delegação. O presente
tópico irá desenvolver como o arcabouço institucional do legislativo influencia no
processo decisório, sobretudo no caso das medidas provisórias.
Consoante Kenneth Shepsle, para compreender o legislativo é necessário partir da
premissa de que os legisladores são norteados pela racionalidade instrumental na busca
de políticas que agradem vários de seus eleitores, além do mais, as preferências dos
legisladores em relação às opções políticas são heterogêneas e nenhuma preferência
desses atores é suficientemente numerosa na legislatura para ser decisiva, portanto, um
parlamento sempre se caracteriza por ser diverso (2010, p.379). Tendo essas
características como ponto de partida, é possível entender que o espaço de tomadas de
decisões e formulações de políticas é heterogêneo e diverso, e as maiorias são cíclicas,
ou seja, como normalmente não há opiniões predominantes, falta um equilíbrio nas
maiorias, de forma que elas estão sujeitas a diversas variáveis condicionantes.
Diante disso, como forma de garantir que as decisões sejam tomadas de forma
mais homogênea, é necessário a criação de procedimentos internos, por exemplo o
sistema de comissões que funciona como uma forma de “dividir assuntos e especializar-
se no trabalho com o propósito de romper a indeterminação, gerar tomadas de decisão
informadas e garantir que a legislatura tenha efeitos sobre o sistema político em geral.”
(SHEPSLE, 2010, p. 391)
Para contextualização, o caso que está sendo tratado nesse ensaio é especial visto
que as medidas provisórias são um dispositivo de competência do executivo, ou seja, não
são propostas tampouco nascem na esfera legislativa. As medidas provisórias, também
chamadas, MP’s foram criadas, conforme a obra “Críticas ao Presidencialismo de
Coalizão no Brasil” de Lucio Rennó, como finalidade de evitar uma crise de paralisia
decisória, como aconteceu no Brasil às vésperas da instauração do regime militar (2006,
p.261).
Tendo isso em mente, é possível dizer que a truncamento das medidas provisórias
em março é resultado da não cooperação de Arthur Lira e Rodrigo Pacheco, pois não
havia fatores vantajosos o suficiente que levassem a isso. Se por um lado o Presidente da
Câmara defendia a permanência da mudança na pandemia priorizando a otimização e
desburocratização bem como carregava os interesses corporativistas de manutenção do
poder, argumentando que a Casa é regimentalmente menos privilegiada que o Senado,
que possui poder sobre a esfera executiva por meio, por exemplo, de Sabatinas, com
aprovação de Ministros do Supremo, embaixadores, presidentes de agências etc. Por outro
lado, O Presidente do Senado Federal, defende o respeito ao rito constitucional e
representa a insatisfação dos senadores com os prazos adotados na Câmara, uma vez que,
com prerrogativa de ser a casa iniciadora, o texto chega “amarrado” e com prazo apertado
para aprovação ou rejeição, dificultando qualquer tipo de deliberação sobre a matéria.
Outro destaque importante para esse caso é a atuação de Arthur Lira enquanto
liderança. Como citado no tópico anterior, o Presidente da câmara vem defendendo os
interesses da casa, logo, o líder moderno age e advoga por aquilo que irá permitir a
garantia de sua reputação, ou seja, atua tanto como agente e quanto como servidor,
visando reassegurar objetivos que sejam do interesse daqueles que lidera.
V. Conclusão
Referências Bibliográfica