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Belém, PA
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1. REFERÊNCIA .......................................................................................................... 03
2. CONSTITUIÇÃO DIRIGENTE ............................................................................. 04
3. CONSTITUCIONALISMO LIBERAL IGUALITÁRIO ...................................... 08
4. CONSTITUCIONALISMO PROCEDIMENTAL DEMOCRÁTICO ................ 12
5. CONSTITUCIONALISMO RADICAL ................................................................. 14
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Curso de teorias constitucionais brasileiras / [organizado por] Breno Baía Magalhães. -
Belo Horizonte: Conhecimento Editora, 2022. 136 p.
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A CONSTITUIÇÃO DIRIGENTE
William Walace
Breno Baía Magalhães
Apesar das diferenças entre os governantes, foi nas mãos de Sarney que assentou as
promessas constituintes proferidas por Tancredo e a responsabilidade de atender ao desejo de
Democracia do povo brasileiro, isto posto, Sarney convoca uma comissão constituinte em 1986
para desenvolver um anteprojeto constitucional inovador para o país, que no futuro veio a
tornar-se nossa CRFB/88. Essa comissão foi designada como a “Comissão Provisória de
Estudos Constitucionais” composta pelos maiores nomes do Direito Constitucional do Brasil,
dentre eles José Afonso da Silva, Pinto Ferreira e Afonso Arinos, que possuíam em seu
arcabouço teórico uma orientação fortemente progressista, por essa razão o primeiro
anteprojeto da comissão foi severamente criticado pelos acadêmicos e rejeitado pelo presidente
Sarney, pois segundo os citados, apresentava “forte tendência “socialista”, um viés estatista
que demandava intervenção estatal na economia e, por fim, a de que ele seria responsável pela
elevação do déficit público” (MAGALHÃES (org.), 2022, p. 56, adaptado):
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português José Gomes Canotilho, “Constituição Dirigente e Vinculação do
Legislador”, e a do espanhol Elías Díaz, “Estado de derecho y sociedad
democrática”. Ambas defendiam que a norma constitucional, de natureza
jurídica, era capaz de realizar um complexo processo de transformação social
que desaguaria na transição para o socialismo. Não obstante o anteprojeto
tenha sido rejeitado e a Constituinte tenha optado por não seguir nenhum texto
base específico, partes da redação e do espírito do anteprojeto se fizeram
presentes durante todo o funcionamento das comissões e subcomissões da
constituinte.
[...] fundamento a sua relação com a realidade social da qual faz parte, sua
dimensão histórica e sua pretensão de transformação, por meio dos sentidos,
fins, princípios políticos e ideologia que conformam a Constituição de 1988.
Desse modo, segundo essa teoria, a Constituição não pode ser compreendida
isoladamente sem que se estabeleça um diálogo com a teoria social, a história,
a economia e, especialmente, a política de uma determinada realidade estatal.
São constituições típicas do Estado Social, uma vez que positivam direitos
prestacionais e dispõem sobre a intervenção estatal no domínio econômico
(MAGALHÃES (org.), 2022, p. 57).
Como podemos perceber na citação acima, esse modelo constitucional visa a promoção
do Estado pelo bem-estar social de seu povo, assim como pontua princípios de justiça social e
transformação da sociedade por meio do constitucionalismo democrático. Falando nesse
último, Bercovici postula que uma das principais contribuições do Constitucionalismo
Dirigente é justamente o rigor acadêmico e a coerência interpretativa, em outras palavras, deve-
se seguir à risca os padrões acadêmicos em relação a metodologia racional e positivação das
normas, bem como sempre estar alinhado aos fundamentos da Constituição no momento em
que se realizar a interpretação jurídica, pois é bem-vinda uma pluralidade interpretativa, mas
não qualquer tipo de interpretação que se distancie dos princípios constitucionais, ou seja, a
Constituição é um norte onde estão reunidos os objetivos que a nação pretende promover e
alcançar, onde não são permitidas contradições:
Com o passar dos anos, dirigismo constitucional sofreu alguns reveses, tanto por parte
de um dos seus percursores, que foi o caso de João Gomes Canotilho, que revisou vários dos
conceitos socialistas em sua teoria o que colocou em cheque as bases intervencionistas de sua
obra, quanto por parte da ascensão do neoliberalismo – e, consequentemente, do capitalismo –
no mundo, isto posto, os autores dessa vertente criaram a tese da “constituição dirigente
invertida” que aborda o seguinte pressuposto:
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CONSTITUCIONALISMO LIBERAL IGUALITÁRIO
Vitoria Gabriele Rodrigues de Almeida
Breno Baía Magalhães
[...] O liberalismo igualitário foi a ideologia política que serviu de base para
autores progressistas brasileiros, situados fora da ideologia socialista ou
comunista, justificar a legitimidade da recém promulgada Constituição de
1988 e sua intransigente batalha contra as desigualdades sociais. Portanto,
trata-se de um conjunto de constitucionalistas que, diferentemente do
socialismo advogado pelo constitucionalismo dirigente, não assume
compromissos políticos com o processo de transformação social do Brasil a
partir de modelos vinculados e particulares de sociedade, economia ou
desenvolvimento.
A ideologia dos autores John Rawls e Ronald Dworkin, trazem a questão das políticas
de discriminação positiva. O método usado é a interpretação textual, tomando cuidado de
trabalhar o mais próximo possível da linguagem e dos conceitos nos próprios textos dos autores
e cobrindo a evolução do tema na obra de cada um. Esses pensadores defendem uma postura
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liberal de proteção dos direitos sociais, individuais e coletivos. Ademais, legitimam que a
atuação dos agentes públicos deve ser afirmativa com a do Poder Judiciário, para a
concretização dos efeitos benéficos da carta magna. (MAGALHÃES (org.), 2022, p. 67).
Para Rawls, os princípios supracitados, devem ser usados pela sociedade em razão de
seus membros se encontrarem sob um “véu de ignorância”, que dificulta o auto reconhecimento
das características dos princípios da justiça. O Constitucionalismo Liberal Igualitário, consiste
em uma defesa do afastamento de prováveis restrições e na defesa da liberdade individual,
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cingidas em argumentos paternalistas e justificativas embasadas no tradicional de uma
comunidade. Outrossim, esse pensamento eleva a leitura moral da Constituição, e corrobora
para o entendimento do indivíduo sobre seus direitos constitucionais (SOUZA NETO;
SARMENTO, 2012 apud MAGALHÃES (org.), 2022, p. 69). Em seu segundo trabalho de
maior fôlego, fruto de sua tese de doutorado, Oscar Vilhena defende:
Ter essa compreensão é importante porque cada concepção diferente a respeito do que
a igualdade exige define a maneira com que um governo, para ser considerado justo, deve tomar
suas decisões. Segundo essa teoria da igualdade aceita pelos liberais, as decisões políticas
devem ser independentes de qualquer concepção particular do que dá valor à vida, e assim, um
governo não tratará aos seus cidadãos como iguais se preferir uma concepção particular, seja
por ela ter sido aceita pela maioria ou porque ela seria considerada de algum modo superior ou
virtuosa. Trazendo para o âmbito Constitucional, essa posição igualitária que os liberais
adotaram, elucida o texto da carta magna, como se existisse uma reserva de justiça na
Constituição brasileira, esse pensamento de Oscar Vilhena, traz à tona, a diferença qualitativa
e hierárquica entre normas constitucionais da Constituição Federal de 1988 (MAGALHÃES
(org.), 2022, p. 70).
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A Constituição brasileira tem um procedimento de alteração formal pouco rigoroso, pois
pode ser acrescentado, alterado ou removido sem preocupações políticas ou sem maiores
preocupações sociais. Por outro lado, a legitimidade da carta magna não se limita a uma
positividade legal, mas sim a uma ideia racional de justiça, a partir de teorias éticas. A resiliência
da Constituição de 1988 em se manter quase inalterada, mesmo tendo mostrado problemas
como: risco de sofrer um envelhecimento precoce, exigindo reformas constantes; dependência
extrema de intervenção legislativa; e ambição normativa leva a uma frustração social, já que o
Estado não é capaz de cumprir as promessas constitucionais, por isso tem-se a ideia de reserva
de justiça. Portanto, somente os princípios básicos de uma justiça política concretamente
representados pelos essenciais constitucionais cuja ética inerente resguarda a igualdade e a
liberdade. O Constitucionalismo Liberal Igualitário, deve-se agarrar a meios que promovam a
liberdade e a igualdade do ser humano, nos princípios da Constituição. Logo, a desordem e a
falta de afirmatividade no cumprimento da Carta magna, é um desafio que deverá ser enfrentado
para que haja a soberania do bem estar, da igualdade e da liberdade do indivíduo, para que
assim, se cumpra o que está pressuposto na Constituição Federal de 1988 (MAGALHÃES
(org.), 2022, p. 71-72).
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CONSTITUCIONALISMO PROCEDIMENTAL DEMOCRÁTICO
Gabriel Alberto Souza de Moraes
Breno Baía Magalhães
Nos anos 90, o Estado enxergava no Supremo Tribunal Federal, uma espécie de
escudeiro dos interesses políticos e econômicos deles, no exercício da jurisdição constitucional,
uma postura foi adotada para a abertura de espaços de reformas legislativas e constitucionais, e
visava aumentar o poder do tribunal no seu exercício.
Para que se tenha uma legislação política autônoma, são necessárias formas de
comunicação das condições procedimentais institucionalização jurídica. Diante disso, garantir
as condições processuais para o exercício da autonomia pública e privada dos cidadãos é de
competência do judiciário. Portanto, a justiça constitucional, referisse-a a condições processuais
e aos meios comunicativos, para um verdadeiro início democrático do direito, afastando a
axiologia culturalista e o instrumentalismo liberal (MAGALHÃES (org.), 2022, p. 111-112).
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CONSTITUCIONALISMO RADICAL
Arthur Pedroso de Almeida
Breno Baía Magalhães
Por essa razão, com um Poder Constituinte maleável e entregue nas mãos do
povo, o poder de ressignificar a Constituição (radical) em um conflito político
mediado pela própria Constituição, entendida como a possibilidade de se
estabelecerem regras estáveis de conduta (aqui se apresenta a dynamis antes
mencionada entre os Poderes Constituinte e Constituído), ir às ruas e ecoar as
múltiplas vozes se torna o corolário para que a Constituição Radical se efetive.
Desde uma perspectiva mais prática, isso significa não excluir (ou limitar)
mecanismos e formas de participação popular a partir do discurso restritivo do
constitucionalismo, mas que “a ausência dos limites finais assinala a
possibilidade constante de modificação como a forma imanente aos processos
(CHUEIRI; FONSECA; HOSHINO,
de disputas e participação”
2020, p. 87 APUD (MAGALHÃES (org.), 2022, p. 121).
Outro conceito utilizado por Vera Karam é o da "performance" de Judith Butler, para a
autora essa é uma característica essencial que difere a Constituição Radical da Tradicional, pois
ela “performa o conflito e por meio dessa performatividade viabiliza novos processos”, em
outras palavras, novas formas de readquirir direitos fundamentais, seja pela via processual, ou
através dos movimentos populares são oportunizadas. Essa busca pela reivindicação dos
direitos realizada nas manifestações, isto é, a ação política efetuada pelos indivíduos em união
protestando nas ruas, tem como pano de fundo a chamada precariedade, ou seja, a desigualdade
que os assola cotidianamente e que se apresenta como fator comum em suas subjetividades é a
mesma que os mobiliza ao protesto, na busca de condições que oportunizem a vida com
qualidade (MAGALHÃES (org.), 2022, p. 122-123). Em suma:
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efetivação dos direitos fundamentais por meio da reimaginação eterna do texto
constitucional (MAGALHÃES (org.), 2022, p. 124).
A respeito da aplicabilidade da teoria, por se tratar de uma tese jovem e ainda estar em
desenvolvimento, não há registros aplicáveis em nosso ordenamento jurídico, como o Supremo
Tribunal Federal (STF), no entanto há um exemplo que ocorreu justamente no mesmo ano das
manifestações que suscitaram o Constitucionalismo Radical:
Embora a reforma política seja almejada pelo povo brasileiro, como citado no início
desse texto, é importante ressaltar que os protestos de 2013 utilizavam dessa pauta de maneira
desorientada, com jargões e palavras de ordem soltos ao vento, como por exemplo "estamos
aqui contra a corrupção", "queremos mudar isso daí". Foram inúmeras as cenas de pessoas que
não faziam ideia do que, no mínimo, significava o conceito de corrupção e o que realmente
pretendiam alcançar com as manifestações. Instaurou-se uma dicotomia no país que pedia a
todo custo para "punir os maus", assim como vários temas importantes foram mesclados e
utilizados de forma deturpada. Apesar dos percalços, essa tentativa da ex-presidente Rouseff
em acionar o Poder Constituinte, por meio de uma assembleia, e assim promover as mudanças
clamadas pela população é o exemplo mais próximo que temos de Constitucionalismo Radical
no país, que na época careceu de uma mediação política para que pudesse se desenvolver,
inclusive a própria Vera Chueuri foi contrária a essa assembleia e em seu discurso relatou que
a Constituição de 1988 apresenta poder constituído suficiente que fundamenta e possibilita
ações constituintes diversas e, consequentemente, transformadoras (MAGALHÃES (org.),
2022, p. 127-128).
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2013, são responsáveis por elevar a liberdade e garantir direitos fundamentais a todos. A
resposta para ambas as perguntas é não, a ideia de que nossos representantes políticos
verdadeiramente representam a grande massa dos brasileiros é falaciosa, um exemplo foi a
assembleia constituinte de 88 que, em sua maioria, foi formada por indivíduos que já pleiteavam
o poder no período ditatorial e que representaram seus interesses próprios. Chega a ser ingênuo
acreditar que não haverá parcialidade, e até mesmo pessoalidades, nos discursos e ações dos
nossos representantes, tendo em vista que os mesmos cumprem uma agenda política, mas
também particular. No caso das manifestações de 2013, esse viés idealizador se torna ainda
mais preocupante, levando em consideração os desdobramentos que ocorreram nos anos
seguintes, principalmente, em relação a vulnerabilidade a qual foi exposta nossa Constituição
e Democracia, em outras palavras, movimentos difusos em que nós não sabemos todas as
intenções destinadas e requeridas oportunizam o crescimento de forças antidemocráticas,
colocando em risco os próprios princípios constituintes e o poder já constituído:
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PALAVRAS-CHAVE: Constituição Radical; Poder Constituinte; Democracia; dimensão
conflitual; ação política; manifestações populares.
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